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BR/MAISHUMANA
Nº 9 | MARÇO DE 2006
revista
mah
Sumana
março Entre avanços
e recuos, as mulheres
consolidam
8 as suas conquistas
e enfrentam antigas
desigualdades
Dia
Internacional
da Mulher
8
www.uff.br/maishumana Dia
Internacional
da Mulher
Sumana
mah
www.uff.br/maishumana
ISSN 1679-463x
Conselho Editorial
Cenira Duarte Braga,
Sumário revista Sumana
mah
GOMES COSTA COMENTA ESTAS QUESTÕES NESTA ENTREVISTA; FALA DA TRAJETÓRIA DE FRIEDAN E COMO ELA FOI VISTA família, ainda que profissionais, devolvidas ESPECÍFICAS.
às suas casas depois de terem substituído, em
PELA SOCIEDADE, BEM COMO DA RELAÇÃO DAS MULHERES E DO FEMINISMO COM A MÍDIA; DE REIVINDICAÇÕES FEMININAS muitos trabalhos, seus pais, maridos, filhos e quena e se expressa em trabalho de tempo lheres associadas ao Centro da Mulher Bra-
AINDA PENDENTES E DA DIVERSIDADE DOS VÁRIOS FEMINISMOS; DO PAPEL DO HOMEM NESSE PROCESSO; E DE COMO A irmãos, nas seguidas conjunturas de guerra, parcial – de que tantas de nós temos desfru- sileira (CMB), militantes e simpatizantes do
principalmente nas que se seguem à Segun- tado como uma benesse, por permitir a con- Partido Comunista Brasileiro (PCB) – mui-
MULHER VENDO SENDO AFETADA PELO NEOLIBERALISMO, ENTRE OUTRAS QUESTÕES DE GRANDE IMPORTÂNCIA E ATUALIDADE. da Guerra Mundial. Como jornalista, Betty ciliação de tarefas da casa com as do mer- tas delas, por afinidades ideológicas, solidá-
SUELY GOMES COSTA É DOUTORA EM HISTÓRIA, PESQUISADORA DO CNPQ E PROFESSORA DOS PROGRAMAS DE PÓS- conheceu, na própria pele, tanto a dor da dis- cado – e em reduções de salário aceitas e as- rias com a orientação desse jornal –, num mo-
criminação às mulheres no mercado de tra- sociadas a outras “singularidades” femininas mento em que as pautas de lutas contra a di-
GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL E EM HISTÓRIA DA UFF. balho – ela foi despedida de um emprego por como escolhas de carreiras menos exigentes tadura e a favor das consideradas“grandes
estar grávida – como a da violência domés- em tempo e dedicação, de reduzida expo- causas” políticas se impunham e, ao mesmo
tica por parte do marido de quem se divor- sição pública e, até mesmo, invisíveis – co- tempo, desqualificavam inúmeras questões
ciou, algo que passa a denunciar publica- mo assessorias e atividades análogas –, que femininas em debate, sobretudo as das leis
Suely
ENTREVISTA
mente. Ontem e hoje, essa mística tem servi-
do a impedimentos de saídas das mulheres
para o espaço publico; a igualdade de direi-
tos de homens e mulheres ameaça a estabili-
ocultam talentos femininos. Há mais com-
plicadores. Em livro recente – recomendo
sua leitura – Susan Faludi fala do backlash
(Backlash, Rio de Janeiro: Rocco, 2001), um
autorizativas do aborto, aprovadas nesse ano
nos EUA. Essas tensões promovem uma
grande diáspora, marca dos feminismos bra-
sileiros que se seguirão. As correntes sexis-
Feministas do mundo inteiro propagaram o Em síntese, quais são as principais reivindicações num mundo perversamente dividido em clas-
slogan “meu corpo me pertence”, mas a ser-
viço de conquistas de direitos reprodutivos e
sexuais, traduzidos no direito ao aborto, ao
femininas na atualidade? Que outras já foram
conquistadas ou parcialmente conquistadas?
Variam conforme as regiões do mundo. Os
ses sociais; somos desiguais em direitos de
país para país... Os empregos femininos ten-
dem a ser de tempo parcial, como disse, obri-
Pré-universitários da UFF
controle do tamanho de sua prole, ao desfru-
te do prazer sexual, ao respeito a suas opções
movimentos feministas estão submetidos às
condições sociais de existência das mulhe-
res: alguns se ocupam, no momento, de 80
gando-nos a uma dupla jornada de trabalho;
nem sempre contamos com os companheiros
buscam reduzir desigualdades
sexuais, enfim no direito de decidirem sobre no desempenho do trabalho doméstico; sob o
seus corpos e suas necessidades, no âmbito
da sexualidade regulada, quase sempre, fora
milhões de meninas de algumas regiões da
África, da Malásia e da Indonésia que estão
neoliberalismo, temos reduzidas possibilida-
des de contar com estruturas adequadas de
e promover justiça social
de sua vontade. Penso que o uso do corpo – sendo atingidas pela mutilação ritual do proteção social; os salários femininos são in-
masculino e feminino – como mercadoria não clitóris, prática que elimina o prazer sexual e feriores aos masculinos. Isso se agrava quan-
decorre desse slogan, mesmo que possa a ele é garantia de casamento... Outros denunciam do as mulheres são pobres, negras, mestiças,
A PARCERIA COM O PROGRAMA DIVERSIDADE NA UNIVERSIDADE, DO MEC, PERMITIU AOS PRÉ-UNIVERSITÁRIOS DA UFF
se referir. O problema diz respeito às relações e estão exigindo a abolição do traje islâmico, feias, gordas e velhas. Persistem limitações PROMOVER MELHORES CONDIÇÕES AO TRABALHO JÁ DESENVOLVIDO E, SOBRETUDO, AMPLIAR O INGRESSO E QUALIFICAR
mercantis que, nesse nosso tempo, se apro- com a obrigatoriedade da burka imposta (culturais) quanto à ocupação de certas po-
A PERMANÊNCIA DE AFRO-BRASILEIROS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS.
priam de tudo como mercadoria, inclusive dos pelo Taleban às mulheres do Afeganistão e sições de comando por mulheres; dois exem-
corpos e de suas imagens. Particularmente, que, sob esse domínio, se estende a outras plos são emblemáticos: a Igreja Católica as
nessa perspectiva, defendo o direito de mu- áreas, caso do Paquistão onde o traje não é impede do pleno exercício religioso; a repre- A Universidade Federal Fluminense vem se forma de influir na formação desses estudan- que objetivam uma educação de qualidade
lheres e homens usarem seus corpos do jeito usual... Entre nós, ocupando, de novo a pauta sentação política é pequena, daí o regime de dedicado, através da sua Pró-Reitoria de Ex- tes, disponibilizando espaço para prática de para todos, uma sociedade mais justa, mais
que desejam. Não tenho nada contra. de lutas feministas, estão as restrições quotas partidárias por toda parte... A com- tensão, ao desenvolvimento de ações e meios suas futuras profissões e uma vivência peda- solidária, oferecer à comunidade, da melhor
pulsão da beleza leva as mulheres a grandes que proporcionem o acesso da população me- gógica fundamentada na solidariedade e em forma, seu potencial para atender a sua de-
O crescimento da presença feminina nesse mer- sofrimentos e imensos gastos com a en- nos favorecida social e economicamente às valores éticos fundamentais. manda – afirma o Professor José Nilton.
cado significa um retrocesso para o movimento genharia dos corpos e cosméticos. universidades públicas. Denominados como Segundo o Coordenador Geral do Projeto, Entre as preocupações do projeto estão: a com-
feminista? Em que estágio encontram-se esse Pré-universitários UFF, esses projetos são Professor José Nilton de Sousa, o Projeto plementação dos conhecimentos adquiridos
movimento e a própria consciência feminina? Como a Sra. avalia a atitude das mães nos re- efetivamente realizados pelos Núcleos Ofi- Pré-universitário nasceu de uma constatação no ensino médio, de forma a ampliar as con-
Não sinto retrocessos nos movimentos femi- centes fatos envolvendo abandono e morte de cina do Saber e Laboratório de Práticas So- de que existe em nossa sociedade um extrato dições de acesso e permanência à educação
nistas: hoje, eles são menos ruidosos e muito crianças em Porto Alegre e Belo Horizonte? ciais que, ao envolver 60 alunos de gradua- de afrodescendentes que, ao concorrerem a superior; ser efetivamente um curso pré-uni-
mais competentes, organizam-se em vastíssi- A morte intencional de bebês, seres inde- ção da universidade já atenderam, na quali- uma vaga nas IPES (Instituições Públicas de versitário e não um curso pré-vestibular: de-
mas redes nacionais e internacionais e alcan- fesos, é sempre uma tragédia! Trata-se de cri- dade de alunos-mestres, a um público de ve se diferenciar dos cursinhos pré-vestibu-
çam resultados tangíveis em todas as partes me. O imaginário social sacraliza a materni- 1.200 jovens e adultos, durante seus seis anos "UMA PREOCUPAÇÃO DO lares, não apenas no nome, mas na essência
do mundo. A presença feminina e também a dade, por isso, esse tipo de ocorrência nem de funcionamento. PROJETO É SER EFETIVAMENTE dos princípios e propósitos educacionais de
masculina são marcantes nesse mercado, mas sempre é avaliada como resultado de alguma Na etapa atual, em parceria com o Programa relevância a que se propõe; ser instrumento
repito, trata-se de um fenômeno de outra na- desordem psíquica. As mulheres têm todo o Diversidade na Universidade, do MEC, o UM CURSO PRÉ-UNIVERSITÁRIO de inclusão social; ser uma opção para a prá-
tureza. Sinceramente, não sei como andam direito de não desejarem filhos, mas o aban- Projeto Pré-Universitário para Afro-Brasi- E NÃO UM CURSO PRÉ-VESTIBULAR: tica pedagógica dos alunos-mestres das di-
esse crescimento e seus impactos sobre a dono com a expectativa de morte da criança, leiros visa a orientar jovens e adultos afrodes- DEVE SE DIFERENCIAR DOS ferentes licenciaturas da UFF, que poderão
felicidade humana... Corpos nus não devem em qualquer circunstância, situa mal conhe- centes e/ou de pouco poder aquisitivo, oriun- atuar em consonância com o Projeto Pedagó-
nos preocupar e sim os corpos mortos de fo- cidos transtornos mentais relacionados à dos de escolas públicas, para o processo de CURSINHOS PRÉ-VESTIBULARES, gico do Curso, seus princípios e finalidades;
me e de males evitáveis... Sei que estamos nu- absurdas ao aborto, tanto em caso de feto maternidade indesejada. seleção de acesso ao ensino superior. A me- NÃO APENAS NO NOME, MAS NA servir de base experimental para novos re-
ma era de desperdício, inclusive de imagens, anencéfalo (sem cérebro) como na gravidez todologia utilizada busca desenvolver um pro- cursos educacionais, metodologias e projetos
ESSÊNCIA DOS PRINCÍPIOS E
em que tudo se esgota e se torna sucata... Os por estupro. Conquistamos muitas coisas: E quanto à cobertura desses fatos pela mídia? cesso de ensino/aprendizagem integrador dos de ensino criativos, cumprindo um dos papéis
movimentos feministas são muitos e se acesso à educação, à saúde, à cultura, ao vo- Essa cobertura penaliza mulheres doentes. conteúdos das disciplinas “tradicionais” às PROPÓSITOS EDUCACIONAIS DE da universidade de experimentar sob contro-
redefinem a cada tempo, como disse, a favor, to, a visibilidades intelectuais e artísticas, ao Nem sempre avalia as condições mentais res- atividades culturais, colaborando para o exer- RELEVÂNCIA A QUE SE PROPÕE". le em pequenas escalas, avaliar, reformular e
contra e muito pelo contrário a essas tendên- trabalho, ao divórcio, ao controle da fecundi- ponsáveis por tais mortes. O infanticídio é cício da cidadania, o anti-racismo e a cons- disponibilizar para toda a sociedade os bene-
cias; lamento que muitos estejam domestica- dade, à licença para cuidados de nossos fi- uma velha prática social e ocorre em dife- trução de valores éticos de sociabilidade. Ensino Superior), encontram-se em condi- fícios do saber organizado; contribuir para o
dos em ONGs de muitos feitios e serviços... lhos em período de aleitamento, ao crescente rentes tempos e lugares, sendo largamente Sob o ponto de vista dos professores, o pro- ções de desvantagem por serem egressos de enriquecimento cultural e enriquecimento da
O processo de tomada de consciência femi- reconhecimento civil de relações homosse- exercido no Brasil. As manifestações de in- jeto tem o objetivo de propiciar a esses alu- escolas da Rede Pública de Ensino, que há al- formação geral do aluno, fatores estes que
nista tem avançado muito, sobretudo com os xuais. No Québec, somos quase a totalidade dignação da mídia são sempre bem vindas, nos-mestres, dos cursos de licenciatura da gum tempo vêm sofrendo com falta de in- são significativos para uma melhor inserção
estudos de gênero. Pessoalmente, essa pre- de profissionais da educação e a maioria no mas o grau de constrangimentos imputados a UFF, a vivência do trabalho pedagógico alia- vestimento por parte do governo. O projeto, nos diferentes ambientes de trabalho, qual-
sença feminina nos meios de comunicação judiciário; a profissão médica experimenta mulheres com fundas dificuldades mentais da à reflexão crítica do processo de exclusão assim, procura diminuir esta relação de desi- quer que venha a ser a sua trajetória profis-
não me incomoda; vejo nelas muitos signi- uma vasta feminilização e chegamos às ciên- deve ser repensado, pois parece contribuir com vivido por grande parte da população, bus- gualdades na direção de maior justiça social. sional futura; continuar o seu efeito multipli-
ficados, mas acho que precisamos conhecê- cias hard, à matemática, à física, à enge- o agravamento dos males psíquicos que pro- cando instituir experiências de formação cien- – Apesar de reconhecermos não ser uma ta- cador de ações similares, dentro ou fora da
los melhor, por isso, não saberia pensar com nharia, à computação... Restam muitas con- duzem esses assassinatos, mantendo ocultos si- tífica e habilitação profissional aliada aos com- refa simples, é um dever das IPES, bem co- UFF, visando um universo muito maior de
a necessária precisão, sobre os rumos civi- quistas: há muitas desigualdades entre as nais de enfermidades mentais passíveis de se- promissos e responsabilidades sociais. Esta mo dos discentes que têm nelas a sua forma- alunos em situação semelhantes, no Estado
lizadores que anunciam. mulheres de um mesmo país, pois estamos rem desencadeadas pela maternidade. vivência junto às camadas populares é uma ção profissional, dos docentes e funcionários do Rio de Janeiro.
a sala pessoas de diferentes áreas, psicologia, ferentes contextos de uso, são maneiras de
em salas de aula
Depois da sessão, a participação se divide
E as atividades do circuito comunitário? em oficinas em cada turma, pois certas ses-
Laís – Eu desenvolvo um recorte do projeto sões são feitas com mais de uma turma reu-
junto a uma escolinha de surf. Passamos fil- nida. Isso amplia a discussão para além da
PROJETO UTILIZA FILMES COMO RECURSO PEDAGÓGICO, BUSCANDO ATINGIR OS ESTUDANTES ATRAVÉS DA ESTÉTICA E DA mes para alunos pobres dessa escola, que discussão tradicional.
DISCUSSÃO DE TEMAS POUCO COMUNS. TAMBÉM PROCURA METODOLOGIAS ALTERNATIVAS E A ABERTURA DE HORIZONTES não têm acesso a cinema, sobre surf e surfis-
tas, e fazemos uma oficina para recuperar a
PARA UM ALUNADO HISTORICAMENTE ALIJADO DE UMA VIDA CULTURAL MAIS ATIVA. COMO PROJETO DE ENSINO,
memória histórica do surf no mundo para es-
sas crianças que não lêem, não vão a cinema, PESQUISA E EXTENSÃO, O O que torna um tema “proscrito”?
são alunos da rede publica. CENAS DE CINEMA FUNCIONA Laís – A forma que o imaginário social cons-
trói em torno dele. Por exemplo, a droga. De-
NO QUE FOI CHAMADO DE CIRCUITO pendendo do contexto em que é colocada, a
Maria Luiza – No circuito comunitário, te-
As professoras Maria Luiza mos um trabalho com um movimento jovem ACADÊMICO E NOS CIRCUITOS droga pode ser um objeto de satisfação; um
Tambellini, Laís Veloso e Rita
de Cássia Freitas do bairro do Catumbi, que visa fazer uma COMUNITÁRIOS, O QUE FAZ VARIAR objeto sagrado; ou objeto de sofrimento. Mas
reestruturação do bairro, como se fosse um a droga em si seria uma categoria inerte. Essa
A ESCOLHA DOS TEMAS E O TIPO é uma conversa proscrita, do tipo que procu-
Em linhas gerais, como é desenvolvido este tra- novo plano diretor para aquela área do Rio de
balho no meio acadêmico? Janeiro. Já fizemos exibição de filme em área DE DISCUSSÃO DESENVOLVIDA. ramos trabalhar, com coisas que não são ditas.
Laís – Nas salas de aula de pessoas do pro- pública, inclusive com discussão ao final.
jeto, os filmes fazem parte do conteúdo das Laís – Tentamos trazer a discussão da es- Além do serviço social, liga-se a outras áreas
disciplinas. Os filmes tratam de temas corre- Laís – No trabalho comunitário, o tema tética para dentro do mundo das racionali- acadêmicas?
latos às disciplinas, e ainda do que chama- depende do público, se adulto, se estudantes dades cientificas. No curso de Serviço Social Maria Luiza – Queremos fazer parcerias
mos de temas proscritos, envolvendo discus- de escolas públicas. Para as crianças do surf trabalha-se muito com uma discussão mais sempre com os espaços que estejam na trans-
sões sobre drogas, sexualidade, criminalida- eu só passo filmes relacionados ao surf ou ao ética, mas racional, enquanto o campo es- disciplinaridade do projeto. Hoje temos uma
de, coisas que ninguém quer falar mas que, mundo do mar, do oceano, natureza. O públi- tético é mais libertário. parceria com o Centro de Tecnologias Edu-
na verdade, estão sempre presentes na práti- co universitário é um público mais livre, en- cacionais da UERJ. O Cenas de Cinema re-
ca do serviço social, nos relatos de família tão a gente pode brincar com os temas, mas Rita – Reconhecer a si própria em algumas cebeu a proposta de se configurar como um
que chegam aos profissionais. de maneira geral o projeto é cuidadoso com o situações, se colocar mais. programa televisivo.
que passa.
Maria Luiza – Todas as nossas disciplinas Como é feita a escolha de temas considerados Laís – Faz parte das disciplinas dos cursos
são capazes de acolher algum tipo de debate Como os temas são trabalhados nas salas de aula? “proscritos”? regulares, e algumas disciplinas são basea-
através de um filme. Atualmente, criamos Laís – Sob diferentes pontos de vista. Por Maria Luiza – Costumamos escolher temas das totalmente tendo os filmes como texto. O
A exibição e discussão, em sala de aula, de filmes geralmente fora do circuito comercial, co- um link entre o cinema e as práticas de ser- exemplo, trabalhamos o tema das drogas sob que em si já são complexos e a própria socie- filme toca na emoção, e discutimos a partir
mo ferramenta pedagógica, é a base do Projeto Cenas de Cinema, que envolve as faculdades viço social, através de uma disciplina obri- o olhar psicanalítico, antropológico, o olhar dade não sabe como discutir. Ao invés de a do rebatimento do filme na história de vida
de Serviço Social da UFF e da UERJ. A expectativa das professoras que coordenam o gatória na UERJ chamada Práticas Sociais histórico, o olhar do próprio usuário, os de- gente dar o viés que se vê na imprensa, de de cada um, no exercício profissional, traba-
projeto é que o filme seja “um recurso alternativo às práticas tradicionais de ensino e de em Cenas de Cinema. Garimpamos filmes uma discussão sem perspectiva de enxergar, lhando com as áreas de intolerância das pes-
valorização da cultura, [com o] interesse de transformar a sala de aula em um espaço de que mostram atuações de assistentes sociais, nossa proposta é exatamente fazer uma dis- soas, vendo como cada uma reagiu, assegu-
diálogo, buscando metodologias alternativas e a abertura de horizontes para um alunado uma coisa inédita e que traz muitas oportu- cussão que seja benéfica para a compressão rando um espaço de acolhimento e reflexão
historicamente alijado de uma vida cultural mais ativa”. nidades de discussão. dessas situações e a atuação sobre elas. na sala de aula.
– A idéia é estimular diálogos transdisciplinares entre saberes e práticas sociais, processos
estéticos e subjetividade a partir da linguagem fílmica. Dessa forma, democratiza-se e am- Rita – O fundamental é que o projeto surge Laís – Uma discussão que seja mais peri- Rita – O projeto começa a virar uma re-
plia-se o acesso à cultura e ao debate intelectual no circuito universitário e no circuito buscando uma metodologia alternativa para férica, e não o pastelão que a mídia e a co- ferência. Na UFF, o Cenas de Cinema asso-
comunitário, junto ao público que não tem acesso às salas de cinema por razões financeiras sala de aula, este foi o ponto inicial. E com a municação de massas veicula. ciou-se ao Projeto Trocando Idéias (do
ou geográficas – define Laís Veloso, professora da UFF e da UERJ, Coordenadora do perspectiva de busca do diálogo com outros NPHPS-Núcleo de Pesquisa História sobre
Projeto, do qual também participam, como Co-Coordenadoras, as professoras Rita de Cás- saberes. Essas conversas transdisciplinares Rita – Temas surgem a partir das disciplinas Proteção Social), que atua no HUAP. Já há
sia Freitas (UFF) e Maria Luiza Tambellini (UERJ). foram fundamentais no início e deram o tom também. Trabalhando com gênero, com família, dois filmes programados para 2006, que vão
MaisHumana conversou com as coordenadoras do projeto sobre as atividades desenvolvidas. depois. Com os filmes, foram chamadas para questões como aborto e sexualidade aparecem. discutir a saúde.
Dia Internacional
Projeto das Mulheres Rita Freitas
Werther Holzer
do Estado do Rio de Janeiro para fazer nosso estudo de caso. Entre existe com o nome de Perinas). Como era engenheiro, a salina foi
as muitas paisagens e arquiteturas vernaculares deste território, nos construída segundo as técnicas mais avançadas, que deram ao entor-
Salineiros
4.500 anos antes do presente, como indicam os artefatos das pré- tabatinga (Giffoni, 1999). A única alteração técnica importante, im-
cerâmicas que extraiam seu sustento do rico habitat proporcionado plementada no início do século XX, foi a substituição do antigo sis-
pela interação entre a Mata Atlântica e a Restinga. Testemunhos tema de bombas, movidas a energia humana ou animal, por moinhos
desta ocupação ainda podem ser encontrados em toda a região, assim de vento norte-americanos (Lamego, 1946). Esta alteração na técnica
como de outras atividades econômicas subseqüentes, que garantiram novamente altera a paisagem, pois até hoje o que identifica a Região
Boa parte das salinas ao redor da Lagoa de Araruama tem aldea- o sustento e a ocupação do território pelo ocupante europeu. Das dos Lagos são estes moinhos de vento”.
mentos implantados. Muitas delas ainda produzem sal, outras tantas áreas mais produtivas da Mata Atlântica extraiu-se o pau-brasil, Atualmente, a produção de sal na lagoa de Araruama conta com a
estão abandonadas e estão aos poucos sendo reconvertidas para lo- plantou-se cana-de-açúcar, depois café, depois laranja. Na restinga, presença de grandes salineiros juntamente com pequenas famílias
teamentos e condomínios de veraneio. Dentro desse abrangente uni- menos produtiva, vivia-se da pesca e da criação de gado. Em ambos que ainda vivem da extração do sal. O método de extração do sal, ape-
verso de pesquisa, três exemplos foram escolhidos para o desenvol- os casos estas atividades tradicionais deram lugar depois à terra nua, sar das mudanças tecnológicas quanto ao refino ou transformação em
vimento do projeto de pesquisa Paisagem Vernacular - Aldeamentos reservada às atividades de especulação imobiliária voltada para o outros produtos, continua inalterado desde o final do século XIX.
Salineiros: a Salina Vigilante (a mais meridional da América); aldea- Tanques, armazéns e passeio de um compleo salineiro turismo e ao veraneio. – Também as salinas foram atingidas pela voragem da especulação
mentos das Salinas Pitanguinhas e Fluminense (Pernambuca), que “Na Lagoa de Araruama, como nos informa Lamego (1946), os imobiliária, grandes extensões da restinga foram parceladas e ven-
são vizinhos; e aldeamento da Salina Monte Alto. diversos meios de expressão artística: pinturas e desenhos, fotogra- índios extraíam o sal utilizando-se de um método rudimentar: abriam didas em lotes para a construção de residências de final de semana.
O objetivo da pesquisa é de realizar um ensaio fotográfico das fias, locações e cenários de produções cinematográficas e de televi- Este é o principal motivo desta pesquisa: procurar manter viva uma
Paisagens Vernaculares da Região dos Lagos Fluminense, começan- são, escultura. No entanto poucas vezes esta arquitetura singela foi paisagem e uma arquitetura vernacular que consideramos como uma
Werther Holzer
do pelos aldeamentos salineiros, traçando o seu perfil e discutindo vista como um meio de expressão artística, muito menos as interfe- forma de expressão artística. Tanto a paisagem quanto as edificações,
teoricamente a fotografia enquanto meio de expressão artística e de rências que o homem produz na paisagem. consideradas aqui como os prédios e as próprias salinas, são relíquias
informação científica. A partir deste ensaio se pretende estudar as con- “A interferência na natureza, em alguns casos, principalmente nos que expressam mais do que o modo de vida dos que ali habitavam.
cepções que configuraram os modelos e padrões da paisagem lito- de jardins, pode ganhar o status de obra de arte. Para citar alguns exem- Elas expressam o modo como estas pessoas pensavam, como se rela-
rânea; elaborar uma reflexão comparativa entre as paisagens tradi- plos: os jardins de Versailles, Jardins Japoneses, as obras de Burle cionavam com o seu mundo, como se comunicavam entre si e com
cionais e as novas paisagens da globalização e aprofundar-se nos Marx. Nossa questão é: se podemos ver alguns destes artefatos hu- outros assentamentos – conclui.
campos teórico-conceituais de investigação sobre a paisagem enquan- manos que servem como abrigo ou como jardins como obras de arte,
to objeto de expressão artística e nas relações entre ciência e arte. porque outros são relegados a simples artefatos sem nenhuma ex-
Werther Holzer
Segundo o Professor Werther Holzer, Coordenador da pesquisa, pressão artística?” – questionam os pesquisadores.
esses assentamentos tradicionais sempre foram motivo para os mais – Para encaminhar esta questão elegemos um recorte do território
João Paulo Bastos
Direitos Reprodutivos
O Núcleo de Pesquisa Histórica sobre Proteção
Social (NPHPS) e o Núcleo de Direitos Humanos, So-
ciais e Cidadania (NUDHESC) participam do evento
em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, pro-
Projeto Formação de Agentes
e Sexuais Daguimar Barbosa
movido pela Subsecretaria de Direitos Humanos de
Niterói nos dias 8, 9 e 10 de março. Às 9h do dia 8,
uma mesa de debates abrirá as atividades, na sede
fecha mais uma etapa
Acadêmica de Serviço Social/UFF dos Núcleos (Campus da UFF no Gragoatá, Bloco E,
sala 405). Durante os três dias, das 17h às 20h, no
Quando falamos de gravidezes precoces na sociedade em que vivemos re- Terminal de Ônibus João Goulart, Centro de Niterói,
ferimo-nos na maioria das vezes a uma classe social específica, que tem con- estarão armadas tendas com exposições diversas,
dições socioeconômicas desfavoráveis e determinantes, raça e etnia dife- além de um telão onde serão exibidos filmes de curta
rentes da classe dominante. metragem. Também haverá shows gratuitos. O NPHPS NA REGIÃO OCEÂNICA,
estará no local produzindo um filme com depoimen-
Verificar o aumento das taxas de fecundidades entre adolescentes de favelas tos de homens e mulheres. O CURSO PREPAROU MAIS
em especial as do Rio de Janeiro denuncia desigualdades que ferem o prin-
45 PROFISSIONAIS DE
cípio da Proteção Integral à criança e ao adolescente e legitima uma ordem de Foi implantado em janeiro o primeiro Comitê de
desproteção social, que se cumpre e se perpetua através da não democrati- Equidade no serviço público brasileiro, em Quixa- ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS E
zação de informações. Não se pode esperar escolhas conscientes quando ain- dá, Ceará. A implantação desses comitês, consti- PRIVADAS QUE TRABALHAM COM
tuídos por representantes do executivo municipal
da nesta sociedade informação é poder e instrumento pelo qual se faz
CRIANÇAS E ADOLESCENTES,
naturalizar a exclusão. e servidores da prefeitura, é recomendada desde
2002 pelo ISP - Internacional do Serviço Público. COMO PARTE DO PROJETO DE
A dificuldade de acesso às informações referentes a sexo e métodos con-
traceptivos faz engrossar os números que apontam o crescimento de mães
Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, pesquisa do ISP, de 2003, mostra o Cea-
EXTENSÃO DA UFF
cada vez mais jovens; de adolescentes contaminadas por DSTs/AIDS e de rá como segundo estado brasileiro em nível de de-
mortalidade materna por abortamento. Meninas se tornam estatísticas todos sigualdade salarial entre homens e mulheres no prescindíveis na promoção de políticas
os dias. O reconhecimento de que estas meninas trazem demandas do campo serviço público: 34% dos homens têm remuneração públicas eficazes.
da saúde sexual e reprodutiva é imprescindível para a ampliação e a garantia superior às de mulheres com os mesmos cargos ou O Projeto é coordenado pela Prof. Dra. Nivia
atribuições. O primeiro estado é Roraima, com 75%. Valença Barros, da Escola de Serviço Social
dos direitos de cidadania dessas adolescentes.
UFF, e pelo Prof. José Nilton de Souza, do
Trabalhar sexualidade com adolescentes neste século exige dos profissionais A escritora e feminista Rose Marie Muraro foi
Mais um Módulo Institucional do Curso projeto tem apoio da SESu/MEC. Constitui- Programa Oficina do Saber UFF. O curso da
de saúde práticas que desvendem as demandas localizadas no cotidiano, no declarada Patrona do Feminismo Nacional. Um Pro-
jeto de Lei da deputada Laura Carneiro foi apro-
de Formação de Agentes de Defesa de Direi- se em uma iniciativa de democratização, sis- RO é realizado na Primeira Igreja Batista de
espaço íntimo, cenário no qual se desenrola as manifestações da sexualidade
vado pelo Congresso e sancionado em 30 de de- tos de Crianças e Adolescentes foi realizado tematização, articulação, assessoria, capaci- Itaipu, tendo ainda apoio da Fundação Eu-
de meninos e meninas. A gravidez precoce demanda do Estado, Políticas
zembro de 2005 pelo Presidente da República, em fins de 2005, desta feita na Região Oceâ- tação e integração de estudos, ações, pesqui- clides da Cunha e da Fundação Gol de Letra.
Públicas de Atenção Integral à Saúde dessas jovens e serviços de assistência
Luiz Inácio da Silva. Em seu voto, a relatora Iara nica de Niterói. A segunda fase do curso está sas e projetos, desenvolvidos por entidades, As palestras realizadas trataram dos seguin-
reprodutiva que priorizem o atendimento com base na informação, forma pela
Bernardi destacou: "Foi com o seu ativismo em prevista para este mês de março, quando se- grupos e pessoas na área dos Direitos e De- tes temas: panorama geral da violência e in-
qual se favorece a consolidação da cidadania e da democracia.
prol da mulher - mesmo em anos difíceis, de re- rá concluída a capacitação de 45 profissio- fesa da Criança e do Adolescente no Muni- dicadores sociais; violência contra a criança
Costumeiramente as meninas são culpabilizadas por gravidezes precoces e pressão ao livre pensamento, como no ciclo de nais de organizações públicas e privadas que cípio de Niterói. e o adolescente: conceituação e reflexões; a
todos os programas de atenção ao tema se destinam ao público feminino. A governos militares que se seguiu ao golpe militar trabalham com crianças e adolescentes. Este Em Niterói, a capacitação de agentes vem proteção integral e o Estatuto da Criança e do
responsabilidade com a procriação e a forma de regulá-la e evitá-la é direcio- de 64 - que Rose Marie Muraro tornou-se a líder processo deverá subsidiar o fortalecimento do sendo realizada por este projeto da UFF, e Adolescente; políticas de enfrentamento da
feminista brasileira". No Conselho Nacional dos
nada para as mulheres, isto acontece com mulheres jovens e adultas. O Comitê de Defesa dos Direitos da Criança e faz parte das metas da Rede Municipal de violência contra a criança e o adolescente;
Direitos da Mulher (CNDM), Rose Marie é uma das
masculino fica apartado da responsabilidade com a reprodução/contracepção. do Adolescente da RO para a efetiva imple- Atenção Integral à Criança e ao Adolescente orçamento público e o orçamento criança; o
três conselheiras na condição de "notório conhe-
Homens adultos que reproduzem representações e práticas que localizam a cimento das questões de gênero".
mentação do Estatuto da Criança e do Adoles- do município, criada a fim de unificar ações impacto sócio-econômico da violência.
mulher enquanto única responsável por sua prole e tudo o mais que lhe diz cente em sua prática profissional, de forma in- de enfrentamento das violações e violência
respeito, foram adolescentes incluídos numa lógica histórica de longa duração Com reuniões semestrais, começou a funcionar tegrada e participativa com o Sistema de Ga- contra crianças e adolescentes, antes frag-
que instituiu papéis sociais com funções e encargos desiguais. Pensar o Parlamento Fluminense de Políticas para Mu- rantia de Direitos da Criança e do Adolescente. mentadas, isoladas e insuficientes. A cons-
gravidezes precoces requer a necessidade de se reforçar programas que lheres, no Estado do Rio de Janeiro. Na audiência Este Curso de Extensão é uma das ações de- trução de um sistema de parcerias e de reco-
enfoquem o masculino, se pensarmos só em políticas públicas que atendam pública "Violência contra a Mulher", que instituiu o senvolvidas pelo Projeto Formação de Agen- nhecimento de ações contribui para a cons-
demandas de mães jovens estaremos repetindo e legitimando a desigualdade Parlamento, a ministra da Secretaria Especial de tes de Defesa dos Direitos da Criança e do trução de novos paradigmas de intervenção.
entre os sexos, e em nada estaremos contribuindo para uma tomada de Políticas para Mulheres, Nilcéa Freire, assinou Adolescente, da PROEX/UFF e vinculado Estes novos paradigmas exigem capacitação
consciência de gênero. acordo com 22 municípios do Norte e Noroeste ao Núcleo de Pesquisa Histórica sobre Pro- e comprometimento profissional e pessoal,
fluminense, cujas prefeituras se comprometeram a
teção Social - NPHPS - e ao Núcleo de Di- considerados neste curso como pontos de
Reflexões sobre o ônus do exercício da maternidade precoce que é para implementar todas as 198 ações previstas no Plano
reitos Humanos Sociais e Cidadania - efetivação desta construção. As experiências
jovens em situação de vulnerabilidade social denunciam um Estado que tutela Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). A
primeira reunião será neste mês de março em
NUDHESC, da Escola de Serviço Social da de promoção da interinstitucionalidade e in-
mulheres e não as emancipa. A maternidade em qualquer idade deve partir de
Aperibé, Noroeste do Estado. Universidade Federal Fluminense/UFF. O tersetorialidade vêm demonstrando ser im-
um desejo consciente e totalmente voluntário. Deve-se partir da premissa de
que escolhas conscientes exigem informação.