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Gestão de Resíduos

Eletroeletrônicos
Gestão de Resíduos
Eletroeletrônicos
Lúcia Helena Xavier
Tereza Cristina Carvalho
© 2014, Elsevier Editora Ltda.
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ISBN: 978-85-352-7182-9
ISBN (versão eletrônica): 978-85-352-7628-2
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

X21g

  Xavier, Lúcia Helena


  Gestão de resíduos eletroeletrônicos / Lúcia Helena Xavier, Tereza Cristina
Carvalho. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.
  240 p. ; 23 cm.
  ISBN 978-85-352-7182-9
    1. Engenharia ambiental. I. Carvalho, Tereza Cristina. II. Título.
13-05670 CDD: 628
CDU: 628
Agradeço aos grandes mestres da minha vida, a começar pelos meus pais, que sempre
apontam e me direcionam a seguir meu Projeto de Vida.

Tereza Cristina Melo De Brito Carvalho

A Victor, Pedro e João.


Lúcia Helena Xavier
A gestão de resíduos
eletroeletrônicos no Brasil

Apresentação

A gestão de resíduos no Brasil tem sido motivada, prioritariamente, por exigências


legais, mas aspectos de ordem social, econômica e ambiental também desencadeiam ações
e favorecem as políticas públicas nesse segmento. Por vezes considerado um problema
social e, outras vezes, uma questão econômica, a gestão de resíduos suscita amplas discus-
sões e embates em diferentes esferas de poder.
Há algumas décadas verifica-se a destinação de resíduos perigosos gerados nos países
desenvolvidos, seguindo para os países em desenvolvimento. A partir do Acordo da Basileia
(Suíça), estabelecido na década de 1980, essa movimentação de resíduos perigosos passou
a ser acompanhada de perto e restrições foram impostas.
Recentemente, evidência de casos de contaminação decorrentes da exposição a altas
concentrações de metais pesados ganhou destaque na mídia e institutos de pesquisa passaram
a estudar, de forma mais pontual, o efeito de diferentes agentes tóxicos na saúde humana.
Desta forma, os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ganharam destaque
dentre os resíduos considerados perigosos.
A Europa foi a precursora na elaboração de mecanismos regulamentadores a respeito da
gestão de REEE a partir da elaboração da Diretiva RoHS (Restriction of Hazardous Subs-
tances) e da WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment). Ambos os instrumentos
regulamentam a respeito dos riscos e ações esperadas para a destinação das classes de
REEE comercializados, dando instruções referentes à gestão desses resíduos e auxiliando na
compreensão de técnicas de destinação de produtos pós-consumo, bem como de formas de
reciclagem e políticas de reúso. Toda a cadeia de valor, considerando o pré e pós-consumo,
é considerada nessas duas Diretivas.
A União Europeia motivou o comprometimento por parte de diversos países e, na
América Latina, o Brasil ganhou papel de destaque a partir da elaboração das Políticas
Estaduais e Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Além do Brasil, países como
Argentina, Paraguai, Peru, Uruguai e Colômbia já possuem legislação própria sobre o
assunto. O Brasil se destaca entre os países latino-americanos pela profundidade de sua
abordagem nos instrumentos legais e ainda pela prioridade dada, no âmbito da inclusão
social, aos catadores de materiais recicláveis.
Ainda são muitos os desafios que permeiam a inovação tecnológica, a gestão de resíduos
e os instrumentos regulatórios. As pesquisas apontam avanços significativos no segmento
tecnológico, mas os avanços ainda são tímidos na área social e ambiental. Particularidades
da América Latina, Ásia e África delimitam um cenário que requer uma forte intervenção
do poder público e conscientização dos cidadãos na busca por uma gestão sustentável dos
REEE.
Neste livro propomos a abordagem dos aspectos relacionados à gestão dos REEE sob
as diferentes perspectivas, com o propósito de consolidar o conhecimento a respeito da
temática, tendo como base a experiência de diferentes especialistas da academia e outros
segmentos. Os autores, em sua maior parte professores envolvidos com pesquisa e projetos
relacionados a essa área, apresentam as diferentes percepções a respeito da gestão de
resíduos eletroeletrônicos e permitem ao leitor a compreensão dos principais argumentos
que embasam o gerenciamento de REEE no Brasil.
Desejamos que apreciem a leitura e, acima de tudo, que compartilhem essa trajetória
singular que percorremos desde a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
visando a melhoria da qualidade de vida em nosso país.

Lúcia Helena Xavier

Tereza Cristina Carvalho


Sobre os Autores

TEREZA CRISTINA MELO DE BRITO CARVALHO – Graduação em Engenharia


Eletrônica (1980), mestrado em Engenharia Elétrica (1988), doutorado em Engenharia Elé-
trica (1996) e Livre Docência em Engenharia Elétrica (2012) pela Universidade de São
Paulo (USP) e Especialização em Liderança Humanista pela Universidade Estatal da Rússia
(2013). Possui MBA na área de administração e negócios (2002) pelo MIT (Massachusetts
Institute of Technology). Atualmente é professora associada da USP, coordenadora geral do
Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologias Digitais(LASSU), Coordenadora do Centro
de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR) e pesquisadora do Laboratório de
Arquitetura de Redes de Computadores (LARC). Além disso, é colunista (TI Inside)
e membro do Conselho Editorial da InformationWeek Brasil. Tem experiência na área de
Engenharia da Computação, atuando principalmente em projetos relacionados a Internet
Avançada, Redes de Computadores, IPTV, Gerenciamento e Segurança da Informação,
Governança de TI e Sustentabilidade em TI. Recebeu diversos prêmios por sua atuação em
projetos de Sustentabilidade e Tratamento de Resíduos Sólidos, dentre eles: Prêmio Von
Martius de Sustentabilidade, Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (2013);
1° Lugar – Categoria Tecnologia – Projeto CEDIR (2013); 2o. Lugar – Categoria Huma-
nidades – Projeto Eco-Eletro(2013); 3o. Lugar – Categoria Natureza – Programa Origem
Sustentável para Indústria Calçadista (2013); Prêmio FECOMERCIO de Sustentabilidade
– Categoria Professor – 1o. Lugar – Projeto Eco-Eletro (2013); Prêmio Governador Mário
Covas - Categoria Inovação, Governo do Estado de São Paulo - Secretaria da Gestão Pública
pelos Projetos CEDIR e Eco-Eletro (2008 e 2009) e Prêmio Iniciativa verde, Revista Info
Exame - Editora Abril (2010).
LÚCIA HELENA XAVIER – Graduação em Biologia, Bacharelado em Genética
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado (2001) e doutorado (2005)
em Gestão Ambiental pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ). Possui experiência na área de
Engenharia de Produção, com ênfase em Engenharia Ambiental, atuando principalmente
nos seguintes temas: Gestão ambiental, Desempenho ambiental (ISO 14031), Logística
reversa e Logística ambiental. Desenvolveu pesquisa em parceria com a Universidade
de Oviedo (Espanha) em Logística reversa e ambiental. Bolsista PRODOC/CAPES pelo
Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da UFPB (2006). Pesquisadora
Titular na Coordenação de Estudos Ambientais da Fundação Joaquim Nabuco (CGEA/
FUNDAJ). Professora Colaboradora no Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
na Universidade Federal de Pernambuco. Professora do MBA em Planejamento e Gestão
Ambiental da Universidade Católica de Pernambuco. Pós-doutora pela Universidade de
São Paulo (2011-2012). Pesquisadora colaboradora do CERSOL (Centro Multidisciplinar
de Estudos em Resíduos Sólidos da USP).
ANA PAULA BORTOLETO – Possui graduação em Engenharia Civil pela Uni-
versidade Estadual de Campinas (2002), mestrado e doutorado no curso de Engenharia
Ambiental pela Universidade de Tóquio (2006 e 2009). Pesquisadora financiada pela
Comunidade Europeia (Marie Curie Fellowship) na Universidade de Sheffield, Inglaterra
(2011 – 2012). Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Engenharia
Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: prevenção de resíduos sólidos,
análise de comportamento e fatores sociais, análise de ciclo de vida, sustentabilidade e
impactos ambientais e sociais do gerenciamento de resíduos sólidos.
ANTÔNIO CONDE – Técnico em Eletrônica com 28 anos de experiência no segmento.
Aluno do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental pelo Instituto Metodista de Ensino
Superior (2012). Atua no segmento da indústria de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos
desde 2008 e atua em empresas que estabeleceram parceria com o Cedir/USP desde 2011.
CARLOS R. V. SILVA FILHO – Advogado, pós-graduado em Direito Administrativo
e Econômico pela Universidade Mackenzie. Atualmente é Diretor Executivo da Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), Membro da
Diretoria da ISWA (International Solid Waste Association - Associação Internacional de Re-
síduos Sólidos) e Coordenador da Secretaria Subregional da IPLA – Parceria Internacional
para expansão dos serviços de gestão de resíduos junto a Autoridades Locais, um programa
mantido pela ONU - UNCRD. Editor da Revista Conexão Academia, revista científica sobre
resíduos sólidos, autor do livro “Resíduos Sólidos: o que diz a lei”, da Editora Trevisan e do
capítulo “Os serviços de limpeza urbana e a PNRS”, que compõe a obra Política Nacional,
Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos, da Coleção Ambiental, da Editora Manole.
Professor convidado e palestrante em eventos nacionais e internacionais.
CECÍLIA LOSCHIAVO – Professora Titular de Design da Universidade de São
Paulo e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Graduação (1976), Licenciatura
(1977), Mestre (1985) e Doutora (1993) em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Obteve o título de livre-docente pela
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (2003). Orientadora em dois programas
de pós-graduação da Universidade de São Paulo: na FAU - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo e no PROCAM - Programa de Ciência Ambiental, do qual é presidente (2012-
2014). Presidente da Comissão de Pós-Graduação do Instituto de Energia e Ambiente/
USP (2012-2014). Presidente da Comissão de Cultura e Extensão - CCEx do IEE - USP
(2011-2012). Pós-Doutorado: University of California, Los Angeles, School of Public Policy
and Social Research (1995-1997); Nihon University, Tóquio (1999); Centre Canadien d
Architecture, Montreal (2001), University of California, School of Public Affairs, Los
Angeles (2007-2008). Pesquisadora visitante Waseda University, Tóquio (2001); Tokyo
Zokey University (2006); Indian Habitat Center, Nova Delhi (2006); Tama Art University
(2008), University of Tokyo (2009); Loughborough University (2012); San Francisco
State University (2012). Membro do Comitê de Ética em Pesquisa da FSPUSP (2007-
2013). Membro do Laboratório de Sustentabilidade em TIC da Escola Politécnica da USP.
Membro do Conselho Editorial: Estudos em Design, Design em Foco, Design Philosophy
Papers. Exerce atividades de coordenação e assessoria científica nas principais agências de
fomento brasileiras, destacando-se seu papel como membro do Comitê de Assessoramento
do CNPq e CAPES para a área de Design. Tem experiência na área de Design, com ênfase
nos seguintes temas: design, design para a sustentabilidade, design brasileiro, design social,
exclusão sócio espacial, moradores de rua, catadores de recicláveis. www.closchiavo.pro.br
DANIELA DA GAMA E SILVA VOLPE MOREIRA DE MORAES – Possui gra­
duação em Administração Pública pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (2008), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos
(2011) e, atualmente, é doutoranda do mesmo programa na linha de pesquisa de Gestão da
Tecnologia e Inovação. É pesquisadora do Programa AMBIENTRONIC - Produtos Ele-
troeletrônicos Ambientalmente Corretos - no Centro de Tecnologia da Informação Renato
Archer (CTI), dedicando-se a temas relacionados à gestão de resíduos eletroeletrônicos.
Participa de atividades de normalização ambiental para produtos e sistemas elétricos e ele-
trônicos na comissão de estudos CE 03:111 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) e no TC 111 da International Electrotechnical Commission (IEC).
DENISE CROCCE ROMANO ESPINOSA – Professora Associada do Departamento
de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo e professora visitante da Rede Temática em Engenharia de Materiais (REDEMAT).
Possui graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (1995),
mestrado (1988) e doutorado (2002) em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de
São Paulo. Atuou como pesquisadora visitante no Massachusetts Institute of Technology
(MIT) em 2001. É editora da Seção de Metalurgia e Materiais da Revista Escola de Minas
e editora adjunta da Revista Brasileira de Ciências Ambientais. Integrante da Comissão
de Avaliação da Área de Engenharias II da Capes (2013). Atua principalmente na área de
Engenharia Metalúrgica e de Materiais com ênfase em: Metalurgia Extrativa, Reciclagem
e Tratamento de Resíduos.
DENNIS BRANDÃO – Possui graduação em Engenharia Mecânica (1998), mestrado
em Engenharia Mecânica (2000) e doutorado em Engenharia Mecânica (2005) pela Univer-
sidade de São Paulo. Atualmente é professor doutor no Departamento de Engenharia Elétrica
da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Tem experiência na
área Automação Industrial e atua nos seguintes temas: redes de campo, integração indus-
trial, monitoramento e controle de processos.
JOÃO MÚCIO AMADO MENDES – Mestrando em Direito Civil pela Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP). Bacharel em Direito pela USP (2010), com
graduação-sanduíche na Faculdade de Direito da Ludwig-Maximilians-Universität Mün-
chen (2007-2008). Foi bolsista do Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD) e da
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP. Atualmente, realiza estágio supervisionado em
docência em Direito Civil na USP, com bolsa do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino
(PAE). É pesquisador do Grupo de Estudos Aplicados ao Meio Ambiente (GEAMA/USP),
do Centro Multidisciplinar de Estudos em Resíduos Sólidos (CeRSOL/USP), do Centro de
Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de São Paulo (CEPED/USP) e da Escola
de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (DIREITO GV). Realiza pesquisa em
Direito Civil Ambiental, com ênfase em: responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos; resíduos de equipamentos eletroeletrônicos; logística reversa; prevenção de
resíduos; tutela do consumidor e do meio ambiente; design sustentável do produto; res-
ponsabilidade civil por danos ambientais; áreas contaminadas; e prevenção de desastres.
Membro da International Solid Waste Association (ISWA) e associado benemérito do Ins-
tituto Sustentabilidade e Saúde. Professor convidado, consultor ambiental e advogado em
São Paulo.
JORGE ALBERTO SOARES TENÓRIO – Professor Titular da Universidade de São Pau-
lo (2005). Engenheiro Metalurgista (1984). Mestrado e Doutorado em Engenharia Metalúrgica
(1988-1992) pela Universidade de São Paulo. Professor Livre-Docente pela Escola Politécnica
(1996). Sabatino no Department of Materials Science and Engineering do Massachusetts Ins-
titute of Technology (2001). Atua nas áreas de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com
ênfase em Reciclagem, Tratamento de Resíduos Sólidos e Metalurgia Extrativa. Presidente do
ICTR - Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável (2008-
2011). Professor e orientador convidado do programa de Ciência e Engenharia de Materiais da
REDEMAT UFOP desde 2000. Professor e orientador convidado do Programa de Mestrado
em Engenharia Metalúrgica do Instituto Federal do Espírito Santo PROPEM IFES desde 2009.
Editor da Revista Brasileira de Ciências Ambientais do ICTR (qualis B2) e da Seção Metalurgia
e Materiais da Revista Escola de Minas (qualis B1) e da Revista Tecnologia em Metalurgia e
Materiais da ABM (qualis B2). Integrante do Comitê de Assessoramento do CNPq de Enge-
nharia de Minas e de Metalurgia e Materiais (CA-MM) desde 2010. Integrante da Comissão
de Avaliação da Área de Engenharias II da CAPES (2004-2009). Intercâmbios Internacionais
com a Northeastern University (2000) e com o MIT (2001-2002). Coordenador de projetos em
Rede Nacionais PROCAD (2000-2004), Pro-Engenharias (2008-2013) e Rede Nanobiotech
(2008-2013). Chefe do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola
Politécnica desde 2010. Coordenador do CERSOL (Centro Multidisciplinar de Estudos em
Resíduos Sólidos da USP).
LUCIANA LUCENA – Possui graduação em Engenharia Civil (1996) e mestrado em
Engenharia Civil (1999) pela Universidade Federal da Paraíba, e doutorado em Economia
pela Universidade Federal de Pernambuco (2004). Atualmente é Professora Adjunta na
Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN e Professora Colabora na Pós-Graduação em
Engenharia Civil na UFRN. Tem experiência nas áreas de Engenharia e Economia, com
ênfase em Planejamento de Transportes, Materiais Alternativos e Economia dos Recursos
Naturais, atuando principalmente nos seguintes temas: gestão de resíduos sólidos, meio
ambiente, economia e materiais alternativos.
MARCIA REGINA EWALD – Possui mais de 25 anos de experiência industrial,
atuando nas áreas de engenharia de produtos, engenharia de processos e produção de placas
de circuito impresso. Desde 2005 vem se dedicando às atividades de consultoria nas áreas de
sistemas de gestão da qualidade e participa, desde 2006, de projetos do Centro de Tecnologia
da Informação Renato Archer para qualificação de componentes eletroeletrônicos (SAC
PCI) e para produtos eletroeletrônicos ambientalmente corretos (Ambientronic), sendo res-
ponsável técnica para implantação de Sistemas de Gestão de Substâncias Perigosas. Atua
desde 2006 nas atividades de normalização nacional e internacional sendo coordenadora
da comissão de estudos CE 03:091 (montagens eletrônicas), secretária da CE 03:111
(Normalização ambiental para produtos e sistemas elétricos e eletrônicos) e delegada em
comitês técnicos do IEC. Técnica química e administradora de empresas.
MARIANA MARENKO FERRON – Possui graduação em Medicina pela Universi-
dade de São Paulo (2002), residência em Medicina de Família e Comunidade pelo Grupo
Hospitalar Conceição e Mestrado em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo
(2010). Cursando Doutorado em Medicina Preventiva na Universidade de São Paulo.
Atualmente trabalha como Diretora do Departamento de Atenção a Saúde da Secretaria Es-
pecial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde. Tem experiência na área de Medicina, com
ênfase em Medicina de Família e Comunidade e Saúde Indígena, atuando principalmente nos
seguintes temas: atenção primária, medicina de família, saúde ambiental e saúde Indígena.
NELSON GOUVEIA – Graduado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo
(1986), tem Mestrado em Epidemiologia (MSc) (1993) e Doutorado em Saúde Pública
(PhD) (1998), ambos pela London School of Hygiene and Tropical Medicine - University
of London. Atualmente é Professor Associado do Departamento de Medicina Preventiva
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo Temático de
Saúde e Ambiente da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), e tem atuado em
diversos comitês técnico-assessores do Ministério da Saúde. Tem experiência na área de
Epidemiologia e Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde Ambiental, atuando principalmente
nos seguintes temas: poluição do ar, poluição eletromagnética, contaminação química,
poluição das águas e sistemas de informação geográfica.
NEUCI BICOV FRADE – Graduação em Licenciatura Matemática no IME - Ins-
tituto de Matemática e Estatística da USP (1992). Especialização Lato Sensu em Gestão
Ambiental do Espaço Urbano (2007). Responsável técnica pelo Centro de Descarte e Reúso
de Resíduos de Informática (CEDIR/USP), atuando como gestora ambiental na gestão de
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos da Universidade de São Paulo desde 2009.
PATRÍCIA FAGA IGLECIAS LEMOS – Professora Associada da Faculdade de
Direito da Universidade de São Paulo (USP). Livre-docente (2011), doutora (2007) e mestre
(2002) em Direito pela USP, com graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (1991). Orientadora nos Programas de Pós-Graduação em Direito (FD/USP) e
em Ciência Ambiental (PROCAM/USP). Pesquisadora líder do Grupo de Estudos Aplicados
ao Meio Ambiente (GEAMA/USP), do Centro Multidisciplinar de Estudos em Resíduos
Sólidos (CeRSOL/USP) e do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres no Estado de
São Paulo (CEPED/USP). Realiza pesquisa em Direito Civil Ambiental, com ênfase em:
responsabilidade civil pós-consumo; resíduos sólidos; logística reversa; responsabilidade
compartilhada; consumo sustentável; design sustentável do produto; áreas contaminadas;
responsabilidade civil por danos ao meio ambiente; nexo de causalidade; compensação
ambiental; e prevenção de desastres. Conferencista no Brasil e no exterior, possui diversas
obras publicadas, com destaque para o livro “Resíduos sólidos e responsabilidade civil
pós-consumo”, pela Editora Revista dos Tribunais. Vice-presidente da região Sudeste
do Instituto O Direito por um Planeta Verde. Coordenadora, para o Estado de São Paulo,
da Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil (APRODAB). Membro da
European Environmental Law Association (EELA) e do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (CONSEMA). Advogada e consultora ambiental em São Paulo.
PATRÍCIA GUARNIERI – Professora adjunta na Universidade de Brasilia (UnB).
Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
(2012). Mestre em Engenharia da Produção, com ênfase em Gestão Industrial, pela Univer-
sidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) (2006). Especialista em Gestão Empresarial
pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Cascavel e Instituto Brasileiro de Pes-
quisas Sócio-Econômicas (2002) e Especialista em Docência no Ensino Superior pela União
Pan-americana de Ensino (2005). Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Es-
tadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) (2000). Tem experiência em Gestão de Empresas,
atuando principalmente nas seguintes áreas: Logística de Suprimentos e Logística Reversa,
Gestão de parcerias e relacionamentos colaborativos no SCM, Contabilidade Ambiental,
Análise Financeira de Empresas e Análise de decisões. É autora do livro Logística Reversa:
em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Possui artigos publicados em eventos e
periódicos nacionais e internacionais, capítulos em livros nacionais e internacionais. Referee
dos periódicos: Journal of Industrial Engineering and Management; International Journal
of Sustainable Engineering e Independent Journal of Management & Production, além de
eventos nacionais e internacionais.
PATRICIA SILVERIO FERNANDES – Coordenadora de Logística Reversa na em-
presa Telefônica Transporte e Logística LTDA com mais de 13 anos de experiência na área
de Logística com foco em eletroeletrônicos. Os três últimos anos dedicados totalmente à
área de reversa contribuindo para implantação da Central de Logística Reversa cujo projeto
ganhou o premio Inovador na FGV em 2010. Tecnóloga em Logística pela Universidade
Nove de Julho e cursando atualmente MBA em Logística e Cadeia de Suprimentos na FMU.
RÚBIA KUNO – Possui graduação em Farmácia e Bioquímica, mestrado em Saúde
Pública na área de Epidemiologia e Doutorado em Ciências na área de Medicina Preventiva,
todos pela USP. Atualmente é gerente da Divisão de Toxicologia e Genotoxicidade da
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – Cetesb, onde trabalha desde 1982. Tem
experiência na área de Toxicologia Humana e Saúde Ambiental, atuando principalmente
nos seguintes temas: contaminação ambiental, chumbo, biomonitoramento, toxicologia e
qualidade ambiental.
SONIA SENGER – Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal
de Viçosa (1988), mestrado em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de
Campina Grande (1993) e doutorado em Interunidades em Energia pela Universidade de São
Paulo (2002). Tem atuado na área interdisciplinar de Energia, com ênfase no estudo da
organização da produção e distribuição da energia na Sociedade.
SYLMARA DIAS – Professora Doutora da Escola de Artes Ciência e Humanida-
des, Universidade São Paulo. Orientadora do Programa de Ciências Ambientais (PRO-
CAM-USP). Doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas - SP.
Doutora em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo. Mestre em Administração
pela Universidade de São Paulo. Graduada em Administração pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais e em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Minas Gerais.
Pesquisadora visitante Loughborough University (2012), San Diego University (2013), Se-
cretária Executiva da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ambiente
e Socidedade ANPPAS (2012-2014). Membro da Rede de Pesquisadores em Gestão Social
(RGS). Membro do Laboratório de Sustentabilidade em TIC da Escola Politécnica da
USP; Vice-coordenadora do Centro de Inovação em Tecnologia Social SocialTec (LAS-
SU-PCS-EPUSP). Membro do Conselho Editorial: Cadernos EBAPE, Cadernos de Gestão
Social, Nau Social, Revista Eletrônica Economia e Gestão. Exerce atividades de asses-
soria científica para principais agências de fomento brasileiras: CNPq, CAPES, FAPESP
(áreas Administração e Interdisciplinar). Avaliadora de artigos científicos para periódicos
e congressos nacionais e internacionais. Tem experiência na área de Administração, com
ênfase nos seguintes temas: sustentabilidade, gestão socioambiental, produção-consumo e
meio ambiente, sustentabilidade em cadeia de suprimentos, ciclo de vida de embalagem,
logística reversa, resíduos sólidos, catadores, negócios sociais, planejamento estratégico,
organizações e sociedade.
VIRGÍNIA PRAGANA – Possui graduação em Gestão Ambiental pela Universidade
de São Paulo (USP). Realizou iniciação científica e trabalho de conclusão de curso sobre
a gestão de resíduos eletroeletrônicos em cooperativas no município de São Paulo. Tem
experiência no gerenciamento de resíduos industriais. Atualmente trabalha com auditoria
de responsabilidade socioambiental em cadeias produtivas.
VIVIANE TAVARES DE MORAES – Possui graduação em Tecnologia Ambiental e
em Engenharia Ambiental, e mestrado, doutorado e pós-doutorado em Engenharia Metalúr-
gica pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente faz pós-doutorado em Engenharia
Metalúrgica pela USP. Tem experiência na área de Química, atuando principalmente nos
seguintes temas: resíduos eletroeletrônicos, reciclagem, hidrometalurgia.
Prefácio

O acelerado crescimento populacional, acompanhado dos avanços tecnológicos, produ-


ziu o intenso consumo do chamado capital natural acompanhado de um aumento na geração
de resíduos, estabelecendo um cenário crescente de promoção da gestão de resíduos que se
gerenciados adequadamente levam à degradação ambiental.
Após duas décadas de um esforço que envolveu amplo debate entre os setores da
sociedade brasileira, o governo promulgou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei
12.305 de 02 de agosto de 2010). Esse instrumento legal resultou num importante avanço
que permitiu ao Estado brasileiro dar prosseguimento a uma estratégia concreta tratamento
das questões ambientais agora incluindo os resíduos sólidos em toda a sua diversidade e
problemas sociais acarretados.
Considerada um dos instrumentos mais desafiadores trazidos pela Política Nacional
de Resíduos Sólidos, a logística reversa representa um desafio para sociedade e governo
brasileiros que se propõem a implantar tal ferramenta para viabilizar a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, promovendo a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial para o reaproveitamento em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final e sua ambientalmente adequada.
A logística reversa é responsável também por incluir o consumidor neste processo,
trazendo a sociedade para atuar a partir de suas residências na promoção da qualidade
ambiental e contribuindo para uma responsabilidade mais efetiva sobre os nossos recursos
naturais.
Ao assumir esse desafio, o Brasil deverá considerar questões ambientais, tecnológicas,
sociais e econômicas e aceitar o compromisso de gerir os resíduos sólidos com o envolvi-
mento dos setores públicos, iniciativa privada e segmentos organizados da sociedade civil.

Zilda Maria Faria Veloso


Diretora de Ambiente Urbano
Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Urbano
Ministério do Meio Ambiente
Capítulo 1
Introdução à Gestão
de Resíduos
de Equipamentos
Eletroeletrônicos
Lúcia Helena Xavier, Tereza Cristina Melo de Brito Carvalho

RESUMO

Os resíduos tecnológicos representam, por um lado, um considerável passivo ambiental


ainda ignorado por grande parte dos fabricantes no Brasil e, por outro lado, um nicho de
mercado que demanda conhecimento e tecnologia para a efetiva gestão ambiental. Os
mecanismos regulatórios nacionais e internacionais têm papel de grande relevância na mo-
bilização dos atores envolvidos na gestão da cadeia reversa dos resíduos eletroeletrônicos.
O Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento a consolidar um conjunto de
regulamentações acerca da gestão de resíduos e, mais especificamente, legislar a respeito
da gestão de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, especificando a responsabilidade
compartilhada como modo de gestão. Por isso, alternativas de gerenciamento têm des-
pontado a partir dessa regulamentação. Este capítulo discute brevemente a motivação para
a gestão dos eletroeletrônicos, bem como apresenta as principais ferramentas utilizadas
por gestores e recicladores.

1.1 Introdução

A questão ambiental tem gradativamente encontrado espaço na administração de organi-


zações do setor privado e público, seja pela necessidade de adequação aos requisitos legais,
seja pela necessidade de alcançar ou manter patamares de sustentabilidade que garantam 1
2  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

parcela competitiva do mercado. Na implementação da gestão ambiental, as empresas são


responsáveis não apenas pela administração de suas atividades, como também pela tomada
de decisões que impactam diretamente o projeto, a fabricação de seus produtos, bem como
a destinação de resíduos na etapa pós-consumo e a reinserção de materiais e produtos
em cadeias produtivas que suportem materiais reciclados e/ou recicláveis (GONZALEZ-
TORRE et al, 2004).
O gerenciamento de resíduos, enquanto parte da gestão ambiental, ocorre de forma
diferenciada em cada país ou região. Isso em função, principalmente, da percepção e
avaliação de impacto, da conscientização ou da legislação vigente em cada território.
Deve-se considerar na avaliação de impacto alguns aspectos específicos, como: a escassez
de recursos naturais e a restrição de espaços para a disposição de resíduos, além da pos-
sibilidade de recuperação energética a partir dos resíduos. As diferentes interpretações
de sustentabilidade são refletidas no tipo de abordagem e tratamento dado às questões
referentes à gestão de resíduos. Os países em desenvolvimento, por exemplo, tendem a
focar em ações corretivas, enquanto os países desenvolvidos possuem, em sua maioria,
políticas preventivas abrangentes.
Em uma breve análise cronológica da evolução da gestão ambiental, pode-se observar
que a administração de resíduos avançou de um comportamento prioritariamente de con-
trole da poluição e dos seus impactos (até antes da década de 1980), para uma postura de
prevenção (década de 1990), e posteriormente para a condição de monitoramento integrado
e prevenção (a partir das décadas de 1990 e 2000), conforme proposto por vários autores
(WILSON, 1985); (KREITH, 1992); (MORRISSEY, 2004).
O potencial de impacto de cada categoria de resíduo tende a ser um dos principais
fatores a serem observados para a definição das ações preventivas e corretivas a serem
adotadas. Em relação à gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE),
os danos resultantes da exposição de metais pesados e outros compostos tóxicos consistem
nos principais indicadores a serem considerados no manejo dessa categoria de resíduo.
Com base nesse entendimento, a primeira referência mundial sobre a destinação desse
tipo de resíduos foi a proposição da Convenção da Basileia,1 que estabelece limites para a
movimentação transfronteiriça de produtos perigosos, bem como apresenta restrições
a respeito da destinação de diferentes categorias de resíduos. Os REEE são contemplados a
partir do Anexo VIII da Convenção da Basileia que especifica resíduos metálicos.
São considerados Equipamentos Eletroeletrônicos (EEE), aqueles que dependem
de corrente elétrica ou campo eletromagnético para funcionar, bem como aqueles
que geram, transferem ou medem correntes e campos magnéticos. E os Resíduos de
Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) são aqueles produtos, partes ou componentes
de EEE pós-consumo. As substâncias presentes ou resultantes do uso de equipamentos

1
A Convenção da Basileia foi proposta em 1989 para adesão por parte dos signatários, mas só foi amplamente
reconhecida a partir de maio de 1992. Em março de 2011 havia 175 países que se declararam signatários.
http://www.basel.int/Portals/4/Basel%20Convention/docs/text/BaselConventionText-e.pdf
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   3

eletroeletrônicos e consideradas de maior impacto à saúde humana e ao meio ambiente


são os metais pesados, gases de efeito estufa (como os CFC - CloroFluorCarbonetos),
as substâncias halogenadas, bifenilas policloradas, bromatos e o arsênio (RODRI-
GUES, 2007), além dos retardantes de chama PPBs (Bifenilas Polibromadas) e PBDE
(Éteres Difenílicos PoliBromados).
A Comunidade Europeia estabeleceu duas diretivas especificas sobre a gestão de REEE:
a WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) e a RoHS (Restriction of Certain
Hazardous Substances). Tais diretivas consistem em recomendações consensuais entre
os países-membros, que servem como orientação para a regulamentação in loco, podendo
adaptá-las de forma a conferir aderência às metas e arcabouço legal específicos de seu
país. A partir dessas diretivas foram estabelecidos prazos para a adaptação das leis, com o
propósito de alinhamento entre os países-membros, em prol de mecanismos operacionais
e de mercado comuns a eles.
A Diretiva da Comunidade Europeia sobre REEE (2002/96/EC) foi precedida pela
Directiva RoHS (2002/95/EC), que restringe o uso de substâncias tóxicas, dentre as quais
estão incluídas as substâncias presentes nos REEE. Dentre as substâncias mencionadas na
diretiva como de caráter perigoso, estão: cádmio (Cd), chumbo (PB), cromo hexavalente
(Cr(VI)), mercúrio (Hg), bifenilas polibromadas (PBB) e éteres difenil-polibromados
(PBDE).
Por meio da Diretiva n° 65 de 2011 (2011/65/EU) (EU, 2011), que atualiza a Diretiva
sobre REEE (Directive 2002/96/EC), a Comunidade Europeia sugere que os equipamentos
eletroeletrônicos sejam classificados em 11 categorias. Essa distribuição tende a facilitar a
discriminação do potencial de risco de cada classe de produto em função de especificidades,
como: vida útil, composição por tipo de materiais, porte do equipamento, entre outros
requisitos para a categorização. Em 2012 também foi revisada a Diretiva n° 96 de 2002 e
uma nova versão foi publicada (2012/19/EU) (Tabela 1.1).
A Diretiva n° 65 de 2011 (EU, 2011), diferente da anterior, ainda especifica uma última
categoria genérica, na qual seriam considerados todos os equipamentos que não foram
considerados nas demais categorias.
Paralelamente à Convenção da Basileia e às Diretivas Europeias, a organização não
governamental EPEAT2 – (Ferramenta para Avaliação Ambiental de Equipamentos Ele-
troeletrônicos –, uma iniciativa americana para a proteção ambiental, propôs a avaliação de
produtos eletroeletrônicos em função de um conjunto de critérios de desempenho ambiental.
De acordo com o resultado da avaliação, o produto é categorizado em um dos perfis pré-
definidos. O perfil bronze é atribuído aos produtos que atingem todos os critérios básicos
necessários, o perfil prata equivale aos produtos que atingem todos os critérios básicos e,
pelo menos, 50% dos critérios opcionais. Enquanto os produtos qualificados como ouro
são aqueles que, além de atingirem os critérios básicos, ainda alcançam, pelo menos, 75%
dos critérios opcionais.

2
EPEAT – Electronic Product Environmental Assessment Tool. www.epeat.net
4  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

TABELA 1.1  Categoria dos REEE segundo a Diretiva n° 19 de 2012 da Comunidade


Europeia.
Categoria Exemplo de equipamentos
1. Eletrodomésticos Refrigeradores, freezers, fogões, máquinas de lavar e de secar roupas,
de grande porte micro-ondas, máquinas de lavar louças, equipamento de ar condicionado.
2. Eletrodomésticos Aspirador de pó, ferro de passar roupa, torradeiras, fritadeiras, facas
de pequeno porte elétricas, relógios de parede e de pulso, secador de cabelo.
3. Equipamentos de TI Mainframes, impressoras, minicomputadores, computadores pessoais,
e Comunicação laptop, calculadoras, aparelho de fax, netbooks, celular, telefone, tablet.
4. Equipamentos Aparatos para rádio e TV, câmera de vídeo, gravadores hi-fi,
de consumo e painéis amplificadores de áudio, instrumentos musicais, painéis fotovoltaicos.
fotovoltaicos
5. Equipamento Luminárias para lâmpadas fluorescentes (exceto luminárias domésticas),
de iluminação lâmpadas fluorescentes, lâmpadas fluorescentes compactas, lâmpadas de
vapor de sódio, lâmpada de halogêneo.
6. Ferramentas Serras, esmeril, furadeiras, máquinas de corte, parafusadeiras, ferramentas
eletroeletrônicas de atividades de jardinagem, máquinas de solda.
7. Equipamentos de lazer, Trens e carros elétricos, vídeo game, console de videogame, computadores
esporte e brinquedos para ciclismo, corrida, e outros esportes, equipamentos de esporte.
8. Equipamentos médicos Equipamentos de radioterapia, cardiologia, diálise, medicina nuclear,
análise de laboratório, freezeres.
9. Instrumentos de Detector de fumaça, regulador de aquecimento ou resfriamento, termostatos,
monitoramento e controle equipamentos de monitoramento para uso doméstico ou industrial.
10. Caixas de Dispenseres (caixas de autoatendimento) de bebida, produtos sólidos,
autoatendimento dinheiro, entre outros.
11. Outros Outras categorias não consideradas anteriormente.

Os critérios adotados pela EPEAT:


j Redução e/ou eliminação de materiais tóxicos ao meio ambiente
j Seleção de materiais
j Projeto para o final da vida útil

j Extensão da vida útil do produto

j Conservação de energia

j Gestão do fim de vida útil (pós-consumo)

j Desempenho corporativo

j Embalagens

Ao todo, segundo a metodologia EPEAT, são 51 critérios para as categorias mencionadas


acima, sendo esses identificados como necessários ou opcionais para fins de avaliação e
certificação do produto. A proposta da EPEAT consiste em uma abordagem interessante,
que possibilita a identificação do nível de comprometimento do produto com os principais
critérios de sustentabilidade ambiental ao longo da cadeia produtiva.
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   5

1.2  Ciclo de vida dos equipamentos tecnológicos

Recentes avanços tecnológicos proporcionaram o crescimento econômico e a melhoria


de vida das pessoas de diversas maneiras. Entretanto, a dependência crescente por produtos
eletrônicos gerou um novo desafio ambiental: os resíduos e rejeitos gerados a partir de Equi-
pamentos Eletroeletrônicos (EEE) pós-consumo. O ciclo de vida desse tipo de equipamento
está cada vez mais curto, dada a rápida evolução tecnológica das últimas décadas, o que
acaba por acelerar o processo de obsolescência desses equipamentos. Com isso, o uso, o
tratamento e a destinação dos Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) tornam-se
uma preocupação mundial. Metas de longo prazo, estabelecidas anteriormente para a gestão
de resíduos domésticos, parecem não ser suficientes para a gestão de resíduos tecnológicos,
em função do seu aumento em quantidade e variedade, bem como da pouca disseminação de
técnicas de tratamento desses resíduos eficientes e de custo aceitável para a maioria dos países.
A inovação tecnológica tem propiciado o crescimento econômico e a melhoria de vida
das pessoas. Tal perspectiva pode ser observada no contínuo desenvolvimento de equipa-
mentos e estruturas que facilitam as atividades diárias. Por outro lado, porém, a dependência
crescente de produtos eletrônicos gerou um novo desafio ambiental: o lixo gerado pelo
aumento exponencial do consumo de equipamentos eletroeletrônicos (EEE). O ciclo de
vida desse tipo de equipamento está cada vez mais curto, dada a evolução tecnológica e
consequente aprimoramento dos aparatos.
Metas de longo prazo, estabelecidas anteriormente para a gestão de resíduos domésticos
parecem não ser suficientes para a gestão de resíduos tecnológicos, em função do aumento
em quantidade e variedade, bem como pouca disseminação de técnicas de tratamento
eficientes e de custo aceitável para a maioria dos países.
Outra questão relevante, que remete a Convenção da Basileia, é o fluxo de REEE dos
países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, muitas vezes de forma clandes-
tina, ou até mesmo realizado por meio de ações de cunho pseudo-humanitário. Uma questão
ainda por ser amplamente debatida por tomadores de decisão.
Os equipamentos eletroeletrônicos, apesar de amplamente comercializados e consumidos
em todo o mundo, tendem a ser recondicionados e reutilizados nos países em desenvolvi-
mento, inclusive na fase considerada pós-consumo. Esta opção de consumo é conhecida
como consumo em cascata, na qual o equipamento que tem seu uso descontinuado (seja
em função da apresentação de falhas ou da simples substituição por um equipamento mais
moderno) é recondicionado e reutilizado.
De acordo com Griese et al (2004), a opção pelo uso em cascata está melhor estabe-
lecido em países em desenvolvimento, onde também há larga experiência no reparo de
equipamentos antigos e a mão de obra tem valor relativamente mais baixo do que nos países
desenvolvidos. A partir dessa premissa, os autores entendem que há uma maior eficiência
no uso de equipamentos eletroeletrônicos nos países em desenvolvimento.
Desta forma, o ciclo de vida de EEE pode variar de acordo com o país, a situação
econômica, as opções tecnológicas, entre outros critérios. Por isso, optamos por trabalhar
com um modelo genérico.
6  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Conforme apresentado na Figura 1.1, no modelo conceitual de ciclo de vida da UNEP


(UNEP, 2007) as fases se sucedem em um ciclo fechado, em que os materiais residuais
são preferencialmente destinados para outros ciclos produtivos, sob a forma de produtos
recondicionados ou materiais, enquanto os rejeitos seguem para aterros.

Figura 1.1  Ciclo de vida conceitual de EEE. Fonte: UNEP, 2007.

O processo de destinação ambientalmente adequado dos resíduos depende do aten-


dimento de uma série de critérios para se aproximar do modelo conceitual, o que seria
considerado ideal. O modelo pressupõe o fechamento do ciclo com o retorno de materiais
ao segmento produtivo e a minimização da disposição em aterros.
Dentre os critérios a serem atendidos, pode-se destacar as tecnologias e equipamentos
para tratamento dos materiais, o interesse econômico despertado por esses resíduos para
transforma-los em matéria-prima a fim de reinseri-los no mercado e a disposição do consu-
midor em encaminhar esse material no pós-consumo para uma destinação ambientalmente
correta. De acordo com o modelo proposto (UNEP, 2007), as etapas preliminares de pro-
dução e venda já devem considerar as etapas subsequentes, como forma de favorecer a
desmontagem, a separação dos materiais e o retorno à cadeia produtiva.
A proposta da EPEAT e as diretivas WEEE e RoHS incentivam a eliminação do
uso de metais pesados, como o chumbo, por exemplo, reduzindo o impacto ao longo da
cadeia e, consequentemente, reduzindo os custos das etapas de tratamento pós-consumo
e destinação, tais como o transporte e a desmontagem, facilitando as demais etapas
do processo, como a reciclagem final, possibilitando o retorno desses materiais como
matéria-prima de novos produtos. O investimento em design sustentável também é
outro aspecto de grande relevância na produção, pois se esse equipamento for pensado
de forma a facilitar sua “desmanufatura” e reaproveitamento de partes ou dos materiais
de sua composição, isso facilitará todo o processo, gerando menos rejeitos e aumentando
a taxa de reciclagem.
A venda dos equipamentos é a etapa do ciclo na qual o consumidor exerce o papel
mais importante, pois é ele que regula o mercado, comprando equipamentos procedentes
de empresas sustentáveis que tenham respeito pelo consumidor, que atestem a qualidade
e confiabilidade de seus produtos e que também se mostrem preocupados com o seu
descarte.
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   7

A gestão de resíduos tem início quando o consumidor já não tem suas expectativas atendidas
com o produto adquirido e, por isso, resolve descartá-lo. Segundo o relatório STEP 20113
(Solving The E-waste Problem), a reutilização deve ser priorizada como meio de diminuir
impactos ambientais dos equipamentos eletroeletrônicos. O reúso é uma resposta à tendência do
encurtamento do tempo de vida útil dos produtos, por meio da manutenção das funcionalidades
a partir de ações como: reparo, recondicionamento ou remanufatura. Apenas quando o produto
é considerado obsoleto e não mais apresenta condições de reúso, passam-se a considerar, então,
as etapas seguintes de destinação ou, em casos específicos, de disposição final.
O investimento em tecnologias e aquisição de equipamentos que possam separar e
favorecer a reciclagem também são de significativa importância nessa etapa do ciclo,
pois é importante ter como tratar e recuperar a maior parte dos materiais empregados na
sua fabricação, evitando extrair mais materiais das reservas naturais, o que causa grande
impacto ao meio ambiente.
Atualmente, o custo de extração ainda favorece que esses materiais sejam retirados
da natureza e sua reciclagem seja menos importante para a indústria brasileira. Apesar de
o Brasil ter muitas fontes de recursos minerais, grande parte dos componentes eletroele-
trônicos ainda é fruto de importação (ABINEE, 2012). As indústrias de computadores que
atuam no país no segmento de Tecnologia, Informação e Comunicação (TIC), produzindo
computadores, celulares e outros, atuam na grande maioria dos casos na montagem desses
equipamentos a partir de peças e partes adquiridas de outros países.
Em poucas palavras, na cadeia produtiva dos TICs, os recursos minerais são exportados e
os produtos com alto potencial tecnológico são importados, em sua grande maioria de países
asiáticos, para montagem no Brasil. A situação repete-se em outros países latino-americanos.
Retomando a questão da extração mineral, apesar do seu processamento ser restrito e
limitado no país na área de TIC, essa etapa implica em significativo impacto ao ambiente e à
saúde humana. Por esse motivo, a mecanização aliada a mecanismos de reparo de impactos
são priorizadas por grandes empresas mineradoras. A questão pode ser exemplificada a
partir da mineração do ferro. Segundo relatório do MME (Ministério de Minas e Energia):
“Via de regra, a mineração de ferro constitui-se de extração a céu aberto com
bancada sendo o minério transportado por caminhões fora de estrada para benefi-
ciamento a seco ou úmido, com britagem, moagem, peneiramento, filtragem e clas-
sificação e homogeneização, e em alguns casos concentração. Os efluentes, sólidos
e líquidos, são depositados em barragens normalmente com controle da vazão de
efluentes e água no vertedouro. Para esses procedimentos o uso de energia elétrica
é o utilizado como força motriz das usinas de beneficiamento. No tratamento do
minério hematítico, os produtos são obtidos, após uma simples sucessão de etapas
de britagem e classificação. O aproveitamento dos minérios itabiríticos de mais
baixo teores obriga as empresas a investirem em circuitos de concentração.”
3
STEP, 2011. http://www.step-initiative.org/tl_files/step/_documents/StEP%20Annual%20Report%202011_
lowres.pdf
8  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

É possível identificar na citação vários fatores de risco dessa extração, desde formação
de barragens para os efluentes até mesmo o transporte rodoviário, além dos gastos energé-
ticos ao longo de todo processo.
Segundo o instituto Aço Brasil,4 a produção de aço a partir de sucata reduz o consumo
de matérias-primas não renováveis, economiza energia e evita a necessidade de ocupação de
áreas para o descarte de produtos em obsolescência. A Figura 1.2 apresenta um fluxograma
da inserção do ferro reciclado no processo de fabricação do aço.

Figura 1.2  Fluxograma exemplificando o processo de reciclagem do aço. Fonte: Instituto


Aço Brasil., 2013.

Segundo relatório do Ministério de Minas e Energia (MME, 2009), o refino do ferro-


gusa e do ferro-esponja para transformá-los em aço é feito nas aciarias, processo a partir
do qual ainda resulta em uma parcela considerável de sucata. Existem, basicamente, dois
procedimentos para a produção do aço: o primeiro, nas usinas siderúrgicas integradas,
cuja matéria-prima é o minério de ferro e o segundo, nas usinas semi-integradas, que tem
como matéria-prima a sucata ferrosa ou o gusa produzido por terceiros (gusa de mercado).
Dessa forma, na produção de aço a sucata é um insumo que reflete nas quantidades
procuradas de minério de ferro. Mundialmente cerca de 40% da produção de aço tem a
sucata como matéria-prima.
No Brasil, este insumo (a sucata) contribuiu com pelo menos 24% da produção anual
de aço. Vemos, portanto, que o reaproveitamento do ferro encontrado em equipamentos
eletroeletrônicos pode ser ainda muito maior, e sua parcela pode ser bem mais significativa,
poupando recursos naturais e também evitando que esse material vá parar em aterros e
lixões. Na Tabela 1.2 e no Gráfico 1.1, vemos que o ferro representa 67% do peso médio de
uma CPU de um microcomputador desktop, ou seja, 5,7 kg por unidade, valor significativo
que é perdido caso esse material seja encaminhado de forma inadequada.

4
http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/sustentabilidade/reciclagem.asp
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   9

TABELA 1.2  Ensaios realizados na área de reciclagem da Itautec.


Materiais Peso (Kg) Percentual (%)
Ferro 5,4 67
Placas eletrônicas 1,2 15
Plástico 0,6 7
Alumínio 0,5 6
Fios e Cabos 0,4 5
Total 8,1 100

Gráfico 1.1  Ensaios realizados na área de reciclagem da Itautec. Fonte: Elaboração própria.

Outra pesquisa evidencia que, na Europa, uma parte significativa dos materiais bus-
cados em sucatas para reaproveitamento é proveniente de móveis, eletrônicos e metais
pós-consumo. Do total de fontes de resíduos reutilizados, 23% são provenientes dos REEE
nos países europeus (Gráfico 1.2).

Gráfico 1.2  Preferência de produtos pós-consumo para reúso ou reciclagem na Europa.


Fonte: TRANSWASTE, 2010.
10  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Os dados apresentados no Gráfico 1.2 evidenciam que os REEE possuem alto valor


agregado, o que reflete nas questões econômicas relacionadas à gestão de resíduos nessa
cadeia produtiva. Cientes do valor dos resíduos resultantes da destinação de equipamentos
eletroeletrônicos, os catadores de materiais recicláveis no Brasil têm buscado esse tipo de
material. Entretanto, os mecanismos de coleta e pré-processamento não apresentam, ainda,
padrões de eficiência que garantam a sustentabilidade econômica a partir da atuação de
catadores. Os próprios consumidores ainda não estão cientes dos impactos resultantes da
destinação inadequada.

1.3  Produção e consumo de REEE

Em relação aos equipamentos de informática, calcula-se que em 2010 foram vendidos


em torno de 347 milhões de computadores no mundo. Desse montante, 145,8 milhões (42%)
eram computadores desktops e 201,2 milhões (58%) notebooks e netbooks (IDC, 2011).
Considerando-se que os equipamentos eletroeletrônicos possuem uma vida útil relativamen-
te curta, os valores apresentados acima reforçam o entendimento a respeito da necessidade
de se implementar políticas públicas que atendam aos padrões de sustentabilidade exigidos
internacionalmente. No entanto, compreender as etapas do ciclo de vida dos EEE também
pode fornecer importantes subsídios para a gestão sustentável dessa categoria de produtos.
O ciclo de vida dos EEE inicia-se com a extração de minérios para a produção dos
equipamentos, que são distribuídos, vendidos, consumidos e, ao chegarem ao final da vida
útil, são destinados, podendo ser reutilizados, reciclados ou dispostos em aterros.
j Extração de recursos (pré-produção)
Fase em que são extraídas as matérias primas e produzidos os insumos que serão
utilizados nos componentes dos EEE. Compreende a aquisição dos recursos, transporte
e transformação dos recursos em materiais ou energia.
j Produção

Manufatura dos componentes e montagem dos equipamentos. É constituída por três


momentos fundamentais: a transformação dos materiais em componentes, a montagem
e o acabamento.
j Distribuição

Três momentos principais caracterizam esta fase: embalagem, armazenagem e transporte.


j Uso

Esta fase corresponde ao uso dos EEE, que demandam energia para o seu funcionamento.
O produto continua em uso até o momento em que seu proprietário decida descartá-lo
definitivamente. Isto pode ocorrer por motivos variados, como o mau funcionamento e
obsolescência tecnológica.
j Destinação

Ao chegar ao final da vida útil, seja por apresentar falhas de funcionamento, seja por
tornar-se obsoleto tecnológica ou energeticamente, o equipamento é descartado pelo
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   11

consumidor. Pode-se considerar como alternativas de descarte: o recondicionamento do


produto ou de seus componentes; triagem, separação e encaminhamento dos materiais
para reciclagem; ou ainda pode-se optar pelo encaminhamento à disposição final dos
rejeitos de REEE em aterros.
j Reutilização

Os REEE e seus componentes podem seguir para a fase de recondicionamento por meio
da manutenção, com a finalidade de recuperação da função do produto para o mesmo
objetivo para o qual foi desenvolvido ou para outros fins. Outras formas de reutilização
são: o recondicionamento dos REEE (recuperação) e a metareciclagem, a qual consiste
na desconstrução do lixo tecnológico para a reconstrução da tecnologia.
j Reciclagem

Nesta fase ocorre o processo de transformação dos resíduos, que envolve a alteração de
suas propriedades físicas ou físico-químicas, com vistas à transformação em insumos
ou novos produtos.
j Disposição final

Os REEE e seus componentes, que não são recuperados ou reciclados através das opções
anteriores, são encaminhados a um local de disposição final (aterros industriais), onde
devem receber tratamento especial, devido à presença de substâncias tóxicas em sua
composição, a fim de evitar efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente.

1.3.1  Sustentabilidade na gestão dos REEE

Os mecanismos de produção e consumo são os principais indicadores de pressão na


cadeia de REEE, pois são essas etapas as principais responsáveis pela geração dos resíduos
em qualquer cadeia produtiva.
A contaminação em larga escala por Césio 137, ocorrida em setembro de 1987 em Goiâ-
nia, é o caso mais emblemático da importância da gestão de resíduos a partir da destinação
de equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo. A partir do manuseio por um catador da
cápsula contendo o elemento radioativo, estima-se que houve a contaminação de 1.600
pessoas, com a morte de 104 indivíduos (CARVALHO, 2012). Nesse caso, caracterizado
como um dos maiores em todo o mundo, o desconhecimento de informações sobre como
gerenciar os resíduos eletroeletrônicos e, principalmente, o potencial de dano que possuem,
foram os aspectos cruciais para a ocorrência do impacto.
Conforme proposto no relatório Estado do Mundo 2010 (WWI, 2010), a Pegada Ecoló-
gica da humanidade superou a biocapacidade global a partir da década de 1980, indicando
um aumento gradativo desse indicador rumo à insustentabilidade do planeta (Gráfico 1.3).
Os indicadores de sustentabilidade relacionados à biocapacidade do planeta incorporam
outro conceito importante, a da resiliência, que consiste na capacidade de absorção e recu-
peração de um determinado sistema a partir da ocorrência de um impacto. É fácil perceber
que, à medida que se ultrapassa o limite da biocapacidade, a resiliência diminui e, dessa
forma, o impacto tende a exigir mais esforços para sua mitigação ou, até mesmo, gerar
12  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Gráfico 1.3  Pegada Ecológica da Humanidade. Fonte: WWI, 2010.

danos irreversíveis. A título de exemplo, a contaminação por radiação ou metais pesados


são aspectos que podem resultar em danos irreversíveis.
A produção da maior parte das categorias de REEE hoje não é planejada de modo a
considerar os critérios de sustentabilidade. Propostas de DfX (Design for eXcellence, onde
X = Produtibilidade, Testabilidade, Viabilidade Econômica) raramente são incluídas no
desenho do produto, com o objetivo de se produzir produtos sustentáveis sob a ótica do
consumo e pós-consumo.
A produção de equipamentos aptos para a desmontagem, por exemplo, constitui um ga-
nho significativo em relação ao tempo de desmontagem, como também em relação à triagem
e classificação dos materiais – esses últimos são de grande relevância no propósito de
agregação de valor à cadeia reversa para recuperação e reciclagem, bem como na geração
de emprego e renda por meio da criação de novos postos de trabalho.
A questão central, no entanto, a ser tratada na análise da produção e do consumo é
a obsolescência dos equipamentos. Teorias a respeito da obsolescência planejada e per-
cebida têm sido comprovadas por meio de práticas empresariais focadas nos argumentos
econômicos. No segmento de equipamentos eletroeletrônicos já experimentamos a realidade
da redução da vida útil do equipamento em função de sua obsolescência tecnológica.
Equipamentos mais novos são mais eficientes em termos técnicos e energéticos. Além
disso, o reparo de falhas, em alguns casos, implica em custo superior à aquisição de um
novo equipamento. Em ambos os casos, a substituição dos equipamentos resulta na geração
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   13

de resíduos. O alto custo da assistência técnica de equipamentos defeituosos representa a


valorização do serviço especializado em detrimento do custo do material.
Esse último aspecto colocado, referente ao custo total do produto, no qual estão embu-
tidos os custos de extração de matéria-prima, processamento, transporte, armazenagem e
comercialização, remete a aspectos econômicos de globalização. Em uma primeira leitura
parece paradoxal o fato de equipamentos com alto potencial tecnológico possuírem um custo
total significativamente inferior ao custo de manutenção, para o qual seriam despendidas
apenas horas de trabalho e reposição de peças.
No entanto, há que se considerar que a assistência técnica requer alto grau de es-
pecialização do profissional, uma vez que esse deve ter conhecimento aprofundado sobre o
funcionamento de equipamentos de diferentes categorias e de diferentes marcas e modelos.
Da mesma forma, o custo de reposição de peças tende a ser mais alto para aqueles equipa-
mentos que foram descontinuados, ou seja, não são mais produzidos.
O caso descrito acima tem como premissa o ponto de equilíbrio entre o quão vantajoso é
prolongar a vida útil por meio da manutenção do equipamento ou substituir um equipamento
por um novo. Este aspecto é uma simplificação de uma das principais questões relacionadas
à gestão do ciclo de vida dos equipamentos eletroeletrônicos através de preceitos de
sustentabilidade.
De acordo com (BOENI, 2009), a América Latina tem aumentado significativamente o
consumo de computadores: entre 2003 e 2005, o mercado digital latino-americano cresceu
em média 14%; este valor é mais que o dobro das taxas de crescimento da Europa e Estados
Unidos (5%) e da Ásia-Pacífico (6%).
O Gráfico 1.4, apresentado a seguir, enfatiza o crescimento do número de computadores
para cinco países da América Latina. O Brasil destaca-se entre os países analisados em
função do crescimento exponencial do número de computadores em uso.

Gráfico 1.4  Número de computadores em uso em alguns países da América Latina (em mi-
lhões de unidades). Fonte: ANDRADE-LIMA, 2012.
14  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

De acordo com a Internacional Telecommunication Union (ITU, 2012), em 2011


existiam em torno de 5,98 bilhões de celulares em uso no mundo, 117,7% a mais do que
em 2006. Deste montante de celulares, 24,4% encontravam-se em países desenvolvidos e
75,6% em países em desenvolvimento, o que pode ser explicado pelo fato da Ásia concen-
trar mais da metade da população mundial e possuir, aproximadamente, 48,5% da base
ativa mundial de celulares.
Em linhas gerais, a produção de equipamentos eletroeletrônicos consiste no principal
indicador de pressão para a elaboração de estratégias para a gestão adequada dos resíduos
gerados, em termos não somente ambientais, mas também econômicos e sociais. Por ou-
tro lado, a inexistência de políticas consolidadas para a efetiva gestão dessa categoria de
resíduos também configura como fator de impacto a ser trabalhado.

1.3.2  Insumos e matéria-prima

Os processos produtivos iniciam-se a partir da obtenção e do processamento de insumos


para a obtenção dos produtos. As indústrias produtoras de componentes de equipamentos
eletroeletrônicos representam um segmento energo-intensivo, ou seja, que demanda pro-
porções significativas de energia para a execução de suas atividades e, por este motivo,
desde etapas iniciais do ciclo de vida este setor produtivo é responsável por impactos
ambientais e econômicos importantes. Nesse sentido, a otimização dos gastos energéticos
na produção de equipamentos eletroeletrônicos já representa um ganho significativo em
termos de metas de sustentabilidade.
Os equipamentos eletroeletrônicos são altamente dependentes da atividade extrativista,
que fornece os minerais essenciais para a produção dos seus componentes eletrônicos, cuja
composição apresenta ouro, prata, cobre, ferro, alumínio, cádmio, níquel, chumbo, lítio,
índio, berílio e tálio, dentre outros. Segundo o United Nations Environment Programme
(UNEP, 2009), estes equipamentos demandam 80% da produção mundial de índio (utili-
zados em telas de LCD), mais de 80% de rutênio (utilizados na produção de Hard Disk) e
50% de antimônio (utilizados como retardantes de chama).
Conforme proposto por QUARIGUASI FROTA NETO et al (2009), computadores e
celulares representam categorias de EEE que chegam a consumir, na etapa de produção,
60% do total do consumo energético ao longo da sua vida útil. Por outro lado, equipamentos
como máquina de lavar, refrigerador e televisores, apresentam maior consumo energético
ao longo de sua fase de uso. Tal característica está fortemente relacionada ao tempo de
vida útil de cada equipamento. Os refrigeradores, por exemplo, por serem equipamentos
de vida útil longa, beneficiam-se de campanhas para a economia de energia ao longo de
sua fase de uso (Gráfico 1.5).
Os critérios considerados no processo de desenvolvimento de um produto são essenciais
para que sejam colocados no mercado produtos mais sustentáveis em termos energéticos e
da gestão de materiais ao fim de sua vida útil. Equipamentos de vida útil curta, por exem-
plo, devem priorizar a redução ou eliminação de substâncias tóxicas em sua composição.
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos   15

Gráfico 1.5  Consumo de energia por eletrodomésticos. Fonte: QUARIGUASI, 2009.

Já os equipamentos de vida longa, por exemplo, podem priorizar a redução do consumo


energético.
Conforme já mencionado anteriormente, a cadeia dos equipamentos eletroeletrônicos
tem início com a aquisição da matéria-prima. No caso dos equipamentos de informática e
telecomunicação, as substâncias provenientes dos metais correspondem a quase 50% do
peso total (EEA, 2003), sendo obtidos, essencialmente, através da mineração. A extração
mineral é uma atividade muito antiga e se intensificou com o advento da revolução indus-
trial. Estima-se que para o ano de 1999 foram extraídas quase 10 bilhões de toneladas de
minerais comercializáveis em todo o mundo, praticamente o dobro do que foi extraído em
1970 (WWI, 2003).
De acordo com o World Watch Institute (WWI, 2010), entre 1950 e 2005 a produção
de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes.
Valores – para além da capacidade suporte do planeta – preocupantes, tanto em relação
ao potencial de uso dos recursos, quanto ao aumento excessivo da consequente geração
de resíduos.

1.4  Considerações finais

As políticas públicas têm enfatizado a importância de se promover a destinação dos


REEE por meio da proposta da gestão cíclica dos produtos e materiais ao final de sua
vida útil. A disposição final, por sua vez, deve ser deixada como última opção para o
16  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

caso de obtenção de rejeitos que não estejam aptos a qualquer modalidade de reinserção
na cadeia produtiva.
Em primeira instância são adotadas medidas de recondicionamento dos equipamentos
com vistas à extensão da vida útil e reinserção na cadeia produtiva sem a necessidade de
substituição deste por um equipamento novo. Não havendo possibilidade de reparo, o
equipamento é submetido às etapas de desmontagem, descaracterização e destinação de
peças, partes e materiais com a finalidade de reutilização ou reciclagem.
O setor produtivo que reincorpora materiais reciclados tem se beneficiado do processo
de reciclagem por motivos econômicos e ambientais. No entanto, nem todos os materiais
mostram-se vantajosos sob o ponto econômico da reciclagem. Há situações nas quais
a prática da reciclagem pode se mostrar menos eficiente economicamente do que a
logística tradicional de produção. Os aspectos logísticos, em linhas gerais, exigem um
planejamento de atividades para a gestão de volumes, das rotas a serem percorridas e
dos tipos de materiais a serem processados. Uma das principais características dos canais
reversos que gerenciam materiais residuais é justamente a necessidade de se gerenciar
diferentes tipos de resíduos, com grande diversidade de fontes geradoras e um número
menor de destinações.
São necessários estudos mais aprofundados a respeito da destinação de materiais
com vistas a aprofundar a análise econômica da cadeia reversa para fomentar tanto o
processo decisório quanto a elaboração de políticas de incentivo à destinação adequada
sob a modalidade de reciclagem. Apesar das políticas públicas ainda apoiarem a atuação
de catadores, no segmento de eletroeletrônicos a atuação desses profissionais ainda é
restrita e pouco difundida em função dos riscos envolvidos na logística reversa desses
materiais.
Percebe-se, por fim, que a consolidação dos instrumentos legais e normativos no Brasil,
bem como dos processos relacionados ao gerenciamento de resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos têm favorecido a organização de novos mercados e segmentos dentro
do conceito de logística reversa. Nesse sentido, a integração de cadeias produtivas da
reciclagem se faz necessária com o propósito de tornar viável e sustentável a destinação
ambientalmente adequada dessa categoria de resíduos.
Nos próximos capítulos serão abordados, de forma mais aprofundada, questões técnicas,
sociais, ambientais, legais e da área de saúde na gestão dos resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos.

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Capítulo 2
A Prevenção e a Análise
do Ciclo de Vida
na Gestão de Resíduos
de Equipamentos
Eletroeletrônicos
Ana Paula Bortoleto

RESUMO

Os equipamentos eletroeletrônicos são parte da rotina de trabalho e de lazer da


maioria da população mundial, trazendo agilidade no dia a dia. Contudo, essas máquinas
passaram a fazer parte da preocupação ambiental pelo crescente volume descartado
diariamente no mundo todo e requerem ações de prevenção condizentes com o avanço
tecnológico que proporcionam. É preciso ir além de construir canais que possibilitem
a transformação dos resíduos de pós-consumo em matéria-prima para novos produtos.
As iniciativas que até agora têm sido tomadas não parecem ter tido o efeito esperado
sobre a quantidade total de resíduos gerados. A avaliação das ações de prevenção é um
dos maiores problemas para as empresas e autoridades. A dificuldade se verifica ao
tentar relacionar a evolução da geração de resíduos e as ações práticas de prevenção.
Considerando esses desafios, esse capítulo vai em direção a compressão de como esses
atores e tomadores de decisão podem implementar políticas de prevenção através da
aplicação da análise do ciclo de vida a fim de diminuir não somente os impactos am-
bientais e sociais dos REEE, mas também seu custo final, tendo em vista os princípios
do desenvolvimento sustentável.

19
20  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

2.1 Introdução

O espaço alcançado pelo debate sobre resíduos de equipamentos eletroeletrônicos


(REEE) se deve, principalmente, a transformação da antiga sociedade industrial em uma
sociedade de informação com o crescente uso de tecnologias de informação e comunicação.
Em consequência, a produção de equipamentos eletroeletrônicos (EEE) é um dos mercados
que mais rapidamente crescem no mundo (CUI e FORSSBERG, 2003). Ao mesmo tempo,
isso também significa uma maior geração de REEE. Segundo a OECD (2011), na maioria
dos países para os quais existem dados disponíveis, a crescente afluência econômica da
população associada às mudanças nos padrões de consumo são responsáveis pelo excesso
contínuo de resíduos sólidos per capita. De acordo com a Comissão Europeia, a geração
de REEE na Europa deve crescer entre 3% a 5% por ano até 2020 (European Union, 2002).
Tal aumento na geração de REEE deve ser visto como um dos mais sérios problemas
ambientais da vida contemporânea. As consequências se refletem tanto direta como in-
diretamente na população e na sobrevivência dos ecossistemas, tendo em vista que os
custos ambientais decorrentes da produção, consumo, manejo e disposição de REEE são
substanciais e crescentes. Em resposta a este cenário, a União Europeia adotou uma política
estratégica de gerenciamento de resíduos sólidos fundamentada em três pilares: prevenção,
reciclagem e disposição final reduzida (European Union, 2002). No caso da reciclagem,
diversos estudos foram realizados, considerando diferentes tipos de embalagens, verifi-
cando a sustentabilidade dessas práticas (HISCHIER et al, 2005). A questão, entretanto,
é aplicar a mesma metodologia em resíduos mais complexos, como os REEE, levando-se
em consideração o papel da prevenção. Esse tipo de material restante, algumas vezes ainda
não identificado claramente nas estatísticas, proporciona um impacto relevante por se tratar
de produtos baseados em elementos químicos pesados e contaminantes, como: mercúrio,
chumbo, entre outros.
Outro fator importante, já mencionado anteriormente no Capítulo 1, é a vida média
desses equipamentos. Segundo Ansanelli (2008), no Brasil, a vida média chega ao máximo
de 4 anos. Como resultado, cresce um movimento que antes somente era visto em países
ricos, como, por exemplo, Japão e Estados Unidos: EEE em perfeito uso descartados
como lixo. Quando esses equipamentos são eliminados em condições inadequadas, são
os catadores que manuseiam de forma perigosa os seus resíduos. Eles desmontam os
equipamentos e removem itens como cabos e placas para serem revendidos como forma
de garantir sua sobrevivência. Esse descarte constante de EEE incentiva os catadores
a migrarem do papel, latas de alumínio ou outros materiais recicláveis de baixo valor para
os componentes eletroeletrônicos.
O curto tempo de vida dos EEE, a sua periculosidade e a problemática dos catadores
mostram que somente a reciclagem desses resíduos não satisfaz as premissas da sustenta-
bilidade estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), implementada
pela Lei n° 12.305/2010. Embora a PNRS seja um referencial regulatório extremamente
importante, a lei ainda tem condições e práticas generalizadas no âmbito da prevenção de
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  21

RS e, dada a falta de informações e conhecimentos técnicos, não é possível de determinar


quais os produtos e serviços são os menos impactantes ao ambiente. Assim, há uma neces-
sidade imperativa de utilizar a Análise do Ciclo de Vida (ACV) para implementar e avaliar
efetivamente as medidas de prevenção de REEE.
Na gestão de REEE, a prevenção evita a coleta desnecessária, bem como o tratamento
e descarte. Ela oferece um significativo potencial de diminuição do REEE destinado ao
aterramento do mesmo modo que contribui para a mitigação dos seus impactos ambientais.
Consequentemente, a prevenção é a parte integradora dentro da gestão de REEE, na qual
cada opção é avaliada com o objetivo principal de otimizar o sistema em vez de geri-lo den-
tro de uma hierarquia piramidal. Medidas de prevenção devem ser consideradas nos vários
estágios do ciclo de vida do produto, desde a sua concepção, fabricação, comercialização,
utilização, descarte, tratamento e disposição final. A prevenção também incentiva o uso
eficiente de energia no setor industrial ao agir em todas etapas do processo produtivo, eli-
minando os custos na produção da mesma maneira que reduz a demanda por matéria-prima
(WHITE et al, 2001). Isso permite uma melhor performance e maior eficiência, tornando
essas empresas mais competitivas no mercado.
Não existem dúvidas de que a prevenção possui um enorme potencial para tornar a gestão
de REEE mais eficiente e sustentável. Enquanto isso é verdade, a prática está longe de alcançar
seu pleno potencial. No Brasil, tanto a academia quanto os setores públicos e privados ainda
carecem de uma melhor compreensão das influências e dos efeitos das ações de prevenção
dentro de uma visão integradora do sistema, para que possam implementá-las eficientemente.
Considerando os desafios da gestão de REEE tanto para a sociedade quanto para as empresas
fabricantes, este capítulo vai em direção à compressão de como esses atores e tomadores de
decisão podem aplicar a ACV como uma ferramenta a fim de diminuir não somente os
impactos ambientais, econômicos e sociais dos REEE, mas também para avaliar e monitorar
a implementação e a eficiência das ações preventivas dos planos de gestão de REEE.

2.2  A prevenção de resíduos


de equipamentos eletroeletrônicos

Desenvolvimento sustentável significa atender as necessidades do presente sem com-


prometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades
(BRUNDTLAND, 1991). O MMA/IBAM/Parceria21 (2000) publicou um documento em que
estabelece quatro estratégias de sustentabilidade urbana, identificadas como prioritárias para
o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras. Na estratégia 3, que trata da mudança
de padrões de produção e de consumo da cidade, o documento destaca a importância de
reduzir significativamente a quantidade e os impactos dos resíduos produzidos nas cidades,
levando o setor produtivo e a população a desperdiçarem menos, consumirem somente o
necessário e reutilizarem matérias que seriam descartadas. Em resumo, a adoção de práticas
de prevenção de resíduos está diretamente relacionada ao desenvolvimento sustentável.
22  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Por outro lado, o conceito de prevenção de REEE não é algo novo em si. Desde meados
dos anos 1970, o planejamento da gestão de resíduos em países europeus tem incluído medidas
de prevenção de REEE e vários esforços foram conduzidos para a sua institucionalização. Por
exemplo, o artigo 7° da Diretiva n° 75/442/CE já definia a estratégia da União Europeia para a
gestão de REEE considerando medidas de prevenção como prioritárias. Em âmbito nacional,
a Alemanha (AbfG, 1986) e a Áustria (AWG, 1990) aprovaram o princípio da prevenção
como o principal objetivo dos seus planos de gestão de REEE. Outros países europeus ainda
especificaram metas para a prevenção de resíduos, como a Escócia, que determinou a estabili-
zação da geração de resíduos para 2010 no seu Plano Nacional de Resíduos Sólidos em 2003
(HUGUES, 2005). No âmbito local, a cidade de Viena foi pioneira em implementar iniciativas
de prevenção em 2001, cerca de 42 projetos foram financiados. Como resultado, de acordo com
os relatórios oficiais, a cidade evitou a geração de 2.190 toneladas de resíduos (MA 48, 2006b).
Entretanto, em geral, esses esforços locais e nacionais não resultaram em efeitos per-
ceptíveis na geração de resíduos (incluindo os REEE) como indicado pelo aumento da
quantidade total de resíduos produzidos na Europa (EEA, 2002). Outras tentativas de definir
estratégias para a prevenção provaram-se sem êxito. Uma análise dos efeitos da Politica
de Resíduos na Finlândia (MELANEN et al., 2002) mostrou que os instrumentos imple-
mentados não contribuíram para a prevenção, enquanto a infraestrutura para a recuperação
e tratamento foram extremamente aperfeiçoadas nos anos 1990. Essa discrepância entre a
importância dada à prevenção de resíduos nos planos de gestão e a falta de progresso na
realidade pode ser explicada através das definições inconsistentes, problemas de medição,
avaliação, monitoramento e ausência de uma estratégia abrangente.
Somando a isso, regulações ambientais sobre a atividade industrial, como também no
caso das medidas de prevenção, são geralmente consideradas caras para as empresas ga-
nhando um impacto negativo dentro do setor privado (CHAPPLE et al., 2005; BEAUMONT
e TINCH, 2004). A prevenção é um processo de longo prazo que necessita da mudança de
comportamento tanto dos cidadãos, produtores e demais atores envolvidos (BORTOLETO
e HANAKI, 2007). Medidas regulatórias possuem um papel importante, mas são raramente
efetivas se aplicadas isoladamente (Commission of the European Community, 2003b).
Programas de prevenção de REEE devem integrar todas as atividades do ciclo de vida do
produto, tanto no nível dos processos de produção e consumo, como no de pós-consumo.
Assim, o valor prático da prevenção será específico e dependerá das características do
material, produto, fluxo de resíduos ou público-alvo em questão (BORTOLETO et al, 2012).

2.2.1  Definição de prevenção de REEE

Como citado anteriormente, as definições inconsistentes de prevenção podem ser apon-


tadas como uma das causas da falta de êxito dos planos de gestão em alcançar suas metas de
diminuição da geração de resíduos. Embora os termos “prevenção” e “minimização” sejam
comumente utilizados, não existem definições exatas para esses termos, e distingui-los na
literatura prova-se difícil em alguns casos. Em 1996, a Organização para a Cooperação e
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  23

Desenvolvimento Economico (OECD) determinou a prevenção como uma ferramenta para a


minimização de resíduos. Em 2000, a OECD definiu medidas preventivas em três principais
ações práticas: eliminação na origem, redução na fonte e reutilização do produto. Assim, a
minimização de resíduos, além da prevenção, inclui também a reciclagem e outras formas
de melhoramento da qualidade dos resíduos, como a incineração. Dentro da definição de
prevenção deve-se levar em conta também os atores envolvidos no ciclo de vida do produto
para os quais as medidas preventivas serão requisitadas e os instrumentos a serem utili-
zados para a sua implementação (KAUFMANN-HAYOZ et al., 2001).
No caso de REEE, os impactos ambientais não se limitam somente na quantidade
mas também na composição do resíduo gerado. Prevenção da poluição é outro termo
cuja definição ainda gera controvérsias. Em essência, é o processo pelo qual a redução de
REEE impede que os poluentes sejam liberados no ambiente pelo ar, água e solo (FRAN-
CHETTI, 2009). Isso significa que a prevenção da poluição combina ações de redução da
toxicidade do REEE na origem e de prevenção da geração final desses resíduos. Desta forma,
a prevenção qualitativa dos resíduos (diminuição da periculosidade) também foi incluída
entre as ações práticas preventivas.
Em resumo, a prevenção compromete todas as medidas tomadas antes que o produto seja
reconhecido como resíduo; sejam essas medidas para a redução da quantidade ou eliminação
da toxicidade dos REEE. Dentro desta definição, as ações preventivas podem ser aplicadas
em qualquer fase do ciclo de vida do produto, envolvendo diversos atores e processos que
geralmente não estão diretamente ligados na gestão de resíduos. Nesse contexto, se torna
necessário identificar indicadores e ferramentas para monitorar as atividades de prevenção
tanto em micro como em larga escala. Esses indicadores devem avaliar a redução na
geração como também seus impactos ambientais, econômicos e sociais; garantindo a sus-
tentabilidade da gestão de REEE.

2.2.2 Indicadores de programas de prevenção

Por definição, um indicador é um instrumento utilizado para monitorar e avaliar o estado


de evolução de um sistema com objetivo de compreendê-lo. É importante salientar que um in-
dicador sozinho não pode explicar o sistema por completo, ele somente mostra uma visão par-
cial e subjetiva do mesmo. No caso dos resíduos sólidos, a avaliação das ações de prevenção é
um dos maiores problemas para as empresas e autoridades. A dificuldade se verifica ao tentar
relacionar a evolução da geração de resíduos às ações práticas de prevenção, pois a geração
também está ligada a outros parâmetros cujo efeito não é possível identificar facilmente. Por
exemplo, a recente queda na geração de resíduos na Europa se deve particularmente a uma
grande influência da crise econômica iniciada em 2008. Além disso, ainda existem outras
dificuldades ao lidar com as estimativas de eficiência das medidas de prevenção:
j Heterogeneidade: das ações – regulatórias, incentivos, campanhas –, dos atores envolvidos –
população, empresas – e do estágio do ciclo de vida do produto – design, pós-consumo.
24  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

j Natureza da prevenção: ao evitar a produção de resíduos ou diminuir sua toxicidade,


a prevenção não cria “resultados”, o que dificulta a observação dos seus efeitos.
j Critérios de avaliação: não existe um critério ou terminologia comum entre os dife-

rentes países ou órgãos regulatórios a respeito da prevenção de resíduos; além disso,


existem ainda as diferenças de composição, custo e impactos ambientais.
Para a maioria, o maior desafio é como calcular a quantidade de material retirado do ciclo
de vida, que não pode ser contabilizado através dos indicadores tradicionais de gestão de
resíduos. Para ações de curto e médio prazo, a OECD (2004) recomenda como indicadores
o número de sistemas de gestão ambiental certificados (total, per capita ou por PIB) à taxa
de consumo e reciclagem de certos materiais, como, por exemplo. vidro, papel e metais. Para
ações de longo prazo, o mesmo estudo propõe como indicadores a existência de projetos
e estratégias de prevenção, além de políticas de responsabilidade estendidas ao produtor
(com uma lista dos produtos regulamentados), e o número de casas com preços – de taxa
variável – para a coleta de resíduos. Tais indicadores podem ser importantes no momento
de avaliar e comparar as medidas preventivas em nível internacional, mas são ineficientes
para compreender os efeitos delas in loco. O mesmo problema aparece em outros relatórios e
documentos referentes à avaliação de prevenção de resíduos (Bio Intelligence Service, 2009;
MAZZANTI e ZOBOLI, 2008). Nesses relatórios, o monitoramento é extremamente depen-
dente do objetivo do programa de prevenção, e uma das principais finalidades dos indicadores
é avaliar a situação atual em comparação com metas quantitativas. Assim, a disponibilidade
de dados também é um parâmetro importante para a escolha correta dos indicadores.
O fato da prevenção geralmente ser compreendida com um conjunto de ações para a
redução da quantidade de resíduos também gera obstáculos para o seu monitoramento
e avaliação. A OECD (2004) define prevenção como todas as medidas que reduzem a
quantidade de resíduos e seu teor de toxicidade, mas também os impactos negativos de
resíduos gerados no ambiente e na saúde humana. Vale ressaltar que a redução na quantidade
de resíduos não significa automaticamente um menor impacto ambiental, uma vez que um
material mais leve pode gerar um maior impacto no ciclo de vida de um produto, ao con-
trário de um material mais denso. No caso dos REEE, a maior fonte de impactos ambientais
se deve a composição do resíduo gerado. Assim, ao avaliar as medidas de prevenção é
necessário focar nos impactos ambientais evitados como indicadores ao invés de se atentar
à redução da quantidade de resíduos gerados. Uma das ferramentas de gestão ambiental
mais utilizada para esse fim é a análise do ciclo de vida.

2.3  A análise do ciclo de vida

Tendo em vista uma série de impactos ambientais que envolveram interesses interna-
cionais na década de 1990, a Organização Internacional de Padronização (International
Organisation for Standardisation – ISO) criou em março de 1993 um Comitê Técnico
(TC-207) para a elaboração de um conjunto de normas sobre gestão ambiental. O TC-207,
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  25

sediado no Canadá, foi coordenado por seis Subcomitês (SC) e um Grupo de Trabalho
(WG), localizados em vários países com a participação dos 110 organismos nacionais
regulatórios que o compunham, entre os quais a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). Tal Comitê Técnico elaborou as cinco primeiras normas da série ISO 14000
(Moura, 2000)]. As quatro normas da série ISO 14040 relativas a Análise do Ciclo de
Vida (ACV), uma das ferramentas de gestão ambiental formalizadas pela ISO para as
organizações empresariais, foram aprovadas a partir de 1997, na seguinte sequência
(WHITE et al, 2001):
1. ISO 14040 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Principles
and Framework1 (1997)
2. ISO 14041 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Goal and
Scope Definition and Inventory Analysis2 (1998)
3. ISO 14042 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Life Cycle
Impact Assessment3 (2000)
4. ISO 14043 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Life Cycle
Interpretation4 (2000)
Essas normas foram traduzidas e adaptadas às terminologias brasileiras pela ABNT,
representante do Brasil na ISO. Dessa forma, tem-se hoje, no Brasil, as seguintes normas
correspondentes as homólogas normas ISO, respectivamente: NBR ISO 14040, ABNT NBR
ISO 14041, ABNT NBR ISO 14042, ABNT NBR ISO 14043.
De acordo com a Sociedade de Toxicologia e Química (FAVA et al, 1991), a ACV tem
como objetivo avaliar as cargas ambientais associadas a um produto, processo ou ativida-
des para identificação e quantificação da energia e materiais usados, além das descargas
para o ambiente. As informações geradas podem servir para análise e implementação de
oportunidades, a fim de influenciar melhorias ambientais, abrangendo desde a extração, o
processamento da matéria-prima, a manufatura, o transporte e a distribuição; o uso e reúso,
a manutenção; a reciclagem e a disposição final.
De um modo geral, a ACV abrange as seguintes etapas:
1. Identifica e quantifica o consumo de energia, materiais e geração de resíduos.
2. Avalia o impacto no meio ambiente do consumo de energia, materiais e geração de
resíduos.
3. Identifica e avalia oportunidades para aumentar a eficiência nos processos de fabricação,
distribuição; tratamento e disposição final de resíduos e produtos de pós-consumo, além
da redução de custos.

1
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Princípios e Estrutura
2
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Objetivo e Definição do Escopo e Análise de Inventário
3
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida
4
Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Interpretação do Ciclo de Vida
26  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

O principal objetivo da ACV é a obtenção, através de uma visão global e completa, de


subsídios que qualifiquem e quantifiquem os efeitos ambientais, implementando melhorias
nesses efeitos (FRANCHETTI, 2009). Segundo a Norma NBR ISO 14040 (ABNT, 2001),
um estudo de ACV é composto por quatro fases que se relacionam entre si de forma in-
terativa, tal como é representado na Figura 2.1.

Figura 2.1  Fases de uma ACV. Fonte: Norma NBR ISO 14040:2001.

Uma das restrições ao uso da ACV é sua complexidade, o que leva a custos altos na
sua elaboração, além da necessidade de uma grande quantidade de dados devido a sua
abrangência, o que pode levar a uma extrema dificuldade de interpretação dos dados
(BOUSTEAD, 1998). Esses problemas podem ser contornados a partir do momento em
que se delimita e se formula claramente os objetivos do trabalho. Outra dificuldade na
elaboração de um estudo de ACV se encontra na Análise de Inventário, graças a inúmeros e
diversificados dados que devem ser coletados. Na prática, o inventário é difícil e trabalhoso
de ser executado por uma série de razões, como: a ausência de banco de dados conhecidos,
a necessidade de estimá-los e a qualidade dos dados disponíveis.
Um estudo de ACV poderia ser inacabável pelas suas dimensões e, consequentemente,
pela abrangência de informações. Para tanto, um estudo de ACV prático e objetivo deve
possuir fronteiras ou limites antecipadamente estabelecidos. Assim, é recomendável o
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  27

estabelecimento prévio de etapas visando assegurar a compreensão uniforme e consistente


dos sistemas a serem estudados, bem como a objetividade do estudo e a adequação do tempo
gasto no mesmo (WHITE et al, 2001). Tais limitações restringem as comparações entre
diferentes estudos de ACV, entretanto, avaliações comparativas dentro de um mesmo sis-
tema podem ser realizadas desde que os estudos tenham considerado as mesmas fronteiras
e parâmetros.
No caso dos REEE, a ACV é uma ferramenta importante no desenvolvimento de novos
produtos, minimizando seu impacto ambiental (MANZINI, 2002). As empresas identificam
as questões ambientais como um dos mais importantes fatores de sucesso para a aceitação de
produtos tanto no mercado interno como no externo. O dilema da empresa contemporânea
consiste em adaptar-se ao novo mercado, ou correr o risco de perder espaços conquistados,
sendo imperativo aplicar ferramentas de gerenciamento ambiental. Assim, o desenho de um
equipamento que considera o tipo e a quantidade de matéria-prima utilizada, o processo
produtivo mais eficaz, a orientação para o consumo e descarte, além da preocupação do
fabricante com o que será feito com o equipamento após a sua utilização, podem gerar um
impacto positivo na aceitação do produto pelo mercado e na redução de REEE.
No início, a ACV identificava e quantificava a energia e materiais utilizados, as emissões
e o esgotamento dos recursos. Resultado da intensificação pela busca de tecnologias mais
limpas no sentido de se evitar a poluição e desperdícios de recursos. Essa “tecnologia limpa”
se tornou uma alternativa aos meios convencionais de indústrias altamente competitivas
(CLIFT, 1995). Nesse caso, a ACV teve um papel central na promoção do uso dessas
tecnologias. Em um segundo momento, a análise do ciclo de vida foi dirigida a fabricação
de componentes e sistemas que facilitassem a reciclagem e o uso final do produto devido
ao aumento da conscientização do potencial de reciclagem. Designers e demais profis-
sionais passaram a utilizar a ACV para explorar novas combinações de matérias-primas.
Atualmente, a ACV vem sendo aplicada na redução do consumo de energia e materiais,
tanto na produção quanto no pós-consumo, o que viabiliza a aplicação e o monitoramento
de ações de prevenção através de uma visão mais sistêmica da cadeia produtiva.

2.4  Avaliação de programas de prevenção através


da análise do ciclo de vida

Uma das maiores dificuldades para a avaliação e monitoramento de programas de


prevenção de resíduos é a determinação de indicadores confiáveis. Na prática, esse pro-
blema se deve por uma série de razões, mas principalmente pela ausência de dados co-
nhecidos e confiáveis. Entretanto, tal contratempo pode ser contornado a partir do uso
dos resultados da análise do ciclo de vida como um dos indicadores para monitorar as
medidas de prevenção. Ao utilizar a ACV como ferramenta de avaliação, é possível não
somente verificar os impactos ambientais dessas ações, como também os impactos no
consumo de matérias-primas, energia e custos. Esses elementos em conjunto permitirão
28  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

uma maior precisão e consistência na avaliação, além de fornecer importantes informações


nas dificuldades a serem enfrentadas.
É importante lembrar que nem todos os indicadores apresentados neste capítulo poderão
ser aplicados a todas as ações de prevenção, seja devido a dificuldade em monitorá-las, seja
pela complexidade em correlacionar esses dados com a geração de resíduos. Assim como
na ACV, é necessário relacionar os objetivos com os indicadores a serem determinados
antes de iniciar o estudo, a fim de assegurar a qualidade e consistência da coleta de dados.
O principal objetivo deste capítulo é apresentar uma lista abrangente que permita profis-
sionais e pesquisadores envolvidos neste tópico a construírem plataformas de avaliação e
monitoramento de acordo com seus objetivos. Nem todos os possíveis indicadores estão
listados aqui devido a diversidade das ações de prevenção.

2.4.1 Indicadores de impacto

De acordo com estudos anteriores (RDC Environnement, 2008; Bio Intelligence Servi-


ce, 2009), indicadores de impacto são os mais comuns e os mais simples de estimar. Eles
se referem ao tripé do desenvolvimento sustentável: impactos econômicos, ambientais e
sociais. Cada um desses impactos abrange uma grande quantidade de problemas e atores,
e é impossível – e irrelevante – considerá-los todos ao mesmo tempo. Assim, a escolha
desses impactos deve ser baseada na facilidade de obtenção de dados e na importância do
impacto no contexto das medidas adotadas.
Impactos econômicos podem se referir à questão do crescimento econômico, à criação
de valor e à análise de custo-benefício. No caso da prevenção de REEE, o impacto mais
pertinente é a análise de custo-benefício pela facilidade de obtenção dos dados de custo
de cada ação preventiva e a agilidade de cruzá-los com os dados de consumo de energia e
matéria-prima. Além disso, é possível ainda analisar o impacto para outros atores, como,
por exemplo: funcionários, consumidores, fornecedores e distribuidores, oferecendo-lhes um
incentivo para que eles participem do programa de prevenção. Os impactos sociais cobrem
desde desigualdade social até desemprego. Neste caso, um indicador de fácil coleta de dados
é a criação de novas posições de trabalho devido ao programa de prevenção, como: lojas de
reparo e serviços de coleta. No entanto, a prevenção de resíduos também pode apresentar
impactos negativos no setor de emprego, já que pode direcionar a um menor nível de consumo
que gerará um aumento no nível de desemprego. No entanto, esses impactos negativos são
relativamente difíceis de monitorar a priori. Devido a essa dificuldade, mais estudos ainda
são ne­cessários para considerar tais impactos sociais como indicadores confiáveis na avaliação
de programas de prevenção. Impactos ambientais se referem a uma grande variedade de
assuntos: poluição local, mudanças climáticas, biodiversidade, exploração de recursos
naturais etc. Novamente, não seria realístico considerar todos, e já que muitas empresas focam
suas estratégias em mercados globais, se torna mais importante focar em impactos ambientais
globais do que nos impactos locais. Assim, propõe-se concentrar na emissão de gases estufa
que representam uma das maiores ameaças para a conservação ambiental.
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  29

Tabela 2.1  Indicadores de Impacto para Programas de Prevenção.


Impacto Indicador Definição
Econômico Custos reduzidos no Custos evitados graças a redução na quantidade de REEE
gerenciamento de REEE (coleta, tratamento, disposição final)
Custos reduzidos devido Caso a ação preventiva tenha evitado a aquisição
a substituição da compra de produtos, matéria-prima ou serviços, permitindo
por uma ação de prevenção a redução do custo total
Balanço econômico da ação Balanço entre custos, custos evitados e geração de lucros
preventiva
Ambiental Impacto relacionado a ação Soma de todos os impactos ambientais relacionados
preventiva a ação preventiva
Impactos evitados ligados a Os impactos que ocorreriam caso a geração de REEE
menor quantidade de REEE evitada fosse tratada e destinada à disposição final
a ser gerenciado
Impactos evitados devido A ação preventiva pode substituir um produto/
a substituição induzida pela matéria-prima/serviço ou um processo que teria um impacto
ação preventiva ambiental; este indicador se refere a esse impacto evitado
Social Criação de empregos Números e tipos de empregos criados através
da implantação da ação preventiva

A Tabela 2.1 apresenta uma relação de indicadores de impactos a serem aplicados na ava-


liação de programas de prevenção. A tabela ainda sugere um processo bem simplificado para
determinar os indicadores de impactos; métodos e cálculos provavelmente se diferenciarão de
acordo com a ação preventiva, bem como dependem do tipo de REEE. Contudo, esses devem
ser determinados e calculados através de estudos da ACV, conforme descrito anteriormente no
item 2.4 deste capítulo. No caso dos indicadores sociais, futuros estudos ainda precisam ser
conduzidos a fim de determinar uma metodologia mais consistente e completa. A respeito da
relação entre custos e o impacto ambiental, avaliar “impactos evitados” requer um nível abran-
gente de conhecimento a respeito da gestão dos REEE, uma vez que o destino do produto d­ entro
do plano de gestão deve ser identificado a priori como também as diferentes frações desses
resíduos e seus impactos de acordo com as possibilidades de tratamento e disposição final.
Consequentemente, o inventário da ACV deve ser conduzido de forma a incluir os dados locais
específicos da gestão de REEE, como: opções de coleta, tratamento e disposição; legislação.

2.4.2  Demais indicadores

Outros indicadores secundários são importantes na avaliação e monitoramento de progra-


mas de prevenção como também para comparar e interpretar os indicadores de impactos. Dentro
dessa categoria dois se destacam: os indicadores de recursos e os indicadores de resultado.
Indicadores de recursos são necessários, pois permitem comparar os efeitos com os
investimentos feitos na implementação das ações preventivas e, assim, avaliar a eficiência
de todos os recursos utilizados, como: pessoal, campanhas, equipamentos). Um ponto
30  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

importante é que os recursos não vêm somente do responsável direto pela implementação
da ação, mas também de outros atores envolvidos. Por exemplo, um projeto de reutilização
de dispositivos de impressão pode envolver funcionários de outras empresas ou organizações
não governamentais para coleta e também poderá envolver a participação dos consumidores
no processo de pós consumo. Entre esses indicadores destacam-se: custos, lucros diretos e
indiretos, custos externos, funcionários externos e internos envolvidos, número de equipa-
mentos instalados, número de ferramentas de comunicação – panfletos, eventos, website –,
número de pessoas que tiveram acesso a essas ferramentas.
Indicadores de resultados são importantes dentro do sistema de avaliação, uma vez
que seu objetivo é avaliar a eficácia da ação preventiva, tanto na participação quanto nas
quantidades de REEE evitados. No entanto, estes indicadores são menos relevantes, se
nenhum estado inicial for definido antecipadamente; assim, antes de iniciar a avaliação é
necessário determinar a participação inicial. Por exemplo, para avaliar a eficiência de uma
campanha de comunicação sobre o reúso de dispositivos de impressão, deve-se conhecer
a quantidade de pessoas que já reusam o dispositivo. Considerando a dificuldade sobre a
avaliação e o monitoramento de programas de prevenção de resíduos, tais indicadores re-
presentam um grande desafio para muitos gerentes de projetos de prevenção de resíduos,
principalmente porque eles não podem ser medidos diretamente. Indicadores de resultados
sobre quantidades evitadas são essenciais para avaliar a eficiência de uma determinada ação
de prevenção de resíduos, e são calculados principalmente pela multiplicação do número de
participantes “reais” pela quantidade média evitada por participante.

2.5  Considerações finais

A preocupação com a crescente geração de REEE é global. A utilização de equipamentos


eletroeletrônicos, cada vez mais presentes no cotidiano de todos, requer ações de prevenção
condizentes com o avanço tecnológico que proporcionam. É preciso ir além de construir
canais que possibilitem somente a transformação dos resíduos de pós-consumo em maté-
ria-prima para novos produtos. A inovação dos materiais para a fabricação de EEE é outra
vertente do problema, pois acompanha com a mesma velocidade a evolução tecnológica
desses equipamentos. Muitos desses materiais chegam ao mercado sem a perspectiva do que
ocorrerá ao final do seu ciclo de vida. Neste caso, cabe aos pesquisadores com altíssimos
investimentos financeiros se ocuparem em achar soluções de reciclagem e novos proces-
sos de tratamento parar os REEE produzidos pelos novos materiais. O problema da visão
tradicional, na maioria dos casos, se deve ao fato de não levar em consideração a viabilidade
ambiental e econômica de novos processos de coleta, reciclagem e tratamento dentro do
ciclo de vida do EEE. Além disso, os custos são elevados e de difícil absorção tanto pelo
setor produtivo quanto pelo consumidor. Assim, o primeiro requisito na utilização de novos
materiais na fabricação de EEE não é o seu potencial reciclável, mas sim o entendimento
sistêmico do seu ciclo de vida, levando em consideração as diretrizes da prevenção.
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão...  31

Diversos países já adotaram medidas de prevenção em seus planos de gestão de resí-


duos sólidos, incluindo REEE. A União Europeia, por exemplo, estabeleceu a Diretiva n°
2002/96/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 27 de Janeiro de 2003 relativa aos
REEE. Nos EUA, a EPA propõe medidas para a prevenção e minimização de REEE, e cada
estado tem políticas específicas tratando do tema. No Brasil, embora seja um referencial
regulatório extremamente importante para a gestão de resíduos sólidos em todo o país, a
PNRS apresenta conceitos, diretrizes e condições altamente generalizados a respeito.
Apesar da implementação das regulações supracitadas, as iniciativas que até agora têm
sido tomadas não parecem ter tido o efeito esperado sobre a quantidade total de resíduos
sólidos gerados. Medidas conservadoras, que não necessitam de uma redução do consumo,
podem apenas evitar a geração de 1% a 3% da quantidade total de resíduos (SALHOFER
et al, 2008). Não bastam somente ações do governo para diminuir o impacto dos REEE.
O setor produtivo também tem sua responsabilidade. As empresas fabricantes devem dar
prioridade para ações de prevenção como parte integrante do projeto de qualquer produto, já
que é nesse momento que a interface entre o ambiente e o consumidor será desenhada, pos-
sibilitando a análise dos impactos em cada etapa do ciclo de vida do item (CAPELINI, 2007).
Existe uma discrepância entre a prioridade dada à prevenção de resíduos e a eficiência
das atividades de prevenção de resíduos. No caso dos resíduos sólidos, a avaliação das ações
de prevenção é um dos maiores problemas para as empresas e autoridades. A dificuldade
se verifica ao tentar relacionar a evolução da geração de resíduos e as ações práticas de
prevenção, pois a geração também está ligada a outros parâmetros cujo efeito não é pos-
sível identificar facilmente. A prevenção de resíduos é uma estratégia essencial e eficaz na
gestão de REEE, podendo ser aplicadas em qualquer fase do ciclo de vida do produto, per-
mitindo o envolvimento de diversos atores e processos que geralmente não estão diretamente
ligados na gestão de resíduos. Assim, se torna necessário avaliar e monitorar as atividades
de prevenção para garantir a eficiência e a sustentabilidade da gestão de REEE.
Alguns fatores podem facilitar a quantificação de indicadores, enquanto outros podem
dificultar. Por exemplo, uma ação preventiva pode ocorrer em diferentes estágios do ci-
clo de vida de um produto ou serviço, caso ocorra nos estágios iniciais, será mais difícil
vinculá-la a uma quantidade de resíduos evitados do que uma ação que ocorreu pouco antes
da disposição final desses resíduos. A ideia geral por trás da utilização de indicadores de
impacto não é muito complicada, mas a sua aplicação prática requer tempo, investimento
e um método sólido. É necessário o estabelecimento de um painel representativo de uma
pesquisa, encontrar perguntas adequadas para um questionário e a criação de um estudo de
ACV para determinar os impactos evitados e gerados e, consequentemente, as relações
de redução. Além disso, outros obstáculos poderão surgir no momento de avaliar os indica-
dores econômicos, uma vez que os custos não são sempre completamente proporcionais a
quantidades. Taxas, depreciação de equipamentos e outros parâmetros podem exigir cálculos
mais complexos. Assim, a implementação, bem como o sucesso da implementação de um
programa de prevenção de REEE, requer um planejamento antecipado, a fim de determinar
os indicadores a serem monitorados, as barreiras potenciais e os resultados esperados.
32  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

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Capítulo 3
Design
e Sustentabilidade
na Cadeia de REEE
Lúcia Helena Xavier

RESUMO

Os produtos eletroeletrônicos, de modo geral, são projetados para atender priorita-


riamente as necessidades dos consumidores por inovação e praticidade. Os impactos
ambientais causados pelo uso desses produtos ou a obsolescência como causa da crescente
geração de resíduos ainda não são prioridade no momento da compra, principalmente, de
produtos com alto potencial tecnológico. Entretanto, com a consolidação do conceito da
sustentabilidade, os critérios ambientais passaram a ser considerados no projeto do produto
e nos processos produtivos. Tem sido priorizada a redução da quantidade de materiais,
uso de materiais alternativos ao invés dos materiais perigosos, como também a redução do
consumo energético ao longo da vida útil do produto. Para além das questões estéticas ou
de forma, o design para a sustentabilidade surge como uma releitura da proposta tradicional
e, ao mesmo tempo, como uma solução para os problemas decorrentes da obsolescência.

3.1 Introdução

Os produtos eletroeletrônicos, assim como os demais produtos, são projetados para


atender a necessidade dos clientes. Entretanto, com a consolidação do conceito da sus-
tentabilidade, os critérios ambientais passaram a ser inseridos cada vez mais no projeto 35
36  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

do produto. Tem sido priorizada a redução da quantidade de materiais, o uso de materiais


alternativos em substituição aos materiais perigosos, como também a redução do consumo
energético ao longo de sua vida útil. Para além das questões estéticas ou de forma, o design
sustentável surge como uma releitura da proposta tradicional e, ao mesmo tempo, como
uma solução para os problemas decorrentes da obsolescência.
A sustentabilidade tem ganhado vulto no projeto de produtos e serviços em diferentes
segmentos de atuação. A variedade de opções de produtos sustentáveis tem tido forte apelo
nas vendas, inclusive como diferencial de competitividade.
No entanto, nesse mesmo ínterim surge o conceito de green washing, que, diferentemente
da proposta de sustentabilidade, se pauta em uma “roupagem” ambiental para processos
e produtos que ainda possuem significativo potencial de dano ambiental. A esse respeito,
Mahoney et al. (2012), apresentam um instigante trabalho a partir do qual identificam o perfil
de empresas que, apesar de não terem políticas fortes de sustentabilidade e responsabilidade
corporativa, conseguem passar uma imagem de ambientalmente conscientes para o público.
O padrão de consumo e descarte de equipamentos eletroeletrônicos varia entre os países e
observa-se uma significativa diferença entre o tempo de vida útil de equipamentos eletroele-
trônicos (EEE) entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Em virtude,
principalmente, da obsolescência tecnológica nos países desenvolvidos, mesmo mantendo
suas funcionalidades, os EEE têm o final de vida decretado em função de sua substituição por
equipamentos mais novos e com maior potencial tecnológico (SANTOS e PEREIRA, 1999).
Por outro lado, nos países em desenvolvimento, é patente o efeito cascata, no qual os
equipamentos que são substituídos são imediatamente inseridos em outra condição de uso,
na qual exigem maior dedicação de serviços de manutenção para reduzir ou eliminar a
incidência de falhas. Geralmente a cadeia subsequente tende a ser uma cadeia menos sofis-
ticada que a imediatamente anterior e, por esse motivo, apresenta menor grau de exigência,
dispensando investimentos na aquisição de novos equipamentos ou peças.

3.2  A sustentabilidade, a logística e a gestão ambiental

De acordo com Xavier et al. (2004), a crescente necessidade de inclusão de questões


ambientais na gestão da produção tende a tornar cada vez mais intensa a relação entre gestão
ambiental e logística, inclusive por meio da elaboração de mecanismos legais e normativos
que considerem especificidades do ambiente produtivo e das estratégias de negócio em
consonância com as dimensões de sustentabilidade.
Outras áreas de interesse, bastante desenvolvidas nas décadas anteriores, como a análise
do ciclo de vida, a gestão ambiental da cadeia de suprimentos, a distribuição reversa e a
modelagem matemática ainda podem agregar valor à logística ambiental, de uma forma
mais específica. Deve-se considerar, no entanto, que a logística reversa, enquanto parte do
contexto da logística ambiental, tem ganhado grande importância, de modo complementar,
tanto no âmbito empresarial quanto em pesquisas acadêmicas.
Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE  37

Entretanto, a integração entre a logística e a gestão ambiental, que originou a logís-


tica ambiental, é considerada um paradoxo por alguns autores, na medida em que alguns
questionamentos relacionados à sua viabilidade tornam-se evidentes. Um estudo recente
proposto por Barba-Gutiérrez et al. (2008) realiza a análise de possíveis impactos negativos
da implementação de regulamentações a respeito da obrigatoriedade da coleta de resíduos
eletroeletrônicos. Os autores evidenciam possíveis impactos ambientais decorrentes de uma
ineficiência logística que, por sua vez, gera um aumento significativo nas emissões atmos-
féricas de poluentes a partir da inclusão de rotas antes inexistentes, resultante do consumo
de combustíveis fósseis durante o transporte dos resíduos.
Uma outra abordagem semelhante, no sentido de mapeamento das rotas de deslocamento
do transporte de resíduos eletroeletrônicos e a crítica ao impacto das emissões é apresentada
por Kim et al. (2009). Esses autores enfatizam a importância de estudos das rotas de des-
locamento para a captação de REEE, ao mesmo tempo em que evidenciam a importância
da responsabilidade pós-consumo como aspecto-chave para a eficiência do processo. Em
ambos os casos verifica-se a importância de se considerar as emissões atmosféricas como
critério de análise de sustentabilidade na cadeia de suprimentos, com foco na recolha de
material pós-consumo para processamento em cadeias reversas.
A geração de resíduos perigosos na cadeia de equipamentos eletroeletrônicos, junta-
mente com o potencial tóxico dos materiais, é resultante da redução do ciclo de vida útil
e aumento de consumo desses produtos. Alguns estímulos ao consumo, como a obsoles-
cência induzida (que consiste na substituição de produtos ainda em condições de uso por
modelos com melhor desempenho ou design mais atraente) e a obsolescência programada
(redução do ciclo de vida do produto com função da aplicação de estruturas ou materiais
menos resistentes), tem gerado um tipo específico de resíduo sólido urbano, os denominados
resíduos tecnológicos ou resíduos de equipamentos eletroeletrônicos – REEE – (MORALES
e SANTOS, 2010).
O gerenciamento da cadeia reversa de resíduos tecnológicos é uma das soluções pos-
síveis para a minimização do volume de detritos que impactam a vida útil dos aterros. Por
outro lado, essa categoria de resíduos ainda tem grande potencial de agregação de valor por
meio da coleta, triagem e separação. Diferentes países já possuem ações implementadas
no sentido de gerenciar a cadeia reversa de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
De acordo com Griese et al. (2004), observa-se que o uso em cascata está melhor es-
tabelecido em países em desenvolvimento, onde também há larga experiência no reparo
de equipamentos antigos e a mão de obra tem valor relativamente mais baixo do que nos
países desenvolvidos. Segundo esse entendimento, os autores percebem que há uma maior
eficiência no uso de equipamentos eletroeletrônicos para os países em desenvolvimento.
Outro aspecto relevante, relacionado à gestão da cadeia reversa e colocado por Toktay
et al. (2003), é a relação entre a previsão de retorno de matéria-prima secundária (resíduos
passíveis de serem reincorporados à cadeia produtiva) para alimentar a logística reversa
de produtos pós-consumo. Tal questão está diretamente relacionada à definição do final da
vida útil de determinado produto.
38  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Por outro lado, um produto pode atingir o final de sua vida útil em uma determinada
fase do consumo; entretanto, por ainda apresentar funcionalidades, pode ter sua vida útil
estendida ao passar por manutenção e ser reincorporado por outras unidades nas quais seu
consumo seja continuado.

3.3  Sustentabilidade na cadeia produtiva de eletroeletrônicos

A primeira referência histórica a respeito da regulamentação da gestão ambiental de


REEE consiste nos termos da Convenção da Basileia, estabelecida em 1989, com o pro-
pósito de estabelecer critérios a respeito da harmonização internacional da movimentação
de resíduos perigosos entre os países. Muitas discussões se seguiram, até que em 2002 a
Comunidade Europeia elaborou diretrizes sobre gestão de resíduos perigosos (RoHS) e, na
sequência, outra diretriz específica sobre a gestão de REEE. Novas frentes de debates foram
iniciadas e muitos países do continente Europeu elaboraram regulamentações específicas
para a gestão de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
O Brasil tem apresentado relevante atuação política no sentido de colaborar, por meio da
elaboração de políticas públicas, com a melhoria do gerenciamento de resíduos sólidos no
país. A título de ilustração, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), implementada
pela Lei n° 12.305 de 2010 e regulamentada pelo Decreto n° 7404 de 2010, representa forte
marco regulatório por meio da exigência da implantação de sistemas de logística reversa,
bem como do estabelecimento da corresponsabilidade por parte das empresas envolvidas
ao longo da cadeia produtiva.
A avaliação de critérios e indicadores de sustentabilidade em determinada cadeia produtiva
pode se pautar em aspectos definidos em legislação ambiental específica, bem como por meio
de normas relacionadas à Avaliação do Ciclo de Vida, como a norma ISO 14.040 (ISO, 2006).
Por outro lado, a avaliação pode ser complementada ainda por meio da definição de
critérios e indicadores para a avaliação do desempenho ambiental de determinado segmento
produtivo. A esse respeito, há orientações na norma ISO 14.031 (ISO, 2004).
A partir do modelo genérico proposto na Figura 3.1, é possível evidenciar três pontos
críticos da gestão da cadeia reversa de equipamentos eletroeletrônicos. O primeiro é a etapa

Figura 3.1  Modelo geral da gestão de REEE. Fonte: Elaboração própria.


Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE  39

de coleta que deve ser fomentada tanto por iniciativas sociais, como por incentivos políticos
e fiscais para garantia de um volume mínimo de material a ser processado e, desta forma,
torne os custos da reciclagem viáveis.
O segundo ponto crítico é a própria etapa da reciclagem, que poderá alcançar um padrão
de excelência ambiental na medida em que mecanismos regulamentadores possibilitem
a padronização e fiscalização de suas técnicas. O principal objetivo dessa abordagem é
buscar minimizar os impactos negativos à saúde humana e ambiental, verificados a partir
do manuseio de resíduos perigosos ao final da vida útil de equipamentos eletroeletrônicos.
Outro tópico de grande relevância nos principais debates é a regulamentação por parte
do governo a respeito da responsabilidade sobre a gestão de produtos órfãos, cuja origem
não é possível identificar ou cujo fabricante não se encontra mais atuando no mercado. Nesse
sentido, alguns países desenvolvidos têm sido apontados como exportadores de REEE para
países em desenvolvimento, ferindo a Convenção da Basileia. Grande parte dos países em
desenvolvimento não estaria apta tecnológica e socialmente para o gerenciamento eficaz
e efetivo dessa categoria de resíduos perigosos. Nesse sentido, a elaboração de normas e
procedimentos para a implementação de sistemas de logística reversa, bem como o es-
tabelecimento e a adequação de uma infraestrutura mínima, deve ser provida pelo Estado,
ou ainda pela iniciativa privada.
Em linhas gerais, a Figura 3.1 apresenta um modelo conceitual a respeito da gestão
de REEE. Propõe-se que os estímulos que incentivam os consumismos podem configurar
como ponto de partida para a amplificação do consumo e consequente geração de resíduos.
Com o aumento da quantidade e diversidade de produtos pós-consumo, torna-se necessária
a implantação de sistemas eficientes de coleta e separação que, por sua vez, demandam
ações logísticas coordenadas para o transporte e acondicionamento de materiais e produtos
que serão destinados.
De acordo com Jinglei et al. (2009), métodos simples de reciclagem e a carência de
mecanismos eficazes de controle da poluição, verificado em países em desenvolvimento,
os tornam mais susceptíveis a poluição ambiental, resultando em impactos significativos
à saúde humana. Nesse sentido, Sepúlveda et al. (2010) relatam um fluxo relativamente
intenso de REEE partindo, principalmente, de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Europa,
Japão e Coreia com destino à países asiáticos como China, Índia e Paquistão.
O contato com agentes contaminantes ao longo da cadeia reversa de equipamentos
eletroeletrônicos pode ocorrer em diferentes etapas e em distintas intensidades. O contato
direto com metais pesados durante a etapa de desmontagem dos aparatos resulta na absorção
pela pele e possível contaminação por bioacumulação nos organismos. Por outro lado, a
queima de material provoca a liberação de material tóxico na atmosfera e, nesse caso,
a contaminação ocorre pela inalação dos agentes tóxicos. Desta forma, o uso de equipa-
mentos de proteção pode minimizar ou eliminar os impactos decorrentes da destinação
(reúso, reciclagem e outros) ou disposição final (aterro e incineração), dos equipamentos
eletroeletrônicos pós-consumo.
Deng et al. (2006 e 2007) sugerem a análise de compostos tóxicos liberados na atmos-
fera a partir da atividade de reciclagem de REEE. Os artigos apresentam a relação entre
40  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

níveis de contaminação de áreas onde predomina a reciclagem desses equipamentos e


alertam para a necessidade de consolidação de políticas públicas para o gerenciamento
dos resíduos em questão. Outros autores ainda evidenciam o impacto da contaminação em
solo, água e sedimentos (WONG, 2006; LEUNG, 2007), consequente fonte potencial de
contaminação de animais, vegetais e humanos.
Além das questões de cunho técnico e gerencial, outro aspecto que merece atenção dos
gestores é o impacto socioambiental de ações decorrentes da gestão de resíduos e, mais es-
pecificamente, da logística reversa na qual a atuação de catadores, por meio de associações
e cooperativas, mostra-se de vital importância.
A gestão de resíduos a partir de uma mobilização massiva e voluntária de catadores
de resíduos tem fomentado uma cadeia bastante lucrativa de suprimentos da indústria da
reciclagem (LEAL et al., 2009). De acordo com recente estudo realizado por Sembiring
e Nitivattananon (2010), dentre os países pertencentes ao G-20, os que mais se destacam
por apresentarem ações bem-sucedidas com a atuação de catadores são: Brasil, México,
Filipinas, Índia e Indonésia.

3.4  Design e sustentabilidade na gestão de REEE

A reciclagem dos REEE tem importância econômica e ambiental por recuperar com-
ponentes reutilizáveis, especialmente metais preciosos, além de criar empregos para as
populações mais pobres, ajudando na erradicação da pobreza. No entanto, devido à falta de
instalações apropriadas, altos custos trabalhistas e regulamentações ambientais exigentes,
os países mais ricos tendem a não reciclar seus resíduos eletroeletrônicos. Em vez disso, ele
ou é depositado em aterros, ou exportado para países mais pobres, onde pode ser reciclado
através de técnicas primitivas e com pouca consideração à proteção do meio ambiente e à
segurança do trabalhador (ROBINSON, 2009).
Tradicionalmente, ao se conceber um produto, os principais critérios considerados são a
funcionalidade, a eficiência e o custo. Ainda são poucas as iniciativas de design de produto
e processo que priorize a redução dos impactos ambientais durante a vida útil e também
no estágio pós-consumo. Entretanto, algumas iniciativas interessantes já se encontram em
desenvolvimento, inclusive especificamente para a gestão de REEE.
É possível perceber a gestão de REEE como uma parte da gestão de resíduos que,
em função do retorno de produtos e materiais ao mercado, também possuem inserção na
gestão empresarial e na economia. Tais aspectos ainda impactam a sociedade por meio da
efetividade de ações ambientalmente adequadas de destinação de resíduos, ao mesmo tempo
em que colabora para a geração de emprego e renda.
Nesse contexto, a gestão de REEE ainda necessita da consolidação do projeto, ou seja,
do design de produtos e materiais como forma de otimização da cadeia reversa. A título
de exemplo, a elaboração de produtos com materiais com maior potencial de reciclagem,
bem como o investimento no desenvolvimento de produtos facilmente desmontáveis ao
Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE  41

final da vida útil, são perspectivas com significativo potencial de inovação no contexto da
logística reversa.
A esse respeito, além das determinações contidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), um dos principais documentos legais é o Edital de Chamamento para a elaboração
de Acordo Setorial para a implantação de Sistema de Logística Reversa de produtos eletroele-
trônicos e seus componentes (Edital n° 01 de 2013, do Ministério do Meio Ambiente). Esse
edital estabelece como meta o recolhimento e a destinação ambientalmente adequada de 17%,
em peso, dos produtos eletroeletrônicos colocados no mercado nacional em 2012.
A importância desse documento reside, mais especificamente, no fato de representar o
principal aspecto motivador para a configuração dos fluxos de reciclagem. Considerando-se,
hipoteticamente, que no Brasil sejam colocados no mercado anualmente cerca de 1 milhão
de computadores, deveria-se delinear um sistema de recolha e processamento de 170 mil
desses equipamentos anualmente.
Como resultado, buscaria-se identificar os principais pontos geradores de resíduos e, desta
forma, localizar as unidades de destinação o mais próximas possível dessas fontes. Outra questão
relevante seria a natureza do equipamento e sua condição de funcionalidade. Assim, enquanto
alguns aparelhos necessitam apenas de manutenção ou pequenos reparos, outros já exigem troca
de peças ou total recondicionamento para recuperar total ou parcialmente suas funcionalidades.
Desta forma, a triagem por meio do teste dos equipamentos caracteriza-se como uma das
atividades iniciais no processo de destinação de equipamentos eletrônicos pós-consumo.
Uma abordagem bastante recente que agrega processo e produto é a virtualização de
processos operacionais, que tem uma ampla aplicação por meio, por exemplo, da proposta do
cloud computing. Em poucas palavras, consiste na virtualização de atividades em função da
disponibilidade de espaço físico nas máquinas ou até mesmo da disponibilidade de energia
em determinada região geográfica. Uma das principais aplicações nesse sentido tem sido
desenvolvida pelo grupo Green Star Network, do Canadá (http://www.greenstarnetwork.com/).
A proposta desse grupo consiste no desenvolvimento de ferramentas informatizadas que
possibilitem o uso eficiente da energia a partir da migração das bases de transmissão de
dados em diferentes regiões e países, tendo-se como premissa a disponibilidade de recursos
renováveis como energia solar (following the sun) e energia eólica (following the wind).
Intitulada como a primeira rede mundial de transmissão de dados com emissão zero
de carbono, essa proposta consiste como um dos projetos mais bem-sucedidos na área de
Tecnologia, Informação e Comunicação. Os impactos na gestão de resíduos são perceptíveis
na medida em que se permite o prolongamento da vida útil dos equipamentos a partir do
uso alternado dos equipamentos em diferentes regiões do planeta.
É fácil entender a importância dos processos de virtualização em alcançar padrões
adequados de sustentabilidade ambiental. A melhoria no consumo de energia e, consequen-
temente, a redução das emissões de carbono durante o ciclo de vida de equipamentos TIC
são os exemplos mais concretos, que refletem a redução da necessidade de energia ao longo
das últimas décadas. De acordo com Dubey e Refley (2011), a estimativa do consumo anual
de CO2 para diferentes equipamentos é apresentada na Tabela 3.1.
42  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Tabela 3.1  Toneladas de CO2 produzidas por ano por equipamento.


Equipamento (unidade) Quantidade de CO2 produzida por ano
Servidor 8 toneladas
PC 4 toneladas
Impressora e fotocopiadora 10 toneladas
Roteador 20 toneladas
Switch 5 toneladas
Fonte: Dubey and Refley, 2011.

Além do design do processo, o design do produto focado na sustentabilidade tem


ganhado importância em diferentes segmentos. Nesse sentido, uma proposta recente foi a
concepção do laptop verde por um grupo de estudantes da universidade de Stanford, nos
Estados Unidos (Figura 3.2).

Figura 3.2  Protótipo de laptop desmontável. Fonte: http://www.greenbiz.com/


blog/2011/02/01/recyclable-laptop-designed-disassembly

Esse projeto foi concebido com o objetivo de agregar valor às partes e peças do equi-
pamento pós-consumo por meio da otimização do tempo e da qualidade da desmontagem.
O produto permite uma desmontagem rápida e com alto grau de separação dos materiais, o
que não é comum nos equipamentos eletroeletrônicos, principalmente naqueles de pequeno
porte ou em placas de circuito impresso, por exemplo.
Por outro lado, uma iniciativa dessa importância não teria muita utilidade se não hou-
vesse a universalização da informação a respeito dos riscos e da necessidade de se des-
cartar adequadamente os equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo. Pensando nisso, a
Comunidade Europeia propôs, por meio de uma diretiva específica, a convenção do desenho
Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE  43

de um recipiente de lixo tachado, ou seja, indicando a proibição da destinação de aparatos


eletroeletrônicos no lixo convencional (Figura 3.3).

Figura 3.3  Símbolo indicativo da destinação de REEE pela Comunidade Europeia. Fonte:
Elaboração própria.

O símbolo proposto pela Comunidade Europeia é hoje aceito e difundido na maioria


dos países, a partir da comercialização dos produtos europeus. Percebe-se um impacto
positivo na proposta na medida em que o design e disseminação do símbolo trazem uma
ação educativa em seu contexto, colaborando significativamente para o processo de des-
tinação dos resíduos eletroeletrônicos.
Recentemente foi publicada no Brasil uma norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) para a gestão eficiente de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos
por meio da manufatura reversa (ABNT, 2013). Por meio dessa norma são definidos os
requisitos para a gestão ambientalmente adequada dos REEE através da gestão dos riscos à
saúde e segurança no trabalho. Em outras palavras, essa norma confere uma nova dimensão
ao entendimento da cadeia produtiva ao regulamentar o ciclo reverso por meio de conceitos
sedimentos a respeito da saúde e segurança do trabalhador.
Ainda no contexto do design e sustentabilidade na logística reversa de resíduos eletroeletrôni-
cos, destaca-se uma iniciativa brasileira conhecida como kit didático para ensino na área de com-
putação e eletrônica, construído inteiramente a parte de resíduos eletroeletrônicos (Figura 3.4).
A proposta de Andrade et al. (2013) é um bom exemplo das soluções que agregam tanto
a proposta de destinação ambientalmente adequada quanto no desenvolvimento de soluções
socialmente aceitas e desejáveis. Tal modelo de projeto é um exemplo emblemático das
soluções que agregam a proposta de destinação ambientalmente adequada e a inclusão
social por meio da proposta da tecnologia social. Nesse caso, especificamente, os kits
foram desenvolvidos de forma que possam ser construídos e utilizados por alunos de cursos
técnicos e também universitários.
Outra proposta alinhada nesse mesmo sentido foi o projeto Trash Track, coordenado
pelo laboratório SENSEable Cities do Massachussets Institute of Technology (MIT) nos
Estados Unidos. O projeto consistiu na colocação de dispositivos de rádio frequência (RFID)
em amostras de resíduos de diferentes tipos e, em seguida, o rastreamento da destinação.
Por meio dessa proposta foi possível identificar, ao longo do monitoramento por dois
44  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 3.4  Kit didático operacional a partir de comandos do computador. Fonte: Andrade
et al. (2013).

meses, as rotas de destinação, localização de pontos de transbordo, processamento, rotas


de destinação de resíduos para outros países e ainda a localização de aterros clandestinos
nos Estados Unidos.
Conforme apresentado na Figura 3.5, as etiquetas RFID dispostas nos resíduos pos-
sibilitou um mapeamento preciso das rotas percorridas. De posse de informações relativas
ao tempo de deslocamento, pontos de destinação e modais de transporte (inferido a partir do
tempo de deslocamento), é possível evidenciar boas práticas e pontos a serem melhorados
com o intuito de se construir estratégias de gerenciamento de resíduos.

Figura 3.5  Rotas de deslocamento na destinação de resíduos. Fonte: SENSEable Cities, 2012.


Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE  45

3.5  Considerações finais

A possibilidade de retorno econômico por meio da gestão de REEE em localidades onde


os indivíduos possuem baixo poder aquisitivo tem superado a busca por formas alternativas
na gestão de resíduos na cadeia produtiva desses equipamentos. Por outro lado, percebe-se
um significativo potencial para mitigação dos impactos potenciais dos REEE por meio da
ação de cooperativas, ONGs, poder público e iniciativa privada, com base nos mecanismos
legais e normativos vigentes.
A regulamentação da gestão ambiental de REEE tem evidenciado função de significativa
relevância com impacto tanto na sustentabilidade ambiental do processo, como também
na garantia da manutenção do sistema por meio de benefícios de ordem social, econômica
e técnica.
O aprimoramento de técnicas para a otimização dos processos de destinação e dis-
posição final de REEE aumenta a eficiência e, ao mesmo tempo, reduz consideravelmente
o potencial de impacto negativo da atividade desenvolvida por recicladores. Os benefícios
de ordem econômica tornam-se perceptíveis à medida que a cadeia se torna mais eficiente
e há redução dos riscos. Por fim, os ganhos sociais são atingidos por meio da geração de
postos de trabalho, melhoria das condições de trabalho e geração de renda por meio da
uma atividade com grande impacto na manutenção da vida útil e qualidade da área de
aterros sanitários.
Apesar de se verificar o consenso a respeito do potencial de risco da destinação ina-
dequada dos REEE, os textos científicos e da literatura cinza apresentam detalhamento
dos impactos na saúde humana e contaminação ambiental, principalmente, em estudos
realizados em países asiáticos. Diversos estudos realizados na China apresentam um grau
significativamente alto de detalhamento do potencial de risco da gestão de REEE e, desta
forma, colaboram para a compreensão da dimensão dos danos potencial e, consequente-
mente, fomentam ações direcionadas.
Nos países da América Latina, as questões sociais e socioambientais têm sido
priorizadas como principal argumento das discussões políticas e ambientais. As
principais leis elaboradas no Brasil, por exemplo, focam a legitimação da atuação
dos catadores por meio de associações e cooperativas. Por outro lado, os países
europeus, em função da escassez de mão de obra para a realização das atividades
de catação, triagem e desmontagem dos equipamentos, buscam o aprimoramento de
técnicas que permitem a consecução das metas sem prejuízo para a economia e para
o meio ambiente.
Diante das questões abordadas neste capítulo, percebe-se que os processos divergem
entre os países e o grau de desenvolvimento social e econômico. Tais diferenças possuem
significativo impacto e trazem resultos diversos para as etapas operacionais de coleta,
triagem, recondicionamento, desmontagem, descaracterização, destinação e disposição de
produtos e materiais pós-consumo.
46  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

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Capítulo 4
Resíduos
eletroeletrônicos
e seus aspectos
jurídicos no Brasil
Patrícia Faga Iglecias Lemos, João Múcio Amado Mendes

RESUMO

Historicamente, a geração de resíduos, em variáveis escalas, de diferentes origens e


espécies, incluindo os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE), com diversos
impactos socioambientais pode ser compreendida como inerente à vida humana e ao
desenvolvimento de suas relações sociais. No Brasil, a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), já com grande atraso instituída pela Lei Federal n° 12.305/2010 e
regulamentada pelo Decreto n° 7.404/2010, estabeleceu um esquema de responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida do produto, de que decorrem inúmeros deveres legais para
a cadeia produtiva, como, por exemplo, a obrigação de estruturar e implementar sistemas
de logística reversa para os produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Comparativa-
mente à regulação europeia dos REEE e mesmo à situação regulatória brasileira de outros
tipos de resíduos sujeitos à logística reversa, ainda se mostra bastante tímida no Brasil a
regulamentação dos REEE, inexistindo nos dias atuais um marco regulatório federal que
forneça uma simples definição do que sejam propriamente os REEE, não obstante algumas
experiências legislativas estaduais e municipais, e mesmo com o advento da PNRS que
finalmente incluiu os produtos eletroeletrônicos e seus componentes no rol das espécies
de resíduos abrangidas pelas regras de logística reversa obrigatória.
49
50  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

4.1 Introdução

Em um cenário de franca expansão da produção, consumo, descarte e implicações am-


bientais dos REEE no país, encontra-se em andamento, nos termos da PNRS e seu Decreto
Regulamentador, o procedimento de implantação dos sistemas de logística reversa dos ele-
troeletrônicos, com abrangência nacional, desafiando as dificuldades técnicas, regulatórias
e operacionais existentes.
Com fundamento na PNRS e no princípio da função socioambiental da propriedade
(ou posse), o design sustentável do produto há de ser concretizado no desenvolvimento
de equipamentos eletroeletrônicos duráveis para prevenir e reduzir, ao máximo possível,
a geração de REEE, que podem resultar em sérios impactos ambientais e à saúde pública,
ora em razão de sua composição potencialmente perigosa, ora por sua facilidade de acu-
mulação em volumes expressivos em locais inadequados, devendo ser estimulada, após
o uso desses equipamentos, a sua reutilização, reciclagem ou outra forma de destinação
final ambientalmente adequada, também sob uma perspectiva de oportunidade, para evitar
o desperdício de recursos valiosos.
Por mais que a compreensão dos problemas decorrentes dos resíduos seja bem recente
e a sua proteção legal recentíssima, o fato é que fazem parte da história do ser humano
no planeta (LEMOS, 2012b, p. 83). Assim, já no período paleolítico, os ocupantes das
cavernas confinavam resíduos nas reentrâncias das rochas (WALDMAN, 2010, p. 11). Nos
vestígios arqueológicos, é possível encontrar desde objetos manufaturados e sepulturas a
objetos rejeitados decorrentes da atividade técnico-econômica, dotados de elevado valor
para a Arqueologia e outras ciências afins.
Nesse sentido, aponta-se (GALLAY, 1986, p. 126) para resíduos domésticos de origem
animal, como ossadas; resíduos domésticos de origem vegetal, como especiarias; e resíduos
de atividades artesanais e de objetos inutilizáveis, como cacos de barro e outros objetos par-
tidos. Portanto, a geração de resíduos, em maior ou menor escala, das mais variadas origens
e espécies, desde os vestígios arqueológicos até os modernos resíduos eletroeletrônicos, com
diferentes impactos ambientais, pode ser percebida como inerente à própria vida humana
e ao desenvolvimento de suas relações sociais.
A preocupação com os resíduos começa basicamente a partir do surgimento das pri-
meiras cidades na Antiguidade. Na Roma Antiga, a limpeza das cidades ficava a cargo dos
Aedilis Curules, que eram magistrados de baixa hierarquia, no âmbito do cursus honorum
romano (ARAGÃO, 2006, p. 72; LEMOS, 2012b, p. 84).
No sistema romano-germânico, o primeiro tratamento jurídico dado aos resíduos é
justamente o da res derelictae, isto é, o abandono da coisa móvel. Referências a esse
respeito podem ser encontradas em Ulpiano, Paulo e Modestino, nos fragmentos do
Digesto 41,7 – Pro derelicto. Sob essa perspectiva tradicional, o abandono corres-
ponde a uma hipótese de perda da propriedade, desde que exista “um comportamento
do proprietário da coisa que inequivocamente traduza a sua intenção de abandoná-la”
(ALVES, 1983, p. 360).
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  51

Dessa forma, o regime jurídico geral dos direitos reais advindo do direito romano
mostra-se insuficiente e inadequado para a atual concepção dos resíduos trazida pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), uma vez que aquele prevê o abandono como uma
das formas de extinção do direito de propriedade, na linha do que se estabelece mesmo
hoje no Código Civil Brasileiro atual (Lei n° 10.406/2002).
Durante a Idade Média, com a expansão do comércio, as cidades cresceram enorme-
mente, o que trouxe uma maior dimensão para o problema dos resíduos, que eram muitas
vezes lançados na rua, de forma indiscriminada. A propósito, esse fato é mencionado como
uma das causas da peste negra na Europa Ocidental, implicando a morte de metade da
sua população em somente quatro anos (ARAGÃO, 2006, p. 72; TCHOBANOGLOUS,
THEISEN, VIGIL, 1993).
Com a Revolução Industrial, a intensificação do processo de urbanização e a explosão
demográfica, os problemas se agravam e os resíduos (e os chamados danos residuais)
passam a ser tratados como um problema de direito de vizinhança (LEMOS, 2012b,
p. 85). No que diz respeito ao uso anormal da propriedade, o Código Civil Brasileiro de
2002 revela preocupação com as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
saúde dos habitantes de uma determinada área, decorrentes da utilização da propriedade
vizinha, o que certamente contempla a necessidade de cada um colaborar com a adequada
gestão dos resíduos domésticos, inclusive no âmbito das relações de vizinhança.
Contemporaneamente, com a sociedade de massa e a exacerbação do risco, os resíduos
passam a ser vistos também como um complexo problema ambiental, que toma proporções
inéditas e exige adequado enfrentamento, sob pena de comprometer a qualidade de vida e
a sobrevivência de todos na Terra (LEMOS, 2012b, p. 85).
É evidente que um fator imprescindível para a percepção atual dos resíduos como
uma questão socioambiental está associado ao crescimento da população do planeta,
decorrente especialmente da melhoria das condições de vida, inclusive dos alimentos,
o que ocasionou um aumento na expectativa de vida, além dos próprios impactos am-
bientais que os resíduos podem acarretar, afetando a fauna, a flora, a saúde pública e os
recursos naturais em geral (LEMOS, 2012b, p. 85). Assim, a alteração nos padrões de
produção e de consumo e a responsabilidade pós-consumo se tornam essenciais para a
manutenção da vida das presentes e das futuras gerações, notadamente em relação ao
segmento de eletroeletrônicos, frequentemente afetado por práticas de obsolescência
planejada.

4.2  A conceituação legal dos resíduos sólidos


pós-consumo e suas implicações

No Direito brasileiro, antes da Lei n° 12.305/2010 (a nossa Política Nacional de Resíduos


Sólidos), não havia uma legislação abrangente, sistêmica e integrada, de âmbito federal, que
conceituasse o resíduo em si, e poucos Tribunais no país haviam se manifestado diretamente
52  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

sobre o tema, embora a essa época já pudessem ser encontrados julgados interessantes1 de
algumas espécies de resíduos.
Nos termos da PNRS (art. 3°), os “resíduos sólidos” são definidos como “material,
substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a
cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido”, assim como os “gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou
em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível” (inciso XVI), ao passo que os “rejeitos” são tidos
como os “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento
e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada”
(inciso XV).
Com efeito, o ciclo econômico clássico compreendia apenas três fases: a produção,
a distribuição e o consumo dos produtos, sem qualquer referência aos resíduos finais ou
pós-consumo. Vale observar que o problema da visão da res derelictae é justamente a
irresponsabilidade daí decorrente. A coisa abandonada passaria a pertencer ao patrimônio
de ninguém, podendo ser objeto de ocupação como forma de aquisição da propriedade.
Portanto, essa concepção tradicional dos direitos reais, reproduzida mesmo no Código Ci-
vil Brasileiro de 2002 (arts. 1.263 e 1275, III), não pode ser a solução para a situação dos
resíduos na atualidade (LEMOS, 2012b, p. 87).
Nesse sentido, é importante compreender que o resíduo pós-consumo tem natureza jurí-
dica de bem socioambiental. Assim, o reconhecimento de que o meio ambiente é um direito
fundamental de terceira geração ou dimensão demanda uma interpretação atualizadora do
conteúdo do direito de propriedade e da sua função socioambiental (LEMOS, 2012a, p. 99).
Aliás, na VI Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do Con-
selho de Justiça Federal, realizada em março de 2013 em comemoração aos 10 anos de
vigência do Código Civil, restou aprovado o Enunciado 565, proposto e defendido nesse
evento pela Professora Associada Patrícia Faga Iglecias Lemos, da Faculdade de Direito da
USP, com o seguinte teor: “Não ocorre a perda da propriedade por abandono de resíduos
sólidos, que são considerados bens socioambientais, nos termos da Lei n. 12.305/2012”.
A desejada proteção ambiental não se exaure na tutela de bens singulares componentes
do meio ambiente unitariamente considerado. Deve-se incluir em seu escopo também a
tutela dos chamados bens ambientais difusos, essenciais à manutenção da sadia qualidade de
vida das espécies, pouco importando discutir se consistem em bens de titularidade privada
ou pública. Com isso, pode-se reconhecer a dupla titularidade dos bens socioambientais
(LEMOS, 2012b, p. 85).

1
A respeito da aplicação da responsabilidade pós-consumo decorrente dos resíduos de embalagens plásticas
tipo PET de refrigerantes, por exemplo, vale conferir pioneiro julgado do Tribunal de Justiça do Paraná
(PARANÁ, 2002).
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  53

Dado o exposto, pode-se perceber que a perda da propriedade via abandono, prevista
desde o direito romano até o Código Civil Brasileiro de 2002, não se compatibiliza com a
noção atual de bens socioambientais, principalmente em matéria de resíduos, cuja disposição
inadequada pode ocasionar diversos efeitos nocivos para o meio ambiente em si e para a
saúde pública (LEMOS, 2012b, p. 88).
Por isso, parece fazer todo o sentido classificar os resíduos como bens socioambientais,
diante de sua relevância para as presentes e futuras gerações, na medida em que geram
responsabilidade pós-consumo para o seu proprietário ou possuidor, devendo ser atendida
a função socioambiental dessa propriedade ou posse. Tal entendimento é respaldado pelo
art. 6°, VIII, da PNRS, ao reconhecer que o resíduo sólido reutilizável e reciclável deve ser
tido “como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor
de cidadania” (LEMOS, 2012b, p. 88).
Ainda segundo Lemos (2012, p. 88), mesmo o rejeito (art. 3°, XV, da PNRS) deverá
ser considerado bem socioambiental, dotado de dupla titularidade, na medida em que não
poderá ser livremente disposto, impondo-se a sua disposição final ambientalmente ade-
quada, consistente na “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas
operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e
a minimizar os impactos ambientais adversos” (art. 3°, VIII, da PNRS).

4.3  Resíduos, logística reversa e embalagens

De acordo com a PNRS, são juridicamente responsáveis todos aqueles que participam
do ciclo de vida, que se inicia com o desenvolvimento e fabricação do produto, e vai até a
destinação adequada do resíduo do produto ou da embalagem, ou, eventualmente, até
a disposição final ambientalmente adequada dos seus rejeitos. Em razão de sua posição
privilegiada no âmbito da cadeia produtiva, os fabricantes de produtos e embalagens de-
vem responder efetivamente pelo ciclo completo desde a fabricação até a disposição final,
agindo preventivamente diante de potenciais danos ambientais decorrentes desses resíduos.
Assim, no caso dos equipamentos eletroeletrônicos, após o período útil haverá o des-
carte. É sabido que esse denominado “lixo eletrônico” (ou e-lixo) prejudica bastante o meio
ambiente e que certamente o destino mais utilizado pela população ainda hoje tem sido o
lixo comum, quando não as vias públicas. Nos termos do art. 14, § 1°, da Lei n° 6.938/1981
(Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), trata-se de hipótese de responsabilidade
objetiva do causador do dano, ou seja, responsabilidade independentemente de culpa, que
não necessariamente demandará a imediata ocorrência do dano (ou de todos os danos),
incidindo mesmo sobre os danos futuros, diante da transtemporalidade de determinados
efeitos nocivos dos resíduos, notadamente, os REEE.
Para a PNRS, a logística reversa é o “instrumento de desenvolvimento econômico e so-
cial caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar
a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
54  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente


adequada” (art. 3°, XII).
Dessa modo, não existe dúvida de que se adota no país a visão objetivista do resíduo, pouco
importando tratar-se ou não de matéria-prima secundária, já que o referido dispositivo legal
considera a logística reversa como meio de viabilizar a coleta e o retorno dos resíduos sólidos
ao setor empresarial, de forma ampla, tanto para destinação final, que inclui a reutilização, a
reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético dos resíduos, quanto
para disposição final ambientalmente adequada, no caso dos rejeitos (art. 33, § 6°, da PNRS).
No contexto da Constituição Federal 1988, compete concorrentemente à União, Estados
e Distrito Federal legislar sobre matéria de proteção do meio ambiente e de responsabilidade
por dano ambiental (art. 24, VI e VIII), limitando-se a União a estabelecer normais gerais
(art. 24, § 1°), o que não exclui a competência suplementar dos Estados, diante da inexis-
tência de lei federal sobre normas gerais (art. 24, §§ 2° e 3°). Já aos Municípios compete
legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I) ou suplementar a legislação federal e
estadual no que couber (art. 30, II).
Sob esse intrincado desenho constitucional de competências legislativas, antes mesmo da
superveniência da PNRS, promulgada apenas em 2 de agosto de 2010, algumas iniciativas
regulatórias esparsas em matéria de gestão de resíduos sólidos e obrigações de logística
reversa já se faziam presentes no país, seja por meio de lei ordinária estadual ou municipal
(excepcionalmente, por lei federal no caso específico de agrotóxicos), seja via Resoluções
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e deliberativo do
Sistema Nacional do Meio Ambiente (art. 6°, II, Lei n° 6.938/1981).
No que se refere à regulação federal, desde o final da década de 1980, já se conta no
país com uma lei federal pioneira (Lei n° 7.802/1989) que dispõe sobre o destino final dos
resíduos e embalagens de agrotóxicos, estabelecendo um eficiente sistema de logística
reversa para o setor. Também no âmbito federal, mas infralegal, algumas Resoluções do
CONAMA editadas antes do advento da PNRS já traziam regras de logística reversa rela-
tivas a determinadas espécies de resíduos, destacando-se: óleos lubrificantes (CONAMA
n° 9/1993, revogada pela CONAMA n° 362/2005, alterada pela CONAMA n° 450/2012);
pneus inservíveis (CONAMA n° 259/1999, revogada pela CONAMA n° 416/2009); pilhas
e baterias (CONAMA n° 257/1999, revogada pela CONAMA n° 401/2008, alterada pela
CONAMA n° 424/2010); embalagens vazias de agrotóxicos (CONAMA n° 334/2003).
Na esfera estadual, pelo menos desde o início da década de 1990, vem se proliferando
uma série de Políticas Estaduais de Resíduos Sólidos, até mesmo para suprir a ausência
de uma lei federal geral sobre resíduos sólidos, verificada até pouco tempo no Brasil,
trazendo, dentre outros problemas, o da falta de uniformidade da legislação nos diversos
Estados. Sem pretender exaurir, mas apenas exemplificar, podem ser mencionadas algumas
iniciativas estaduais nesse sentido: Rio Grande do Sul (Lei Estadual n° 9.921/1993); Paraná
(Lei Estadual n° 12.493/1999); Pernambuco (Lei Estadual n° 12.008/2001, substituída pela
Lei Estadual n° 14.236/2010); Estado do Rio de Janeiro (Lei Estadual n° 4.191/2003); Estado
de São Paulo (Lei Estadual n° 12.300/2006); e Espírito Santo (Lei Estadual n° 9.264/2009).
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  55

Com a superveniência da PNRS, que estabeleceu normas gerais federais sobre resíduos
sólidos, tem-se que as normas gerais estaduais sobre a matéria, editadas sob a égide da
competência suplementar dos Estados, terão suspensa sua eficácia no que forem contrárias
àquelas estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, em observância ao previsto
no art. 24, § 4°, da Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, é possível que algumas
leis estaduais sejam até mesmo reformuladas, em consonância com os novos preceitos
da PNRS, como aconteceu com a Política Estadual de Resíduos Sólidos de Pernambuco,
acima referida.
Não obstante a existência de algumas leis estaduais e municipais esparsas, bem como
das Resoluções do CONAMA sobre determinados tipos de resíduos, verifica-se que as
obrigações de logística reversa trazidas nesses precedentes regulatórios foram, em geral,
consolidadas e fortalecidas pela PNRS, tornando-se menos suscetíveis a questionamentos
quanto à constitucionalidade formal de leis estaduais ou municipais por eventual usurpação
de competência legislativa ou das próprias Resoluções do CONAMA por alegada violação
do princípio da reserva legal, na medida em que enquanto resoluções não poderiam inovar
na ordem jurídica, prerrogativa esta das leis em sentido estrito.
A PNRS estabelece a responsabilidade compartilhada em relação aos resíduos sólidos
em geral e, relativamente aos bens listados em seu art. 33, institui a sistemática da logís-
tica reversa. Similarmente à Diretiva Europeia n° 2008/98/CE (art. 4°, § 1°), relativa aos
resíduos, a PNRS também prevê, em seu art. 9°, enquanto estratégia de gestão a seguinte
linha de prioridades (a denominada “hierarquia de resíduos”): não geração, redução, reuti-
lização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final e ambientalmente adequada
dos rejeitos.
Na Alemanha, por exemplo, há regulamentação específica para o segmento de embala-
gens, a qual obriga os fabricantes e os distribuidores a aceitar a devolução de vasilhames
e embalagens, levando-os a uma recuperação material que independe do sistema público
de eliminação dos resíduos. Por esse motivo, os fabricantes e comerciantes criaram uma
sociedade sem fins lucrativos chamada Duales System Deutschland GmbH (DSD), que
organiza a coleta, a seleção e a valorização dos vasilhames e dos resíduos comerciais.
Existe uma taxa de filiação que permite a identificação pelo ponto verde (grüner Punkt),
bem como o pagamento em função do volume das embalagens, contando esse sistema com
metas fixas (JURAS, ARAÚJO, 2006, p. 125; LEMOS, 2012b, p. 107).
A regulação alemã veio a se tornar bastante exitosa nas medidas de equacionamento
de resíduos sólidos, com o advento da Lei de Minimização e Eliminação de Resíduos, de
1986, que gerou a promulgação de diversos regulamentos protetivos como o de Minimiza­
ção de Vasilhames e Embalagens, de 1991. Posteriormente, foi editada a Lei de Economia
de Ciclo Integral e Gestão de Resíduos, em 1994, estabelecendo a responsabilidade do
fabricante por todo o ciclo de vida do produto. Na sequência, tal lei alemã de resíduos veio
a ser substituída pela Gesetz zur Förderung der Kreislaufwirtschaft und Sicherung der
umweltverträglichen Bewirtschaftung von Abfällen (Kreislaufwirtschaftsgesetz - KrWG),
de 24 de fevereiro de 2012.
56  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

No tocante aos resíduos sujeitos à logística reversa obrigatória no âmbito normativo


brasileiro, surgem diversos deveres para a cadeia produtiva (fabricantes, importadores, dis-
tribuidores e comerciantes), como o de divulgar informações relacionadas a como proceder
para evitar, reciclar e descartar adequadamente resíduos ligados aos seus produtos, assim
como o dever de recolher os produtos e resíduos remanescentes após o uso, além, é claro,
da obrigação de lhes dar destinação final ambientalmente adequada. Para tanto, essa cadeia
produtiva deverá estruturar e implementar sistemas de logística reversa, para que o retorno
dos produtos pós-consumo possa ser realizado, independentemente do serviço público de
limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos (LEMOS, 2012b, p. 107).
Sob o respaldo legal da PNRS (art. 33, I a VI), ficarão sujeitos à logística reversa, no
mínimo os seguintes itens: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus;
óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio
e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
A cadeia produtiva possui certa liberdade para implementar e operacionalizar o sistema
de logística reversa que julgar conveniente, contanto que sejam respeitados os princípios de
tutela do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Dentre outras medidas possibilitadas
pela PNRS (art. 33, § 3), vale mencionar: a implantação de procedimentos de compra de
produtos ou embalagens usados; a disponibilização de postos de entrega de resíduos
reutilizáveis ou recicláveis; e a atuação em parceria com cooperativas ou outras formas
de associação de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, considerada para tanto
a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, bem como o grau e a extensão do
impacto ambiental e à saúde pública dos resíduos gerados (LEMOS, 2012b, p. 108).
Quanto às embalagens, inclusive as que acondicionam os equipamentos eletroeletrônicos,
cabe aos seus responsáveis no âmbito da cadeia produtiva zelar, de um modo geral, para que
possam propiciar a reutilização ou a reciclagem (art. 32, caput, da PNRS), assegurando que:
sejam restritas em volume e peso às dimensões requeridas para a proteção do conteúdo e
a comercialização do produto; sejam projetadas de modo a serem reutilizadas de maneira
tecnicamente viável e compatível com as exigências aplicáveis ao produto contido nessas em-
balagens; sejam recicladas, quando impossibilitada a sua reutilização (art. 32, § 1°, da PNRS).
Conforme o art. 32, § 3°, da PNRS, são considerados responsáveis quem manufatura
embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens, bem como quem co-
loca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou produtos
embalados, em qualquer fase da cadeia do comércio. Apenas excepcionalmente, por razões
técnicas ou econômicas, poderá ser inviabilizada a aplicação dessas obrigações, segundo
seja disposto em regulamento (art. 32, § 2°, da PNRS).
Ao contrário das embalagens, que tendem a ter uma maior homogeneidade em sua
composição, os equipamentos eletroeletrônicos são muitas vezes constituídos por materiais
perigosos, como metais pesados, por materiais dificilmente recicláveis, como determinados
plásticos, por materiais sem valor de mercado, como a sílica, ou ainda com expressivo
valor econômico, a exemplo de metais preciosos que podem ser encontrados em circuitos
impressos e integrados, como prata, ouro e platina (ARAGÃO, 2003, p. 73).
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  57

4.4  O tratamento jurídico dos resíduos eletroeletrônicos

Comparativamente a outros tipos de resíduos sujeitos à logística reversa, ainda se mostra


tímida a regulamentação dos resíduos eletroeletrônicos no Brasil, não obstante a crescente
expansão de sua produção, consumo e descarte no país, com importantes efeitos danosos
ao meio ambiente e à saúde, ora em razão de sua periculosidade inerente, ora devido à sua
facilidade de acumulação em volumes expressivos. Nesse sentido, Miguez (2010, p. 23-24)
afirma que a indústria eletrônica é uma das que mais rapidamente crescem, sendo tal cres-
cimento acompanhado de uma maior obsolescência dos produtos e de um maior descarte
de resíduos eletroeletrônicos.
Dentre todas as espécies de resíduos previstas pela PNRS como objeto de logística
reversa obrigatória, os resíduos e embalagens de agrotóxicos constituem o setor mais
avançado em termos regulatórios e de implementação da logística reversa. Isso se deve,
em grande parte, ao pioneirismo de o setor contar desde o final dos anos 1980 com uma lei
federal que veio a tratar sobre a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos e
embalagens de agrotóxicos, a saber, a Lei n° 7.802/1989 (também conhecida como Lei dos
Agrotóxicos), alterada pela Lei n° 9.974/2000.
No relatório “Recycling: from E-waste to resources”, publicado em julho de 2009 pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foram reunidos dados de
11 países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, para estimar a geração atual e futura
do lixo eletrônico. Em relação ao Brasil, constatou-se que a informação sobre a situação do
e-lixo no país é escassa e que são desconhecidos estudos abrangentes de avaliação. A análise
realizada nesse relatório também sugeriu que a então ausência de um marco regulatório
abrangente, em âmbito federal, poderia ser vista como um sério obstáculo para o desenvol-
vimento de uma regulação específica sobre resíduos eletroeletrônicos no país (NAÇÕES
UNIDAS, 2009, p. 65).
Até a edição da PNRS em 2010, que incluiu de maneira expressa os “produtos eletro-
eletrônicos e seus componentes” dentre as espécies de resíduos abrangidas pelas regras de
logística reversa, em seu art. 33, caput, inciso VI, não se dispunha, no Brasil, de regulação
federal (seja legal ou infralegal) que disciplinasse juridicamente a gestão dos resíduos ele-
troeletrônicos, especialmente no que concerne à obrigação de a cadeia produtiva estruturar
e implementar sistemas de logística reversa para esse gigantesco segmento. Mesmo hoje,
a regulação federal não nos fornece sequer uma definição do que sejam propriamente os
resíduos eletroeletrônicos.
Um bom indicativo desse cenário de déficit regulatório é o fato de a própria PNRS ter
ressalvado, em seu art. 56, que a logística reversa relativa aos produtos de que tratam os
incisos V e VI do caput do art. 33 (lâmpadas e eletroeletrônicos) será implementada de forma
progressiva segundo cronograma ainda a ser estabelecido em regulamento, o que significa na
prática postergar a sua exigência diante das dificuldades técnicas e operacionais previstas.
De acordo com o esquema de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do pro­
duto trazido pela PNRS, os consumidores deverão efetuar, após o seu uso, a devolução dos
58  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

produtos eletroeletrônicos e seus componentes, aos comerciantes ou distribuidores. Estes,


por sua vez, deverão devolvê-los aos fabricantes ou importadores de tais produtos, os quais
promoverão a destinação final ambientalmente adequada de seus resíduos eletroeletrônicos,
e a disposição adequada de seus rejeitos.
Partindo de uma noção de design sustentável do produto, que revisita o instituto da
função socioambiental da propriedade e da posse, é possível compreender a importância
da PNRS na prevenção e redução dos resíduos eletroeletrônicos. Nesse sentido, a respon-
sabilidade compartilhada dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
abrange inclusive o dever de investir no desenvolvimento, na fabricação e na colocação
no mercado de produtos eletroeletrônicos que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à
reutilização, à reciclagem ou outra forma de destinação final ambientalmente adequada, e
cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade possível de resíduos. A propósito, a maior
ou menor durabilidade dos produtos é tema que concerne não apenas aos interesses ambien-
tais, mas também do consumidor, a exemplo do fenômeno da obsolescência programada
ou planejada dos produtos.
Na União Europeia, a Diretiva n° 2012/19/UE, de 4 de julho de 2012, relativa aos resí-
duos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE), revogou e reformulou a Diretiva n°
2002/96/CE, com efeitos a partir de 15 de fevereiro de 2014. A nova Diretiva considera que
o mercado continua em expansão, ao passo que os ciclos de inovação se tornam cada vez
mais curtos e a substituição dos equipamentos mais acelerada, o que vem contribuindo para
o rápido crescimento dos REEE no planeta.
Em seu art. 3°, item 1, alíneas a e e, são definidos os “equipamentos elétricos e eletrôni-
cos” (EEE),2 bem como os “resíduos de equipamentos eletroeletrônicos” (REEE), incluindo
todos os componentes, subconjuntos e materiais consumíveis que fazem parte integrante do
produto no momento em que este é descartado. Ao prever a responsabilidade do produtor,
a Diretiva n° 2012/19/UE incentiva a concepção e fabricação de produtos eletroeletrônicos
que permitam, de forma facilitada, a reparação, atualização, reutilização, desmontagem e
reciclagem desses equipamentos.
No que tange à questão da periculosidade, a Diretiva RoHS n° 2002/95/CE, relativa à
restrição do uso de determinadas substâncias perigosas em EEE, contribuiu efetivamente
para a redução de substâncias perigosas contidas nos novos equipamentos eletroeletrônicos
colocados no mercado, ao dispor que, a partir de 1° de julho de 2006, eles não contivessem
chumbo, mercúrio, cádmio, cromo hexavalente, polibromobifenilo (PBB) e/ou éter de di-
fenilo polibromado (PBDE), ressalvadas as aplicações previstas em seu Anexo.
Em 3 de janeiro de 2013, a referida Diretiva RoHS foi revogada e reformulada pela
Diretiva n° 2011/65/EU, segundo a qual os Estados-Membros deverão assegurar que os

2
 “a) ‘Equipamentos elétricos e eletrônicos’ ou ‘EEE’, os equipamentos dependentes de corrente elétrica ou de
campos eletromagnéticos para funcionarem corretamente, bem como os equipamentos para geração, transferência e
medição dessas correntes e campos, e concebidos para utilização com uma tensão nominal não superior a 1 000 V
para corrente alterna e 1 500 V para corrente contínua”.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  59

EEE colocados no mercado, inclusive os cabos e as peças sobressalentes, para a respectiva


reparação, reutilização, atualização das funcionalidades ou melhoria da capacidade, não con-
tenham determinadas substâncias acima da concentração ponderal máxima especificada no
Anexo II: chumbo (0,1 %); mercúrio (0,1 %); cádmio (0,01 %); cromo hexavalente (0,1 %);
bifenilos polibromados (PBB) (0,1 %); éteres difenílicos polibromados (PBDE) (0,1 %).
Mesmo para a realidade europeia, que há muito vem aperfeiçoando sua regulação geral e
específica em matéria de resíduos, inclusive de EEE, considera-se que o teor de componentes
perigosos nos equipamentos eletroeletrônicos constitui um grande desafio para a gestão de
REEE e que a sua reciclagem ainda não é realizada em um nível tido como suficiente, o
que resulta no desperdício de recursos valiosos.
Nessa linha, Sunil Herat e P. Agamuthu (2012, p. 1114-1115) descrevem não apenas
problemas, mas também oportunidades associadas aos REEE nos países asiáticos, a exemplo
da possibilidade de recuperação de metais preciosos muitas vezes contidos nos produtos
eletroeletrônicos. No caso brasileiro, a situação se torna ainda mais delicada, diante do já
referido déficit regulatório, além de dificuldades de ordem técnica e operacional.
No Brasil, a Resolução CONAMA n° 452, de 2 de julho de 2012 (que revogou e substi-
tuiu a anterior Resolução CONAMA n° 23/1996), dispõe sobre procedimentos de controle
de importação de resíduos, em conformidade com as normas da Convenção da Basileia
sobre Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito.3 Tal regulação
infralegal federal apresenta uma interface com os REEE, na medida em que determinados
componentes eletroeletrônicos também podem ser configurados como resíduos perigosos,
para efeito dessa Resolução, a exemplo de compostos de cromo hexavalente, cádmio, mer-
cúrio e chumbo. A propósito, a PNRS proibiu expressamente em seu art. 49 a importação de
resíduos sólidos perigosos e rejeitos, dentre os quais se podem encontrar os eletroeletrôni-
cos, ainda que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação em outro país.
No âmbito estadual, algumas iniciativas legislativas recentes podem ser apontadas como
a Lei do Lixo Tecnológico do Estado de São Paulo (Lei n° 13.576, de 06 de julho de 2009),
anterior, contudo, à promulgação da PNRS em 2010. Tal Lei Estadual utiliza a expressão
“lixo tecnológico”, definida em seu art. 2° como “os aparelhos eletrodomésticos e os equipa-
mentos e componentes eletroeletrônicos de uso doméstico, industrial, comercial ou no setor
de serviços que estejam em desuso e sujeitos à disposição final, tais como: I - componentes
e periféricos de computadores; II - monitores e televisores; III - acumuladores de energia
(baterias e pilhas); IV - produtos magnetizados”. Por seu caráter amplo, entende-se que a
denominação “lixo tecnológico” pode abranger uma grande variedade de objetos e equipa-
mentos, a exemplo de geladeiras, microondas, televisores, microcomputadores, impressoras,
entre outros (GOMES, FIAMENGUE, 2011, p. 48).

3
Adotado em 1989 na cidade da Basileia, no âmbito das Nações Unidas, esse tratado internacional conta atualmente
com 179 membros (Partes), dentre eles o Brasil, e reconhece a qualquer Estado o direito de proibir em seu território a
entrada ou disposição de resíduos perigosos provenientes do exterior ou mesmo de outros resíduos, assim como coíbe,
de um modo geral, movimentos transfronteiriços dessa natureza, especialmente em países em desenvolvimento.
60  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Além disso, resta estabelecido nessa Lei paulista que a responsabilidade pela destinação
final do lixo tecnológico será “solidária” entre as empresas produtoras, comercializadoras
ou importadoras de produtos e componentes eletroeletrônicos, o que destoa, de certo modo,
da sistemática da responsabilidade “compartilhada” trazida pela PNRS, que considera atri-
buições “individualizadas e encadeadas” para cada elo da cadeia produtiva, excepcionando
assim o regime geral da solidariedade obrigacional diante do dano ambiental. Em razão
disso, é possível que a referida Lei estadual passe por uma atualização, em conformidade
com as diretrizes dadas pela PNRS.
Já no Espírito Santo, a Lei Estadual n° 9.941, de 29 de novembro de 2012, editada pos-
teriormente à promulgação da PNRS, dispõe sobre normas e procedimentos para a coleta
seletiva, o gerenciamento e a destinação final do “lixo tecnológico”4 no Estado, instituindo
inclusive a obrigatoriedade de pontos de coleta seletiva para produtos e componentes ele-
troeletrônicos, em todos os estabelecimentos comerciais que comercializam, representam
ou fabricam produtos eletroeletrônicos no âmbito estadual.
É interessante notar que, em seu art. 7°, a referida Lei do Estado do Espírito Santo es-
tatui que a destinação final do lixo tecnológico será de responsabilidade “solidária” entre
as empresas que comercializam e as fabricantes que fornecem os produtos para comerciali-
zação no Estado, e que nos casos de produtos importados, a responsabilidade solidária será
atribuída entre a empresa que comercializa e a empresa importadora. Conforme já apontado
em relação à Lei Paulista de Lixo Tecnológico, essa imputação de responsabilidade solidária
aos produtores, comerciantes e importadores também diverge da sistemática da responsabi-
lidade compartilhada estabelecida pela PNRS, merecendo reflexão e eventual atualização.
Na esfera municipal, um exemplo regulatório recente é o da Lei do Lixo Tecnológico
do Município de Manaus (Lei n° 1.705, de 27 de dezembro de 2012), que define lixo tec-
nológico em seu artigo 1°, parágrafo único,5 e estabelece, em seu art. 2°, que as empresas
produtoras, importadoras ou que comercializem tais produtos “deverão apresentar ao órgão
de proteção ambiental municipal, em conjunto ou individualmente, projeto de coleta, reutili-
zação, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequados ou mecanismo
de custeio para esse fim”, devendo ser previstos nesses projetos mecanismos eficientes de

4
 “Art. 4° Para efeitos desta Lei, consideram-se lixo tecnológico: I - aparelhos eletrodomésticos; II - sistemas
de rede; III - parques de telefonia; IV - equipamentos e componentes eletroeletrônicos de uso doméstico; V
- equipamentos e componentes eletroeletrônicos de uso industrial; VI - equipamentos e componentes eletroele-
trônicos de uso comercial; VII - equipamentos e componentes eletroeletrônicos utilizados no setor de serviços
tais como: a) componentes e periféricos de computadores; b) monitores e televisores; c) acumuladores de energia
(baterias e pilhas); d) produtos magnetizados”.
5
 “Parágrafo único. Considera-se lixo tecnológico os resíduos gerados pelo descarte de equipamentos tecnológicos
de uso profissional, doméstico ou pessoal, inclusive suas parte e componentes, especialmente: I – computadores
e seus equipamentos periféricos, tais como monitores de vídeo, telas, displays, impressoras, teclados, mouses,
alto-falantes, drivers, modens, câmeras e outros; II – televisores e outros equipamentos que contenham tubos
de raios catódicos; III – eletrodomésticos e eletroeletrônicos que contenham metais pesadas ou outras subs-
tâncias tóxicas”.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  61

informação aos consumidores sobre a necessidade e a importância do descarte adequado


dos resíduos eletroeletrônicos.
Por fim, no âmbito do Comitê Orientador para Implantação da Logística Reversa (CORI),
vale destacar a criação de cinco Grupos Técnicos Temáticos em 2011, os quais discutem a
logística reversa para cinco cadeias prioritárias de resíduos, a fim de fornecer subsídios para
os editais de chamamento de seus acordos setoriais: GTT01 – Descarte de Medicamentos
(coordenado pelo Ministério da Saúde); GTT02 – Embalagens em geral (coordenado pelo
Ministério do Meio Ambiente - MMA); GTT03 – Embalagens de óleos lubrificantes e seus
resíduos (coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); GTT04 –
Eletroeletrônicos (coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior); GTT05 – Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista
(coordenado pelo MMA).
Por meio da Deliberação CORI n° 7/2012, de 19 de dezembro de 2012, publicada em 3
de janeiro de 2013, foi aprovada a viabilidade técnica e econômica da implantação do siste-
ma de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e seus componentes, de acordo com a
avaliação efetuada por seu Grupo Técnico Assessor (GTA), pressuposto para que se seguisse
a publicação do respectivo edital de chamamento, cuja iniciativa coube ao poder público.
Em 13 de fevereiro de 2013, restou finalmente publicado o Edital de Chamamento n°
1/2013, conclamando fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos
eletroeletrônicos e seus componentes, para a elaboração e apresentação de propostas de
Acordo Setorial, ao MMA, no prazo de 120 dias a contar de sua publicação, visando à
implantação de Sistema de Logística Reversa de abrangência nacional para tais produtos.
Em consonância com o Decreto n° 7.404/2010 (art. 20, § 3°), o Edital n° 1/2013 pre-
vê em seu item 4.3 que tais propostas de Acordo Setorial poderão ser elaboradas com a
participação das cooperativas ou outras formas de associações de catadores de materiais
recicláveis ou reutilizáveis, das indústrias e entidades dedicadas à reutilização, ao tratamento
e à reciclagem dos REEE, das entidades de representação dos consumidores, e também do
poder público federal, estadual e municipal.
No que concerne ao seu objeto, o Edital de Chamamento ora analisado se restringe
apenas aos resíduos provenientes de produtos eletroeletrônicos de uso doméstico e seus
componentes cujo adequado funcionamento dependa de correntes elétricas com tensão
nominal não superior a 220 V, os quais não abrangem aqueles de origem, uso ou aplicação
em serviços de saúde, conforme consignado em seu item n° 2.
De acordo com o Edital n° 1/2013, as propostas de Acordo Setorial dos resíduos ele-
troeletrônicos a serem submetidas ao MMA no prazo indicado deveriam necessariamente
apresentar todos os requisitos previstos em seu item n° 6, dentre os quais vale destacar a
discriminação das várias etapas do sistema de logística reversa, de sua operacionalização e
do conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos participantes do sistema no
processo de recolhimento, armazenamento, transporte e destinação final ambientalmente
adequada, bem como as formas de participação do consumidor de modo a maximizar a
entrega e eliminar o descarte inadequado de REEE.
62  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Também deveriam ser estabelecidas nessas propostas de Acordo Setorial as metas de


implantação progressiva do sistema de logística reversa para um prazo de cinco anos a
contar da assinatura do Acordo, com abrangência nacional, exigindo-se, dentre outros
requisitos específicos e obrigatórios, que se atingissem diretamente, até o quinto ano após a
sua assinatura, 100% dos Municípios com população superior a 80.000 habitantes, nos
quais a destinação final ambientalmente adequada deveria abranger 100% dos resíduos
recebidos.
Já em relação às metas quantitativas de recebimento, recolhimento e destinação final,
deveriam ser atingidos, até o quinto ano após a assinatura do Acordo Setorial, o recolhimento
e a destinação final ambientalmente adequada de, no mínimo, 17%, em peso, dos produtos
eletroeletrônicos em comento que houvessem sido colocados no mercado nacional no ano
anterior ao da assinatura do Acordo, devendo ser apresentada metodologia para conversão
de unidades em peso para os produtos objeto do Edital n° 1/2013. No mais, deveriam ser
previstas ainda as penalidades aplicáveis em face de eventual descumprimento das obriga-
ções consignadas no referido Acordo Setorial.
Em 12 de junho de 2013, no último dia do prazo previsto no referido Edital de Cha-
mamento, foram entregues à avaliação do Ministério do Meio Ambiente quatro propostas
de Acordo Setorial para a instituição do sistema de logística reversa dos REEE no país,
contemplando as especificidades no descarte das diferentes categorias de produtos eletro-
eletrônicos, tais como celulares, computadores, televisões e eletrodomésticos de grande
porte, conforme noticiado no site do próprio MMA (TOLENTINO, 2013).
Na sequência, nos termos do Decreto n° 7.404/2010, as propostas de acordo setorial
encaminhadas serão ainda objeto de consulta pública, na forma definida pelo CORI,
a quem caberá, concluída a avaliação a ser realizada pelo MMA (art. 26), finalmente:
I - aceitar a proposta, convidando os representantes do setor empresarial para assina-
tura do acordo setorial; II - solicitar complementação à proposta de acordo setorial; ou
III - determinar o arquivamento do processo, quando inexistir consenso na negociação
do acordo.
Vale lembrar que, sem prejuízo do disposto sobre os acordos setoriais, a logística reversa
poderá ainda ser implantada diretamente por regulamento, veiculado por decreto editado
pelo Poder Executivo, o que não dispensará, todavia, a exigência de prévia avaliação da
viabilidade técnica e econômica da logística reversa pelo CORI, nem de consultas públicas
previamente realizadas (arts. 30 e 31, do referido Decreto).

4.5  Considerações finais

1. Historicamente, a geração de resíduos, em maior ou menor escala, das mais variadas


origens e espécies, desde os vestígios arqueológicos até os modernos resíduos eletroe­
letrônicos, com diferentes impactos ambientais, pode ser compreendida como inerente
à própria vida humana e ao desenvolvimento de suas relações sociais.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil  63

2. No contexto da PNRS e da responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos, o resíduo


pós-consumo, assim como o rejeito, passa a apresentar natureza jurídica de bem socio­
ambiental, dotado de dupla titularidade, incompatível com a concepção tradicional de res
derelictae, que conduziria fatalmente à irresponsabilidade do proprietário ou possuidor
que viesse a abandonar a coisa anteriormente havida sob sua titularidade, não obstante
os nocivos efeitos de sua disposição inadequada, para o meio ambiente em si e para a
saúde pública.
3. Sob o paradigma da sustentabilidade (ambiental, social e econômica), a alteração nos pa-
drões de produção e de consumo, e o reconhecimento da responsabilidade pós-consumo
tornam-se essenciais para a manutenção da vida das presentes e das futuras gerações,
notadamente em relação ao segmento de eletroeletrônicos, muitas vezes marcado por
práticas de obsolescência programada ou planejada.
4. Com fundamento na PNRS e na ideia de função socioambiental (seja da propriedade,
seja da posse), o design sustentável do produto deverá ser buscado especialmente no
desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos duráveis, a fim de prevenir e reduzir
ao máximo possível a geração de REEE, que podem resultar em graves impactos ambien-
tais e à saúde pública, ora em razão de sua composição potencialmente perigosa, ora por
sua facilidade de acumulação em volumes expressivos em locais inadequados, devendo
ser estimulada, após o uso desses equipamentos, a sua reutilização, reciclagem ou outra
forma de destinação final ambientalmente adequada, também sob uma perspectiva de
oportunidade, para evitar o desperdício de recursos valiosos.
5. Comparativamente a outros tipos de resíduos sujeitos à logística reversa, ainda se
mostra bastante tímida a regulamentação dos resíduos eletroeletrônicos no Brasil,
inexistindo nos dias atuais um marco regulatório federal que forneça uma simples
definição do que sejam propriamente os REEE, não obstante algumas experiências
legislativas estaduais e municipais, e mesmo com o advento da PNRS que finalmente
incluiu os produtos eletroeletrônicos e seus componentes no rol das espécies de
resíduos abrangidas pelas regras de logística reversa obrigatória, ao mesmo tempo em
que sinaliza a progressividade de sua implementação segundo cronograma ainda a ser
estabelecido em regulamento, o que significa, na prática, postergar a sua exigência
diante das dificuldades técnicas, regulatórias e operacionais previstas, a despeito
da franca expansão de sua produção, consumo, descarte e desdobramentos socioam-
bientais no país.
6. No que diz respeito ao atual estágio do procedimento de implantação dos sistemas de
logística reversa dos eletroeletrônicos no país, delineado pela PNRS e pelo seu Decreto
Regulamentador, vale registrar que, em 12 de junho de 2013, foram finalmente entre­
gues para a avaliação do MMA quatro propostas de acordo setoriais para a instituição
da logística reversa dos REEE em âmbito nacional, conforme os requisitos mínimos
estabelecidos no respectivo Edital de Chamamento e na legislação pertinente, as quais
serão objeto de consulta pública, na forma definida pelo CORI, contemplando as espe­
cificidades das diversas categorias de produtos eletroeletrônicos.
64  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

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______. Directiva n° 2011/65/UE, de 8 de junho de 2011. Disponível em: <eur-lex.europa.eu/LexUriServ/
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______. Diretiva n° 2012/19/UE, de 4 de julho de 2012. Disponível em: <eur-lex.europa.eu/LexUriServ/
LexUriServ.do?uri=OJ:L:2012:197:0038:0071:PT:PDF>. Acesso em: 8 jan. 2013.
WALDMAN, M. Lixo: cenários e desafios. São Paulo: Cortez, 2010.
Capítulo 5
Elementos
Econômicos
da Gestão de Resíduos
Eletroeletrônicos
Patricia Guarnieri, Sonia Seger

RESUMO

Antes mesmo de validar alternativas tecnológicas ou ambientalmente viáveis, o em-


preendedor deve investigar as perspectivas econômicas que evidenciem sinais de viabilidade
para a manutenção da gestão de resíduos como um negócio sustentável, ambiental e
economicamente. Este capítulo tem como objetivo abordar questões relativas aos impactos
econômicos da gestão de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Mesmo sem um maior
aprofundamento em ferramentas da economia e contabilidade, o capítulo visa apresentar
alguns dos principais indicadores de sustentabilidade de empreendimentos no setor.

5.1 Introdução

A pujança econômica possibilitada pela trajetória humana de apropriação de recursos,


energia e de criação e transformação científica e tecnológica trouxe consigo consequências
sobre as quais não se pode dizer que são totalmente imprevistas. Entre elas, a explosão da
população de humanos, a brutal desigualdade que divide aqueles que de fato tem acesso a
esta pujança daqueles que jamais a terão e, sobretudo, para os objetivos desta discussão,
uma produção crescente e cada vez mais complexa de resíduos, da produção e do uso, dos
recursos e dos bens e serviços oriundos dos processos produtivos. A produção dos resíduos 67
68  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

de equipamentos eletroeletrônicos (REEEs), uma categoria bastante recente, reflete de forma


cristalina este processo, que parece, muitas vezes, escapar do controle.
Para refletir sobre a gestão dos REEEs, torna-se necessário abordar elementos da análise
econômica e, também, financeira, uma vez que se trata de caracterizar o potencial de revalo-
rização de uma série de componentes que integram estes resíduos e sua reinserção no ciclo
de produção, ou de circulação (ou ambos). Há algum tempo, identificou-se a oportunidade
e, mais do que isso, tornou-se necessário, frente à velocidade com que o volume deste tipo
de descarte se multiplica, encontrar meios de frear a superexploração de materiais finitos,
a contaminação ambiental, que parte desses mesmos materiais pode produzir, e o abuso do
espaço urbano, cuja utilização poderia se dar para finalidades muito mais urgentes e nobres,
como a habitação popular, em lugar da mera deposição de resíduos sólidos, por meio da
revalorização dos resíduos eletroeletrônicos.
Uma possível futura escassez de insumos utilizados na produção dos componentes dos
equipamentos eletroeletrônicos deve ser também objeto da atenção da sociedade. Diversas
empresas têm visto na reciclagem dos materiais constituintes a oportunidade de criar um
nicho de mercado, ao passo que esperam contribuir para mitigar o risco de escassez, o que
tem motivado o “garimpo urbano”. Entre esses constituintes, muitos são considerados metais
preciosos como ouro, prata, cobre, chumbo, entre outros, possuindo alto valor de negociação,
não se justificando a sua simples destinação final. A revalorização desses metais por meio
da reciclagem passa a ser uma possibilidade vantajosa, sob o ponto de vista econômico.
Em uma trajetória de consolidação de um conjunto de políticas há muito reivindicadas
pela sociedade brasileira, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi promulgada
pelo governo Lula em 2010. Nesta norma foram estabelecidos critérios para regulamentar
a destinação ambientalmente adequada dos REEEs, obrigando esta cadeia de produtos à
implantação da logística reversa como parte do atendimento a estes critérios. A PNRS es-
tabelece ainda a responsabilidade compartilhada, que abrange todos os atores responsáveis
pela geração e gestão dos REEEs, incluindo: fabricantes, importadores, comerciantes,
consumidor final e poder público. Diante das obrigações estabelecidas e dos atores envol-
vidos, acredita-se que crescerá progressivamente a importância da abordagem econômica
das medidas aplicáveis à gestão dos REEEs. Em fevereiro de 2013, foi publicado pelo
Ministério do Meio Ambiente (MMA) o edital de chamamento para acordos setoriais no
segmento de eletroeletrônicos. Os acordos setoriais constituem-se em um instrumento da
PNRS para viabilizar a efetiva implementação da logística reversa de REEEs do ponto de
vista da responsabilidade compartilhada.
Da perspectiva da Sociedade, este capítulo tem por objetivo apresentar elementos para a
discussão, bem como introduzir algumas noções econômicas, com vistas a subsidiar futuras
análises sobre a gestão dos REEEs, tendo por premissa a inclusão do seu reaproveitamento
como uma das medidas de maior potencial positivo. Potencial que se aplica não apenas ao
encaminhamento de ações de prevenção ou mitigação dos impactos ambientais decorrentes
do consumo e do descarte, mas que se mostra também como forma de organizar e prover
os meios de produção passíveis de apropriação pela enorme massa excluída do mundo do
trabalho formal – os catadores de recicláveis.
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  69

Do ponto de vista do empreendedor, considera-se que, mesmo antes de validar alterna-


tivas tecnológica ou ambientalmente viáveis, ele deve buscar informações e ferramentas
que possam sinalizar o potencial de viabilidade da gestão de resíduos como um negócio
sustentável, ambiental e economicamente interessante. Dessa perspectiva, o capítulo tem
como objetivo abordar questões relativas aos impactos econômicos da gestão de resíduos
de equipamentos eletroeletrônicos e apresentar uma contribuição no sentido de evidenciar
os principais indicadores de sustentabilidade de empreendimentos no setor.

5.2  Valoração dos materiais e do processo

Em geral, a parte mais difícil da reintrodução de materiais descartados no sistema pro-


dutivo, assim como outras medidas cujo caráter as aproxima do conceito de “bem público”,
é a valoração monetária dos materiais residuais e a consequente avaliação da viabilidade
econômica dos processos, projetos, programas e ações necessárias e envolvidas nessa rein-
trodução. Neste caso, a visão neoclássica recorre ao conceito de “falha de mercado” para
explicar que o Estado deve assumir a responsabilidade de solucionar as contradições que o
mercado não é capaz. Assim ocorre com os ditos “serviços ambientais”, entre os quais se
pode incluir, em alguma medida, a gestão dos resíduos sólidos. Apenas nessa visão seria
possível atribuir custos e preços a fatores que não se prestam à comercialização pura e
simples, pois a ninguém pertencem e por ninguém podem ser recusados. Outros conceitos
serão apresentados e discutidos neste capítulo, tendo em mente que se inserem em uma
determinada escola de pensamento, com finalidades bastante objetivas. E embora esta visão
não seja a única, é, no presente, hegemônica. A destinação ambientalmente adequada de
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) foi ordenada no país mediante critérios
estabelecidos pela PNRS, Lei Federal n° 12.305/2010, regulamentada pelo Decreto Federal
n° 7.404/2010.
No tocante às atribuições impostas pela PNRS ao segmento dos REEEs, a obrigatorie-
dade da implantação de sistemas de logística reversa pareceu, num primeiro momento, um
grande desafio para as empresas produtoras de equipamentos eletroeletrônicos. Porém, a
regulamentação especifica que a responsabilidade pela gestão desses resíduos deve se dar
de forma compartilhada entre os diferentes agentes da cadeia reversa. O que não significa
que a responsabilidade seja menor para a indústria produtora, mas implica na negociação
de metas e ações, com o objetivo de tornar o sistema de destinação mais eficiente e com a
devida responsabilização por eventuais danos ou geração de passivos ambientais. A indústria
(produtora e recicladora), o comércio, os consumidores e os recicladores compartilharão
as responsabilidades, mas também os benefícios. A ocorrência desses benefícios e sua
potencial repartição tornam-se mais evidentes com a aplicação de ferramentas que permitam
a valoração econômica ao longo da gestão da cadeia reversa de resíduos tecnológicos.
Pela regulamentação, os agentes da cadeia produtiva direta e reversa são corresponsáveis
na gestão dos REEE. Recentemente, em fevereiro de 2013, foi publicado edital n° 01/2013
pelo MMA convocando fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos
70  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

eletroeletrônicos e seus componentes, para a elaboração de proposta de Acordo Setorial


visando à implantação de sistema de logística reversa de abrangência nacional para a ges-
tão dos REEEs. Este mesmo edital estabelece que as empresas envolvidas devem efetuar o
recolhimento e a destinação final ambientalmente adequada de 17% (dezessete por cento),
em peso, dos produtos eletroeletrônicos colocados no mercado.
Os impactos ambientais e sociais, por sua vez, podem ser avaliados tanto por meio
de indicadores quantitativos quanto qualitativos. Na gestão de resíduos, de modo geral, a
mensuração dos indicadores quantitativos baseia-se na atribuição de valores monetários,
por meio dos quais tornam-se mais viáveis os métodos de comparação de desempenho
entre diferentes países, por exemplo. Nesse sentido, a valoração ambiental surge como um
instrumento de significativa importância na gestão que, apesar de não tão recente, presta-se
sobremaneira às necessidades econômicas e exigências legais. Esses dois últimos tópicos
suscitam os principais debates a respeito da gestão dos REEE e, ao mesmo tempo, per-
mitem a consolidação e validação das propostas para a gestão de resíduos tecnológicos.
Por fim, ressaltam-se os aspectos econômicos relacionados às questões socioambientais,
como a inserção de catadores na cadeia da logística reversa e a própria gestão de resíduos.

5.3  Abordagem legal e econômica

De acordo com a PNRS, o fluxo reverso de produtos e materiais pós-consumo deve


ocorrer a partir do descarte pelo consumidor até atingir a destinação final ambientalmente
adequada. Várias etapas estão compreendidas ainda entre o final da vida útil do equipa-
mento e a destinação. De acordo com a referida lei, entende-se como destinação final
ambientalmente adequada para os REEE: a reutilização, a reciclagem, a recuperação (ou
remanufatura) e a incineração de partes com o aproveitamento energético, entre outras
destinações permitidas pelos órgãos competentes. Somente devem ser dispostos em aterros
sanitários os resíduos considerados pela PNRS como “rejeitos”, os quais não são passíveis de
revalorização econômica alguma. Ainda assim, é necessária sua descontaminação antes da
disposição final, processo que, consequentemente, gera custos para as empresas envolvidas.
Apesar de a lei sugerir que o consumidor entregue o material residual ao comerciante,
(seja ele localizado no país, um distribuidor ou importador) que, por sua vez, entregará ao
fabricante, sabe-se que o fluxo nem sempre ocorre dessa forma. Por razões econômicas,
o fluxo seguramente iniciará no consumidor, que pode ser pessoa física ou jurídica, mas
pode seguir diretamente para uma indústria recicladora ou então ser entregue à uma coo-
perativa de catadores, ou ainda, ser revendido no mercado secundário e até mesmo doado.
Sendo que, desses agentes da cadeia reversa, a indústria recicladora não aparece de forma
evidente na PNRS.
A dificuldade de controle do retorno dos REEEs pela cadeia produtiva no Brasil deve ser
considerada, pois tendo em vista seu valor econômico mesmo após o equipamento deixar de
ter utilidade para o primeiro usuário, este dificilmente o retorna para a indústria, já que os
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  71

canais de venda ao mercado secundário e doação são muito presentes na cultura brasileira.
Além destes fatores, cabe ressaltar que muitos consumidores mantêm seus equipamentos
eletroeletrônicos obsoletos em suas residências por não terem conhecimento de como
destiná-los adequadamente e também por um relativo apego a estes bens.
Diante do exposto, fica evidente a importância da caracterização da função e importância
econômica de cada agente da cadeia no cumprimento dos preceitos legais. A Figura 5.1
apresenta um modelo para a organização da cadeia da logística reversa apresentado na
PNRS, segundo a ótica econômica.
Conforme a Figura 5.1, considerando o fluxo direto, a matéria-prima virgem é enviada
à indústria, após seus processos produtivos serem finalizados, os produtos eletroeletrônicos
são distribuídos por meio dos canais de venda dos comerciantes e distribuidores, aos quais o
consumidor tem acesso. Considerando o fluxo reverso, o qual inicia pelo descarte realizado
pelo consumidor, há duas opções: i) entrega do REEE diretamente a um reciclador e ii)
entrega do REEE nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) disponibilizados nos canais
de venda (comerciante e distribuidor). Por meio de ambas as opções o resíduo pode ser
revalorizado, pois após sua triagem e desmontagem, os componentes podem ser separados,
reciclados e voltar ao ciclo produtivo como matéria-prima secundária. Há estudos que
comprovam que, ao adquirir matéria-prima reciclada, as empresas obtêm de 20 a 25% de
economias, ou ganhos econômicos. As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam, respectivamente, a es-
timativa dos benefícios econômicos e ambientais gerados pela reciclagem dos componentes
dos REEEs e os custos dos insumos para produção primária.

Figura 5.1  Organização econômica da cadeia da logística reversa. Fonte: Adaptado a partir
da PNRS.
72  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

TABELA 5.1  Estimativa dos benefícios econômicos e ambientais gerados pela reciclagem.
Benefícios (custos)
Materiais Benefícios relacionados associados à Quantidade
ao processo produtivo gestão de resíduos Benefício disponível Benefício
(R$/t) sólidos (R$/t) por nos resíduos potencial
Benefícios Benefícios Disposi- tonelada coletados total (R$
econômicos ambientais Coleta ção final (R$/t) (t/ano) mil/ano)
Aço 127 74 88 1.014 89.232
Alumínio 2.715 339 2.941 166 488.206
Celulose 330 24 (136) 23 241 6.934 1.671.094
Plástico 1.164 56 1.107 5.263 5.826.141
Vidro 120 11 18 1.110 19.980
Total 8.094.653
Fonte: IPEA (2010).

TABELA 5.2  Custos dos insumos para produção primária, preços de produtos e de sucata.
Materiais Custos da produção Preços de mercado Preços das sucatas
primária (R$/t) dos materiais (R$/t) de material de reciclagem (R$/t)
Aço 552 932 423
Alumínio 6.162 4.725 3.447
Celulose 687 879 356
Plástico 1.790 2.186-3.516 440-750
Vidro 263 1.036 142
Fonte: IBGE (2007b); CEMPRE (2007).

Percebe-se, observando as tabelas 5.1 e 5.2, as economias geradas com a aquisição de ma-


teriais provenientes da reciclagem, bem como os benefícios ambientais gerados pela redução
da extração destes recursos diretamente da natureza. Sem dúvida, estes benefícios aliados
constituem-se em motivação para a adoção de materiais recicláveis no procsso produtivo.

5.4  Barreiras e oportunidades

De acordo com os preceitos de funcionamento de mercados concorrenciais, quanto mais


disponível estiver determinado produto, menor tenderá a ser o seu preço. Nessa relação
inversamente proporcional, o preço aumenta em função da escassez do produto. Na etapa
anterior, de produção, a proximidade entre unidade produtiva, a disponibilidade dos insumos
e matéria-prima, bem como a proximidade com o cliente, são importantes parâmetros que
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  73

impactarão a composição do custo final, mantendo a relação de proporcionalidade inversa


entre escassez e preço/custo.
Em termos da gestão de resíduos, a pulverização observada na distribuição e consumo de
determinado produto tende a refletir o mesmo padrão no descarte pós-consumo. Neste exemplo,
como no anterior, o custo de coleta e destinação de produtos dispersos em dada região geo-
gráfica tende a ser maior do que aqueles cuja coleta e destinação ocorre de forma centralizada.
Por outro lado, na fase pós-consumo, os produtos necessitam ser desmontados e cada
parte ou peça seguirá para um destino diferenciado. Neste caso, torna-se necessário obter
economias de escala para tornar viável o processo. Em outras palavras, há necessidade de
aumento de volume de produto (reciclável) para gerar vantagem econômica no transporte e
processamento dos materiais residuais, o que, por sua vez, exige espaço para armazenagem
de peças e partes até se atingir os níveis mínimos estabelecidos pelas empresas recicladoras.
Barreiras relatadas por fabricantes e recicladores de resíduos eletroeletrônicos consistem
na burocracia vinculada à identificação dos materiais residuais, com vistas ao transporte,
bem como na ampla diversidade de documentos exigidos para atender às diferentes deman-
das legais de cada estado do país pelo qual for necessário trafegar.
Para fins de identificação dos materiais ou produtos residuais transportados, há, por
vezes, orientação da Secretaria de Fazenda para que o Código Fiscal de Operações e Pres-
tações (CFOP) do material ou produto seja o n° 5.940 que indica “Outra saída de mercadoria
ou prestação de serviço não especializado”, no qual “Classificam-se neste código as outras
saídas de mercadorias ou prestações de serviços que não tenham sido especificados nos
códigos anteriores.” Em outras palavras: uma classificação genérica, atribuída por um
documento legal estabelecido em 1970, trata da forma como os resíduos eletroeletrônicos
são identificados para fins de transporte no presente.

5.4.1  Penalizações e Incentivos econômicos e fiscais

No que se refere às penalizações mediante o não atendimento à legislações ambientais,


a Lei n° 9.605/1998, que trata dos Crimes Ambientais, amplia a tipificação desses crimes
e estabelece sanções administrativo-penais resultantes de atividades e comportamentos
nocivos ao meio ambiente. Conforme o art 3°, parágrafo único, da referida lei, “a res-
ponsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou
partícipes do mesmo fato”.
As penas previstas às pessoas jurídicas que desrespeitarem a Lei n° 9.605/1998 são:
j Multa.
j Restritivas de direitos: suspensão parcial ou total de atividades; interdição temporária
de estabelecimento, obra ou atividade; proibição de contratar com o Poder Público, bem
como dele obter subsídios, subvenções ou doações.
j Prestação de serviços à comunidade: manutenção de programas e de projetos ambientais;

execução de obras de recuperação de áreas degradadas; manutenção de espaços públicos;


contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
74  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Ainda estabelece o art. 54, § 2°, inciso V desta lei, que é prevista: “pena de reclusão,
de um a cinco anos, para aquele que causar poluição de qualquer natureza, decorrente do
lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas”. Além disso, o art. 56 prevê: “pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa para
aquele que produz, processa, embala, importa, exporta, comercializa, fornece, transporta,
armazena, guarda, tem em depósito ou usa produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva
à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em
leis ou nos seus regulamentos e também para aquele que abandona esses produtos ou subs-
tâncias, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança”.
Quanto aos incentivos econômicos, é importante destacar a Lei n° 12.375 de 2010, que
determina que os estabelecimentos industriais farão jus, até 31 de dezembro de 2014, a crédito
presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – na aquisição de resíduos sólidos
utilizados como matérias-primas ou produtos intermediários na fabricação de seus produtos.
Conforme o Art. 6° da referida lei, o crédito presumido desta Lei:
I – será utilizado exclusivamente na dedução do IPI incidente nas saídas dos pro-
dutos que contenham resíduos sólidos em sua composição;
II – não poderá ser aproveitado se o produto que contenha resíduos sólidos em
sua composição sair do estabelecimento industrial com suspensão, isenção ou
imunidade do IPI;
III – somente poderá ser usufruído se os resíduos sólidos forem adquiridos direta-
mente de cooperativa de catadores de materiais recicláveis com número mínimo
de cooperados pessoas físicas definido em ato do Poder Executivo, ficando vedada,
neste caso, a participação de pessoas jurídicas; e
IV – será calculado pelo adquirente mediante a aplicação da alíquota da TIPI a que
estiver sujeito o produto que contenha resíduos sólidos em sua composição sobre o
percentual de até 50% (cinquenta por cento) do valor dos resíduos sólidos constantes
da nota fiscal de aquisição, observado o § 2o do art. 5o desta Lei.

5.4.2 A importância da economia na logística reversa

O conceito de logística reversa apresentado na PNRS permite evidenciar a vinculação


entre os aspectos econômicos e sociais nesta prática. No entanto, é importante acrescentar
que o processo de Logística Reversa possui três dimensões principais, que devem ser des-
tacadas: logística, financeira e ambiental:
j Do ponto de vista logístico, o ciclo de vida de um produto não se encerra com a sua en-
trega ao cliente. Produtos que se tornam obsoletos, danificados ou não funcionam devem
retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou
reaproveitados e revalorizados;
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  75

j Do ponto de vista financeiro, existe o custo relacionado ao gerenciamento do fluxo


reverso, que se soma aos custos de compra de matéria-prima, de armazenagem, trans-
porte e estocagem e de produção já tradicionalmente considerados na Logística. Ademais
existem também valores gerados com a venda dos resíduos e economias obtidas com
a compra de matéria-prima reciclada, os quais podem ser considerados como receitas
ambientais e, consequentemente, geram resultados econômicos;
j Do ponto de vista ambiental, devem ser considerados, e avaliados, os impactos do

produto sobre o meio ambiente durante toda sua vida. Este tipo de visão sistêmica é
importante para que o planejamento da rede logística envolva todas as etapas do ciclo
do produto.
Infelizmente, muitas empresas ainda veem o fluxo reverso de mercadorias como um
entrave ao processo de negócios, que demanda pessoal, estrutura física e, consequentemente,
aumenta os custos da empresa. Em parte, esse entendimento provém da não utilização de
sistemas contábeis e de tomada de decisão que auxiliem os gestores na evidenciação dos
valores movimentados por esta área. Entretanto, existem retornos econômicos, ecológicos
e de imagem corporativa que o gerenciamento do fluxo reverso pode proporcionar e que
devem ser considerados.

5.5  Produtos pós-consumo e resíduos na logística reversa


de REEEs

O processo reverso da gestão de resíduos tecnológicos compreende, de forma sim-


plificada, as etapas de recolhimento, triagem, separação e destinação. Como destinação há
diferentes processos que podem ser escolhidos conforme o tipo e condição do material ou
produto, tais como: reúso, reciclagem, remanufatura, incineração, doação, venda ao mercado
secundário ou encaminhamento para aterro.
A PNRS possui basicamente dois eixos principais. Um é a consolidação de uma me-
todologia para a gestão pública e integrada de resíduos por meio da elaboração de Planos
de Gestão e o segundo é a proposição de Sistemas de Logística Reversa que priorizem a
recolha e destinação dos resíduos considerados especiais. Os REEE, classificados como
resíduos especiais, possuem potencial de valorização dos materiais que os constituem por
meio da identificação e segregação de materiais com alto valor de mercado. No entanto,
nem sempre os volumes coletados são suficientes para fomentar investimentos nessa cadeia.
Para destinação de resíduos pós-consumo, existem dois tipos de canais de distribuição
reversos: de ciclo aberto e de ciclo fechado. Os de ciclo aberto caracterizam-se pelo retorno
dos materiais de pós-consumo como metais, plásticos, vidros, papéis, embalagens, e outros
ao ciclo produtivo na forma de matéria-prima, utilizada na fabricação de novos bens, dis-
tintos do original. Nesse caso há um foco na matéria que constituirá os novos produtos,
mas não nos produtos em si.
76  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Os canais de ciclo fechado são caracterizados pelo retorno de resíduos de pós-consumo


e pós-venda de um determinado produto, quando ocorre a extinção da sua utilidade pelo
primeiro consumidor, sendo dele extraído o material constituinte de forma seletiva para a
fabricação de outro similar ao de origem. Podem ser citados como exemplo dos resíduos
característicos dos canais reversos de ciclo fechado, os componentes dos resíduos ele-
troeletrônicos, pilhas e baterias, os quais possuem metais preciosos com alto potencial de
recuperação e valor agregado.

5.5.1 O valor do resíduo na cadeia reversa

Os resíduos já representam, há muitas décadas, fonte de recursos para pessoas em


situação de vulnerabilidade social. Os resíduos são descartados ao chegarem ao final de
sua vida útil, o que nem sempre significa o fim de suas funcionalidades. Apesar de uma
parcela dos equipamentos eletrônicos ser descartada a partir de mau funcionamento, há
ainda aqueles que são descartados por razões de obsolescência tecnológica, ou seja, suas
funções possuem defasagem em relação às funções de equipamentos novos. Geralmente
esses equipamentos passam pelo processo de consumo em cascata que significa o repasse
dos produtos para o consumo por indivíduos que não poderiam adquirir um produto novo.
Esse exemplo é observado no consumo, por exemplo, de refrigeradores que tem sua vida
útil ampliada por meio da doação sucessiva para pessoas mais pobres.
O fluxograma do ciclo dos resíduos eletroeletrônicos pode ser visualizado na Figura 5.2.

Figura 5.2  Fluxograma do Ciclo do Resíduo Eletroeletrônico. Fonte: E-waste guide (2009).
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  77

No Brasil, os principais participantes do fluxo reverso dos eletroeletrônicos são os


catadores de materiais recicláveis, os sucateiros, as indústrias de reciclagem, os aterros,
os produtores e os distribuidores (Figura 5.2).
Os catadores de materiais recicláveis desempenham funções em duas diferentes etapas
do ciclo de do resíduo eletroeletrônico: na coleta e na recuperação do material reciclável.
Eles coletam materiais provenientes dos agentes consumidores e centros de recondicio-
namento, encaminhando-os, para a limpeza pública. Por outro lado, contribuem com a
recuperação do material por meio da desmontagem dos equipamentos recebidos por as-
sistências técnicas ou por outros agentes, já mencionados, e da venda de peças para os
sucateiros e empresas de recuperação e reciclagem. Além disso, os sucateiros atuam na
etapa de recuperação dos equipamentos, realizando a desmontagem do material recebido
pelos catadores de recicláveis, assistências técnicas e centros de recondicionamento, e,
posteriormente, vendendo as peças que possam ser reaproveitadas para as empresas de
recuperação e reciclagem. Já as indústrias de reciclagem recebem peças dos catadores
de recicláveis e sucateiros para a montagem de novos equipamentos, que retornarão ao
mercado consumidor. O material não aproveitado é encaminhado para a disposição. Os
aterros funcionam, no caso do resíduo eletroeletrônico, como locais de disposição final
para os resíduos gerados. Dessa forma, eles receberão materiais da limpeza pública, do
transporte privado e das empresas de recuperação e reciclagem. O local de disposição final
será definido de acordo com as possibilidades e necessidades de cada região ou município.
Os produtores e distribuidores atuam no início do ciclo do resíduo eletroeletrônico, a
partir da fabricação e distribuição dos EEEs. Assim, são os produtores e distribuidores que
possibilitam o consumo desses equipamentos pelos agentes consumidores (residências,
empresas públicas e empresas privadas).
Por serem indesejados, os produtos pós-consumo tem sua posse transferida do consu-
midor para outros, conforme Figura 5.3.
O produto pós-consumo é aquele que não apresenta mais utilidade para o respectivo
consumidor, podendo ou não ser caracterizado como resíduo. Um produto pós-consumo,
conforme o caso dos refrigeradores ilustrado anteriormente, ainda pode permanecer na
cadeia de valor por meio da restauração de suas funcionalidades e, desse modo, o consumo

Figura 5.3  Transferência de posse no descarte de produtos. Fonte: Elaboração própria.


78  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

acontece por meio de um consumidor secundário. Nesse caso, apesar de haver a depreciação
esperada do valor do bem, o mesmo não chega a ser considerado um resíduo.
O produto pós-consumo pode atingir o estágio no qual passa a não apresentar possibili-
dade de utilização segundo sua função original e, por este motivo, passa a ser considerado
um resíduo, seguindo para o descarte convencional, quando possível. Nesse estágio, não
havendo restrições, o resíduo é coletado por meio de empresas de limpeza pública, ou seja,
passa a ser propriedade do poder público, Nesse estágio, o produto passa a ter mais valor
agregado como resíduo do que em relação aos benefícios dos aspectos funcionais que um
dia ele possuiu.
Há ainda outras situações nas quais, ainda classificados como resíduos, os materiais
provenientes da desmontagem do produto apresentam valor de mercado. A compra desses
materiais residuais por associações e cooperativas de catadores ou pelas próprias indústrias
da reciclagem representa o estágio de valorização dos destroços, estimulando o processo
de reaproveitamento de materiais residuais.
A Tabela 5.3 mostra os principais componentes existentes nos computadores, sua loca-
lização, o percentual de cada material no computador, o percentual que pode ser reciclado
e o valor de mercado disponível para alguns metais por kg.
Entre os metais citados na Tabela 5.3, alguns são mais valiosos, como ouro, paládio,
platina e prata, oriundos de placas de circuito impresso presente em computadores pessoais,
no entanto o processo para retirada desses materiais não é simples e requer tecnologia e co-
nhecimento apropriados. A maioria das empresas que detém essa tecnologia está localizada
na Europa.

5.6  Ferramentas clássicas da economia e administração


financeira e sua aplicação à gestão de REEE

A fim de planejar e implementar de forma economicamente viável as atividades de


logística reversa dos REEE, é necessário integrar ferramentas clássicas da economia e
administração financeira, as quais são descritas em detalhes nas seções seguintes.

5.6.1 Retorno sobre o investimento (ROI)

O método de análise do retorno sobre o investimento (ROI) é uma ferramenta bastante


consolidada que permite a avaliação do desempenho de determinado investimento, mediante
medição a posteriori. Realiza-se a comparação entre o retorno previsto e o retorno realizado.
A diferença entre esses últimos consiste na taxa de retorno ou retorno sobre o investimento
(ROI). Em outras palavras, o retorno permite quantificar o valor do investimento em análise.
Geralmente, esse valor é expresso em percentagem.
Sua aplicação na gestão de resíduos eletroeletrônicos pode ser de grande utilidade na
definição do investimento no estabelecimento de infraestrutura para unidades de transporte,
armazenagem ou processamento de REEE.
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  79

TABELA 5.3  Componentes dos computadores e % de reciclagem.


Metal pesado Parte onde é encontrado % Em relação ao % Reciclável Preço por
peso kg (*)
Alumínio Estrutura, conexões 14,1723 80,00 0,24
Bário Válvula eletrônica 0,0315 0,00 —
Berílio Condutivo térmico, 0,0157 0,00 —
conectores
Cádmio Bateria, chip, semicondutor, 0,0094 0,00 0,24
estabilizadores
Chumbo Circuito integrado, soldas, 6,2988 5,00 0,01
bateria
Cobalto Estrutura 0,0157 85,00 0,02
Cobre Condutivo 6,9287 90,00 0,68
Cromo Decoração, proteção contra 0,0063 0,00 —
corrosão
Estanho Circuito integrado 1,0078 70,00 0,20
Ferro Estrutura, encaixe 20,4712 80,00 0,02
Gálio Semicondutor 0,0013 0,00
Germânio Semicondutor 0,0016 60,00 0,20
Índio Transistor, retificador 0,0016 60,00 —
Manganês Estrutura, encaixes 0,0315 0,00 —
Mercúriio Bateria, ligamentos, termos- 0,0022 0,00 —
tatos, sensores
Níquel Estrutura, encaixes 0,8503 80,00 0,18
Ouro Conexão, condutivo 0,0016 99,00 0,40
Prata Condutivo 0,0189 98,00 0,21
Sílica Vidro 24,8803 0,00 0,12
Tântalo Condensador 0,0157 0,00 —
Titânio Pigmentos 0,0157 0,00 —
Vanádio Emissor de fósforo vermelho 0,0002 0,00 —
Zinco Bateria 2,2046 60,00 —

* Valores por kg; (—) sem informações.


Fonte: Adaptado de MCC – Microeletronics and Computer Technology Corporation (2007) e Miguez (2010).

O cálculo do ROI possui diversas metodologias, algumas simples, outras nem tanto.
Cada metodologia varia em função da finalidade ou do enfoque que se deseja dar ao
resultado. A seguir estão algumas das mais conhecidas e facilmente encontradas em livros
de Contabilidade, Economia e Finanças.
j ROI = (Lucro Líquido÷Vendas) × (Vendas÷Total de ativos)

Representa a relação entre a lucratividade e o giro dos estoques.


j ROI = Lucro líquido/Total de ativos
80  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Representa o retorno que o ativo total empregado oferece. Utilizado geralmente para
determinar o retorno que uma empresa dá.
j ROI = Lucro líquido/investimentos

Representa o retorno que determinado investimento oferece. Geralmente é utilizado para


determinar o retorno de investimentos isolados. Invertendo-se a relação (Investimento÷Lucro
Líquido), obtém-se o tempo necessário para se reaver o capital investido.
Há também a Rentabilidade do Ativo Total Médio ou Taxa de Retorno sobre o Ativo
Total Médio ou Taxa de Retorno sobre o Investimento Total
Taxa = [(Lucro Líquido do Exercício) / (Vendas Líquidas)]*[(Vendas Líquidas)/
ATM]*100 = [(Lucro Líquido do Exercício) / ATM]*100

ATM = Ativo Total Médio = (Ativo Inicial + Ativo Final)/2

5.6.2 Análise de viabilidade econômica da logística reversa

Apesar de que a decisão da adoção da logística reversa não deve se basear somente no
retorno econômico que possa proporcionar, esse constitui um aspecto essencial na análise
de sua implementação. Tal análise deve ser mais sistêmica, ocorrendo em função do retorno
econômico, mas também dos outros tipos de benefícios que gera, principalmente no que
tange ao cumprimento da legislação e geração de uma imagem corporativa positiva no
quesito ambiental.
Para realizar a análise de viabilidade econômica é necessário se utilizar de conceitos
de contabilidade e administração financeira para analisar a composição de custos fixos e
variáveis, das receitas, do capital de giro, da carga tributária, do preço de venda, da margem
de contribuição, da margem de lucratividade, do ponto de equilíbrio, da TIR – taxa
interna de retorno –, da projeção de fluxo de caixa, da análise dos investimentos a serem
realizados em estrutura e equipamentos e da mão de obra direta e indireta a ser empregada.
São vários elementos que devem ser analisados a fim de aumentar a probabilidade de
sucesso de implementação da logística reversa, o que deve ser feito não somente nesse
contexto, mas em qualquer decisão de investimento em uma nova atividade ou processo, pois
a partir do momento que são envolvidos recursos financeiros, o cuidado deve ser redobrado.

5.6.3 Capital de giro dedicado às atividades de logística reversa

Um fator importante a ser considerado quando a empresa opta por implementar ativi-
dades de logística reversa é a necessidade de recursos dedicados a essas atividades, todo o
controle financeiro e econômico para fins gerenciais deve ser feito separadamente do con-
trole de outras atividades foco da empresa. Assim, será possível aos gestores identificar que
parcela de recursos e resultados são aplicados e provém da logística reversa, o que facilitará
a tomada de decisões nesta área.
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  81

O capital de giro se constitui em um dos principais aspectos que deve ser levado em
conta, neste sentido. Para iniciar qualquer projeto ou atividade são necessários recursos
financeiros para a empresa garantir a dinâmica do seu processo de negócios, no caso da
implementação de projetos de logística reversa deve ocorrer da mesma forma. Esses recursos
precisam de controle permanente, pois têm a função de minimizar o impacto das mudanças
no ambiente de negócios no qual a empresa atua, principalmente quando considerados a
inconstância do volume e qualidade dos resíduos gerados.
O capital de giro é constituído de ativos circulantes, também chamados de ativos
­correntes, e representa a quantidade de dinheiro que a empresa utiliza para movimentar seus
negócios. Envolve estoques, dinheiro em caixa e em bancos, financiamentos a clientes por
meio de contas a receber, salários, conta de água, luz etc. O desafio da gestão do capital de
giro em atividades ambientais deve-se, principalmente, à ocorrência dos fatores a seguir:
j variação dos diversos custos absorvidos pela empresa;
j aumento de despesas financeiras, em decorrência das instabilidades do mercado;
j baixo volume de vendas;
j aumento dos índices de inadimplência;
j pagamento das parcelas de possíveis financiamentos;
j baixa entrada de produtos para reciclagem; e
j altos níveis de estoques em determinados períodos.
Além disso, é essencial que a empresa realize um controle orçamentário rígido de
forma a não consumir recursos sem previsão, a fim de evitar a retirada de valores além dos
estipulados, pois no início todo o recurso obtido pela empresa deverá permanecer nela,
possibilitando o crescimento e a expansão do negócio da logística reversa. Geralmente o
nível de capital de giro para o segmento de logística reversa ou atividades que a compõem
seja suficiente para suportar a movimentação operacional em torno de 18 meses, e deve ser
elaborado em relação aos desembolsos que compõem o início das atividades empresariais.

5.6.4 Análise do ponto de equilíbrio

A análise do ponto de equilíbrio também deve ser realizada antes da decisão final de
investimentos em logística reversa. Caso a decisão seja a de investir em uma estrutura física
própria para a logística reversa, é necessário o estudo do volume e qualidade dos resíduos
gerados e, se serão suficientes para cobrir os custos associados ao processo de remanufatura.
Nesse sentido, o ponto de equilíbrio é muito útil, pois representa a quantidade de vendas
que precisa ser realizada mensalmente para gerar receitas suficientes que cubram os custos
variáveis, as despesas comerciais e as despesas fixas que a empresa gerar no período.
Um volume de vendas inferior ao ponto de equilíbrio levará a empresa a ter prejuízo. Um
volume de vendas superior ao ponto de equilíbrio permitirá acumular lucro, um volume de
vendas igual ao ponto de equilíbrio, possibilitará apenas o pagamento de custos e despesas,
o cálculo é simples, a fórmula mais utilizada é:
82  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Despesas fixas
Volume de Vendas
1 − %custo variável + %desp.comerciais + %lucro
100

Por meio deste cálculo, se o percentual referente ao lucro não for considerado, então
o volume de vendas resultante será o valor do ponto de equilíbrio, isto é, o valor mínimo
que terá de vender para não ter prejuízo, mas também nenhum lucro. No entanto, se for
considerado o percentual de lucro, o resultado será o volume de vendas que precisa ser
conseguido para obter a margem de lucro determinada.
Mesmo tendo sido calculado o lucro em cada venda, pode ocorrer que o pagamento das
despesas fixas do período consuma todo este valor e ao final, o resultado da empresa seja
nulo ou negativo. Muitas empresas entram nesta situação por realizar a venda dos produtos
com uma margem de lucro insuficiente, pois não dimensionam exatamente o quanto pos-
suem de obrigações, o que gera ao final do período falta de recursos, ou porque acreditam
que o retorno financeiro e econômico da logística reversa deve ocorrer em curto prazo,
o que definitivamente não acontece.
Todas as decisões que forem tomadas na implementação de programas de logística
reversa terão impacto direto no volume de vendas, no volume de gastos, no preço e, prin-
cipalmente, na lucratividade da empresa e na rentabilidade do seu investimento.

5.6.5 Análise do retorno dos investimentos realizados


na logística reversa

Algumas análises em termos de rentabilidade e lucratividade devem ser feitas antes


da adesão a atividades ou programas de logística reversa, pois como em qualquer outra
atividade, espera-se que gere lucro em longo prazo. O resultado positivo acumulado em um
determinado período de tempo será o retorno ou resgate do investimento realizado nessa
atividade. O lucro da atividade pode ser obtido facilmente pela seguinte fórmula:
Lucro = Receitas − (custo variável + desp. fixas + desp. comerciais)

O cálculo da margem de contribuição complementa esta análise, revelando quanto cada


tonelada de resíduos processada contribui para pagar as despesas fixas mensais e quanto
contribui para formar o lucro. Isso significa que toda vez que vender uma tonelada, a em-
presa deve reservar um determinado % até completar a quantia que precisa para pagar as
despesas fixas da empresa e ainda obter lucro.
Preço de venda − (custos variáveis + desp. comerciais)
Margem contribuição = × 100
Preço de venda

Além disso, para que estes cálculos sejam feitos de forma coerente e acurada, é essencial
que o gestor tenha total conhecimento dos custos variáveis, que são os que se alteram de
acordo com a produção; das despesas fixas, aquelas que não se alteram de acordo com
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  83

o volume de produção e não possuem oscilações significativas no decorrer dos meses e,


também, das despesas comerciais, aquelas que correspondem a comissões de vendedores,
gastos com publicidade e propaganda e variam de acordo com o volume movimentado.
Como a característica das empresas que atuam o processo reverso é totalmente diferente
de empresas que realizam o processo direto, é necessário que primeiramente, na fase de
análise de viabilidade do projeto, os valores sejam estimados e, no decorrer das operações
sejam frequentemente ajustados para demonstrar a real situação da empresa e não causar
erros que prejudiquem o andamento dos processos.

5.6.6 Retorno do investimento (TIR – Taxa Interna de Retorno)

Retornar o investimento significa que mensalmente a atividade de logística reversa devolve


parte do investimento realizado inicialmente ou durante o tempo de duração da atividade. Essa
parcela que retorna, remunera o investimento realizado. Cabe ressaltar que em grande parte
dos resíduos o retorno é bastante reduzido, principalmente no início das atividades, no entanto,
como citado anteriormente, é necessário considerar os outros tipos de retorno proporcionados,
que não só os financeiros, principalmente no que se refere ao atendimento à legislação.
O negócio de qualquer empresa, bem como da atividade de logística reversa só será
viável se for capaz de retornar ou devolver o investimento realizado. A expressão taxa interna
de retorno (TIR) é a taxa que equaliza o valor presente dos pagamentos (saídas de caixa)
com o valor presente dos recebimentos (entradas de caixa). Há, portanto, um fluxo de caixa
inicial que representa o valor do investimento, ou do empréstimo ou do financiamento, e
diversos fluxos futuros representando os valores das receitas e custos envolvidos no ciclo
de vida do empreendimento.
O resultado dessa fórmula será o percentual referente ao retorno mensal do investimento.
Como comparação mais imediata, o negócio é bom se gerar uma taxa de retorno superior ao
que outro investimento proporcionaria para você, por exemplo, se investir em uma aplicação
financeira, o que é mensurado pelo custo de oportunidade. Só vale a pena investir em uma
atividade se a taxa de retorno que gerar for superior àquela paga pelo mercado.
O cálculo do prazo de retorno do investimento pode ser realizado pela seguinte fórmula:
Lucro × 100
Taxa de retorno do investimento =
Investimento

Por meio dessa fórmula é possível verificar qual o prazo em que o investimento reali-
zado na atividade de logística reversa retornará. O resultado será dado em meses. Deve-se
considerar a comparação entre as possibilidades de investimento existentes no mercado, que
possuam uma taxa superior à taxa fornecida pela fórmula anterior. Caso exista, a atividade
passa a não ser viável e deve ser considerada a opção da terceirização.
Esses cálculos podem ser muito úteis na fase inicial e análise da viabilidade de um
projeto de logística reversa, servindo como base para a tomada de decisões no que tange
aos investimentos a serem realizados neste processo. No entanto, caso a empresa opte
84  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

por investir em processos de logística reversa é necessário também realizar um acompa-


nhamento dos valores movimentados por ela. Para tal, se sugerem alguns procedimentos
de contabilidade ambiental e análise financeira das demonstrações contábeis que podem
ser utilizadas nesse contexto.

5.6.7 Contabilidade ambiental como ferramenta para a mensuração


da logística reversa

Caso seja tomada a decisão por aderir a atividades ou programas de logística reversa,
torna-se necessário registrar e controlar todos os fatos decorrentes. Tais fatos geram impactos
financeiros e econômicos que devem ser mensurados corretamente, de forma a fornecer
informações úteis e confiáveis aos gestores.
Um sistema de informação é um conjunto de dados e técnicas que permitem tratar as
informações de natureza repetitiva com relevância ao mesmo tempo em que minimiza os
custos e ainda fornece condições para, por meio da utilização de informações básicas unidas
a técnicas de Contabilidade, fornecer relatórios para finalidades específicas aos diversos
usuários da informação.
O desenvolvimento e implantação de um sistema integrado do controle de geração e
do retorno de resíduos de pós-consumo possibilitarão à empresa demonstrar com maior
facilidade e segurança, seus processos produtivos relacionados à revalorização e à des-
tinação dos seus resíduos; auxiliar na identificação dos seus ganhos ambientais, legais,
econômicos; e ainda, disponibilizar para seus gestores, clientes, fornecedores, parceiros e
sociedade informações úteis relativas às suas ações nesse sentido.
Esse sistema é capaz de disponibilizar todas as informações relacionadas à geração e
operacionalização do retorno dos resíduos tais como: controles de inventário de resíduos,
investimentos, quantidades geradas, locais geradores, destinação, itens comerciais e não
comerciais, mão de obra, valores gerados pela comercialização, parceiros, segurança legal
e ambiental, e possíveis oportunidades de redução de custos ou ganhos nesse processo.
Ademais, é importante ressaltar que a instalação de processos de logística reversa pode
ter efeitos positivos e negativos no ciclo de caixa das empresas, por isso requer muita
atenção. É necessário que as empresas compreendam que as estratégias de logística reversa
podem gerar fluxos de caixa negativos periodicamente, os quais são difíceis de prever e
contabilizar, no entanto, quando tais estratégias são bem planejadas e executadas, podem
proporcionar retornos monetários consideráveis em longo prazo.
Essa característica de incerteza se dá devido à qualidade, quantidade e variedade dos
resíduos, que são inconstantes e difíceis de prever. Por isso, a estimação de custos opera-
cionais relacionados à logística reversa e as decisões a respeito do retorno dos produtos e
sua coordenação ao longo da cadeia de suprimentos são essenciais.
A implementação de sistemas de contabilidade ambiental possibilita:
j Verificar se a legislação está sendo cumprida;
j Auxiliar os gestores no processo de decisão no estabelecimento de objetivos e políticas
ambientais;
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos  85

j Comprovar a evolução do desempenho ambiental e identificar tendências;


j Detectar áreas críticas da empresa que precisam de atenção especial em termos de as-
pectos ambientais;
j Verificar se os objetivos ambientais estão sendo cumpridos;

j Identificar oportunidades para um melhor gerenciamento ambiental da cadeia de su-

primentos;
j Descobrir como a empresa pode obter vantagem competitiva devido a melhorias con-

cretas no gerenciamento ambiental e;


j Fornecer informações em tempo real sobre custos, receitas, investimentos e passivos

ambientais para os gestores.

5.7  Considerações finais

A logística reversa tornou-se um assunto que influencia e ganha cada vez mais espaço
nas discussões e decisões no ambiente empresarial, vários fatores motivaram o crescimento
dessas discussões: a sanção e regulamentação da PNRS; a necessidade de um diferencial
competitivo sustentável em relação à concorrência; os curtos ciclos de vida dos produtos e
a busca constante pelo desenvolvimento sustentável.
Esses fatos também geram inúmeros questionamentos no sentido de se encontrar
formas de tornar a logística reversa, não somente um centro de custos, mas também um
gerador de benefícios econômicos para as empresas que a adotarem. No que tange a
resíduos eletroeletrônicos, esta necessidade se torna ainda mais premente tendo em vista
o alto valor agregado dos seus componentes e os indícios de escassez desses materiais no
meio ambiente.
Após a sanção da PNRS algumas iniciativas vêm sendo tomadas para controlar a
quantidade de resíduos descartada e para, quando possível, revalorizá-los. Dentre elas,
podem ser citadas: a sanção da Lei n° 12.375/2010 que prevê incentivos fiscais para as
empresas que utilizarem materiais provenientes de resíduos sólidos em seus processos; a
publicação do edital n° 01/2013 de chamamento para acordos setoriais para execução da
logística reversa de REEEs e, a aprovação do documento referente ao projeto de norma
03:111.01-009, da ABNT.
Nesse sentido é evidenciado um problema que muitas empresas que optam por adotar
a logística reversa enfrentam: a falta de planejamento financeiro; a falta de formalidade
e registro das operações decorrentes da gestão de resíduos e; a falta da mensuração dos
retornos econômicos gerados por ela. Essa situação pode ser contornada com a utilização
de ferramentas da administração financeira e contabilidade, as quais possibilitam o correto
planejamento e controle financeiro e econômico da logística reversa.
Além disso, tais aspectos se tornam importantes tendo em vista que, de acordo com a
PNRS, as empresas devem, além de cumprir a lei, manter registros e informações acuradas
de todas as práticas ambientais realizadas, de forma a prestar contas ao poder público e à
sociedade referente às suas ações.
86  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

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Capítulo 6
Catadores:
uma reflexão
sobre os aspectos
socioambientais
da gestão de Resíduos
dos Equipamentos
Eletroeletrônicos
Sylmara L.F. Gonçalves Dias, Virginia Rosa Pragana,
Maria Cecilia Loschiavo dos Santos

RESUMO

Neste capítulo serão analisadas e discutidas as principais questões socioambientais


relacionadas à gestão dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) e os de­
safios para a inserção dos catadores. No caso brasileiro tais desafios são evidenciados
por causa da atuação de associações e cooperativas de catadores no manejo desses
resíduos. Apesar de a legislação enfatizar a inserção do catador na gestão de resíduos,
ainda são muitas as questões a serem trabalhadas para a legitimação, estruturação
técnica, capacitação, instrumentação, profissionalização e regulamentação da atuação
desses trabalhadores, visando à redução dos impactos socioambientais que a temática
enseja.
87
88  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

6.1 Introdução

Nas últimas décadas, a indústria de equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE) tem amplia­
do sua produção de modo exponencial, os produtos eletroeletrônicos tornaram-se onipresentes
na vida dos indivíduos em todo o planeta e indispensáveis às mais diversas áreas de atividades
humanas. A popularização dos eletroeletrônicos e a rápida obsolescência dos modelos cria a
necessidade de substituição, que se tornam quase obrigatórias. Entretanto, faltam regras claras
e locais apropriados para a deposição desses equipamentos que, em desuso, vão constituir o
chamado resíduo de equipamento eletroeletrônico (REEE), lixo eletrônico ou e-lixo.
Consideram-se como REEE os resíduos gerados ao final da vida útil de equipamentos como:
televisores, rádios, celulares, eletrodomésticos, equipamentos de informática, vídeos, filmadoras,
ferramentas elétricas, DVDs, lâmpadas fluorescentes, brinquedos eletrônicos, entre outros.
Quando os REEE são dispostos de forma inadequada ou ainda quando desmontados
sem controle, podem ocasionar impactos ambientais, através da contaminação do solo, das
águas superficiais e subterrâneas, representando risco à saúde da população do entorno ou
dos trabalhadores que realizam a reciclagem (WIDMER et al., 2005).
Por causa da urbanização em curso, muitos municípios enfrentam desafios para fornecer
infraestrutura básica para coleta de lixo, reciclagem e reúso aos seus cidadãos. Em muitos
lugares, esses serviços são prestados por um crescente setor informal (NEUWIRTH, 2006;
SASSEN, 1994). Nesse sentido, os REEE tem exercido a função da geração de empregos e
da potencial redução de seus impactos por meio da criação de sistemas de logística reversa
capazes de revalorizar os resíduos e retorná-los a um novo ciclo produtivo.
Destarte, os resíduos antes tidos como indesejados passam a ser considerados materiais
com valor agregado e, portanto, passíveis de geração de renda para comunidades em situação
de vulnerabilidade socioambiental. Trata-se de aspecto de grande relevância às temáticas socio­
ambientais, pois se refere à geração de emprego e renda a partir da gestão dos REEE. A esse
respeito, Ongondo et al. (2011), enfatizam a importância da discussão desse tema nos países em
desenvolvimento – onde há grande exposição dos trabalhadores representando riscos à saúde e
ao ambiente, principalmente em países onde há a carência de mecanismos regulamentadores.
No Brasil, os REEE estavam até recentemente numa espécie de vazio regulatório. Entretando,
a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS –, aprovada em 2010, destina-se a
aumentar a cooperação entre os diferentes segmentos da sociedade, como empresas, governos,
consumidores e recicladores (Brasil, 2010). No entanto, as atividades de reciclagem no Brasil
continuam sendo realizadas muitas vezes de modo não estruturado e até na informalidade.

6.2  Impactos socioambientais da produção,


consumo e destinação de REEE

O consumo dos EEE testemunha crescimento constante no Brasil, fruto da expansão do


mercado interno, de incentivos ao crédito e de isenções pontuais de tributação, bem como
mudanças de comportamento na sociedade. Os eletroeletrônicos cada vez mais fazem parte
da vida cotidiana do brasileiro.
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    89

O mercado brasileiro de EEE é considerado o quinto maior do mundo, após China, EUA,
Japão e Rússia, e apresenta uma geração crescente e diversificada. Assim, o crescimento
da indústria de eletroeletrônicos no Brasil aponta também para o aumento das quantidades
de resíduos eletrônicos gerados por habitante por ano no país. Em 2007 estimava-se 2,6kg/
hab/ano de REEE (RODRIGUES, 2007), em 2009 3,3 kg/hab/ano de REEE (FEAM, 2009)
e em 2011 6,4kg/hab/ano de REEE. A projeção para 2015 é de 8kg de resíduos eletrônicos
por habitante por ano (THE WORLD BANK, 2012). Desse modo, a tendência da geração
de e-lixo é crescente ano após ano, tanto no Brasil quanto mundo afora. Esse tipo de resíduo
apresenta um crescimento três vezes maior do que o do lixo comum, uma vez que modelos
novos de celulares, computadores e eletrônicos rapidamente tornam obsoletas suas versões
anteriores.
Os dados de consumo crescente de EEE são contrastantes com a realidade da gestão de
seus resíduos, que compreende a etapa de geração de destroços até a destinação, considerando,
de acordo com a categoria dos resíduos, especificidades inerentes àquelas cadeias produtivas
específicas. Na Figura 6.1 é possível visualizar os aspectos e impactos da produção, consumo
e destinação de REEE.
O lixo eletrônico cresce mais rapidamente que qualquer outro tipo de lixo, devido
ao mercado em expansão e à crescente taxa de obsolescência dos equipamentos ele­
trônicos (THE WORL BANK, 2012). Ainda na etapa de geração, ações educativas de
conscientização e divulgação dos impactos do consumo tendem a minimizá-los por
meio de ações que consideram o consumo sustentável, optando, para tanto, por produtos
energo-eficientes, com materiais sustentáveis e, quando plausível, prolongando a ex­
tensão da vida útil.
Principalmente por falta da estrutura adequada de coleta e de informação a esse res­
peito, o consumidor brasileiro não tem o hábito de dar a destinação adequada a seus REEE
(INVENTTA, 2012). Existem frequentes casos de pessoas e empresas que depositam os
REEE junto ao resíduo comum. Por outro lado, a persistência de uma cultura do reúso faz
com que parte do material eletroeletrônico seja guardado, doado ou vendido.

Figura 6.1  Aspectos e impactos da produção, consumo e destinação de REEE. Fonte: Elaboração
própria.
90  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Entretanto, dado a uma maior visibilidade da destinação adequada de materiais como


pilhas e baterias, a partir de pontos de recebimento no varejo, bem como a maior presença
na mídia de discussões sobre resíduos sólidos, tem direcionado a opinião pública no sentido
de uma maior atenção a tais assuntos. Após o consumo, os produtos são descartados por
diferentes motivos. (i) não atendem mais às necessidades do consumidor; (ii) não são mais
utilizados; (iii) são substituídos por produtos mais novos, econômicos e/ou eficientes.
Os aspectos ambientais decorrentes da geração e destinação de REEE estão diretamente
relacionados ao potencial tóxico dessa classe de detritos que, por sua vez, resultam em impac­
tos negativos ao ambiente e à saúde humana. Assim, os resíduos de equipamentos elétricos e
eletrônicos (REEE), por serem classificados como perigosos e apresentarem risco ao ambiente
e à saúde, têm causado preocupação a respeito da ocorrência do descarte ambientalmente
inadequado, principalmente nos países em desenvolvimento (FRAZZOLI et al, 2010).
Os REEE são complexos com relação aos materiais que os compõem, pois apresentam
uma gama de diferentes substâncias, muitas das quais perigosas, como os metais pesados,
mercúrio, chumbo, cádmio, arsênio, bário e cromo; gases de efeito estufa, como os cloro­
fluorocarbonetos (CFC); substâncias halogenadas; bifenilas policloradas (PCBs); cloreto
de polivinila (PVC) e retardantes de chama bromados (WIDMER et al, 2005).
No entanto, o lixo, muitas vezes, é tratado apenas como um novo negócio, no qual alguns
segmentos da sociedade, principalmente aqueles com maior poder econômico e político,
acabam se beneficiando (PEREIRA e TEIXEIRA, 2011). Na verdade, os REEE são, ao
mesmo tempo, um problema socioambiental e uma oportunidade econômica. Segundo o
Banco Mundial (2012) os problemas se devem:
j Pela geração de impactos ambientais negativos devido à gestão inapropriada no fim de
vida dos REEE;
j Pelos impactos ocupacionais devido à segregação manual;

j Por conta da contaminação do solo e da água por substâncias presentes nos REEE;

j Pela incineração inapropriada dos plásticos dos REEE, que gera dioxinas e outros

contaminantes.
E as oportunidades econômicas se devem a:
j Presença de componentes e materiais valiosos;
j Novas regulações e responsabilidade estendida ao produtor, demandando a estruturação
da logística reversa dos REEE.

6.2.1  Um panorama da gestão de REEE (mundo e Brasil)

As regulamentações ambientais relativas à gestão de resíduos diferem entre os países. No


que se refere à gestão de resíduos eletroeletrônicos, poucos países possuem uma legislação
especifica e direcionada à solução do problema. Verifica-se ainda diferenças na busca de
soluções adotadas pelos países desenvolvidos e pelos países em desenvolvimento. Enquanto
os primeiros focam nas questões ergonômicas e de saúde ocupacional, como estratégia
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    91

para a gestão dos resíduos eletroeletrônicos, os últimos priorizam ações voltadas para a
inclusão social, tais como o estabelecimento e manutenção de associações e cooperativas
de materiais recicláveis e a capacitação de indivíduos em situação de risco socioambiental.
Nos países em desenvolvimento considera-se a gestão de resíduos como uma signifi­
cativa oportunidade de obtenção de recursos a partir da mobilização de mão de obra para
fins de inclusão social. Os grupos de trabalhadores, organizados ou não em associações e
cooperativas, se submetem a condições precárias e insalubres de trabalho. Geralmente são
mal remunerados e não dispõem de condições mínimas de segurança.
O estabelecimento de formas de organização como associações e cooperativas de
catadores representou grandes avanços na organização do trabalho, principalmente nos
países em desenvolvimento, cuja mão de obra que se dedica a coleta e triagem de resíduos
tem aumentado com o passar do tempo, principalmente como ocupação informal (WILSON
et al, 2006; BESIOU, 2012). De acordo com Medina (2007), a China possui um número
expressivo de pessoas alocadas na cadeia da reciclagem (Gráfico 6.1).
As condições de coleta de resíduos em diferentes partes do mundo têm levantado a
questão do que constitui métodos inclusivo e exclusivo na gestão de resíduos sólidos.
Em um recente seminário patrocinado pela Kagad Kach Patra Kashtakari Panchayat
(KKPKP, 2012), uma união internacional de catadores, trabalhadores de diferentes partes
do mundo foram convidados a explicar através de esboços os mecanismos pelos quais eles
realizam atividades de gestão de resíduos em suas cidades. Os desenhos mostrados nas
Figuras 6.2 e 6.3 sintetizam a complexidade dos processos e, ao mesmo tempo, destacam
as características específicas das regiões onde vivem.

Gráfico 6.1  Número de pessoas ocupadas na catação de resíduos em países selecionados


(milhões). Fonte: Medina, 2007.
92  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 6.2  Coleta de residuos na Índia. Fonte: KKPKP - WIEGO, 2012.

Figura 6.3  Coleta de resíduos na China. Fonte: KKPKP - WIEGO, 2012.

Conforme apresentado na Figura 6.2, os catadores podem atuar em uma ampla faixa


de complexidade do processo e contribuir com soluções de baixo custo e de colaboração.
Ambas as imagens apresentam alguns aspectos de valores e diversidade de produtos
pós-consumo que são manipulados por catadores de recicláveis. É entendimento comum
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    93

nesses países que a atividade de coleta e triagem de resíduos constitui a força motriz da
indústria da reciclagem. No entanto, o estado atual da regulamentação ambiental não parece
muito alinhado com esta noção. Na maioria dos países não se verifica aderência entre as
políticas preconizadas e os modelos de gestão focados na saúde e segurança do trabalho,
principalmente para os trabalhadores da cadeia dos resíduos eletroeletrônicos.
Por outro lado, nos países desenvolvidos, encontram-se estabelecidos padrões para o
desempenho das atividades da cadeia de reciclagem fortemente amparados nas diretrizes de
sustentabilidade ambiental. A esse respeito, as normas europeias estão organizadas em metas
escalonadas de coleta e reciclagem de resíduos eletroeletrônicos. Nesses países, a gestão
de resíduos eletroeletrônicos é desenvolvida a partir da atuação de empresas privadas em
consórcio com a municipalidade. A prática da coleta seletiva ou retorno para os produtores,
segundo proposto pelo conceito da responsabilidade estendida, são ações que contribuem
significativamente para a eficiência do processo. Dessa forma, a prática de coleta e catação
a partir da atuação de catadores é praticamente inexistente.

6.2.2 Novo cenário brasileiro imposto pela aprovação


da Políitica Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

O Decreto Federal n° 7.404 regulamentou a Lei n° 12.305/2010, em 23 de Dezembro


de 2010 (Brasil, 2010). Esse documento estabelece que “o sistema de coleta seletiva de
resíduos sólidos priorizará a participação de cooperativas ou de outras formas de associação
de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa
renda”. A Tabela 6.1 apresenta as principais alterações ocorridas com a aprovação da PNRS.
A lei tem como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e
sociedade, impulsionando o retorno dos produtos após o consumo. Ou seja, o recolhimento
dos materiais para o retorno como matéria-prima à produção industrial, sem que tenham
como destino os aterros sanitários ou os lixões (INVENTTA, 2012).
Dessa forma, foi estabelecida obrigatoriedade imediata à adoção de medidas de logística
reversa aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de (1) agrotóxicos, seus
resíduos e embalagens, assim como outros produtos, cuja embalagem, após o uso, constitua
resíduo perigoso; (2) pilhas e baterias; (3) pneus; (4) óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; (5) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e (6)
produtos eletroeletrônicos e seus componentes, e também a:
j Investir no desenvolvimento, fabricação e colocação no mercado de produtos aptos à
reutilização, reciclagem ou outra forma de destinação ambientalmente adequada e cuja
fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;
j Divulgar informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos

associados a seus respectivos produtos;


j Assumir o compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com

o Município, participar das ações previstas no plano municipal de gestão integrada


de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística
reversa.
94  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

TABELA 6.1  Alterações nas responsabilidades dos atores a partir da PNRS.


Ator Antes Depois
Poder • Falta de prioridade para o lixo • Municípios farão plano de metas sobre resíduos
Público urbano com participação dos catadores
• Existência de lixões na maioria • Os lixões precisam ser erradicados até 2014
dos municípios Resíduo orgânico • Prefeituras passam a fazer a compostagem
sem aproveitamento • É obrigatório controlar custos e medir
• Coleta Seletiva cara e ineficiente a qualidade do serviço
Catadores • Exploração por atravessadores • Catadores reduzem riscos à saúde e aumentam
e riscos à saúde renda em cooperativas
• Informalidade • Cooperativas são contratadas pelos municípios
• Problemas de qualidade para coleta e reciclagem
e quantidade dos materiais • Aumenta a quantidade e melhora a qualidade
• Falta de qualificação e visão da matéria-prima reciclada
de mercado • Trabalhadores são treinados e capacitados
para ampliar produção
Iniciativa • Inexistência de lei nacional • Marco legal estimulará ações empresariais
Privada para nortear os investimentos • Novos instrumentos financeiros impulsionarão
das empresas Falta de incentivos a reciclagem
financeiros • Mais produtos retornarão à indústria após o uso
• Baixo retorno de produtos pelo consumidor
eletroeletrônicos pós-consumo • Reciclagem avançará e gerará mais negócios
• Desperdício econômico sem com impacto na geração de renda
a reciclagem
Consumidor • Não há separação do lixo • Consumidor fará separação mais criteriosa nas
reciclável nas residências residências
• Falta de informação • Campanhas educativas mobilizarão moradores
• Falhas no atendimento da coleta • Coleta Seletiva aprimorada para recolher mais
municipal resíduos
• Pouca reivindicação junto • Cidadão exercerá seus direitos junto aos
às autoridades governantes
Fonte: CEMPRE, 2011.

O estabelecimento da logística reversa busca fortalecer o mercado de reciclagem no


Brasil, podendo trazer benefícios que vão além dos impactos ambientais esperados, como
pode ser visto na Tabela 6.2.
Destaca-se como um dos aspectos relevantes da PNRS, para os fins do presente capítulo,
o apoio à inclusão dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis na coleta seletiva e
na logística reversa como forma de enfrentamento das desigualdades sociais (INSTITUTO
ETHOS, 2012).
No texto da Lei, a inclusão desses trabalhadores é colocada como um dos objetivos.
No Artigo 18, é definida a prioridade de acesso aos recursos da União para os municípios
que em seus serviços de gerenciamento de resíduos “implantarem a coleta seletiva com
a participação das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda”. No Artigo 42, que
dispõe sobre linhas de financiamento, encontra-se explicitada a prioridade às inciativas de
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    95

TABELA 6.2  Impactos sociais, econômicos e ambientais esperados com a implantação


da Logística Reversa de REEE.
Sociais Econômicos Ambientais
Geração de empregos formais Maior retorno ao mercado Diminuição de casos de descarte
de matérias-primas advindas incorreto de REEE
da reciclagem de REEE
Fortalecimento das associações Fortalecimento da Melhoria da qualidade
de catadores com geração indústria da reciclagem dos serviços de reciclagem
de oportunidades de prestação pelo consequente aumento e consequente menor nível
de serviços ao sistema da demanda de rejeitos nos aterros
Promoção de maior Desenvolvimento de Redução de gasto energético por
conscientização da população conhecimento e tecnologias conta de uso de reciclados (ex: o
quanto às questões ambientais relacionados à reciclagem gasto de energia para reciclagem
relacionadas aos equipamentos de REEE de alumínio é 95% menor do que
eletroeletrônicos para a sua produção primária)
Minimização de problemas Geração de emprego e renda Redução do volume e diversidade
de saúde causados pelo manuseio de eletroeletrônicos destinados
incorreto de REEE a aterros
Fonte: INVENTTA, 2012.

“implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para cooperativas ou


outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas
por pessoas de baixa renda” (IPEA, 2010).

6.3  A coleta e a destinação dos REEE no Brasil

Pesquisa realizada por Rodrigues (2007), referente à cadeia pós-consumo de REEE,


mostra que no Brasil o manejo dos equipamentos eletroeletrônicos ainda é deficitário. Isso
é consequência, principalmente, da falta de estrutura adequada de coleta e de informação a
respeito da destinação adequada desses resíduos. Por isso ainda existem casos de pessoas e
empresas que depositam esses materiais juntamente ao resíduo comum (INVENTTA, 2012).
As primeiras informações oficiais sobre a coleta seletiva foram levantadas pela Pes­
quisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) de 1989, que identificou a existência de 58
programas de coleta seletiva na época no país. Esse número cresceu para 451, segundo a
PNSB 2000, e para 994, de acordo com a PNSB 2008, demonstrando um grande avanço
na execução da coleta seletiva nos municípios brasileiros (PNSB, 2008).
Em 2011, dos 5.565 municípios brasileiros, 3.263 (58,6%) indicaram a existência de
iniciativas de coleta seletiva, conforme pode ser visto na Figura 6.4. Contudo, embora a
quantidade de municípios com coleta seletiva seja expressiva, é importante ressaltar que
muitas vezes essas iniciativas resumem-se a disponibilização de pontos de entrega voluntária
à população ou a formalização de convênios com cooperativas de catadores para a execução
dos serviços (ABRELPE, 2011).
96  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 6.4  Quantidades / Percentuais de municípios por região em que existem iniciativas
de coleta seletiva. Fonte: ABRELPE, 2011.

O IPEA, em estudo realizado em 2010, calcula em R$ 8 bilhões os recursos financeiros


passíveis de serem poupados direta e indiretamente pela reciclagem no Brasil e estima-se
que 90% de todo o material reciclado no Brasil seja recuperado dos resíduos pelas mãos
dos catadores (CEMPRE, 2011), constituindo-se um importante ator para infraestrutura de
reciclagem essencial para a cidade (MEDINA 2007, CEMPRE, 2011).
No caso dos EEE, usualmente no fim de vida útil, são encaminhados à limpeza pública,
doados ou coletados por catadores de recicláveis. No tratamento dos REEE, têm-se diferen­
tes destinos, dentre eles destacam-se: a revenda, ou seja, a venda de alguns equipamentos
ainda funcionais após certo tempo de uso; o reparo, quando avariados; a reutilização em
um segundo ciclo vida; e a armazenagem para uma troca futura. Quando são encaminhados
para centros de recondicionamento, e, também para assistências técnicas que substituem
partes defeituosas por novas, possibilitam o reúso de componentes e de dispositivos. Alguns
desses equipamentos podem, de acordo com o grau de funcionalidade, retornar ao uso após
o seu devido conserto, dando assim continuidade ao seu ciclo de vida.
Nesse contexto, os catadores acabam realizando a coleta de REEE, juntamente com os
demais tipos de materiais recicláveis, e frequentemente afirmam não saber como destiná-los
de maneira apropriada.

6.4  O papel dos catadores no campo da reciclagem no Brasil

A consolidação da indústria de reciclagem no Brasil, ocorrida nos últimos 25 anos, teve


os catadores como base fundamental desde seu início, já que eles constituíram a força de
trabalho barata que tornou viável essa consolidação (SANTOS; GONÇALVES-DIAS, 2012).
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    97

Figura 6.5  Posição dos catadores na coleta de resíduos recicláveis pós-consumo.


Fonte: IPEA, 2010.

Esses trabalhadores coletam, selecionam, separam, comprimem e comercializam o


material reciclável que se encontra misturado ao lixo in natura. O material coletado é
vendido a intermediários, os quais o revendem para as indústrias de pré-beneficiamento,
seguindo depois para as grandes indústrias de reciclagem do país (SANTOS et al, 2011).
A posição dos catadores na recuperação dos materiais recicláveis é representada pela
Figura 6.5.
A catação, inicialmente, se tornou uma forma de trabalho nas grandes cidades e res­
tringia-se a papel, vidro e sucata de metal. Somente a partir da década de 1980 os catadores
se tornaram visíveis como força de trabalho e surgiram suas primeiras iniciativas de organi­
zação de trabalho. Na década de 1990 várias experiências de cooperativas e associações de
catadores foram desenvolvidas no Brasil, motivadas pela perspectiva de geração de renda
e autonomia, assim como o estabelecimento de algumas parcerias com o poder público em
programas de coleta seletiva municipais. Foi nessa década que a temática ganhou repercus­
são, o que culminou na criação do Fórum Nacional Lixo e Cidadania em 1998 (SANTOS;
GONÇALVES-DIAS, 2012).
Os catadores, inseridos num modo de organização econômica e formalmente orga­
nizados, estabeleceram as bases para criação do Movimento Nacional dos Catadores de
Recicláveis (MNCR) em 1999. O MNCR tem buscado estabelecer frentes de articulação,
mobilização e interlocução com agentes governamentais e empresariais na defesa dos
interesses desses trabalhadores (SANTOS et al, 2011).
Os catadores entram com a mão de obra e os insumos que serão reprocessados nas
grandes empresas recicladoras que detêm o controle sobre as decisões técnicas, estando
assim, via de regra, as decisões acerca de novas tecnologias e produtos e da concepção
98  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

produtiva fora de sua governança (SANTOS et al, 2011). De outro lado, a atividade realizada
por esses trabalhadores nos processos de manejo dos resíduos sólidos urbanos é de grande
importância na colaboração no processo de limpeza pública; diminuição do volume dos
resíduos; ampliação da vida dos produtos e dos materiais; redução do custo de operação
de aterros sanitários; reintrodução dos materiais na produção e na redução de consumo de
matérias-primas, além de promover a inclusão social e a geração de renda para os catadores
(SANTOS; GONÇALVES-DIAS, 2011). A Tabela 6.3 apresenta um resumo dos marcos
na história dos catadores no país.
Em 2010, o governo federal aprovou a lei nacional de resíduos sólidos, reconhecendo
pela primeira vez o trabalho dos catadores, e exigindo das cidades e empresas privadas a
parceria com as cooperativas e associações de catadores no sistema de gestão dos resíduos
sólidos (Brasil, 2010). Embora a lei ofereça novas oportunidades para as cooperativas,
também traz novos desafios, colocando-as sob pressão para formalizar, capacitar e profis­
sionalizar todos os seus associados e cooperados, enquanto enfrenta crescente concorrência
de empresas privadas envolvidas com coleta, triagem e reciclagem dos resíduos sólidos
urbanos.
A inclusão social dos catadores na cadeia da reciclagem vem sendo objeto de uma
série de medidas indutoras na forma de leis, decretos e instruções normativas de fomento à
atividade de catação. Como exemplos de ações federais voltadas aos catadores de materiais
recicláveis, IPEA (2012) cita:
j Destinação de mais de 280 milhões de reais para ações voltadas aos catadores de
materiais recicláveis entre 2003 e 2010.
j Constituição do Comitê Interministerial de Inclusão dos Catadores de Materiais Reci­

cláveis (CIISC) em 2003, e a formação de sua secretaria executiva em 2007.


j Proposição de uma política de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos (PSAU),

com a previsão de remuneração dos catadores pelos serviços ambientais resultantes de


sua atividade.
j Instituição do Programa Pró-Catador, com a finalidade de integrar e articular as ações

do Governo Federal voltadas ao apoio e ao fomento à organização produtiva dos


catadores.
O Decreto n° 7474/2010, voltado a parcerias municipais com cooperativa de catadores
e cujo modelo organizacional surgiu na década de 1990, processa-se essencialmente pela
cessão, por parte das prefeituras municipais de galpão de triagem, equipamentos e veículos
de coleta às cooperativas (BESEN; RIBEIRO, 2007, BARKI; MAGNI, 2011). A realidade
dessas parcerias entre organizações civis e o poder publico remete à sociedade a questão da
gestão integrada dos RSU e a sua relação com o fortalecimento da cidadania e do espaço
jurídico público. Fato a se destacar, porém, é que embora cercados de aparatos e incentivos
oficiais, os convênios formais com as prefeituras locais não são garantia de condições dignas
de trabalho àqueles que atuam em cooperativas de reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos,
requisito fundamental à sua inclusão social.
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    99

TABELA 6.3  Principais marcos na história dos catadores no Brasil.


Ano Evento
1998 Fórum Nacional Lixo e Cidadania.
1999 Criação do Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis (MNCR).
2001 1° Encontro Nacional de Catadores de Papel e Material Reaproveitável, realizado em Brasília.
1° Festival de Lixo & Cidadania em Belo Horizonte.
2002 Reconhecimento da profissão de “catador de material reciclável”, no Código Brasileiro
de Ocupações (CBO 94).
2003 I Congresso dos Catadores organizados do MNCR, realizado em Caxias do Sul
Decreto presidencial cria o Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores
de Materiais Recicláveis.
Programas federais passam a condicionar o repasse de recursos aos municípios para a
erradicação dos lixões e a elaboração de Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos com o componente de inclusão dos catadores.
2005 I Congresso Latino-americano de Catadores, realizado no RS.
2006 DECRETO n° 5.940, de 2006 O governo federal instituiu que os resíduos recicláveis
descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta
devem ser doados para associações e cooperativas de catadores.
2007 LEI n° 11.445, de Janeiro de 2007 Modificação da Política Nacional de Saneamento Básico:
autorização para a contratação de associações ou cooperativas de catadores de recicláveis.
Dispensa de licitação na contratação da coleta, processamento e comercialização
de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta
seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas exclusivamente por
pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais
recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais
e de saúde pública.
2009 1° Expocatadores em São Paulo.
2010 LEI n° 12.375, de Dezembro de 2010, Art. 5° e Art. 6° - Os estabelecimentos industriais
farão jus, até 31 de dezembro de 2014, a crédito presumido do Imposto sobre Produtos
Industrializados - IPI na aquisição de resíduos sólidos utilizados como matérias-primas
ou produtos intermediários na fabricação de seus produtos.
Somente poderá ser usufruído se os resíduos sólidos forem adquiridos diretamente
de cooperativa de catadores de materiais recicláveis com número mínimo de cooperados
pessoas físicas definido em ato do Poder Executivo, ficando vedada, neste caso,
a participação de pessoas jurídicas.
Regulamenta a Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional
de Resíduos Sólidos; altera a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê
Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências.
Art. 41 reforça modelo de coleta seletiva em parcerias cooperativas e prefeituras.
DECRETO n° 7.405, de 23 de dezembro de 2010. - Institui o Programa Pró-Catador,
denomina Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores
de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis o Comitê Interministerial para Inclusão
Social de Catadores de Recicláveis criado pelo Decreto de 11 de setembro de 2003,
dispõe sobre sua organização e funcionamento, e dá outras providências.
Fonte: SANTOS et al, 2011; IPEA, 2012.
100  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

6.5  Gestão de REEE nas cooperativas de catadores

No Brasil, as auto-organizadas cooperativas de catadores de materiral reciclavel têm


uma longa história que começou enquanto uma organização informal (SANTOS, 1999a;
SANTOS, 1999b). O trabalho de catação é um trabalho informal socialmente não reconhe­
cido, realizado por mão de obra intensiva não especializada, compensando o investimento
de tecnologia para o surgimento do setor de produção de material reciclado (SANTOS,
GONÇALVES-DIAS, 2012; GONÇALVES-DIAS; SANTOS, 2012). MNCR, fundado
em 2001, tem tentado fomentar a implementação de cooperativas de reciclagem como
alternativa ao trabalho autônomo, para garantir melhores condições de geração de renda e
seguridade social a este segmento da população.
Pode-se afirmar que a reciclagem no Brasil só tem sido possível, em grande escala,
devido à capilaridade dos catadores para o recolhimento e separação dos resíduos que
tornaram viáveis as tarefas de coleta seletiva por um baixo custo. Os altos índices alcançados
não advêm da regulação, educação ambiental ou sistema de coleta seletiva adequados, nem
mesmo de investimentos público-privados, mas sim da pobreza em que vive uma boa parcela
da população (GONÇALVES-DIAS, 2009).
Nas cooperativas é realizada a coleta, triagem e, em alguns casos, o pré-processamento
(desmontagem) de REEE. Segundo levantamento realizado pela Inventta (2012), a renda
obtida com os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos representa 15% do faturamento
das cooperativas, competindo com a reciclagem de papelão, alumínio e plástico.
Assim, o setor de reciclagem de REEE brasileiro sofre de instabilidade no fornecimento
de materiais, que ocorre em decorrência da alta informalidade da coleta e da logística.
Além disso, devido à escala relativamente reduzida, não é possível investir em tecnologia
de ponta (INVENTTA, 2012).
De acordo com a pesquisa realizada pelo IPEA (2010) é razoável supor que a renda
média dos catadores não ultrapasse o salário mínimo. Um intervalo sugerido para esta
variável vai de R$420,00 a R$520,00. Vale observar que esse intervalo diz respeito apenas
aos catadores organizados. Apesar de ter um amplo conhecimento da geração coleta e
triagem de materias, catadores operam apenas com seu conhecimento tácito, muito pouco
está formalmente organizado, e existe pouca informação escrita.
Portanto, a separação dos REEE para processamento e eventual reciclagem possui maior
complexidade, custos e impactos em comparação aos demais resíduos considerados não
perigosos (INVENTTA, 2012). De outro lado, a separação dos REEE para processamento
e eventual reciclagem possui maior complexidade, custos e impactos em comparação aos
demais resíduos considerados não perigosos (idem ibidem).
Atualmente, muitas cooperativas não estão prontas para tirar o máximo proveito da nova lei.
Seus métodos de organização informal e transferência de conhecimento, naturalmente, limitam
a sua escala de operações. Ainda há que se considerar que as cooperativas e associações exis­
tentes no país apresentam alto grau de heterogeneidade com variados níveis de organização e
eficiência na coleta, triagem, limpeza e acondicionamento dos materiais (IPEA, 2010).
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    101

De acordo com dados recentes (IPEA, 2012), no Brasil há cerca de 600 mil catadores
de recicláveis, dos quais apenas 10% são organizados em cooperativas ou associações.
Cerca de 60% das cooperativas apresentam baixos níveis de eficiência. Cerca de 60% das
83 organizações coletivas de catadores pesquisadas por Damásio (2010) estão nos níveis
mais baixos de eficiência.1 As volumosas quantidades de REEE gerados no Brasil neces­
sitam de cooperativas, com produção em grande escala.
Destarte, as cooperativas e associações existentes no país apresentam alto grau de
heterogeneidade com variados níveis de organização e eficiência na coleta, triagem, limpeza
e acondicionamento dos materiais (IPEA, 2010). É importante ressaltar que 72% dos
catadores associados ao MNCR em 2005, estavam na pior situação, ou seja, são catadores
desorganizados que trabalham nas ruas ou lixões.
Segundo estudo realizado pelo IPEA (2010), a atividade enfrenta diversos entraves,
além das condições de trabalho muitas vezes precárias, como a ação dos atravessadores,
comerciantes e deposeiros; a postura de empresas terceirizadas na coleta de lixo urbano; o
desconhecimento e desconfiança sobre a atuação dos catadores e pela interferência institu­
cional negativa de algumas prefeituras. A Tabela 6.4 apresenta um sumário desses entraves.
O reconhecimento dos obstáculos aos aumentos de produção e produtividade e as suges­
tões de melhorias podem ser orientadas pelos diagnósticos das condições de trabalho e de
funcionamento das associações ou cooperativas de catadores (LIMA, OLIVEIRA, 2008).
São poucos os estudos qualitativos e quantitativos que descrevem os riscos ocupacionais
a produtos químicos associados às instalações de tratamento de resíduos eletroeletrônicos
(MJ & Associates, 2004). O estudo Screening level human health and ecological risk as-
sessment for generic e-waste processing facility (MJC & Associates, 2004) indicava os
possíveis riscos relacionados às etapas que objetivam a recuperação de materiais:
1. Recebimento: os riscos na área de recebimento dos REEE são numerosos e de diferentes
tipos. Os resíduos podem chegar às instalações de triagem em paletes, enrolados em
vinil ou em caixotes. Os trabalhadores realizam o descarregamento e rasgam os plás­
ticos para identificar os produtos. Trata-se de uma tarefa manual que exige diferentes
tipos de esforços; além disso, há peças soltas que apresentam riscos ergonômicos. Outro
problema seria o empilhamento de caixas que podem cair e ocasionar risco de lesão e
exposição a substâncias perigosas.
2. Seleção e classificação dos equipamentos: passo importante, pois, a identificação das
diferentes origens dos componentes (residências, escritórios, laboratórios) contribui
para reduzir a exposição ocupacional no geral. A utilização de aparelhos que permitam
identificar alguns perigos, exemplo: a radioatividade, pelo uso do aparelho Geiger,
ajuda a reduzir a exposição aos riscos ocupacionais. É nesta etapa em que as decisões
são tomadas quanto aos destinos dos equipamentos. Os componentes testados e em

1
As respectivas classes de eficiência (alta, média, baixa e baixíssima) têm as seguintes participações percentuais
14%, 27%, 35% e 24% das organizações coletivas e 16%, 24%, 43% e 17% dos catadores. Dados adaptados
de PANGEA (Damásio, 2010), em amostra intencional com 83 organizações e 3.846 catadores.
102  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

TABELA 6.4  Entraves para a atividade de catação.


Volume
de materiais Efeitos
Fonte recicláveis Método Problemas Solução da PNRS
Ruas e áreas Variável, Carrinhos e Algumas prefei- Estabelecer Estímulo à
urbanas depende da caminhões; turas dificultam a parcerias entre coleta e à
preexistência pressupõe presença e o tráfe- PMs e coo- organização
de coleta de coordenação go de catadores perativas de dos catadores
lixo urbano logística catadores
Coleta Ainda modesta Caminhões ou Deficiências na Ordenação na Estímulo à
seletiva doações in loco destinação do destinação do coleta e à
material material organização
dos catadores
Grandes Bom volume, Triagem e Alguns não Exigência legal Potencial
geradores materiais pré- caminhões permitem o acesso de acesso ao problema
selecionados material
Feiras e Eventual, Triagem e Algumas feiras e Exigência legal Potencial
eventos mas volume caminhão eventos não per- de acesso ao problema
considerável mitem o acesso material
Coleta Grande volume Não têm aces- Muitas prefeituras Exigência legal Estímulo à
pública so, em geral não permitem o de acesso ao coleta e à
acesso material organização
dos catadores
Empresas Grande volume Não têm aces- O material reci- Exigência legal Potencial
terceirizadas so, em geral clável recolhido de acesso ao problema
é enterrado ou material
comercializado
Fonte: IPEA, 2010.

condições adequadas para a reutilização são separados para revenda ou utilizados para
montar outros equipamentos. Esse procedimento implica em melhorias ambientais, pois
diminuem a quantidade de resíduos finais destinados aos aterros evitando que substâncias
perigosas dos componentes sejam alocadas no solo, ar ou água.
3. Teste e seleção: forma como são manejados os equipamentos e partes, identificam se alguns
riscos podem estar associados à etapa inicial da coleta do produto. O teste dos equipamentos
requer alguns cuidados dos trabalhadores em relação aos riscos que podem ocorrer com a
eletricidade, com o superaquecimento de componentes e a liberação de fumaças.
4. Desmontagem: é a partir da desmontagem que a exposição aos riscos aumenta, nesta
etapa, bem como na trituração e separação por materiais, pode ocorrer o contato direto do
trabalhador com algumas partes e componentes contendo substâncias perigosas, além da
possibilidade desses elementos perigosos atingirem o ambiente. Na desmontagem manual,
os trabalhadores estão sujeitos a alguns riscos, no caso dos computadores, as poeiras das
substâncias perigosas como os retardantes de chamas bromados (PBB e PBBE) podem
ser liberados na quebra da carcaça do monitor para retirada do tubo de imagem e inalados
pelos operadores. Outros objetos manuseados como fax, impressoras e fotocopiadoras
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    103

podem ocasionar a exposição de substâncias, como: tintas e outros produtos químicos.


O processo mecânico dos trabalhadores para desmontar os equipamentos leva a riscos
ergonômicos, além da exposição por inalação principalmente por partículas de poeiras
formadas por plásticos, metais, cerâmica e sílica (pó de vidro e silício).
5. Separação: a separação por partes ocorre paralelamente à desmontagem. A maioria dos
componentes como fontes de alimentação, placas-mãe, placas de circuitos e memórias
não resultam em exposições adversas aos trabalhadores. Porém, outros componentes,
como: lâmpadas fluorescentes, capacitores, metais e caixas de plásticos revestidos
com solventes ou partículas que contém produtos químicos perigosos têm potencial de
exposição.
6. Trituração: o processo de trituração é bastante utilizado pelas facilidades das técnicas
existentes, entre elas a separação por peneiração de tamanhos diferentes e separação
por condutividade magnética que resultam numa composição relativamente uniforme
de pedaços e eficiência energética na operação de reciclagem. Nesta etapa os riscos
ocupacionais associados ao uso das máquinas são significativos: os problemas de ruídos
da trituração, a possibilidade de geração de objetos voadores de dureza diferente, os
riscos de operar o triturador, riscos de inalação e dérmica da possível poeira ou sobras
da trituração.
7. Transporte e armazenagem: Cuidados adicionais devem ser tomados com a questão
do transporte e armazenamento desses resíduos triturados. Existe a possibilidade das
poeiras de trituração reentrarem no ambiente de reciclagem caso os materiais triturados
sejam armazenados em áreas abertas. Além disso, o armazenamento ou estoque dos
componentes triturados podem acarretar em mistura de resíduos e formação de poeira
mais tóxica, desta forma, a manutenção do lugar e o manuseio dos sacos de trituração
realizados por trabalhadores expõem a potencial risco de inalação e dérmica.
Outras considerações que podem ser feitas a respeito dos processos de reciclagem são
os processos de transformação pelo qual alguns materiais são recuperados, portanto, os
processos térmicos e eletromagnéticos. Nesta etapa da operação são elevados os níveis de
exposição a substâncias e, dessa forma, a exposição dérmica e por inalação.
Apesar de os catadores constituírem-se um grupo fundamental na indústria de reci­
clagem, eles continuam vivenciando um processo duplo de inclusão e exclusão social
no qual se deparam com condições de fragilidade, vulnerabilidade e precariedade
(GONÇALVES-DIAS, 2009). Constituem o elo mais frágil da cadeia produtiva, ficando
no meio de dois polos de interesse. O poder público, que visa promover políticas de
trabalho e renda e solucionar problemas técnicos da coleta seletiva de maneira barata.
E do outro lado, as grandes empresas que buscam se vincular a entidades de “bem-estar
social” (GONÇALVES-DIAS; SANTOS, 2012). As cooperativas ficam espremidas,
necessitando se ajustar às exigências técnicas e de produtividade, interesse das grandes
empresas e, ao mesmo tempo, se manter sob o formato cooperativo para legitimar sua
própria instrumentalização, como interesse do poder público e das grandes empresas
(GONÇALVES-DIAS, 2009).
104  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

6.6  A coleta dos REEE em centrais de triagem (CT):


o caso da prefeitura de São Paulo

O atual programa de coleta seletiva da cidade de São Paulo foi criado em 2002 e
pretendia, inicialmente, incorporar parte dos catadores, sendo os recicláveis obtidos através
das modalidades porta a porta e dos PEVs – Pontos de Entrega Voluntários –, sendo encami­
nhados para as centrais de triagem. Posteriormente, o Programa de Coleta Seletiva Solidária
da Prefeitura de São Paulo foi regulamentado pelo Decreto n° 48.799 de 09 de outubro de
2007 e conta atualmente com 21 cooperativas conveniadas e cerca de 1.200 pessoas sendo
empregadas nas mesmas. São contemplados com a Coleta de Materiais Recicláveis 75, dos
96 distritos existentes no Município de São Paulo (PMSP, 2012).
Como equipamentos da Coleta Seletiva, estão instalados 3.811 PEVs (Pontos de Entrega
Voluntários) em bancos, supermercados, escolas – municipais, estaduais e particulares –,
universidades e condomínios. Foi coletado, no ano de 2009, cerca de 120 toneladas por dia
de resíduos domiciliares (PMSP, 2012). A partir de convênios firmados com prefeituras e
grandes empresas as cooperativas são capazes de receber uma quantidade maior de resíduos
e negociar melhor sua venda. Os benefícios oferecidos pelas prefeituras às organizações
de catadores variam e não chegam a remunerá-las pelo trabalho realizado (GONÇALVES-
DIAS; SANTOS; 2012).
Atualmente, no município de São Paulo, não existe um sistema de coleta específico
para os REEE. Por ausência de legislação específica e locais adequados para destino desse
tipo de resíduo, as centrais de triagem (CT) e as cooperativas de catadores têm sido locais
receptores de materiais, já que possuem alguns componentes com valor econômico agrega­
do. Considerando que o manejo e o destino inadequado desses resíduos representam risco
à saúde ocupacional e ambiental, é importante conhecer em que condições estão ocorrendo
o desmonte e o beneficiamento desses materiais.
Em pesquisa realizada nas centrais de triagem mantidas pela Prefeitura de São Paulo
(GUNTHER et al, 2012; LACERDA; PRAGANA, 2010), verificou-se que elas não es­
tavam preparadas para a realização da recepção, armazenamento e desmontagem de REEE
de maneira adequada, expondo, dessa forma, os trabalhadores e o meio ambiente à riscos.
Sendo assim, o presente projeto de estudo pretende elaborar uma análise comparativa de
duas centrais de triagem em relação à problemática de recebimento e beneficiamento
de REEE no município de São Paulo, com base na Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010.
Esse programa possuía em 2010, ano que foram realizadas as visitas, 18 Centrais de Triagem
e atendia a 74 dos 96 distritos municipais, através da coleta seletiva e encaminhamento dos
recicláveis a 16 Centrais de Triagem (CT), operadas por cooperativas de catadores. No ano de
2009, foi coletado um volume médio de 120 toneladas por dia através do programa.
Dos 16 Centros de Triagem (CT) foram visitados 15 no município de São Paulo. Dentre
esses, 14 recebiam resíduos eletroeletrônicos e havia um que operava exclusivamente com
esse tipo de material. Nesse CT todos os funcionários eram capacitados para trabalhar
com REEE, conseguindo obter maior valor agregado e fazer gerenciamento e destinação
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    105

adequados. Além disso, passaram por treinamento acerca do correto manejo e dos riscos
ocupacionais de suas funções, caracterizando-se um caso diferenciado. Já nos demais CTs
o quadro encontrado foi mais homogêneo.
Os REEE recebidos nos Centros de Triagem do município eram provenientes da coleta
seletiva realizada por empresas contratadas pela Prefeitura Municipal de São Paulo através
das modalidades de coleta porta a porta domiciliar, Postos de Entrega Voluntária (PEV)
e coleta programada em condomínios, estabelecimentos comerciais, industriais, bancos
e outros. As próprias cooperativas, administradoras dos CTs, também buscavam esses
materiais diretamente em condomínios, estabelecimentos, entre outros, e relataram que
nesse caso a qualidade do material era superior, pois os mesmos chegavam sem quebrar e
sem a presença de material orgânico (o que ocorria no outro caso devido ao uso de cami­
nhões compactadores).
No contexto do caso estudado foi possível observar que os cooperados que manejavam
os REEE não possuíam treinamento para realização de forma adequada, totalizando 64%
das cooperativas, ou seja, nove cooperativas não receberam nenhum tipo de treinamento.
Sendo que em apenas metade das cooperativas visitadas os cooperativados já possuíam
alguma experiência anterior no manejo desse tipo de resíduo.
No que concerne ao uso de EPIs – Equipamentos de Proteção Individual –, o quadro
encontrado na ocasião do estudo pode ser sintetizado pelo gráfico abaixo, apenas res­
saltando que as luvas foram o único EPI utilizado em todos os CTs para manejo dos REEE
(Gráfico 6.2).
Após o beneficiamento, os equipamentos e componentes que não eram reaproveitados
se tornavam rejeito, por não possuírem valor comercial, tais como: os Monitores CTR, as

Gráfico 6.2  Uso de EPIs no manejo de REEE. Fonte: LACERDA; PRAGANA, 2010.


106  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

pilhas/baterias e as lâmpadas fluorescentes. Todos esses eram agregados com os demais


rejeitos e em 92% das cooperativas o destino eram os aterros sanitários, totalizando 12 coo­
perativas. Em apenas uma delas os rejeitos tinham como destino uma empresa de reciclagem
da Sucata de Informática localizada em São Paulo.
Foi possível observar que, na maioria dos casos, esses resíduos não recebiam um
tratamento adequado, sendo armazenados juntamente com os demais e, em alguns casos,
ao ar livre. Como contêm substâncias perigosas, deveriam receber tratamento e destinação
adequados, o que resultaria em custos adicionais para as cooperativas; desse modo, os
rejeitos são encaminhados para aterros sanitários juntamente com os demais resíduos.
Quanto aos cooperados, o estudo de Lacerda e Pragana (2010) evidenciou que grande
parte não possuía conhecimento acerca da composição, tampouco do correto manejo e
impactos ambientais/ocupacionais dos resíduos com que estavam lidando. Dessa forma,
mesmo com a utilização de EPIs, foram relatados casos de acidentes como cortes,
perfurações e outros, ficando clara a falta de segurança nas condições de trabalho dos
cooperativados.
Em relação à quantidade de REEE recebida nos CTs, as respostas obtidas mostraram
que mais de 50% não tinham conhecimento do número aproximado, 26,7% declararam
receber pequenas quantidades e 13,3% receber grande quantidade. Nenhum dos entrevis­
tados possuía dados exatos da quantidade recebida. Grande parte também não possuía dados
quanto à frequência de recebimentos dos materiais recicláveis (80% dos entrevistados),
13,3% disseram receber REEE diariamente e 6,7% quinzenalmente.
Os equipamentos eletroeletrônicos citados como recebidos com maior frequência nos
CTs foram: TV, rádio, celular/bateria de celular, computador, monitor CRT, impressora,
geladeira, micro-ondas, ferro de passar roupa, sanduicheira, liquidificador, ventilador,
barbeador, brinquedos, carregador, lâmpadas fluorescentes, batedeira, chuveiro e monitor
LCD. Sendo que entre esses, televisores, celular/bateria de celular, computador, monitor
CRT e ferro de passar roupa foram os mais recebidos pelas cooperativas.
O beneficiamento dos materiais recebidos se dava através das seguintes atividades:
pesagem, teste, conserto, separação e classificação, quebra, prensagem e armazenagem.
As atividades mais desenvolvidas foram (em ordem decrescente): separação e classificação
(86,7%), desmontagem (80%), armazenagem (66,7%) e teste (53,3%). As atividades de
conserto, quebra e prensagem eram realizadas em uma parcela pouco significativa de CTs.
Como forma de armazenamento dos materiais destinados à comercialização, predominava
o uso de galpões (47%) seguido pelo armazenamento em big bags (20%).
Em relação à questão das formas de comercialização dos materiais e equipamentos após
a segregação, segue o Gráfico 6.3 com os principais destinos desses REEE.
No que concerne aos REEE, já existem recicladoras em diferentes regiões do país, como
pode ser visto no mapa abaixo (Figura 6.6).
Dessa forma, o estudo de Lacerda e Pragana (2010) evidenciou que a estrutura dos CTs
é precária para suportar o recebimento e manejo de REEE, tanto no que se refere à estrutura
física das instalações, quanto à capacitação dos cooperados.
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    107

Gráfico 6.3  Destinos dos REEE após segregação. Fonte: LACERDA; PRAGANA, 2010.

Figura 6.6  Dispersão geográfica de recicladoras de REEE. Fonte: INVENTTA, 2012.

6.7  Considerações finais

A luta dos catadores por melhores condições de vida e trabalho e a gradativa incor­
poração dessa questão em políticas públicas abrange muitos desafios, uma vez que a
gestão dos resíduos sólidos envolve diversos atores com interesses distintos (PEREIRA
e TEIXEIRA, 2011). A relevância do trabalho realizado por esses trabalhadores se torna
ainda maior com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), já que os
mesmos são reconhecidos como atores prioritários no programa de gestão compartilhada
de resíduos sólidos dos municípios do Brasil (SANTOS; GONÇALVES-DIAS, 2011).
108  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Esta evidente abertura de oportunidades também traz consigo exigências e necessidades


de adequações para os catadores de materiais recicláveis, principalmente para a coleta e
manejo dos REEE. Apesar de a legislação enfatizar a inserção do catador na gestão de
resíduos, ainda são muitas as questões a serem trabalhadas para a legitimação, estruturação
técnica, capacitação, instrumentação, profissionalização e regulamentação da atuação desses
trabalhadores, visando à redução dos impactos socioambientais que a temática enseja.
Por se tratar de resíduos perigosos, será demandada a estruturação técnica das coo­
perativas, exigindo-se a adequação ao licenciamento ambiental e o atendimento a outros
requisitos legais. Tais exigências habilitarão as cooperativas de catadores para participação
na coleta seletiva municipal, na logística reversa e no recebimento de REEE para adequado
manejo, desmontagem e encaminhamento às indústrias de reciclagem.
Conforme a PNRS, todos os atores que participarem do processo devem atender à legis­
lação ambiental, além de comprovar as boas práticas para manuseio, acondicionamento,
armazenamento e transporte dos resíduos sólidos (PEREIRA NETO, 2011). Para que boas
práticas sejam adotadas pelas cooperativas de catadores nas etapas da gestão de resíduos
sólidos, que passarão a ser, ou já são em alguns municípios, de sua responsabilidade, a
capacitação dos catadores passa a ser uma necessidade.
Portanto, capacitar os catadores para a realização de suas atividades passa a ser uma
exigência fundamental, inclusive para lidar com aspectos de saúde e de segurança de traba­
lho, pontos frágeis na operação das cooperativas. Outra exigência importante, e que deve
ser considerada como principal para o sucesso da implementação da gestão de resíduos
sólidos no Brasil, a partir do modelo criado pela PNRS, é a articulação e a integração para
operação em redes de cooperativas de reciclagem, seja para mobilização, comercialização
ou capacitação de seus colaboradores.
Muitos decisores políticos mudaram seu foco de acusação para a inclusão dos catadores,
a fim de melhorar a vida de quem trabalha no setor informal, integrando suas atividades no
sistema de gestão integrada de residuos solidos. No entanto, muitos desafios permanecem
sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais destes modelos emergentes.
Precisam-se construir novos modelos para a gestão dos REEE que permitam que as
organizações, mesmo as informais, sobrevivam em um mercado competitivo global, sem
cristalizar a organização dinâmica existente nas cooperativas ou comprometer a sua missão
social. Dessa forma, fica evidenciado que existe a necessidade de prover assistência técnica
e capacitação para os catadores, de acordo com o estágio evolutivo em que se encontra cada
grupo, associação e/ou cooperativa, visto que 60% desses ainda não estão organizados e
trabalham em condições muito precárias.
É imprescindível a construção de políticas públicas que possibilitem o exercício efetivo
de direitos por parte de milhares de catadores do país, que estão em situação de pobreza
e vulnerabilidade social. Há que se reconhecer os avanços nos últimos anos em termos
de reconhecimento público da questão e de construção de políticas públicas voltadas ao
tema. Mas ainda há muito que ser feito, já que a gestão dos resíduos sólidos é um grande
desafio, não apenas ambiental, econômico, tecnológico ou social, mas, sobretudo, político
(PEREIRA e TEIXEIRA, 2011).
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais...    109

Tal problema envolve muitas dimensões que excedem o âmbito deste capitulo, mas
acredita-se que para melhorar as condições de trabalho nas cooperativas é preciso in­
tegrar ações de implantação de coleta seletiva, criação e organização das cooperativas de
catadores, mobilização da população e organização da rotina de produção e da autogestão
do empreendimento cooperativado.
Inegavelmente, a PNRS e sua regulamentação trazem grandes desafios aos catadores
de materiais reciclados, que precisarão mudar os modelos de gestão dos REEE atualmente
adotados. Pereira Neto (2011) recomenda criar um fórum de discussão em nível municipal,
regional e estadual para ações de capacitação, organização administrativa e operacional,
saúde e segurança dos cooperativados, adequações de infraestrutura, aquisição de equipa­
mentos, inovação tecnológica e elaboração de projetos para obtenção de financiamentos
são medidas fundamentais para o aperfeiçoamento e o sucesso das cooperativas no manejo,
desmontagem e comercialização dos REEE.
Enfim, adotar um novo modelo administrativo e operacional passará a exigir dos catado­
res e de suas cooperativas uma visão empreendedora para o sistema de gestão de resíduos
sólidos, que se pretende estabelecer no Brasil pela PNRS.

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Capítulo 7
Os impactos
dos resíduos
de equipamentos
eletroeletrônicos
na saúde
Nelson Gouveia, Mariana Maleronka Ferron, Rúbia Kuno

RESUMO

A consolidação de mecanismos legais e normativos para a gestão ambientalmente


adequada de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) tem priorizados aspectos
da gestão do processo. A exposição ocupacional pode ocorrer tanto na manufatura quanto em
unidades de reciclagem ou remanufatura. Os consumidores também podem estar expostos
no uso diário desses equipamentos. No entanto, apesar de haver orientações a respeito do
uso de equipamentos eletroeletrônicos, existem poucos documentos relacionando definição
de padrões de exposição ocupacional e mecanismos de manuseio dos equipamentos
pós-consumo. Dessa forma, o presente capítulo tem como objetivo apresentar os princi-
pais aspectos relacionados ao impacto na saúde a partir do gerenciamento inadequado dos
resíduos tecnológicos.

7.1 Introdução

O Brasil vem atravessando uma fase de intensificação dos processos de industrialização,


urbanização e desenvolvimento econômico e tecnológico. Em decorrência direta desses
processos, observam-se alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo da
população, resultando em expressivo aumento, tanto em quantidade como em diversidade, 113
114  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

na geração de resíduos sólidos, principalmente nos grandes centros urbanos. Além do


significativo acréscimo na quantidade, os resíduos atualmente produzidos são muito mais
diversos e passaram a abrigar em sua composição elementos perigosos à saúde humana
e aos ecossistemas, principalmente em virtude das novas tecnologias incorporadas à vida
cotidiana.
O desenvolvimento tecnológico vem disponibilizando regularmente novos produtos no
mercado, geralmente contendo inúmeras substâncias perigosas. Por outro lado, a melhoria
de renda de parcelas expressivas da população vem consubstanciando o desejo destas em
consumir novas tecnologias, impulsionando uma maior aquisição de bens de consumo
duráveis, especialmente os eletroeletrônicos (YACCOUB, 2011). Soma-se a isso o fato de
seguirmos sob a égide de um modelo de desenvolvimento com lógica pautada no consumo,
a qual, por sua vez, impõe um ritmo acelerado de inovação, criando produtos cada vez mais
descartáveis, de rápida obsolescência, além de influenciar diretamente nossos padrões de
consumo em direção ao excessivo e ao supérfluo, incentivando o desejo de substituir um
determinado bem por outro mais moderno assim que disponível no mercado.
O atual padrão de produção e consumo leva a um aumento importante do descarte de
produtos eletroeletrônicos no meio, uma vez que esses equipamentos rapidamente são trans-
formados em sucata tecnológica. Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE)
podem ser definidos como substâncias ou objetos dependentes de correntes elétricas ou
campos eletromagnéticos para funcionar (incluindo todos os componentes, subconjuntos
e materiais consumíveis que fazem parte do equipamento original no momento de seu des-
carte), descartados devido a fatores como não funcionamento, custo de reparação, inovação
tecnológica e curto ciclo de vida (União Europeia, 2003). Aspectos da produção como
design e tempo de vida dos equipamentos também contribuem para a crescente geração de
resíduos eletroeletrônicos, que aumentam a taxas três vezes maiores que os resíduos
urbanos tradicionais e representam atualmente entre 1% a 5% do total de resíduos sólidos
gerados a cada ano, tanto em países industrializados, como naqueles em industrialização
(UNEP, 2007; SEPA, 2011).
No Brasil, estima-se que em 2011 foram produzidos aproximadamente 6,5 kg de
resíduos eletroeletrônicos por habitante, com projeção de atingir cerca de 8 kg/habitante/
ano em 2015 sendo que atualmente, na Europa, a produção de REEE é da ordem de 20 kg/
habitante/ano (The World Bank, 2012).
A exposição ocupacional pode ocorrer tanto na fase de fabricação, como também durante
a reciclagem, recondicionamento, assistência técnica e remanufatura dos equipamentos
eletroeletrônicos. De acordo com SEI (2012), já foram detectados resíduos de retardante de
chamas na poeira que se deposita sobre computadores, bem como indícios de contato com pó
de toner na operação de troca de cartuchos. Esse mesmo estudo menciona a contaminação
do meio ambiente a partir da incineração ou aterro de equipamentos eletroeletrônicos
pós-consumo, e ainda enfatiza o impacto da destinação desse tipo de material em países
em desenvolvimento, onde não há instrumentos regulamentadores eficientes ou há ausência
de fiscalização.
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  115

De modo geral, esses produtos podem conter mais de mil substâncias diferentes, sendo
algumas de grande valor econômico, como ouro, prata e platina, e outras com potencial de
dano ao meio ambiente e à saúde humana, a exemplo dos metais pesados como antimônio
(Sb), arsênio (As), cádmio (Cd), chumbo (Pb), níquel (Ni), mercúrio (Hg) e zinco (Zn),
que podem ocasionar inúmeros efeitos adversos sobre a saúde (WIDMER et al., 2005;
UNEP, 2009).
As formas de destinação adequada desses resíduos são pouco conhecidas e mais com-
plexas do que a destinação do lixo comum (SEPA, 2011). Dada a insuficiência nos proces-
sos de coleta e reciclagem, boa parte dessas substâncias é descartada no meio ambiente
de maneira imprópria ou gerenciada de modo inadequado (Figura 7.1). Com a destinação
inadequada desse material, começaram a surgir casos de contaminação humana decorrentes
da exposição a altas concentrações de metais pesados e outras substâncias presentes nesses
equipamentos. Assim, os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ganharam
destaque dentre os resíduos considerados perigosos e vêm exigindo um plano de gestão
que priorize sua destinação adequada (ANDRADE-LIMA, 2012).
As abordagens dos aspectos relativos à saúde e segurança são significativamente dife-
rentes entre os diferentes setores que compõem a destinação dos REEE. De maneira geral,
durante o processo usual de produção e manutenção, busca-se propor mecanismos de se
evitar a ocorrência de choques elétricos durante o manuseio do material, bem como a inalação
de óxidos de chumbo durante as operações de solda e ainda poeira de toner de impressão.
Nas fases de coleta e reciclagem, por exemplo, o risco está diretamente relacionado ao
manuseio de equipamentos pesados, cortantes e infecciosos a partir de determinadas peças
ou componentes. Há ainda nessas fases a exposição aos riscos inerentes ao transporte, bem
como exposição a substâncias perigosas durante o processo de reciclagem (por exemplo,
dioxinas e furanos durante a queima de resinas plásticas e metais pesados durante a abertura
de monitores do tipo CRT).
Apesar da profissão de catador ser reconhecida, nomeada e classificada na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), por meio da Portaria n° 397 de 9 de outubro de 2002, do
Ministério do Trabalho e Emprego, ainda não há documentação e regulamentação a res-
peito do número de horas que um trabalhador poderia atuar na coleta e processamento de
resíduos eletroeletrônicos, considerando-se o potencial de dano dos produtos e materiais
envolvidos nessas atividades.
O catador de material reciclável é registrado sob o código 5192-5 e tem como definição
de sua função:

Catador de material reciclável - Catador de ferro-velho, Catador de papel e pape-


lão, Catador de sucata, Catador de vasilhame, Enfardador de sucata (cooperativa),
Separador de sucata (cooperativa), Triador de sucata (cooperativa)
Descrição sumária
Catam, selecionam e vendem materiais recicláveis como papel, papelão e vidro, bem
como materiais ferrosos e não ferrosos e outros materiais reaproveitáveis.
116  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Formação e experiência
Acesso ao trabalho é livre, sem exigência de escolaridade ou formação profissional. As
cooperativas de trabalhadores ministram vários tipos de treinamento a seus cooperados,
tais como cursos de segurança no trabalho, meio ambiente, dentre outros.
Condições gerais de exercício
Trabalho é exercido por profissionais que se organizam de forma autônoma ou em coo-
perativas. Trabalham para venda de materiais a empresas ou cooperativas de reciclagem. O
trabalho é exercido a céu aberto, em horários variados. O trabalhador é exposto a variações
climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material, a acidentes de trânsito e, muitas
vezes, à violência urbana. Nas cooperativas surgem especializações do trabalho que tendem
a aumentar o número de postos, como os de separador, triador e enfardador de sucatas.
A Figura 7.1 ilustra uma situação bastante típica a respeito da destinação dos resí-
duos tecnológicos. O desconhecimento a respeito dos riscos envolvidos no acondiciona-
mento e manipulação dessa categoria de materiais tende a resultar na contaminação do
ambiente e da saúde humana.

Figura 7.1  Detalhe de REEE na cooperativa Avemare em junho de 2011. Fonte: Nelson
Gouveia, 2011.

7.2  Principais REEE e seus efeitos na saúde

O REEE é um termo genérico que inclui todos os equipamentos elétricos e eletrônicos


(EEE) eliminados por seus usuários originais, desde grandes eletrodomésticos, como
geladeiras, fornos de micro-ondas, televisores, computadores, equipamentos de impressão e
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  117

conexão, cabos, infraestruturas de redes até aparelhos portáteis digitais, telefones celulares
e brinquedos (SEPA, 2011; DEL GROSSI, 2011).
O desenvolvimento tecnológico faz com que a vida útil desses produtos seja cada vez mais
curta. Estima-se que o tempo de vida médio de um computador seja de 3 a 4 anos e o de um
celular de 1 a 1,5 ano (DEL GROSSI, 2011). Assim, o lixo eletrônico é atualmente o que mais
cresce no fluxo de resíduos sólidos urbanos e equivale a cerca de 20-50 milhões de toneladas por
ano no mundo, sendo os EUA, Europa Ocidental, China, Japão e Austrália os maiores produtores
(SEPA, 2011; CHEN et al., 2011). Essa grande quantidade, somada aos componentes tóxicos
presentes nesses resíduos, torna os REEE uma ameaça ambiental global.
Apesar da Convenção da Basileia (1992) regular a movimentação de resíduos perigosos
entre os países, quantidades significativas de REEE são exportadas de países mais ricos
para aqueles ainda em desenvolvimento (LA DOU AND LOVEGROVE, 2008). Isso ocorre
porque a reciclagem de REEE tem potencial econômico atrativo, uma vez que é possível
recuperar ouro, prata, cobre, zinco, ferro, estanho e outros metais com valor significante
(HUO et al., 2007; WONG et al., 2007). Além disso, o custo do trabalho nos países em
desenvolvimento é geralmente menor e as legislações específicas, ambiental e de proteção
ao trabalhador, menos rigorosas (UNEP, 2009; SEPÚLVEDA et al., 2010).
Isso fez com que surgissem nesses países indústrias de reciclagem para dar conta do
rápido crescimento no fluxo de REEE. Entretanto, alguns materiais possuem composição
complexa, a qual demanda tecnologias de alto custo para a extração adequada dos com-
ponentes de valor econômico. Nesses casos, a recuperação de alguns componentes pode
significar a perda de outros, ou envolver métodos ambientalmente inadequados e inseguros,
o que torna, muitas vezes, essa atividade não rentável. Assim, surgiram também empresas
recicladoras que utilizam tecnologias impróprias decorrentes da falta de recurso financeiro
e “know-how” para o emprego de tecnologias mais sustentáveis (idem ibidem).
O Brasil figura – ao lado de Colômbia, Quênia, México, Marrocos, Peru, Senegal, África
do Sul e Uganda – entre os principais países em desenvolvimento que reciclam REEE em
pequena escala, utilizando tecnologias primitivas (UNEP, 2009). Essa prática faz com que
as substâncias tóxicas presentes nos REEE contaminem o ar, poeira, solo e água (OGUN-
SEITAN et al., 2009; WONG et al., 2007) e, consequentemente, afetem a saúde humana.
Na Tabela 7.1 estão descritos os tipos de componentes que podem ser encontrados
na maioria dos equipamentos eletroeletrônicos, e os principais agentes tóxicos presentes
nesses componentes. Na Tabela 7.2 estão listados os principais efeitos à saúde relacionados
às substâncias potencialmente contaminantes descritas na tabela anterior. Levando-se
em conta que a gama de diferentes itens presentes nos EEE é muito grande, a lista não é
exaustiva, nem completa, apresentando os mais comuns e que podem conter substâncias
potencialmente perigosas à saúde.
Diversas substâncias presentes nos REEE têm importante ação neurotóxica, como
o chumbo, cádmio, mercúrio, e poluentes orgânicos persistentes, como as Bifenilas
­policloradas (PCBs), Bifenilas polibromadas (PBB), Difenil éteres polibromados (PBDEs)
e Dioxinas e Furanos (Tabela 7.3). Os grupos humanos mais suscetíveis aos efeitos neu-
rotóxicos desses contaminantes são idosos, doentes crônicos, crianças e fetos. Estes são
118  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

TABELA 7.1  Elementos tóxicos presentes nos módulos básicos dos equipamentos
eletroeletrônicos.
Componentes Aplicações Elementos potencialmente perigosos
Placas Utilizadas em quase todos os EEE, desde Chumbo (Pb) e antimônio (Sb) em ligas,
de circuito geladeiras modernas até computadores cádmio (Cd) em contatos e interruptores,
interno mercúrio (Hg) em interruptores e relés,
retardantes de chama bromados
Baterias EEE portáteis Níquel e Cd em baterias Ni-Cd, Pb em
baterias chumbo-ácidas, mercúrio
em baterias de Hg
Componentes Termostatos, sensores, relês, ­interruptores, Mercúrio (Hg)
contendo lâmpadas, equipamentos médicos,
mercúrio equipamentos de telecomunicação
Tubos de Raios TVs antigas, monitores antigos, Pb, Sb, Cd no vidro
Catóticos ­osciloscópio
Cabos, cordões Diversos Cd, cobre (Cu), plástico, PVC (cloreto de po-
e fios livinila), Retardantes de chama bromados
Visor de cristal Diversos Cerca de 20 substâncias distintas
líquido (LCDs)
Circuitos Aparelhos antigos de ar condicionado, Clorofluorcarbonos (CFCs)
de refrigeração freezers, geladeiras
Cartuchos Impressoras, aparelhos de fax, copiadoras Poeira de carbono e negro de fumo, mate-
de tinta rial produzido a partir da combustão incom-
pleta de derivados pesados de petróleo
Fonte: SEPA, 2011; ANDRADE-LIMA, 2012.

TABELA 7.2  Efeitos das substâncias tóxicas, presentes nos REEE, em seres humanos.
Substância Via de contaminação Efeito
Cádmio Manuseio Dermatite
Inalação e ingestão de alimento Disfunção renal, comprometimento
e água contaminada pulmonar, nos ossos e no fígado.
Chumbo Ingestão de alimento e água Disfunção renal, anemia, alterações no sis-
contaminada, inalação e manuseio tema nervoso e reprodutivo, alterações no
fígado e aumento da pressão sanguínea
Cristal líquido Manipulação Dermatite
CFCs - Destrói a camada de ozônio, causando
efeitos indiretos ao ser humano
Mercúrio Ingestão de alimentos, como pei- Lesões renais, alterações neurológicas,
xes e crustáceos contaminados, alterações no sistema digestivo
inalação e manuseio
Níquel Manipulação Dermatite
Ingestão de água e alimentos Alterações no sistema digestivo
contaminados
Inalação de poeira contendo Alteração de células sanguíneas, alterações
este metal renais e comprometimento pulmonar
(Continua)
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  119

TABELA 7.2  Efeitos das substâncias tóxicas, presentes nos REEE, em seres humanos (cont.).
Substância Via de contaminação Efeito
Poeira de carbono Inalação de poeira Comprometimento pulmonar
e negro de fumo
PVC Manipulação Dermatite
Inalação de dioxinas e furanos Alterações no aparelho reprodutivo
decorrentes de incineração e no ­sistema linfático, ação teratogênica
e carcinogênica
Retardantes de Manipulação Diversos efeitos em animais que ainda
chama bromados estão em avaliação para seres humanos
foram observados em exposições crônicas,
entre eles efeitos neurotóxicos, no sistema
endócrino e imunológico
Inalação Inalação de dioxinas e furanos decorrentes
de incineração
Antimônio Manipulação Dermatite
Inalação de poeira contendo esse Irritação do trato respiratório e substância
metal potencialmente carcinogênica
Fonte: ANDRADE-LIMA, 2012.

TABELA 7.3  Distribuição de níveis elevados de metais pesados e oligoelementos na urina


a partir da exposição ou não durante o manuseio de resíduos eletroeletrônicos.
Metais Padrão de Tamanho da amostra Níveis médios na Proporção com níveis
pesados referência urina (ppm) elevados de metais
e oligoe- (ppm) pesados ou oligoele-
lementos mentos na urina (%)
na urina N exposto N não-ex- Exposto Não Exposto Não
posto exposto exposto
Ba < 0,6 86 86 0,72 0,75 24,4 20,8
Cd < 0,0001 33 33 0,01 0,02 100,0 75,0
Co < 0,01 47 47 0,04 0,03 97,9 100,0
Cr < 0,01 64 64 0,15 0,06 100,0 100,0
Cu < 0,06 86 86 1,50 1,13 100,0 100,0
Fe N/A 86 86 3,52 3,18 N/A N/A
Hg < 0,004 24 24 0,13 0,16 100,0 100,0
Mn N/A 86 86 0,08 0,12 N/A N/A
Pb < 22,8 32 32 0,44 0,19 0,0 0,0
Se N/A 36 36 0,39 0,20 N/A N/A
Zn < 1,4 85 85 3,66 2,72 91,8 79,2
Fonte: FRANDSEN et al., 2011.
120  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

particularmente vulneráveis porque seu sistema neurológico se encontra em fase de desen-


volvimento (CHEN et al., 2011).
Em níveis sanguíneos elevados (>50 mg/dL), o chumbo pode provocar efeitos agudos em
crianças que vão desde sintomas gastrointestinais a graves efeitos neurológicos e, eventual-
mente, encefalopatia e morte. Em níveis mais baixos (≥10 mg/dL), estudos epidemiológicos
mostram efeitos como menor quociente de inteligência e dificuldades de aprendizagem
(CDC, 2007). Exposições no útero, pelo leite materno ou na primeira infância, podem ser
responsáveis por esses efeitos (WHO, 2007, ROTHERNBERG, 2008).
Estudo de coorte na China encontrou associação entre concentrações maiores de cádmio
no sangue do cordão umbilical e déficit em escala de inteligência na idade pré-escolar, após
ajuste para os níveis de chumbo no sangue umbilical (TIAN et al., 2009).
O mercúrio é um dos metais mais associados a problemas no desenvolvimento neuro-
lógico de crianças e fetos por ter a capacidade de atravessar as barreiras hemato-encefálica
e placentária, chegando ao cérebro e aos rins (ATSDR, 1999). Nos níveis subclínicos e
populacional, vários estudos em diferentes partes do mundo reportam alguma alteração no
estado neurológico, e desenvolvimento mais lento em recém-nascidos e crianças expostas ao
metil-mercúrio (MeHg) durante a gestação ou na primeira infância (MERGLER et al., 2007).
Como os metais, os poluentes orgânicos persistentes (PCBs, PBB, PBDEs e Dioxinas e
Furanos) estão relacionados a efeitos no sistema nervoso, principalmente em crianças e fe-
tos. Os PCBs são neurotóxicos e podem causar efeitos no desenvolvimento de crianças e
fetos (TRIPATHI, 2009). Afetam ainda as funções cognitivas como função visual-espacial,
memória, atenção e função motora (BOUCHER et al., 2009; SCHANTZ et al., 2003).
Exposição no período pré-natal a níveis mais altos de PBDEs estão associadas a neu-
rotoxicidade em crianças (ESKENAZI et al., 2011). Há uma preocupação maior com a
suscetibilidade de crianças aos PBDEs, pois em geral, elas apresentam concentrações
séricas de 2 a 3 vezes maiores do que seus pais (TOMS et al., 2009). Estudo realizado
com crianças em idade pré-escolar mostrou que a exposição pré-natal aos PBDEs pode ter
consequências nos níveis de hormônios tireodianos, podendo também ocasionar alterações
no neurodesenvolvimento (HERBSTMAN et al., 2008).
Na exposição crônica, as dioxinas estão associadas a danos no sistema nervoso. Estudos
com crianças indicaram atraso no neurodesenvolvimento e efeitos neurocomportamentais,
incluindo hipotonia neonatal (WHO, 2003, 2010). Trabalhadores que lidam diretamente
com resíduos, principalmente no setor informal, encontram-se mais expostos a esses
contaminantes e a seus efeitos, por apresentar uma situação de maior vulnerabilidade social
e de saúde (FERREIRA; DOS ANJOS, 2001).

7.2.1  Medidas preventivas

O uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC) são os principais


instrumentos de medida preventiva em relação a exposição aos agentes tóxicos presentes
nos resíduos tecnológicos.
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  121

Apesar de ainda não haver regulamentação específica a respeito dos procedimentos de


proteção para a manipulação dos REEE, sabe-se que há riscos nas etapas de transporte,
acondicionamento, desmontagem e prensagem. Dessa forma, o uso de máscara ou óculos
de proteção, luvas, avental e outros equipamentos de proteção individual.
Para a efetiva identificação dos equipamentos necessários, tanto para proteção in-
dividual quanto para proteção coletiva, é importe identificar os principais riscos inerentes
aos processos.

7.3  Os impactos decorrentes da destinação inadequada


desses produtos

Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos são química e fisicamente distintos de


outras formas de resíduos urbanos ou industriais, pois contêm materiais tanto valiosos
quanto perigosos em sua composição. Necessitam de tratamento e métodos de reciclagem
especiais para evitar a contaminação ambiental e a ocorrência de efeitos nocivos à saúde
humana (ROBINSON, 2009).
O descarte inapropriado e a reciclagem inadequada de REEE geram emissões perigosas,
com impacto na saúde e no meio ambiente. Nesse contexto, três níveis de emissões tóxicas
devem ser diferenciadas (UNEP, 2009):
j Emissões primárias, decorrentes de substâncias perigosas presentes no resíduo eletrônico
(chumbo, mercúrio, arsênio, bifenilaspolicloradas (PCBs), fluidos de refrigeração etc.);
j Emissões secundárias, decorrentes de reações resultantes do tratamento inadequado do

resíduo eletrônico (dioxinas e furanos originários de incineração inadequada de plásticos


contendo retardante de chama halogenado), e
j Emissões terciárias, decorrentes do uso de substâncias ou reagentes empregados du-

rante o processo de reciclagem (cianeto ou outros agentes lixiviadores, mercúrio para


amalgamação etc).
Dessa maneira, o manejo adequado dos REEE é uma importante estratégia de preser-
vação do meio ambiente, bem como de promoção e proteção da saúde. Tradicionalmente,
as formas mais habituais de destinação final dos REEE incluem a deposição no solo em
lixões ou aterros, a incineração e a reciclagem.

7.3.1 Aterros

Como os demais resíduos sólidos produzidos em áreas urbanas, a maior parte dos REEE
é depositada em aterros (ROBINSON, 2009). Nos EUA, por exemplo, foram gerados cerca
de 2,3 milhões de toneladas de REEE em 2007, sendo que apenas 18,4% foram coletados
para reciclagem. O restante foi, provavelmente, encaminhado para aterros (USEPA, 2008).
Estima-se que cerca de 70% dos metais pesados (mercúrio e cádmio) e 40% do chumbo
122  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

presente em aterros sanitários dos EUA sejam originários de resíduos de equipamentos


eletroeletrônicos (WIDMER, 2009).
Uma vez acondicionados em aterros, os REEE podem acarretar impactos indiretos à
saúde humana, pelo comprometimento da qualidade do solo e da água; por exemplo, pela
contaminação por metais pesados (GIUSTI, 2009). A decomposição da matéria orgânica
presente nos resíduos sólidos depositados em aterros resulta na formação de um líquido de
cor escura, o chorume. Este pode lixiviar os produtos químicos e metais pesados presentes
nos REEE, levando à contaminação do solo e das águas superficiais ou subterrâneas (lençol
freático) (DAGAN et al., 2007).
A disposição de REEE no solo em lixões ou aterros constitui uma importante fonte
de exposição humana a várias substâncias tóxicas. As principais rotas de exposição a
esses contaminantes são a dispersão do solo e do ar contaminados (WARD et al., 1996),
a lixiviação e a percolação do chorume (EL-FADEL et al., 1997). O último pode ocorrer
não apenas enquanto o lixão ou o aterro está em funcionamento, mas também depois de
sua desativação, uma vez que os resíduos continuam a degradar.
Estudos têm indicado que áreas próximas a aterros apresentam níveis elevados de
compostos orgânicos e metais pesados (SISSINO; MOREIRA, 1996) e que populações
residentes nas proximidades desses locais apresentam níveis elevados desses compostos
no sangue (SANTOS et al., 2003). Esses depósitos de resíduos sólidos que recebem REEE
constituem potenciais fontes de exposição, tendo sido relatados riscos aumentados para
diversos tipos de câncer (GOLDBERG et al., 1995; 1999; PUKKALA; PÖNKÄ, 2001),
anomalias congênitas (PALMER et al., 2005; ELLIOT et al., 2009), baixo peso ao nascer
(idem ibidem), abortos e mortes neonatais (DUMMER, 2003) nessas populações.
Destaca-se que os aterros controlados com forros e sistema de coleta de chorume não
estão isentos dos riscos decorrentes do depósito de REEE, ainda que os potenciais impactos
ambientais sejam consideravelmente maiores quando esses resíduos são depositados em
aterros não controlados (JANG; TOWNSEND, 2003).

7.3.2 Incineração

Apesar de ainda pouco utilizada no Brasil, a incineração vem sendo apontada como im-
portante destinação final para os resíduos sólidos urbanos, principalmente quando acoplada à
recuperação energética. Nos EUA, cerca de 2% de todo o REEE é enviado para incineração
(USEPA, 2008). Entretanto, a incineração de resíduos contendo material eletroeletrônico
também traz riscos à saúde, uma vez que produz quantidades variadas de substâncias tóxicas,
como gases, partículas, metais pesados, compostos orgânicos, dioxinas e furanos emitidos
diretamente na atmosfera (WHO, 2007; SEPA, 2011; LI et al., 2007). Por exemplo, as partes
plásticas desses equipamentos podem conter substâncias como retardantes de chama,
as quais, ao serem submetidas à incineração, liberam dioxinas e furanos (WIDMER, 2005;
LI et al., 2007). Pode haver também a emissão de partículas e outros poluentes atmosféricos,
principalmente quando a incineração de dejetos ocorre sem o uso de equipamentos de
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  123

c­ ontrole adequados. As cinzas remanescentes da incineração também contêm componentes


perigosos que necessitam de descarte adequado (LI et al., 2007). A incineração, antes da
deposição em aterros, pode também aumentar a mobilidade dos metais pesados presentes
nesses resíduos, em especial a do chumbo (GULLETT et al., 2007).
De modo geral, os impactos da incineração de REEE se estendem para além das áreas
de tratamento final dos resíduos, afetando toda a população. A contaminação de populações
residentes em áreas próximas a incineradores se dá diretamente (pela inalação de ar conta-
minado) ou indiretamente (por meio do consumo de água ou alimentos contaminados, ou
pelo contato dérmico com solo contaminado) (FRANCHINI et al, 2004).
Vários estudos apontam que a exposição da população à emissão de incineradores está
associada a risco aumentado para alguns tipos de câncer (VIELET et al., 2008; ELLIOT
et al., 1996), bem como ao aumento da ocorrência de desfechos indesejados da gravidez,
incluindo o baixo peso ao nascer e as anomalias congênitas (FRANCHINI et al., 2004;
CORDIER et al., 2004).

7.3.2.1 Reciclagem
Existe consenso de que a reciclagem e o reaproveitamento de materiais como matéria-­
prima para um novo produto são atividades benéficas para o meio ambiente. O processo
de reciclagem é muito importante para reaproveitar as substâncias de valor existentes na
composição dos REEE: uma tonelada de computador descartado contém mais ouro do que
17 toneladas métricas de minério de ferro, além de apresentar níveis mais baixos de elemen-
tos nocivos comuns à mineração, tais como o arsênio, mercúrio e enxofre (USGS, 2001).
Porém, os subprodutos tóxicos gerados a partir do processo de reciclagem dos equipamentos
eletroeletrônicos podem afetar direta ou indiretamente a saúde e o meio ambiente, colocando
também em risco os trabalhadores da reciclagem.
O processo de reciclagem é similar para a maioria dos equipamentos eletroeletrônicos,
apresentando, de modo geral as seguintes etapas (UNEP, 2009; EEA, 2002):
j Desmontagem: ocorre a remoção de componentes que possuem substâncias perigosas
como chumbo, mercúrio, CFC (cloroflúorcarbono), e a remoção das partes que apre-
sentam substâncias de valor, como cobre, aço, ferro e metais preciosos. Nessa etapa,
existe risco de contaminação do meio ambiente e do trabalhador, pois a armazenagem
inadequada e erro durante a desmontagem podem liberar líquidos e gases tóxicos. Além
disso, há o impacto que pode advir da poeira, contendo substâncias tóxicas, produzida
no processo de desmanche e desmontagem dos produtos.
j Segregação de metais ferrosos, não ferrosos e plásticos: ocorre geralmente no processo

de moagem e quebra. Há novamente a possibilidade de contaminação ambiental e humana,


pela inalação da poeira ou de gases voláteis. Havendo aquecimento ou queima de partes
plásticas que contenham retardantes de chama, pode ocorrer a liberação de dioxinas.
j Reciclagem e recuperação de materiais de valor: os metais ferrosos são colocados

em fornos elétricos, os não ferrosos são derretidos e os metais preciosos passam por
124  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

processo de separação. Nessa etapa, os riscos ao meio ambiente e ao homem dependem


do tipo de material a ser reciclado. Na reciclagem de ferro/aço em fornos elétricos, há
o risco de emissões de dioxinas, e de cádmio; na reciclagem de cobre, há o risco de
emissão de metais pesados e voláteis, e na reciclagem do alumínio, há a emissão de SO2
e NOx.
j Tratamento e disposição de materiais perigosos e resíduos: o mercúrio é geralmente

reciclado ou disposto no subsolo de aterros; os CFCs são tratados termicamente, e os


PCBs são incinerados ou armazenados em compartimentos no subsolo.
O descontrole das atividades de reciclagem em qualquer dessas etapas pode ter conse-
quências ambientais graves e expor os trabalhadores do setor e a população geral a misturas
perigosas de metais e outros poluentes (LADOU, 2008; LOVEGROVE, 2011).
Apesar de inexistirem estudos que avaliem os riscos de contaminação decorrentes do
trabalho de reciclagem de REEE no Brasil e na América Latina, existem indícios de que a
manipulação inadequada de alguns tipos de resíduos encontrados normalmente em galpões
pode levar à contaminação por metais pesados, principalmente por chumbo, mercúrio
e cádmio (UNEP, 2009; WONG et al., 2007). Alta concentração de chumbo, em níveis
capazes de interferir no desenvolvimento cognitivo, pode ser detectada em crianças cujos
pais estiveram envolvidos no trabalho de reciclagem de baterias em cidade do interior do
Estado de São Paulo (FREITAS et al., 2007).
Realizado na cidade de Porto Alegre, estudo apontou para um possível risco de con-
taminação por metais, decorrente do processo de reciclagem em uma comunidade de
recicladores. Os dados encontrados revelaram que crianças, filhos de pais com atividade
ligada à reciclagem, apresentaram prevalência aumentada de contaminação por chumbo
(FERRON et al., 2012).
A reciclagem dos REEE tem importância econômica e ambiental por recuperar com-
ponentes reutilizáveis, especialmente metais preciosos, além de criar empregos para as
populações mais pobres, ajudando na erradicação da pobreza. No entanto, devido à falta
de instalações apropriadas, altos custos trabalhistas e regulamentação ambiental exigente,
os países mais ricos tendem a não reciclar seus resíduos eletroeletrônicos. Em vez disso,
eles são depositados em aterros ou são exportados para países mais pobres, onde podem
ser reciclados por meio de técnicas primitivas e com pouca consideração pela proteção do
meio ambiente e a segurança do trabalhador (ROBINSON, 2009).

7.4  Considerações finais

A crescente demanda por equipamentos eletroeletrônicos e o consequente aumento dos


resíduos gerados no descarte desses produtos tornou-se, nos dias atuais, uma das questões
ambientais da maior relevância. Esses REEE contêm inúmeras substâncias tóxicas com
potencial para causar danos à saúde humana, incluindo efeitos importantes no sistema
nervoso central. Não há ainda destinação que possa ser considerada completamente segura
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde  125

para os REEE. Para evitar, ou pelo menos minimizar, possíveis danos ao meio ambiente e
a saúde humana, é fundamental que sejam desenvolvidas medidas e ações que objetivem
prevenir a geração desse tipo de resíduo, assim como desenvolver, aprimorar e operacio-
nalizar tecnologias apropriadas para seu tratamento.
A prevenção passa pela necessidade de uma mudança cultural e comportamental da
sociedade, em direção à revisão de nossos padrões de produção e consumo. Devemos estar
atentos à possibilidade de o consumo estar apenas servindo para reafirmar nossa identidade
ou para preencher necessidades meramente existenciais. Além disso, é importante também
minimizar a quantidade e a periculosidade dos resíduos produzidos, seja pela fabricação de
produtos de maior durabilidade, fáceis de consertar e reciclar, seja pela redução do teor
de substâncias perigosas presentes nos produtos (SEPA, 2011).
Por fim, deve-se reforçar o reaproveitamento ou a reutilização de materiais presentes
nesses produtos, pois, além de evitar a eliminação dos mesmos no meio ambiente, há grande
economia no uso de recursos naturais, minimizando o impacto ambiental de sua extração
da natureza. Como consequência direta desses processos, haverá diminuição na emissão
de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global, o que trará benefícios
secundários à saúde humana.
Quanto ao tratamento dos resíduos gerados, deve-se procurar aprimorar as técnicas
atualmente existentes de reciclagem de tais produtos, assim como buscar minimizar a
disposição final dos rejeitos. Além de trazer benefícios diretos pela economia de recursos
naturais, reciclagem de REEE tem sido utilizada nos países em desenvolvimento como forma
de inclusão social, seja pela geração de renda direta para cooperativas de trabalhadores,
seja pelo desenvolvimento de projetos sociais com a reutilização desses produtos. Portanto,
a incineração e a disposição final em aterros devem ser as últimas opções de destinação dos
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
O objetivo final deve ser assegurar que as quantidades de resíduo eletroeletrônico gerado
sejam minimizadas, e que o resíduo gerado seja reciclado e descartado de maneira a mais
adequada, para reduzir impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

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Capítulo 8
Tecnologias
de tratamento
para resíduos
de equipamentos
eletroeletrônicos
Viviane Tavares de Moraes, Denise Crocce Romano Espinosa,
Luciana Lopes Lucena

RESUMO

A inovação e a sustentabilidade caracterizam os principais critérios a serem considerados


na gestão dos REEE. As tecnologias hoje disponíveis nem sempre são suficientes para a
efetiva gestão dos resíduos tecnológicos ou se adequam aos critérios de sustentabilidade. O
descarte inadequado dos resíduos tecnológicos é uma questão que exige o desenvolvimento
de soluções otimizadas e de baixo custo. Dessa forma, a introdução de agentes inovadores
na cadeia da destinação e disposição de REEE devem ser priorizados.

8.1 Introdução

A gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE) é uma categoria espe-


cífica que tem fomentado discussões no âmbito político e técnico por duas razões principais:
o impacto negativo da contaminação ambiental por metais e o consumo energético ao longo
de sua vida útil. A esse respeito, os países desenvolvidos consolidaram regulamentações
sobre a sustentabilidade ambiental e os regulamentos de eficiência energética ao longo
das últimas duas décadas. As Diretivas europeias, bem como as respectivas leis de cada
país-membro, são reconhecidas como o mais rigoroso arcabouço relacionado à gestão
129
130  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

ambiental de resíduos eletroeletrônicos até o momento. Os documentos que regulamentam a


gestão de equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo ainda não consideram o significativo
passivo ambiental que já se encontra estabelecido na maioria dos países.
Da mesma forma que os equipamentos eletroeletrônicos incorporam significativo poten-
cial tecnológico em sua fabricação, demandam recursos tecnológicos para a gestão de seus
resíduos. Os REEE são compostos basicamente por polímeros, metais e cerâmicos. Diversos
plásticos podem ser encontrados nos REEE. O plástico dos monitores, que envolvem
os tubos CRT, por exemplo, são do tipo ABS. Os teclados são do tipo polietileno de alta
densidade (PEAD) e possuem em seu interior uma membrana de silicone. Os cabos pos-
suem revestimento em PVC. Dos materiais cerâmicos pode-se destacar o vidro, encontrado
em monitores, enquanto as placas de circuito impresso (PCIs) possuem camadas de cobre
entre finíssimas lâminas de polímeros e fibra de vidro. As soldas, capacitores e conectores
são também compostos por metais como: cobre, ferro, alumínio, estanho, tântalo, gálio,
ouro, prata, cromo, mercúrio, cádmio, zinco, níquel e chumbo.
Na etapa de triagem de alguns materiais que compõem os REEE é relativamente fácil,
a segregação dos componentes plásticos e de parte dos metais pode ser feita manualmente.
No entanto, grande parte dos metais permanece aderida à estrutura das placas de circuito
impresso, juntamente com materiais poliméricos e cerâmicos, o que caracteriza a dificuldade
na sua separação. A complexidade na separação dos tipos de materiais acarreta na associação
de diversas operações unitárias. Um exemplo é a separação dos materiais presentes em fios
e cabos elétricos, que podem ser triturados e submetidos à separação gravimétrica com o
objetivo de separar os materiais por diferença de densidade. Existem diferentes técnicas para
a retirada dos metais das placas de circuito impresso, que vão desde o aquecimento para a
remoção das soldas e conectores, até a trituração e solubilização do material em meio aquoso.
O grau de separação dos resíduos é responsável pela qualidade do material a ser gerado
na reciclagem. Materiais pré-processados ou triados de forma incorreta podem gerar
a contaminação de lotes de matéria-prima secundária e, assim, geram-se produtos fora
de conformidade, acarretando prejuízos ao longo do processo. Por outro lado, a devida
separação dos materiais agrega valor à cadeia da reciclagem e impacta positivamente as
perspectivas socioambientais.

8.2  Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (REEE)

Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, também conhecidos pelas siglas REEE


e WEEE (em inglês – waste eletrical eletronic equipment) podem ser compostos de compo-
nentes, periféricos, partes de equipamentos, peças de reposição ou ainda, de equipamentos
eletroeletrônicos inteiros. Estes materiais se tornam resíduo a partir do momento em que
não apresentam utilidade em sua forma original; isto ocorre quando apresentam defeitos na
fabricação, pararam de funcionar, ou ainda se tornaram obsoletos em relação à tecnologia
(WIDMER et al, 2005; LI et al, 2004).
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   131

Alguns exemplos de resíduos provenientes de equipamentos eletroeletrônicos são os:


refrigeradores, formos elétricos, televisores, calculadoras, aparelhos de DVD, rádio, MP3,
aparelhos de telefonia celular, computadores, pilhas e baterias, placas de circuito impres-
so, tubos de raio catódico (CRT – cathode ray tube), peças plásticas, carcaças metálicas
e poliméricas, e telas de cristal líquido (LCD – liquid crystal display).
A indústria eletroeletrônica divide esses equipamentos para uso doméstico em grandes
grupos, classificados por linha: branca, marrom, verde e azul (ESPINOSA, 2002).
1. A linha branca caracteriza-se basicamente por equipamentos de grande porte, tais como
lavadoras, geladeiras, fogões, micro-ondas e ar condicionado.
2. A linha marrom é composta por produtos como televisões, videocassetes, DVDs,
e rádios; basicamente equipamentos de imagem e som.
3. A linha verde corresponde aos computadores, notebooks, aparelhos celulares, tablets e
impressoras.
4. A linha azul pode ser considerada como equipamentos portáteis ou de pequeno porte,
como os aspiradores de pó, batedeiras, cafeteiras, ferros de passar roupa, liquidificadores,
secadores e modeladores.
Contudo, esta classificação não engloba todos os eletroeletrônicos de uso domés-
tico. É importante citar as pilhas, baterias e lâmpadas, que são itens presentes em muitos
equipamentos eletroeletrônicos e que podem conter substâncias tóxicas.
Com o avanço tecnológico no desenvolvimento de novos produtos eletroeletrônicos, a
troca de equipamentos com mais funções se transforma em um incentivo para o descarte
de equipamentos, que muitas vezes não se esgotaram, mas sim se tornam ultrapassados.
Um exemplo claro desse avanço tecnológico são os equipamentos de som que até 1980 era
comum os encontrar na forma de discos de vinil, enquanto que atualmente se passa pela
transição de mídias de CD e aparelhos de MP3; outro exemplo é o aparelho de videocassete
que foi substituído por equipamentos de DVD; televisores de tubo de raio catódico por telas
de cristal líquido e plasma (MORAES, ESPINOSA e TENÓRIO, 2009).
A grande preocupação ambiental que envolve os resíduos de equipamentos eletroele-
trônicos está ligada a quantidade de resíduos gerados anualmente, composição dos materiais
e tecnologia de tratamento.
Estima-se que a produção global de resíduos eletroeletrônicos está em torno de 20
a 25 milhões de toneladas por ano, sendo que a maioria é produzida na Europa, EUA e Aus-
trália. Estima-se que a China, a Europa Oriental e a América Latina se tornarão os maiores
produtores de resíduos eletrônicos até 2019. (ROBINSON, 2009).
Em 1994, foi estimado que aproximadamente 7 milhões de toneladas de computadores se
tornaram obsoletos em todo o mundo, enquanto que em 2004 foi estimada uma quantidade
equivalente a 35 milhões de toneladas. Tal aumento pode estar associado ao tempo de
duração de um computador, pois em 1994 a durabilidade de um computador estava em
torno de 5 anos enquanto que atualmente dura 2 ou 3 anos, além da popularização desse
tipo de equipamento e diminuição do preço (WIDMER et al., 2005).
132  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Em 2012 a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) identificou


aumento de 9% na comercialização de computadores (PCs) em relação a 2011, o que pode
chegar a 16,7 milhões de unidades de PCs. Desse montante, 6,2 milhões de unidades corres-
pondem aos desktops e 9,1 milhões de unidades são dos notebooks e netbooks (JORGE
FILHO, 2013).
Um exemplo do consumo de equipamentos eletroeletrônicos pode ser evidenciado
pelo tempo de vida útil de um telefone celular que em geral é de aproximadamente um
ano e estima-se que cerca de 100 milhões de aparelhos de telefonia celular são descartados
anualmente no mundo devido ao não funcionamento ou surgimento de novos recursos no
mercado (GEYER, R. e BLASS, 2009; PARSONS, 2006; BERTUOL et al., 2005).
Os resíduos eletroeletrônicos podem apresentar mais de 1.000 substâncias diferentes,
muitas delas tóxicas, tais como mercúrio, chumbo, arsênio, cádmio, selênio, cromo hexa-
valente, e retardantes de chama que geram emissões de dioxinas quando queimados. Cerca
de 70% dos metais presentes nos aterros sanitários dos EUA são provenientes de resíduos
eletroeletrônicos (WIDMER et al., 2005).
Além de possuírem substâncias tóxicas, esses equipamentos ocupam espaço em aterros,
que muitas vezes estão esgotando sua capacidade de disposição de resíduos. Além disso,
os aterros são considerados uma forma de disposição de resíduos e não uma forma de
tratamento e/ou recuperação de materiais.
É importante ressaltar que os resíduos eletroeletrônicos, por possuírem diversos ma-
teriais, não podem ser tratados como resíduo comum. A preocupação ambiental em se
descartar estes resíduos em aterros sanitários envolve estudos relacionados a oxidação de
metais, pois nos aterros ocorre a lixiviação de metais pelos ácidos orgânicos provenientes
da degradação anaeróbia da matéria orgânica (TENÓRIO e ESPINOSA, 2004). Da mesma
forma, a sua incineração pode gerar organohalogenados devido à presença de retardantes
de chamas e resinas poliméricas.
Para se viabilizar o processo de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos é importante
conhecer os materiais que os compõem a fim de se direcionar tecnologias para conseguir
sua recuperação.
A composição dos resíduos eletroeletrônicos são listados com suas respectivas porcen-
tagens na Tabela 8.1 (WIDMER et al., 2005).
Essa composição pode estar presente em telas de cristal líquido, tubos de raios catódicos,
baterias e cabos elétricos, linha branca, marrom, verde e azul, contudo a porcentagem em
peso ainda pode variar de acordo com o equipamento e ano de fabricação (idem, ibidem).
Por essa razão, é interessante separar os resíduos eletroeletrônicos pelo tipo de equipa-
mento, para se determinar a composição dos resíduos de acordo com o tipo de material, como
os materiais cerâmicos, poliméricos e metálicos (MENETTI, CHAVES e TENÓRIO, 1996).
Um exemplo da variação da composição de um tipo de resíduo eletroeletrônico em
relação ao tipo de equipamento é a placa de circuito impresso. Na Tabela 8.2 são conside-
radas placas de circuito impresso de computador, rádio, TV e vídeo e pode-se verificar a
variação da composição de acordo com o tipo de aparelho.
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   133

TABELA 8.1  Composição dos resíduos eletroeletrônicos.


Composição % em peso
Ferro e aço 47,9
Plástico sem retardante de chama 15,3
Cobre 7,0
Vidro 5,4
Plástico com retardante de chama 5,3
Alumínio 4,7
Placas de circuito impresso 3,1
Madeira 2,6
Cerâmica 2,0
Outros metais não ferrosos 1,0
Borracha 0,9
Outros 4,8
Fonte: WIDMER et al. (2005).

TABELA 8.2  Composição de placas de circuito impresso de computador, rádio, TV e vídeo.


Materiais % média
Cerâmicos 39,1
Metálicos 23,4
Poliméricos 37,5
Fonte: MENETTI, CHAVES e TENÓRIO (1996).

Dentro desta classificação dos metais presentes nestas placas de circuito tem-se ainda
a subdivisão em: metais ferrosos, cerca de 11,4% e não ferrosos aproximadamente 89,6%,
isto é, do total de metais (23,4%) somente 2,7% é de metais ferrosos e 20,4% é de metais
não ferrosos (WIDMER et al, 2005; MENETTI, CHAVES e TENÓRIO, 1996).
Outra forma de minimizar a variação da composição entre os equipamentos eletrônicos
é segregar os materiais dos equipamentos conforme suas características, por exemplo, se-
gregar dos equipamentos pilhas e baterias ou ainda remover os tubos de raios catódicos e
telas de cristal líquido; as carcaças metálicas e plásticas, os cabos elétricos e as placas de
circuito impresso, desta forma o tipo de tratamento pode ser direcionado, visando a melhor
recuperação de materiais (CUI, J. e FORSSBERG, 2003; KOZLOWSKI, MAZUREK, e
CZYZYK, 2002; TENÓRIO, 1997; TOMASEK, VADASZ e RABATIN, 2000; VEIT,
PEREIRA e BERNARDES, 2002; WILLIAM e WILLIAMS, 2007).
Considerando que um resíduo eletroeletrônico tenha sido segregado de acordo com o
tipo de equipamento e com a sua característica, tem-se um estudo comparativo da compo-
sição das placas de circuito impresso de aparelhos de televisão, computadores e celulares,
conforme apresenta a Tabela 8.3; dessa forma, é possível visualizar a diferença na com-
posição de cada equipamento, o que, muitas vezes, pode indicar que um tratamento para
134  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Tabela 8.3  Composição de placas de circuito impresso de computadores, televisores


e celulares.
Computadores % em peso Televisores % em peso Celulares % em peso
Metais e fibras 32,0 32,1 83,1
de vidro
Orgânico 68,0 67,9 16,9
Fonte: TOMASEK, VADASZ e RABATIN (2000).

recuperação de metais de placas de circuito impresso de celulares não pode ser o mesmo
para computadores e televisores, tendo em vista a quantidade de metais discrepantes em
cada um dos equipamentos.
A variação entre a composição de metais e fibras de vidro de computadores e televisores
está associada à composição das placas que difere para cada equipamento, isto é, nos
computadores e televisores as placas de circuito impresso são face simples ou dupla (pos-
suem uma ou duas películas de cobre), enquanto que os celulares são produzidos com placas
multicamadas (que possuem pelo menos quatro camadas de cobre entre as fibras de vidro)
(ABRACI; ANDRADE, 2002).
Considerando a diversidade de materiais presentes nos resíduos eletroeletrônicos os
processos de tratamento e recuperação devem contemplar uma série de processos que podem
ser utilizados isoladamente ou associados. O que irá definir o processo de tratamento é a
composição do resíduo.

8.3  Composição do resíduo

A composição dos resíduos eletroeletrônicos geralmente pode ser dividida em materiais:


j Metálicos;
j Cerâmicos e
j Poliméricos.

8.3.1  Materiais metálicos

Os metais presentes em grande parte dos resíduos eletroeletrônicos podem ser divididos
em: metais preciosos, metais base e metais tóxicos (SHINKUMA; HUONG, 2009).
j Metais preciosos: ouro, prata, paládio e platina;
j Metais base: cobre, alumínio, níquel, estanho, zinco e ferro;
j Metais tóxicos: mercúrio, berílio, índio, chumbo, cádmio, arsênio, antimônio.

Os metais preciosos correspondem a 80% do valor intrínseco do equipamento, porém


não chegam a 1% do peso total (ABRACI, 2010). Atualmente, a maioria dos processos
foca na recuperação de metais preciosos como ouro e prata (MECUCCI; SCOTT, 2002).
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   135

Alguns estudos mostraram que o valor do equipamento é proporcional ao valor dos


metais preciosos. Por exemplo, os metais preciosos presentes em placas de circuito impresso
de televisores compreendem 70% do valor total do equipamento e 40% do valor das pla-
cas de circuito impresso de aparelhos de DVD (CUI; ZHANG, 2008). Os metais preciosos
são os principais impulsionadores do mercado de reciclagem de eletroeletrônicos, seguidos
do cobre e zinco (DAVENPORT et al., 2002).
Com a crescente produção e consumo de equipamentos o descarte de resíduos ele-
troeletrônicos se torna um problema ambiental e cada vez mais estudos com este tipo de
resíduo estão sendo desenvolvidos, a fim de acompanhar as mudanças na composição dos
equipamentos, otimizando os processos de reciclagem.
As pesquisas relacionadas aos resíduos eletroeletrônicos envolvem etapas como: carac­
terização (ESPINOSA; TENÓRIO, 2009; SOUZA, OLIVEIRA; TENÓRIO, 2001), proces-
samento mecânico (VEIT et al., 2006; BERTUOL; BERNARDES; TENÓRIO, 2006),
pirometalúrgico (ESPINOSA; TENÓRIO, 2009; SILVA et al., 2004) e hidrometalúrgico
(GONCALVES; ESPINOSA; TENÓRIO, 2002) (precipitação seletiva (VEIT et al., 2006;
ESPINOSA; TENÓRIO, 2008), lixiviação ácida (TAVARES et al., 2008), biolixiviação
(YAMANE, 2012), eletrorefino (SOUZA; OLIVEIRA; TENÓRIO, 2008) e extração por
solvente) de resíduos eletroeletrônicos visando à recuperação de materiais poliméricos,
cerâmicos e metálicos (ESPINOSA; BERNARDES; TENÓRIO, 2004a; ESPINOSA;
TENÓRIO, 2004a; BERNARDES; ESPINOSA; TENÓRIO, 2003) (metais preciosos
(MENETTI; TENÓRIO, 1996) como o ouro e a prata; metais base como o cobre, alu-
mínio, zinco e manganês (BERNARDES; ESPINOSA; TENÓRIO, 2004; ESPINOSA;
BERNARDES; TENÓRIO, 2004b) de baterias de íons de lítio (KAMEOKA; ESPINO-
SA; TENÓRIO, 2009), níquel metal hidreto (TENÓRIO; ESPINOSA, 2002) e níquel
cádmio (ESPINOSA; TENÓRIO, 2006a; ESPINOSA; TENÓRIO, 2006b; ESPINOSA;
TENÓRIO, 2004b; ESPINOSA; TENÓRIO, 2004c); pilhas alcalinas (SOUZA; TENÓ-
RIO, 2004); fios e cabos elétricos (ARAÚJO et al., 2008a; ARAÚJO et al., 2008b); telas
de cristal líquido (MORAES, ESPINOSA e TENÓRIO, 2009) e placas de circuito impresso
(WIDMER et al., 2005; TAVARES;ESPINOSA; TENÓRIO, 2009).

8.3.2  Materiais cerâmicos

Os principais componentes compostos de materiais cerâmicos presentes em resíduos ele-


troeletrônicos são os óxidos refratários. Estes compõem principalmente os capacitores dos
equipamentos, e sua composição geral pode ser (MENETTI, CHAVES e TENÓRIO, 1996):
j 15% sílica (vidro soda-cal; vidro borossilicato; fibra de vidro);
j 6% alumina;
j 6% óxidos alcalinos e alcalino-terrosos;
j 3% outros óxidos.
As porcentagens podem variar de acordo com o tipo de equipamento.
136  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Tais materiais são considerados inertes e, portanto, não causam problemas ambientais
relacionados à saúde pública. Contudo, o processamento de reciclagem dos REEEs deve
levar em consideração a sua composição cerâmica, tendo em vista que o processo de
moagem de placas de circuito impresso, por exemplo, pode liberar fibras de vidro, causando
problemas á saúde pública, como a silicose (LUZ; LINS, 2008).

8.3.3  Materiais poliméricos

Os polímeros que compõem os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos geralmente


são compostos das carcaças dos aparelhos, ou de teclados, mouses, monitores e gabinetes de
computadores. Além desses polímeros de fácil segregação, tem-se os polímeros presentes
nas placas de circuito impresso, que compõem os equipamentos eletroeletrônicos.
Os principais polímeros presentes nos REEEs são: ABS (copolímero derivado dos três
monômeros: acrilonitrila, butadieno e estireno); HIPS (poliestireno de alto impacto) e PVC
(policloreto de vinila), polietileno; polipropileno e policarbonatos (MENETTI, CHAVES
e TENÓRIO, 1996; GERBASE; OLIVEIRA, 2012).
A porção plástica pode representar, em média, 25% em peso dos REEEs. Enquanto
que 5% dos plásticos são halogenados presentes nos retardantes de chama (LOUGH-
BROUGH, 1991; STUART, 1990; ASTM, 1983).
Os retardantes de chama mais utilizados podem ser:
j Hidróxido de alumínio;
j Boratos;
j Fosfatos;

j Halogenados;

j Trióxido de antimônio;

j Hidróxido de magnésio; e

j Hidróxido de alumínio.

A preocupação em relação aos retardantes de chama presentes em resíduos eletroele-


trônicos está associada aos processos pirometalúrgicos de recuperação de materiais, que
podem emitir gases como o monóxido de carbono (CO); vapor de ácido clorídrico, bromí-
drico e cianídrico; óxidos de nitrogênio e organohalogenados.

8.4  Métodos de tratamento de resíduos eletroeletrônicos

O método de tratamento de resíduos eletroeletrônicos que envolvem a reciclagem


e recuperação de materiais podem ser resumidos em três estágios: pré-tratamento/des-
montagem, beneficiamento (separação e concentração) e refino físico/químico:
j Pré-tratamento ou desmontagem: separação seletiva dos componentes tóxicos e outros
materiais. Exemplo: segregação de pilhas e baterias (CUI, J. e FORSSBERG, 2003;
CUI; ZHANG, 2008; BURKE, 2007; RHEE et al., 1999).
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   137

j Beneficiamento (separação ou concentração): utilização de processos físicos e/ou


processos metalúrgicos para concentrar os materiais. Exemplos: moagem, separação
magnética e processos piro e hidrometalúrgicos.
j Refino: é o último estágio, no qual os materiais são recuperados. Exemplos: extração

por solvente e eletrodeposição.

8.4.1 Pré-tratamento ou desmontagem

O pré-tratamento é a etapa de triagem, na qual pode ser feita a retirada de componentes


tóxicos ou de fácil remoção, assim como a seleção dos tipos de equipamentos, isto é, separar
os resíduos de LCD, CRT, placas de circuito impresso.
Ainda nesta etapa pode-se incluir o processo de caracterização dos materiais que
compõem os resíduos, com o objetivo de otimizar os processos físicos e metalúrgicos
subsequentes.
Com a caracterização dos materiais é possível identificar os processos que melhor
concentram os materiais, podendo ser utilizados isoladamente ou associados.
Os processos de caracterização podem ser: digestão em ácido nítrico; digestão em
água régia; pirólise; perda ao fogo; classificação granulométrica; espectrometria de
absorção atômica; espectrometria de espectrometria de emissão atômica por plasma
acoplado indutivamente (ICP-OES); espectrometria de infravermelho por transfor-
mada de fourrier (FTIR), microscopia eletrônica de varredura com espectroscopia de
energia dispersiva (MEV-EDS); calorimetria diferencial de varredura (DSC); difração
de raio-X (DRX).

8.4.2  Beneficiamento

O beneficiamento consiste basicamente dos processos físicos e metalúrgicos de sepa-


ração e/ou concentração de materiais, que envolvem essencialmente operações unitárias
de Tratamento de Minérios.
O processamento físico envolve principalmente etapas como desmantelamento, moa-
gem, separação granulométrica, separação magnética e separação eletrostática. Outras
técnicas, cuja função é a separação e/ou concentração de materiais podem ser utilizadas,
como por exemplo, separação em meio denso, flotação, atrição, elutriação.
Já os processos metalúrgicos podem ser: etapas de hidrometalurgia e pirometalurgia.

8.4.3 Desmantelamento

O processo de desmantelamento consiste na separação de componentes tóxicos ou valio-


sos da sucata dos equipamentos eletroeletrônicos a fim de otimizar as etapas subsequentes
de tratamento, ocorrendo geralmente de forma manual para os resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos (LI et al., 2004).
138  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Em geral as sucatas de equipamentos e produtos eletroeletrônicos são desmanteladas em


baterias, tubos de raio catódico, cartuchos e toner, placas de circuito impresso, telas de cristal
líquido e carcaças metálicas e plásticas (LI et al., 2004; CUI, J. e FORSSBERG, 2003).

8.4.4  Moagem

O processo de moagem é um método de cominuição ou redução de tamanho para


promover a liberação de materiais presentes em minérios, resíduos e sucatas através
da ação mecânica (CUI, J. e FORSSBERG, 2003; LUZ et al, 1995; LUZ; SAMPAIO;
ALMEIDA, 2004).
Um exemplo de equipamento de impacto utilizado em tratamento de resíduos de equi-
pamentos eletroeletrônicos são os moinhos de martelos, que são equipamentos de impacto
nos quais os materiais a serem cominuídos passam por um mecanismo de compressão e
abrasão (CHAVEZ; PERES, 1999).
O mecanismo de fratura dos materiais é diferente em cada tipo de moinho, o que influi
na liberação dos materiais e no processo de abrasão e desgaste do equipamento (CHAVEZ;
PERES, 1999).
Contudo, o processo de desgaste do equipamento pode incorporar ao resíduo de moagem,
componentes não presentes em sua composição original, isto é, o resíduo após moagem
pode ficar contaminado com o material que foi desgastado do moinho. Assim, o tempo
que o resíduo permanece em processamento na parte interna do moinho pode interferir na
sua contaminação, além de se considerar as características do material que se deseja moer
(CHAVEZ; PERES, 1999).
Quando se trata de processos de moagem de resíduos abrasivos que geralmente são
formados de substâncias silicosas, é importante avaliar o tempo de moagem para não haver
problemas associados à contaminação. (LUZ; SAMPAIO; ALMEIDA, 2004; CHAVEZ;
PERES, 1999).
As placas de circuito impresso são resíduos compostos basicamente de fibra de vidro,
polímeros e metais, isto é, com exceção dos polímeros, os materiais que compõem as placas
são abrasivos e, portanto, o tempo de processamento deles deve ser o mínimo possível dentro
do moinho (LUZ; SAMPAIO; ALMEIDA, 2004; CHAVEZ; PERES, 1999).
Apesar das placas de circuito impresso serem compostas de materiais abrasivos e,
portanto, pouco recomendável para se utilizar em moinhos, os equipamentos mais utilizados
e que apresentam liberação dos materiais são os moinhos de martelos e facas (VEIT, 2005).

8.4.5 Separação granulométrica

A classificação granulométrica é uma técnica utilizada para separar populações de


partículas com tamanhos diferentes, mediante a passagem desta população por uma ou
uma série de gabaritos com aberturas fixas e pré-determinadas, conhecidas como peneiras
(CHAVEZ; PERES, 1999).
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   139

Os equipamentos que promovem o peneiramento de materiais após a cominuição podem


ser divididos genericamente em peneiras fixas, peneiras vibratórias inclinadas e horizontais
e grelhas. (CHAVEZ; PERES, 1999).
Para resíduos eletroeletrônicos a classificação granulométrica é realizada em peneiras
vibratórias horizontais por permitir a separação por tamanho de partícula e facilitar a etapa
de caracterização dos materiais através de análises químicas possibilitando a identificação
das frações que concentram metais, cerâmicos e polímeros (CUI, J. e FORSSBERG, 2003).

8.4.6 Separação magnética

A separação magnética é um método de concentração para o beneficiamento de minérios


e remoção de materiais de sucatas, no qual a fração magnética é separada (LUZ et al, 1995).
Os materiais podem ser classificados em três categorias, segundo suas respostas ao
campo magnético: aqueles que são atraídos e os que são repelidos pelo campo magnético,
isto é, existem os materiais ferromagnéticos, que são atraídos fortemente pelo campo
magnético; os paramagnéticos, que são fracamente atraídos; e os diamagnéticos, que são
repelidos pelo campo (LUZ et al, 1995).
A separação magnética pode ser feita com equipamentos de baixa e alta intensidade,
assim como equipamentos de correia cruzada, que contemplam as duas faixas de intensidade
de campo magnético (CUI, J. e FORSSBERG, 2003).

8.4.7 Separação eletrostática

A separação eletrostática é um processo de concentração de minérios e materiais que


considera algumas propriedades como a condutividade elétrica; susceptibilidade em adquirir
cargas elétricas superficiais; forma geométrica e densidade (LUZ et al, 1995).
Existem dois fatores que influenciam na separação eletrostática: a intensidade do campo
elétrico para ter a capacidade de desviar uma partícula eletricamente carregada e carga
elétrica superficial das partículas (LUZ et al, 1995).
Assim o resíduo ou minério é separado em material condutor e não condutor, contudo
ainda pode ser obtida uma fração mista, na qual parte do resíduo condutor e não condutor
ficam juntos devido a algum tipo de deficiência na liberação do material (CHAVEZ;
PERES, 1999).

8.4.8 Processamento pirometalúrgico

Os processos pirometalúrgicos se caracterizam pelo uso de alta temperatura para o


processamento de materiais (CAPONERO, 2002).
O mecanismo do processo pirometalúrgico é promover a concentração de uma fase
metálica e uma fase contendo escória. Na fase metálica os metais estarão em maior con-
centração, pois os materiais cerâmicos ficam concentrados na escória e os polímeros são
140  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

degradados termicamente por meio da quebra de ligações químicas das cadeias orgânicas
através do calor (CAPONERO, 2002; HOFFMANN, 1992).
A desvantagem dos processos pirometalúrgicos para a concentração de metais a partir
de placas de circuito impresso está associada às emissões gasosas, pois os polímeros que
constituem as placas quando submetidos à degradação térmica podem formar dioxinas e
furanos, que são substâncias tóxicas.

8.4.9 Processamento hidrometalúrgico

Os processos hidrometalúrgicos são processos entre a interface de uma fase sólida com
uma fase líquida que pode variar de 10 °C a 300 °C (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978).
Estes processos inicialmente envolvem operações unitárias de lixiviação de materiais,
sucata, resíduos ou minérios nos quais ocorre a dissolução de metais pela ação de soluções
aquosas ou agentes lixiviantes (JACKSON, 1986). A ação dos agentes lixiviantes pode
ou não ser seletiva com relação aos materiais que serão solubilizados (JACKSON, 1986).

8.4.10 Lixiviação

Esta técnica permite a transferência de metais presentes em minérios e em sucatas de


equipamentos eletroeletrônicos utilizando como agente lixiviante soluções ácidas, alcalinas
e salinas (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978).
Um dos princípios da lixiviação é a avaliação dos aspectos termodinâmicos que en-
volvem a dissolução de metais representados por diagramas relacionando pH e potencial
(diagramas E/pH).
Os diagramas E/pH são construídos em sistemas de metais e água a uma determinada
temperatura nos quais são determinadas regiões de estabilidade das diversas fases conden-
sadas e solúveis (na forma iônica) (JACKSON, 1986).
Esses diagramas são conhecidos também como Diagrama de Pourbaix. A Figura 8.1 apre-
senta um exemplo de diagrama E/pH, identificando as diversas regiões (POURBAIX, 1966).
Observando a Figura 8.1, foi possível identificar áreas que representam a estabilidade
termodinâmica dos diferentes compostos metálicos em função do pH e potencial eletro-
químico para uma dada temperatura. A região descrita como “metal na forma insolúvel”
é a zona na qual o metal apresenta um comportamento inerte ou se mantém em sua forma
metálica (POURBAIX, 1966).
A zona de dissolução de metais é a zona na qual as reações de lixiviação são possíveis
e, portanto, o metal se encontra na forma iônica estável.
A área de metal na forma insolúvel é a zona na qual ocorrem as reações de formação
de óxidos ou de hidróxidos insolúveis (POURBAIX, 1966).
A região delimitada pelas linhas “a” e “b” é a região de estabilidade da água, isto é,
acima da linha “b” tem-se a evolução de O2 (potencial oxidante) e abaixo da linha “a” tem-se
a liberação de H2 (potencial redutor) (POURBAIX, 1966).
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   141

Figura 8.1  Esquema de diagrama E/pH. Fonte: JACKSON, 1986.

Após a lixiviação ou dissolução dos metais existem métodos de refino ou purificação


visando a recuperação dos metais, cujos processos podem ser: biolixiviação, extração por
solvente, precipitação e refino eletrolítico.

8.4.11 Processamento biohidrometalúrgico

Os processos biohidrometalúrgicos também conhecido como biolixiviação envolvem


lixiviação de metais com a ação dos micro-organismos, que se dá por meio de reações de
oxirredução (GARCIA Jr., 1992).
A lixiviação bacteriana de metais possui algumas vantagens com relação aos processos
hidrometalúrgicos convencionais, dos quais se destacam: economia de insumos básicos, pois
a bactéria é o agente oxidante que gera ácido; simplicidade nas instalações; não necessita
de mão de obra especializada (GARCIA Jr., 1992).
142  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

O processo biológico de lixiviação promove a oxidação dos sulfetos metálicos, que pode
ocorrer de forma direta ou indireta. No processo direto o oxigênio é o agente oxidante, en-
quanto que o processo indireto tem como agente oxidante o íon férrico. (EHRLICH, 2001).
Os processos biohidrometalúrgicos foram inicialmente registrados em drenagens ácidas
de minas de carvão e em minas de cobre. Nas minas de carvão as bactérias isoladas foram
as Thiobacillus (Acidithiobacillus) ferrooxidans e T. thiooxidans, sendo que a primeira
também foi encontrada em minas de cobre (EHRLICH, 2001).
Por esta razão estudos com estes microorganismos aplicados à recuperação de metais
de placas de circuito impresso tem avaliado a biolixiviação de metais nobres como o ouro e
metais base como o cobre (WANG et al., 2009; OLSON; BRIERLEY, J. A. e BRIERLEY,
CL, 2003).
Além do pH e do potencial redox, os principais parâmetros que são controlados no
processo de lixiviação bacteriana são: tempo de contato, temperatura, disponibilidade de
O2 e CO2, concentração dos íons metálicos e de nutrientes minerais na lixívia, composição
do mineral e tamanho das partículas, interação galvânica entre os minerais presentes e
estrutura química e cristalina destes, além da presença de agentes químicos estranhos ao
processo (WANG et al, 2009, URENTHA, 1991; BOSECKER, 1997).
Para a aplicação da técnica para recuperação de metais a partir de placas de circuito
impresso, alguns estudos apresentaram solubilização de metais de 40% a 60% de cobre;
de 40% a 80% de chumbo e de 50% a 90% de zinco, sendo que os melhores resultados
foram com uma cultura mista composta de A. ferroxidans e A. thiooxidans em concentração
de 7,8g/L de resíduo de placa de circuito impresso com tamanho de partículos entre 0,5 e
1,0mm. A desvantagem associada a essa tecnologia está relacionada ao tempo de biolixi-
viação, que em geral leva semanas (WANG et al., 2009).
Além disso, pesquisas estão sendo conduzidas para avaliar a biolixiviação de placas de
circuito impresso com micro-organismos mesofílicos (temperatura de crescimento de 30 a
40 °C) termofílicos (ideal entre 40 a 55 °C), visando a recuperação de metais (BRIERLEY,
J. A. e BRIERLEY, CL, 2003).

8.4.12 Refino

A etapa de refino pode envolver processos físicos, metalúrgicos e eletrometalúrgicos.

8.4.12.1  Extração por solvente


A extração por solvente é um processo de separação líquido-líquido que utiliza de
solventes orgânicos para a recuperação de metais de forma seletiva podendo formar com-
postos complexos com os sais de alguns metais (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978;
JACKSON, 1986).
Esta operação unitária envolve a transferência de massa a fim de separar um ou mais
componentes de uma mistura de líquidos, por meio do contato direto com outro líquido
imiscível à mistura.
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   143

Nessas operações, a solução mista, contendo vários metais solúveis, sofre o processo
de extração por um líquido chamado de solvente orgânico. Após o contato da mistura com
o solvente, um dos componentes da mistura que possui mais afinidade com o solvente se
separa formando um organometálico, formando duas fases, em que o solvente com o metal
agregado é conhecido como extrato e a solução residual é conhecida como fase aquosa
(TREYBAL, 1996; AGUILAR; CORTINA, 2008; MIHOVILOVIC, 2001).
A extração por solvente envolve duas etapas principais, a extração e a re-extração. No
processo de extração a fase orgânica (solvente) é carregada com o metal de interesse que
estava na fase aquosa; enquanto que na re-extração o metal carregado na fase orgânica é
devolvido para uma nova solução aquosa (ROSENQVIST, 1974).
A extração por solvente como técnica seletiva de recuperação de metais apresenta me-
lhores resultados quando se faz o controle do pH durante o processo de extração.

8.4.12.2 Precipitação/Cementação
O processo de precipitação química é um processo que envolve reações químicas de
dupla troca entre o metal na forma solúvel e uma substância (um álcali, um sal ou um óxido)
formando um sólido desse metal (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978; JACKSON, 1986).
Nas reações de oxirredução ou reações eletroquímicas um metal é utilizado pa-
ra precipitar um segundo metal, cujo processo é mais conhecido como cementação
(JACKSON, 1986).
No caso da cementação, isto é, a redução do metal que está em solução aquosa, é neces-
sário que o potencial do sistema de redução seja mais negativo que o potencial de redução
do metal de interesse. (JACKSON, 1986).
Esse processo também é conhecido pelas reações de deslocamento e assim se utilizam
os potenciais padrões dos metais, conforme Tabela 8.4.
Quanto maior a diferença entre os potenciais dos metais, maior será a facilidade em se
provocar uma reação de oxirredução e, portanto, o processo de cementação.

8.4.12.3  Processo eletrometalúrgico


O processo eletrometalúrgico pode ser aplicado com a técnica de eletro-obtenção, que é um
processo de purificação metálica, no qual um sal metálico em solução sofre redução através
de um catodo usando corrente contínua (densidade de corrente por área). A eletro-obtenção
é um processo realizado com eletrólitos aquosos ou sais fundidos (CAPONERO, 2002;
HOFFMANN, 1992 ; JACKSON, 1986).
Na eletro-obtenção são utilizados catodos e anodos, na qual um deles é inerte e o
outro é feito do metal a ser recuperado, que pode ser derivado de um processo de lixivia-
ção preliminar ou pela adição de sais metálicos na solução da célula de eletro-obtenção
(JACKSON, 1986).
Os anodos devem ser preferencialmente insolúveis para evitar contaminação da so-
lução lixiviada com outros metais além de poder formar precipitados com os metais
144  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Tabela 8.4  Potenciais padrões de alguns metais.


Sistema E0 (volts)
Au3+ + 3e → Au0 +1,450

Pt + 2e → Pt
2+ 0 +1,200

Pd + 2e → Pd
2+ 0 +0,920

Ag + 1e → Ag
1+ 0 +0,799

Rh + 3e → Rh
3+ 0 +0,700

Cu + 2e → Cu
2+ 0 +0,337

2H + 2e → H2
1+ 0,0 – Padrão de referência

Pb + 2e → Pb
2+ 0 -0,126

Sn + 2e → Sn
2+ 0 -0,140

Ni + 2e → Ni
2+ 0 -0,250

Co + 2e → Co
2+ 0 -0,280

Cd2+ + 2e → Cd0 -0,402

Fe2+ + 2e → Fe0 -0,440

Zn2+ + 2e → Zn0 -0,763

Al3+ + 3e → Al0 -1,660

Mg2+ + 2e → Mg0 -2,370

Fonte: ATKINS; LORETTA, 2001.

derivados da lixiviação, interferindo no processo de eletrodeposição do metal de interesse


(JACKSON, 1986).
Os catodos são formados de laminas finas do metal a ser eletrodepositado.

8.5  Consideraçoes finais

Os resíduos eletroeletrônicos podem ter variação da sua composição devido ao ano


de fabricação, modelo e tipo de REEE, e isto pode influenciar na escolha dos métodos de
tratamento visando a recuperação de metais.
Devido a esta variação da composição dos REEEs a etapa de caracterização dos materiais
é essencial para se definir os processos mecânicos, hidrometalúrgicos e pirometalúrgicos
que podem ser utilizados isoladamente ou em conjunto visando à recuperação e reciclagem
de materiais.
Contudo os processos mecânicos, hidrometalúrgicos e pirometalúrgicos têm como
objetivo principal a reciclagem de materiais com valor agregado, favorecendo com isso
a minimização do consumo de recursos naturais, além de aumentar a vida útil de aterros,
pois os materiais reciclados não seriam mais descartados.
Tecnologias de tratamento para resíduos de equipamentos...   145

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Capítulo 9
Normalização
para a cadeia reversa
de eletroeletrônicos1
Marcia Regina Ewald, Daniela da Gama e Silva Volpe Moreira de Moraes

RESUMO

Os aspectos envolvidos com a normalização da cadeia reversa de eletroeletrônicos são


ainda pouco desenvolvidos no Brasil, mas tem ganhado importância a partir da consolidação
dos instrumentos legais. Por esse motivo, os procedimentos gerenciais e técnico-operacionais
referentes à destinação de produtos e materiais pós-consumo ou gerenciamento da cadeia
reversa ainda necessitam da definição de referências que congreguem anseios dos ges-
tores, comerciantes, consumidores e do poder público. Neste capítulo, são apresentadas as
etapas da elaboração de um projeto de norma técnica nacional desenvolvida para a cadeia
reversa de eletroeletrônicos, considerando sua importância no cenário de implementação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos. Também são apresentados os principais desafios e
oportunidades criados pela elaboração do projeto. Almeja-se que, com a implementação do
projeto e o consequente desenvolvimento de um sistema de avaliação e qualificação dos
envolvidos na cadeia reversa, seja possível o estabelecimento de uma cadeia altamente
profissional e qualificada.

1
As autoras agradecem a todos os participantes da CE: 03.111-01 Comissão de Estudos de normalização ambiental
para produtos e sistema elétricos e eletrônicos envolvidos na elaboração deste projeto.

149
150  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

9.1 Introdução

Os resíduos eletroeletrônicos apresentam particularidades que demandam um tratamento


pós-consumo diferenciado e especializado. Estes são compostos por materiais heterogêneos,
podendo incluir substâncias perigosas e, em determinados casos, chegam a apresentar um
alto valor agregado, considerando a ocorrência de materiais recicláveis de interesse da indús-
tria de transformação e metais nobres ou raros em sua composição. No entanto, em vários
países, não há regulamentação específica ou qualquer forma de fiscalização a respeito dos
riscos decorrentes da destinação e manuseio inadequados desses resíduos.
Em contrapartida, as diretivas da Comunidade Europeia representam um importante
conjunto de orientações com definição de procedimentos, metas e prazos para o gerencia-
mento da cadeia reversa de eletroeletrônicos. Essas diretivas estimularam a elaboração de
leis específicas em cada país-membro e influenciaram iniciativas similares em países que
possuem relação comercial com a Comunidade Europeia.
No Brasil, um avanço no setor de resíduos sólidos foi o estabelecimento da Política Na-
cional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei n° 12.305/2010, Decreto n° 7.404/2010, que visa ao
correto gerenciamento da cadeia reversa de eletroeletrônicos. Consequentemente, percebe-se
a necessidade da elaboração de instrumentos normativos que apoiem a execução da PNRS.
De acordo com pesquisa realizada pelas autoras, visando identificar a opinião dos
participantes cadastrados na Comissão de Estudos de normalização ambiental para produtos
e sistema elétricos e eletrônicos do ABNT/CB-03 Comitê Brasileiro de Eletricidade, sobre
a importância da elaboração de projetos de Norma relacionados à cadeia reversa de ele-
troeletrônicos, 94% do total de 34 respondentes (valor correspondente a uma taxa de retorno
de 31% do total pesquisado), consideram essa elaboração essencial ou muito importante.
A população da pesquisa constitui-se de 109 respondentes, representando as seguintes

Gráfico 9.1  Perfil dos participantes da pesquisa. Fonte: Elaboração própria.


Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  151

Gráfico 9.2  Grau de importância na elaboração de projetos de Norma relacionados à cadeia


reversa de eletroeletrônicos.3 Fonte: Elaboração própria.

categorias: produtores de eletroeletrônicos ou associações de produtores, recicladores


de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ou associações de recicladores,
academia ou centro de pesquisa, entre outros.2
Dessa maneira podemos afirmar que os dados acima validam a percepção da neces-
sidade da criação de documentos normativos especificamente relacionados à cadeia reversa
de eletroeletrônicos.
Nesse sentido, a partir de proposição do Centro de Tecnologia da Informação Renato
Archer, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi iniciada
e coordenada a elaboração de norma para a cadeia reversa de eletroeletrônicos, agregando
os interesses de produtores de eletroeletrônicos, recicladores de resíduos eletroeletrônicos
e governo.
Esta norma técnica foi publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) em março de 2013, denominada ABNT NBR 16156:2013 - Resíduos de equi-
pamentos eletroeletrônicos - Requisitos para atividade de manufatura reversa, e tem como
escopo o estabelecimento de requisitos para proteção ao meio ambiente e para o controle
dos riscos de segurança e saúde no trabalho na atividade de manufatura reversa de resíduos
eletroeletrônicos.

2
De acordo com os respondentes, enquadram-se na categoria “outros” os prestadores de serviços, organizações
sem fins lucrativos, empresas de economia mista e consultorias.
3
O grau de importância foi definido na pesquisa como essencial, muito importante, importante, pouco importante
e desnecessário, baseado no método da Escala Likert.
152  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

9.2  A necessidade de normalização para a gestão da cadeia


reversa dos equipamentos eletroeletrônicos

O aumento do número de requisitos ambientais pode ser percebido não só no meio


industrial, mas também no dia a dia dos consumidores de equipamentos eletroele-
trônicos. Basta uma análise superficial para constatar a existência de uma série de
marcações e selos com objetivos diretos ou indiretos de proteção ao meio ambiente
e saúde humana, que são encontrados em produtos, acessórios e embalagens de ele-
troeletrônicos. Podemos citar alguns, tais como: a marcação CE (REGULAMENTO
CE N°765/2008) e o símbolo para marcação dos eletroeletrônicos (Diretiva 2012/19/
UE) na Comunidade Europeia; o selo Blauer Engel – certificação alemã para produtos
e serviços com impacto ambiental reduzido ou positivo –, no Brasil, o selo Procel de
eficiência energética e o selo Colibri (Qualidade ambiental-ABNT), além das simbolo-
gias técnicas para identificação de materiais utilizados na fabricação de partes e peças
que constituem os equipamentos.
A cadeia reversa dos produtos eletroeletrônicos pode se beneficiar dessas informações
ao tratar os resíduos eletroeletrônicos (REEE) de maneira diferenciada quando a informação
sobre a origem e materiais constituintes é clara e disponível. Porém, em muitos casos não é
possível identificar marcações em todas as partes do produto já que os requisitos ambientais
e de rotulagem não são uniformes ou não seguem padrões globais.
Além da diversidade de materiais e da falta de informações para a cadeia reversa dos
eletroeletrônicos; um produto eletroeletrônico, como um aparelho celular, pode conter mais
de 40 elementos da tabela periódica, incluindo metais básicos, como: cobre (Cu) e estanho
(Sn); metais raros, como: cobalto (Co), índio (In) e antimônio (Sb); e metais preciosos, como:
prata (Ag), ouro (Au) e paládio (Pd) (UNEP, 2009); além de possuir diferentes valores de
mercado e diferentes formas de destinação e poder apresentar metais pesados (chumbo,
cádmio, cromo hexavalente, entre outros) em sua composição.
Todas as variáveis e dificuldades associadas, aliadas à inexistência de requisitos am-
bientais específicos para a cadeia reversa de eletroeletrônicos no Brasil, tornam os com-
pradores dos produtos e serviços desta cadeia reversa inseguros em relação à escolha de um
fornecedor que atenda a todos os requisitos impostos pela Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS), especialmente em relação à responsabilização das partes e destinação
correta dos REEE.
As perguntas que têm sido feitas pelos envolvidos na cadeia reversa de eletroeletrônicos –
desde o início do processo até a destinação final dos resíduos – em relação à qualificação
de fornecedores nas atividades de reciclagem são:
j Como especificar os requisitos de aquisição em consonância com as premissas da PNRS
e legislações ambientais vigentes?
j Como verificar a padronização e garantia da realização de procedimentos essenciais para

manutenção do meio ambiente e saúde do trabalhador durante os processos envolvidos


na cadeia reversa?
j Como reduzir custos de auditorias para qualificação desses fornecedores?
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  153

Ainda pela ótica dos fornecedores da cadeia reversa, há o questionamento sobre quais
são os requisitos exigidos e a forma demonstrara todo o mercado – de maneira clara e
uniforme – o atendimento das exigências por todos os interessados em um tipo de atividade
que possui características tão particulares.
Uma forma reconhecida para qualificação de fornecedores é a avaliação das atividades
deste fornecedor da cadeia reversa pela verificação do atendimento a requisitos de um
sistema de gestão certificável. Assim, é possível, por meio da elaboração de requisitos
específicos, definir claramente as necessidades das partes interessadas e os formatos dos
controles necessários e dos processos de comunicação entre as partes, assim como promover
uma relação de confiança e a padronização de princípios e informações mínimas entre os
diferentes fornecedores da cadeia.
Dessa forma, a elaboração de normas técnicas para a atividade da cadeia reversa se
torna uma ferramenta eficiente para a uniformização necessária e desejada por todas as
partes envolvidas.
Considerando as particularidades e necessidades envolvidas na gestão dos resíduos eletroele-
trônicos e o fato de uma norma técnica ser um “documento estabelecido por consenso e aprovado
por um organismo reconhecido, que fornece para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes,
visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto” (ABNT, 2012), as
principais motivações para a elaboração do projeto foram as seguintes necessidades:
j Obrigatoriedade de estruturação e implementação de sistemas de logística reversa para
a cadeia produtiva de produtos eletroeletrônicos e seus componentes, de acordo com a
Lei n° 12.305/2010 (Art.33, Inciso VI).
j Desenvolvimento da competência das recicladoras de produtos e componentes eletroele-

trônicos, reduzindo a ocorrência de agressões ao meio ambiente.


j Demonstração de garantias que os processos adotados são coerentes com boas práticas de

gerenciamento de resíduos, evitando que os materiais sejam destinados de maneira incorreta.


j Garantia da segurança e saúde ocupacional dos envolvidos nos processos de reciclagem

de eletroeletrônicos.
Assim, contando com a participação de cerca de 60 empresas voltadas à fabricação e
reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos, além de outras entidades, deu-se início ao
trabalho de elaboração do projeto de documento normativo voltado às atividades da cadeia
reversa, em particular, aos recicladores de resíduos eletroeletrônicos.

9.3  Estrutura da gestão da cadeia reversa e principais atores


envolvidos no processo de normalização

A cadeia reversa de eletroeletrônicos é entendida como o conjunto de organizações ou


empresas que, isoladamente ou em sequência encadeada de procedimentos ou operações,
coletam, armazenam, selecionam, processam, transferem ou praticam a manufatura reversa
de resíduos eletroeletrônicos para fins de transformação, reinserção de materiais na cadeia
produtiva e disposição final (Figura 9.1).
154  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 9.1  Fluxograma da Cadeia Reversa de Eletroeletrônicos. Nota: O processo de arma-


zenamento e transporte pode estar contemplado em todas as etapas da cadeia reversa de
eletroeletrônicos. Fonte: elaboração própria.

O termo manufatura reversa é definido no item 3.15 da norma ABNT NBR 16156:
2013 como “etapas da atividade de reciclagem que compreendem os processos de trans-
formação dos resíduos eletroeletrônicos em partes e peças, insumos ou matérias-primas,
sem a obtenção de novos produtos”.
Igualmente, considerando a abordagem do ciclo de vida fechado na produção de equi-
pamentos eletroeletrônicos, conforme demonstrado na Figura 9.2, em que são listados os
atores dos processos da cadeia reversa que, em geral, são organizados de maneira diversa
daqueles encontrados na cadeia direta, pode-se concluir que estes possuem diferentes pontos
de vista e prioridades em relação às questões de normalização para o setor.
Os fabricantes de eletroeletrônicos são envolvidos no processo de acordo com a PNRS,
que institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Assim, todo
o processo da cadeia reversa deverá ser monitorado por esses fabricantes que – dentro do
processo normativo – têm o papel de principal demandante de documentos técnicos que
apoiem a garantia da destinação final correta do produto com ênfase na rastreabilidade dos
resíduos e na segurança de dados e descaracterização de marcas.
Também há interesse dos fabricantes quanto a monitorar as atividades relacionadas ao
reúso dos eletroeletrônicos, pois o reúso de forma não controlada pode acarretar perdas
financeiras decorrentes de questões legais, de qualidade dos produtos e de confiabilidade
da marca.
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  155

Figura 9.2  Fluxograma da Cadeia Reversa de Eletroeletrônicos. Fonte: Elaboração própria.

Outro demandante importante de documentos técnicos é o Governo, que necessita de


informações que apoiem a contratação de processos dentro da cadeia reversa, alinhados
com os aspectos relacionados à sustentabilidade nas compras governamentais.
Outros atores interessados no processo normativo são aqueles enquadrados na categoria
de recicladores ou aqueles que são responsáveis pelas operações de transformação dos
resíduos eletroeletrônicos com alteração de suas propriedades físicas, fisico-químicas
com vistas à obtenção de insumos ou novos produtos. A principal preocupação está em
garantir uniformidade e confiabilidade nos processos de maneira que os atuais e novos
entrantes mantenham um padrão mínimo de procedimentos, reduzindo as possibilidades de
concorrência desleal. Dentro desta premissa, as questões relacionadas à proteção ao meio
ambiente e saúde e segurança do trabalhador são pontos-chave na concepção de processos
de reciclagem dos REEE confiáveis.
Vale também ressaltar a importância da participação de gestores de logística e cadeia
reversa de eletroeletrônicos e da academia que trazem ao documento normativo um equilí-
brio entre a linguagem técnica e a linguagem operacional utilizada no documento.
Dentro de um ambiente no qual as principais considerações e premissas descritas acima
foram levadas em consideração, foi possível o desenvolvimento de um trabalho normativo
voltado à gestão da cadeia reversa de eletroeletrônicos.

9.4  Processo de elaboração do projeto de norma


com requisitos para a cadeia reversa de eletroeletrônicos

Um projeto de norma que trata de requisitos para a atividade da cadeia reversa de ele-
troeletrônicos, inédito para aplicação no mercado de reciclagem nacional, teve como fonte
de informação documentos nacionais e internacionais, entre os quais cabe citar:
156  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

ABNT NBR 10004, Resíduos sólidos – Classificação; ABNT NBR 15833, Manufatura
reversa – Aparelhos de refrigeração; ABNT NBR 18801, Sistema de gestão da segurança e
saúde no trabalho – Requisitos; ABNT NBR ISO 9000:2005, Sistema de gestão da qualidade
– Fundamentos e vocabulário; ABNT NBR ISO 14001:2004, Sistema de gestão ambiental –
Requisitos com orientação para uso; ABNT NBR NM ISO 15189, Laboratórios de análises
clínicas – Requisitos especiais de qualidade e competência; IEC 62474, Material declaration
for products of and for the eletrotechnical industry; OHSAS 18001, Occupational Health
and Safety Assessment Series e Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978, do Ministério
do Trabalho e Emprego, tendo como principais referências as normas regulamentadoras:
NR-5 - Comissão interna de prevenção de acidentes; NR-6 - Equipamento de Proteção In-
dividual; NR-7– Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional; NR-15– Atividades
e Operações Insalubres; NR- 17 – Ergonomia.
Durante a elaboração do projeto, as seguintes premissas, baseadas nas necessidades do
mercado brasileiro, especialmente produtores e organizações da cadeia reversa, e na legis-
lação vigente foram consideradas:
j Ser um documento com diretrizes para os gestores das empresas com requisitos veri-
ficáveis através de um processo de auditoria que é definido como um “processo sis-
temático, documentado e independente para obter evidências de auditoria e avaliá-las
objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios da auditoria são atendidos”
(ABNT NBR ISO 19011).
j Ser passível de certificação, onde é atestada a conformidade do modelo de gestão de

fabricantes e prestadores de serviço em relação a requisitos normativos.


j Usar linguagem normativa já conhecida pelo mercado, que já aplica sistemas de gestão

em suas atividades.
j Ter congruência com legislações e normas existentes.

j Estar apoiada nos seguintes pilares:

1. proteção ao meio ambiente, cujos pontos a destacar são: atendimento a política,


objetivos e metas ambientais; gerenciamento de aspectos e impactos ambientais,
atendimento aos requisitos ambientais legais e licenciamento ambiental.
2. proteção à saúde e segurança do trabalhador, com destaque para: o atendimento
aos requisitos legais e a instituição de estrutura nos moldes da Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes para todas as organizações.
3. rastreabilidade dos resíduos eletroeletrônicos com a aplicação do princípio da
conservação da massa na contabilidade dos REEE entrando e saindo do processo de
reciclagem, visando identificar fluxos de massa, a fim de garantir sua rastreabilidade.
4. segurança de dados e proteção da marca com aplicação de metodologia adequada
para apagar ou tornar definitivamente ilegíveis as marcas e as informações contidas
nos REEE.
Atendendo a tais considerações, o projeto foi elaborado usando como texto base a
norma ABNT NBR ISO 14.001, atendendo as três primeiras premissas supracitadas, com
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  157

acréscimos específicos relacionados a saúde e segurança do trabalhador, rastreabilidade


dos resíduos, segurança de dados e proteção da marca. A Figura 9.3 ilustra os principais
pilares do projeto.

Figura 9.3  Pilares do projeto de requisitos para a atividade da cadeia reversa de eletroele-
trônicos. Fonte: Elaboração própria.

Quanto ao tema saúde e segurança no local de trabalho, o texto do projeto fez vários
acréscimos importantes ao texto base da ABNT NBR ISO 14.001, explicitando a neces-
sidade de proteção dos trabalhadores em relação à saúde e segurança, proporcionalmente
aos tipos de tecnologias de processamento utilizadas, a redução ou eliminação dos perigos
no local do trabalho, bem como a elaboração de planos com metas de diminuição da ex-
posição dos trabalhadores a materiais perigosos.
Nesse sentido, o conceito de aspecto e impacto foi ampliado, considerando não somente
a avaliação daqueles relacionados aos aspectos ambientais, como também criando o concei-
to relacionado aos aspectos e impactos de segurança e saúde no trabalho. Esta sistemática
de avaliação, especialmente relacionada às questões de saúde e segurança do trabalhador,
que já conta com normas reguladoras implementadas, está focada especialmente naqueles
resíduos eletroeletrônicos que possuem ou geram substâncias perigosas durante o seu
processamento.
Durante a elaboração do texto do projeto também foram levadas em consideração as
características peculiares dos resíduos eletroeletrônicos que implicam em cuidados especiais
158  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

no manuseio, acondicionamento, transporte, destinação e disposição final, além da criação


de condições do desenvolvimento de ações junto aos contratados e parceiros comerciais
dos fornecedores da cadeia reversa, com o objetivo de disseminar a aplicação dos principais
conceitos do projeto em toda a cadeia reversa de eletroeletrônicos.
Já no que diz respeito à rastreabilidade, o texto inclui requisito relacionado à elaboração,
por parte da cadeia de reciclagem, de sistemática que possibilita o controle da massa do
material proveniente dos resíduos eletroeletrônicos que entra na cadeia reversa, em relação
à massa de material que sai do processo, após a realização de todas as operações e que foi
definido no documento como balanço de massa. Esse requisito está alinhado com o princípio
de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Lei n° 12.305/2010,
art.6°, VII), estabelecido na Política Nacional de Resíduos Sólidos e no compromisso dos
fabricantes e importadores darem uma destinação ambientalmente adequada aos REEE
(Lei n° 12.305/2010, art.33, §6°).
Em relação à segurança de dados, também foi definido como requisito a necessidade
da organização oferecer serviços de descaracterização da marca e as informações dos
usuários em suas instalações ou em empresas terceirizadas sob seu controle, visando não
só a proteção de informações que possam estar contidas nos resíduos eletroeletrônicos,
como também a proteção da marca do fabricante contratante das atividades da cadeia
reversa.
O processo de gerenciamento proposto requer a participação e comunicação dos resul-
tados das análises realizadas e de todos os dados de evolução a todos os colaboradores da
organização que realizam as atividades da cadeia reversa e parte interessadas.
Pode também ser considerada uma inovação neste documento a introdução do conceito
resíduo eletroeletrônico perigoso, definindo o termo e fazendo referência a uma tabela anexa
ao documento com grupos de substâncias ou substâncias que conferem periculosidade aos
resíduos eletroeletrônicos.
Outro ponto importante do projeto foi o alinhamento e referência à norma internacional
IEC 62474, que trata da declaração de material para equipamentos eletroeletrônicos e es-
pecifica procedimentos, conteúdos e formas que relacionam a declaração de materiais para
produtos de empresas que operam e fornecem para a indústria eletroeletrônica, iniciando,
assim, a criação de sistemática para o conhecimento e registro das substâncias perigosas
ou com restrições nos produtos eletroeletrônicos.
Finalmente, soma-se ao documento o requisito relacionado à elaboração de um plano
de encerramento da organização, no qual o objetivo é garantir que a operação não seja des-
continuada sem o devido cuidado relacionado a possíveis contaminações do ar, solo e água,
assegurando prevenção e reparação de qualquer dano consequente da operação.

9.5  Desafios e oportunidades do processo

Durante a elaboração do projeto de Norma, foram evidenciados diversos desafios e


oportunidades que também devem ser considerados no desenvolvimento de futuros projetos.
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  159

Dentre os principais desafios experimentados durante a elaboração do projeto, podemos


destacar a falta de definições para os termos específicos utilizados na cadeia reversa de
eletroeletrônicos; a insegurança quanto à determinação dos custos relacionados à im-
plementação do projeto e sua relação com os benefícios esperados; pouca informação
relacionada à periculosidade dos REEE e a dificuldade da realização de avaliação de as-
pectos e mensuração adequada dos impactos ambientais e de saúde e segurança no trabalho.
Em relação às oportunidades, podemos apontar o desenvolvimento e aprimoramento de
laboratórios para a realização de ensaios de caracterização das substâncias presentes nos
resíduos eletroeletrônicos; o desenvolvimento e treinamento de pessoal para a implemen-
tação dos requisitos propostos pelo projeto; o aumento da segurança quanto à destinação
dos REEE e o crescimento da profissionalização em todas as etapas da cadeia reversa.
Outra oportunidade que deve ser ressaltada é a criação de documentos específicos,
normativos ou legais, relacionados a critérios que definem a periculosidade dos REEE,
considerando as substâncias perigosas e as quantidades máximas permitidas. Atualmente, os
documentos nacionais existentes não esclarecem esta condição, sendo necessário, especifi-
camente neste projeto, criar informação referente a substâncias que conferem periculosidade
aos REEE.
Com o objetivo de relacionar e organizar as principais questões pautadas no projeto de
norma, foi realizada pesquisa com o grupo de colaboradores da comissão de estudos, na qual
foram feitas questões relacionadas a desafios e oportunidades, conforme descrito abaixo.

9.5.1  Principais oportunidades relacionadas com a implementação dos


requisitos do Projeto de Norma

Em levantamento realizado com os participantes cadastrados na Comissão de Estudos


(CE:03.111-01), procurou-se avaliar a percepção dos participantes em relação a implemen-
tação dos requisitos do projeto de Norma.
A primeira pergunta feita aos pesquisados foi: Quais as principais oportunidades na
implementação dos requisitos do projeto de norma?
Foram previamente definidas algumas respostas, podendo o respondente optar por mais
de uma alternativa e ainda havia a possibilidade de responder livremente.
Do total de 34 respondentes, em relação às principais oportunidades identificadas
obteve-se o seguinte resultado:4 82% consideram a oportunidade de padronização de proce-
dimentos e melhoria dos processos relacionados à cadeia reversa de eletroeletrônicos; 76%
consideram a oportunidade de garantir a proteção ao meio ambiente e a saúde e segurança
dos trabalhadores nos processos relacionados à cadeia reversa de eletroeletrônicos; 56%
consideram a oportunidade de garantir o atendimento à legislação vigente relacionada aos
REEE; 24% identificam como oportunidade a redução de custos na escolha de fornecedores
da cadeia reversa de eletroeletrônicos.

4
Devido à possibilidade de marcação de mais de uma resposta, a soma das porcentagens ultrapassa 100%.
160  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Gráfico 9.3  Oportunidades identificadas com a implementação dos requisitos do Projeto de


Norma. Fonte: Elaboração própria.

Ainda, 24% dos respondentes atribuíram outras oportunidades relacionadas à im-


plementação do projeto, entre elas a possibilidade de diferenciação, profissionalização
e formalização do setor de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos; a possibilidade de
permitir parametrização com as certificações; a oportunidade de visibilidade e diferencial
de mercado para as empresas que implantarem os requisitos estabelecidos no projeto de
Norma; a promoção de um “cenário certificável”, permitindo a livre e leal concorrência;
a possibilidade do documento servir como referência àqueles que desejarem empreender
na área da gestão dos resíduos eletroeletrônicos; a contribuição para redução do déficit da
balança comercial, com a redução da importação de recursos naturais; a qualificação de
fornecedores de REEE para exportação.
Nenhum dos respondentes considerou que não há oportunidades na implementação
dos requisitos.
As respostas levam a concluir que, para os envolvidos no processo de elaboração do
projeto, há uma direta relação, assim como um ambiente propício para novas oportunidades
relacionadas diretamente ao negócio das empresas na dimensão da competitividade e não
somente ao restrito atendimento às questões legais e normativas.
Destacamos ainda que 81% dos respondentes pertencentes ao perfil de fabricantes
de eletroeletrônicos consideram importante padronizar os procedimentos e melhorar os
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  161

processos relacionados à cadeia reversa de eletroeletrônicos. Isso demonstra o apoio


dos fabricantes a todas as atividades relacionadas à padronização e à implementação dos
documentos normativos.

9.5.2  Principais desafios relacionados com a implementação dos requisitos


do Projeto de Norma

O mesmo grupo descrito no item anterior priorizou os principais desafios considerados


na implementação dos requisitos propostos pelo documento, no qual os resultados foram:
47% dos respondentes consideram a falta de pessoal qualificado para implementar os
requisitos do projeto e a falta ou desconhecimento de laboratórios para levantamento dos
riscos relacionados aos REEE; 32% consideram a falta de informação sobre a periculosidade
dos REEE e o não atendimento dos requisitos do projeto de Norma.

Gráfico 9.4  Desafios identificados na implementação dos requisitos do Projeto de Norma.


Fonte: Elaboração própria.

Além das dificuldades apresentadas anteriormente, 38% dos respondentes identificaram


empecilhos como: a falta de obrigatoriedade da utilização de uma norma técnica; o fato do
acesso a normas demandar sua compra e dos organismos de certificação muitas vezes des-
conhecerem sua existência; o fato do projeto de Norma se propor a ter cobertura de âmbito
nacional e a obtenção de licenças ambientais ser distinta entre os estados; aspectos fiscais
e tributários envolvidos na gestão dos REE; conflitos de interesse entre as partes interes-
sadas; a indisponibilidade de uma infraestrutura de logística reversa dos REEE em algumas
regiões do país; o entendimento parcial de que a aplicação da norma gere um aumento de
162  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

custos para os participantes da cadeia reversa de eletroeletrônico e, consequentemente,


para seus contratantes.
No entanto, é apresentada também a visão de que para empresas que já possuem um
Sistema de Gestão Integrado não haverá dificuldades na implementação dos requisitos do
projeto.

9.6  Profissionalização da cadeia e elaboração de novos


projetos

Indagados com a pergunta: “Quais outros projetos de norma seriam indicados para
futura elaboração?”, o grupo de respondentes relacionou as prioridades como demonstrado
no Gráfico 9.5.

Gráfico 9.5  Projetos de normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos indicados


para futura elaboração.5 Fonte: Elaboração própria.

Além disso, foi apontada a necessidade de elaboração de Norma para cálculo de reci-
clabilidade de materiais advindos da manufatura reversa e, no caso específico da norma
ABNT NBR 15833:2010 Manufatura reversa – Aparelhos de refrigeração, identificou-se
a necessidade do estabelecimento de limites de eficiência e eficácia na recuperação dos
materiais com identificação de eventuais perdas de processo ao lidar com as diferentes
substâncias contidas nos REEE.

5
Os respondentes podem marcar mais de uma caixa de seleção, então a soma das porcentagens pode ultrapassar
100%.
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos  163

Isso demonstra uma necessidade latente na elaboração de novos documentos normativos


relacionados ao tema que permitirão o desenvolvimento de uma cadeia altamente profis-
sional e qualificada.

9.7  Considerações finais

Os requisitos ambientais atingem de forma direta todos os segmentos, impondo por


vezes responsabilidade compartilhada entre os diversos atores envolvidos no ciclo de
vida do produto. O setor de eletroeletrônicos se insere nesse contexto por possuir uma
indústria altamente competitiva e responsável pela geração da maior parte dos resíduos
perigosos.
Com o objetivo de garantir a competitividade, ações de elaboração de documentos
técnicos tornam-se importantes e criam ferramentas para garantir a sustentabilidade da
cadeia reversa de eletroeletrônicos e seus atores.
Os fóruns de normatização internacionais já tratam do assunto, porém as demandas
regionais e a velocidade com que os documentos são elaborados, analisados e aprovados
podem não ser compatíveis com as necessidades do mercado que atua na cadeia reversa
de eletroeletrônicos.
Considerando este um novo mercado, toda a documentação técnica associada deve
ser criada por aqueles diretamente envolvidos no processo e acompanhadas de perto pela
comunidade consumidora dos produtos.
As necessidades de documentos técnicos apresentados neste trabalho demonstram que
o Brasil necessita de ações primárias no assunto, tais como elaboração e harmonização de
termos e suas definições, nos quais até mesmo a definição do objeto de análise (o resíduo
eletroeletrônico) não tem definição clara e harmonizada no mercado nacional. Também,
a questão da periculosidade dos resíduos, assunto já abordado e regulamentado em outros
países, requer atenção do mercado nacional, pois as soluções técnicas para a cadeia reversa
também dependem desta definição ou mesmo do posicionamento dos órgãos ambientais
competentes.
O desenvolvimento do mercado que dará suporte às necessidades técnicas da cadeia
deverá ser ampliado ou até mesmo desenvolvido, tendo como consequência uma grande
oportunidade de crescimento nas áreas de tecnologia para reciclagem e laboratórios de
ensaios pertinentes, quer as referidas soluções venham de recursos já existentes no Brasil,
quer venham por apoio a projetos de inovação ou por utilização de tecnologias já existentes
no mercado internacional.
Um ponto favorável nesta atividade é que há um consenso em todas as áreas do co-
nhecimento técnico e da gestão das organizações, certamente motivadas por ações gover-
namentais, que convergem para o alinhamento e para a união de esforços no sentido de
criar e executar ações que melhorem o posicionamento geral sobre as questões ambientais
do segmento eletroeletrônico.
164  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Esta experiência com suas soluções poderá ser utilizada como referência para outros
segmentos de mercado que possuam demandas e especificidades próximas ao setor e, além
disso, os documentos normativos gerados nacionalmente poderão se tornar futura referência
para o mercado internacional.

Referências bibliográficas
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Normalização. Disponível em: http://www.abnt.org.br/
m3.asp?cod_pagina=931. Acesso em: 30 de outubro de 2012.
__________. NBR 10004, Resíduos sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004.
__________. NBR 15833, Manufatura reversa – Aparelhos de refrigeração. Rio de Janeiro, 2010.
__________. NBR 18801, Sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho – Requisitos. Rio de Janeiro, 2010.
__________. NBR ISO 9000, Sistema de gestão da qualidade – Fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2005.
__________. NBR ISO 14001, Sistema de gestão ambiental – Requisitos com orientação para uso. Rio de
Janeiro, 2004.
__________. NBR NM ISO 15189, Laboratórios de análises clínicas – Requisitos especiais de qualidade e
competência. Rio de Janeiro, 2008.
__________. NBR ISO 19011. Diretrizes para auditorias de sistema de gestão da qualidade e/ou ambiental. Rio
de Janeiro, 2012.
__________. NBR 16156 Resíduos de equipamentos eletroeletrônicos – Requisitos para atividade de manufatura
reversa. Rio de Janeiro, 2013.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora
NR-5 - Comissão interna de prevenção de acidentes.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-6 – Equipamento de
Proteção Individual.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-7 – Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-15 – Atividades e Operações
Insalubres.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-17 – Ergonomia.
BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, altera a Lei n°
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências.
BRASIL. Decreto Federal n° 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei n° 12.305, de 2 de agosto
de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa
e dá outras providências.
DIRETIVA 2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012, relativa aos resíduos de
equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE).
INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMISSION. IEC 62474, Material declaration for products of
and for the eletrotechnical industry, Genebra, 2012.
OHSAS 18001, Occupational Health and Safety Assessment Series. Estados Unidos, 2007.
REGULAMENTO (CE) N° 765/2008 DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 9 Julho de 2008
que estabelece os requisitos de acreditação e fiscalização do mercado relativos à comercialização de produtos,
e que revoga o Regulamento (CEE) n° 339/93. Jornal Oficial da União Européia.
UNEP. Recycling from e-waste to resources, Final Report, 2009. Disponível em: http://www.unep.org/PDF/
PressReleases/E-Waste_publication_screen_FINALVERSION-sml.pdf. Acesso em: 30 de outubro de 2012.
Capítulo 10
Aspectos
operacionais
da Gestão de REEE
Antônio Conde, Lúcia Helena Xavier, Neuci Bicov Frade

RESUMO

A logística reversa consiste em um conjunto de operações e atividades que diferem


substancialmente da logística direta. Enquanto na logística tradicional os produtos resultam
do processamento de uma variedade de insumos, na logística reversa, a partir de produtos
e materiais pós-consumo é gerada uma diversidade de produtos que servem como insumos
em outros processos produtivos. Dessa forma, a disposição de maquinários, organização
do espaço físico, infraestrutura e gerenciamento das atividades ocorrem de forma diferen-
ciada. Este capítulo visa contribuir com subsídios para a organização do espaço físico no
gerenciamento de REEE.

10.1 Introdução

A partir da consolidação da política e do delineamento de estratégias para a gestão de


resíduos eletroeletrônicos, emerge a necessidade de alocação de recursos e organização
do espaço. No entanto, as metodologias que vigoram são próprias para o delineamento 165
166  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

de processos produtivos, ou seja, para a viabilização da logística reversa. Os processos


reversos ainda são muito incipientes e, na maior parte das vezes, demandam uma mão de
obra especializada que ainda não está disponível no mercado.
A partir de resultados apresentados por Camara (2008), o arranjo físico tem significativo
impacto no enfoque da ecoeficiênica, bem como na redução dos custos de produção, gerando
resultados relevantes na mitigação de impactos ambientais relacionados, por exemplo, ao
consumo de energia e água. Em última instância, o arranjo físico resulta em economia de
ordem financeira. Segundo a autora, sugere-se a inclusão da organização do espaço como
um aspecto a ser observado no planejamento estratégico como recurso de ecoeficiência
para a redução dos custos operacionais.
De acordo com um estudo recentemente desenvolvido pelo SEBRAE (2012), o custo de
implantação de uma unidade de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos está estimado em
cerca de R$160.000,00. Para tanto, o estudo considera os custos, de aquisição de equipa-
mentos e mobiliário. Nesse investimento inicial não foram incluídos os custos de operação
e manutenção. Pode-se estimar que esses valores possam atingir cerca de R$20.000,00,
para a proporção do estudo.
No entanto, os valores apresentados anteriormente ainda podem variar significativamente
em função da localização da planta, dos cursos de transporte e armazenagem, bem como o
pagamento dos funcionários que executarão as atividades.
Desta forma, neste capítulo serão feitas considerações a respeito das etapas de proces-
samento dos resíduos eletroeletrônicos de forma genérica, detalhando processos que devem
ser documentados para efeitos de rastreabilidade. Buscou-se ordenar as etapas conforme
as necessidades percebidas a partir da implementação dos processos nas unidades do
Centro de Descarte e Reúso de Equipamentos de Informática (CEDIR) e do Centro de
Reciclagem Tecnológica (Recicl@tesc). Ambos iniciativas desenvolvidas na Universidade
de São Paulo.

10.2  Arranjo físico

A organização do espaço físico em um empreendimento produtivo é um ponto de grande


relevância que tem impactos significativos na produtividade.

10.2.1  Etapas da gestão de REEE

a) Descarte
Ao atingirem o final da vida útil, espera-se que os equipamentos pós-consumo sejam
descartados. No entanto, há uma significativa taxa de retenção de equipamentos ele-
troeletrônicos residuais que permanecem sob a posse dos consumidores mesmo após o
final de sua funcionalidade. Este é um dos aspectos que comprometem a gestão da logís-
tica reversa nesse segmento. Empresas do segmento de eletroeletrônicos e do comércio
varejista tem desenvolvido mecanismos de incentivo ao descarte de REEE que consistem
Aspectos operacionais da Gestão de REEE  167

basicamente na organização de campanhas e instalação de postos de entrega voluntária em


supermercados e assistências técnicas, por exemplo, cujas campanhas têm surtido grande
efeito. A população, entretanto, ainda não dispõe de modelos eficientes para o descarte de
seus equipamentos pós-consumo, apesar de ser um aspecto presente na Política Nacional
de Resíduos Sólidos – PNRS.
b) Coleta ou recebimento
Os REEE podem alcançar um ponto de descarte por meio de uma logística ativa (coleta)
ou passiva (recebimento). As campanhas e pontos de entrega voluntária são hoje as princi-
pais fontes de recebimento dos resíduos tecnológicos, mas que ainda são recolhidos de forma
modesta. Outra questão relevante dessa etapa é a preparação dos pontos de recebimento
para o acondicionamento dos materiais e produtos.
A estrutura do transporte para a coleta deve buscar mecanismos de eficiência por meio
do planejamento das rotas.
Um aspecto fundamental nessa etapa é a notificação da transferência do equipamento do
consumidor para o responsável pela coleta ou recebimento por meio de um documento que
contenha a identificação do consumidor (nome, documento de identificação, contato), do material
(tipo, peso, marca e quantidade) e identificação do termo de responsabilidade. Esse documento
fará parte do processo de rastreabilidade e balanço de massa dos equipamentos destinados.
c) Triagem
Os equipamentos podem ser passíveis de reúso ou remanufatura. Dessa forma, a tria-
gem pode identificar as funcionalidades dos equipamentos e evidenciar se estão aptos ao
recondicionamento ou se devem seguir para a destinação. Essa etapa requer um profissional
com conhecimento técnico de elétrica e eletrônica para averiguação das funcionalidades e
necessidade de reparos ou manutenção.

Figura 10.1  Acondicionamento de placas de circuito impressa triadas (PCI). Fonte: CEDIR.
168  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

d) Descaracterização
Após a identificação da impossibilidade de remanufatura ou reúso do REEE, alguns
fabricantes exigem a descaracterização dos seus produtos. A descaracterização acontece em
dois níveis: descaracterização de marcas e descaracterização de dados. O primeiro consiste
na supressão da marca de identificação do fabricante, e o segundo nível equivale à destruição
das informações presentes nos equipamentos. Ambas as possibilidades podem ser realizadas
por meio do procedimento de trituração do material. No entanto, esse procedimento pode,
em alguns casos, comprometer o processo de separação de materiais. Ainda assim, é um
ponto de exigência contratual por empresas fabricantes ou de prestação de serviço.
e) Remanufatura
A remanufatura no segmento de resíduos tecnológicos equivale ao procedimento de as-
sistência técnica, por meio do qual os equipamentos são submetidos à substituição de peças
e partes ou reparos de componentes. Nessa situação, deve-se considerar ainda a retirada
de peças em perfeito estado ou descontinuadas (que não são mais fabricadas) para fins de
reposição ou consertos de equipamentos em assistência técnica.
f) Desmontagem
Etapa por meio da qual os equipamentos têm suas partes e peças separadas. O processo
de desmontagem será mais ou menos refinado em função da necessidade de preservação
das estruturas, como é o caso da remanufatura. As junções, parafusos e conexões podem
ser removidas em etapas inversas a que foram montadas a fim de se manter a estrutura das
peças. Caso não haja necessidade de preservação de peças e partes, o equipamento pode ser
rompido em suas estruturas mais frágeis. No entanto, o processo de desmontagem com a
retirada dos componentes da forma inversa pela qual foram montados ainda tem a vantagem
de melhor segregação dos materiais, valorizando-os para as etapas subsequentes.

Figura 10.2  Desmontagem do gabinete de computador (CPU). Fonte: Lúcia Xavier.


Aspectos operacionais da Gestão de REEE  169

Figura 10.3  Desmontagem de impressora. Fonte: Lúcia Xavier.

Figura 10.4  Desmontagem de tubo CRT (cinescópio). Fonte: Lúcia Xavier.


170  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 10.5  Detalhe de tubo CRT (cinescópio). Fonte: Lúcia Xavier.

g) Separação
Consiste na separação dos materiais conforme o tipo ou forma de destinação. A partir
da desmontagem pode-se alcançar maior ou menor valorização dos resíduos em sua se-
gregação. Resíduos de tipos diferentes misturados são considerados contaminados e têm
redução substancial do valor de mercado.

Figura 10.6  Disposição das peças separadas de uma impressora. Fonte: Lúcia Xavier.
Aspectos operacionais da Gestão de REEE  171

h) Reciclagem
Dependendo do tipo de material, a reciclagem é uma opção incentivada em todos os
segmentos. No caso dos eletroeletrônicos, a reciclagem abrange materiais como plás-
tico, metal e vidro. Porém, diferentes de outros segmentos como embalagens de bebidas
e material gráfico, os resíduos eletrônicos têm grande percentual de materiais mistos o
que, em certos casos, inviabiliza tecnicamente a reciclagem. Os roletes de impressoras,
responsáveis pela rolagem da folha de papel, são um exemplo nesse sentido. Esse tipo de
componente consiste em um eixo de aço revestido parcialmente com borracha vulcanizada
(Figura 10.7). Como a borracha tem uma densidade relativamente alta e está fortemente
fixada no eixo, no processo de desmontagem é praticamente inviável a desmontagem do
conjunto. No entanto, o componente é aceito para queima em fornos, em função do alto
poder calorífico dos materiais agregados. Esse é um exemplo a partir do qual se inviabiliza
investimentos na reciclagem por não ter sido concebido com o propósito de desmontagem.

Figura 10.7  Rolete de impressora. Fonte: Roberto Almeida.

i) Disposição
Na inviabilidade de destinação por meio de reúso, reciclagem ou remanufatura, os
materiais devem ser destinados à incineração e, na inviabilidade desta, encaminhados à
disposição final em aterros.

10.2.2  Requisitos de layout no processo

10.2.2.1 Entrada
Área de carga com porta ampla, rampa e espaço para deslocamento de palet por meio
de empilhadeira. Identificação e documentação da entrega para fins de rastreabilidade. Na
entrada é feita a identificação das entregas e verificação segundo o agendamento. Lem-
brando que o agendamento possibilita a alocação do espaço e também o gerenciamento dos
processos e da saída de material e equipamentos.

10.2.2.2  Área de triagem


Bancada para testes que, dependendo do volume, devem ser realizados por amostragem
dos lotes recebidos. Exige-se nessa etapa a disposição de ferramentas com fácil acessibilidade
172  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

por parte dos técnicos, localização de pontos de energia para funcionamento dos equipamentos
necessários no teste e manta antiestática recobrindo a bancada.

10.2.2.3  Armazenagem de remanufaturados


Após atividades de reparo e manutenção para finalidade de reúso os equipamentos
remanufaturados devem ser estocados em área resguardada de poeira, calor e movimentação
de empilhadeira.

10.2.2.4  Armazenagem pré-processamento


Os demais equipamentos que não estão aptos ao reúso devem ser acondicionados em
local próximo à bancada de desmontagem, na qual há ferramentas diferenciadas para a
desmontagem dos equipamentos. O pré-processamento consiste na desmontagem de partes e
peças, bem como na separação de peças e componentes que ainda podem ser reaproveitados
na manutenção de equipamentos para reúso. Essa última etapa consiste em processo co-
nhecido como canibalização. Por fim, o pré-processamento ainda consiste na separação de
materiais que serão destinados. Essa etapa exige os mesmos cuidados básicos necessários
aos processos desempenhados em assistências técnicas, exigindo, na maior parte dos casos,
apenas o uso de óculos de segurança, avental e luvas.

10.2.2.5 Processamento
Os materiais e produtos separados no pré-processamento seguem para a des-
tinação, conforme suas características. Materiais como plástico e metal seguem para
respectivas indústrias de reciclagem. Produtos como cinescópio (tubo de monitor tipo
CRT) e cabos ainda exigem descontaminação e separação de materiais. Por isso, são
encaminhados para etapas específicas para separação mais apurada. Essa etapa exige
maiores cuidados na proteção individual e coletiva. Como EPI, recomenda-se, de modo
geral, o uso de óculos de segurança, avental, luva, máscara para poeira fina e más-
cara de soldador. Como EPC, recomenda-se, em alguns casos, o trabalho em câmara
de fluxo laminar (com pressão negativa) e luvas de aço no manuseio de ferramentas
perfuro-cortantes.

10.2.2.6  Armazenagem pós-processamento


Materiais prontos para serem enviados às indústrias de reciclagem devem ser arma-
zenados em: caixas, tambores, Bags, Bigbags, de preferência em palets para facilitar o
transporte e a organização, no caso do ferro, por exemplo, que pode ficar exposto a intem-
péries, havendo espaço físico pode-se estacionar caçambas roll on ou poli para dinamizar
a produção. Produtos como baterias, cinescópios e lâmpadas fluorescentes devem seguir
normas ABNT e resolução CONAMA.
Aspectos operacionais da Gestão de REEE  173

10.2.2.7 Saída
Pode ser usada a mesma infraestrutura da área de entrada do material, observando-se,
no entanto, as exigências em relação a manutenção das propriedades e agregação de valor
aos materiais ou produtos.

10.2.3 Disposição da infraestrutura

Aspectos relativos à observação de padrões de ergonomia, iluminação e ventilação


devem observar as diretrizes que constam nas Normas Regulamentadoras (NRs) do Minis-
tério do Trabalho.

10.2.3.1  Localização do maquinário


As máquinas devem ser alocadas de maneira a facilitar o sistema de produção, próximas
ao local onde os materiais a serem trabalhados nesses equipamentos serão gerados ou
vice-versa. A movimentação dos produtos, materiais ou peças dentro da área de proces-
samento deve seguir ordem de processamento previamente estabelecida. Por exemplo, se for
definido que serão prensados gabinetes de computador, deverá se programar a localização
do material a ser prensado e ainda a dedicada área para acomodação do material prensado.
Caso contrário, haveria subutilização da prensa por não ter volume suficiente armazenado
ou ainda comprometer o processamento pela prensa por não haver área suficiente para a
disposição de palets para receber o material prensado.
Ainda não há no Brasil um parque dedicado à reciclagem de resíduos eletroeletrônicos.
No entanto, alguns equipamentos têm sido desenvolvidos – e outros adquiridos – por em-
presas especializadas com essa finalidade.

10.2.3.2  Áreas de armazenagem


A armazenagem, conceitualmente, implica em custos que englobam a alocação do
espaço, disposição de infraestrutura (iluminação, refrigeração, resfriamento, prateleiras/
estantes etc) e ainda disponibilidade de pessoal. Portanto, quanto menor for a necessidade
de espaço para armazenamento, mais eficiente torna-se o processo em termos econômicos.
Por outro lado, o material residual necessita ser estocado de forma a se atingir uma
quantidade mínima para o início do processo de reciclagem. Em outras palavras, as indús-
trias de reciclagem não coletam os materiais que estejam abaixo de uma quantidade mínima,
caso contrário, o transporte inviabilizaria o processo.
Para materiais com alto valor agregado, como os metais, exige-se uma estocagem
mínima, conforme exigência da indústria da reciclagem para a retirada do material. Depen-
dendo do valor, essa quantidade pode variar de 10 Kg (para o caso dos metais nobres), até
4 toneladas para metais ferrosos. Há que se observar ainda a distância a ser percorrida, o
tipo de material e as condições de armazenamento. No caso do material plástico exige-se,
em média, uma quantidade mínima em torno de 300 Kg, mas que requer um espaço maior
174  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

de estoque, caso o material não seja compactado, como ocorre com os plásticos de impres-
sora, por exemplo. No caso específico das placas de circuito impresso, a quantidade mínima
exigida pelos recicladores oscila entre 3 e 5 toneladas para se coletar nos centros de triagem.
Parte da etapa de recebimento e triagem tem sido realizada por cooperativas e as-
sociações de catadores. No entanto, esses profissionais não se encontram aptos a realizar
atividades que representem riscos, como a desmontagem de tubos do tipo CRT, por exemplo.
Assim, esse tipo de equipamento representa ainda um custo na cadeia de reciclagem, por
exigir a etapa de descontaminação e, consequentemente, um maior nível de conhecimento
técnico para a gestão dessa categoria de resíduo. Dessa maneira, há maior requerimento
por espaço para aqueles equipamentos que não podem ser imediatamente desmontados e
triados após o descarte pelos consumidores finais.

10.3  Considerações finais

O presente capítulo foi elaborado com base na necessidade de organização e apresenta-


ção das informações técnicas relativas aos procedimentos operacionais para o gerenciamento
de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos. Apesar desses procedimentos se basearem,
em grande parte, nos processos produtivos tradicionais, diferem significativamente desses
na medida em que priorizam a logística reversa de equipamentos, materiais, partes e peças.
Não há um único processo estabelecido em virtude do grau de complexidade dos proces-
sos de acondicionamento, teste e desmontagem de cada equipamento. Além das caracterís-
ticas dos equipamentos, as especificidades locais e operacionais também são indicadores
que nortearão o estabelecimento dos procedimentos operacionais.
A título de exemplo, pode-se tratar da desmontagem de impressoras de pequeno porte.
Há impressoras cujo tempo de desmontagem está em torno de 10 minutos, sem a exigência
de conhecimento técnico ou ferramentas diferenciadas. Por outro lado, há impressoras que
chegam a levar mais de 30 minutos para a desmontagem em função da necessidade de
equipamentos diferenciados para a desmontagem ou ainda por dificuldade de retiradas
de peças e partes sem o rompimento de estruturas ou quebra.
Em síntese, o capítulo busca consolidar conhecimentos relativos tanto à assistência
técnica e manutenção, visando a possibilidade de reaproveitamento de peças e partes, bem
como garantir a eficiência no processo de manufatura reversa de equipamentos eletroele-
trônicos pós-consumo.

Referências bibliográficas
CAMARA, R.P.B. A influência do arranjo físico no impacto ambiental do processo produtivo de um curtume,
considerando os princípios de ecoeficiência - um estudo de caso. Tese de Doutorado em Engenharia Mecânica.
São Paulo: Universidade de São Paulo. EESC, 2008.
SEBRAE. Reciclagem do lixo eletrônico. Ideias e negócios sustentáveis. 2012. Disponível em: http://www.
biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/65F89E2B5FDB0DB683257A33005BB3F6/$File/NT00047742.pdf.
Acesso em janeiro de 2013.
Capítulo 11
Desafios na gestão
de REEE: panorama
atual e perspectivas
futuras
Carlos Silva, Jorge Alberto Tenório, Lúcia Helena Xavier

RESUMO

Em um mundo em crescimento e constante urbanização, a gestão de resíduos passa


a desempenhar papel de destaque no encaminhamento de ações direcionadas à preser-
vação de recursos e à plena sustentabilidade. Nesse cenário, os REEE destacam-se no
cenário da gestão de resíduos, visto que contêm em sua composição diversas substâncias
cujo aproveitamento é essencial para o futuro da humanidade. A gestão de REEE no
Brasil já vem acontecendo, de modo bastante informal e disperso, no entanto, a in-
formalidade com que o tema é tratado resulta em impactos à saúde humana e ambiental.
Por outro lado, a dispersão das iniciativas não permite um desenvolvimento de ações
em escala. Um quesito relevante no país é a localização dos centros de processamento
de resíduos e a localização pulverizada das áreas de descarte. Grandes rotas precisam
ser percorridas para a destinação ambientalmente correta, o que inviabiliza o processo
econômica e ambientalmente. Neste capítulo, são discutidos os desafios da gestão de
REEE no Brasil.

175
176  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

11.1 Introdução

A questão da sustentabilidade ganha destaque frente à perspectiva da humanidade


passar dos pouco mais de 7 bilhões de habitantes no planeta para cerca de 9,5 bilhões
de habitantes em 2050, dos quais 2/3 viverão em cidades. O crescimento populacional
previsto, com intensificação do processo de urbanização, mantido o atual padrão de
produção e consumo, indicam também um crescimento na quantidade de materiais
descartados.
Essas perspectivas levam à conclusão de que o setor de resíduos assumirá um papel
de destaque ainda maior junto à sociedade do futuro, pois terá condições de recuperar e
dar o encaminhamento adequado para uma série de materiais e substâncias que poderão
ser aproveitados e reaproveitados. Para tanto, deve-se atentar para os preceitos legais e
normativos, bem como à qualificação de pessoal e provisão de infraestrutura.
Como resposta a esse processo crescente e desordenado de geração de resíduos, vários
países têm debatido e aprovado Regulações, Diretrizes e Legislações para disciplinar o setor
de resíduos e encaminhar ações mais adequadas para a sua gestão.
Com o Brasil não foi diferente. Depois de cerca de 20 anos de discussões no Congresso
Nacional, em agosto de 2010 foi sancionada a Lei n° 12.305/2010, que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS –, que posteriormente foi regulamentada pelo Decreto
Federal n° 7.404/2010, em dezembro do mesmo ano.
Retomando a definição de resíduo sólido, presente na PNRS, temos:
“Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas
em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento
na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções
técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”
(PNRS, 2010)
Essa definição apresenta basicamente os desafios da inclusão de emissões, efluentes
e resíduos sólidos, bem como a garantia da viabilidade técnica e econômica para uma
destinação ou disposição final ambientalmente adequada. Diferentemente da norma NBR
ABNT 10.004:2004 que propõe uma definição estritamente relativa às categorias de resíduos
sólidos e suas características, a PNRS amplia o escopo e vincula a eficiência do processo
às metas. Um primeiro desafio configura-se, portanto, com a ampliação do escopo origi-
nalmente proposto para o gerenciamento de resíduos sólidos.
A lei introduziu ainda o conceito de rejeito, entendendo como tal uma categoria de
resíduos sólidos que não apresentam outra possibilidade além da disposição final ambien-
talmente adequada, não obstante após analisadas as alternativas de tratamento e recuperação
por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras  177

Nesse sentido, o país passou a contar com duas classes de resíduos, os “resíduos sólidos”
propriamente ditos, que podem ser objeto de reciclagem, recuperação e tratamento, e os
rejeitos, que ao serem descartados não apresentaram nenhuma das opções de destinação
anteriormente citadas, ou tiveram tais possibilidades esgotadas, restando-lhes apenas a
disposição final ambientalmente adequada.
Uma das formas idealizadas pelo legislador para viabilizar e incrementar a reci-
clagem, a recuperação e o tratamento entendidos como prioritários foi a Logística
Reversa, instrumento pelo qual deverão ser implementadas ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
para que os mesmos sejam encaminhados para uma destinação final ambientalmente
adequada.
O estabelecimento da Logística Reversa está baseado no conceito de responsabilidade
compartilhada adotado de maneira inovadora pela PNRS. Esse conceito contempla objetivos
direcionados à redução da geração de resíduos e do desperdício de materiais, buscando
o maior aproveitamento possível dos resíduos, produtos ou materiais, com vistas à sua
inserção na mesma cadeia produtiva por meio da articulação dos agentes envolvidos ao
longo do processo.
Conforme mencionado por Silva e Soler (2012):
“A responsabilidade compartilhada prevista na PNRS diferencia-se do instituto da
responsabilidade do produtor prevista em instrumentos legais de resíduos sólidos
existentes em outros países, notadamente na Diretiva da União Europeia, principal-
mente no tocante à definição clara das responsabilidades de cada parte, mediante
a expressa atribuição da responsabilidade financeira pelo sistema de retorno dos
resíduos aos produtores dos produtos que os originaram. Nesse contexto, a política
de responsabilização do produtor é caracterizada pela transferência – física e/ou
econômica, total ou parcial – da responsabilidade para com os resíduos, afastando-­
os da égide das autoridades locais (municípios) e levando-os para a esfera dos
seus produtores que, por outro lado, passam a contar com incentivos diversos para
desenvolver produtos que levem cada vez mais em consideração os preceitos de
design sustentável”.
Para complementar a Logística Reversa e estimular a efetiva adoção de estratégias
e ações direcionadas a essa sistemática, a PNRS também contemplou o princípio da
hierarquia na gestão de resíduos, pelo qual é estabelecida uma ordem de prioridade de
ações, que deve ser aplicada na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, iniciando-se
com a não geração e passando ordenadamente pelas ações seguintes, a saber: redução,
reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos. Esse conceito de hierarquização não é recente, tendo sido proposto
inicialmente pelas diretivas europeias, e tem sido amplamente aceito tanto na academia
quanto no âmbito empresarial.
178  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

11.2  Aspectos da regulamentação

Dentre os vários tipos e classes de resíduos sólidos abrangidos pela Lei n° 12.305/2010,
alguns foram relacionados diretamente para serem objeto de sistemas de logística reversa,
que deverão ser implementados por fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores.
São eles:
j Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem
após o uso constitua resíduo perigoso;
j Pilhas e baterias;

j Pneus;

j Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

j Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

j Produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Analisando a listagem estabelecida pela lei, verificamos que alguns tipos de produtos
já têm sido objeto de sistemas especiais de gerenciamento, tais como: os agrotóxicos, os
pneus, as pilhas e os lubrificantes com suas embalagens, que já possuíam resoluções es-
pecíficas do CONAMA. As lâmpadas e os produtos eletroeletrônicos, que atualmente estão
presentes de maneira bastante disseminada na sociedade e alguns sistemas voluntários por
parte de poucos fabricantes. Vale ressaltar ainda que, nas diretivas europeias tanto as pilhas
e baterias quanto as lâmpadas estão incluídas no grupo dos produtos eletroeletrônicos, o
que não acontece na regulamentação brasileira.
A Lei, no entanto, não trouxe uma definição de resíduos eletroeletrônicos, gerando a
necessidade de se buscar alguma definição já existente e amplamente aceita, para se es-
tabelecer o rol de produtos para os quais há a obrigatoriedade de inclusão em um sistema
de logística reversa.
Uma definição bastante simples e objetiva, já de muito utilizada por vários países,
segundo proposta da Diretiva WEEE de 2012, dispõe que são considerados equipamentos
eletroeletrônicos todos os produtos que utilizam energia elétrica ou acumuladores de energia
como fonte de alimentação (Diretiva 2012/19/EU). A definição estabelece também que tais
produtos, ao se tornarem obsoletos ou serem descartados pelo proprietário, são considerados
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, conhecidos sob a sigla REEE.
Diante de referida definição não é difícil relacionar os equipamentos que estão incluídos
nesse grupo e que, de acordo com os padrões atuais de comportamento e consumo, já fazem
parte do dia a dia de praticamente toda a população mundial. A esse respeito, a Figura 11.1
apresenta os dados de composição de REEE da Europa (SCHULUEP, 2009).
Tendo em vista a composição desses resíduos, a legislação europeia baseada na Diretiva
WEEE, determina o seu gerenciamento, inclusive com o estabelecimento de metas, de forma
a permitir que os seguintes resultados sejam alcançados:
j Não encaminhamento desses resíduos para disposição no solo;
j Remoção dos componentes e substâncias perigosas;
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras  179

Figura 11.1  Composição dos resíduos eletroeletrônicos na Europa. Fonte: Elaboração própria.

j Melhoria dos padrões de operação nas unidades de tratamento;


j Obtenção de maiores índices de reciclagem;
j Evitar a exportação ilegal dos REEE.

11.3  Panorama da gestão dos REEE

O aumento exponencial do consumo de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (EEE),


globalmente associado ao conforto e à segurança do mundo moderno, está intrinsecamente
conectado à problemática do rápido descarte desses produtos na sua etapa pós-consumo,
que resulta em possíveis impactos ao meio ambiente e à saúde pública.
A geração de resíduos perigosos na cadeia de equipamentos eletroeletrônicos, junta-
mente com o potencial tóxico dos materiais, é resultante da redução do ciclo de vida útil e
aumento de consumo desses produtos.
A geração de resíduos de EEE no mundo cresce a uma taxa de cerca de 40 milhões de
toneladas por ano (SCHLUEP, 2009). Com base nessa informação, percebe-se o impacto
da obsolescência na gestão dos canais reversos.
Alguns estímulos ao consumo, como a obsolescência induzida (que consiste na subs-
tituição de produtos ainda em condições de uso por modelos com melhor performance ou
design mais atraente) e a obsolescência programada (redução do ciclo de vida do produto
180  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

com função da aplicação de estruturas ou materiais menos resistentes), têm gerado um tipo
específico de resíduo sólido urbano, os denominados resíduos tecnológicos ou resíduos
de equipamentos eletroeletrônicos (REEE). No entanto, há que se considerar que, mesmo
havendo o risco de se antecipar o fim da vida útil de alguns produtos e materiais, a subs-
tituição desses por outros mais eficientes em termos de consumo energético e emprego
dos materiais deve ser considerado como critério para uma gestão eficiente dos resíduos.
De acordo com os dados divulgados ainda por Schluep (2009), em 2005 a União
Europeia registrava 44 milhões de eletrodomésticos, 48 milhões de PCs e Notebooks e
contabilizou 9,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico. O índice de REEE per capita na
Europa varia bastante de país para país, no entanto a média é bastante elevada, sendo de
3,6 kg por habitante/ano na Holanda e de 5,1 kg por habitante/ano na Suíça.
Nos termos do estudo, em 2006, havia 34 milhões de TVs e Monitores, 24 milhões
de PCs, 139 milhões de aparelhos de comunicação (celular, pager, modem etc.) nos Es-
tados Unidos, onde os REEE são gerenciados por meio do próprio serviço municipal de
gestão de resíduos. Apesar de muitos estados buscarem a implantação de programas
de gestão de REEE, poucos possuem legislação específica. Maine foi o primeiro estado
americano a regulamentar a responsabilidade do produtor a respeito do REEE doméstico,
estabelecendo o custo compartilhado entre produtores, governos municipais e consumidores
(WAGNER, 2009).
Em um estudo desenvolvido pela EPA (2010), estima-se que dos equipamentos ele-
troeletrônicos comercializados no país, entre os anos de 1980 e 2007, considerando TVs,
computadores e periféricos, cerca de 230 milhões de unidades foram estocadas nas resi-
dências e não descartadas. O mesmo estudo evidencia que 2,25 milhões de toneladas de
REEE foram produzidos nos Estados Unidos no ano de 2007, dos quais apenas 18% foram
destinados à reciclagem e 82% dispostos em aterros. De acordo com o NCER (National
Center for Electronics Recycling) sugere-se que em 2008 o percentual de reciclagem de
REEE tenha aumentado em 7%.
Além de atingir volumes preocupantes, como visto, os REEE demandam um processo
de gerenciamento e destinação diferenciado, para que não causem danos ao meio ambiente
e à saúde da população. O cenário, porém, é desafiador, já que também segundo a ONU,
atualmente há 40 milhões de toneladas de REEE acumulados no mundo, dos quais 80%
acabam em países em desenvolvimento e são responsáveis por 70% dos metais encontrados
nos aterros e lixões, contaminando os solos e os recursos hídricos.
O Estudo da ONU também identificou alguns dados para o Brasil, onde existiam, em
2005, 480.000 toneladas de PCs; 8.600 toneladas de celulares; 1,1 milhão de toneladas de
TVs e 1,15 milhão de toneladas de refrigeradores.
De acordo com o mesmo relatório, o Brasil está entre os três países que mais descartam
aparelhos de TV, com 700 gramas por pessoa ao ano, atrás somente do México e da China.
O levantamento também aponta que o país é responsável pelo descarte anual de 96,8
mil toneladas de computadores, 115 mil toneladas de geladeiras, 17,2 mil toneladas de
impressoras e 2,2 mil toneladas de celulares.
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras  181

Conforme apresentado por Wenzhi et al.(2006), verificou-se o aumento exponencial do


número de equipamento eletroeletrônicos vendidos na China ao longo das últimas décadas
(Figura 11.2). O destaque da venda de TVs, característico de países em desenvolvimento,
se deve principalmente ao custo relativamente baixo de venda e manutenção desse ele-
trodoméstico em relação aos demais equipamentos.

Figura 11.2  Unidades de equipamentos eletroeletrônicos vendidos na China. Fonte: Elaborado


a partir de WENZHI et al., 2006.

Li et al.(2007) afirmam que, de acordo com estatísticas do governo, em 2010, na China,


o número estimado de equipamentos obsoletos descartados atingiria a casa dos milhões de
unidades. Segundo esses autores, seriam descartados nesse ano 70 milhões de computadores
pessoais e 58 milhões de TVs. Além dos valores observados, o percentual de resíduos des-
cartados aumentará entre 13 e 15% por ano (KETAI et al, 2008). Por outro lado, Jinglei et al
(2009), salientam que 98%, das 700 mil pessoas empregadas na indústria de REEE, pertencem
ao setor de reciclagem informal, principalmente, por pequenas empresas do segmento.
Tendência similar de informalidade pode ser observada na Índia, com um adicional
negativo ocasionado pelo grande volume de REEE descarregado ilegalmente no país
(SEPÚLVEDA et al, 2010). De acordo com Manomaivibool (2009), estima-se que a Índia
receba anualmente cerca de 50 mil toneladas de resíduos dos países desenvolvidos, que
são caracterizados como material reutilizável, rotulado como mistura de aparas metálicas
(mixed metal scrap) ou mistura de aparas de cabos (mixed cable scrap).
Na Coreia do Sul, de acordo com Kim et al (2009), o governo estipula, desde o ano
de 2003, percentuais para a recolha e reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos
pós-consumo em torno de 15% para refrigeradores e TV, e cerca de 24% para máquinas
de lavar. Até o ano de 2009 existiam quatro centros de reciclagem na Coreia do Sul, com
182  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

áreas de abrangência pré-definidas para fins de otimização das rotas. Conforme Yoon e Jang
(2006), no primeiro ano de implantação do programa 70% dos REEE foram coletados.
Observa-se no país que cerca de 40% desses resíduos são coletados pelo próprio governo,
enquanto cerca de 50% são coletados por produtores e revendedores.
O Ministério do Meio Ambiente da República Sul Coreana informou que em 2003, 12%
dos resíduos eletroeletrônicos coletados no país foram reutilizados, enquanto 69% foram
reciclados e 19% encaminhados para disposição final (aterros e incineradores).
De acordo com Kahhat et al. (2008), a taxa destinada à reciclagem paga pelos produtores
na Coreia do Sul é estimada entre US$4 e US$7. No entanto, esse custo é repassado aos
consumidores, que podem optar por:
1. não custear a taxa de coleta adquirindo um novo produto e repassando a responsabilidade
pela coleta do REEE ao revendedor no ato da entrega do novo produto, ou
2. pagar a taxa de recolha do REEE para que a coleta seja efetuada pelo sistema público
de coleta de resíduos. No caso dos computadores, há empresas que efetuam coletas sem
custo.
O Japão é modelo em gestão de resíduos, sendo referência mundial por conta dos avanços
alcançados em termos de conscientização social e sistemas para recolhimento, tratamento,
recuperação e destinação de resíduos sólidos.
A regulamentação de REEE no Japão, elaborada em 1998 e em vigor desde 2001, es-
tipula que a seleção dos materiais deve ser realizada a partir da destinação desses resíduos
nos aterros sanitários municipais. O país ainda atribui a responsabilidade a produtores
e importadores pela gestão de resíduos de quatro categorias de equipamentos eletroele-
trônicos: ar-condicionado, geladeiras, máquinas de lavar roupa e TV.
Parte dos custos de reciclagem e transporte são repassados ao consumidor que paga, em
média, entre US$30 e US$60 por produto. O mercado varejista é obrigado, de acordo com
a legislação japonesa, a recolher os equipamentos pós-consumo. Por iniciativa do governo,
em 2001 iniciou-se um programa de recolhimento de computadores pessoais pós-consumo.
O programa hoje é realizado a partir de um grupo de empresas do setor que coleta – sem
custos – equipamentos produzidos a partir de outubro de 2003. No entanto, cabe ressaltar
que, sob os equipamentos órfãos (cuja origem não é possível identificar ou cujo fabricante
não se encontra mais atuando no mercado) incide uma taxa de coleta que pode chegar a
US$40 (ONGONDO et al, 2011).
Os riscos associados à disposição inadequada dos REEE abrangem a contaminação
do meio ambiente e resultam em sérios danos à saúde, por conta dos metais e de outros
elementos químicos presentes nesses equipamentos. Em geral, nas partes de um EEE
pode-se encontrar:
j Monitor: Chumbo, Cádmio, Mercúrio e outros metais.
j Placas de circuito impresso: Cromo, Níquel, Prata, Ouro, Berílio, Chumbo.
j Pilhas e baterias: Lítio, Cádmio, Manganês, Mercúrio, Chumbo.
j Em alguns plásticos: retardante de chama.
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras  183

11.4  Sistema de logística reversa de REEE

Um Sistema de Logística Reversa (SLR) de REEE deve disponibilizar canais para


devolução desse tipo de resíduo pela população, em consonância com a legislação vigente,
com os princípios da prevenção e das boas práticas ambientais e em atendimento aos ditames
da responsabilidade socioambiental empresarial.
Os canais para devolução, estabelecidos a partir de pontos de coleta ou entrega volun-
tária, devem ser estruturados de maneira a facilitar a adesão dos cidadãos ao programa
e, levando-se em consideração o comportamento da sociedade do local onde serão im-
plantados, podem ser estruturados de maneira ativa ou passiva.
Exemplos de canais ativos em funcionamento no mundo são:
j usuários devolvem seus REEE em uma unidade municipal de entrega de resíduos;
j usuários devolvem seus REEE em um ponto de coleta determinado;
j usuários devolvem seus REEE em um estabelecimento comercial.

Já os canais passivos podem ser:


j coleta porta a porta;
j serviço de retirada em domicílio (gratuito ou mediante pagamento);

j envio remoto por terceiros sob responsabilidade dos produtores (serviços de courier).

Como ponto de partida, um programa nesse sentido deve contemplar os seguintes


fundamentos:
j Diminuição da quantidade de resíduos encaminhados para aterros;
j Estímulo ao uso eficiente dos recursos naturais;
j Redução das obrigações físicas e financeiras dos municípios para com a gestão de tais

resíduos;
j Desenvolvimento de processos de reutilização, reciclagem e recuperação de produtos

e materiais;
j Promoção de processos de Produção mais Limpa (P + L);

j Incremento à conscientização da sociedade;

j Viabilização de ações de responsabilidade socioambiental;

j Promoção de inclusão social com dignidade, segurança e profissionalismo;

j Maximização de oportunidades de negócios e os resultados;

j Melhoria das condições ambientais por meio de uma gestão mais eficiente de resíduos.

Com o aumento da quantidade e diversidade de produtos pós-consumo, torna-se neces-


sária a implantação de sistemas eficientes de coleta e separação que, por sua vez, demandam
ações logísticas coordenadas para o transporte e acondicionamento de materiais e produtos
que serão destinados. Em linhas gerais, a Figura 11.3 apresenta um modelo conceitual a
respeito da alocação de responsabilidades na gestão de REEE. Propõe-se que os estímulos
que incentivam o consumismo podem configurar como ponto de partida para a amplificação
do consumo e consequente geração de resíduos.
184  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

A partir do modelo genérico proposto na Figura 11.3, é possível evidenciar três pontos


críticos da gestão da cadeia reversa de equipamentos eletroeletrônicos. O primeiro é a etapa
de coleta que deve ser fomentada tanto por iniciativas sociais, como por incentivos políticos
e fiscais para garantia de um volume mínimo de material a ser processado, a fim de permitir
a viabilidade dos custos da reciclagem.

Figura 11.3  Modelo de responsabilidades no Sistema de Logística Reversa (SLR). Fonte:


Elaboração própria.

O segundo ponto crítico é a própria etapa da reciclagem, que poderá alcançar um padrão
de excelência ambiental na medida em que mecanismos regulamentadores possibilitem a pa-
dronização e fiscalização das técnicas de reciclagem. O principal objetivo dessa abordagem
é buscar minimizar os impactos negativos à saúde humana e ambiental, verificados a partir
do manuseio de resíduos perigosos ao final da vida útil de equipamentos eletroeletrônicos.
Salientando que o manuseio ao qual se faz referência é relacionado à desmontagem com
exposição de partes, peças, materiais e substâncias potencialmente danosos.
Outro tópico de grande relevância é a regulamentação por parte do governo a respeito
da responsabilidade sobre a gestão de produtos órfãos. Nesse sentido, alguns países
desenvolvidos têm sido apontados como responsáveis pelo tráfico de REEE para
países em desenvolvimento, ferindo a Convenção da Basileia. Grande parte dos países em
desenvolvimento não estaria apta tecnológica e socialmente para o gerenciamento eficaz
e efetivo dessa categoria de resíduos perigosos. Nesse sentido, a elaboração de normas e
procedimentos para a implementação de sistemas de logística reversa, bem como o es-
tabelecimento e a adequação de uma infraestrutura mínima, deve ser provida pelo Estado
ou ainda pela iniciativa privada, com a participação dos representantes da sociedade e das
demais instituições representativas.
A diretriz WEEE tem demonstrado significativa influência sobre as políticas de retorno
de produtos que atingem o final da vida útil ou o final do uso. Nela são estabelecidos
limites mínimos para a coleta de equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo (70%-
80% por peso) e para a reciclagem (50%-80% por peso), o que é fundamental para a
efetividade na aplicação da norma. Cabe ressaltar ainda que, por princípio estabelecido na
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras  185

diretriz, os países membros da Comunidade Europeia são responsáveis por garantir que os
tratamentos adotados sejam realizados por entidades oficialmente aprovadas (GRUNOW
e GOBBI, 2009). Um importante relatório a respeito do panorama da gestão de REEE no
Brasil, com a importante colaboração de Vanda Scartezini, especialista em gestão de resí-
duos eletroeletrônicos, foi publicado pelo Banco Mundial em 2012 (THE WORLD BANK,
2012). De forma objetiva e didática, esse relatório ressalta a importância da consolidação
da PNRS, bem como discute os aspectos-chave, tais como a necessidade da definição de
responsabilidades e incentivos econômicos. Ainda sugere movimentações relacionadas à
gestão de ações compartilhadas de iniciativas de pequena escala, em forma de rede.

11.5  Consolidação do acordo setorial para a gestão de REEE

Os acordos setoriais, juntamente com regulamentos expedidos pelo Poder Público (de-
cretos, leis etc) e termos de compromisso, constituem instrumentos para a implementação
dos Sistemas de Logística Reversa (SLR).
Foram lançados editais de chamamento para o estabelecimento dos SLRs, em atendi-
mento à Lei n° 12.305/2010 e ao Decreto n° 7.404/2010. O edital referente aos resíduos
eletroeletrônicos foi lançado em 13 de fevereiro de 2013 e com prazo de encaminhamento
das propostas ao Comitê Orientador em até 120 dias a partir dessa data.
Dessa forma, o poder público e o setor privado encontram-se em estágio de planejamento
da estratégia para a consolidação de um acordo para a implementação do SLR. Seria
demasiadamente prematuro afirmar quais as definições que os grupos tomariam como base.
No entanto, com base no próprio texto do edital já é possível a construção de cenários a
partir dos quais as ações devem se desenvolver.
O edital de chamamento estipula que deverá ser recolhido e destinado 17% de todos os
equipamentos eletroeletrônicos colocados no mercado no ano de 2012. Essa meta deverá
ser atingida dentro do período de 5 anos a partir da instalação do SLR, ou seja, em 2017.
Frente às metas europeias de recolha e destinação, esse percentual ainda é bastante
tímido, mas tomando-se em conta as dimensões continentais do Brasil, a meta torna-se de
fato um desafio de grandes proporções. Talvez por esse motivo, alguns estados da região
Nordeste não tenham entrado como meta de recolhimento no edital de chamamento do
acordo setorial.
Em linhas gerais, verifica-se uma mobilização tanto do setor público quanto da iniciativa
privada, com o propósito de articular soluções para a efetiva gestão dos resíduos eletroele-
trônicos. Um exemplo é a formação da Comissão de Estudo CE 03:111 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a respeito da normalização da Manufatura Reversa
de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, publicada como NBR ABNT 16.156:2013.
A referida norma buscou definir ações conjuntas para a consolidação de boas práticas na
gestão dos resíduos eletroeletrônicos. Pode-se perceber a elaboração dessa norma como
suporte as ações previstas por meio do acordo setorial.
186  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

A atuação de catadores, por meio de associações e cooperativas, é endossada tanto


no Decreto que regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos quanto no edital
de chamamento do acordo setorial. Em ambos os documentos, no entanto, é ressaltada a
necessidade da viabilidade econômica e capacitação técnica por parte dos catadores para a
implantação do SLR. A partir desse entendimento, percebe-se em certa medida a limitação
da atuação dos catadores que hoje não se encontram aptos técnica e estruturalmente para
gerir resíduos considerados perigosos. Por outro lado, em função do alto valor agregado de
alguns materiais provenientes dos resíduos eletroeletrônicos, percebe-se um movimento no
sentido de se buscar qualificação dos catadores para atuarem profissionalmente na gestão
dessa categoria de resíduos.

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Acesso em: setembro de 2013.
Capítulo 12
Estudo de Caso
CEDIR
Tereza Cristina M.B. Carvalho, Neuci Bicov Frade, Lúcia Helena Xavier

RESUMO

O CEDIR (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática) da Universidade


de São Paulo foi criado em dezembro de 2009 com o objetivo inicial de dar tratamento aos
resíduos de informática e telecomunicações gerados pela própria universidade em virtude
do mau funcionamento e da obsolescência de seu parque tecnológico. Em abril de 2010, o
CEDIR abriu suas portas para o atendimento, também, de pessoas físicas. E de lá para cá,
vem ampliando suas atividades contemplando, hoje, a remanufatura de microcomputadores
para atender a necessidade de projetos sociais e escolas públicas sem recursos de informática
e a provisão de peças para o desenvolvimento de pesquisa em diversas universidades.

12.1 Introdução

Atualmente, as organizações privadas e públicas, bem como os indivíduos, têm adquirido


um número crescente de bens de informática e de telecomunicações que, uma vez expirado
seu tempo de vida, precisam ser substituídos. Essa substituição acontece por obsolescência,
187
188  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

por mau funcionamento ou mesmo pelo impulso do consumidor de possuir algo mais
moderno e atual, sem que haja necessidade efetiva de sua substituição.
No caso da USP, segundo seu Anuário Estatístico, em 2011 houve um crescimento de
29,94% do número de microcomputadores e 74,72% do número de equipamentos de rede em
relação a 2010. Nos anos anteriores, o crescimento médio de equipamentos de informática
ficava na faixa de 8 a 10% (Vide Figura 12.1).
Diante da preocupação a respeito de alternativas para o descarte ambientalmente correto
dos resíduos eletroeletrônicos, foi criado o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de

Figura 12.1  Equipamentos de Microinformática da USP 2007-2011. (a) Bens de informática


da USP de 2007 – 2011. (b) Índice de crescimento de bens de informática dos anos de 2008-
2011. Fonte: USP, 2011.
Estudo de Caso CEDIR  189

Informática (CEDIR/USP) em Dezembro de 2009. O desafio consistia em buscar formas


legais e ambientalmente corretas para a destinação dos equipamentos fora de uso do parque
tecnológico da USP.
Desde a sua criação, as atividades do CEDIR foram expandidas e hoje sua missão é:
“Disseminar e praticar ações de sustentabilidade referente ao tratamento de lixo
eletrônico, no que concerne ao reúso e descarte correto, visando à proteção am-
biental, à promoção de inclusão social e ao ganho econômico advindo do retorno
de resíduos à cadeia produtiva.”

12.2 Histórico

Em agosto de 2007 foi criada a Comissão de Sustentabilidade, que teve como princi-
pal objetivo levantar os problemas ambientais do Centro de Computação Eletrônica da
Universidade de São Paulo (CCE-USP) e sugerir programas de sustentabilidade a serem
implantados neste centro.
Como resultado, essa Comissão de Sustentabilidade realizou pesquisas e levantamentos
de dados e propos ações de sustentabilidade a serem incorporadas no dia a dia dos em-
pregados do CCE-USP, envolvendo desde o uso racional de água e energia elétrica até o
tratamento sustentável de lixo eletrônico.
Dentre as diversas ações realizadas pela Comissão de Sustentabilidade do CCE-USP,
as duas mais importantes e de impacto mais relevante foram:
j Criação do Selo Verde da USP
j Criação do CEDIR (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática).

12.3  Selo Verde da USP

A partir do trabalho da Comissão de Sustentabilidade do CCE, com apoio da DVEMIC


(Divisão Técnica de Equipamentos de Microinformática) e da CTI (Coordenadoria de
Tecnologia da Informação), a primeira grande compra de microcomputadores verdes
tornou-se possível. Desse trabalho resultou um edital recomendando às empresas fabricantes
o fornecimento de computadores ditos “verdes” que atendessem aos seguintes requisitos:
economia de energia elétrica, ausência de elementos nocivos à saúde humana e ao meio
ambiente como, por exemplo, chumbo, cádmio e materiais tóxicos, em conformidade com
a diretriz europeia ROHS (Restriction of Hazardous Substances) (ROHS, 2009) (EU, 2003)
e adesão aos padrões internacionais de gestão de qualidade ISO 9001 (ABNT, 2008)
(ISO, 2008), e gestão ambiental ISO 14.001 (ABNT, 2005) (ISO, 2004) (SEIFFERT, 2011).
Esses requisitos foram especificados como opcionais e desejáveis, pois sua obrigatoriedade
poderia causar o fracasso do pregão a ser realizado, visto não existir no mercado nacional
190  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

ao menos três fabricantes que, com certeza, pudessem atender a tais requisitos naquela
época, setembro de 2008 (BRASIL, 1993).
No intuito de motivar e incentivar a empresa vencedora desse pregão a fornecer sis-
temas “verdes” foi criado o conceito de “Selo Verde”, que seria concedido caso seu produto
atendesse aos requisitos de computadores “verdes”. A partir da sua criação, o Selo Verde é
concedido a todos os equipamentos fabricados dentro dos padrões de TI verde, como uma
forma da USP reconhecer as empresas comprometidas com a sustentabilidade ambiental
em seus produtos (CARVALHO, 2010).
A aplicação dessa política na USP para aquisição de bens de informática e telecomuni-
cação verdes permite reduzir a geração de lixo eletrônico com componentes tóxicos e não
recicláveis, constituindo-se, dessa forma, uma cadeia mais sustentável. Além disso, esses
equipamentos, quando forem enviados para descarte, serão facilmente identificados pelo
selo, recebendo tratamento facilitado ao serem destinados à reciclagem.
Em 17 de dezembro de 2008 realizou-se a cerimônia de lançamento do Selo Verde
da USP, comemorando-se o primeiro fornecimento de microcomputadores verdes para a
USP. Foi um momento histórico na Universidade de São Paulo, que passou a incluir a es-
pecificação de sistemas verdes em seus editais e a dar suporte a diversos órgãos públicos
que passaram a ter interesse de publicar editais para aquisição de bens de informática
semelhantes ao da USP.
Na Figura 12.2, são apresentadas fotos de diferentes momentos do lançamento do “Selo
Verde” da USP e detalhes do próprio selo. O selo foi concebido pela própria Comissão de
Sustentabilidade com anuência da Reitora. Possui uma assinatura eletrônica, usada para
evitar a falsificação (FREITAS, 2009).1

12.4  CEDIR (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos


de Informática)

A Criação do CEDIR foi resultado de um processo de pesquisas e investigações sobre


o mercado de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos (CARVALHO, 2010 e 2012).

12.4.1  Projeto de criação da cadeia de transformação de resíduos


de informática

Com o objetivo de atender à demanda de tratamento sustentável do lixo eletrônico,2


em março de 2008 teve início o projeto de Criação de Cadeia de Transformação de Lixo

1
O sistema de assinatura eletrônica da USP foi desenvolvido pelo Laboratório de Arquitetura e Redes de
Computadores (LARC) do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Escola
Politécnica da USP.
2
Lixo eletrônico é tudo o que é enviado para o lixo proveniente de peças e equipamentos eletroeletrônicos, sendo
considerado inservível.
Estudo de Caso CEDIR  191

Figura 12.2  Outdoor de lançamento do Selo Verde no campus Armando de Sales Oliveira da
USP e fotos do primeiro microcomputador verde, em dezembro de 2008. Fonte: CCE, 2008.

Eletrônico da Universidade de São Paulo, em parceria com o programa do MIT (Mas-


sachusetts Institute of Technology) S-Lab (Sustainability Laboratory).
A partir do levantamento realizado sobre as melhores práticas empregadas em uni-
versidades estrangeiras, indústrias de eletrônicos, ONGs e instituições governamentais,
conhecendo-se as características da USP, criou-se um plano de ações de gestão de resíduos
eletroeletrônicos visando à criação de uma Cadeia de Transformação de Lixo Eletrônico.
Os principais objetivos deste plano foram:
j eliminar de forma sustentável o lixo eletrônico da universidade;
j iniciar e orientar uma mudança comportamental dos colaboradores, docentes e alunos
em relação à aquisição de sistemas verdes e o descarte sustentável de lixo eletrônico;
j receber e dar encaminhamento sustentável aos equipamentos e resíduos enviados pelas

unidades de ensino e administrativas da USP e pela comunidade externa. Este encami-


nhamento poderia ser na forma de reúso, descarte sustentável e reciclagem;
192  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

j criar um sistema em equilíbrio, entre a geração de lixo eletrônico e a destinação adequada


para o que for resíduo de informática.
j propor a criação da Cadeia de Transformação de Lixo Eletrônico que garanta o reapro-

veitamento ou a destinação do material coletado, especificando-se os recursos materiais,


humanos e de infraestrutura necessários para a sua implementação.

12.4.2  Primeira coleta de REEE (Resíduos de Equipamentos


Eletroeletrônicos)

Como resultado do plano de gestão de resíduos de informática, em junho de 2008, com


a participação dos colaboradores, foi executado um plano piloto no CCE para coleta de
resíduos eletrônicos, a “Operação Descarte Legal” (CARVALHO, 2010).
A Operação Descarte Legal, que ocorreu em 5 de Junho (Dia Mundial do Meio
Ambiente) de 2008 e arrecadou 5,2 toneladas de material eletroeletrônico somente de
colaboradores do próprio CCE (Centro de Computação Eletrônica) da USP. O material foi
inicialmente armazenado em um contêiner para viabilizar a inspeção por potenciais em-
presas de reciclagem. Foram contatadas diversas empresas de reciclagem com o objetivo de
vender o material para aquela que tivesse os credenciamentos necessários e comprobatórios
de destinar corretamente os resíduos e desse a melhor oferta pelo material coletado. Con-
tudo as empresas tiveram pouco interesse e argumentavam que o custo do frete era o que
poderiam pagar por aquele material. Tal situação deixou a Comissão de Sustentabilidade
bastante desapontada e levou-nos a investigar o mercado de reciclagem, para entender como
funcionava, como extrair valor do que tínhamos coletado e como garantir sua destinação
sustentável. Posteriormente, este material foi encaminhado e tratado no CEDIR (Centro
de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática).
A Figura 12.3 mostra o Informativo lançado para convidar os colaboradores do CCE-USP
a participarem da “Operação Descarte Legal”.
A Figura 12.4 mostra um gráfico que detalha os tipos de materiais coletados pela
“Operação Descarte Legal”. Como pode-se observar neste gráfico, a maior parte do peso
estava relacionada a placas de rede e CPU (Control Process Unit). Os resultados da pesagem
desse material foram importantes para estimar o tipo e a quantidade de resíduos eletroele-
trônicos que seriam coletados em outras escolas, faculdades, institutos ou órgãos centrais
da USP, assim como os recursos e infraestrutura necessários para implantação do CEDIR
que deveria tratar tais resíduos.

12.4.3 Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR)

A partir da Operação Descarte Legal foi possível verificar na prática que as empresas
de reciclagem não tinham interesse em computadores, impressoras e bens de informática
obsoletos sem nenhum pré-processamento. Na realidade, as empresas de reciclagem
são especializadas no tratamento de materiais específicos e caso recebam peças inteiras,
Estudo de Caso CEDIR  193

Figura 12.3  Cartaz de Convite à participação na “Operação Descarte Legal” e Comissão


de Sustentabilidade no dia da coleta. Fonte: Tereza Cristina Carvalho.

Figura 12.4  Quantidade de Equipamentos Eletroeletrônicos coletados na “Operação Descarte


Legal”. Fonte: Elaboração própria.

precisam desmonta-las e, depois, fazer a triagem do que interessa. O que não interessa pode
ter destinos diversos, que pode ser uma outra empresa de reciclagem, um aterro industrial
ou um lixão.
Diante desta realidade, decidiu-se por avaliar a possibilidade de criar o Centro de Des-
carte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR), que pudesse fazer o pré-processamento
194  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

dos resíduos coletados. Em novembro de 2008, o projeto deste Centro de Descarte e


Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR) foi submetido pelo CCE e selecionado por um
grupo de pesquisadores do MIT L-Lab para uma parceria com o objetivo de dar continuidade
às pesquisas, às visitas às empresas de reciclagem, aos estudos sobre legislação, às reuniões
com especialistas da área, tarefas já iniciadas pela Comissão de Sustentabilidade, além de
desenvolver o projeto do próprio centro.
Foram definidos, então, os principais objetivos do Centro de Descarte e Reúso de
Resíduos de Informática (CEDIR), como sendo:
j identificar o fluxo de vida dos equipamentos eletroeletrônicos;
j implantar o programa de coleta e descarte do lixo eletrônico;
j propor soluções para reaproveitamento e/ou reciclagem do lixo eletrônico;
j pesquisar projetos sociais que poderiam receber sistemas eletroeletrônicos para reúso.
j pesquisar empresas especializadas e capacitadas em reciclagem ambientalmente correta
do lixo eletrônico;
j elaborar método de homologação e certificação tanto dos projetos sociais como dessas

empresas de reciclagem;
j identificar parcerias críticas para o centro;

j ser referência na destinação final correta dos resíduos eletrônicos.

O modo de operação básico do CEDIR pode ser descrito seguindo as seguintes ati-
vidades:
j recepcionar os equipamentos eletrônicos obsoletos da USP que estejam despatrimonia-
dos e de pessoas físicas da sociedade em geral;
j efetuar triagem a partir da possibilidade de reutilização;

j consertar equipamentos eletroeletrônicos que possam ser reutilizados.

j separar e classificar os inservíveis conforme composição, ou seja, plásticos, metais,

placas eletrônicas, cabos etc;


j armazenar o material até o seu recolhimento por empresas recicladoras devidamente

credenciadas e certificadas.
A Figura 12.5 mostra o fluxo de operação do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos
de Informática. Foram definidas três etapas principais:
j Coleta e Triagem: Esta etapa é responsável pela coleta dos componentes e equipamen-
tos eletroeletrônicos da comunidade USP e, posteriormente, do público em geral. Esses
componentes e equipamentos são testados para verificar sua operacionalidade. Caso
ainda estejam funcionando, são testados verificando-se a possibilidade de introduzir
melhorias, como, por exemplo, o aumento da capacidade de memória tanto primária
quanto secundária de um microcomputador. Os equipamentos considerados operacionais
são, então, encaminhados para Projetos Sociais e ONGs credenciadas junto à USP.
Caso não haja possibilidade de reaproveitamento desses equipamentos, os mesmos são
encaminhados para o ciclo de Categorização.
Estudo de Caso CEDIR  195

Figura 12.5  Fluxograma de Operação do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de In-


formática (CEDIR). Fonte: CEDIR.

j Categorização: Nesta etapa é realizado o pré-processamento do lixo eletrônico coletado,


que inclui as atividades de: pesagem, desmontagem (por exemplo, de um microcom-
putador), separação de seus componentes (por exemplo, placas-mãe, placas de fonte de
alimentação, peças metálicas, peças plásticas), descaracterização desses componentes
(por exemplo, microperfuração de discos descartados para evitar a recuperação indevida
de suas informações), compactação e acondicionamento dos componentes para facilitar
seu transporte e, por último, pesagem por tipo de material.
j Reciclagem: Os componentes separados e descaracterizados no ciclo anterior são

encaminhados às indústrias de reciclagem credenciadas pela USP e adequadas para


seu tratamento. O credenciamento junto a USP inclui a apresentação de certificações
exigidas pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). Assim,
por exemplo, peças plásticas ou de metais ferrosos e não ferrosos serão enviadas para
indústrias de reciclagem diferentes, com processos próprios para tratar esses tipos de
materiais.
Vale observar que inicialmente o CEDIR foi concebido somente para desmontar com-
putadores e outros equipamentos de informática. Contudo, no dia a dia de suas operações,
começamos a receber muitos equipamentos bons que poderiam ser reusados mediante uma
simples reconfiguração ou a inserção de mais memória primária e/ou secundária (discos).
Diante dessa realidade, decidiu-se por incluir a operação de recuperação de equipamentos
no seu fluxo.
O Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR) foi inaugurado em
dezembro de 2009, ocupando um galpão com uma área aproximada de 500m2, localizado
196  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

no Bloco 27 no campus CUASO. Dispunha de acesso para carga e descarga de resíduos.


Essa área foi concebida para realizar triagem, reparo e destinação de, ao menos, 500
equipamentos por mês (o equivalente a 5 toneladas/mês).
O CEDIR começou a operar em Dezembro de 2009, recebendo equipamentos só da
comunidade da USP. Em abril de 2010, foi aberto para receber equipamentos, também, do
publico em geral, voltado para pessoas físicas. Para tanto, os interessados devem fazer um
agendamento junto ao Help Desk do CCE-USP, especificando o montante de equipamentos
eletroeletrônicos a serem entregues. Essa informação é usada para compor o termo de doação
que deve ser assinado pelo responsável pela entrega do material no CEDIR.
Hoje, o CEDIR-CCE recebe equipamentos eletroeletrônicos de todos os campi da
capital e de Piracicaba, Bauru, Lorena, Pirassununga, São Sebastião e Santos. Em São
Carlos, foi criado Recicl@tesc, em parceira com o CEDIR SP que recebe resíduos de
informática de São Carlos, Ribeirão Preto e Bauru. Em Piracicaba, o CEDIR-CIAGRI
remonta equipamentos para projetos sociais e encaminha os resíduos restantes para o
CEDIR SP. A Tabela 12.1 resume os principais eventos relacionados à criação e operação
do CEDIR.

12.4.4 Áreas de atuação do CEDIR

A Figura 12.6 resume as principais áreas de atuação do CEDIR, agrupadas segundo


os quatro pilares de sustentabilidade, a saber: Ambiental, Social, Econômico e Cultural.
Todos os equipamentos recebidos no CEDIR da comunidade USP devem ser previa-
mente despatrimoniados, seguindo orientação da Lei no 8.666 de 1993 (BRASIL, 1993) a
respeito do processo licitatório na administração pública.
1. Aspectos ambientais
Conforme mencionado anteriormente, o CEDIR foi concebido para realizar o tratamento
de resíduos eletrônicos, evitando que fossem descartados de modo inadequado e provocando
a contaminação do meio ambiente em virtude do grande volume de substâncias tóxicas
presentes nos seus componentes. No caso do monitor de CRT, por exemplo, pode-se ter
3kg a 4kg de chumbo.
Esse tratamento previa a desmontagem dos equipamentos, com a separação dos seus
diversos componentes segundo o material empregado, por exemplo, plástico, metal ferroso
e não ferroso, placas leves e pesadas, entre outros. Cada tipo de material é estocado até
que se atinja o volume requerido pelas empresas de reciclagem, que varia de material para
material. Por exemplo, no caso de plástico, o volume mínimo requerido pelas empresas é
de 300kg, enquanto no caso de placas o valor sobre para cinco toneladas.
Em virtude da PNRS (Politica Nacional de Resíduos Sólidos), algumas empresas já estão
se responsabilizando pela logística reversa dos equipamentos inservíveis de sua fabricação.
Tais empresas retiram os seus equipamentos no CEDIR e realizam o seu descarte correto.
Esse é o caso de alguns fabricantes de monitores tipo CRT.
Estudo de Caso CEDIR  197

TABELA 12.1  Principais eventos históricos do CEDIR.


Ano Evento Resultado
Set 2007 Criação da Comissão de Sustentabilidade Identificação de Atividades de Sustentabili-
no CCE-USP. dade aplicáveis à TI.
Março Primeiro trabalho sobre REE com MIT S-Lab. Identificação da necessidade de coletar
2008 REEE da universidade.
Jun 2008 Operação Descarte Legal de coleta de REE Coleta de 5 toneladas de lixo eletrônico de
no CCE e CTI. 200 funcionários do CCE-USP.
Out 2008 Primeiro Pregão “Esverdeado” para compra Itautec vence o pregão e produz computa-
de microcomputadores. dores verdes para USP.
Dez 2008 Lançamento do Selo Verde USP para Concessão do Selo Verde para Itautec pela
computadores verdes. entrega de computadores verdes.
Jan 2009 Trabalho sobre REE com pesquisadores do Planejamento da criação do CEDIR.
MIT L-Lab.
Fev - Maio Projeto do CEDIR, feito pela Comissão de Projeto do CEDIR.
2009 Sustentabilidade.
Abril 2009 Prêmio Mário Covas. Menção Honrosa - Categoria Inovação
pelo projeto do Selo Verde e CEDIR.
Maio 2009 Concessão de Área para Construção do CEDIR. Projeto Físico do CEDIR.
Dez 2009 Inauguração do CEDIR. Início da Operação do CEDIR para atender
à comunidade USP.
Abril 2010 Abertura do CEDIR para o público em Atendimento de pessoas físicas.
geral – pessoas físicas.
Abril 2010 Prêmio Mário Covas. Categoria Inovação pelo projeto do CEDIR.
Set 2010 Criação do Logo do CEDIR Vencedor por Publicação da Logo do CEDIR.
Concurso Público.
Dez 2010 Prêmio InfoExame – Iniciativa Verde – CEDIR.
Abril 2011 Início do Programa EcoEletro, Instituto GEA Treinamento de catadores em microinfor-
e PETROBRAS. mática e tratamento de lixo eletrônico.
Abril 2012 Prêmio Mário Covas 2011. Categoria Inovação pelo projeto EcoEletro.
Ago 2012 Primeira oficina de design com o lixo Design de brinquedos.
eletrônico do CEDIR.
Nov 2012 Transferência física do CEDIR para a
Prefeitura do campus.
Abril 2013 3o Prêmio FECOMÉRCIO de Sustentabilidade. Categoria Academia pelo projeto EcoEletro.
Junho 2013 Prêmio von Martius - 2º lugar na categoria Humanidade
Premiação pelo Projeto Eco-Eletro - Capacitação de catadores para reciclagem de lixo eletrônico - USP e Instituto GEA
Junho 2013 Prêmio von Martius - 1º lugar na categoria Tecnologia
Premiação pelo projeto e atuação do CEDIR - STI/USP

O CEDIR tem atuado em parceria com a CETESB e o IBAMA. No inicio de sua


operação, contou com o suporte dessas instituições no sentido de definir suas atividades
básicas sem infringir boas práticas relacionadas ao meio ambiente. Como exemplo, pode-se
citar a desmontagem de tubos CRT (raios catódicos) que foi descontinuada por sugestão
das instituições devido à vulnerabilidade dos tubos, que seriam quebrados com muito mais
facilidade.
198  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 12.6  Visão geral das áreas de atuação do CEDIR. Fonte: CEDIR.

2. Aspectos sociais
No dia a dia de sua operação, o CEDIR recebia muitos equipamentos em condições de
reúso, o que levou a se introduzir a atividade de recuperação de equipamentos para em-
préstimos para projetos sociais de entidades filantrópicas e escolas públicas com poucos
recursos de informática, credenciadas junto à USP.
A parir daí, outras atividades foram surgindo. Dada a importância da questão de trata-
mento de Resíduos Eletroeletrônicos e a visibilidade que este tema tem tido na mídia em
geral, incluindo TV, rádio, jornais e Internet, o CEDIR é muito procurado para ministrar
palestras e oferecer visitas monitoradas, nas quais são explicadas as diferentes fases de sua
operação. As visitas ocorrem uma vez por semana e têm contado com a presença de alunos
e professores de São Paulo, outros estados e até de outros países, além de gestores de meio
ambiente em órgãos municipais, estaduais e federais, microempresários interessados em
atuar no mesmo ramo e empresas que estão enfrentando o desafio de conformidade à PNRS
(Politica Nacional de Resíduos Sólidos).
Ainda em relação a ações sociais, o LASSU (Laboratório de Sustentabilidade
em Tecnologia da Informação e Comunicação) em parceria com o CEDIR e o Ins-
tituto GEA, com patrocínio do Programa Cidadania e Desenvolvimento da Petrobras,
desenvolveu o projeto EcoEletro, cujo objetivo é realizar o treinamento de catadores
de material reciclável em microinformática básica e no tratamento de resíduos de in-
formática, visando evitar a contaminação dos catadores e do meio ambiente em virtude
Estudo de Caso CEDIR  199

do manuseio errôneo desses resíduos, bem como orientá-los sobre o processo de des-
montagem e agregação de material oriundo de tais resíduos com fins de maximizar o
retorno financeiro obtido com a sua venda. O programa formou ao todo 180 catadores,
que tiveram 60 horas de curso teórico e prático. A entrega dos certificados para os
catadores foi realizada no dia 22 de novembro de 2012 em cerimonia dirigida pela
Escola Politécnica.
Por último, a equipe do CEDIR tem participado e colaborado na elaboração de nor-
mas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em parceria com a CTI de
Campinas.
3. Aspectos econômicos
Os equipamentos recebidos no CEDIR que são consertados e/ou reformados não são
destinados apenas a projetos USP. Tais equipamentos têm sido solicitados por unidades
da própria universidade, no caso de necessidades temporárias como em eventos com dis-
ponibilização de acesso e uso de Internet, salas de aluno ou professores. Além disso, es-
colas públicas com recursos limitados têm solicitado os computadores do CEDIR para uso
em sala de aula, viabilizando o contato e a aprendizagem de crianças em como operar um
computador e seus programas.
Os componentes de computadores desmontados são requisitados, também, pelos órgãos
da USP responsáveis pela manutenção de sistemas computacionais como peças de reposição
usadas no reparo de computadores quebrados. A aquisição de tais peças no mercado não é
simples por se tratar muitas vezes de componentes descontinuados.
Professores e pesquisadores também procuram no CEDIR peças que possam ser usadas
nos seus experimentos, como é o caso do uso de motores de disco rígido na montagem de
robôs.
4. Aspectos culturais
O CEDIR tem recebido peças de idades diversas, algumas raridades que mereciam
espaço num Museu de Tecnologia ou Informática. O projeto desse museu começa a ser
discutido na STI (Superintendência de Tecnologia da Informação).
Além disso, o CEDIR tem sido usado também como oficina de design, empregando
resíduos de informática. No mês de agosto de 2012, recebemos o renomado designer
finlandês Ilka Suppanen, convidado pela professora Maria Cecilia Loschiavo, que coordenou
uma oficina de design aberta ao público com peças do CEDIR.

12.5  Resultados obtidos

Esta seção apresenta os principais resultados obtidos em relação ao tratamento dos


resíduos de informática, seja por meio de reúso e empréstimo de equipamentos, seja por
descarte correto junto a empresas de reciclagem credenciadas na CETESB, ou, ainda, a
devolução dos equipamentos para os fabricantes.
200  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

12.5.1 Resíduos de informática recebidos

Os Gráficos 12.1 e 12.2 referem-se aos tipos de equipamentos entregues no CEDIR nos


anos de 2010 a 2013 (fevereiro de 2013).

Gráfico 12.1  Classificação dos Tipos de Equipamentos Eletroeletrônicos entregues no CEDIR


nos anos de 2010 a fevereiro de 2013. Fonte: CEDIR.

Gráfico 12.2  Tipos de Equipamentos Eletroeletrônicos entregues no CEDIR nos anos de 2010
a fevereiro de 2013. Fonte: CEDIR.
Estudo de Caso CEDIR  201

O Gráfico 12.3 mostra o volume de equipamentos eletroeletrônicos entregues pela


comunidade USP e pessoas físicas no ano de 2011.

Gráfico 12.3  Origem dos Equipamentos Eletroeletrônicos entregues no CEDIR no ano


de 2011. Fonte: CEDIR.

12.5.2 Reúso de resíduos de informática

No caso de reúso de resíduos de informática, podem ser identificados os seguintes tipos


de ações.
1. Empréstimo para Projetos Sociais e Instituições Filantrópicas;
2. Empréstimo para Escolas Públicas;
3. Reúso pela própria USP;
4 Reúso de peças para conserto de computadores;
5. Reúso por outras entidades e prefeituras;
6. Reúso de peças para realização de experimentos científicos.
O Gráfico 12.4 mostra a evolução dos empréstimos ocorridos nos anos 2010, 2011 e
2012 para projetos sociais e instituições filantrópicas.

12.5.3. Logística reversa

Foram devolvidos aos fabricantes:


j Cartuchos de tonner e tinta (cerca de 1.000 cartuchos), para uma destinação ambiental-
mente correta, sem custo para a Universidade.
202  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Gráfico 12.4  Número de Equipamentos de Informática emprestados para Projetos Sociais e


Instituições Filantrópicas. Fonte: CEDIR.

j Pilhas e baterias (cerca de 300 Kg) por meio do programa de recolhimento da ABINEE,
sem custos para a Universidade.
j Baterias de Chumbo ácido, para o PRAC, programa de recolhimento do Governo Federal,

que encaminha as baterias para a empresa Tamarana, no Paraná, para a reciclagem, sem
custos para a Universidade.
j Monitores CRT, considerados resíduos classe I, potencialmente contaminantes, encami-

nhados a recicladores remunerados na base de permuta com o recebimento concomitante


de ferro e plástico para reciclagem.

12.5.4 Visitas guiadas

São realizadas quatro visitas guiadas por mês. As pessoas inscrevem-se a partir do
serviço de Help Desk do CCE-USP. Não existe pré-requisito para a participação dessas
visitas.
Têm participado dessas visitas gestores ambientais de prefeituras do estado de São
Paulo e outros estados, estudantes e professores de universidades da cidade de São Paulo
e de cidades de outros estados brasileiros, como também de universidades estrangeiras,
incluindo MIT e Boston University, além de microempresários e outros.

12.5.5  Prêmios recebidos

O CEDIR recebeu diversos prêmios, conforme mostra a Tabela 12.2.


Estudo de Caso CEDIR  203

TABELA 12.2  Prêmios recebidos pelo CEDIR.


Abril 2009 Prêmio Mário Covas 2008 – Menção Honrosa – Categoria
Inovação pelo projeto do Selo Verde e CEDIR da USP
(GPESP, 2013).
Abril 2010 Prêmio Mário Covas 2009 – Categoria Inovação pelo projeto
do CEDIR (GPESP, 2013).
Dezembro 2010 Prêmio InfoExame – Iniciativa Verde – CEDIR (INFO, 2010).

12.6  Projeto EcoEletro

Além do empréstimo de equipamentos de informática para projetos sociais, enti-


dades filantrópicas e para escolas públicas, o CEDIRé parceiro do projeto EcoEletro
desenvolvido pelo LASSU (Laboratório de Sustentabilidade em Tecnologia da Infor-
mação e Comunicação) do PCS (Departamento de Engenharia de Computação e Sis-
temas Digitais) da Escola Politécnica e do Instituto GEA, com patrocínio da Petrobras
(GEA, 2013).
Como explicado anteriormente, o objetivo do projeto é treinar os catadores de material
reciclável em microinformática básica e tratamento de resíduos eletroeletrônicos. Tem-se
como meta ensiná-los as questões de saúde envolvidas no manuseio desse material e os
cuidados que devem ser tomados para evitar a contaminação deles próprios e do meio
ambiente, além de instruí-los sobre a melhor maneira de separar e agregar este material
para maximizar o valor de sua comercialização.
Até novembro de 2012, um total de 12 cooperativas participantes do projeto havia
conseguido vender seus resíduos eletrônicos por maior valor: Coopreciclável, Coopamare,
Coorpel, Recifran, Cooperglicério, Cooperlagos, CooperZagatti, Coopere-Centro, Canta-
reira Viva, Granja Julieta, Nova Esperança, Recicla Pirituba.
O valor de venda do quilo do resíduo eletrônico aumentou em cerca de 10 vezes, em
média, passando de R$ 0,29 para R$ 3,07, como pode ser verificado no Gráfico 12.5.
Foram montadas 16 turmas de catadores, totalizando-se 180 pessoas treinadas. Partici-
param dessa capacitação não apenas os catadores das cooperativas originalmente previs-
tas (São Paulo, ABC e Guarulhos), mas também de outras 28 cidades: Alumínio, Arujá,
Campinas, Cotia, Cubatão, Diadema, Embu, Guarulhos, Ibiúna, Itanhaém, Itapecerica da
Serra, Itupeva, Mauá, Mongaguá, Peruíbe, Poá, Praia Grande, Ribeirão Pires, Salesópolis,
Santana da Paraíba, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, São Vicente, Suzano
e Taboão da Serra., Além de duas cidades do Estado de Minas Gerais: Contagem e Poços
de Caldas.
O mapa da Figura 12.7 mostra a abrangência do projeto. Originalmente, eram previstas
cooperativas de São Paulo (capital), , bem como Guarulhos, Santo André, São Bernardo do
Campo, São Caetano do Sul e Diadema.
A entrega de certificados para os catadores de material reciclável que participaram do
programa ocorreu em novembro de 2012 (Tabela 12.3).
204  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Gráfico 12.5  Renda com Comercialização de Resíduos Eletroeletrônicos antes e depois


do Projeto EcoEletro. Fonte: CEDIR.

12.7  Considerações finais

O CEDIR hoje atua em diversas áreas, tem contribuído para preservação do meio am-
biente e promovido atividades de inclusão social por meio do empréstimo de computadores
para instituições e comunidades com poucos recursos bem como por meio de cursos, pales-
tras e visitas monitoradas que são tipicamente abertas ao público em geral.
No caso especifico da USP, além do descarte e reúso de bens de informática, o CEDIR
tem sido procurado por pesquisadores que usam peças de computadores na montagem de
experimentos, bem como por técnicos que usam componentes lá deixados para fazer a
manutenção de seus computadores ou impressoras.
Estudo de Caso CEDIR  205

Figura 12.7  Abrangência do Projeto (em julho de 2012). Fonte: CEDIR.

TABELA 12.3  Prêmios Concedidos ao Projeto EcoEletro.


Abril 2012 Prêmio Mário Covas 2011 – Categoria Inovação pelo projeto EcoEletro (GPESP, 2013).
Abril 2013 3o Prêmio FECOMÉRCIO de Sustentabilidade – Categoria Professor (FECOMÉRCIO, 2013).

O CEDIR tem sido uma referência para órgãos de gestão ambiental de todas as esferas,
além de auxiliar escolas públicas e universidades do estado de São Paulo, de outros estados
brasileiros e inclusive de instituições internacionais.

Referências bibliográficas
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institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Casa Civil,
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206  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

CARVALHO, T.C.M.B. TI (Tecnologia da Informação) – Tempo de Inovação: um estudo de caso de planejamento


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CARVALHO, T.C.M.B.; ZUCCHI, M.; BICOV, N.; XAVIER, L.H. Environmental Management of Waste Elec-
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Capítulo 13
Estudo de Caso
do RECICL@TESC
Dennis Brandão, Neuci Bicov Frade

RESUMO

Atualmente, com a rápida evolução da tecnologia, muitos computadores em bom estado


de conservação são descartados, transformando-se num grande problema: lixo contaminante.
Pensando nisso, em 2009 a Rede Social São Carlos, com apoio do SENAC/São Carlos
em parceria com a Prefeitura Municipal de São Carlos, Câmara Municipal de São Carlos,
Nosso Lar e USP São Carlos, criou e coordenou o projeto Recicl@tesc. Apresenta-se neste
estudo de caso a estrutura, características e resultados alcançados por este projeto.

13.1 Introdução

No cenário atual de intensa evolução tecnológica, é nítida a tendência de consumo cres-


cente de equipamentos eletroeletrônicos e o consequente descarte desses produtos em prazos
cada vez menores. Se por um lado a parcela da população que cotidianamente consome (e
descarta) tais produtos, seja em seus lares, seja em seu trabalho é crescente; por outro lado,
existe uma parcela da população que ainda não os acessa. Diante dessa realidade, desde
209
210  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

o final dos anos 1990 tem surgido no Brasil um número cada vez maior de projetos de
inclusão digital sob responsabilidade dos governos e de organizações não governamentais
com vistas a atender esta última parcela da população. Os projetos, via de regra, visam
fornecer amplo acesso às tecnologias de informática e aos recursos da Internet. Um modelo
frequente é o do Telecentro, local de acesso público a computadores que funcionam como
quiosques de acesso à Internet. Sob outras diretrizes, há projetos ainda que oferecem cursos
e capacitações nas diversas áreas das tecnologias da informática. Em 2009, no município de
São Carlos/SP, foi concebido um modelo de projeto de inclusão digital coordenado por uma
rede de parceiros governamentais e não governamentais, no qual as ações educacionais no
campo da informática de cunho profissionalizante são associadas a práticas de reciclagem
e atividades de reúso de resíduos eletroeletrônicos. Este projeto recebe o nome Recicl@
tesc - Reciclagem Tecnológica de São Carlos.
O Recicl@tesc é, sucintamente, um dos projetos da Rede Social São Carlos com o
apoio do SENAC/São Carlos e parceria da Prefeitura Municipal de São Carlos, Câmara
Municipal de São Carlos, Nosso Lar e USP São Carlos, cujo objetivo é receber e processar
equipamentos de informática, possibilitando a inclusão digital e social através da reuti-
lização de equipamentos que estariam destinados à sucata. É também uma preocupação
do projeto o aspecto ambiental, pois os equipamentos que não são reutilizados são des-
montados e seus componentes têm a devida destinação a recicladores licenciados para
essa finalidade.
O projeto foi concebido e opera de forma inovadora, principalmente para a cidade de
São Carlos, conhecida nacionalmente como Capital da Tecnologia, onde até 2009 o correto
e efetivo descarte municipal do lixo eletrônico (sobretudo equipamentos de informática) era
uma demanda ainda com poucas soluções. O Recicl@tesc através de sua metodologia que
integra as organizações da Rede Social São Carlos (Senac, ONGs e Poder Público), con-
tribui com a solução desse problema e sustenta em seu campo de atuação o desenvolvimento
sustentável da cidade de São Carlos e região.

13.2  Histórico do projeto

13.2.1  Início da implantação do projeto

A apresentação do projeto Recicl@tesc e de suas premissas para a Rede Social São


Carlos aconteceu no dia 23 de abril de 2009, quando foi acolhido por ser um considerado
então um projeto inovador. Para a realização do projeto, a Rede Social São Carlos mobilizou
parceiros fundamentais como: a Prefeitura Municipal de São Carlos, a Câmara Municipal
de São Carlos, através do projeto Câmara Verde, a ONG Nosso Lar, a USP São Carlos, o
Senac/São Paulo e Santander Universidades. Esses parceiros contribuiriam para as ativi-
dades de capacitação em manutenção de computadores e rede, recolhimento de materiais
e articulação de doadores de equipamentos de informática.
Estudo de Caso do RECICL@TESC  211

O projeto iniciou-se então sob a tutela da Instituição Nosso Lar, uma das organiza-
ções participantes da Rede Social que nesta oportunidade decidiu por acolher o projeto,
­valendo-se da vantagem de, em suas instalações, já haver a infraestrutura necessária para
o inicio dos trabalhos propostos. O Nosso Lar então utilizou uma casa de sua propriedade
e preparou nela toda a estrutura necessária para as atividades previstas, com bancadas
apropriadas e gavetas para guardar os materiais. A estrutura tem capacidade de processar
16 computadores simultaneamente e espaço para guardar volume adequado de equipamentos
e peças, conforme Figura 13.1.

Figura 13.1  Detalhe da bancada de trabalho. Fonte: Recicl@tesc.

O local físico planejado inicialmente para o “Centro de Reciclagem” possui as seguin-


tes características e equipamentos: instalações elétricas aterradas, rede local e Internet,
telefone, boa iluminação, ausência de umidade, cômodos arejados e refrigerados, fácil
acesso para transporte de equipamentos, mobiliário adequado com bancadas de trabalho e
local para armazenamento de equipamentose ferramentas em geral, bem como recipientes
para armazenamento de peças pequenas, etiquetas para identificação visual dos materiais,
além de material de pintura: compressor de ar, aerógrafos de diversos diâmetros, pistola de
pintura para compressor, tinta acrílica não tóxica várias cores, pincéis diversos tamanhos.
Contando também com equipamentos específicos para recondicionamento, tais como
multímetro digital ou analógico, ferro de solda a estanho, estabilizador, alicate de climpar
etc. O aspecto de uma das bancadas projetadas em 2009 e em operação em 2011 com suas
respectivas ferramentas e acessórios está apresentado na Figura 13.2.
212  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Figura 13.2  Bancada de trabalho do Recicl@tesc. Fonte: Recicl@tesc.

Os integrantes e parceiros do projeto Recicl@tesc, nesta primeira etapa, capacitaram-se


gratuitamente por meio dos cursos de Manutenção de Microcomputadores e Implantação de
Rede Local, ambos cursos realizados pelo Senac/São Carlos, e com duração de 60 horas,
durante o período de 18 de agosto de 2009 a 22 de outubro de 2009. Foram capacitados
ao todo 22 alunos nas duas turmas realizadas, sendo estes selecionados e indicados pelos
parceiros: Nosso Lar, Prefeitura Municipal de São Carlos, USP/São Carlos, Câmara Mu-
nicipal de São Carlos e Senac/São Carlos.
O objetivo da capacitação foi preparar os participantes e parceiros do projeto a realizarem
manutenção e montagem dos computadores que seriam futuramente doados ao projeto,
recuperando-os e promovendo sob a ótica da inclusão social, digital e ambiental, em suma,
refletindo as premissas do projeto.
Após a capacitação realizada pelo Senac/São Carlos, os alunos trabalharam volunta-
riamente por certo período de tempo para o projeto com o objetivo de ganhar experiência
profissional e concomitantemente recuperar os primeiros equipamentos de informática
recebidos pelo projeto.
Do total de equipamentos recebidos entre agosto e dezembro de 2009 – 180 compu-
tadores (CPUs), 300 monitores e 60 impressoras –, foram recuperados 16 computadores
completos para doação às instituições então beneficiadas pelo projeto. O restante do material
recebido foi considerado inservível e encaminhado para reciclagem por doação para a
cooperativa sancarlense de coleta seletiva Coopervida – coordenada em conjunto com
a Prefeitura do município. Lá o material foi separado e vendido de acordo com a sua
natureza. Esse processo, porém, não garante o descarte ambientalmente correto de todos os
Estudo de Caso do RECICL@TESC  213

resíduos, posto que a cooperativa nem sempre teve parceiros com as devidas licenças
de operação para esse tipo descarte.
Como parte dos trabalhos de divulgação no município do projeto recém-criado, o
Recicl@tesc foi apresentado pelo professor Dr. Dennis Brandão no I Simpósio sobre
Resíduos Sólidos, na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, realizado pelo NEPER
(Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos) no dia 03/12/2009. A apresentação
salientou o campo de pesquisa científica e de problema público que é o processamento de
resíduos eletroeletrônicos, e reforçou a relação de parceria entre o Recicl@tesc e a USP,
ampliando sobretudo a visibilidade do projeto aos pesquisadores e alunos daquele campus.
Este I Simpósio sobre Resíduos Sólidos da USP/São Carlos teve como objetivos:
j Reunir pesquisadores, estudantes, representantes do Poder Público, da sociedade civil e
da iniciativa privada que desenvolvam experiências na temática dos Resíduos Sólidos;
j Promover debates acerca dos problemas relacionados ao tema;

j Divulgar pesquisas e experiências na área para a comunidade científica e para a

sociedade;
j Articular profissionais e instituições para futuras parcerias.

13.2.2  Segunda fase do projeto Recicl@tesc

Passado o ano de 2009 de implantação dos processos essenciais de recepção, proces-


samento e encaminhamento dos resíduos, seja para reúso ou para reciclagem, alguns
voluntários começaram a trabalhar em regime de estágio no projeto para a recuperação dos
equipamentos doados. Entre 2010 e 2011 foram doados 78 computadores completos para
18 instituições beneficiadas. Os equipamentos recebidos por essas instituições foram utiliza-
dos, via de regra, para a montagem de centros de inclusão digital e para uso administrativo.
A partir de 2010, com o crescimento da quantidade de equipamentos recebidos, o projeto
passou a assumir também o processo de desmontagem de equipamentos inservíveis, segrega-
ção de peças e partes pela natureza dos materiais e venda desses resíduos para recicladores.
Os recursos provenientes das vendas foram (e ainda são) revertidos para os custos do projeto.
Naquele momento, as peças e partes foram encaminhadas para um dos parceiros recicladores,
a empresa Vertas, na cidade de Mauá/SP, que passou a fornecer para o Recicl@tesc, bem
como para o CEDIR na USP/São Paulo o certificado de descarte ambientalmente correto.
Atualmente o projeto conta com mais parceiros comerciais, como a empresa Casa do
Metal, de Santo André/SP, e possui outras opções de comercialização dos recicláveis para
garantir uma maior rentabilidade e viabilidade econômica.
A partir de junho de 2010, muitos dos equipamentos antigos recuperados para reúso pelo
projeto foram estilizados e customizados, recebendo uma roupagem moderna, valorizandop
os microcomputadores já desgastados pelo tempo e uso. Esse trabalho destacou a qualidade
dos equipamentos recuperados, criando identidade ao projeto.
Para atingir esse objetivo, foi realizada a capacitação em Aerografia Básica da equipe
técnica do projeto Recicl@tesc, de jovens da comunidade e de pessoas ligadas ao Programa
214  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

Educação para o Trabalho do Senac entre 10 e 18 de junho de 2010. A partir de então os


equipamentos passaram a receber novo padrão de pintura (Figura 13.3).

Figura 13.3  Equipamento recuperado estilizado. Fonte: Recicl@tesc.

Desde então, diversos cursos e treinamentos técnicos foram realizados pela equipe
do projeto (dentro e fora das instalações do Recicl@tesc). Tais cursos visaram e visam a
atualização e manutenção da equipe de trabalho, assim como a difusão dos conhecimentos
obtidos com o projeto.
Além dos cursos, o projeto passou também a receber em visitas técnicas representantes
de entidades, prefeituras, empresas e escolas. Os cooperadores e coordenadores do projeto
passaram a apoiar eventos e realizar palestras sobre temas correlatos ao Recicl@tesc em
cerimônias de divulgação científica, como também divulgar na mídia local (rádio e TV) a
importância do correto descarte de resíduos eletroeletrônicos.
Atualmente o projeto possui postos de coleta no município de São Carlos além do Centro
de Reciclagem Tecnológica (sede do projeto) e recebe doações de diversos municípios da
região provenientes de pessoas fídicas e jurídicas.

13.3  Metodologia de trabalho

13.3.1 Divulgação e recolhimento ou recepção de materiais

O processo de recolhimento ou recepção de materiais de informática pela Recicl@tesc é


fomentado principalmente por contatos institucionais, pela divulgação do projeto na mídia
e pelo seu website (http://www.reciclatesc.org.br/). As doações ao projeto são realizadas
Estudo de Caso do RECICL@TESC  215

mediante ofício disponível on-line e no Centro de Reciclagem Tecnológica. Todo o material


recolhido nos postos de coleta segue para o Centro de Reciclagem Tecnológica, onde passa
por sistemática análise de viabilidade de reúso. Dentre os processos operacionais realizados
pela Recicl@tesc estão aqueles descritos na Tabela 13.1.

13.3.2 Readequação tecnológica - preparação para reúso

A readequação tecnológica dos equipamentos consiste em realizar a devida reparação ou


manutenção de 30% dos equipamentos como meta, deixando-os em condições e disponíveis
para reúso ou direcionando-os para reciclagem. Para este fim são realizadas capacitações
desde 2009. Esta atividade envolve conhecimentos básicos e avançados tanto de hardware,
quanto de softwares – drivers e sistemas operacionais. Os computadores preparados para
reúso são destinados a projetos de inclusão social e digital; os inservíveis são desmontados
ou encaminhados para empresas de reciclagem credenciadas junto à USP, seguindo os
mesmos conceitos do CEDIR na USP/SP. Dentre os objetivos da readequação tecnológica
destacam-se as atividades:
1. Capacitar pessoas envolvidas no projeto em Manutenção de Computadores e Implantação
de Rede Local.
2. Verificar a situação geral dos equipamentos recebidos em laboratório próprio e emitir
diagnóstico técnico (triagem).
3. Realizar a preparação (reparo) dos equipamentos que passaram pela triagem: eliminar
vírus e eventuais arquivos dos antigos donos, instalar sistemas operacionais e softwares
livres, pintar personalizadamente (opcional) o gabinete, limpar peças e todo o equipa-
mento. Esta atividade acontece em laboratório próprio.

TABELA 13.1  Processos operacionais da RECICL@TESC.


Etapa Processo Responsabilidade
Contatos Visitas aos órgãos públicos e privados e posterior Equipe técnica do projeto
­institucionais solicitação de ofício para doação do equipamento.
Contatos com as organizações não ­governamentais Mediador da Rede Social
que possuem equipamentos a serem consertados ou São Carlos
enviados ao Centro de Reciclagem Tecnológica
ou então que desejam receber doações do projeto.
Estratégia Conseguir um parceiro de transporte para Equipe de coordenação
­operacional o recolhimento dos equipamentos na cidade do projeto
de São Carlos.
Divulgação Divulgação na cidade de São Carlos, através Equipe de coordenação
para coleta do website, vídeo institucional no website ­YouTube do projeto
e de folheto explicativo, com informações sobre
o projeto para empresas e pessoas físicas.
Divulgação do projeto na mídia (jornal, rádio e TV), Equipe de coordenação
viabilizando captação de equipamentos. do projeto
216  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

4. Emitir relatório especificando a configuração e o destino dos equipamentos e peças para


reúso. Reunir lotes desses equipamentos e realizar a doação periódica mediante assinatura
de termo por parte da instituição beneficiada. Para esta atividade notifica-se a mídia local.

13.3.3 Preparação para reciclagem

Esta atividade caracteriza-se pela desmontagem de equipamentos e segregação de partes


de equipamentos de informática por tipo de material: plástico, ferro, cobre, placas leves,
placas pesadas, entre outros. Tal atividade é realizada em área coberta e em laboratório com
bancadas próprias, ferramentas adequadas.
Um componente crítico para se reciclar é o cinescópio de monitores de vídeo. Como
ele prescinde de descontaminação caso seja desmontado, o Recicl@tesc não os desmonta,
e sim envia-os para o processo de descontaminação e reciclagem em empresa habilitada.
Por se tratar de atividade passível de ser otimizada, a preparação de resíduos eletroele-
trônicos para a reciclagem é tema de pesquisa científica em grupos de pesquisa da USP/São
Carlos, que utiizam o projeto Recicl@tesc como laboratório para testes e experimentos. A
questão anteriormente citada sobre a desmontagem e descontaminação de cinescópios é
também tema de pesquisa científica na USP/São Carlos.
Em suma, pode-se destacar como principais atividades relacionadas à reciclagem no
projeto Recicl@tesc:
j Desmontagem de equipamentos e segregação de materiais.
j Desenvolvimento de pesquisas para a extração de componentes de placas eletrônicas.
j Desenvolvimento de pesquisa para a desmontagem e descontaminação de cinescópios.
j Encaminhamento de cinescópios para recicladores que sejam habilitados a os tratarem.
j Fornecimento de peças para artesãos.
j Pesquisa de mercado e sondagem de recicladores com licença de operação para tratarem
resíduos eletroeletrônicos.
j Armazenamento e venda de materiais extraídos dos resíduos eletroeletrônicos para

reciclagem de forma ambientalmente correta.

13.4  Sustentabilidade financeira

São muitos os desafios a serem geridos na manutenção do projeto, e talvez o mais


significativo entre eles seja garantir a sustentabilidade financeira como forma de se obter
um modelo de negócio passível de ser replicado em outros municípios no país.
A esse respeito, a equipe de coordenação do projeto entende que os principais quesitos
a serem contemplados para uma efetiva sustentabilidade financeira deste projeto ou de
projetos semelhantes são:
1. Venda de resíduos eletroeletrônicos devidamente segregados;
2. Venda de equipamentos para reúso - não realizado no Recicl@tesc:
Estudo de Caso do RECICL@TESC  217

3. Realização de serviços de manutenção em computadores;


4. Captação de recursos por meio de projetos de agências/empresas;
5. Capacitações em manutenção, informática ou aerografia com mensalidades revertidas
ao projeto – não realizado no Recicl@tesc;
6. Venda de assessoria técnica em informática;
7. Captação de recursos junto à Prefeitura Municipal;
8. Patrocínios empresariais – “Empresa Amiga do Recicl@tesc”;
9. Produção e venda de produtos de artesanato com resíduos eletroeletrônicos- não reali-
zado no Recicl@tesc;
10. Montagem de Museu da Informática.

13.5 Resultados

Nesta seção, são apresentados os principais resultados mensuráveis obtidos na Recicl@


tesc desde a sua criação até o ano de 2012. Os resultados apresentados anualmente segundo
a Tabela 13.2 referem-se ao número de pessoas que concluíram cursos de capacitação,
massa de resíduos recebida pelo projeto – em quilos – e número de computadores com-
pletos doados a instituições.
Desde 2012 o projeto opera com três funcionários, além de estagiários ocasionais, e
dispõe de uma estrutura física composta por:
j Área de armazenagem coberta de 119 metros quadrados;
j Laboratório de triagem com 3 bancadas;
j Sala de aula informatizada com 11 microcomputadores em rede;
j Laboratório de manutenção com 2 bancadas para 16 computadores e rede;
j Laboratório para desmontagem com 2 bancadas;

13.6  Considerações finais

O projeto Recicl@tesc passou a ser um programa contínuo de reciclagem e reúso de


equipamentos eletroeletrônicos, incialmente para a cidade de São Carlos, e mais recente-
mente para demais cidades da região.
TABELA 13.2  Resultados mensuráveis do projeto Recicl@tesc.
Ano Pessoas capacitadas Recepção de material (Kg) Doação de computadores
2009 22 1.250 16
2010 26 2.800 20
2011 0 10.000 58
2012 20 58.000 1531
1
Doações enviadas a 13 municípios no interior do estado de São Paulo.
218  Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos

A população desses municípios, bem como pessoas jurídicas ali instaladas podem dar
uma destinação adequada ao seu lixo eletrônico em um dos pontos de coleta do projeto
Recicl@tesc, tendo a certeza de que todos os equipamentos, obsoletos ou não, serão triados e
destinados para o reúso em projetos sociais ou para a reciclagem por empresas devidamente
capacitadas e licenciadas para tal finalidade.
O Recicl@tesc, por meio de sua metodologia que integra parceiros para a execução
das atividades, contribui para a solução do grave problema de descarte incorreto de lixo
eletrônico, promovendo o desenvolvimento local da cidade de São Carlos, beneficiando
outras regiões carentes de centros especializados.
Hoje o Recicl@tesc desenvolve atividades múltiplas, seja por meio de cursos, seja
atendendo pessoas físicas e jurídicas que prezem pelo descarte certificado de lixo eletrônico,
constituindo uma ação socialmente responsável e inovadora na aplicação de métodos de
trabalho social e ambientalmente corretos.

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