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31/03/2018 Fichamento do capítulo “O plano de imanência” de “O que é a filosofia?

” de Deleuze e Guattari

Rafael Saldanha Follow


Sep 18, 2017 · 14 min read

Fichamento do capítulo “O plano de


imanência” de “O que é a loso a?” de
Deleuze e Guattari
Tentativa de fazer sentido desse livro muitas vezes
ininteligível do D&G

O conceito de plano de imanência é o objeto do segundo capítulo do


livro. Ele é o plano de consistência dos conceitos. Ele não é pois um
conceito, mas o fundo a partir do qual os conceitos se instauram, como
que sua condição — ainda que ela não seja determinada a priori. O

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31/03/2018 Fichamento do capítulo “O plano de imanência” de “O que é a filosofia?” de Deleuze e Guattari

plano, portanto, apesar de não existir sem o conceito, ele não pode ser
confundido com ele, pois é no plano que se encontra uma certa
abertura criativa. Deleuze e Guattari elaboram então um segundo
aspecto do construtivismo losó co, isto é, o traçar um plano.

Como podemos distinguir, portanto, esses dois elementos da prática


losó ca? Inicialmente isso é feito a partir do tipo de movimento que
está relacionado a cada conceito. Segundo os autores, “O plano envolve
movimentos in nitos que o percorrem e retornam, mas os conceitos são
velocidades in nitas de movimentos nitos, que percorrem cada vez
somente seus próprios componentes.” (P. 51) O plano é portanto a
movimentação in nita (o que lhe confere uma uidez) enquanto o
conceito é o movimento nito (ele tem componentes nitos) em uma
velocidade in nita. Outra forma de descrever a distinção entre conceito
e plano é que enquanto o coneito é uma região delimitada — “volumes
absolutos, disformes e fragmentários” (p. 52) — , o plano é o que
percorre uma constelação de conceitos — “o plano é a respiração que
banha essas tribos isoladas” (p. 52). Nesse momento Deleuze e Guattari
fazem um apelo a uma terminologia desenvolvida em Mil Platôs ao
dizer que “Os conceitos são agenciamentos concretos como
con gurações de uma máquina, mas o plano é a máquina abstrata cujos
agenciamentos são peças.” (P. 52) O que signi ca que os planos são as
condições virtuais do conceito.

É por isso que também será dito que o Plano de Imanência é o horizonte
de acontecimentos puramente conceituais, um horizonte “que torna o
acontecimento como conceito independente de um estado de coisas
visível em que ele se efetuaria.” (P. 52). Nesse sentido o plano só pode
ser indivisível, um meio onde os conceitos se distribuem ou ocupam
sem dividi-lo. Mas ao mesmo tempo o plano só existe na medida em
que ele é ocupado, pois “são os conceitos mesmos que são as únicas
regiões do plano, mas é o plano que é o único suporte dos conceitos. O
plano não tem outras regiões senão as tribos que o povoam e nele se
deslocam. É o plano que assegura o ajuste dos conceitos, com conexões
sempre crescentes, e são os conceitos que asseguram o povoamento do
plano sobre uma curvatura renovada, sempre variável.” (Pp. 52–53) O
plano é, portanto, a zona onde o conceito se instaura, mas uma zona
que nunca excede o próprio espaço de ocupação ou movimentação dos
conceitos que nela se instalam.

Por conta dessa estrutura particular de condição do conceito, o plano de


imanência não é algo que é própriamente pensado, ele é “a imagem do
pensamento, a imagem que ele se dá do que signi ca pensar, fazer uso
do pensamento, se orientar no pensamento…” (p. 53) Ele é portanto o

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fundo impensado do pensamento que sustenta e condiciona o


pensamento que se faz. O uso da expressão “imagem do pensamento”
não é casual, pois ela retoma as discussões de Diferença e repetição.
Como dizem os autores, “A imagem do pensamento implica uma severa
repartição do fato e do direito: o uqe concerne ao pensamento, como
tal, deve ser separado dos acidentes que remetem ao cérebro, ou às
opiniões históricas.” (P. 53) Isso signi ca que diz respeito ao plano de
imanência apenas aquilo que lhe é de direito, que lhe pertence de
maneira intrínseca e não acidental. Para Deleuze e Guattari isso seria
“o movimento que pode ser levado ao in nito. O que o pensamento
reinvindica de direito, o que ele seleciona, é o movimento in nito ou o
movimento do in nito. É ele que constitui a imagem do pensamento.”
(P. 53)

O que é esse movimento especí co do plano de imanência? Bem,


evidentemente não se trata de nenhum movimento extensivo (distância
percorrida em um tempo cronometrado). Os autores então dirão que “o
que está em movimento é o próprio horizonte” (p. 54), é um
movimento que em todas as direções que ele parte ele sempre vai e
volta (“é uma ida e volta, porque ele não vai na direção de uma
destinação sem já retornar sobre si, a agulha sendo também o polo.” P.
54). É como se essa fosse a forma de simultaneidade do movimento. Se
algo estático para ocupar um espaço absoluto precisa estar em todos os
pontos ao mesmo tempo, um movimento absoluto (in nito) precisa
percorrer em todos os vetores as direções que ele toma. Então para cada
movimento (direção-vetor), há sempre o movimento inverso sendo
percorrido também — só assim podemos descrever o movimento
in nito que é necessariamente plural sem ser redutível a um movimento
(“não é uma fusão, entretanto, é uma reversibilidade, uma troca
imediata, perpétua, instantânea, um clarão” p. 54). Parece que estamos
falando de algo semelhante ao que Whitehead chama de ideias eternas,
que é o campo de experiência transcendental onde se encontram todos
os movimentos possíveis ainda que não sejam todos compossíveis
(simultaneamente atualizáveis) (cf. Whitehead, Science and the modern
world). Mas a coisa muda de gura se nos lembramos que, não sendo
extensivo, o movimento é de ordem intensiva. Ele precisa ser um
movimento intensivo e por ser intensivo podemos dizer que são
diferenças qualitativas incomensuráveis que estão em jogo. É o
movimento dessa ordem é a transformação das qualidades umas nas
outras pela sua variação (o que produz essa variação, se é interno ou
externo são outras questões, mas, considerando que falamos aqui do
pensamento, tudo indica que o que produz a variação sejam encontros)
— um movimento que nunca é linear, mas cumulativo (a retroação
funcioando aqui). Nesse sentido não pode haver reversão no sentido de

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um retorno pois o passado já não é mais o que era. O retorno num


sentido corriqueiro seria como seguir a trilha tomada, mas o fato é que
como o próprio movimento de transformação acaba por alterar o
passado ao reposicioná-lo a volta não pode ser nesse sentido.

Essa duplicidade (reversão) do movimento parece esclarecida quando


Deleuze e Guattari falam sobre a relação entre o movimento do
pensamento e a matéria do ser. A relação de reversibilidade é entre
“imagem do pensamento” e “matéria do ser”. Quando dizem então que
“quando o pensamento de Tales, é como água que o pensamento
retorna” (p. 54) o que parece estar sendo dito é que o efeito que o
pensamento produz é que o acontecimento incognoscível (o problema)
aparece a partir da forma pensada — ainda que tenha sido justamente o
incognoscível que tenha dado partida ao processo de pensamento.
Dizer que o pensamento do ser como água faz o pensamento retornar
como água parece ser a descrição do mecanismo de feedback entre
pensamento e ser: “o plano de imanência tem duas faces, como
Pensamento e como Natureza, como Phsysis e como Noûs” (p. 54).
Somos afetados e responder a esse movimento é atribuir-lhe uma
forma, dar um nome. Mas dar um nome, por sua vez, faz com que o
acontecimento retorne de uma outra forma (pois não há retorno de
fato — e o retorno de direito é justamente esse movimento de reversão-
irreversível que estamos tentando descrever). Deleuze e Guattari dirão
então que “É por isso que há sempre muitos movimentos in nitos
presos uns nos outros, dobrados uns nos outros, na medida em que o
retorno de um relança um outro instantaneamente, de tal maneira que
o plano de imanência não pára de se tercer, gigantesco tear. Voltar-se-
para não implica somente se desviar, mas enfrentar, voltar-se, retornar,
perder-se, apagar-se.” (Pp. 54–55) Ou seja, o plano de imanência é
como que o espaço onde se joga esse vai e vem, esse feedback entre
physis e noûs, que em tese é um plano que se desdobra na medida em
que os conceitos são criados para lidar com acontecimentos e os
conceitos novos, por sua vez, dão espaço para que novos
acontecimentos apareçam: “Cada movimento percorre todo o plano,
fazendo um retorno imediato sobre si mesmo, cada um se
desdobrando, mas também dobrando outros ou deixando-se dobrar,
engendrando retroações conexões, proliferações, na fractalização desta
in nidade in nitamente redobrada (curvatura variável do plano).” (P.
55)

Esse movimento de variação pura que seria o plano de imanência traz,


por sua vez, a questão de como podem existir diferentes planos de
imanência, pois “tanto mais necessário será explicar por que há planos
de imanência variados, distintos, que se sucedem ou rivalizam na

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história, precisamente segundo os movimentos in nitos retidos,


selecionados.” (P. 55) Vê-se como a própria dinâmica de feedback afeta
a discussão de Deleuze e Guattari sobre o plano de imanência. Eles
partem de um problema (o elemento condicionante dos conceitos) e a
criação do conceito de plano de imanência faz com que o plano de
imanência retorne para eles, com novos problemas.

Dessa forma a natureza dos elementos do plano não podem se


confundir com a dos conceitos, mesmo quando acontecem de ter o
mesmo nome. Há uma diferença de natureza entre eles pois “os
elementos do plano são traços diagramáticos, enquanto os conceitos são
traços intensivos.” (P. 56) E é nesse ponto que vemos mais claramente a
distinção entre plano e conceito, pois enquanto os traços diagramáticos
são “movimentos do in nito”, os elementos do conceito são “ordenadas
intensivas desses movimentos, como cortes originais ou posições
diferenciais: movimentos nitos, cujo in nito é só de velocidade, e que
constituem cada vez uma superfície ou um volume, um contorno
irregular marcando uma parada no grau de proliferação.” (P. 56) Os
componentes do conceito são justamente a circunscrição de um
movimento em alguns elementos nitos em uma movimentação em
velocidade in nita, são intensões. Os elementos do plano, porém, são
“direções absolutas de natureza fractal” (p. 56), intuições — mas
intuição aqui em um sentido especí co dos “movimentos in nitos do
pensamento, que percorrem sem cessar um plano de imanência.” (Pp.
56–57). São os aspectos pressupostos de um pensamento e que o
condicionam sem serem determinados de maneira nita.

Isso precisa ser melhor elaborado, é por isso que em seguida os autores
procuram desenvolver a instauração do plano de imanência (algo que é
diferente da criação dos conceitos). O plano de imanência é uma
pressuposição não-conceitual do conceito, isto signi ca que ela é o
fundo contra o qual o conceito se destaca. Deleuze e Guattari dão
alguns exemplos que ajudam a esclarecer essa relação: “Em Descartes,
tratar-se-ia de uma compreensão subjetiva e implícita suposta pelo Eu
penso como primeiro conceit; em Platão, era a imagem virtual de um já
pensado que redobraria todo conceito atual. Heidegger incova uma
‘compreensão pré-ontológica do Ser’ que parece implicar a captação de
uma matéria do ser em relação com uma disposição do pensamento.”
(P. 57) Como já falamos, o plano é simultâneo ao conceito, e por isso os
autores dizem que “pré- losó ca não signi ca nada que pre-exista, mas
algo que não existe fora da loso a, embora esta o suponha. São suas
condições internas.” (P. 57) O plano de imanência é, então, um certo
duplo do conceito, pois ela o condiciona sem ser anterior a ele. São as
capacidades de uma loso a em seu estado não-delimitado, mas uma

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capacidade que não existe fora de sua relação com os conceitos criados.
Por conta disso a própria “exploração” de um plano de imanência é
sempre feita como que as cegas, já que ele só pode ser realizado
indiretamente por meio dos conceitos. Podemos dizer então que essa
exploração de um plano é feita a partir de uma experimentação com os
conceitos para encontrar seus limites na própria prática conceitual.

Mas de que maneira ocorre a instauração de um plano? “O plano de


imanência é como um corte do caos e age como um crivo.” (P. 59) O
caos é “menos a ausência de determinações que a velocidade in nita
com a qual elas se esboçam e apagam: não ´eum movimento de uma a
outra mas, ao contrário, a impossibilidade de uma relação entre duas
determinações, já que uma não aparece sem que a outra tenha já
desaparecido, e que uma aparece como evanescente quando a outra
desaparece como esboço. O caos não é um estado inerte ou
estacionário, não é uma mistura ao acaso. O caos caotiza, e desfaz no
in nito toda consistência.” (P. 59) O caos, podemos resumir, são as
coisas em seu puro movimento sem que elas tenham um mínimo de
estabilidade. Isso signi ca que para os autores o real antes de qualquer
recorte não é algo morto ou sem vida, mas pelo contrário, um
movimento de diferenciação tão intenso e veloz que nenhuma
estabilidade se produz. A atividade losó ca (mas não só ela) podemos
dizer é uma tentativa de produzir um mínimo de estabilidade (os
autores usam a palavra consistência). No caso especí co da loso a,
trata-se de “dar consistência sem nada perder do in nito” (p. 59). A
instauração de um plano de imanência é então uma preservação desse
movimento in nito nas suas “curvaturas variáveis”, curvaturas que
indicam justamente o movimento de ida e volta do caos que não param
nesse feedback de produzir novas curvaturas. Os conceitos por sua vez
são os contornos variáveis que se inscrevem sobre o plano, delimitando
no plano ordenadas intensivas. Mas como dissemos e é preciso repetir,
como o plano de imanência não pre-existe à criação conceitual, o
estabelecimento de ordenadas intensivas, dos contornos, é ele o mesmo
movimento que instaura os pressupostos de um pensamento — ou, nos
termos utilizados agora, as curvaturas que os conceitos contornam — ,
suas puras capacidades.

A loso a começa então não com uma simples elaboração de


proposições que ngem ser conceitos, mas com conceitos que
efetivamente instauram um plano de imanência e conseguem preservar
o movimento in nito do caos. Aí aparece mais uma característica do
plano de imanência, ele só é verdadeiramente instaurado quando ele é
de fato imanente. Isso ocorre quando se opera o recorte no caos a partir
de alguma “ordem transcendente, imposta de fora por um grande

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déspota ou por um deus superior aos outros” (p. 60). O plano é


imanente na medida em que nele não há nenhum apelo a algo fora do
plano para justi car a criação dos conceitos — ou seja, quando os seus
conceitos são imanentes ao plano. Os casos de uma transcendência que
acaba se instalando no seio dos planos losó cos acontecem no
momento em que um plano de imanência e começa deixa de ser um
plano de imanência e se torna “imanente a”. Nas palavras dos autores,
“Cada vez que se interpreta a imanência como ‘a’ algo, produz-se uma
confusão do plano com o conceito, de modo que o conceito se torna um
universal transcendente, e o plano um atributo no conceito.” (P. 62) Há
uma inversão dos papeis do plano e do conceito que acaba por
reintroduzir o transcendente à imanência. “É somente quando a
imanência não mais é imanente a outra coisa senão a si qu se pode falar
de um plano de imanência.” (P. 65) É por isso que esse campo só pode
ser impessoal, pois qualquer “eu” rapidamente tenderia a reintroduzir
alguma transcendência. O que se encontra no campo são, pois,
acontecimentos, que é justamente aquilo que os conceitos buscam
dizer, “um pensamento”, “um ser” etc.

Os exemplos da história da loso a que Deleuze e Guattari examinam


(pp. 61–67) mostram que há uma tendência dos planos serem
envolvidos por ilusões. As ilusões elas não são, portanto, meros
acidentes, elas são engendradas pelo próprio plano (“o plano de
imanência ilimitado (…) engendra também alucinações, percepções
errôneas, sentimentos maus…” (p. 67) Os autores enumeram algumas
dessas ilusões: a ilusão de transcendência, a ilusão dos universais, a
ilusão do eterno e a ilusão da discursividade.

Como o plano é apenas um recorte ou crivo sobre o caos, pode-se


entender agora como que podem existir múltiplos planos, “já que
nenhum abraçaria tod oo caos sem nele recair, e que todos retêm
apenas movimentos que se deixam dobrar juntos.” (P. 68) Não são,
como apontam Deleuze e Guattari, apenas o caso dos planos variarem
conforme os erros ou as transcendências reinjetadas. Eles variam na
medida em que cada um deles “opera uma seleção do que cabe de
direito ao pensamento.” (P. 68) Essa pluralidade dos planos levará
então a se falar do caráter folhado do plano para dar conta da variação
dos planos, que em sua variedade não deixam de se tocar ou de
apresentar semelhanças. Os planos podem então ser concebidos de
maneira mais ou menos especí ca, dependendo da proximidade ou das
distinções que se pensa o plano, pois “o que varia não são somente os
planos, mas a maneira de distribuí-los.” (P. 68) E essas proximidades
implicam que a instauração de um plano novo é sempre mais complexo
do que simplesmente recortar o caos. Pois o próprio jogo entre

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novidade e tradição é uma constante da história da loso a, de modo


que os lósofos hesitam entre aqueles aventureiros que correm riscos
de recair no caos ao tentar operam um novo crivo nele ou um mero
funcionário do pensamento que só retoma os esforços de uma tradição.
O resultado disso é que os planos acabam sendo esburacados,
“deixando passar essas névoas que o envolvem e nas quais o lósofo
que o traçou arrica-se frequentemente a ser o primeiro a se perder.” (P.
69) As névoas sendo sempre frutos ou de uma inevitável reintrodução
de transcendência ao tornar a imanência imanente “a algo” ou do risco
de se aproximar demais do caos para tentar instaurar um novo plano.

Dessa forma o plano de imanência ele é variado, mas em si ele não tem
rivais, pois ele é propriamente a determinação do que cabe de direito ao
pensamento. O que cabe ao pensamento, por sua vez, está relacionado
ao problema em questão, de modo que não se pode dizer que os planos
se opõem, mas que quando um autor se opõem a um plano é que na
verdade o problema que está em jogo para ele é outro. A distância entre
dois planos seria, portanto, a distância entre duas problemáticas
diferentes — é isso que faz com que varie o que cabe de direito ao
pensamento. A história da loso a nessa concepção ganha uma outra
cara. Trata-se de fazer um retrato que produza semelhança sem querer
copiar, “desnudando ao mesmo tempo o plano de imanência que
instaurou e os novos conceitos que criou.” (P. 74) E a análise dos planos
na história da loso a, do seu caráter folheado, mosta o quanto não há
regra prévia que estabelece se um conceito criado se inscreve em um
certo plano de imanência compartilhado com outros lósofos (caso de
Platão e os neo-platônicos, por exemplo) ou se surge um novo plano
nesse movimento que o estende “afetando-o com novas curvaturas” (p.
76). Com isso em mente nem faz sentido a ideia de uma história da
loso a pautada numa cronologia pré-determinada. A loso a no caso
é da ordem de “um tempo estratigrá co, onde o antes e depois não
indicam mais que uma ordem de superposições.” (P. 77) A geogra a de
um determiando plano acaba sendo, portanto, sempre variação de um
outro plano a partir dos acontecimentos que ocupam tal lósofo. E isso
implica aceitar também uma certa irreversibilidade dos planos erigidos.
Nenhum plano é traçado absolutamente do caos pois o o pensamento
começa sempre in media res. Dessa forma, “as imagens do pensamento
não podem surgir em qualquer ordem, já que implicam mudanças de
orientação que só podem ser situadas diretamente sobre a imagem
anterior (…). As paisagens mentais não mudam de qualquer maneira
através das eras; foi necessário que uma montanha se erguesse aqui ou
que um rio passasse por ali, ainda recentemente, para que o solo, agora
seco e plano, tivesse tal aspecto, tal textura.” (Pp. 78–79) De modo que
a história da loso a é o estudo do estado da terra onde vai se instaurar

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um novo plano. O sentido de um tempo estratigrá co (de estratos) tem


a ver com o fato de que o que foi pensado não deixa de existir, mas
pode sempre ressurgir ou reaparecer, ou mesmo permanecer como
fundo ou como superfície. Os estratos dos planos losó cos tem,
portanto, relações complexas que não se reduzem a uma linearidade
causal. “O tempo losó co é assim um grandioso tempo de
coexistência, que não exclui o antes e o depois, mas os superpõe numa
ordem estratigrá ca. É um devir in nito da loso a, que atravessa sua
história mas não se confunde com ela.” (P. 78)

Um outro plano de imanência surge então, como, talvez, uma


constante, o absolutamente impensado do devir losó co, que seria O
plano de imanência. Ele seria “o que deve ser pensado e o que não pode
ser pensado. Ele seria o não-pensado no pensamento. É a base de todos
os planos, imanente a cada plano pensável que não chega a pensá-lo. É
o mais íntimo no pensamento, e todavia o fora absoluto. Um fora mais
longíquo que todo undo exterior, porque ele é um dentro mais
profundo que todo mundo interior: é a imanência” (P. 78) Enquanto
cada plano de imanência é um recorte do caos que busca establiza-lo
mas acaba sempre injetando doses de transcendência, arbitrariedades,
haveria em cada traçar de planos o desejo de traçar um puro plano de
imanência. Mas dado sua impossibilidade, os autores sugerem que mais
do que propriamente pensá-lo a questão seja apontá-lo. Eis talvez o
motor da prática losó ca.

. . .

Fichamento dos capítulos anteriores: “Introdução” e “O que é um


conceito?”.

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