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Eletroeletrônicos
Gestão de Resíduos
Eletroeletrônicos
Lúcia Helena Xavier
Tereza Cristina Carvalho
© 2014, Elsevier Editora Ltda.
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X21g
Apresentação
RESUMO
1.1 Introdução
1
A Convenção da Basileia foi proposta em 1989 para adesão por parte dos signatários, mas só foi amplamente
reconhecida a partir de maio de 1992. Em março de 2011 havia 175 países que se declararam signatários.
http://www.basel.int/Portals/4/Basel%20Convention/docs/text/BaselConventionText-e.pdf
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos 3
2
EPEAT – Electronic Product Environmental Assessment Tool. www.epeat.net
4 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
j Conservação de energia
j Desempenho corporativo
j Embalagens
A gestão de resíduos tem início quando o consumidor já não tem suas expectativas atendidas
com o produto adquirido e, por isso, resolve descartá-lo. Segundo o relatório STEP 20113
(Solving The E-waste Problem), a reutilização deve ser priorizada como meio de diminuir
impactos ambientais dos equipamentos eletroeletrônicos. O reúso é uma resposta à tendência do
encurtamento do tempo de vida útil dos produtos, por meio da manutenção das funcionalidades
a partir de ações como: reparo, recondicionamento ou remanufatura. Apenas quando o produto
é considerado obsoleto e não mais apresenta condições de reúso, passam-se a considerar, então,
as etapas seguintes de destinação ou, em casos específicos, de disposição final.
O investimento em tecnologias e aquisição de equipamentos que possam separar e
favorecer a reciclagem também são de significativa importância nessa etapa do ciclo,
pois é importante ter como tratar e recuperar a maior parte dos materiais empregados na
sua fabricação, evitando extrair mais materiais das reservas naturais, o que causa grande
impacto ao meio ambiente.
Atualmente, o custo de extração ainda favorece que esses materiais sejam retirados
da natureza e sua reciclagem seja menos importante para a indústria brasileira. Apesar de
o Brasil ter muitas fontes de recursos minerais, grande parte dos componentes eletroele-
trônicos ainda é fruto de importação (ABINEE, 2012). As indústrias de computadores que
atuam no país no segmento de Tecnologia, Informação e Comunicação (TIC), produzindo
computadores, celulares e outros, atuam na grande maioria dos casos na montagem desses
equipamentos a partir de peças e partes adquiridas de outros países.
Em poucas palavras, na cadeia produtiva dos TICs, os recursos minerais são exportados e
os produtos com alto potencial tecnológico são importados, em sua grande maioria de países
asiáticos, para montagem no Brasil. A situação repete-se em outros países latino-americanos.
Retomando a questão da extração mineral, apesar do seu processamento ser restrito e
limitado no país na área de TIC, essa etapa implica em significativo impacto ao ambiente e à
saúde humana. Por esse motivo, a mecanização aliada a mecanismos de reparo de impactos
são priorizadas por grandes empresas mineradoras. A questão pode ser exemplificada a
partir da mineração do ferro. Segundo relatório do MME (Ministério de Minas e Energia):
“Via de regra, a mineração de ferro constitui-se de extração a céu aberto com
bancada sendo o minério transportado por caminhões fora de estrada para benefi-
ciamento a seco ou úmido, com britagem, moagem, peneiramento, filtragem e clas-
sificação e homogeneização, e em alguns casos concentração. Os efluentes, sólidos
e líquidos, são depositados em barragens normalmente com controle da vazão de
efluentes e água no vertedouro. Para esses procedimentos o uso de energia elétrica
é o utilizado como força motriz das usinas de beneficiamento. No tratamento do
minério hematítico, os produtos são obtidos, após uma simples sucessão de etapas
de britagem e classificação. O aproveitamento dos minérios itabiríticos de mais
baixo teores obriga as empresas a investirem em circuitos de concentração.”
3
STEP, 2011. http://www.step-initiative.org/tl_files/step/_documents/StEP%20Annual%20Report%202011_
lowres.pdf
8 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
É possível identificar na citação vários fatores de risco dessa extração, desde formação
de barragens para os efluentes até mesmo o transporte rodoviário, além dos gastos energé-
ticos ao longo de todo processo.
Segundo o instituto Aço Brasil,4 a produção de aço a partir de sucata reduz o consumo
de matérias-primas não renováveis, economiza energia e evita a necessidade de ocupação de
áreas para o descarte de produtos em obsolescência. A Figura 1.2 apresenta um fluxograma
da inserção do ferro reciclado no processo de fabricação do aço.
4
http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/sustentabilidade/reciclagem.asp
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos 9
Gráfico 1.1 Ensaios realizados na área de reciclagem da Itautec. Fonte: Elaboração própria.
Outra pesquisa evidencia que, na Europa, uma parte significativa dos materiais bus-
cados em sucatas para reaproveitamento é proveniente de móveis, eletrônicos e metais
pós-consumo. Do total de fontes de resíduos reutilizados, 23% são provenientes dos REEE
nos países europeus (Gráfico 1.2).
Esta fase corresponde ao uso dos EEE, que demandam energia para o seu funcionamento.
O produto continua em uso até o momento em que seu proprietário decida descartá-lo
definitivamente. Isto pode ocorrer por motivos variados, como o mau funcionamento e
obsolescência tecnológica.
j Destinação
Ao chegar ao final da vida útil, seja por apresentar falhas de funcionamento, seja por
tornar-se obsoleto tecnológica ou energeticamente, o equipamento é descartado pelo
Introdução à Gestão de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos 11
Os REEE e seus componentes podem seguir para a fase de recondicionamento por meio
da manutenção, com a finalidade de recuperação da função do produto para o mesmo
objetivo para o qual foi desenvolvido ou para outros fins. Outras formas de reutilização
são: o recondicionamento dos REEE (recuperação) e a metareciclagem, a qual consiste
na desconstrução do lixo tecnológico para a reconstrução da tecnologia.
j Reciclagem
Nesta fase ocorre o processo de transformação dos resíduos, que envolve a alteração de
suas propriedades físicas ou físico-químicas, com vistas à transformação em insumos
ou novos produtos.
j Disposição final
Os REEE e seus componentes, que não são recuperados ou reciclados através das opções
anteriores, são encaminhados a um local de disposição final (aterros industriais), onde
devem receber tratamento especial, devido à presença de substâncias tóxicas em sua
composição, a fim de evitar efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente.
Gráfico 1.4 Número de computadores em uso em alguns países da América Latina (em mi-
lhões de unidades). Fonte: ANDRADE-LIMA, 2012.
14 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
caso de obtenção de rejeitos que não estejam aptos a qualquer modalidade de reinserção
na cadeia produtiva.
Em primeira instância são adotadas medidas de recondicionamento dos equipamentos
com vistas à extensão da vida útil e reinserção na cadeia produtiva sem a necessidade de
substituição deste por um equipamento novo. Não havendo possibilidade de reparo, o
equipamento é submetido às etapas de desmontagem, descaracterização e destinação de
peças, partes e materiais com a finalidade de reutilização ou reciclagem.
O setor produtivo que reincorpora materiais reciclados tem se beneficiado do processo
de reciclagem por motivos econômicos e ambientais. No entanto, nem todos os materiais
mostram-se vantajosos sob o ponto econômico da reciclagem. Há situações nas quais
a prática da reciclagem pode se mostrar menos eficiente economicamente do que a
logística tradicional de produção. Os aspectos logísticos, em linhas gerais, exigem um
planejamento de atividades para a gestão de volumes, das rotas a serem percorridas e
dos tipos de materiais a serem processados. Uma das principais características dos canais
reversos que gerenciam materiais residuais é justamente a necessidade de se gerenciar
diferentes tipos de resíduos, com grande diversidade de fontes geradoras e um número
menor de destinações.
São necessários estudos mais aprofundados a respeito da destinação de materiais
com vistas a aprofundar a análise econômica da cadeia reversa para fomentar tanto o
processo decisório quanto a elaboração de políticas de incentivo à destinação adequada
sob a modalidade de reciclagem. Apesar das políticas públicas ainda apoiarem a atuação
de catadores, no segmento de eletroeletrônicos a atuação desses profissionais ainda é
restrita e pouco difundida em função dos riscos envolvidos na logística reversa desses
materiais.
Percebe-se, por fim, que a consolidação dos instrumentos legais e normativos no Brasil,
bem como dos processos relacionados ao gerenciamento de resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos têm favorecido a organização de novos mercados e segmentos dentro
do conceito de logística reversa. Nesse sentido, a integração de cadeias produtivas da
reciclagem se faz necessária com o propósito de tornar viável e sustentável a destinação
ambientalmente adequada dessa categoria de resíduos.
Nos próximos capítulos serão abordados, de forma mais aprofundada, questões técnicas,
sociais, ambientais, legais e da área de saúde na gestão dos resíduos de equipamentos
eletroeletrônicos.
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Capítulo 2
A Prevenção e a Análise
do Ciclo de Vida
na Gestão de Resíduos
de Equipamentos
Eletroeletrônicos
Ana Paula Bortoleto
RESUMO
19
20 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
2.1 Introdução
Por outro lado, o conceito de prevenção de REEE não é algo novo em si. Desde meados
dos anos 1970, o planejamento da gestão de resíduos em países europeus tem incluído medidas
de prevenção de REEE e vários esforços foram conduzidos para a sua institucionalização. Por
exemplo, o artigo 7° da Diretiva n° 75/442/CE já definia a estratégia da União Europeia para a
gestão de REEE considerando medidas de prevenção como prioritárias. Em âmbito nacional,
a Alemanha (AbfG, 1986) e a Áustria (AWG, 1990) aprovaram o princípio da prevenção
como o principal objetivo dos seus planos de gestão de REEE. Outros países europeus ainda
especificaram metas para a prevenção de resíduos, como a Escócia, que determinou a estabili-
zação da geração de resíduos para 2010 no seu Plano Nacional de Resíduos Sólidos em 2003
(HUGUES, 2005). No âmbito local, a cidade de Viena foi pioneira em implementar iniciativas
de prevenção em 2001, cerca de 42 projetos foram financiados. Como resultado, de acordo com
os relatórios oficiais, a cidade evitou a geração de 2.190 toneladas de resíduos (MA 48, 2006b).
Entretanto, em geral, esses esforços locais e nacionais não resultaram em efeitos per-
ceptíveis na geração de resíduos (incluindo os REEE) como indicado pelo aumento da
quantidade total de resíduos produzidos na Europa (EEA, 2002). Outras tentativas de definir
estratégias para a prevenção provaram-se sem êxito. Uma análise dos efeitos da Politica
de Resíduos na Finlândia (MELANEN et al., 2002) mostrou que os instrumentos imple-
mentados não contribuíram para a prevenção, enquanto a infraestrutura para a recuperação
e tratamento foram extremamente aperfeiçoadas nos anos 1990. Essa discrepância entre a
importância dada à prevenção de resíduos nos planos de gestão e a falta de progresso na
realidade pode ser explicada através das definições inconsistentes, problemas de medição,
avaliação, monitoramento e ausência de uma estratégia abrangente.
Somando a isso, regulações ambientais sobre a atividade industrial, como também no
caso das medidas de prevenção, são geralmente consideradas caras para as empresas ga-
nhando um impacto negativo dentro do setor privado (CHAPPLE et al., 2005; BEAUMONT
e TINCH, 2004). A prevenção é um processo de longo prazo que necessita da mudança de
comportamento tanto dos cidadãos, produtores e demais atores envolvidos (BORTOLETO
e HANAKI, 2007). Medidas regulatórias possuem um papel importante, mas são raramente
efetivas se aplicadas isoladamente (Commission of the European Community, 2003b).
Programas de prevenção de REEE devem integrar todas as atividades do ciclo de vida do
produto, tanto no nível dos processos de produção e consumo, como no de pós-consumo.
Assim, o valor prático da prevenção será específico e dependerá das características do
material, produto, fluxo de resíduos ou público-alvo em questão (BORTOLETO et al, 2012).
Tendo em vista uma série de impactos ambientais que envolveram interesses interna-
cionais na década de 1990, a Organização Internacional de Padronização (International
Organisation for Standardisation – ISO) criou em março de 1993 um Comitê Técnico
(TC-207) para a elaboração de um conjunto de normas sobre gestão ambiental. O TC-207,
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão... 25
sediado no Canadá, foi coordenado por seis Subcomitês (SC) e um Grupo de Trabalho
(WG), localizados em vários países com a participação dos 110 organismos nacionais
regulatórios que o compunham, entre os quais a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). Tal Comitê Técnico elaborou as cinco primeiras normas da série ISO 14000
(Moura, 2000)]. As quatro normas da série ISO 14040 relativas a Análise do Ciclo de
Vida (ACV), uma das ferramentas de gestão ambiental formalizadas pela ISO para as
organizações empresariais, foram aprovadas a partir de 1997, na seguinte sequência
(WHITE et al, 2001):
1. ISO 14040 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Principles
and Framework1 (1997)
2. ISO 14041 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Goal and
Scope Definition and Inventory Analysis2 (1998)
3. ISO 14042 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Life Cycle
Impact Assessment3 (2000)
4. ISO 14043 – Environmental Management – Life Cycle Assessement (LCA) – Life Cycle
Interpretation4 (2000)
Essas normas foram traduzidas e adaptadas às terminologias brasileiras pela ABNT,
representante do Brasil na ISO. Dessa forma, tem-se hoje, no Brasil, as seguintes normas
correspondentes as homólogas normas ISO, respectivamente: NBR ISO 14040, ABNT NBR
ISO 14041, ABNT NBR ISO 14042, ABNT NBR ISO 14043.
De acordo com a Sociedade de Toxicologia e Química (FAVA et al, 1991), a ACV tem
como objetivo avaliar as cargas ambientais associadas a um produto, processo ou ativida-
des para identificação e quantificação da energia e materiais usados, além das descargas
para o ambiente. As informações geradas podem servir para análise e implementação de
oportunidades, a fim de influenciar melhorias ambientais, abrangendo desde a extração, o
processamento da matéria-prima, a manufatura, o transporte e a distribuição; o uso e reúso,
a manutenção; a reciclagem e a disposição final.
De um modo geral, a ACV abrange as seguintes etapas:
1. Identifica e quantifica o consumo de energia, materiais e geração de resíduos.
2. Avalia o impacto no meio ambiente do consumo de energia, materiais e geração de
resíduos.
3. Identifica e avalia oportunidades para aumentar a eficiência nos processos de fabricação,
distribuição; tratamento e disposição final de resíduos e produtos de pós-consumo, além
da redução de custos.
1
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Princípios e Estrutura
2
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Objetivo e Definição do Escopo e Análise de Inventário
3
Gestão Ambiental - Avaliação Ciclo de Vida - Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida
4
Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Interpretação do Ciclo de Vida
26 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Figura 2.1 Fases de uma ACV. Fonte: Norma NBR ISO 14040:2001.
Uma das restrições ao uso da ACV é sua complexidade, o que leva a custos altos na
sua elaboração, além da necessidade de uma grande quantidade de dados devido a sua
abrangência, o que pode levar a uma extrema dificuldade de interpretação dos dados
(BOUSTEAD, 1998). Esses problemas podem ser contornados a partir do momento em
que se delimita e se formula claramente os objetivos do trabalho. Outra dificuldade na
elaboração de um estudo de ACV se encontra na Análise de Inventário, graças a inúmeros e
diversificados dados que devem ser coletados. Na prática, o inventário é difícil e trabalhoso
de ser executado por uma série de razões, como: a ausência de banco de dados conhecidos,
a necessidade de estimá-los e a qualidade dos dados disponíveis.
Um estudo de ACV poderia ser inacabável pelas suas dimensões e, consequentemente,
pela abrangência de informações. Para tanto, um estudo de ACV prático e objetivo deve
possuir fronteiras ou limites antecipadamente estabelecidos. Assim, é recomendável o
A Prevenção e a Análise do Ciclo de Vida na Gestão... 27
2.4.1 Indicadores de impacto
importante é que os recursos não vêm somente do responsável direto pela implementação
da ação, mas também de outros atores envolvidos. Por exemplo, um projeto de reutilização
de dispositivos de impressão pode envolver funcionários de outras empresas ou organizações
não governamentais para coleta e também poderá envolver a participação dos consumidores
no processo de pós consumo. Entre esses indicadores destacam-se: custos, lucros diretos e
indiretos, custos externos, funcionários externos e internos envolvidos, número de equipa-
mentos instalados, número de ferramentas de comunicação – panfletos, eventos, website –,
número de pessoas que tiveram acesso a essas ferramentas.
Indicadores de resultados são importantes dentro do sistema de avaliação, uma vez
que seu objetivo é avaliar a eficácia da ação preventiva, tanto na participação quanto nas
quantidades de REEE evitados. No entanto, estes indicadores são menos relevantes, se
nenhum estado inicial for definido antecipadamente; assim, antes de iniciar a avaliação é
necessário determinar a participação inicial. Por exemplo, para avaliar a eficiência de uma
campanha de comunicação sobre o reúso de dispositivos de impressão, deve-se conhecer
a quantidade de pessoas que já reusam o dispositivo. Considerando a dificuldade sobre a
avaliação e o monitoramento de programas de prevenção de resíduos, tais indicadores re-
presentam um grande desafio para muitos gerentes de projetos de prevenção de resíduos,
principalmente porque eles não podem ser medidos diretamente. Indicadores de resultados
sobre quantidades evitadas são essenciais para avaliar a eficiência de uma determinada ação
de prevenção de resíduos, e são calculados principalmente pela multiplicação do número de
participantes “reais” pela quantidade média evitada por participante.
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Capítulo 3
Design
e Sustentabilidade
na Cadeia de REEE
Lúcia Helena Xavier
RESUMO
3.1 Introdução
Por outro lado, um produto pode atingir o final de sua vida útil em uma determinada
fase do consumo; entretanto, por ainda apresentar funcionalidades, pode ter sua vida útil
estendida ao passar por manutenção e ser reincorporado por outras unidades nas quais seu
consumo seja continuado.
de coleta que deve ser fomentada tanto por iniciativas sociais, como por incentivos políticos
e fiscais para garantia de um volume mínimo de material a ser processado e, desta forma,
torne os custos da reciclagem viáveis.
O segundo ponto crítico é a própria etapa da reciclagem, que poderá alcançar um padrão
de excelência ambiental na medida em que mecanismos regulamentadores possibilitem
a padronização e fiscalização de suas técnicas. O principal objetivo dessa abordagem é
buscar minimizar os impactos negativos à saúde humana e ambiental, verificados a partir
do manuseio de resíduos perigosos ao final da vida útil de equipamentos eletroeletrônicos.
Outro tópico de grande relevância nos principais debates é a regulamentação por parte
do governo a respeito da responsabilidade sobre a gestão de produtos órfãos, cuja origem
não é possível identificar ou cujo fabricante não se encontra mais atuando no mercado. Nesse
sentido, alguns países desenvolvidos têm sido apontados como exportadores de REEE para
países em desenvolvimento, ferindo a Convenção da Basileia. Grande parte dos países em
desenvolvimento não estaria apta tecnológica e socialmente para o gerenciamento eficaz
e efetivo dessa categoria de resíduos perigosos. Nesse sentido, a elaboração de normas e
procedimentos para a implementação de sistemas de logística reversa, bem como o es-
tabelecimento e a adequação de uma infraestrutura mínima, deve ser provida pelo Estado,
ou ainda pela iniciativa privada.
Em linhas gerais, a Figura 3.1 apresenta um modelo conceitual a respeito da gestão
de REEE. Propõe-se que os estímulos que incentivam os consumismos podem configurar
como ponto de partida para a amplificação do consumo e consequente geração de resíduos.
Com o aumento da quantidade e diversidade de produtos pós-consumo, torna-se necessária
a implantação de sistemas eficientes de coleta e separação que, por sua vez, demandam
ações logísticas coordenadas para o transporte e acondicionamento de materiais e produtos
que serão destinados.
De acordo com Jinglei et al. (2009), métodos simples de reciclagem e a carência de
mecanismos eficazes de controle da poluição, verificado em países em desenvolvimento,
os tornam mais susceptíveis a poluição ambiental, resultando em impactos significativos
à saúde humana. Nesse sentido, Sepúlveda et al. (2010) relatam um fluxo relativamente
intenso de REEE partindo, principalmente, de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Europa,
Japão e Coreia com destino à países asiáticos como China, Índia e Paquistão.
O contato com agentes contaminantes ao longo da cadeia reversa de equipamentos
eletroeletrônicos pode ocorrer em diferentes etapas e em distintas intensidades. O contato
direto com metais pesados durante a etapa de desmontagem dos aparatos resulta na absorção
pela pele e possível contaminação por bioacumulação nos organismos. Por outro lado, a
queima de material provoca a liberação de material tóxico na atmosfera e, nesse caso,
a contaminação ocorre pela inalação dos agentes tóxicos. Desta forma, o uso de equipa-
mentos de proteção pode minimizar ou eliminar os impactos decorrentes da destinação
(reúso, reciclagem e outros) ou disposição final (aterro e incineração), dos equipamentos
eletroeletrônicos pós-consumo.
Deng et al. (2006 e 2007) sugerem a análise de compostos tóxicos liberados na atmos-
fera a partir da atividade de reciclagem de REEE. Os artigos apresentam a relação entre
40 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
A reciclagem dos REEE tem importância econômica e ambiental por recuperar com-
ponentes reutilizáveis, especialmente metais preciosos, além de criar empregos para as
populações mais pobres, ajudando na erradicação da pobreza. No entanto, devido à falta de
instalações apropriadas, altos custos trabalhistas e regulamentações ambientais exigentes,
os países mais ricos tendem a não reciclar seus resíduos eletroeletrônicos. Em vez disso, ele
ou é depositado em aterros, ou exportado para países mais pobres, onde pode ser reciclado
através de técnicas primitivas e com pouca consideração à proteção do meio ambiente e à
segurança do trabalhador (ROBINSON, 2009).
Tradicionalmente, ao se conceber um produto, os principais critérios considerados são a
funcionalidade, a eficiência e o custo. Ainda são poucas as iniciativas de design de produto
e processo que priorize a redução dos impactos ambientais durante a vida útil e também
no estágio pós-consumo. Entretanto, algumas iniciativas interessantes já se encontram em
desenvolvimento, inclusive especificamente para a gestão de REEE.
É possível perceber a gestão de REEE como uma parte da gestão de resíduos que,
em função do retorno de produtos e materiais ao mercado, também possuem inserção na
gestão empresarial e na economia. Tais aspectos ainda impactam a sociedade por meio da
efetividade de ações ambientalmente adequadas de destinação de resíduos, ao mesmo tempo
em que colabora para a geração de emprego e renda.
Nesse contexto, a gestão de REEE ainda necessita da consolidação do projeto, ou seja,
do design de produtos e materiais como forma de otimização da cadeia reversa. A título
de exemplo, a elaboração de produtos com materiais com maior potencial de reciclagem,
bem como o investimento no desenvolvimento de produtos facilmente desmontáveis ao
Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE 41
final da vida útil, são perspectivas com significativo potencial de inovação no contexto da
logística reversa.
A esse respeito, além das determinações contidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), um dos principais documentos legais é o Edital de Chamamento para a elaboração
de Acordo Setorial para a implantação de Sistema de Logística Reversa de produtos eletroele-
trônicos e seus componentes (Edital n° 01 de 2013, do Ministério do Meio Ambiente). Esse
edital estabelece como meta o recolhimento e a destinação ambientalmente adequada de 17%,
em peso, dos produtos eletroeletrônicos colocados no mercado nacional em 2012.
A importância desse documento reside, mais especificamente, no fato de representar o
principal aspecto motivador para a configuração dos fluxos de reciclagem. Considerando-se,
hipoteticamente, que no Brasil sejam colocados no mercado anualmente cerca de 1 milhão
de computadores, deveria-se delinear um sistema de recolha e processamento de 170 mil
desses equipamentos anualmente.
Como resultado, buscaria-se identificar os principais pontos geradores de resíduos e, desta
forma, localizar as unidades de destinação o mais próximas possível dessas fontes. Outra questão
relevante seria a natureza do equipamento e sua condição de funcionalidade. Assim, enquanto
alguns aparelhos necessitam apenas de manutenção ou pequenos reparos, outros já exigem troca
de peças ou total recondicionamento para recuperar total ou parcialmente suas funcionalidades.
Desta forma, a triagem por meio do teste dos equipamentos caracteriza-se como uma das
atividades iniciais no processo de destinação de equipamentos eletrônicos pós-consumo.
Uma abordagem bastante recente que agrega processo e produto é a virtualização de
processos operacionais, que tem uma ampla aplicação por meio, por exemplo, da proposta do
cloud computing. Em poucas palavras, consiste na virtualização de atividades em função da
disponibilidade de espaço físico nas máquinas ou até mesmo da disponibilidade de energia
em determinada região geográfica. Uma das principais aplicações nesse sentido tem sido
desenvolvida pelo grupo Green Star Network, do Canadá (http://www.greenstarnetwork.com/).
A proposta desse grupo consiste no desenvolvimento de ferramentas informatizadas que
possibilitem o uso eficiente da energia a partir da migração das bases de transmissão de
dados em diferentes regiões e países, tendo-se como premissa a disponibilidade de recursos
renováveis como energia solar (following the sun) e energia eólica (following the wind).
Intitulada como a primeira rede mundial de transmissão de dados com emissão zero
de carbono, essa proposta consiste como um dos projetos mais bem-sucedidos na área de
Tecnologia, Informação e Comunicação. Os impactos na gestão de resíduos são perceptíveis
na medida em que se permite o prolongamento da vida útil dos equipamentos a partir do
uso alternado dos equipamentos em diferentes regiões do planeta.
É fácil entender a importância dos processos de virtualização em alcançar padrões
adequados de sustentabilidade ambiental. A melhoria no consumo de energia e, consequen-
temente, a redução das emissões de carbono durante o ciclo de vida de equipamentos TIC
são os exemplos mais concretos, que refletem a redução da necessidade de energia ao longo
das últimas décadas. De acordo com Dubey e Refley (2011), a estimativa do consumo anual
de CO2 para diferentes equipamentos é apresentada na Tabela 3.1.
42 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Esse projeto foi concebido com o objetivo de agregar valor às partes e peças do equi-
pamento pós-consumo por meio da otimização do tempo e da qualidade da desmontagem.
O produto permite uma desmontagem rápida e com alto grau de separação dos materiais, o
que não é comum nos equipamentos eletroeletrônicos, principalmente naqueles de pequeno
porte ou em placas de circuito impresso, por exemplo.
Por outro lado, uma iniciativa dessa importância não teria muita utilidade se não hou-
vesse a universalização da informação a respeito dos riscos e da necessidade de se des-
cartar adequadamente os equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo. Pensando nisso, a
Comunidade Europeia propôs, por meio de uma diretiva específica, a convenção do desenho
Design e Sustentabilidade na Cadeia de REEE 43
Figura 3.3 Símbolo indicativo da destinação de REEE pela Comunidade Europeia. Fonte:
Elaboração própria.
Figura 3.4 Kit didático operacional a partir de comandos do computador. Fonte: Andrade
et al. (2013).
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Capítulo 4
Resíduos
eletroeletrônicos
e seus aspectos
jurídicos no Brasil
Patrícia Faga Iglecias Lemos, João Múcio Amado Mendes
RESUMO
4.1 Introdução
Dessa forma, o regime jurídico geral dos direitos reais advindo do direito romano
mostra-se insuficiente e inadequado para a atual concepção dos resíduos trazida pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), uma vez que aquele prevê o abandono como uma
das formas de extinção do direito de propriedade, na linha do que se estabelece mesmo
hoje no Código Civil Brasileiro atual (Lei n° 10.406/2002).
Durante a Idade Média, com a expansão do comércio, as cidades cresceram enorme-
mente, o que trouxe uma maior dimensão para o problema dos resíduos, que eram muitas
vezes lançados na rua, de forma indiscriminada. A propósito, esse fato é mencionado como
uma das causas da peste negra na Europa Ocidental, implicando a morte de metade da
sua população em somente quatro anos (ARAGÃO, 2006, p. 72; TCHOBANOGLOUS,
THEISEN, VIGIL, 1993).
Com a Revolução Industrial, a intensificação do processo de urbanização e a explosão
demográfica, os problemas se agravam e os resíduos (e os chamados danos residuais)
passam a ser tratados como um problema de direito de vizinhança (LEMOS, 2012b,
p. 85). No que diz respeito ao uso anormal da propriedade, o Código Civil Brasileiro de
2002 revela preocupação com as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à
saúde dos habitantes de uma determinada área, decorrentes da utilização da propriedade
vizinha, o que certamente contempla a necessidade de cada um colaborar com a adequada
gestão dos resíduos domésticos, inclusive no âmbito das relações de vizinhança.
Contemporaneamente, com a sociedade de massa e a exacerbação do risco, os resíduos
passam a ser vistos também como um complexo problema ambiental, que toma proporções
inéditas e exige adequado enfrentamento, sob pena de comprometer a qualidade de vida e
a sobrevivência de todos na Terra (LEMOS, 2012b, p. 85).
É evidente que um fator imprescindível para a percepção atual dos resíduos como
uma questão socioambiental está associado ao crescimento da população do planeta,
decorrente especialmente da melhoria das condições de vida, inclusive dos alimentos,
o que ocasionou um aumento na expectativa de vida, além dos próprios impactos am-
bientais que os resíduos podem acarretar, afetando a fauna, a flora, a saúde pública e os
recursos naturais em geral (LEMOS, 2012b, p. 85). Assim, a alteração nos padrões de
produção e de consumo e a responsabilidade pós-consumo se tornam essenciais para a
manutenção da vida das presentes e das futuras gerações, notadamente em relação ao
segmento de eletroeletrônicos, frequentemente afetado por práticas de obsolescência
planejada.
sobre o tema, embora a essa época já pudessem ser encontrados julgados interessantes1 de
algumas espécies de resíduos.
Nos termos da PNRS (art. 3°), os “resíduos sólidos” são definidos como “material,
substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a
cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido”, assim como os “gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou
em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível” (inciso XVI), ao passo que os “rejeitos” são tidos
como os “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento
e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada”
(inciso XV).
Com efeito, o ciclo econômico clássico compreendia apenas três fases: a produção,
a distribuição e o consumo dos produtos, sem qualquer referência aos resíduos finais ou
pós-consumo. Vale observar que o problema da visão da res derelictae é justamente a
irresponsabilidade daí decorrente. A coisa abandonada passaria a pertencer ao patrimônio
de ninguém, podendo ser objeto de ocupação como forma de aquisição da propriedade.
Portanto, essa concepção tradicional dos direitos reais, reproduzida mesmo no Código Ci-
vil Brasileiro de 2002 (arts. 1.263 e 1275, III), não pode ser a solução para a situação dos
resíduos na atualidade (LEMOS, 2012b, p. 87).
Nesse sentido, é importante compreender que o resíduo pós-consumo tem natureza jurí-
dica de bem socioambiental. Assim, o reconhecimento de que o meio ambiente é um direito
fundamental de terceira geração ou dimensão demanda uma interpretação atualizadora do
conteúdo do direito de propriedade e da sua função socioambiental (LEMOS, 2012a, p. 99).
Aliás, na VI Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) do Con-
selho de Justiça Federal, realizada em março de 2013 em comemoração aos 10 anos de
vigência do Código Civil, restou aprovado o Enunciado 565, proposto e defendido nesse
evento pela Professora Associada Patrícia Faga Iglecias Lemos, da Faculdade de Direito da
USP, com o seguinte teor: “Não ocorre a perda da propriedade por abandono de resíduos
sólidos, que são considerados bens socioambientais, nos termos da Lei n. 12.305/2012”.
A desejada proteção ambiental não se exaure na tutela de bens singulares componentes
do meio ambiente unitariamente considerado. Deve-se incluir em seu escopo também a
tutela dos chamados bens ambientais difusos, essenciais à manutenção da sadia qualidade de
vida das espécies, pouco importando discutir se consistem em bens de titularidade privada
ou pública. Com isso, pode-se reconhecer a dupla titularidade dos bens socioambientais
(LEMOS, 2012b, p. 85).
1
A respeito da aplicação da responsabilidade pós-consumo decorrente dos resíduos de embalagens plásticas
tipo PET de refrigerantes, por exemplo, vale conferir pioneiro julgado do Tribunal de Justiça do Paraná
(PARANÁ, 2002).
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil 53
Dado o exposto, pode-se perceber que a perda da propriedade via abandono, prevista
desde o direito romano até o Código Civil Brasileiro de 2002, não se compatibiliza com a
noção atual de bens socioambientais, principalmente em matéria de resíduos, cuja disposição
inadequada pode ocasionar diversos efeitos nocivos para o meio ambiente em si e para a
saúde pública (LEMOS, 2012b, p. 88).
Por isso, parece fazer todo o sentido classificar os resíduos como bens socioambientais,
diante de sua relevância para as presentes e futuras gerações, na medida em que geram
responsabilidade pós-consumo para o seu proprietário ou possuidor, devendo ser atendida
a função socioambiental dessa propriedade ou posse. Tal entendimento é respaldado pelo
art. 6°, VIII, da PNRS, ao reconhecer que o resíduo sólido reutilizável e reciclável deve ser
tido “como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor
de cidadania” (LEMOS, 2012b, p. 88).
Ainda segundo Lemos (2012, p. 88), mesmo o rejeito (art. 3°, XV, da PNRS) deverá
ser considerado bem socioambiental, dotado de dupla titularidade, na medida em que não
poderá ser livremente disposto, impondo-se a sua disposição final ambientalmente ade-
quada, consistente na “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas
operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e
a minimizar os impactos ambientais adversos” (art. 3°, VIII, da PNRS).
De acordo com a PNRS, são juridicamente responsáveis todos aqueles que participam
do ciclo de vida, que se inicia com o desenvolvimento e fabricação do produto, e vai até a
destinação adequada do resíduo do produto ou da embalagem, ou, eventualmente, até
a disposição final ambientalmente adequada dos seus rejeitos. Em razão de sua posição
privilegiada no âmbito da cadeia produtiva, os fabricantes de produtos e embalagens de-
vem responder efetivamente pelo ciclo completo desde a fabricação até a disposição final,
agindo preventivamente diante de potenciais danos ambientais decorrentes desses resíduos.
Assim, no caso dos equipamentos eletroeletrônicos, após o período útil haverá o des-
carte. É sabido que esse denominado “lixo eletrônico” (ou e-lixo) prejudica bastante o meio
ambiente e que certamente o destino mais utilizado pela população ainda hoje tem sido o
lixo comum, quando não as vias públicas. Nos termos do art. 14, § 1°, da Lei n° 6.938/1981
(Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), trata-se de hipótese de responsabilidade
objetiva do causador do dano, ou seja, responsabilidade independentemente de culpa, que
não necessariamente demandará a imediata ocorrência do dano (ou de todos os danos),
incidindo mesmo sobre os danos futuros, diante da transtemporalidade de determinados
efeitos nocivos dos resíduos, notadamente, os REEE.
Para a PNRS, a logística reversa é o “instrumento de desenvolvimento econômico e so-
cial caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar
a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
54 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Com a superveniência da PNRS, que estabeleceu normas gerais federais sobre resíduos
sólidos, tem-se que as normas gerais estaduais sobre a matéria, editadas sob a égide da
competência suplementar dos Estados, terão suspensa sua eficácia no que forem contrárias
àquelas estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, em observância ao previsto
no art. 24, § 4°, da Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, é possível que algumas
leis estaduais sejam até mesmo reformuladas, em consonância com os novos preceitos
da PNRS, como aconteceu com a Política Estadual de Resíduos Sólidos de Pernambuco,
acima referida.
Não obstante a existência de algumas leis estaduais e municipais esparsas, bem como
das Resoluções do CONAMA sobre determinados tipos de resíduos, verifica-se que as
obrigações de logística reversa trazidas nesses precedentes regulatórios foram, em geral,
consolidadas e fortalecidas pela PNRS, tornando-se menos suscetíveis a questionamentos
quanto à constitucionalidade formal de leis estaduais ou municipais por eventual usurpação
de competência legislativa ou das próprias Resoluções do CONAMA por alegada violação
do princípio da reserva legal, na medida em que enquanto resoluções não poderiam inovar
na ordem jurídica, prerrogativa esta das leis em sentido estrito.
A PNRS estabelece a responsabilidade compartilhada em relação aos resíduos sólidos
em geral e, relativamente aos bens listados em seu art. 33, institui a sistemática da logís-
tica reversa. Similarmente à Diretiva Europeia n° 2008/98/CE (art. 4°, § 1°), relativa aos
resíduos, a PNRS também prevê, em seu art. 9°, enquanto estratégia de gestão a seguinte
linha de prioridades (a denominada “hierarquia de resíduos”): não geração, redução, reuti-
lização, reciclagem, tratamento dos resíduos e disposição final e ambientalmente adequada
dos rejeitos.
Na Alemanha, por exemplo, há regulamentação específica para o segmento de embala-
gens, a qual obriga os fabricantes e os distribuidores a aceitar a devolução de vasilhames
e embalagens, levando-os a uma recuperação material que independe do sistema público
de eliminação dos resíduos. Por esse motivo, os fabricantes e comerciantes criaram uma
sociedade sem fins lucrativos chamada Duales System Deutschland GmbH (DSD), que
organiza a coleta, a seleção e a valorização dos vasilhames e dos resíduos comerciais.
Existe uma taxa de filiação que permite a identificação pelo ponto verde (grüner Punkt),
bem como o pagamento em função do volume das embalagens, contando esse sistema com
metas fixas (JURAS, ARAÚJO, 2006, p. 125; LEMOS, 2012b, p. 107).
A regulação alemã veio a se tornar bastante exitosa nas medidas de equacionamento
de resíduos sólidos, com o advento da Lei de Minimização e Eliminação de Resíduos, de
1986, que gerou a promulgação de diversos regulamentos protetivos como o de Minimiza
ção de Vasilhames e Embalagens, de 1991. Posteriormente, foi editada a Lei de Economia
de Ciclo Integral e Gestão de Resíduos, em 1994, estabelecendo a responsabilidade do
fabricante por todo o ciclo de vida do produto. Na sequência, tal lei alemã de resíduos veio
a ser substituída pela Gesetz zur Förderung der Kreislaufwirtschaft und Sicherung der
umweltverträglichen Bewirtschaftung von Abfällen (Kreislaufwirtschaftsgesetz - KrWG),
de 24 de fevereiro de 2012.
56 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
2
“a) ‘Equipamentos elétricos e eletrônicos’ ou ‘EEE’, os equipamentos dependentes de corrente elétrica ou de
campos eletromagnéticos para funcionarem corretamente, bem como os equipamentos para geração, transferência e
medição dessas correntes e campos, e concebidos para utilização com uma tensão nominal não superior a 1 000 V
para corrente alterna e 1 500 V para corrente contínua”.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil 59
3
Adotado em 1989 na cidade da Basileia, no âmbito das Nações Unidas, esse tratado internacional conta atualmente
com 179 membros (Partes), dentre eles o Brasil, e reconhece a qualquer Estado o direito de proibir em seu território a
entrada ou disposição de resíduos perigosos provenientes do exterior ou mesmo de outros resíduos, assim como coíbe,
de um modo geral, movimentos transfronteiriços dessa natureza, especialmente em países em desenvolvimento.
60 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Além disso, resta estabelecido nessa Lei paulista que a responsabilidade pela destinação
final do lixo tecnológico será “solidária” entre as empresas produtoras, comercializadoras
ou importadoras de produtos e componentes eletroeletrônicos, o que destoa, de certo modo,
da sistemática da responsabilidade “compartilhada” trazida pela PNRS, que considera atri-
buições “individualizadas e encadeadas” para cada elo da cadeia produtiva, excepcionando
assim o regime geral da solidariedade obrigacional diante do dano ambiental. Em razão
disso, é possível que a referida Lei estadual passe por uma atualização, em conformidade
com as diretrizes dadas pela PNRS.
Já no Espírito Santo, a Lei Estadual n° 9.941, de 29 de novembro de 2012, editada pos-
teriormente à promulgação da PNRS, dispõe sobre normas e procedimentos para a coleta
seletiva, o gerenciamento e a destinação final do “lixo tecnológico”4 no Estado, instituindo
inclusive a obrigatoriedade de pontos de coleta seletiva para produtos e componentes ele-
troeletrônicos, em todos os estabelecimentos comerciais que comercializam, representam
ou fabricam produtos eletroeletrônicos no âmbito estadual.
É interessante notar que, em seu art. 7°, a referida Lei do Estado do Espírito Santo es-
tatui que a destinação final do lixo tecnológico será de responsabilidade “solidária” entre
as empresas que comercializam e as fabricantes que fornecem os produtos para comerciali-
zação no Estado, e que nos casos de produtos importados, a responsabilidade solidária será
atribuída entre a empresa que comercializa e a empresa importadora. Conforme já apontado
em relação à Lei Paulista de Lixo Tecnológico, essa imputação de responsabilidade solidária
aos produtores, comerciantes e importadores também diverge da sistemática da responsabi-
lidade compartilhada estabelecida pela PNRS, merecendo reflexão e eventual atualização.
Na esfera municipal, um exemplo regulatório recente é o da Lei do Lixo Tecnológico
do Município de Manaus (Lei n° 1.705, de 27 de dezembro de 2012), que define lixo tec-
nológico em seu artigo 1°, parágrafo único,5 e estabelece, em seu art. 2°, que as empresas
produtoras, importadoras ou que comercializem tais produtos “deverão apresentar ao órgão
de proteção ambiental municipal, em conjunto ou individualmente, projeto de coleta, reutili-
zação, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente adequados ou mecanismo
de custeio para esse fim”, devendo ser previstos nesses projetos mecanismos eficientes de
4
“Art. 4° Para efeitos desta Lei, consideram-se lixo tecnológico: I - aparelhos eletrodomésticos; II - sistemas
de rede; III - parques de telefonia; IV - equipamentos e componentes eletroeletrônicos de uso doméstico; V
- equipamentos e componentes eletroeletrônicos de uso industrial; VI - equipamentos e componentes eletroele-
trônicos de uso comercial; VII - equipamentos e componentes eletroeletrônicos utilizados no setor de serviços
tais como: a) componentes e periféricos de computadores; b) monitores e televisores; c) acumuladores de energia
(baterias e pilhas); d) produtos magnetizados”.
5
“Parágrafo único. Considera-se lixo tecnológico os resíduos gerados pelo descarte de equipamentos tecnológicos
de uso profissional, doméstico ou pessoal, inclusive suas parte e componentes, especialmente: I – computadores
e seus equipamentos periféricos, tais como monitores de vídeo, telas, displays, impressoras, teclados, mouses,
alto-falantes, drivers, modens, câmeras e outros; II – televisores e outros equipamentos que contenham tubos
de raios catódicos; III – eletrodomésticos e eletroeletrônicos que contenham metais pesadas ou outras subs-
tâncias tóxicas”.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil 61
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chaftung von Abfällen (Kreislaufwirtschaftsgesetz - KrWG), de 24 de fevereiro de 2012. Disponível em:
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mma.gov.br/images/editais_e_chamadas/SRHU/fevereiro_2013/edital_ree_srhu_18122012.pdf>. Acesso
em: 19 fev. 2013.
Resíduos eletroeletrônicos e seus aspectos jurídicos no Brasil 65
RESUMO
5.1 Introdução
canais de venda ao mercado secundário e doação são muito presentes na cultura brasileira.
Além destes fatores, cabe ressaltar que muitos consumidores mantêm seus equipamentos
eletroeletrônicos obsoletos em suas residências por não terem conhecimento de como
destiná-los adequadamente e também por um relativo apego a estes bens.
Diante do exposto, fica evidente a importância da caracterização da função e importância
econômica de cada agente da cadeia no cumprimento dos preceitos legais. A Figura 5.1
apresenta um modelo para a organização da cadeia da logística reversa apresentado na
PNRS, segundo a ótica econômica.
Conforme a Figura 5.1, considerando o fluxo direto, a matéria-prima virgem é enviada
à indústria, após seus processos produtivos serem finalizados, os produtos eletroeletrônicos
são distribuídos por meio dos canais de venda dos comerciantes e distribuidores, aos quais o
consumidor tem acesso. Considerando o fluxo reverso, o qual inicia pelo descarte realizado
pelo consumidor, há duas opções: i) entrega do REEE diretamente a um reciclador e ii)
entrega do REEE nos Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) disponibilizados nos canais
de venda (comerciante e distribuidor). Por meio de ambas as opções o resíduo pode ser
revalorizado, pois após sua triagem e desmontagem, os componentes podem ser separados,
reciclados e voltar ao ciclo produtivo como matéria-prima secundária. Há estudos que
comprovam que, ao adquirir matéria-prima reciclada, as empresas obtêm de 20 a 25% de
economias, ou ganhos econômicos. As Tabelas 5.1 e 5.2 apresentam, respectivamente, a es-
timativa dos benefícios econômicos e ambientais gerados pela reciclagem dos componentes
dos REEEs e os custos dos insumos para produção primária.
Figura 5.1 Organização econômica da cadeia da logística reversa. Fonte: Adaptado a partir
da PNRS.
72 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
TABELA 5.1 Estimativa dos benefícios econômicos e ambientais gerados pela reciclagem.
Benefícios (custos)
Materiais Benefícios relacionados associados à Quantidade
ao processo produtivo gestão de resíduos Benefício disponível Benefício
(R$/t) sólidos (R$/t) por nos resíduos potencial
Benefícios Benefícios Disposi- tonelada coletados total (R$
econômicos ambientais Coleta ção final (R$/t) (t/ano) mil/ano)
Aço 127 74 88 1.014 89.232
Alumínio 2.715 339 2.941 166 488.206
Celulose 330 24 (136) 23 241 6.934 1.671.094
Plástico 1.164 56 1.107 5.263 5.826.141
Vidro 120 11 18 1.110 19.980
Total 8.094.653
Fonte: IPEA (2010).
TABELA 5.2 Custos dos insumos para produção primária, preços de produtos e de sucata.
Materiais Custos da produção Preços de mercado Preços das sucatas
primária (R$/t) dos materiais (R$/t) de material de reciclagem (R$/t)
Aço 552 932 423
Alumínio 6.162 4.725 3.447
Celulose 687 879 356
Plástico 1.790 2.186-3.516 440-750
Vidro 263 1.036 142
Fonte: IBGE (2007b); CEMPRE (2007).
Ainda estabelece o art. 54, § 2°, inciso V desta lei, que é prevista: “pena de reclusão,
de um a cinco anos, para aquele que causar poluição de qualquer natureza, decorrente do
lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias
oleosas”. Além disso, o art. 56 prevê: “pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa para
aquele que produz, processa, embala, importa, exporta, comercializa, fornece, transporta,
armazena, guarda, tem em depósito ou usa produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva
à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em
leis ou nos seus regulamentos e também para aquele que abandona esses produtos ou subs-
tâncias, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança”.
Quanto aos incentivos econômicos, é importante destacar a Lei n° 12.375 de 2010, que
determina que os estabelecimentos industriais farão jus, até 31 de dezembro de 2014, a crédito
presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – na aquisição de resíduos sólidos
utilizados como matérias-primas ou produtos intermediários na fabricação de seus produtos.
Conforme o Art. 6° da referida lei, o crédito presumido desta Lei:
I – será utilizado exclusivamente na dedução do IPI incidente nas saídas dos pro-
dutos que contenham resíduos sólidos em sua composição;
II – não poderá ser aproveitado se o produto que contenha resíduos sólidos em
sua composição sair do estabelecimento industrial com suspensão, isenção ou
imunidade do IPI;
III – somente poderá ser usufruído se os resíduos sólidos forem adquiridos direta-
mente de cooperativa de catadores de materiais recicláveis com número mínimo
de cooperados pessoas físicas definido em ato do Poder Executivo, ficando vedada,
neste caso, a participação de pessoas jurídicas; e
IV – será calculado pelo adquirente mediante a aplicação da alíquota da TIPI a que
estiver sujeito o produto que contenha resíduos sólidos em sua composição sobre o
percentual de até 50% (cinquenta por cento) do valor dos resíduos sólidos constantes
da nota fiscal de aquisição, observado o § 2o do art. 5o desta Lei.
produto sobre o meio ambiente durante toda sua vida. Este tipo de visão sistêmica é
importante para que o planejamento da rede logística envolva todas as etapas do ciclo
do produto.
Infelizmente, muitas empresas ainda veem o fluxo reverso de mercadorias como um
entrave ao processo de negócios, que demanda pessoal, estrutura física e, consequentemente,
aumenta os custos da empresa. Em parte, esse entendimento provém da não utilização de
sistemas contábeis e de tomada de decisão que auxiliem os gestores na evidenciação dos
valores movimentados por esta área. Entretanto, existem retornos econômicos, ecológicos
e de imagem corporativa que o gerenciamento do fluxo reverso pode proporcionar e que
devem ser considerados.
Figura 5.2 Fluxograma do Ciclo do Resíduo Eletroeletrônico. Fonte: E-waste guide (2009).
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos 77
acontece por meio de um consumidor secundário. Nesse caso, apesar de haver a depreciação
esperada do valor do bem, o mesmo não chega a ser considerado um resíduo.
O produto pós-consumo pode atingir o estágio no qual passa a não apresentar possibili-
dade de utilização segundo sua função original e, por este motivo, passa a ser considerado
um resíduo, seguindo para o descarte convencional, quando possível. Nesse estágio, não
havendo restrições, o resíduo é coletado por meio de empresas de limpeza pública, ou seja,
passa a ser propriedade do poder público, Nesse estágio, o produto passa a ter mais valor
agregado como resíduo do que em relação aos benefícios dos aspectos funcionais que um
dia ele possuiu.
Há ainda outras situações nas quais, ainda classificados como resíduos, os materiais
provenientes da desmontagem do produto apresentam valor de mercado. A compra desses
materiais residuais por associações e cooperativas de catadores ou pelas próprias indústrias
da reciclagem representa o estágio de valorização dos destroços, estimulando o processo
de reaproveitamento de materiais residuais.
A Tabela 5.3 mostra os principais componentes existentes nos computadores, sua loca-
lização, o percentual de cada material no computador, o percentual que pode ser reciclado
e o valor de mercado disponível para alguns metais por kg.
Entre os metais citados na Tabela 5.3, alguns são mais valiosos, como ouro, paládio,
platina e prata, oriundos de placas de circuito impresso presente em computadores pessoais,
no entanto o processo para retirada desses materiais não é simples e requer tecnologia e co-
nhecimento apropriados. A maioria das empresas que detém essa tecnologia está localizada
na Europa.
O cálculo do ROI possui diversas metodologias, algumas simples, outras nem tanto.
Cada metodologia varia em função da finalidade ou do enfoque que se deseja dar ao
resultado. A seguir estão algumas das mais conhecidas e facilmente encontradas em livros
de Contabilidade, Economia e Finanças.
j ROI = (Lucro Líquido÷Vendas) × (Vendas÷Total de ativos)
Representa o retorno que o ativo total empregado oferece. Utilizado geralmente para
determinar o retorno que uma empresa dá.
j ROI = Lucro líquido/investimentos
Apesar de que a decisão da adoção da logística reversa não deve se basear somente no
retorno econômico que possa proporcionar, esse constitui um aspecto essencial na análise
de sua implementação. Tal análise deve ser mais sistêmica, ocorrendo em função do retorno
econômico, mas também dos outros tipos de benefícios que gera, principalmente no que
tange ao cumprimento da legislação e geração de uma imagem corporativa positiva no
quesito ambiental.
Para realizar a análise de viabilidade econômica é necessário se utilizar de conceitos
de contabilidade e administração financeira para analisar a composição de custos fixos e
variáveis, das receitas, do capital de giro, da carga tributária, do preço de venda, da margem
de contribuição, da margem de lucratividade, do ponto de equilíbrio, da TIR – taxa
interna de retorno –, da projeção de fluxo de caixa, da análise dos investimentos a serem
realizados em estrutura e equipamentos e da mão de obra direta e indireta a ser empregada.
São vários elementos que devem ser analisados a fim de aumentar a probabilidade de
sucesso de implementação da logística reversa, o que deve ser feito não somente nesse
contexto, mas em qualquer decisão de investimento em uma nova atividade ou processo, pois
a partir do momento que são envolvidos recursos financeiros, o cuidado deve ser redobrado.
Um fator importante a ser considerado quando a empresa opta por implementar ativi-
dades de logística reversa é a necessidade de recursos dedicados a essas atividades, todo o
controle financeiro e econômico para fins gerenciais deve ser feito separadamente do con-
trole de outras atividades foco da empresa. Assim, será possível aos gestores identificar que
parcela de recursos e resultados são aplicados e provém da logística reversa, o que facilitará
a tomada de decisões nesta área.
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos 81
O capital de giro se constitui em um dos principais aspectos que deve ser levado em
conta, neste sentido. Para iniciar qualquer projeto ou atividade são necessários recursos
financeiros para a empresa garantir a dinâmica do seu processo de negócios, no caso da
implementação de projetos de logística reversa deve ocorrer da mesma forma. Esses recursos
precisam de controle permanente, pois têm a função de minimizar o impacto das mudanças
no ambiente de negócios no qual a empresa atua, principalmente quando considerados a
inconstância do volume e qualidade dos resíduos gerados.
O capital de giro é constituído de ativos circulantes, também chamados de ativos
correntes, e representa a quantidade de dinheiro que a empresa utiliza para movimentar seus
negócios. Envolve estoques, dinheiro em caixa e em bancos, financiamentos a clientes por
meio de contas a receber, salários, conta de água, luz etc. O desafio da gestão do capital de
giro em atividades ambientais deve-se, principalmente, à ocorrência dos fatores a seguir:
j variação dos diversos custos absorvidos pela empresa;
j aumento de despesas financeiras, em decorrência das instabilidades do mercado;
j baixo volume de vendas;
j aumento dos índices de inadimplência;
j pagamento das parcelas de possíveis financiamentos;
j baixa entrada de produtos para reciclagem; e
j altos níveis de estoques em determinados períodos.
Além disso, é essencial que a empresa realize um controle orçamentário rígido de
forma a não consumir recursos sem previsão, a fim de evitar a retirada de valores além dos
estipulados, pois no início todo o recurso obtido pela empresa deverá permanecer nela,
possibilitando o crescimento e a expansão do negócio da logística reversa. Geralmente o
nível de capital de giro para o segmento de logística reversa ou atividades que a compõem
seja suficiente para suportar a movimentação operacional em torno de 18 meses, e deve ser
elaborado em relação aos desembolsos que compõem o início das atividades empresariais.
A análise do ponto de equilíbrio também deve ser realizada antes da decisão final de
investimentos em logística reversa. Caso a decisão seja a de investir em uma estrutura física
própria para a logística reversa, é necessário o estudo do volume e qualidade dos resíduos
gerados e, se serão suficientes para cobrir os custos associados ao processo de remanufatura.
Nesse sentido, o ponto de equilíbrio é muito útil, pois representa a quantidade de vendas
que precisa ser realizada mensalmente para gerar receitas suficientes que cubram os custos
variáveis, as despesas comerciais e as despesas fixas que a empresa gerar no período.
Um volume de vendas inferior ao ponto de equilíbrio levará a empresa a ter prejuízo. Um
volume de vendas superior ao ponto de equilíbrio permitirá acumular lucro, um volume de
vendas igual ao ponto de equilíbrio, possibilitará apenas o pagamento de custos e despesas,
o cálculo é simples, a fórmula mais utilizada é:
82 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Despesas fixas
Volume de Vendas
1 − %custo variável + %desp.comerciais + %lucro
100
Por meio deste cálculo, se o percentual referente ao lucro não for considerado, então
o volume de vendas resultante será o valor do ponto de equilíbrio, isto é, o valor mínimo
que terá de vender para não ter prejuízo, mas também nenhum lucro. No entanto, se for
considerado o percentual de lucro, o resultado será o volume de vendas que precisa ser
conseguido para obter a margem de lucro determinada.
Mesmo tendo sido calculado o lucro em cada venda, pode ocorrer que o pagamento das
despesas fixas do período consuma todo este valor e ao final, o resultado da empresa seja
nulo ou negativo. Muitas empresas entram nesta situação por realizar a venda dos produtos
com uma margem de lucro insuficiente, pois não dimensionam exatamente o quanto pos-
suem de obrigações, o que gera ao final do período falta de recursos, ou porque acreditam
que o retorno financeiro e econômico da logística reversa deve ocorrer em curto prazo,
o que definitivamente não acontece.
Todas as decisões que forem tomadas na implementação de programas de logística
reversa terão impacto direto no volume de vendas, no volume de gastos, no preço e, prin-
cipalmente, na lucratividade da empresa e na rentabilidade do seu investimento.
Além disso, para que estes cálculos sejam feitos de forma coerente e acurada, é essencial
que o gestor tenha total conhecimento dos custos variáveis, que são os que se alteram de
acordo com a produção; das despesas fixas, aquelas que não se alteram de acordo com
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos 83
Por meio dessa fórmula é possível verificar qual o prazo em que o investimento reali-
zado na atividade de logística reversa retornará. O resultado será dado em meses. Deve-se
considerar a comparação entre as possibilidades de investimento existentes no mercado, que
possuam uma taxa superior à taxa fornecida pela fórmula anterior. Caso exista, a atividade
passa a não ser viável e deve ser considerada a opção da terceirização.
Esses cálculos podem ser muito úteis na fase inicial e análise da viabilidade de um
projeto de logística reversa, servindo como base para a tomada de decisões no que tange
aos investimentos a serem realizados neste processo. No entanto, caso a empresa opte
84 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Caso seja tomada a decisão por aderir a atividades ou programas de logística reversa,
torna-se necessário registrar e controlar todos os fatos decorrentes. Tais fatos geram impactos
financeiros e econômicos que devem ser mensurados corretamente, de forma a fornecer
informações úteis e confiáveis aos gestores.
Um sistema de informação é um conjunto de dados e técnicas que permitem tratar as
informações de natureza repetitiva com relevância ao mesmo tempo em que minimiza os
custos e ainda fornece condições para, por meio da utilização de informações básicas unidas
a técnicas de Contabilidade, fornecer relatórios para finalidades específicas aos diversos
usuários da informação.
O desenvolvimento e implantação de um sistema integrado do controle de geração e
do retorno de resíduos de pós-consumo possibilitarão à empresa demonstrar com maior
facilidade e segurança, seus processos produtivos relacionados à revalorização e à des-
tinação dos seus resíduos; auxiliar na identificação dos seus ganhos ambientais, legais,
econômicos; e ainda, disponibilizar para seus gestores, clientes, fornecedores, parceiros e
sociedade informações úteis relativas às suas ações nesse sentido.
Esse sistema é capaz de disponibilizar todas as informações relacionadas à geração e
operacionalização do retorno dos resíduos tais como: controles de inventário de resíduos,
investimentos, quantidades geradas, locais geradores, destinação, itens comerciais e não
comerciais, mão de obra, valores gerados pela comercialização, parceiros, segurança legal
e ambiental, e possíveis oportunidades de redução de custos ou ganhos nesse processo.
Ademais, é importante ressaltar que a instalação de processos de logística reversa pode
ter efeitos positivos e negativos no ciclo de caixa das empresas, por isso requer muita
atenção. É necessário que as empresas compreendam que as estratégias de logística reversa
podem gerar fluxos de caixa negativos periodicamente, os quais são difíceis de prever e
contabilizar, no entanto, quando tais estratégias são bem planejadas e executadas, podem
proporcionar retornos monetários consideráveis em longo prazo.
Essa característica de incerteza se dá devido à qualidade, quantidade e variedade dos
resíduos, que são inconstantes e difíceis de prever. Por isso, a estimação de custos opera-
cionais relacionados à logística reversa e as decisões a respeito do retorno dos produtos e
sua coordenação ao longo da cadeia de suprimentos são essenciais.
A implementação de sistemas de contabilidade ambiental possibilita:
j Verificar se a legislação está sendo cumprida;
j Auxiliar os gestores no processo de decisão no estabelecimento de objetivos e políticas
ambientais;
Elementos Econômicos da Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos 85
primentos;
j Descobrir como a empresa pode obter vantagem competitiva devido a melhorias con-
A logística reversa tornou-se um assunto que influencia e ganha cada vez mais espaço
nas discussões e decisões no ambiente empresarial, vários fatores motivaram o crescimento
dessas discussões: a sanção e regulamentação da PNRS; a necessidade de um diferencial
competitivo sustentável em relação à concorrência; os curtos ciclos de vida dos produtos e
a busca constante pelo desenvolvimento sustentável.
Esses fatos também geram inúmeros questionamentos no sentido de se encontrar
formas de tornar a logística reversa, não somente um centro de custos, mas também um
gerador de benefícios econômicos para as empresas que a adotarem. No que tange a
resíduos eletroeletrônicos, esta necessidade se torna ainda mais premente tendo em vista
o alto valor agregado dos seus componentes e os indícios de escassez desses materiais no
meio ambiente.
Após a sanção da PNRS algumas iniciativas vêm sendo tomadas para controlar a
quantidade de resíduos descartada e para, quando possível, revalorizá-los. Dentre elas,
podem ser citadas: a sanção da Lei n° 12.375/2010 que prevê incentivos fiscais para as
empresas que utilizarem materiais provenientes de resíduos sólidos em seus processos; a
publicação do edital n° 01/2013 de chamamento para acordos setoriais para execução da
logística reversa de REEEs e, a aprovação do documento referente ao projeto de norma
03:111.01-009, da ABNT.
Nesse sentido é evidenciado um problema que muitas empresas que optam por adotar
a logística reversa enfrentam: a falta de planejamento financeiro; a falta de formalidade
e registro das operações decorrentes da gestão de resíduos e; a falta da mensuração dos
retornos econômicos gerados por ela. Essa situação pode ser contornada com a utilização
de ferramentas da administração financeira e contabilidade, as quais possibilitam o correto
planejamento e controle financeiro e econômico da logística reversa.
Além disso, tais aspectos se tornam importantes tendo em vista que, de acordo com a
PNRS, as empresas devem, além de cumprir a lei, manter registros e informações acuradas
de todas as práticas ambientais realizadas, de forma a prestar contas ao poder público e à
sociedade referente às suas ações.
86 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
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Capítulo 6
Catadores:
uma reflexão
sobre os aspectos
socioambientais
da gestão de Resíduos
dos Equipamentos
Eletroeletrônicos
Sylmara L.F. Gonçalves Dias, Virginia Rosa Pragana,
Maria Cecilia Loschiavo dos Santos
RESUMO
6.1 Introdução
Nas últimas décadas, a indústria de equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE) tem amplia
do sua produção de modo exponencial, os produtos eletroeletrônicos tornaram-se onipresentes
na vida dos indivíduos em todo o planeta e indispensáveis às mais diversas áreas de atividades
humanas. A popularização dos eletroeletrônicos e a rápida obsolescência dos modelos cria a
necessidade de substituição, que se tornam quase obrigatórias. Entretanto, faltam regras claras
e locais apropriados para a deposição desses equipamentos que, em desuso, vão constituir o
chamado resíduo de equipamento eletroeletrônico (REEE), lixo eletrônico ou e-lixo.
Consideram-se como REEE os resíduos gerados ao final da vida útil de equipamentos como:
televisores, rádios, celulares, eletrodomésticos, equipamentos de informática, vídeos, filmadoras,
ferramentas elétricas, DVDs, lâmpadas fluorescentes, brinquedos eletrônicos, entre outros.
Quando os REEE são dispostos de forma inadequada ou ainda quando desmontados
sem controle, podem ocasionar impactos ambientais, através da contaminação do solo, das
águas superficiais e subterrâneas, representando risco à saúde da população do entorno ou
dos trabalhadores que realizam a reciclagem (WIDMER et al., 2005).
Por causa da urbanização em curso, muitos municípios enfrentam desafios para fornecer
infraestrutura básica para coleta de lixo, reciclagem e reúso aos seus cidadãos. Em muitos
lugares, esses serviços são prestados por um crescente setor informal (NEUWIRTH, 2006;
SASSEN, 1994). Nesse sentido, os REEE tem exercido a função da geração de empregos e
da potencial redução de seus impactos por meio da criação de sistemas de logística reversa
capazes de revalorizar os resíduos e retorná-los a um novo ciclo produtivo.
Destarte, os resíduos antes tidos como indesejados passam a ser considerados materiais
com valor agregado e, portanto, passíveis de geração de renda para comunidades em situação
de vulnerabilidade socioambiental. Trata-se de aspecto de grande relevância às temáticas socio
ambientais, pois se refere à geração de emprego e renda a partir da gestão dos REEE. A esse
respeito, Ongondo et al. (2011), enfatizam a importância da discussão desse tema nos países em
desenvolvimento – onde há grande exposição dos trabalhadores representando riscos à saúde e
ao ambiente, principalmente em países onde há a carência de mecanismos regulamentadores.
No Brasil, os REEE estavam até recentemente numa espécie de vazio regulatório. Entretando,
a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS –, aprovada em 2010, destina-se a
aumentar a cooperação entre os diferentes segmentos da sociedade, como empresas, governos,
consumidores e recicladores (Brasil, 2010). No entanto, as atividades de reciclagem no Brasil
continuam sendo realizadas muitas vezes de modo não estruturado e até na informalidade.
O mercado brasileiro de EEE é considerado o quinto maior do mundo, após China, EUA,
Japão e Rússia, e apresenta uma geração crescente e diversificada. Assim, o crescimento
da indústria de eletroeletrônicos no Brasil aponta também para o aumento das quantidades
de resíduos eletrônicos gerados por habitante por ano no país. Em 2007 estimava-se 2,6kg/
hab/ano de REEE (RODRIGUES, 2007), em 2009 3,3 kg/hab/ano de REEE (FEAM, 2009)
e em 2011 6,4kg/hab/ano de REEE. A projeção para 2015 é de 8kg de resíduos eletrônicos
por habitante por ano (THE WORLD BANK, 2012). Desse modo, a tendência da geração
de e-lixo é crescente ano após ano, tanto no Brasil quanto mundo afora. Esse tipo de resíduo
apresenta um crescimento três vezes maior do que o do lixo comum, uma vez que modelos
novos de celulares, computadores e eletrônicos rapidamente tornam obsoletas suas versões
anteriores.
Os dados de consumo crescente de EEE são contrastantes com a realidade da gestão de
seus resíduos, que compreende a etapa de geração de destroços até a destinação, considerando,
de acordo com a categoria dos resíduos, especificidades inerentes àquelas cadeias produtivas
específicas. Na Figura 6.1 é possível visualizar os aspectos e impactos da produção, consumo
e destinação de REEE.
O lixo eletrônico cresce mais rapidamente que qualquer outro tipo de lixo, devido
ao mercado em expansão e à crescente taxa de obsolescência dos equipamentos ele
trônicos (THE WORL BANK, 2012). Ainda na etapa de geração, ações educativas de
conscientização e divulgação dos impactos do consumo tendem a minimizá-los por
meio de ações que consideram o consumo sustentável, optando, para tanto, por produtos
energo-eficientes, com materiais sustentáveis e, quando plausível, prolongando a ex
tensão da vida útil.
Principalmente por falta da estrutura adequada de coleta e de informação a esse res
peito, o consumidor brasileiro não tem o hábito de dar a destinação adequada a seus REEE
(INVENTTA, 2012). Existem frequentes casos de pessoas e empresas que depositam os
REEE junto ao resíduo comum. Por outro lado, a persistência de uma cultura do reúso faz
com que parte do material eletroeletrônico seja guardado, doado ou vendido.
Figura 6.1 Aspectos e impactos da produção, consumo e destinação de REEE. Fonte: Elaboração
própria.
90 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
j Por conta da contaminação do solo e da água por substâncias presentes nos REEE;
j Pela incineração inapropriada dos plásticos dos REEE, que gera dioxinas e outros
contaminantes.
E as oportunidades econômicas se devem a:
j Presença de componentes e materiais valiosos;
j Novas regulações e responsabilidade estendida ao produtor, demandando a estruturação
da logística reversa dos REEE.
para a gestão dos resíduos eletroeletrônicos, os últimos priorizam ações voltadas para a
inclusão social, tais como o estabelecimento e manutenção de associações e cooperativas
de materiais recicláveis e a capacitação de indivíduos em situação de risco socioambiental.
Nos países em desenvolvimento considera-se a gestão de resíduos como uma signifi
cativa oportunidade de obtenção de recursos a partir da mobilização de mão de obra para
fins de inclusão social. Os grupos de trabalhadores, organizados ou não em associações e
cooperativas, se submetem a condições precárias e insalubres de trabalho. Geralmente são
mal remunerados e não dispõem de condições mínimas de segurança.
O estabelecimento de formas de organização como associações e cooperativas de
catadores representou grandes avanços na organização do trabalho, principalmente nos
países em desenvolvimento, cuja mão de obra que se dedica a coleta e triagem de resíduos
tem aumentado com o passar do tempo, principalmente como ocupação informal (WILSON
et al, 2006; BESIOU, 2012). De acordo com Medina (2007), a China possui um número
expressivo de pessoas alocadas na cadeia da reciclagem (Gráfico 6.1).
As condições de coleta de resíduos em diferentes partes do mundo têm levantado a
questão do que constitui métodos inclusivo e exclusivo na gestão de resíduos sólidos.
Em um recente seminário patrocinado pela Kagad Kach Patra Kashtakari Panchayat
(KKPKP, 2012), uma união internacional de catadores, trabalhadores de diferentes partes
do mundo foram convidados a explicar através de esboços os mecanismos pelos quais eles
realizam atividades de gestão de resíduos em suas cidades. Os desenhos mostrados nas
Figuras 6.2 e 6.3 sintetizam a complexidade dos processos e, ao mesmo tempo, destacam
as características específicas das regiões onde vivem.
nesses países que a atividade de coleta e triagem de resíduos constitui a força motriz da
indústria da reciclagem. No entanto, o estado atual da regulamentação ambiental não parece
muito alinhado com esta noção. Na maioria dos países não se verifica aderência entre as
políticas preconizadas e os modelos de gestão focados na saúde e segurança do trabalho,
principalmente para os trabalhadores da cadeia dos resíduos eletroeletrônicos.
Por outro lado, nos países desenvolvidos, encontram-se estabelecidos padrões para o
desempenho das atividades da cadeia de reciclagem fortemente amparados nas diretrizes de
sustentabilidade ambiental. A esse respeito, as normas europeias estão organizadas em metas
escalonadas de coleta e reciclagem de resíduos eletroeletrônicos. Nesses países, a gestão
de resíduos eletroeletrônicos é desenvolvida a partir da atuação de empresas privadas em
consórcio com a municipalidade. A prática da coleta seletiva ou retorno para os produtores,
segundo proposto pelo conceito da responsabilidade estendida, são ações que contribuem
significativamente para a eficiência do processo. Dessa forma, a prática de coleta e catação
a partir da atuação de catadores é praticamente inexistente.
Figura 6.4 Quantidades / Percentuais de municípios por região em que existem iniciativas
de coleta seletiva. Fonte: ABRELPE, 2011.
produtiva fora de sua governança (SANTOS et al, 2011). De outro lado, a atividade realizada
por esses trabalhadores nos processos de manejo dos resíduos sólidos urbanos é de grande
importância na colaboração no processo de limpeza pública; diminuição do volume dos
resíduos; ampliação da vida dos produtos e dos materiais; redução do custo de operação
de aterros sanitários; reintrodução dos materiais na produção e na redução de consumo de
matérias-primas, além de promover a inclusão social e a geração de renda para os catadores
(SANTOS; GONÇALVES-DIAS, 2011). A Tabela 6.3 apresenta um resumo dos marcos
na história dos catadores no país.
Em 2010, o governo federal aprovou a lei nacional de resíduos sólidos, reconhecendo
pela primeira vez o trabalho dos catadores, e exigindo das cidades e empresas privadas a
parceria com as cooperativas e associações de catadores no sistema de gestão dos resíduos
sólidos (Brasil, 2010). Embora a lei ofereça novas oportunidades para as cooperativas,
também traz novos desafios, colocando-as sob pressão para formalizar, capacitar e profis
sionalizar todos os seus associados e cooperados, enquanto enfrenta crescente concorrência
de empresas privadas envolvidas com coleta, triagem e reciclagem dos resíduos sólidos
urbanos.
A inclusão social dos catadores na cadeia da reciclagem vem sendo objeto de uma
série de medidas indutoras na forma de leis, decretos e instruções normativas de fomento à
atividade de catação. Como exemplos de ações federais voltadas aos catadores de materiais
recicláveis, IPEA (2012) cita:
j Destinação de mais de 280 milhões de reais para ações voltadas aos catadores de
materiais recicláveis entre 2003 e 2010.
j Constituição do Comitê Interministerial de Inclusão dos Catadores de Materiais Reci
De acordo com dados recentes (IPEA, 2012), no Brasil há cerca de 600 mil catadores
de recicláveis, dos quais apenas 10% são organizados em cooperativas ou associações.
Cerca de 60% das cooperativas apresentam baixos níveis de eficiência. Cerca de 60% das
83 organizações coletivas de catadores pesquisadas por Damásio (2010) estão nos níveis
mais baixos de eficiência.1 As volumosas quantidades de REEE gerados no Brasil neces
sitam de cooperativas, com produção em grande escala.
Destarte, as cooperativas e associações existentes no país apresentam alto grau de
heterogeneidade com variados níveis de organização e eficiência na coleta, triagem, limpeza
e acondicionamento dos materiais (IPEA, 2010). É importante ressaltar que 72% dos
catadores associados ao MNCR em 2005, estavam na pior situação, ou seja, são catadores
desorganizados que trabalham nas ruas ou lixões.
Segundo estudo realizado pelo IPEA (2010), a atividade enfrenta diversos entraves,
além das condições de trabalho muitas vezes precárias, como a ação dos atravessadores,
comerciantes e deposeiros; a postura de empresas terceirizadas na coleta de lixo urbano; o
desconhecimento e desconfiança sobre a atuação dos catadores e pela interferência institu
cional negativa de algumas prefeituras. A Tabela 6.4 apresenta um sumário desses entraves.
O reconhecimento dos obstáculos aos aumentos de produção e produtividade e as suges
tões de melhorias podem ser orientadas pelos diagnósticos das condições de trabalho e de
funcionamento das associações ou cooperativas de catadores (LIMA, OLIVEIRA, 2008).
São poucos os estudos qualitativos e quantitativos que descrevem os riscos ocupacionais
a produtos químicos associados às instalações de tratamento de resíduos eletroeletrônicos
(MJ & Associates, 2004). O estudo Screening level human health and ecological risk as-
sessment for generic e-waste processing facility (MJC & Associates, 2004) indicava os
possíveis riscos relacionados às etapas que objetivam a recuperação de materiais:
1. Recebimento: os riscos na área de recebimento dos REEE são numerosos e de diferentes
tipos. Os resíduos podem chegar às instalações de triagem em paletes, enrolados em
vinil ou em caixotes. Os trabalhadores realizam o descarregamento e rasgam os plás
ticos para identificar os produtos. Trata-se de uma tarefa manual que exige diferentes
tipos de esforços; além disso, há peças soltas que apresentam riscos ergonômicos. Outro
problema seria o empilhamento de caixas que podem cair e ocasionar risco de lesão e
exposição a substâncias perigosas.
2. Seleção e classificação dos equipamentos: passo importante, pois, a identificação das
diferentes origens dos componentes (residências, escritórios, laboratórios) contribui
para reduzir a exposição ocupacional no geral. A utilização de aparelhos que permitam
identificar alguns perigos, exemplo: a radioatividade, pelo uso do aparelho Geiger,
ajuda a reduzir a exposição aos riscos ocupacionais. É nesta etapa em que as decisões
são tomadas quanto aos destinos dos equipamentos. Os componentes testados e em
1
As respectivas classes de eficiência (alta, média, baixa e baixíssima) têm as seguintes participações percentuais
14%, 27%, 35% e 24% das organizações coletivas e 16%, 24%, 43% e 17% dos catadores. Dados adaptados
de PANGEA (Damásio, 2010), em amostra intencional com 83 organizações e 3.846 catadores.
102 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
condições adequadas para a reutilização são separados para revenda ou utilizados para
montar outros equipamentos. Esse procedimento implica em melhorias ambientais, pois
diminuem a quantidade de resíduos finais destinados aos aterros evitando que substâncias
perigosas dos componentes sejam alocadas no solo, ar ou água.
3. Teste e seleção: forma como são manejados os equipamentos e partes, identificam se alguns
riscos podem estar associados à etapa inicial da coleta do produto. O teste dos equipamentos
requer alguns cuidados dos trabalhadores em relação aos riscos que podem ocorrer com a
eletricidade, com o superaquecimento de componentes e a liberação de fumaças.
4. Desmontagem: é a partir da desmontagem que a exposição aos riscos aumenta, nesta
etapa, bem como na trituração e separação por materiais, pode ocorrer o contato direto do
trabalhador com algumas partes e componentes contendo substâncias perigosas, além da
possibilidade desses elementos perigosos atingirem o ambiente. Na desmontagem manual,
os trabalhadores estão sujeitos a alguns riscos, no caso dos computadores, as poeiras das
substâncias perigosas como os retardantes de chamas bromados (PBB e PBBE) podem
ser liberados na quebra da carcaça do monitor para retirada do tubo de imagem e inalados
pelos operadores. Outros objetos manuseados como fax, impressoras e fotocopiadoras
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais... 103
O atual programa de coleta seletiva da cidade de São Paulo foi criado em 2002 e
pretendia, inicialmente, incorporar parte dos catadores, sendo os recicláveis obtidos através
das modalidades porta a porta e dos PEVs – Pontos de Entrega Voluntários –, sendo encami
nhados para as centrais de triagem. Posteriormente, o Programa de Coleta Seletiva Solidária
da Prefeitura de São Paulo foi regulamentado pelo Decreto n° 48.799 de 09 de outubro de
2007 e conta atualmente com 21 cooperativas conveniadas e cerca de 1.200 pessoas sendo
empregadas nas mesmas. São contemplados com a Coleta de Materiais Recicláveis 75, dos
96 distritos existentes no Município de São Paulo (PMSP, 2012).
Como equipamentos da Coleta Seletiva, estão instalados 3.811 PEVs (Pontos de Entrega
Voluntários) em bancos, supermercados, escolas – municipais, estaduais e particulares –,
universidades e condomínios. Foi coletado, no ano de 2009, cerca de 120 toneladas por dia
de resíduos domiciliares (PMSP, 2012). A partir de convênios firmados com prefeituras e
grandes empresas as cooperativas são capazes de receber uma quantidade maior de resíduos
e negociar melhor sua venda. Os benefícios oferecidos pelas prefeituras às organizações
de catadores variam e não chegam a remunerá-las pelo trabalho realizado (GONÇALVES-
DIAS; SANTOS; 2012).
Atualmente, no município de São Paulo, não existe um sistema de coleta específico
para os REEE. Por ausência de legislação específica e locais adequados para destino desse
tipo de resíduo, as centrais de triagem (CT) e as cooperativas de catadores têm sido locais
receptores de materiais, já que possuem alguns componentes com valor econômico agrega
do. Considerando que o manejo e o destino inadequado desses resíduos representam risco
à saúde ocupacional e ambiental, é importante conhecer em que condições estão ocorrendo
o desmonte e o beneficiamento desses materiais.
Em pesquisa realizada nas centrais de triagem mantidas pela Prefeitura de São Paulo
(GUNTHER et al, 2012; LACERDA; PRAGANA, 2010), verificou-se que elas não es
tavam preparadas para a realização da recepção, armazenamento e desmontagem de REEE
de maneira adequada, expondo, dessa forma, os trabalhadores e o meio ambiente à riscos.
Sendo assim, o presente projeto de estudo pretende elaborar uma análise comparativa de
duas centrais de triagem em relação à problemática de recebimento e beneficiamento
de REEE no município de São Paulo, com base na Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010.
Esse programa possuía em 2010, ano que foram realizadas as visitas, 18 Centrais de Triagem
e atendia a 74 dos 96 distritos municipais, através da coleta seletiva e encaminhamento dos
recicláveis a 16 Centrais de Triagem (CT), operadas por cooperativas de catadores. No ano de
2009, foi coletado um volume médio de 120 toneladas por dia através do programa.
Dos 16 Centros de Triagem (CT) foram visitados 15 no município de São Paulo. Dentre
esses, 14 recebiam resíduos eletroeletrônicos e havia um que operava exclusivamente com
esse tipo de material. Nesse CT todos os funcionários eram capacitados para trabalhar
com REEE, conseguindo obter maior valor agregado e fazer gerenciamento e destinação
Catadores: uma reflexão sobre os aspectos socioambientais... 105
adequados. Além disso, passaram por treinamento acerca do correto manejo e dos riscos
ocupacionais de suas funções, caracterizando-se um caso diferenciado. Já nos demais CTs
o quadro encontrado foi mais homogêneo.
Os REEE recebidos nos Centros de Triagem do município eram provenientes da coleta
seletiva realizada por empresas contratadas pela Prefeitura Municipal de São Paulo através
das modalidades de coleta porta a porta domiciliar, Postos de Entrega Voluntária (PEV)
e coleta programada em condomínios, estabelecimentos comerciais, industriais, bancos
e outros. As próprias cooperativas, administradoras dos CTs, também buscavam esses
materiais diretamente em condomínios, estabelecimentos, entre outros, e relataram que
nesse caso a qualidade do material era superior, pois os mesmos chegavam sem quebrar e
sem a presença de material orgânico (o que ocorria no outro caso devido ao uso de cami
nhões compactadores).
No contexto do caso estudado foi possível observar que os cooperados que manejavam
os REEE não possuíam treinamento para realização de forma adequada, totalizando 64%
das cooperativas, ou seja, nove cooperativas não receberam nenhum tipo de treinamento.
Sendo que em apenas metade das cooperativas visitadas os cooperativados já possuíam
alguma experiência anterior no manejo desse tipo de resíduo.
No que concerne ao uso de EPIs – Equipamentos de Proteção Individual –, o quadro
encontrado na ocasião do estudo pode ser sintetizado pelo gráfico abaixo, apenas res
saltando que as luvas foram o único EPI utilizado em todos os CTs para manejo dos REEE
(Gráfico 6.2).
Após o beneficiamento, os equipamentos e componentes que não eram reaproveitados
se tornavam rejeito, por não possuírem valor comercial, tais como: os Monitores CTR, as
Gráfico 6.3 Destinos dos REEE após segregação. Fonte: LACERDA; PRAGANA, 2010.
A luta dos catadores por melhores condições de vida e trabalho e a gradativa incor
poração dessa questão em políticas públicas abrange muitos desafios, uma vez que a
gestão dos resíduos sólidos envolve diversos atores com interesses distintos (PEREIRA
e TEIXEIRA, 2011). A relevância do trabalho realizado por esses trabalhadores se torna
ainda maior com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), já que os
mesmos são reconhecidos como atores prioritários no programa de gestão compartilhada
de resíduos sólidos dos municípios do Brasil (SANTOS; GONÇALVES-DIAS, 2011).
108 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Tal problema envolve muitas dimensões que excedem o âmbito deste capitulo, mas
acredita-se que para melhorar as condições de trabalho nas cooperativas é preciso in
tegrar ações de implantação de coleta seletiva, criação e organização das cooperativas de
catadores, mobilização da população e organização da rotina de produção e da autogestão
do empreendimento cooperativado.
Inegavelmente, a PNRS e sua regulamentação trazem grandes desafios aos catadores
de materiais reciclados, que precisarão mudar os modelos de gestão dos REEE atualmente
adotados. Pereira Neto (2011) recomenda criar um fórum de discussão em nível municipal,
regional e estadual para ações de capacitação, organização administrativa e operacional,
saúde e segurança dos cooperativados, adequações de infraestrutura, aquisição de equipa
mentos, inovação tecnológica e elaboração de projetos para obtenção de financiamentos
são medidas fundamentais para o aperfeiçoamento e o sucesso das cooperativas no manejo,
desmontagem e comercialização dos REEE.
Enfim, adotar um novo modelo administrativo e operacional passará a exigir dos catado
res e de suas cooperativas uma visão empreendedora para o sistema de gestão de resíduos
sólidos, que se pretende estabelecer no Brasil pela PNRS.
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Capítulo 7
Os impactos
dos resíduos
de equipamentos
eletroeletrônicos
na saúde
Nelson Gouveia, Mariana Maleronka Ferron, Rúbia Kuno
RESUMO
7.1 Introdução
De modo geral, esses produtos podem conter mais de mil substâncias diferentes, sendo
algumas de grande valor econômico, como ouro, prata e platina, e outras com potencial de
dano ao meio ambiente e à saúde humana, a exemplo dos metais pesados como antimônio
(Sb), arsênio (As), cádmio (Cd), chumbo (Pb), níquel (Ni), mercúrio (Hg) e zinco (Zn),
que podem ocasionar inúmeros efeitos adversos sobre a saúde (WIDMER et al., 2005;
UNEP, 2009).
As formas de destinação adequada desses resíduos são pouco conhecidas e mais com-
plexas do que a destinação do lixo comum (SEPA, 2011). Dada a insuficiência nos proces-
sos de coleta e reciclagem, boa parte dessas substâncias é descartada no meio ambiente
de maneira imprópria ou gerenciada de modo inadequado (Figura 7.1). Com a destinação
inadequada desse material, começaram a surgir casos de contaminação humana decorrentes
da exposição a altas concentrações de metais pesados e outras substâncias presentes nesses
equipamentos. Assim, os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) ganharam
destaque dentre os resíduos considerados perigosos e vêm exigindo um plano de gestão
que priorize sua destinação adequada (ANDRADE-LIMA, 2012).
As abordagens dos aspectos relativos à saúde e segurança são significativamente dife-
rentes entre os diferentes setores que compõem a destinação dos REEE. De maneira geral,
durante o processo usual de produção e manutenção, busca-se propor mecanismos de se
evitar a ocorrência de choques elétricos durante o manuseio do material, bem como a inalação
de óxidos de chumbo durante as operações de solda e ainda poeira de toner de impressão.
Nas fases de coleta e reciclagem, por exemplo, o risco está diretamente relacionado ao
manuseio de equipamentos pesados, cortantes e infecciosos a partir de determinadas peças
ou componentes. Há ainda nessas fases a exposição aos riscos inerentes ao transporte, bem
como exposição a substâncias perigosas durante o processo de reciclagem (por exemplo,
dioxinas e furanos durante a queima de resinas plásticas e metais pesados durante a abertura
de monitores do tipo CRT).
Apesar da profissão de catador ser reconhecida, nomeada e classificada na Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), por meio da Portaria n° 397 de 9 de outubro de 2002, do
Ministério do Trabalho e Emprego, ainda não há documentação e regulamentação a res-
peito do número de horas que um trabalhador poderia atuar na coleta e processamento de
resíduos eletroeletrônicos, considerando-se o potencial de dano dos produtos e materiais
envolvidos nessas atividades.
O catador de material reciclável é registrado sob o código 5192-5 e tem como definição
de sua função:
Formação e experiência
Acesso ao trabalho é livre, sem exigência de escolaridade ou formação profissional. As
cooperativas de trabalhadores ministram vários tipos de treinamento a seus cooperados,
tais como cursos de segurança no trabalho, meio ambiente, dentre outros.
Condições gerais de exercício
Trabalho é exercido por profissionais que se organizam de forma autônoma ou em coo-
perativas. Trabalham para venda de materiais a empresas ou cooperativas de reciclagem. O
trabalho é exercido a céu aberto, em horários variados. O trabalhador é exposto a variações
climáticas, a riscos de acidente na manipulação do material, a acidentes de trânsito e, muitas
vezes, à violência urbana. Nas cooperativas surgem especializações do trabalho que tendem
a aumentar o número de postos, como os de separador, triador e enfardador de sucatas.
A Figura 7.1 ilustra uma situação bastante típica a respeito da destinação dos resí-
duos tecnológicos. O desconhecimento a respeito dos riscos envolvidos no acondiciona-
mento e manipulação dessa categoria de materiais tende a resultar na contaminação do
ambiente e da saúde humana.
Figura 7.1 Detalhe de REEE na cooperativa Avemare em junho de 2011. Fonte: Nelson
Gouveia, 2011.
conexão, cabos, infraestruturas de redes até aparelhos portáteis digitais, telefones celulares
e brinquedos (SEPA, 2011; DEL GROSSI, 2011).
O desenvolvimento tecnológico faz com que a vida útil desses produtos seja cada vez mais
curta. Estima-se que o tempo de vida médio de um computador seja de 3 a 4 anos e o de um
celular de 1 a 1,5 ano (DEL GROSSI, 2011). Assim, o lixo eletrônico é atualmente o que mais
cresce no fluxo de resíduos sólidos urbanos e equivale a cerca de 20-50 milhões de toneladas por
ano no mundo, sendo os EUA, Europa Ocidental, China, Japão e Austrália os maiores produtores
(SEPA, 2011; CHEN et al., 2011). Essa grande quantidade, somada aos componentes tóxicos
presentes nesses resíduos, torna os REEE uma ameaça ambiental global.
Apesar da Convenção da Basileia (1992) regular a movimentação de resíduos perigosos
entre os países, quantidades significativas de REEE são exportadas de países mais ricos
para aqueles ainda em desenvolvimento (LA DOU AND LOVEGROVE, 2008). Isso ocorre
porque a reciclagem de REEE tem potencial econômico atrativo, uma vez que é possível
recuperar ouro, prata, cobre, zinco, ferro, estanho e outros metais com valor significante
(HUO et al., 2007; WONG et al., 2007). Além disso, o custo do trabalho nos países em
desenvolvimento é geralmente menor e as legislações específicas, ambiental e de proteção
ao trabalhador, menos rigorosas (UNEP, 2009; SEPÚLVEDA et al., 2010).
Isso fez com que surgissem nesses países indústrias de reciclagem para dar conta do
rápido crescimento no fluxo de REEE. Entretanto, alguns materiais possuem composição
complexa, a qual demanda tecnologias de alto custo para a extração adequada dos com-
ponentes de valor econômico. Nesses casos, a recuperação de alguns componentes pode
significar a perda de outros, ou envolver métodos ambientalmente inadequados e inseguros,
o que torna, muitas vezes, essa atividade não rentável. Assim, surgiram também empresas
recicladoras que utilizam tecnologias impróprias decorrentes da falta de recurso financeiro
e “know-how” para o emprego de tecnologias mais sustentáveis (idem ibidem).
O Brasil figura – ao lado de Colômbia, Quênia, México, Marrocos, Peru, Senegal, África
do Sul e Uganda – entre os principais países em desenvolvimento que reciclam REEE em
pequena escala, utilizando tecnologias primitivas (UNEP, 2009). Essa prática faz com que
as substâncias tóxicas presentes nos REEE contaminem o ar, poeira, solo e água (OGUN-
SEITAN et al., 2009; WONG et al., 2007) e, consequentemente, afetem a saúde humana.
Na Tabela 7.1 estão descritos os tipos de componentes que podem ser encontrados
na maioria dos equipamentos eletroeletrônicos, e os principais agentes tóxicos presentes
nesses componentes. Na Tabela 7.2 estão listados os principais efeitos à saúde relacionados
às substâncias potencialmente contaminantes descritas na tabela anterior. Levando-se
em conta que a gama de diferentes itens presentes nos EEE é muito grande, a lista não é
exaustiva, nem completa, apresentando os mais comuns e que podem conter substâncias
potencialmente perigosas à saúde.
Diversas substâncias presentes nos REEE têm importante ação neurotóxica, como
o chumbo, cádmio, mercúrio, e poluentes orgânicos persistentes, como as Bifenilas
policloradas (PCBs), Bifenilas polibromadas (PBB), Difenil éteres polibromados (PBDEs)
e Dioxinas e Furanos (Tabela 7.3). Os grupos humanos mais suscetíveis aos efeitos neu-
rotóxicos desses contaminantes são idosos, doentes crônicos, crianças e fetos. Estes são
118 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
TABELA 7.1 Elementos tóxicos presentes nos módulos básicos dos equipamentos
eletroeletrônicos.
Componentes Aplicações Elementos potencialmente perigosos
Placas Utilizadas em quase todos os EEE, desde Chumbo (Pb) e antimônio (Sb) em ligas,
de circuito geladeiras modernas até computadores cádmio (Cd) em contatos e interruptores,
interno mercúrio (Hg) em interruptores e relés,
retardantes de chama bromados
Baterias EEE portáteis Níquel e Cd em baterias Ni-Cd, Pb em
baterias chumbo-ácidas, mercúrio
em baterias de Hg
Componentes Termostatos, sensores, relês, interruptores, Mercúrio (Hg)
contendo lâmpadas, equipamentos médicos,
mercúrio equipamentos de telecomunicação
Tubos de Raios TVs antigas, monitores antigos, Pb, Sb, Cd no vidro
Catóticos osciloscópio
Cabos, cordões Diversos Cd, cobre (Cu), plástico, PVC (cloreto de po-
e fios livinila), Retardantes de chama bromados
Visor de cristal Diversos Cerca de 20 substâncias distintas
líquido (LCDs)
Circuitos Aparelhos antigos de ar condicionado, Clorofluorcarbonos (CFCs)
de refrigeração freezers, geladeiras
Cartuchos Impressoras, aparelhos de fax, copiadoras Poeira de carbono e negro de fumo, mate-
de tinta rial produzido a partir da combustão incom-
pleta de derivados pesados de petróleo
Fonte: SEPA, 2011; ANDRADE-LIMA, 2012.
TABELA 7.2 Efeitos das substâncias tóxicas, presentes nos REEE, em seres humanos.
Substância Via de contaminação Efeito
Cádmio Manuseio Dermatite
Inalação e ingestão de alimento Disfunção renal, comprometimento
e água contaminada pulmonar, nos ossos e no fígado.
Chumbo Ingestão de alimento e água Disfunção renal, anemia, alterações no sis-
contaminada, inalação e manuseio tema nervoso e reprodutivo, alterações no
fígado e aumento da pressão sanguínea
Cristal líquido Manipulação Dermatite
CFCs - Destrói a camada de ozônio, causando
efeitos indiretos ao ser humano
Mercúrio Ingestão de alimentos, como pei- Lesões renais, alterações neurológicas,
xes e crustáceos contaminados, alterações no sistema digestivo
inalação e manuseio
Níquel Manipulação Dermatite
Ingestão de água e alimentos Alterações no sistema digestivo
contaminados
Inalação de poeira contendo Alteração de células sanguíneas, alterações
este metal renais e comprometimento pulmonar
(Continua)
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde 119
TABELA 7.2 Efeitos das substâncias tóxicas, presentes nos REEE, em seres humanos (cont.).
Substância Via de contaminação Efeito
Poeira de carbono Inalação de poeira Comprometimento pulmonar
e negro de fumo
PVC Manipulação Dermatite
Inalação de dioxinas e furanos Alterações no aparelho reprodutivo
decorrentes de incineração e no sistema linfático, ação teratogênica
e carcinogênica
Retardantes de Manipulação Diversos efeitos em animais que ainda
chama bromados estão em avaliação para seres humanos
foram observados em exposições crônicas,
entre eles efeitos neurotóxicos, no sistema
endócrino e imunológico
Inalação Inalação de dioxinas e furanos decorrentes
de incineração
Antimônio Manipulação Dermatite
Inalação de poeira contendo esse Irritação do trato respiratório e substância
metal potencialmente carcinogênica
Fonte: ANDRADE-LIMA, 2012.
7.3.1 Aterros
Como os demais resíduos sólidos produzidos em áreas urbanas, a maior parte dos REEE
é depositada em aterros (ROBINSON, 2009). Nos EUA, por exemplo, foram gerados cerca
de 2,3 milhões de toneladas de REEE em 2007, sendo que apenas 18,4% foram coletados
para reciclagem. O restante foi, provavelmente, encaminhado para aterros (USEPA, 2008).
Estima-se que cerca de 70% dos metais pesados (mercúrio e cádmio) e 40% do chumbo
122 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
7.3.2 Incineração
Apesar de ainda pouco utilizada no Brasil, a incineração vem sendo apontada como im-
portante destinação final para os resíduos sólidos urbanos, principalmente quando acoplada à
recuperação energética. Nos EUA, cerca de 2% de todo o REEE é enviado para incineração
(USEPA, 2008). Entretanto, a incineração de resíduos contendo material eletroeletrônico
também traz riscos à saúde, uma vez que produz quantidades variadas de substâncias tóxicas,
como gases, partículas, metais pesados, compostos orgânicos, dioxinas e furanos emitidos
diretamente na atmosfera (WHO, 2007; SEPA, 2011; LI et al., 2007). Por exemplo, as partes
plásticas desses equipamentos podem conter substâncias como retardantes de chama,
as quais, ao serem submetidas à incineração, liberam dioxinas e furanos (WIDMER, 2005;
LI et al., 2007). Pode haver também a emissão de partículas e outros poluentes atmosféricos,
principalmente quando a incineração de dejetos ocorre sem o uso de equipamentos de
Os impactos dos resíduos de equipamentos eletroeletrônicos na saúde 123
7.3.2.1 Reciclagem
Existe consenso de que a reciclagem e o reaproveitamento de materiais como matéria-
prima para um novo produto são atividades benéficas para o meio ambiente. O processo
de reciclagem é muito importante para reaproveitar as substâncias de valor existentes na
composição dos REEE: uma tonelada de computador descartado contém mais ouro do que
17 toneladas métricas de minério de ferro, além de apresentar níveis mais baixos de elemen-
tos nocivos comuns à mineração, tais como o arsênio, mercúrio e enxofre (USGS, 2001).
Porém, os subprodutos tóxicos gerados a partir do processo de reciclagem dos equipamentos
eletroeletrônicos podem afetar direta ou indiretamente a saúde e o meio ambiente, colocando
também em risco os trabalhadores da reciclagem.
O processo de reciclagem é similar para a maioria dos equipamentos eletroeletrônicos,
apresentando, de modo geral as seguintes etapas (UNEP, 2009; EEA, 2002):
j Desmontagem: ocorre a remoção de componentes que possuem substâncias perigosas
como chumbo, mercúrio, CFC (cloroflúorcarbono), e a remoção das partes que apre-
sentam substâncias de valor, como cobre, aço, ferro e metais preciosos. Nessa etapa,
existe risco de contaminação do meio ambiente e do trabalhador, pois a armazenagem
inadequada e erro durante a desmontagem podem liberar líquidos e gases tóxicos. Além
disso, há o impacto que pode advir da poeira, contendo substâncias tóxicas, produzida
no processo de desmanche e desmontagem dos produtos.
j Segregação de metais ferrosos, não ferrosos e plásticos: ocorre geralmente no processo
em fornos elétricos, os não ferrosos são derretidos e os metais preciosos passam por
124 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
para os REEE. Para evitar, ou pelo menos minimizar, possíveis danos ao meio ambiente e
a saúde humana, é fundamental que sejam desenvolvidas medidas e ações que objetivem
prevenir a geração desse tipo de resíduo, assim como desenvolver, aprimorar e operacio-
nalizar tecnologias apropriadas para seu tratamento.
A prevenção passa pela necessidade de uma mudança cultural e comportamental da
sociedade, em direção à revisão de nossos padrões de produção e consumo. Devemos estar
atentos à possibilidade de o consumo estar apenas servindo para reafirmar nossa identidade
ou para preencher necessidades meramente existenciais. Além disso, é importante também
minimizar a quantidade e a periculosidade dos resíduos produzidos, seja pela fabricação de
produtos de maior durabilidade, fáceis de consertar e reciclar, seja pela redução do teor
de substâncias perigosas presentes nos produtos (SEPA, 2011).
Por fim, deve-se reforçar o reaproveitamento ou a reutilização de materiais presentes
nesses produtos, pois, além de evitar a eliminação dos mesmos no meio ambiente, há grande
economia no uso de recursos naturais, minimizando o impacto ambiental de sua extração
da natureza. Como consequência direta desses processos, haverá diminuição na emissão
de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global, o que trará benefícios
secundários à saúde humana.
Quanto ao tratamento dos resíduos gerados, deve-se procurar aprimorar as técnicas
atualmente existentes de reciclagem de tais produtos, assim como buscar minimizar a
disposição final dos rejeitos. Além de trazer benefícios diretos pela economia de recursos
naturais, reciclagem de REEE tem sido utilizada nos países em desenvolvimento como forma
de inclusão social, seja pela geração de renda direta para cooperativas de trabalhadores,
seja pelo desenvolvimento de projetos sociais com a reutilização desses produtos. Portanto,
a incineração e a disposição final em aterros devem ser as últimas opções de destinação dos
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.
O objetivo final deve ser assegurar que as quantidades de resíduo eletroeletrônico gerado
sejam minimizadas, e que o resíduo gerado seja reciclado e descartado de maneira a mais
adequada, para reduzir impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.
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Capítulo 8
Tecnologias
de tratamento
para resíduos
de equipamentos
eletroeletrônicos
Viviane Tavares de Moraes, Denise Crocce Romano Espinosa,
Luciana Lopes Lucena
RESUMO
8.1 Introdução
Dentro desta classificação dos metais presentes nestas placas de circuito tem-se ainda
a subdivisão em: metais ferrosos, cerca de 11,4% e não ferrosos aproximadamente 89,6%,
isto é, do total de metais (23,4%) somente 2,7% é de metais ferrosos e 20,4% é de metais
não ferrosos (WIDMER et al, 2005; MENETTI, CHAVES e TENÓRIO, 1996).
Outra forma de minimizar a variação da composição entre os equipamentos eletrônicos
é segregar os materiais dos equipamentos conforme suas características, por exemplo, se-
gregar dos equipamentos pilhas e baterias ou ainda remover os tubos de raios catódicos e
telas de cristal líquido; as carcaças metálicas e plásticas, os cabos elétricos e as placas de
circuito impresso, desta forma o tipo de tratamento pode ser direcionado, visando a melhor
recuperação de materiais (CUI, J. e FORSSBERG, 2003; KOZLOWSKI, MAZUREK, e
CZYZYK, 2002; TENÓRIO, 1997; TOMASEK, VADASZ e RABATIN, 2000; VEIT,
PEREIRA e BERNARDES, 2002; WILLIAM e WILLIAMS, 2007).
Considerando que um resíduo eletroeletrônico tenha sido segregado de acordo com o
tipo de equipamento e com a sua característica, tem-se um estudo comparativo da compo-
sição das placas de circuito impresso de aparelhos de televisão, computadores e celulares,
conforme apresenta a Tabela 8.3; dessa forma, é possível visualizar a diferença na com-
posição de cada equipamento, o que, muitas vezes, pode indicar que um tratamento para
134 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
recuperação de metais de placas de circuito impresso de celulares não pode ser o mesmo
para computadores e televisores, tendo em vista a quantidade de metais discrepantes em
cada um dos equipamentos.
A variação entre a composição de metais e fibras de vidro de computadores e televisores
está associada à composição das placas que difere para cada equipamento, isto é, nos
computadores e televisores as placas de circuito impresso são face simples ou dupla (pos-
suem uma ou duas películas de cobre), enquanto que os celulares são produzidos com placas
multicamadas (que possuem pelo menos quatro camadas de cobre entre as fibras de vidro)
(ABRACI; ANDRADE, 2002).
Considerando a diversidade de materiais presentes nos resíduos eletroeletrônicos os
processos de tratamento e recuperação devem contemplar uma série de processos que podem
ser utilizados isoladamente ou associados. O que irá definir o processo de tratamento é a
composição do resíduo.
Os metais presentes em grande parte dos resíduos eletroeletrônicos podem ser divididos
em: metais preciosos, metais base e metais tóxicos (SHINKUMA; HUONG, 2009).
j Metais preciosos: ouro, prata, paládio e platina;
j Metais base: cobre, alumínio, níquel, estanho, zinco e ferro;
j Metais tóxicos: mercúrio, berílio, índio, chumbo, cádmio, arsênio, antimônio.
Tais materiais são considerados inertes e, portanto, não causam problemas ambientais
relacionados à saúde pública. Contudo, o processamento de reciclagem dos REEEs deve
levar em consideração a sua composição cerâmica, tendo em vista que o processo de
moagem de placas de circuito impresso, por exemplo, pode liberar fibras de vidro, causando
problemas á saúde pública, como a silicose (LUZ; LINS, 2008).
j Halogenados;
j Trióxido de antimônio;
j Hidróxido de magnésio; e
j Hidróxido de alumínio.
8.4.1 Pré-tratamento ou desmontagem
8.4.2 Beneficiamento
8.4.3 Desmantelamento
8.4.4 Moagem
8.4.5 Separação granulométrica
8.4.6 Separação magnética
8.4.7 Separação eletrostática
8.4.8 Processamento pirometalúrgico
degradados termicamente por meio da quebra de ligações químicas das cadeias orgânicas
através do calor (CAPONERO, 2002; HOFFMANN, 1992).
A desvantagem dos processos pirometalúrgicos para a concentração de metais a partir
de placas de circuito impresso está associada às emissões gasosas, pois os polímeros que
constituem as placas quando submetidos à degradação térmica podem formar dioxinas e
furanos, que são substâncias tóxicas.
8.4.9 Processamento hidrometalúrgico
Os processos hidrometalúrgicos são processos entre a interface de uma fase sólida com
uma fase líquida que pode variar de 10 °C a 300 °C (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978).
Estes processos inicialmente envolvem operações unitárias de lixiviação de materiais,
sucata, resíduos ou minérios nos quais ocorre a dissolução de metais pela ação de soluções
aquosas ou agentes lixiviantes (JACKSON, 1986). A ação dos agentes lixiviantes pode
ou não ser seletiva com relação aos materiais que serão solubilizados (JACKSON, 1986).
8.4.10 Lixiviação
8.4.11 Processamento biohidrometalúrgico
O processo biológico de lixiviação promove a oxidação dos sulfetos metálicos, que pode
ocorrer de forma direta ou indireta. No processo direto o oxigênio é o agente oxidante, en-
quanto que o processo indireto tem como agente oxidante o íon férrico. (EHRLICH, 2001).
Os processos biohidrometalúrgicos foram inicialmente registrados em drenagens ácidas
de minas de carvão e em minas de cobre. Nas minas de carvão as bactérias isoladas foram
as Thiobacillus (Acidithiobacillus) ferrooxidans e T. thiooxidans, sendo que a primeira
também foi encontrada em minas de cobre (EHRLICH, 2001).
Por esta razão estudos com estes microorganismos aplicados à recuperação de metais
de placas de circuito impresso tem avaliado a biolixiviação de metais nobres como o ouro e
metais base como o cobre (WANG et al., 2009; OLSON; BRIERLEY, J. A. e BRIERLEY,
CL, 2003).
Além do pH e do potencial redox, os principais parâmetros que são controlados no
processo de lixiviação bacteriana são: tempo de contato, temperatura, disponibilidade de
O2 e CO2, concentração dos íons metálicos e de nutrientes minerais na lixívia, composição
do mineral e tamanho das partículas, interação galvânica entre os minerais presentes e
estrutura química e cristalina destes, além da presença de agentes químicos estranhos ao
processo (WANG et al, 2009, URENTHA, 1991; BOSECKER, 1997).
Para a aplicação da técnica para recuperação de metais a partir de placas de circuito
impresso, alguns estudos apresentaram solubilização de metais de 40% a 60% de cobre;
de 40% a 80% de chumbo e de 50% a 90% de zinco, sendo que os melhores resultados
foram com uma cultura mista composta de A. ferroxidans e A. thiooxidans em concentração
de 7,8g/L de resíduo de placa de circuito impresso com tamanho de partículos entre 0,5 e
1,0mm. A desvantagem associada a essa tecnologia está relacionada ao tempo de biolixi-
viação, que em geral leva semanas (WANG et al., 2009).
Além disso, pesquisas estão sendo conduzidas para avaliar a biolixiviação de placas de
circuito impresso com micro-organismos mesofílicos (temperatura de crescimento de 30 a
40 °C) termofílicos (ideal entre 40 a 55 °C), visando a recuperação de metais (BRIERLEY,
J. A. e BRIERLEY, CL, 2003).
8.4.12 Refino
Nessas operações, a solução mista, contendo vários metais solúveis, sofre o processo
de extração por um líquido chamado de solvente orgânico. Após o contato da mistura com
o solvente, um dos componentes da mistura que possui mais afinidade com o solvente se
separa formando um organometálico, formando duas fases, em que o solvente com o metal
agregado é conhecido como extrato e a solução residual é conhecida como fase aquosa
(TREYBAL, 1996; AGUILAR; CORTINA, 2008; MIHOVILOVIC, 2001).
A extração por solvente envolve duas etapas principais, a extração e a re-extração. No
processo de extração a fase orgânica (solvente) é carregada com o metal de interesse que
estava na fase aquosa; enquanto que na re-extração o metal carregado na fase orgânica é
devolvido para uma nova solução aquosa (ROSENQVIST, 1974).
A extração por solvente como técnica seletiva de recuperação de metais apresenta me-
lhores resultados quando se faz o controle do pH durante o processo de extração.
8.4.12.2 Precipitação/Cementação
O processo de precipitação química é um processo que envolve reações químicas de
dupla troca entre o metal na forma solúvel e uma substância (um álcali, um sal ou um óxido)
formando um sólido desse metal (VOLSKY; SERGIEVSKAYA,1978; JACKSON, 1986).
Nas reações de oxirredução ou reações eletroquímicas um metal é utilizado pa-
ra precipitar um segundo metal, cujo processo é mais conhecido como cementação
(JACKSON, 1986).
No caso da cementação, isto é, a redução do metal que está em solução aquosa, é neces-
sário que o potencial do sistema de redução seja mais negativo que o potencial de redução
do metal de interesse. (JACKSON, 1986).
Esse processo também é conhecido pelas reações de deslocamento e assim se utilizam
os potenciais padrões dos metais, conforme Tabela 8.4.
Quanto maior a diferença entre os potenciais dos metais, maior será a facilidade em se
provocar uma reação de oxirredução e, portanto, o processo de cementação.
Pt + 2e → Pt
2+ 0 +1,200
Pd + 2e → Pd
2+ 0 +0,920
Ag + 1e → Ag
1+ 0 +0,799
Rh + 3e → Rh
3+ 0 +0,700
Cu + 2e → Cu
2+ 0 +0,337
2H + 2e → H2
1+ 0,0 – Padrão de referência
Pb + 2e → Pb
2+ 0 -0,126
Sn + 2e → Sn
2+ 0 -0,140
Ni + 2e → Ni
2+ 0 -0,250
Co + 2e → Co
2+ 0 -0,280
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148 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
RESUMO
1
As autoras agradecem a todos os participantes da CE: 03.111-01 Comissão de Estudos de normalização ambiental
para produtos e sistema elétricos e eletrônicos envolvidos na elaboração deste projeto.
149
150 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
9.1 Introdução
2
De acordo com os respondentes, enquadram-se na categoria “outros” os prestadores de serviços, organizações
sem fins lucrativos, empresas de economia mista e consultorias.
3
O grau de importância foi definido na pesquisa como essencial, muito importante, importante, pouco importante
e desnecessário, baseado no método da Escala Likert.
152 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Ainda pela ótica dos fornecedores da cadeia reversa, há o questionamento sobre quais
são os requisitos exigidos e a forma demonstrara todo o mercado – de maneira clara e
uniforme – o atendimento das exigências por todos os interessados em um tipo de atividade
que possui características tão particulares.
Uma forma reconhecida para qualificação de fornecedores é a avaliação das atividades
deste fornecedor da cadeia reversa pela verificação do atendimento a requisitos de um
sistema de gestão certificável. Assim, é possível, por meio da elaboração de requisitos
específicos, definir claramente as necessidades das partes interessadas e os formatos dos
controles necessários e dos processos de comunicação entre as partes, assim como promover
uma relação de confiança e a padronização de princípios e informações mínimas entre os
diferentes fornecedores da cadeia.
Dessa forma, a elaboração de normas técnicas para a atividade da cadeia reversa se
torna uma ferramenta eficiente para a uniformização necessária e desejada por todas as
partes envolvidas.
Considerando as particularidades e necessidades envolvidas na gestão dos resíduos eletroele-
trônicos e o fato de uma norma técnica ser um “documento estabelecido por consenso e aprovado
por um organismo reconhecido, que fornece para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes,
visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto” (ABNT, 2012), as
principais motivações para a elaboração do projeto foram as seguintes necessidades:
j Obrigatoriedade de estruturação e implementação de sistemas de logística reversa para
a cadeia produtiva de produtos eletroeletrônicos e seus componentes, de acordo com a
Lei n° 12.305/2010 (Art.33, Inciso VI).
j Desenvolvimento da competência das recicladoras de produtos e componentes eletroele-
de eletroeletrônicos.
Assim, contando com a participação de cerca de 60 empresas voltadas à fabricação e
reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos, além de outras entidades, deu-se início ao
trabalho de elaboração do projeto de documento normativo voltado às atividades da cadeia
reversa, em particular, aos recicladores de resíduos eletroeletrônicos.
O termo manufatura reversa é definido no item 3.15 da norma ABNT NBR 16156:
2013 como “etapas da atividade de reciclagem que compreendem os processos de trans-
formação dos resíduos eletroeletrônicos em partes e peças, insumos ou matérias-primas,
sem a obtenção de novos produtos”.
Igualmente, considerando a abordagem do ciclo de vida fechado na produção de equi-
pamentos eletroeletrônicos, conforme demonstrado na Figura 9.2, em que são listados os
atores dos processos da cadeia reversa que, em geral, são organizados de maneira diversa
daqueles encontrados na cadeia direta, pode-se concluir que estes possuem diferentes pontos
de vista e prioridades em relação às questões de normalização para o setor.
Os fabricantes de eletroeletrônicos são envolvidos no processo de acordo com a PNRS,
que institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Assim, todo
o processo da cadeia reversa deverá ser monitorado por esses fabricantes que – dentro do
processo normativo – têm o papel de principal demandante de documentos técnicos que
apoiem a garantia da destinação final correta do produto com ênfase na rastreabilidade dos
resíduos e na segurança de dados e descaracterização de marcas.
Também há interesse dos fabricantes quanto a monitorar as atividades relacionadas ao
reúso dos eletroeletrônicos, pois o reúso de forma não controlada pode acarretar perdas
financeiras decorrentes de questões legais, de qualidade dos produtos e de confiabilidade
da marca.
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos 155
Um projeto de norma que trata de requisitos para a atividade da cadeia reversa de ele-
troeletrônicos, inédito para aplicação no mercado de reciclagem nacional, teve como fonte
de informação documentos nacionais e internacionais, entre os quais cabe citar:
156 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
ABNT NBR 10004, Resíduos sólidos – Classificação; ABNT NBR 15833, Manufatura
reversa – Aparelhos de refrigeração; ABNT NBR 18801, Sistema de gestão da segurança e
saúde no trabalho – Requisitos; ABNT NBR ISO 9000:2005, Sistema de gestão da qualidade
– Fundamentos e vocabulário; ABNT NBR ISO 14001:2004, Sistema de gestão ambiental –
Requisitos com orientação para uso; ABNT NBR NM ISO 15189, Laboratórios de análises
clínicas – Requisitos especiais de qualidade e competência; IEC 62474, Material declaration
for products of and for the eletrotechnical industry; OHSAS 18001, Occupational Health
and Safety Assessment Series e Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978, do Ministério
do Trabalho e Emprego, tendo como principais referências as normas regulamentadoras:
NR-5 - Comissão interna de prevenção de acidentes; NR-6 - Equipamento de Proteção In-
dividual; NR-7– Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional; NR-15– Atividades
e Operações Insalubres; NR- 17 – Ergonomia.
Durante a elaboração do projeto, as seguintes premissas, baseadas nas necessidades do
mercado brasileiro, especialmente produtores e organizações da cadeia reversa, e na legis-
lação vigente foram consideradas:
j Ser um documento com diretrizes para os gestores das empresas com requisitos veri-
ficáveis através de um processo de auditoria que é definido como um “processo sis-
temático, documentado e independente para obter evidências de auditoria e avaliá-las
objetivamente para determinar a extensão na qual os critérios da auditoria são atendidos”
(ABNT NBR ISO 19011).
j Ser passível de certificação, onde é atestada a conformidade do modelo de gestão de
em suas atividades.
j Ter congruência com legislações e normas existentes.
Figura 9.3 Pilares do projeto de requisitos para a atividade da cadeia reversa de eletroele-
trônicos. Fonte: Elaboração própria.
Quanto ao tema saúde e segurança no local de trabalho, o texto do projeto fez vários
acréscimos importantes ao texto base da ABNT NBR ISO 14.001, explicitando a neces-
sidade de proteção dos trabalhadores em relação à saúde e segurança, proporcionalmente
aos tipos de tecnologias de processamento utilizadas, a redução ou eliminação dos perigos
no local do trabalho, bem como a elaboração de planos com metas de diminuição da ex-
posição dos trabalhadores a materiais perigosos.
Nesse sentido, o conceito de aspecto e impacto foi ampliado, considerando não somente
a avaliação daqueles relacionados aos aspectos ambientais, como também criando o concei-
to relacionado aos aspectos e impactos de segurança e saúde no trabalho. Esta sistemática
de avaliação, especialmente relacionada às questões de saúde e segurança do trabalhador,
que já conta com normas reguladoras implementadas, está focada especialmente naqueles
resíduos eletroeletrônicos que possuem ou geram substâncias perigosas durante o seu
processamento.
Durante a elaboração do texto do projeto também foram levadas em consideração as
características peculiares dos resíduos eletroeletrônicos que implicam em cuidados especiais
158 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
4
Devido à possibilidade de marcação de mais de uma resposta, a soma das porcentagens ultrapassa 100%.
160 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Indagados com a pergunta: “Quais outros projetos de norma seriam indicados para
futura elaboração?”, o grupo de respondentes relacionou as prioridades como demonstrado
no Gráfico 9.5.
Além disso, foi apontada a necessidade de elaboração de Norma para cálculo de reci-
clabilidade de materiais advindos da manufatura reversa e, no caso específico da norma
ABNT NBR 15833:2010 Manufatura reversa – Aparelhos de refrigeração, identificou-se
a necessidade do estabelecimento de limites de eficiência e eficácia na recuperação dos
materiais com identificação de eventuais perdas de processo ao lidar com as diferentes
substâncias contidas nos REEE.
5
Os respondentes podem marcar mais de uma caixa de seleção, então a soma das porcentagens pode ultrapassar
100%.
Normalização para a cadeia reversa de eletroeletrônicos 163
Esta experiência com suas soluções poderá ser utilizada como referência para outros
segmentos de mercado que possuam demandas e especificidades próximas ao setor e, além
disso, os documentos normativos gerados nacionalmente poderão se tornar futura referência
para o mercado internacional.
Referências bibliográficas
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Normalização. Disponível em: http://www.abnt.org.br/
m3.asp?cod_pagina=931. Acesso em: 30 de outubro de 2012.
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__________. NBR 15833, Manufatura reversa – Aparelhos de refrigeração. Rio de Janeiro, 2010.
__________. NBR 18801, Sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho – Requisitos. Rio de Janeiro, 2010.
__________. NBR ISO 9000, Sistema de gestão da qualidade – Fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, 2005.
__________. NBR ISO 14001, Sistema de gestão ambiental – Requisitos com orientação para uso. Rio de
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BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora
NR-5 - Comissão interna de prevenção de acidentes.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-6 – Equipamento de
Proteção Individual.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-7 – Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-15 – Atividades e Operações
Insalubres.
__________. Portaria n° 3214, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-17 – Ergonomia.
BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, altera a Lei n°
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências.
BRASIL. Decreto Federal n° 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei n° 12.305, de 2 de agosto
de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa
e dá outras providências.
DIRETIVA 2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012, relativa aos resíduos de
equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE).
INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMISSION. IEC 62474, Material declaration for products of
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OHSAS 18001, Occupational Health and Safety Assessment Series. Estados Unidos, 2007.
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Capítulo 10
Aspectos
operacionais
da Gestão de REEE
Antônio Conde, Lúcia Helena Xavier, Neuci Bicov Frade
RESUMO
10.1 Introdução
a) Descarte
Ao atingirem o final da vida útil, espera-se que os equipamentos pós-consumo sejam
descartados. No entanto, há uma significativa taxa de retenção de equipamentos ele-
troeletrônicos residuais que permanecem sob a posse dos consumidores mesmo após o
final de sua funcionalidade. Este é um dos aspectos que comprometem a gestão da logís-
tica reversa nesse segmento. Empresas do segmento de eletroeletrônicos e do comércio
varejista tem desenvolvido mecanismos de incentivo ao descarte de REEE que consistem
Aspectos operacionais da Gestão de REEE 167
Figura 10.1 Acondicionamento de placas de circuito impressa triadas (PCI). Fonte: CEDIR.
168 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
d) Descaracterização
Após a identificação da impossibilidade de remanufatura ou reúso do REEE, alguns
fabricantes exigem a descaracterização dos seus produtos. A descaracterização acontece em
dois níveis: descaracterização de marcas e descaracterização de dados. O primeiro consiste
na supressão da marca de identificação do fabricante, e o segundo nível equivale à destruição
das informações presentes nos equipamentos. Ambas as possibilidades podem ser realizadas
por meio do procedimento de trituração do material. No entanto, esse procedimento pode,
em alguns casos, comprometer o processo de separação de materiais. Ainda assim, é um
ponto de exigência contratual por empresas fabricantes ou de prestação de serviço.
e) Remanufatura
A remanufatura no segmento de resíduos tecnológicos equivale ao procedimento de as-
sistência técnica, por meio do qual os equipamentos são submetidos à substituição de peças
e partes ou reparos de componentes. Nessa situação, deve-se considerar ainda a retirada
de peças em perfeito estado ou descontinuadas (que não são mais fabricadas) para fins de
reposição ou consertos de equipamentos em assistência técnica.
f) Desmontagem
Etapa por meio da qual os equipamentos têm suas partes e peças separadas. O processo
de desmontagem será mais ou menos refinado em função da necessidade de preservação
das estruturas, como é o caso da remanufatura. As junções, parafusos e conexões podem
ser removidas em etapas inversas a que foram montadas a fim de se manter a estrutura das
peças. Caso não haja necessidade de preservação de peças e partes, o equipamento pode ser
rompido em suas estruturas mais frágeis. No entanto, o processo de desmontagem com a
retirada dos componentes da forma inversa pela qual foram montados ainda tem a vantagem
de melhor segregação dos materiais, valorizando-os para as etapas subsequentes.
g) Separação
Consiste na separação dos materiais conforme o tipo ou forma de destinação. A partir
da desmontagem pode-se alcançar maior ou menor valorização dos resíduos em sua se-
gregação. Resíduos de tipos diferentes misturados são considerados contaminados e têm
redução substancial do valor de mercado.
Figura 10.6 Disposição das peças separadas de uma impressora. Fonte: Lúcia Xavier.
Aspectos operacionais da Gestão de REEE 171
h) Reciclagem
Dependendo do tipo de material, a reciclagem é uma opção incentivada em todos os
segmentos. No caso dos eletroeletrônicos, a reciclagem abrange materiais como plás-
tico, metal e vidro. Porém, diferentes de outros segmentos como embalagens de bebidas
e material gráfico, os resíduos eletrônicos têm grande percentual de materiais mistos o
que, em certos casos, inviabiliza tecnicamente a reciclagem. Os roletes de impressoras,
responsáveis pela rolagem da folha de papel, são um exemplo nesse sentido. Esse tipo de
componente consiste em um eixo de aço revestido parcialmente com borracha vulcanizada
(Figura 10.7). Como a borracha tem uma densidade relativamente alta e está fortemente
fixada no eixo, no processo de desmontagem é praticamente inviável a desmontagem do
conjunto. No entanto, o componente é aceito para queima em fornos, em função do alto
poder calorífico dos materiais agregados. Esse é um exemplo a partir do qual se inviabiliza
investimentos na reciclagem por não ter sido concebido com o propósito de desmontagem.
i) Disposição
Na inviabilidade de destinação por meio de reúso, reciclagem ou remanufatura, os
materiais devem ser destinados à incineração e, na inviabilidade desta, encaminhados à
disposição final em aterros.
10.2.2.1 Entrada
Área de carga com porta ampla, rampa e espaço para deslocamento de palet por meio
de empilhadeira. Identificação e documentação da entrega para fins de rastreabilidade. Na
entrada é feita a identificação das entregas e verificação segundo o agendamento. Lem-
brando que o agendamento possibilita a alocação do espaço e também o gerenciamento dos
processos e da saída de material e equipamentos.
por parte dos técnicos, localização de pontos de energia para funcionamento dos equipamentos
necessários no teste e manta antiestática recobrindo a bancada.
10.2.2.5 Processamento
Os materiais e produtos separados no pré-processamento seguem para a des-
tinação, conforme suas características. Materiais como plástico e metal seguem para
respectivas indústrias de reciclagem. Produtos como cinescópio (tubo de monitor tipo
CRT) e cabos ainda exigem descontaminação e separação de materiais. Por isso, são
encaminhados para etapas específicas para separação mais apurada. Essa etapa exige
maiores cuidados na proteção individual e coletiva. Como EPI, recomenda-se, de modo
geral, o uso de óculos de segurança, avental, luva, máscara para poeira fina e más-
cara de soldador. Como EPC, recomenda-se, em alguns casos, o trabalho em câmara
de fluxo laminar (com pressão negativa) e luvas de aço no manuseio de ferramentas
perfuro-cortantes.
10.2.2.7 Saída
Pode ser usada a mesma infraestrutura da área de entrada do material, observando-se,
no entanto, as exigências em relação a manutenção das propriedades e agregação de valor
aos materiais ou produtos.
10.2.3 Disposição da infraestrutura
de estoque, caso o material não seja compactado, como ocorre com os plásticos de impres-
sora, por exemplo. No caso específico das placas de circuito impresso, a quantidade mínima
exigida pelos recicladores oscila entre 3 e 5 toneladas para se coletar nos centros de triagem.
Parte da etapa de recebimento e triagem tem sido realizada por cooperativas e as-
sociações de catadores. No entanto, esses profissionais não se encontram aptos a realizar
atividades que representem riscos, como a desmontagem de tubos do tipo CRT, por exemplo.
Assim, esse tipo de equipamento representa ainda um custo na cadeia de reciclagem, por
exigir a etapa de descontaminação e, consequentemente, um maior nível de conhecimento
técnico para a gestão dessa categoria de resíduo. Dessa maneira, há maior requerimento
por espaço para aqueles equipamentos que não podem ser imediatamente desmontados e
triados após o descarte pelos consumidores finais.
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Capítulo 11
Desafios na gestão
de REEE: panorama
atual e perspectivas
futuras
Carlos Silva, Jorge Alberto Tenório, Lúcia Helena Xavier
RESUMO
175
176 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
11.1 Introdução
Nesse sentido, o país passou a contar com duas classes de resíduos, os “resíduos sólidos”
propriamente ditos, que podem ser objeto de reciclagem, recuperação e tratamento, e os
rejeitos, que ao serem descartados não apresentaram nenhuma das opções de destinação
anteriormente citadas, ou tiveram tais possibilidades esgotadas, restando-lhes apenas a
disposição final ambientalmente adequada.
Uma das formas idealizadas pelo legislador para viabilizar e incrementar a reci-
clagem, a recuperação e o tratamento entendidos como prioritários foi a Logística
Reversa, instrumento pelo qual deverão ser implementadas ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
para que os mesmos sejam encaminhados para uma destinação final ambientalmente
adequada.
O estabelecimento da Logística Reversa está baseado no conceito de responsabilidade
compartilhada adotado de maneira inovadora pela PNRS. Esse conceito contempla objetivos
direcionados à redução da geração de resíduos e do desperdício de materiais, buscando
o maior aproveitamento possível dos resíduos, produtos ou materiais, com vistas à sua
inserção na mesma cadeia produtiva por meio da articulação dos agentes envolvidos ao
longo do processo.
Conforme mencionado por Silva e Soler (2012):
“A responsabilidade compartilhada prevista na PNRS diferencia-se do instituto da
responsabilidade do produtor prevista em instrumentos legais de resíduos sólidos
existentes em outros países, notadamente na Diretiva da União Europeia, principal-
mente no tocante à definição clara das responsabilidades de cada parte, mediante
a expressa atribuição da responsabilidade financeira pelo sistema de retorno dos
resíduos aos produtores dos produtos que os originaram. Nesse contexto, a política
de responsabilização do produtor é caracterizada pela transferência – física e/ou
econômica, total ou parcial – da responsabilidade para com os resíduos, afastando-
os da égide das autoridades locais (municípios) e levando-os para a esfera dos
seus produtores que, por outro lado, passam a contar com incentivos diversos para
desenvolver produtos que levem cada vez mais em consideração os preceitos de
design sustentável”.
Para complementar a Logística Reversa e estimular a efetiva adoção de estratégias
e ações direcionadas a essa sistemática, a PNRS também contemplou o princípio da
hierarquia na gestão de resíduos, pelo qual é estabelecida uma ordem de prioridade de
ações, que deve ser aplicada na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, iniciando-se
com a não geração e passando ordenadamente pelas ações seguintes, a saber: redução,
reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente
adequada dos rejeitos. Esse conceito de hierarquização não é recente, tendo sido proposto
inicialmente pelas diretivas europeias, e tem sido amplamente aceito tanto na academia
quanto no âmbito empresarial.
178 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
Dentre os vários tipos e classes de resíduos sólidos abrangidos pela Lei n° 12.305/2010,
alguns foram relacionados diretamente para serem objeto de sistemas de logística reversa,
que deverão ser implementados por fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores.
São eles:
j Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem
após o uso constitua resíduo perigoso;
j Pilhas e baterias;
j Pneus;
Analisando a listagem estabelecida pela lei, verificamos que alguns tipos de produtos
já têm sido objeto de sistemas especiais de gerenciamento, tais como: os agrotóxicos, os
pneus, as pilhas e os lubrificantes com suas embalagens, que já possuíam resoluções es-
pecíficas do CONAMA. As lâmpadas e os produtos eletroeletrônicos, que atualmente estão
presentes de maneira bastante disseminada na sociedade e alguns sistemas voluntários por
parte de poucos fabricantes. Vale ressaltar ainda que, nas diretivas europeias tanto as pilhas
e baterias quanto as lâmpadas estão incluídas no grupo dos produtos eletroeletrônicos, o
que não acontece na regulamentação brasileira.
A Lei, no entanto, não trouxe uma definição de resíduos eletroeletrônicos, gerando a
necessidade de se buscar alguma definição já existente e amplamente aceita, para se es-
tabelecer o rol de produtos para os quais há a obrigatoriedade de inclusão em um sistema
de logística reversa.
Uma definição bastante simples e objetiva, já de muito utilizada por vários países,
segundo proposta da Diretiva WEEE de 2012, dispõe que são considerados equipamentos
eletroeletrônicos todos os produtos que utilizam energia elétrica ou acumuladores de energia
como fonte de alimentação (Diretiva 2012/19/EU). A definição estabelece também que tais
produtos, ao se tornarem obsoletos ou serem descartados pelo proprietário, são considerados
resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, conhecidos sob a sigla REEE.
Diante de referida definição não é difícil relacionar os equipamentos que estão incluídos
nesse grupo e que, de acordo com os padrões atuais de comportamento e consumo, já fazem
parte do dia a dia de praticamente toda a população mundial. A esse respeito, a Figura 11.1
apresenta os dados de composição de REEE da Europa (SCHULUEP, 2009).
Tendo em vista a composição desses resíduos, a legislação europeia baseada na Diretiva
WEEE, determina o seu gerenciamento, inclusive com o estabelecimento de metas, de forma
a permitir que os seguintes resultados sejam alcançados:
j Não encaminhamento desses resíduos para disposição no solo;
j Remoção dos componentes e substâncias perigosas;
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras 179
Figura 11.1 Composição dos resíduos eletroeletrônicos na Europa. Fonte: Elaboração própria.
com função da aplicação de estruturas ou materiais menos resistentes), têm gerado um tipo
específico de resíduo sólido urbano, os denominados resíduos tecnológicos ou resíduos
de equipamentos eletroeletrônicos (REEE). No entanto, há que se considerar que, mesmo
havendo o risco de se antecipar o fim da vida útil de alguns produtos e materiais, a subs-
tituição desses por outros mais eficientes em termos de consumo energético e emprego
dos materiais deve ser considerado como critério para uma gestão eficiente dos resíduos.
De acordo com os dados divulgados ainda por Schluep (2009), em 2005 a União
Europeia registrava 44 milhões de eletrodomésticos, 48 milhões de PCs e Notebooks e
contabilizou 9,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico. O índice de REEE per capita na
Europa varia bastante de país para país, no entanto a média é bastante elevada, sendo de
3,6 kg por habitante/ano na Holanda e de 5,1 kg por habitante/ano na Suíça.
Nos termos do estudo, em 2006, havia 34 milhões de TVs e Monitores, 24 milhões
de PCs, 139 milhões de aparelhos de comunicação (celular, pager, modem etc.) nos Es-
tados Unidos, onde os REEE são gerenciados por meio do próprio serviço municipal de
gestão de resíduos. Apesar de muitos estados buscarem a implantação de programas
de gestão de REEE, poucos possuem legislação específica. Maine foi o primeiro estado
americano a regulamentar a responsabilidade do produtor a respeito do REEE doméstico,
estabelecendo o custo compartilhado entre produtores, governos municipais e consumidores
(WAGNER, 2009).
Em um estudo desenvolvido pela EPA (2010), estima-se que dos equipamentos ele-
troeletrônicos comercializados no país, entre os anos de 1980 e 2007, considerando TVs,
computadores e periféricos, cerca de 230 milhões de unidades foram estocadas nas resi-
dências e não descartadas. O mesmo estudo evidencia que 2,25 milhões de toneladas de
REEE foram produzidos nos Estados Unidos no ano de 2007, dos quais apenas 18% foram
destinados à reciclagem e 82% dispostos em aterros. De acordo com o NCER (National
Center for Electronics Recycling) sugere-se que em 2008 o percentual de reciclagem de
REEE tenha aumentado em 7%.
Além de atingir volumes preocupantes, como visto, os REEE demandam um processo
de gerenciamento e destinação diferenciado, para que não causem danos ao meio ambiente
e à saúde da população. O cenário, porém, é desafiador, já que também segundo a ONU,
atualmente há 40 milhões de toneladas de REEE acumulados no mundo, dos quais 80%
acabam em países em desenvolvimento e são responsáveis por 70% dos metais encontrados
nos aterros e lixões, contaminando os solos e os recursos hídricos.
O Estudo da ONU também identificou alguns dados para o Brasil, onde existiam, em
2005, 480.000 toneladas de PCs; 8.600 toneladas de celulares; 1,1 milhão de toneladas de
TVs e 1,15 milhão de toneladas de refrigeradores.
De acordo com o mesmo relatório, o Brasil está entre os três países que mais descartam
aparelhos de TV, com 700 gramas por pessoa ao ano, atrás somente do México e da China.
O levantamento também aponta que o país é responsável pelo descarte anual de 96,8
mil toneladas de computadores, 115 mil toneladas de geladeiras, 17,2 mil toneladas de
impressoras e 2,2 mil toneladas de celulares.
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras 181
áreas de abrangência pré-definidas para fins de otimização das rotas. Conforme Yoon e Jang
(2006), no primeiro ano de implantação do programa 70% dos REEE foram coletados.
Observa-se no país que cerca de 40% desses resíduos são coletados pelo próprio governo,
enquanto cerca de 50% são coletados por produtores e revendedores.
O Ministério do Meio Ambiente da República Sul Coreana informou que em 2003, 12%
dos resíduos eletroeletrônicos coletados no país foram reutilizados, enquanto 69% foram
reciclados e 19% encaminhados para disposição final (aterros e incineradores).
De acordo com Kahhat et al. (2008), a taxa destinada à reciclagem paga pelos produtores
na Coreia do Sul é estimada entre US$4 e US$7. No entanto, esse custo é repassado aos
consumidores, que podem optar por:
1. não custear a taxa de coleta adquirindo um novo produto e repassando a responsabilidade
pela coleta do REEE ao revendedor no ato da entrega do novo produto, ou
2. pagar a taxa de recolha do REEE para que a coleta seja efetuada pelo sistema público
de coleta de resíduos. No caso dos computadores, há empresas que efetuam coletas sem
custo.
O Japão é modelo em gestão de resíduos, sendo referência mundial por conta dos avanços
alcançados em termos de conscientização social e sistemas para recolhimento, tratamento,
recuperação e destinação de resíduos sólidos.
A regulamentação de REEE no Japão, elaborada em 1998 e em vigor desde 2001, es-
tipula que a seleção dos materiais deve ser realizada a partir da destinação desses resíduos
nos aterros sanitários municipais. O país ainda atribui a responsabilidade a produtores
e importadores pela gestão de resíduos de quatro categorias de equipamentos eletroele-
trônicos: ar-condicionado, geladeiras, máquinas de lavar roupa e TV.
Parte dos custos de reciclagem e transporte são repassados ao consumidor que paga, em
média, entre US$30 e US$60 por produto. O mercado varejista é obrigado, de acordo com
a legislação japonesa, a recolher os equipamentos pós-consumo. Por iniciativa do governo,
em 2001 iniciou-se um programa de recolhimento de computadores pessoais pós-consumo.
O programa hoje é realizado a partir de um grupo de empresas do setor que coleta – sem
custos – equipamentos produzidos a partir de outubro de 2003. No entanto, cabe ressaltar
que, sob os equipamentos órfãos (cuja origem não é possível identificar ou cujo fabricante
não se encontra mais atuando no mercado) incide uma taxa de coleta que pode chegar a
US$40 (ONGONDO et al, 2011).
Os riscos associados à disposição inadequada dos REEE abrangem a contaminação
do meio ambiente e resultam em sérios danos à saúde, por conta dos metais e de outros
elementos químicos presentes nesses equipamentos. Em geral, nas partes de um EEE
pode-se encontrar:
j Monitor: Chumbo, Cádmio, Mercúrio e outros metais.
j Placas de circuito impresso: Cromo, Níquel, Prata, Ouro, Berílio, Chumbo.
j Pilhas e baterias: Lítio, Cádmio, Manganês, Mercúrio, Chumbo.
j Em alguns plásticos: retardante de chama.
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras 183
j envio remoto por terceiros sob responsabilidade dos produtores (serviços de courier).
resíduos;
j Desenvolvimento de processos de reutilização, reciclagem e recuperação de produtos
e materiais;
j Promoção de processos de Produção mais Limpa (P + L);
j Melhoria das condições ambientais por meio de uma gestão mais eficiente de resíduos.
O segundo ponto crítico é a própria etapa da reciclagem, que poderá alcançar um padrão
de excelência ambiental na medida em que mecanismos regulamentadores possibilitem a pa-
dronização e fiscalização das técnicas de reciclagem. O principal objetivo dessa abordagem
é buscar minimizar os impactos negativos à saúde humana e ambiental, verificados a partir
do manuseio de resíduos perigosos ao final da vida útil de equipamentos eletroeletrônicos.
Salientando que o manuseio ao qual se faz referência é relacionado à desmontagem com
exposição de partes, peças, materiais e substâncias potencialmente danosos.
Outro tópico de grande relevância é a regulamentação por parte do governo a respeito
da responsabilidade sobre a gestão de produtos órfãos. Nesse sentido, alguns países
desenvolvidos têm sido apontados como responsáveis pelo tráfico de REEE para
países em desenvolvimento, ferindo a Convenção da Basileia. Grande parte dos países em
desenvolvimento não estaria apta tecnológica e socialmente para o gerenciamento eficaz
e efetivo dessa categoria de resíduos perigosos. Nesse sentido, a elaboração de normas e
procedimentos para a implementação de sistemas de logística reversa, bem como o es-
tabelecimento e a adequação de uma infraestrutura mínima, deve ser provida pelo Estado
ou ainda pela iniciativa privada, com a participação dos representantes da sociedade e das
demais instituições representativas.
A diretriz WEEE tem demonstrado significativa influência sobre as políticas de retorno
de produtos que atingem o final da vida útil ou o final do uso. Nela são estabelecidos
limites mínimos para a coleta de equipamentos eletroeletrônicos pós-consumo (70%-
80% por peso) e para a reciclagem (50%-80% por peso), o que é fundamental para a
efetividade na aplicação da norma. Cabe ressaltar ainda que, por princípio estabelecido na
Desafios na gestão de REEE: panorama atual e perspectivas futuras 185
diretriz, os países membros da Comunidade Europeia são responsáveis por garantir que os
tratamentos adotados sejam realizados por entidades oficialmente aprovadas (GRUNOW
e GOBBI, 2009). Um importante relatório a respeito do panorama da gestão de REEE no
Brasil, com a importante colaboração de Vanda Scartezini, especialista em gestão de resí-
duos eletroeletrônicos, foi publicado pelo Banco Mundial em 2012 (THE WORLD BANK,
2012). De forma objetiva e didática, esse relatório ressalta a importância da consolidação
da PNRS, bem como discute os aspectos-chave, tais como a necessidade da definição de
responsabilidades e incentivos econômicos. Ainda sugere movimentações relacionadas à
gestão de ações compartilhadas de iniciativas de pequena escala, em forma de rede.
Os acordos setoriais, juntamente com regulamentos expedidos pelo Poder Público (de-
cretos, leis etc) e termos de compromisso, constituem instrumentos para a implementação
dos Sistemas de Logística Reversa (SLR).
Foram lançados editais de chamamento para o estabelecimento dos SLRs, em atendi-
mento à Lei n° 12.305/2010 e ao Decreto n° 7.404/2010. O edital referente aos resíduos
eletroeletrônicos foi lançado em 13 de fevereiro de 2013 e com prazo de encaminhamento
das propostas ao Comitê Orientador em até 120 dias a partir dessa data.
Dessa forma, o poder público e o setor privado encontram-se em estágio de planejamento
da estratégia para a consolidação de um acordo para a implementação do SLR. Seria
demasiadamente prematuro afirmar quais as definições que os grupos tomariam como base.
No entanto, com base no próprio texto do edital já é possível a construção de cenários a
partir dos quais as ações devem se desenvolver.
O edital de chamamento estipula que deverá ser recolhido e destinado 17% de todos os
equipamentos eletroeletrônicos colocados no mercado no ano de 2012. Essa meta deverá
ser atingida dentro do período de 5 anos a partir da instalação do SLR, ou seja, em 2017.
Frente às metas europeias de recolha e destinação, esse percentual ainda é bastante
tímido, mas tomando-se em conta as dimensões continentais do Brasil, a meta torna-se de
fato um desafio de grandes proporções. Talvez por esse motivo, alguns estados da região
Nordeste não tenham entrado como meta de recolhimento no edital de chamamento do
acordo setorial.
Em linhas gerais, verifica-se uma mobilização tanto do setor público quanto da iniciativa
privada, com o propósito de articular soluções para a efetiva gestão dos resíduos eletroele-
trônicos. Um exemplo é a formação da Comissão de Estudo CE 03:111 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a respeito da normalização da Manufatura Reversa
de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos, publicada como NBR ABNT 16.156:2013.
A referida norma buscou definir ações conjuntas para a consolidação de boas práticas na
gestão dos resíduos eletroeletrônicos. Pode-se perceber a elaboração dessa norma como
suporte as ações previstas por meio do acordo setorial.
186 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
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Acesso em: setembro de 2013.
Capítulo 12
Estudo de Caso
CEDIR
Tereza Cristina M.B. Carvalho, Neuci Bicov Frade, Lúcia Helena Xavier
RESUMO
12.1 Introdução
por mau funcionamento ou mesmo pelo impulso do consumidor de possuir algo mais
moderno e atual, sem que haja necessidade efetiva de sua substituição.
No caso da USP, segundo seu Anuário Estatístico, em 2011 houve um crescimento de
29,94% do número de microcomputadores e 74,72% do número de equipamentos de rede em
relação a 2010. Nos anos anteriores, o crescimento médio de equipamentos de informática
ficava na faixa de 8 a 10% (Vide Figura 12.1).
Diante da preocupação a respeito de alternativas para o descarte ambientalmente correto
dos resíduos eletroeletrônicos, foi criado o Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de
12.2 Histórico
Em agosto de 2007 foi criada a Comissão de Sustentabilidade, que teve como princi-
pal objetivo levantar os problemas ambientais do Centro de Computação Eletrônica da
Universidade de São Paulo (CCE-USP) e sugerir programas de sustentabilidade a serem
implantados neste centro.
Como resultado, essa Comissão de Sustentabilidade realizou pesquisas e levantamentos
de dados e propos ações de sustentabilidade a serem incorporadas no dia a dia dos em-
pregados do CCE-USP, envolvendo desde o uso racional de água e energia elétrica até o
tratamento sustentável de lixo eletrônico.
Dentre as diversas ações realizadas pela Comissão de Sustentabilidade do CCE-USP,
as duas mais importantes e de impacto mais relevante foram:
j Criação do Selo Verde da USP
j Criação do CEDIR (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática).
ao menos três fabricantes que, com certeza, pudessem atender a tais requisitos naquela
época, setembro de 2008 (BRASIL, 1993).
No intuito de motivar e incentivar a empresa vencedora desse pregão a fornecer sis-
temas “verdes” foi criado o conceito de “Selo Verde”, que seria concedido caso seu produto
atendesse aos requisitos de computadores “verdes”. A partir da sua criação, o Selo Verde é
concedido a todos os equipamentos fabricados dentro dos padrões de TI verde, como uma
forma da USP reconhecer as empresas comprometidas com a sustentabilidade ambiental
em seus produtos (CARVALHO, 2010).
A aplicação dessa política na USP para aquisição de bens de informática e telecomuni-
cação verdes permite reduzir a geração de lixo eletrônico com componentes tóxicos e não
recicláveis, constituindo-se, dessa forma, uma cadeia mais sustentável. Além disso, esses
equipamentos, quando forem enviados para descarte, serão facilmente identificados pelo
selo, recebendo tratamento facilitado ao serem destinados à reciclagem.
Em 17 de dezembro de 2008 realizou-se a cerimônia de lançamento do Selo Verde
da USP, comemorando-se o primeiro fornecimento de microcomputadores verdes para a
USP. Foi um momento histórico na Universidade de São Paulo, que passou a incluir a es-
pecificação de sistemas verdes em seus editais e a dar suporte a diversos órgãos públicos
que passaram a ter interesse de publicar editais para aquisição de bens de informática
semelhantes ao da USP.
Na Figura 12.2, são apresentadas fotos de diferentes momentos do lançamento do “Selo
Verde” da USP e detalhes do próprio selo. O selo foi concebido pela própria Comissão de
Sustentabilidade com anuência da Reitora. Possui uma assinatura eletrônica, usada para
evitar a falsificação (FREITAS, 2009).1
1
O sistema de assinatura eletrônica da USP foi desenvolvido pelo Laboratório de Arquitetura e Redes de
Computadores (LARC) do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Escola
Politécnica da USP.
2
Lixo eletrônico é tudo o que é enviado para o lixo proveniente de peças e equipamentos eletroeletrônicos, sendo
considerado inservível.
Estudo de Caso CEDIR 191
Figura 12.2 Outdoor de lançamento do Selo Verde no campus Armando de Sales Oliveira da
USP e fotos do primeiro microcomputador verde, em dezembro de 2008. Fonte: CCE, 2008.
A partir da Operação Descarte Legal foi possível verificar na prática que as empresas
de reciclagem não tinham interesse em computadores, impressoras e bens de informática
obsoletos sem nenhum pré-processamento. Na realidade, as empresas de reciclagem
são especializadas no tratamento de materiais específicos e caso recebam peças inteiras,
Estudo de Caso CEDIR 193
precisam desmonta-las e, depois, fazer a triagem do que interessa. O que não interessa pode
ter destinos diversos, que pode ser uma outra empresa de reciclagem, um aterro industrial
ou um lixão.
Diante desta realidade, decidiu-se por avaliar a possibilidade de criar o Centro de Des-
carte e Reúso de Resíduos de Informática (CEDIR), que pudesse fazer o pré-processamento
194 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
empresas de reciclagem;
j identificar parcerias críticas para o centro;
O modo de operação básico do CEDIR pode ser descrito seguindo as seguintes ati-
vidades:
j recepcionar os equipamentos eletrônicos obsoletos da USP que estejam despatrimonia-
dos e de pessoas físicas da sociedade em geral;
j efetuar triagem a partir da possibilidade de reutilização;
credenciadas e certificadas.
A Figura 12.5 mostra o fluxo de operação do Centro de Descarte e Reúso de Resíduos
de Informática. Foram definidas três etapas principais:
j Coleta e Triagem: Esta etapa é responsável pela coleta dos componentes e equipamen-
tos eletroeletrônicos da comunidade USP e, posteriormente, do público em geral. Esses
componentes e equipamentos são testados para verificar sua operacionalidade. Caso
ainda estejam funcionando, são testados verificando-se a possibilidade de introduzir
melhorias, como, por exemplo, o aumento da capacidade de memória tanto primária
quanto secundária de um microcomputador. Os equipamentos considerados operacionais
são, então, encaminhados para Projetos Sociais e ONGs credenciadas junto à USP.
Caso não haja possibilidade de reaproveitamento desses equipamentos, os mesmos são
encaminhados para o ciclo de Categorização.
Estudo de Caso CEDIR 195
Figura 12.6 Visão geral das áreas de atuação do CEDIR. Fonte: CEDIR.
2. Aspectos sociais
No dia a dia de sua operação, o CEDIR recebia muitos equipamentos em condições de
reúso, o que levou a se introduzir a atividade de recuperação de equipamentos para em-
préstimos para projetos sociais de entidades filantrópicas e escolas públicas com poucos
recursos de informática, credenciadas junto à USP.
A parir daí, outras atividades foram surgindo. Dada a importância da questão de trata-
mento de Resíduos Eletroeletrônicos e a visibilidade que este tema tem tido na mídia em
geral, incluindo TV, rádio, jornais e Internet, o CEDIR é muito procurado para ministrar
palestras e oferecer visitas monitoradas, nas quais são explicadas as diferentes fases de sua
operação. As visitas ocorrem uma vez por semana e têm contado com a presença de alunos
e professores de São Paulo, outros estados e até de outros países, além de gestores de meio
ambiente em órgãos municipais, estaduais e federais, microempresários interessados em
atuar no mesmo ramo e empresas que estão enfrentando o desafio de conformidade à PNRS
(Politica Nacional de Resíduos Sólidos).
Ainda em relação a ações sociais, o LASSU (Laboratório de Sustentabilidade
em Tecnologia da Informação e Comunicação) em parceria com o CEDIR e o Ins-
tituto GEA, com patrocínio do Programa Cidadania e Desenvolvimento da Petrobras,
desenvolveu o projeto EcoEletro, cujo objetivo é realizar o treinamento de catadores
de material reciclável em microinformática básica e no tratamento de resíduos de in-
formática, visando evitar a contaminação dos catadores e do meio ambiente em virtude
Estudo de Caso CEDIR 199
do manuseio errôneo desses resíduos, bem como orientá-los sobre o processo de des-
montagem e agregação de material oriundo de tais resíduos com fins de maximizar o
retorno financeiro obtido com a sua venda. O programa formou ao todo 180 catadores,
que tiveram 60 horas de curso teórico e prático. A entrega dos certificados para os
catadores foi realizada no dia 22 de novembro de 2012 em cerimonia dirigida pela
Escola Politécnica.
Por último, a equipe do CEDIR tem participado e colaborado na elaboração de nor-
mas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em parceria com a CTI de
Campinas.
3. Aspectos econômicos
Os equipamentos recebidos no CEDIR que são consertados e/ou reformados não são
destinados apenas a projetos USP. Tais equipamentos têm sido solicitados por unidades
da própria universidade, no caso de necessidades temporárias como em eventos com dis-
ponibilização de acesso e uso de Internet, salas de aluno ou professores. Além disso, es-
colas públicas com recursos limitados têm solicitado os computadores do CEDIR para uso
em sala de aula, viabilizando o contato e a aprendizagem de crianças em como operar um
computador e seus programas.
Os componentes de computadores desmontados são requisitados, também, pelos órgãos
da USP responsáveis pela manutenção de sistemas computacionais como peças de reposição
usadas no reparo de computadores quebrados. A aquisição de tais peças no mercado não é
simples por se tratar muitas vezes de componentes descontinuados.
Professores e pesquisadores também procuram no CEDIR peças que possam ser usadas
nos seus experimentos, como é o caso do uso de motores de disco rígido na montagem de
robôs.
4. Aspectos culturais
O CEDIR tem recebido peças de idades diversas, algumas raridades que mereciam
espaço num Museu de Tecnologia ou Informática. O projeto desse museu começa a ser
discutido na STI (Superintendência de Tecnologia da Informação).
Além disso, o CEDIR tem sido usado também como oficina de design, empregando
resíduos de informática. No mês de agosto de 2012, recebemos o renomado designer
finlandês Ilka Suppanen, convidado pela professora Maria Cecilia Loschiavo, que coordenou
uma oficina de design aberta ao público com peças do CEDIR.
Gráfico 12.2 Tipos de Equipamentos Eletroeletrônicos entregues no CEDIR nos anos de 2010
a fevereiro de 2013. Fonte: CEDIR.
Estudo de Caso CEDIR 201
j Pilhas e baterias (cerca de 300 Kg) por meio do programa de recolhimento da ABINEE,
sem custos para a Universidade.
j Baterias de Chumbo ácido, para o PRAC, programa de recolhimento do Governo Federal,
que encaminha as baterias para a empresa Tamarana, no Paraná, para a reciclagem, sem
custos para a Universidade.
j Monitores CRT, considerados resíduos classe I, potencialmente contaminantes, encami-
12.5.4 Visitas guiadas
São realizadas quatro visitas guiadas por mês. As pessoas inscrevem-se a partir do
serviço de Help Desk do CCE-USP. Não existe pré-requisito para a participação dessas
visitas.
Têm participado dessas visitas gestores ambientais de prefeituras do estado de São
Paulo e outros estados, estudantes e professores de universidades da cidade de São Paulo
e de cidades de outros estados brasileiros, como também de universidades estrangeiras,
incluindo MIT e Boston University, além de microempresários e outros.
O CEDIR hoje atua em diversas áreas, tem contribuído para preservação do meio am-
biente e promovido atividades de inclusão social por meio do empréstimo de computadores
para instituições e comunidades com poucos recursos bem como por meio de cursos, pales-
tras e visitas monitoradas que são tipicamente abertas ao público em geral.
No caso especifico da USP, além do descarte e reúso de bens de informática, o CEDIR
tem sido procurado por pesquisadores que usam peças de computadores na montagem de
experimentos, bem como por técnicos que usam componentes lá deixados para fazer a
manutenção de seus computadores ou impressoras.
Estudo de Caso CEDIR 205
O CEDIR tem sido uma referência para órgãos de gestão ambiental de todas as esferas,
além de auxiliar escolas públicas e universidades do estado de São Paulo, de outros estados
brasileiros e inclusive de instituições internacionais.
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institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Casa Civil,
Presidência da República, Brasília, jun. 1993.
206 Gestão de Resíduos Eletroeletrônicos
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Capítulo 13
Estudo de Caso
do RECICL@TESC
Dennis Brandão, Neuci Bicov Frade
RESUMO
13.1 Introdução
o final dos anos 1990 tem surgido no Brasil um número cada vez maior de projetos de
inclusão digital sob responsabilidade dos governos e de organizações não governamentais
com vistas a atender esta última parcela da população. Os projetos, via de regra, visam
fornecer amplo acesso às tecnologias de informática e aos recursos da Internet. Um modelo
frequente é o do Telecentro, local de acesso público a computadores que funcionam como
quiosques de acesso à Internet. Sob outras diretrizes, há projetos ainda que oferecem cursos
e capacitações nas diversas áreas das tecnologias da informática. Em 2009, no município de
São Carlos/SP, foi concebido um modelo de projeto de inclusão digital coordenado por uma
rede de parceiros governamentais e não governamentais, no qual as ações educacionais no
campo da informática de cunho profissionalizante são associadas a práticas de reciclagem
e atividades de reúso de resíduos eletroeletrônicos. Este projeto recebe o nome Recicl@
tesc - Reciclagem Tecnológica de São Carlos.
O Recicl@tesc é, sucintamente, um dos projetos da Rede Social São Carlos com o
apoio do SENAC/São Carlos e parceria da Prefeitura Municipal de São Carlos, Câmara
Municipal de São Carlos, Nosso Lar e USP São Carlos, cujo objetivo é receber e processar
equipamentos de informática, possibilitando a inclusão digital e social através da reuti-
lização de equipamentos que estariam destinados à sucata. É também uma preocupação
do projeto o aspecto ambiental, pois os equipamentos que não são reutilizados são des-
montados e seus componentes têm a devida destinação a recicladores licenciados para
essa finalidade.
O projeto foi concebido e opera de forma inovadora, principalmente para a cidade de
São Carlos, conhecida nacionalmente como Capital da Tecnologia, onde até 2009 o correto
e efetivo descarte municipal do lixo eletrônico (sobretudo equipamentos de informática) era
uma demanda ainda com poucas soluções. O Recicl@tesc através de sua metodologia que
integra as organizações da Rede Social São Carlos (Senac, ONGs e Poder Público), con-
tribui com a solução desse problema e sustenta em seu campo de atuação o desenvolvimento
sustentável da cidade de São Carlos e região.
O projeto iniciou-se então sob a tutela da Instituição Nosso Lar, uma das organiza-
ções participantes da Rede Social que nesta oportunidade decidiu por acolher o projeto,
valendo-se da vantagem de, em suas instalações, já haver a infraestrutura necessária para
o inicio dos trabalhos propostos. O Nosso Lar então utilizou uma casa de sua propriedade
e preparou nela toda a estrutura necessária para as atividades previstas, com bancadas
apropriadas e gavetas para guardar os materiais. A estrutura tem capacidade de processar
16 computadores simultaneamente e espaço para guardar volume adequado de equipamentos
e peças, conforme Figura 13.1.
resíduos, posto que a cooperativa nem sempre teve parceiros com as devidas licenças
de operação para esse tipo descarte.
Como parte dos trabalhos de divulgação no município do projeto recém-criado, o
Recicl@tesc foi apresentado pelo professor Dr. Dennis Brandão no I Simpósio sobre
Resíduos Sólidos, na Escola de Engenharia de São Carlos - USP, realizado pelo NEPER
(Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos) no dia 03/12/2009. A apresentação
salientou o campo de pesquisa científica e de problema público que é o processamento de
resíduos eletroeletrônicos, e reforçou a relação de parceria entre o Recicl@tesc e a USP,
ampliando sobretudo a visibilidade do projeto aos pesquisadores e alunos daquele campus.
Este I Simpósio sobre Resíduos Sólidos da USP/São Carlos teve como objetivos:
j Reunir pesquisadores, estudantes, representantes do Poder Público, da sociedade civil e
da iniciativa privada que desenvolvam experiências na temática dos Resíduos Sólidos;
j Promover debates acerca dos problemas relacionados ao tema;
sociedade;
j Articular profissionais e instituições para futuras parcerias.
Desde então, diversos cursos e treinamentos técnicos foram realizados pela equipe
do projeto (dentro e fora das instalações do Recicl@tesc). Tais cursos visaram e visam a
atualização e manutenção da equipe de trabalho, assim como a difusão dos conhecimentos
obtidos com o projeto.
Além dos cursos, o projeto passou também a receber em visitas técnicas representantes
de entidades, prefeituras, empresas e escolas. Os cooperadores e coordenadores do projeto
passaram a apoiar eventos e realizar palestras sobre temas correlatos ao Recicl@tesc em
cerimônias de divulgação científica, como também divulgar na mídia local (rádio e TV) a
importância do correto descarte de resíduos eletroeletrônicos.
Atualmente o projeto possui postos de coleta no município de São Carlos além do Centro
de Reciclagem Tecnológica (sede do projeto) e recebe doações de diversos municípios da
região provenientes de pessoas fídicas e jurídicas.
13.5 Resultados
A população desses municípios, bem como pessoas jurídicas ali instaladas podem dar
uma destinação adequada ao seu lixo eletrônico em um dos pontos de coleta do projeto
Recicl@tesc, tendo a certeza de que todos os equipamentos, obsoletos ou não, serão triados e
destinados para o reúso em projetos sociais ou para a reciclagem por empresas devidamente
capacitadas e licenciadas para tal finalidade.
O Recicl@tesc, por meio de sua metodologia que integra parceiros para a execução
das atividades, contribui para a solução do grave problema de descarte incorreto de lixo
eletrônico, promovendo o desenvolvimento local da cidade de São Carlos, beneficiando
outras regiões carentes de centros especializados.
Hoje o Recicl@tesc desenvolve atividades múltiplas, seja por meio de cursos, seja
atendendo pessoas físicas e jurídicas que prezem pelo descarte certificado de lixo eletrônico,
constituindo uma ação socialmente responsável e inovadora na aplicação de métodos de
trabalho social e ambientalmente corretos.
Referências bibliográficas
CUNHA, E.H.F. Recicl@tesc – Relatório de Atividades. São Carlos: Senac/São Carlos, 2012.
LEME, P.S.; MARTINS, J.L.G.; BRANDÃO, D. Guia prático para minimização e gerenciamento de resíduos.
USP/São Carlos. p. 25,26, 2012.