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8.

ÓRGÃOS E REPRESENTANTES DOS ESTADOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Para o DI, o chefe de Estado, seja ele imperador, rei, Presidente da República ou chefe de
governo é o órgão encarregado das relações internacionais do Estado, cabendo a este Estado
comunicar oficialmente aos demais Estados quem é o indivíduo, que reveste a qualidade de
chefe de Estado.
No Brasil, a Constituição dispõe a respeito no art. 84, VII e VIII. Sendo certa que cabe ao
presidente da república a responsabilidade pela gestão da política exterior e ao parlamento
exercer o controle em matéria internacional. Nas repúblicas parlamentaristas a importância do
Chefe de Estado é dividida com a do chefe de governo. Outra figura de relevância para as
relações internacionais é a do Ministro das Relações Exteriores, geralmente denominado
chanceler na América latina.

8.1. Chefe de Estado


Além de ser o gestor da política internacional do Estado que representa, o chefe de Estado
goza de alguns benefícios junto a comunidade internacional.
Em território estrangeiro, os chefes de Estado, sua família e comitiva, enquanto ali estiver
nessa qualidade, gozam de certas prerrogativas e imunidades das quais podem ser
consideradas: a) a inviolabilidade pessoal, de sua carruagem, de seus documentos, e sua
residência; b) isenções aduaneiras e de impostos em geral; c) isenção de jurisdição territorial,
tanto em matéria penal quanto cível. Em matéria cível cabe as exceções relativas a herança,
legado ou ações sobre imóveis em território estrangeiro.

A doutrina e prática internacional sempre reconheceram a inviolabilidade pessoal de chefes de


Estado quando em viagem ao exterior, no entanto, em 1988 o ex-chefe de Estado General
Augusto Pinochet, a pedido do Juiz espanhol Baltazar Garzón, foi denunciado por genocídio,
tortura, seqüestros, assassinatos, desaparecimento de pessoas, solicitando a sua detenção e
eventual extradição para julgamento. A Câmara dos Lordes acabou acolhendo o pedido, mas
somente no tocante aos atos por ele praticados quando não exercia a presidência.

8.2. Ministro das Relações Exteriores

O Ministro das Relações Exteriores ou dos Negócios Estrangeiros é o auxiliar do chefe de


Estado na formulação e execução da política exterior de um Estado, exercendo assim, a
direção do Ministério ou da Chancelaria, expressão utilizada na época do Barão do Rio Branco.
As funções do Chanceler são de natureza interna e internacional. No Brasil, tem por função
referendar os atos ou decretos assinados pelo Presidente da República e comparecer junto ao
Congresso Nacional.
Suas Principais funções, contudo, são de natureza internacional, cabendo-lhe manter contato
com os governos estrangeiros, seja diretamente, seja através das missões diplomáticas que lhe
são subordinadas ou com as embaixadas ou legações existentes no país. Das funções mais
importantes estão as de negociar e assinar tratados internacionais, não lhe sendo exigíveis as
apresentações de Carta de Plenos Poderes, segundo prevê a CVDT/69.

9. TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

9.1. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS (OIs)

Alguns autores defendem a universalização, a criação de um governo global. Entretanto, o


que inviabiliza este projeto, pelo menos no presente, é a diversidade cultural, histórica, social,
legal etc. Desta forma, a alternativa no presente, para a concretização de um projeto que se
aproxima da idéia de universalização são as organizações internacionais (Ols), pessoas
internacionais que viabilizam a convivência pacífica, permitindo que os Estados desenvolvam
atividades de cooperação conjunta, para solucionar os vários problemas dessa sociedade
internacional.

9.1.1. Definição de Organização Internacional


Os tratados internacionais não definem as organizações internacionais e deixam essa tarefa
para a doutrina. A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 dispõe,
simplesmente, em seu artigo 2, 1, i, tratar-se de organizações intergovernamentais. O mesmo
se diga em relação a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre Estados e
Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986.

Para Celso Mello, as definições que lhe parecem mais adequadas são dadas por Ângelo Piero
Sereni e por Ab-dulah El Erian, os quais, entendem se tratar de associação voluntária de
pessoas internacionais, regulada por normas de Direito Internacional e pelos seus atos
constitutivos, são dotadas de órgãos próprios, por meio dos quais realizam suas finalidades e
são dotadas de personalidade internacional, independentes da personalidade dos Estados-
membros[8].

O Anuário das Organizações Internacionais, Yearbook of International Organizations,


disponível em http://www.uia.be/yearbook#, considera, dentre outras exigências, que uma
Organização Internacional deve ter objetivos internacionais, além de desempenharem suas
atividades com regularidade, etc[9].

Desta sorte, que parecer adequado dizer que as Organizações Internacionais não são,
apenas, intergovernamentais, posto que também são pessoas de direitos e deveres na ordem
jurídica internacional. Nesse sentido, a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986, é
expressa em dizer, em seu artigo 1º, que será ela, aplicável aos tratados entre Organizações
Internacionais e Estados, ou aos tratados entre Organizações Internacionais[10].

As Organizações Internacionais (OIs) são, além disso, constituídas por tratados constitutivos
(Carta Constituinte), e reguladas pelo Direito Internacional. Portanto, não se deve confundir
com Organizações não-governamentais (ONGs), como o Greenpeace, etc., que são
constituídas por iniciativa de entidades ou pessoas de direito interno estatal. Sob a lei, portanto,
de um Estado soberano. A Organização Internacional é uma pessoa internacional tal qual o
Estado. A diferença básica entre as OIs é o Estado é que este possui uma jurisdição ampla,
enquanto as OIs têm jurisdição limitada pelos seus objetivos, conforme sua Carta Constituinte.

9.1.2. Aspecto histórico

O surgimento das Ols na sociedade internacional é relativamente recente, do mesmo modo que
é recente a idéia da cooperação internacional de forma permanente entre os Estados
soberanos. Não há opinião contrária quando se diz que o primeiro aparecimento de uma OI foi
em 1815, quando a Conferência de Viena previu a constituição das comissões fluviais.
Entretanto, as OIs ganharam a sua importância política a partir da Primeira Guerra Mundial.
Após a experiência de cooperação nos rios internacionais, os Estados europeus começaram a
estabelecer uniões administrativas para as áreas administrativa e técnica. O tratado constitutivo
da União Internacional Telegráfica (International Telegraph Union; ITU), que foi celebrado em
Paris, em 17.5.1865, por 20 Estados, foi o começo da cooperação internacional permanente
nessa área.

A experiência desastrosa da Primeira Guerra Mundial fez com que a sociedade internacional
percebesse a necessidade de uma instituição internacional para o controle das atividades
estatais, visando garantir a mantença do sistema interestatal. E, para a solução da parte
defeituosa desse sistema, a sociedade internacional cogitou sobre o estabelecimento de uma
organização internacional universal. O nascimento da Sociedade das Nações – SN - foi
baseado nessa preocupação com a coordenação e controle das atividades dos Estados.

Após a Segunda Guerra Mundial a sociedade internacional criou a Organização das Nações
Unidas (ONU; United Nations; UN), suplantando os defeitos da experiência da SN. A ONU tem
a característica supranacional no seu aspecto político, a qual prevê a possibilidade do uso de
força militar sob o seu comando. Aliás, a ONU criou inúmeros órgãos subsidiários e agências
especializadas (Specialized Agencies; Institutions Spécialisées), incluindo, assim, quase todas
as áreas da sociedade internacional sob os seus cuidados. Além desses organismos, a ONU
controla importantes organismos internacionais, tais como a IAEA e o GATT (OMC). A ONU dá
um exemplo de cooperação internacional entre os Estados e, de fato, promove a cooperação
internacional e regional dos Estados-membros através da formação das Ols, o que acabou por
promover o "boom" da criação das Ols.

9.1.3. Classificação das OIs

Atualmente, existem mais de 1.000 Ols. Essa proliferação de Ols reflete a necessidade
crescente de cooperação internacional entre os Estados para a solução dos problemas
transfronteiriços. Essas Ols podem ser classificadas de várias maneiras: organização universal
e regional; organização de competência limitada e competência geral; e organização de
cooperação e de integração.

(1) Organização universal e regional: Organização universal refere-se à organização que aceita
como membro qualquer país, e possui o âmbito de atuação mundial. O melhor exemplo é a
família da ONU, que inclui a ONU, 16 agências especializadas, a OMC, a IAEA etc. Já a
Organização regional trata das organizações que aceitam como membros os países de uma
região determinada.

(2) Organização de competência limitada e competência geral: Uma outra classificação é a que
classifica as organizações internacionais pela competência delas, uma vez que elas atuam
conforme os objetivos e funções estabelecidos pelo tratado constitutivo. P.ex.,(vide objetivos da
ONU nos art. 1, 2 e 4) o artigo 1 da Carta da ONU visa "(1) manter a paz e a segurança
internacionais (...); (2) desenvolver relações amistosas entre as nações (...); conseguir uma
cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico,
social, cultural ou humanitário (...); e (4) ser um centro destinado a harmonizar a ação das
nações para a consecução desses objetivos comuns". Para realizar todos os seus objetivos, a
ONU se envolve praticamente em todas as áreas da sociedade internacional. Nesse sentido, a
ONU é considerada uma organização internacional de competência geral. A organização
internacional de competência limitada é aquela que tem como objetivos e funções apenas
algumas áreas delimitadas, não importando se ela é uma organização universal ou regional.
P.ex., a OMS é considerada uma organização internacional universal de competência limitada.
Já a OEA é considerada uma organização internacional regional de competência geral.

(3) Organização de cooperação e de integração: Com relação a essa classificação, já nos


referimos a ela na comunidade regional. A organização internacional de cooperação
(international organization of cooperation) visa, principalmente, realizar os seus objetivos
através da cooperação, pressupondo a manutenção da independência e soberania entre os
Estados-membros. Já a organização internacional de integração (international organization of
integration) visa a formação de uma comunidade regional integrada, através da limitação do
poder soberano dos Estados-membros.

9.1.4. Constituição das OIs


9.1.4.1. Tratado constitutivo

Come se observa na definição, as Ols são constituídas com base em um tratado multilateral.
Por isso, o direito de tratados forma uma parte importante no estudo sobre o direito das Ols.
Esse tratado multilateral que rege as regras de constituição e operação de uma OI chama-se
tratado constitutivo (constituent treaty; acte constitutif). Um tratado constitutivo de uma OI
contém, em geral, as regras sobre a constituição dos principais órgãos e seus poderes, os
objetivos, os direitos e os deveres dos Estados-membros. Além dessas regras, o tratado
constitutivo prevê, em muitos casos, regra similar as do direito administrativo, processual e
penal, que se acham no sistema nacional.

As práticas dos Estados através das organizações internacionais são uma das provas do
costume internacional. Assim, é possível que as regras contidas nos tratados constitutivos
evoluam em costumes internacionais através das práticas coerentes dos Estados-membros.
Por exemplo, a prática de veto do art. 27(3) da Carta da ONU é uma prova importante nesse
sentido.
Desde a segunda metade do século XlX as Ols vieram a ser criadas pelo sistema de tratado
multilateral. Isso significa que a ratificação é exigida para a entrada em vigor do tratado
constitutivo da OI. A escolha do procedimento de ratificação depende da vontade política e do
objetivo da OI. (P.ex. nas organizações integracionistas, como a UE, e o Mercosul a ratificação
por todos os Estados-membros é uma exigência sine qua non).

O tratado é o único meio para a criação da OI? Ou uma OI existente pode criar, por ato
unilateral, outra OI? Por exemplo, a UE ou o Mercosul poderiam criar uma organização
internacional apenas por um ato unilateral? A resposta é ainda negativa, porque o próprio
conceito de OI prevê um tratado constitutivo celebrado pelos Estados, e não pela OI. Existe a
possibilidade de, no futuro, uma organização supranacional criar uma OI através de ato
unilateral. Entretanto, isso não vale para hoje

O tratado constitutivo, como lei básica da OI, tem, normalmente, um efeito legal superior ao do
tratado normal. (P.ex. o art. 103 da Carta da ONU estipula a superioridade da Carta sobre todos
os outros tratados dos Estados-membros,) dizendo que, "no caso de conflito entre as
obrigações dos membros das Nações Unidas em virtude da presente Carta e as obrigações
resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em
virtude da presente carta".

Aliás, a reserva não é permitida no tratado constitutivo. O Estado deve aceitá-lo integralmente
ou rejeitá-lo, não podendo fazer nenhuma reserva. Já que a Ol é constituída e funciona
conforme o tratado constitutivo, a reserva prejudicaria a igualdade dos Estados-membros,
portanto, não deve mesmo ser permitida. Neste contexto, a alteração do tratado constitutivo é
mais difícil do que a de outros atos decisórios de uma OI. Por exemplo, para a emenda da
Carta da ONU, requerem-se os "votos de 2/3 dos membros da Assembléia Geral e ratificação
por 2/3 dos membros das Nações Unidas, inclusive todos os membros permanentes do CS"

A princípio, a organização internacional prevê a sua existência permanente. Por isso, a maioria
dos tratados constitutivos não especifica o prazo de vigência. Entretanto, em alguns casos
especifica-se o período de existência No caso de dissolução, o tratado constitutivo especifica
esse processo. As regras gerais do Dl sobre o término do tratado podem ser aplicadas
pacificamente junto com o princípio de ab-rogação por actus contrarius.

9.1.4.2. Membros

A princípio, os membros constituintes das Ols são os Estados independentes. Isso porque a
própria definição da OI prevê essa condição, (dizendo "organização intergovernamental").
Entretanto, se o tratado constitutivo prevê ou os Estados-membros convencionam a admissão
de uma entidade não-governamental, isso só é permitido quando não contraria os objetivos e a
finalidade da OI.

(Art. 1(2) do Pacto da SN) Todo Estado, Domínio ou Colônia que se governe livremente e não
esteja designado no Anexo, poderá tornar-se Membro da Sociedade se sua admissão for
aprovada pelos dois terços da Assembléia, contanto que dê garantias efetivas da sua sincera
intenção de observar os seus compromissos internacionais e de que aceita as regras
estabelecidas pela Sociedade no tocante às suas forças e armamentos militares, navais e
aéreos.

Geralmente, a OI admite o membro-associado e o observador para o Estado não


independente, movimento de libertação nacional, organização não-governamental e até
indivíduos, por disposição do tratado constitutivo ou pela decisão dos Estados-membros. O
membro-associado outorgado ao território não independente e o observador assiste às
discussões referentes aos assuntos ligados aos seus interesses e opinam conforme as regras
da OI.

9.1.4.3. Admissão de novos membros


(A OI permanece na sociedade internacional se adaptando e se modificando de acordo com a
sua necessidade). A admissão e a retirada de membros é algo normal na vigência da OI. Já
que a sociedade internacional visa a formação de uma sociedade aberta, liberal e democrática,
a abertura da admissão à OI para todos os Estados é desejável para a paz internacional, O
Estado-membro original (original member State) é aquele que se tornou membro da OI até a
data da entrada em vigor do tratado constitutivo. Já o Estado-membro admitido ou adicional
(admitted or additional member State) refere-se ao Estado que entrou após essa data.

9.1.5. Personalidade internacional das OIs

Personalidade legal internacional da OI significa a aptidão ou qualidade da OI de ser sujeito


ativo e passivo do DI. Desde que a OI tem reconhecida a sua existência como pessoa legal no
DI, a questão seguinte é saber quais direitos e deveres a OI deve ter no Dl. E a questão da
capacidade legal internacional da OI. Desde que a OI é criada pela vontade dos Estados para
algumas finalidades determinadas, a sua capacidade legal não pode ser igual à do Estado. O
tamanho da capacidade legal varia conforme a finalidade das Ols. As Ols exercem suas
capacidades, como, por exemplo, celebração de tratado, navegação com a sua própria
bandeira, convocação de conferências internacionais, criação de força de manutenção de paz
(peace-keeping force), expedição e recepção de missão diplomática etc. Portanto, a decisão da
capacidade legal da OI tem de ser baseada nas funções e nos objetivos da OI, as quais
constam do tratado constitutivo, considerando-se o princípio da especialidade e de poder
implícito.

O uso de termos legais freqüentemente gera confusão. No caso de Estados e Ols, pela forte
influência da soberania e independência dos Estados, o termo jurisdição é mais preciso do que
competência e capacidade. De fato, personalidade legal refere-se à aptidão, sujeito e
qualificação no DI, enquanto capacidade, competência e jurisdição dizem respeito à
capacidade de exercer os direitos e de contrair as obrigações. O caso das Reparações de
Danos (Reparation for Injuries, 1949) estabeleceu a base legal da discussão desta questão.

(Caso Reparação de Danos, CIJ, 1949). Em 17 de setembro de 1948, o conde sueco


Bernadotte foi assassinado por terroristas na nova cidade de Jerusalém. A cidade nova, então,
recorreu ao controle de Israel. O conde Bernadotte foi o Negociador Chefe da Trégua da ONU
na área. Para que a ONU obtivesse uma reparação apropriada do governo responsável pelos
danos ocorridos, a Assembléia Geral pediu à Corte Internacional de Justiça um parecer
consultivo. Israel foi admitido à ONU em 11 de maio de 1949, logo após a Corte dar o seu
parecer. Foram duas as questões:

I - No caso de um agente das Nações Unidas, no exercício de suas funções, sofrer um dano
em circunstâncias que comprometam a responsabilidade de um Estado, a ONU, como
organização que é. tem a competência de fazer uma denúncia contra o governo responsável
pelo dano, com o fim de obter a reparação devida a respeito do dano causado: a) às Nações
Unidas; b) à vítima ou pessoas consideradas como tal?

II - No caso de uma resposta afirmativa ao ponto I-b, como agirá as Nações Unidas para
conciliar tal direito com os direitos do País do qual a vítima é originária?

Com respeito às questões 1-a e l-b, a Corte estabeleceu uma diferença, destacando o País
responsável como um País membro da ONU ou um País não membro da ONU. A Corte
unanimemente respondeu à questão 1-a afirmativamente. Na questão l-b, a Corte opinou, por
11 votos contra 4, que a Organização tem competência para apresentar uma denúncia
internacional, quer o Pais seja membro ou não das Nações Unidas. Finalmente, sobre o ponto
II, a Corte opinou, por 10 votos contra 5, que, quando as Nações Unidas, como uma
organIzação, apresentarem uma denúncia visando a reparação de danos causados a um
agente seu, as Nações Unidas podem apenas fazer tal baseando sua denúncia em um
conjunto de obrigações a elas devidas. Respeitando-se essa regra, previne-se qualquer tipo de
conflito entre a ação das Nações Unidas e o direito do País-membro. Além disso, essa
conciliação deve depender de certas considerações aplicáveis a cada caso em particular e de
certos acordos que devem ser feitos entre a Organização e os Países.
A Corte chega à conclusão de que a Organização tem a capacidade para exercer a proteção de
seus membros. A situação é comparativamente simples no caso dos Países-membros, pois
estes assumiram várias obrigações relativas à Organização. Mas qual é a situação quando
ocorre uma denúncia contra um País que não é membro da Organização? A Corte é da opinião
de que os membros das Nações Unidas criaram uma entidade possuindo personalidade
internacional objetiva, e não uma personalidade somente reconhecida por eles.
A questão II da Assembléia Geral refere-se à conciliação da ação, pelas Nações Unidas, com
os direitos que possuem as vítimas como cidadãos. Em outras palavras, o que está em
discussão é uma competição de direitos diplomáticos de um lado, e uma proteção funcional de
outro lado. A Corte não pode estabelecer aqui quais dessas duas categorias de proteção
poderá ser a prioritária, e, no caso dos Países-membros, ela destaca o dever destes de prestar
toda a assistência expressa no art. 2 do Código. A Corte acrescenta que o risco da competição
entre a Organização e o País-membro pode ser reduzido ou eliminado, ou por convenção geral,
ou por acordos combinados para cada caso, e ela se referir a casos que já tenham acontecido,
nos quais já se encontrou uma solução prática.

Finalmente, a Corte examina o caso no qual o agente incorpora a nacionalidade do País


acusada. Desde que a denúncia trazida pela Organização não seja baseada na nacionalidade
da vítima, mas na sua condição de membro da Organização, não importa se o País ao qual a
denúncia é endereçada o considera como seu cidadão. A situação legal não se modifica por
causa disso.

9.1.5.1 Reconhecimento explícito

A maioria das Ols estabelece explicitamente a personalidade legal no seu tratado constitutivo
(por exemplo, art. 39 da OIT, art. 210 do trata do da CEE, art. 184 do tratado do EURATOM) ou
pelos tratados especiais ou separados (Convention on the Privíleges and lmmunities ofthe
United Nations, art. 1(3), Protocolo de Ouro Preto do Mercosul, art. 34).

9.1.5.2. Reconhecimento implícito

Entretanto, a personalidade legal da OI deve ser reconhecida mesmo no caso da falta de


disposição no tratado constitutivo. Quando a OI começa a exercer as suas funções, conforme
os objetivos do tratado constitutivo, através dos seus órgãos, ela já se tornou uma pessoa inter
nacional, mantendo uma vida independente. Ela atua conforme a sua própria vontade, já que a
sua decisão é tomada pelos órgãos com base nas disposições do tratado. Portanto, a vontade
da 01 é diferente da dos seus Estados-membros. Ou seja, a 01 é pessoa legal independente, a
qual responde diretamente por seus direitos e deveres no Dl. Portanto, apesar do tratado
constitutivo não se referir à personalidade e capacidade da 01, deve-se entender que a
personalidade legal da 01 é conferida tacitamente desde a sua constituição. Isso porque não
existe 01 sem personalidade legal no DI.

Por exemplo, o Tratado de Assunção, que é tratado constitutivo do Mercosul, não se referiu à
personalidade legal do Mercosul. Apesar disso, o Mercosul foi reconhecida tacitamente como
pessoa internacional, ou seja, como sujeito do DI. Ele podia exercer seus direitos em nome do
Mercosul dentro da finalidade determinada no Tratado de Assunção.

Posteriormente, o Protocolo de Ouro Preto ratificou, no art 34, que O Mercosul terá
personalidade jurídica de Direito internacional". Apesar desse dispositivo, o Mercosul já havia
tido reconhecida a sua personalidade legal internacional. E o art 35 esclareceu a capacidade
legal internacional do Mercosul, dizendo: "O Mercosul poderá. No uso de suas atribuições
praticar todos os atos necessários à realização de seus objetivos, em especial contratar,
adquirir ou alienar bens móveis e imóveis, comparecer em juízo, conservar fundos e fazer
transferências". Entretanto essas competências já foram atribuídas tacitamente para a
realização de seus objetivos O art. 35 determinou posteriormente o limite da competência do
Mercosul, apenas para efeito funcional e declaratório.

Portanto, desde que a personalidade legal internacional da OI é reconhecida automaticamente


no Dl, a questão mais importante e pratica é saber quais são as suas competências, ou seja,
suas capacidades permitidas pelo tratado constitutivo ou pelo tratado especial.
9.1.6. Jurisdição, competência e capacidade das Ois

9.1.6.1. Princípio geral sobre jurisdição

A jurisdição da OI refere-se à competência (poder) para executar os seus objetivos e funções


dispostos no tratado constitutivo. Portanto, a base dessa competência está no próprio tratado
constitutivo. Já que a competência é necessária para funcionamento da OI, ela tem
característica de competência (jurisdição) funcional. Essa competência faz-se necessária
somente para o cumprimento específico dos objetivos e funções do tratado constitutivo.
Portanto, as atividades realizadas fora desses objetivos são consideradas ultra vires. Isso se
entende por princípio da especialidade. E, se for necessária para a execução dos objetivos,
essa competência deverá ser aceita tacitamente, apesar da não-disposição no tratado
constitutivo.

9.1.6.2. Acordos de sede e capacidade legal nacional

Apesar do reconhecimento da personalidade legal internacional das Ols, a sua personalidade


legal no plano nacional deve ser definida pelas leis nacionais e, no mínimo, para as finalidades
nacionais. Ou seja, o Estado não tem a obrigação de reconhecer a capacidade legal da OI no
seu território. Portanto, as Ols podem gozar de certos direitos e deveres nos Estados-membros,
somente se esses países os reconhecem no seu ordenamento legal, o que é chamado de
capacidade legal nacional (ou personalidade legal nacional). Para essa finalidade, ou o Estado
re conhece a 01 como pessoa legal pela lei nacional, ou através de acordo específico, como o
acordo de sede. Por exemplo, os EUA têm o International Organization lmmunitiesAct(17), e
celebrou com a ONU o United Nations Headquarters Agreement (26.6. 1947). A maioria dos
tratados constitutivos das Ols contém disposições sobre personalidade legal nacional e sobre
as capacidades a ser reconhecidas pelos Estados-membros. O art. 104 da Carta da ONU
dispõe que "A Organização gozará, no território de cada um de seus Membros, de capacidade
jurídica necessária ao exercício de suas funções e à realização de seus propósitos". Esse
princípio tornou-se um princípio geral aplicável a todas as Ols. O Mercosul, no art. 36(18) do
Protocolo de Ouro Preto, prevê a celebração de acordos de sede entre o Mercosul e os
Estados-membros, para acertar a capacidade legal nacional do Mercosul nos seus territórios.
Em geral, as competências das Ols são bastante limitadas. Por exemplo, poucas Ols têm
capacidade executiva, ficando esta, em geral, a cargo dos Estados-membros. As Ols
funcionam, muitas vezes, apenas como centro de informações, como organizadoras de
conferências e como centro de produção de decisões (de vontade dos Estados-membros).
Entretanto, essa limitação depende muito das finalidades das Ols. Por isso, no caso da UE, os
órgãos comunitários possuem alguns poderes legislativos, executivos e judiciários.

O acordo de sede (accord de siège) é um tratado celebrado entre a OI e o Estado sede da OI,
para acertar as questões do local da sede, os direitos, deveres, privilégios e imunidades. No
mesmo contexto, se a OI exerce suas funções em outros Estados além do país de sede, ela
deve acertar as questões relativas por acordos, em geral esporádicos. No caso da ONU, ela
acertou esse problema através de tratado multilateral com os Estados-membros, ou seja,
General Convention on the Privileges and lmmunities of the United Nations (29.2.1946) e a
Convention on the Privileges and lmmunities of the Specialized Agencies ofthe UnitedNations
(1947).

Assim, podemos entender que essa capacidade legal nacional da OI é baseada no direito
nacional de cada Estado. A sua característica é a do poder discricionário do Estado
interessado, sendo que o limite de sua capacidade é determinado pela livre negociação entre o
Estado e a Dl.

9.1.6.3. Exercício dos direitos

Como pessoa jurídica, a 01 exerce seus direitos e deveres através de um órgão representativo,
composto por funcionários internacionais, como secretário-geral ou diretor-geral. No caso da
CEE, a comissão foi um órgão representativo.
Qual lei se aplica no ato contratual da OI com o indivíduo, para as atividades ordinárias da
mesma? Neste caso, deve-se considerar o conteúdo do contrato. Se o conteúdo do contrato é
referente a ato comercial, aplica-se o direito nacional, e, se este é referente a ato administrativo
da Dl, aplica-se o Dl. Desde que a Dl goze dos privilégios e imunidades similares aos do
Estado, como o direito de acesso ao tribunal nacional e à imunidade para recusar a jurisdição
judiciária nacional, a disposição contratual sobre o meio de solução de controvérsias é
necessária quanto ao contrato com a OI. A jurisdição da Dl pode ser explicada de várias
maneiras, sendo que o meio mais fácil seria classificar a jurisdição conforme as competências
do Estado, ou seja, competência legislativa, jurisdicional e executiva.
A competência legislativa refere-se à capacidade de legislar as normas do Dl. A capacidade de
celebrar tratado, de assistir na preparação de tratado multilateral, de adotar atos unilaterais
normativos, são alguns exemplos. O ad. 43da Carta da ONU estabelece o direito ao Conselho
de Segurança de celebrar acordo relacionado à manutenção da paz e da segurança
internacionais.

A competência jurisdicional significa a capacidade da OI de solucionar as controvérsias


internacionais através dos meios judiciários internacionais, tais como arbitragem e cortes
internacionais. O Acordo de Sede entre a ONU e os EUA (1947) prevê a solução de
controvérsias através da arbitragem internacional. Entretanto, o acesso da OI à CIJ ainda não é
permitido. Algumas cortes internacionais regionais permitem o acesso das Ols, como a Corte
Européia de Justiça.

A competência administrativa diz respeito aos poderes da OI similares à jurisdição territorial e


pessoal do Estado. Apesar de a OI não possuir território nem população, ela exerce tal
competência para a execução dos seus objetivos, tais como: proteção funcional sobre os
funcionários, recepção e expedição de missão diplomática, capacidade de celebrar tratado (a
Convenção de Viena sobre Direito de Tratado de 1986), e capacidade processual, entre outros.

9.1.7. Organizações Regionais

Existem organizações regionais políticas, e algumas delas atuam interativamente junto com a
ONU, conforme o art. 52 da Carta, em todos os continentes.

Na Europa, a União Européia - UE, o Conselho da Europa e a Organização Internacional do


Tratado do Atlântico Norte - OTAN. A OTAN organização criada com objetivos de defesa
coletiva foi produto da Guerra Fria e perdeu sua importância perante as organizações
econômicas, que são, atualmente, dominantes no cenário das organizações internacionais.
Nesse sentido, a OTAN está em processo de reformulação, até com a inclusão de alguns
Estados do Leste Europeu.

Até hoje, as Ols, em sua maioria, são do tipo tradicional, baseando-se principalmente na
cooperação intergovernamental dos Estados que detêm o controle de decision-making e o
financiamento da organização para distinguir o novo tipo de organização internacional
independente criada para a integração dos Estados, emprega-se atualmente o termo
"organização supranacional". Na comunidade regional, a distinção entre organização
internacional tradicional e organização supranacional é muito debatida, mas sem critérios
objetivos e claros. De fato, a transferência da soberania dos Estados-membros para a
organização (internacional) supranacional é muito maior com relação ao escopo e à natureza
dos poderes delegados. Nesse contexto, as seguintes características estão comumente (com
variações) presentes naqueles tipos de organizações supranacionais.

Os órgãos da organização são compostos por pessoas não representantes dos Estados-
membros; os órgãos tomam decisões por voto majoritário, tendo autoridade para adotar atos
vinculantes, sendo que alguns destes têm efeitos legais diretos aos indivíduos e empresas; o
tratado constitutivo e as medidas adotadas pelos órgãos formam a nova ordem legal; o
cumprimento dos Estados-membros com as suas obrigações e a validade dos atos adotados
pelos órgãos da organização estão sujeitos à revisão judicial por corte independente.
De fato, esse critério para a “organização supranacional" foi copia do da experiência da
Comunidade Européia. Suas características foram muito discutidas no meio acadêmico, sendo
considerada como uma entidade "sui generis", considerando-se as características
contemporâneas das organizações intergovernamentais Por isso, atualmente, a União
Européia (termo empregado a partir do Tratado de Maastricht; antes, era denominada
Comunidade Européia) atinge unicamente todos esses ele mentos referentes aos critérios. Os
acordos que estabelecem a União Européia e os direitos secundários criados pelos órgãos da
comunidade formam uma ordem legal independente, que atualmente não encontra facilidades
para a sua inserção na categoria geral do direito internacional tradicional, sendo denominado
direito comunitário europeu.

O papel das Ols é muito importante para o desenvolvimento do sistema legal internacional no
futuro, devido à necessidade de cooperação internacional entre os Estados para a solução dos
problemas transnacionais (Assim, como nós vimos na parte denominada processo legislativo
internacional, as Ols praticamente desempenham, horizontalmente, várias funções
governamentais "ad hoc" na sociedade internacional.

9.2. A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

Em 26.6.1945, na cidade de São Francisco, concretizou-se a assinatura da Carta da ONU e


do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Essa foi a segunda tentativa para o
estabelecimento de uma organização internacional universal, com o objetivo principal de
manter a paz internacional através de um sistema de segurança coletiva. Entretanto, as
diferenças ideológicas entre a União Soviética e os poderes ocidentais, além da Guerra Fria,
derrubaram a base de cooperação na ONU entre os membros fundadores. A esperança pela
cooperação internacional ficou mais complicada ainda quando os novos Estados, forma do
durante o processo de colonização, entraram na ONU. Durante muito tempo, a ONU ficou
paralisada, no sentido da cooperação, devido ao fato da separação ideológica e econômica
entre os países (Leste-Oeste e Norte-Sul). De fato, o papel da ONU só começou a ganhar
maior importância após o término da Guerra Fria. Na Guerra do Golfo (1990-1991), a ONU
reagiu firme, cooperativa e de modo imprescindível contra a agressão do lraque ao Kuwait,
mandando vários tipos de peace-keeping operations e desenvolvendo outras formas de
atividades do CS.

A presença da ONU no desenvolvimento da sociedade internacional e, conseqüentemente, no


Dl é imperativa. Ela atua em todas as áreas do Dl e constitui as suas novas áreas, como direito
humano, direito do mar, direito do meio ambiente etc. Ela atua, de certa forma, como órgão
legislativo internacional, órgão administrativo internacional e órgão judiciário internacional. Por
isso, neste capítulo vamos ver alguns aspectos básicos da ONU, como os seus principais
órgãos, a interpretação da Carta, os seus objetivos, o membership etc.; e, já que ela se faz
presente em todo o Dl, veremos, ocasionalmente, a atuação da ONU em certas partes deste
livro.

9.2.1. Os objetivos e princípios da ONU


2.1.1. Objetivos (art. 1)

A princípio, as Ols podem atuar dentro dos objetivos e competência outorgados pelo tratado
constitutivo. Fora destes limites, implicaria ultra vires, cujo efeito legal seria o da nulidade do
ato. Entretanto, no caso da ONU, a aplicação da teoria do poder implícito (theory ofimplied
powers) é algo bem flexível. Segundo esta teoria, no seu sentido amplo, os objetivos e funções
da ONU implicam naturalmente a existência de outros poderes, também da ONU, para que
possam ser cumpridos. Nesse sentido, a compreensão dos objetivos e princípios da ONU é
uma tarefa fundamental. A Carta da ONU estabelece quatro objetivos da ONU no artigo 1, nos
seguintes termos:

(1) Manter a paz e segurança internacionais, e para esse fim tomar coletivamente medidas
efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da
paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da Justiça e do direito
internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;
(2) Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de
igualdade de direito e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao
fortalecimento da paz universal;

(3) Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de


caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua
ou religião; e

(4) Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses
objetivos comuns.

Assim, a ONU esclarece que ela é uma OI universal por seus próprios objetivos. Os países
ocidentais entendem que o principal objetivo da ONU consiste em preservar a paz e a
segurança internacionais (1), enquanto os países em desenvolvimento dão mais ênfase ao
"respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos" e na
cooperação internacional para "a resolução dos problemas internacionais de caráter
econômico" (§§ 2 e 3).

De qualquer modo, como o art. 2(1) mostra, a ONU é uma forma de confederação baseada no
princípio da igualdade soberana, em vez de governo mundial, para solucionar os problemas de
interesses da sociedade internacional através da cooperação internacional.
9.2.1.2. Princípios (art. 2)

São sete os princípios enumerados pela Carta, os quais os países-membros e a própria ONU
devem cumprir na realização dos objetivos gerais (art. 2):
(1) igualdade soberana dos membros:
(2) boa-fé no cumprimento das obrigações internacionais;
(3) solução dos conflitos por meios pacíficos;
(4) abstenção da ameaça e da força contra a integridade territorial;
(5) assistência à ONU em qualquer ação;
(6) obrigação dos Estados não membros da ONU de cumprir os princípios da ONU;
(7) não-intervenção em assuntos que sejam, essencialmente.
da competência interna dos Estados.

Se observarmos bem, podemos verificar que o princípio de não- intervenção tem uma
característica passiva, diferentemente dos outros seis princípios, no contexto do
desenvolvimento da sociedade internacional. Embora o art. 2 da Carta da ONU declare que,
"baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros", a ONU está dirigida
por cinco grandes países, possuidores do direito de veto no CS, detendo, assim, o comando da
ONU.

2.2. Membros

Segundo o art. 3 da Carta, "Os membros originários da ONU serão os Estados que, tendo
participado da Conferência das Nações Unidas sobre a Organização Internacional, realizada
em São Francisco, ou, tendo assinado previamente a Declaração das Nações Unidas, de
01.01.1942, assinarem a presente Carta, e ratificarem, de acordo com o art. 110. Foram 51 os
Estados que participaram da fundação. A admissão de novos membros é regulada pelo art. 4
da Carta:

1. A admissão, como membro das Nações Unidas, fica aberta a todos os Estados amantes da
paz que aceitarem as obrigações, contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização,
estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações.

Hoje, quase todos os Estados independentes são membros desta organização universal.
(art 5) Existe certa dificuldade no entendimento dos termos suspensão, expulsão e retirada
voluntária. A Assembléia Geral (AG) poderá suspender o exercício dos direitos e privilégios de
qualquer membro, mediante recomendação do Conselho de Segurança (CS), quando este
encaminhar uma ação preventiva ou coercitiva contra um membro da ONU). Aliás, quando um
Estado-membro viola de forma persistente os princípios da Carta, a AG poderá expulsá-lo,
mediante recomendação do CS (art. 6). Na verdade, estas disposições nunca foram aplicadas
até hoje. Entretanto, há um caso que poderá vir a ser considerado como uma expulsão indireta,
que é o caso da Iugoslávia.

Até setembro de 1999, foram contabilizados 188 Paises em Membros da ONU, com a
admissão de Tonga.

(Caso Indonésia, saída e readmissão, 1965)128) Em 20.01.1965, o governo indonésio enviou


uma carta ao Secretário-Geral da ONU anunciando a sua retirada da ONU, em protesto contra
a eleição da Malásia como membro não-permanente do Conselho de Segurança. Em
1.03.1965, a Secretaria da ONU providenciou todas as medidas administrativas necessárias,
tais como a retirada da bandeira e da placa com o nome da Indonésia. Entretanto, em
setembro de 1966 a Indonésia notificou ao Secretário-Geral da ONU a sua reassunção,
cooperação com a ONU e participação nas atividades a partir da 21 Sessão da AG. O
presidente da 21 Sessão da AG declarou que (...) It would there fere appear that the govern
ment of Indonésia considers that its recent absence from the Organiza tion was based not upon
a withdrawal from the United Nations but upon a cessa tion o! co-operation. The action so far
taken by the Uriited Nations but upon a cessation o! co-operation. The action so far laken by the
United Nations on this matter wou/d not appear to preclude this view. If this also the general
view of the membership, the Secretary-General would give instructions for the necessary
administrative actions to be taken for Indonesia te participa te again in the proceedings of the
Organization. (..) There being no objection, 1 would invite the representatives of Indonesia (o
take their seats iii the General Assembly (U. N. Doc.A/PV. 1420, at 2 (1966)). Se esta saída
tivesse sido efetivada, a Indonésia deveria solicitar a sua readmissão à ONU, conforme o art. 4
da Carta. Entretanto, já que a sua saída foi entendi da como uma simples suspensão da sua
colaboração com a Organização, a Indonésia deveria ter pagado todas as contribuições que
devia, na condição de membro, durante a sua ausência, ou seja, de janeiro de 1965 à setembro
de 1966. O resultado da negociação entre o Secretário-Geral e a Indonésia resultou na
determinação do pagamento de apenas 10 por cento das contribuições atrasadas (21 GAOR,
Agenda tem 77, Annexes, at 2 (U.N. Doc. A/C. 5/1097 (1966)).

(Caso da Iugoslávia, 1991)1291 A República Federativa da Iugoslávia foi extinta com a sua
cisão em vários Estados independentes, em 1991, o que resultou no nascimento dos Estados
novos: República Federal da Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), Bósnia-Herzegovina, Croácia,
Macedônia e Slovênia. Com a exceção do restante da Iugos lávia (Sérvia e Montenegro), todos
os novos Estados receberam o membership da ONU. Eles foram aceitos apesar da não-
solução definitiva das disputas fronteiriças. Entretanto, quando a Macedônia tentou usar como
nome do seu Estado a palavra "Macedônia", a Grécia levantou objeção, já que esse mesmo
nome denomina uma província do norte do seu país. Esse país foi admitido na ONU como o
nome provisório de "The Former Yugoslav Republic of Macedonia" até que a diferença com a
Grécia sela solucionada. A ONU recusou-se a admitir que a República Federal da Iugoslávia,
representada pela Sérvia e por Montenegro, tomasse o lugar da antiga República Federal
Socialista da Iugoslávia. O fundamento da ONU é que a tal RFI não é ainda uma entidade
legal, porque o antigo Estado da Iugoslávia não existe mais e não houve continuidade, O OS e
a AG decidiram que a REI deveria pedir um novo membership.

Com relação à retirada (withdrawal), a Carta silencia. Esta omissão foi deliberada, já que o
direito de retirada reconhecido no Pacto da Sociedade das Nações (SN) enfraqueceu essa
organização, que não suportou a saída de vários membros (art. 1(3) do Pacto da SN). A
questão da retira da registrou apenas um caso até hoje A maioria das outras organizações do
sistema da ONU contém as cláusulas de retirada.

2.3. Os principais órgãos da ONU


A ONU é composta por seis órgãos principais, dispostos na Carta da ONU, e por outros órgãos
subsidiários, que serão criados para cumprir os seus fins. Os seis principais órgãos são: a
Assembléia Geral (AG); o Conselho de Segurança (OS); o Conselho Econômico e Social
(CES); o Conselho de Tutela (CT); a Corte Internacional de Justiça (CIJ); e o Secretariado.
Entre estes, 2 são órgãos internacionais, compostos por funcionários internacionais, os quais
são: a Corte Internacional de Justiça (CIJ); e o Secretariado. Os quatro órgãos restantes são
órgãos intergovernamentais, que são representados pelos representantes eleitos dos países-
membros, os quais são: a Assembléia Geral (AG); o Conselho de Segurança (OS); o Conselho
Econômico e Social (CES); e o Conselho de Tutela (CT). Entre estes, a AG é o órgão geral,
sendo constituída por todos os Estados Membros da ONU, e os três Conselhos são órgãos
limitados, com funções mais especializadas e integrados por um número limitado de Estados-
membros.

A idéia principal da ONU é que a paz internacional seja mantida através da cooperação entre
os países poderosos, ou seja, eficácia em vez de igualdade (pragmatismo - reconhecimento de
eficácia no lugar da igualdade entre os países-membros). Por isso, o CS tem mais poder do
que a AG, principalmente na área da paz. Os 5 países do CS foram designados sem troca.
Será que essa composição dos poderes já foi mudada durante esses 50 anos? Sim, ex.:
Canadá, Japão, Alemanha. Aliás, esses países participam do Conselho nos importantes
órgãos, automaticamente, ou seja, já havia a intenção desses 5 países de tomar conta de todas
as áreas internacionais.

2.3.1. O Conselho de Segurança (CS)

(1) Composição: O CS é composto por quinze Estados membros, e cada membro do CS tem o
seu representante (art. 23). O art. 23 (1) da Carta designa como membros permanentes do CS
a República da China, a França, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino Unido
da Grã-Bratanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América. Entretanto, não existe
mais a União Soviética, sendo necessária a alteração da Carta.

(Caso Rússia, 1991) A Rússia informou à ONU em 1991 que, com o apoio de 11 membros do
CS (Commonwealth of Independent States), ela continuaria com o membership da União
Soviética em todos os órgãos da ONU. Essa medida tomada pela Federação Russa é
marcante, porque tal medida não encontrou nenhum protesto pelos Estados membros da ONU.
No sentido estritamente legal, neste caso de substituição do membership, a alteração da Carta
da ONU far-se-ia necessária para alterar a composição do A posição da AG e do CS é bem
diferente com relação à Iugoslávia, quando a Sérvia e o Montenegro argumentaram quanto à
sucessão da República Federativa da Iugoslávia.

A AG elege periodicamente dez outros membros da ONU, para o cargo de membros não-
permanentes do CS, tendo especialmente em vista, em primeiro lugar, a contribuição dos
membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para
os outros propósitos da Organização e também a distribuição geográfica eqüitativa" (art. 23
(1)). O mandato do membro não-permanente é de dois anos. Atualmente, dos dez lugares
existentes, cinco lugares são destinados aos países Afro-asiáticos, dois vão para a América
Latina, um para a Europa Oriental e dois para Europa Ocidental e demais países restantes. A
composição do CS não reflete bem o balanço do poder econômico, por isso está sendo
discutida, hoje, a reforma do CS. Entretanto, a discussão limita-se a um pedido de ampliação
dos lugares permanentes, o que encontra uma forte resistência dos próprios membros
permanentes. A Alemanha e o Japão são os países mais interessados a entrar para a lista dos
permanentes, e alguns países em desenvolvimento, tais como o Brasil, a Índia e a Nigéria
exigem os tais lugares. A atual estrutura do CS é a seguinte:

O CS é principal responsável pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Os


membros da ONU concordaram em aceitar as decisões do CS, que age em nome deles. O CS
adota recomendações para a solução pacífica de conflitos e decide sobre medidas coercivas,
para o caso de ameaça à paz e segurança internacionais. O art. 24 (1) da Carta dispõe:

A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus membros conferem
ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança
internacionais. e concordam em que, no cumprimento dos deveres Impostos por essa
responsabilidade, o conselho de Segurança aja em nome deles.

Nesta linha, o CS toma o papel importante no desenvolvimento das Peace-keeping Operations


que não foram previstas na Carta da ONU. Para dar maior peso ao trabalho do CS, o art. 25 da
Carta prevê que Os Membros das Nações Unidas concordam em aceitar e executar as
decisões do Conselho de Segurança, de acordo com a presente Carta". Assim, o CS tem o
poder de adotar as decisões obrigatórias, que todos os países-membros estão obrigados a
cumprir. (Entretanto, essa tese não se aplica às meras recomendações do CS.)

(3) Processo de Votação: cada membro do CS tem direito a um voto. Vide processo de votação
no CS. art. 27da Carta:

1. Cada membro do Conselho de Segurança terá um voto.


2. As decisões do Conselho de Segurança em questões processuais serão tomadas pelo voto
afirmativo de nove membros.
3. As decisões do Conselho de Segurança, em todos os outros assuntos, serão tomadas pelo
voto afirmativo de nove membros, inclusive os votos afirmativos de todos os membros
permanentes, ficando estabelecido que, nas decisões previstas no capítulo VI e no § 3 do ad.
52. aquele que for parte em uma controvérsia se absterá de votar.

Para fazer passar no CS qualquer resolução importante, faz-se necessário o voto afirmativo
de 9 membros do Conselho. Desta forma, se qualquer dos cinco membros permanentes der um
voto negativo (veto), a resolução não passa. Vide 27(3), cada membro permanente do CS tem
direito a veto em questões não processuais.

(4) O efeito do art. 27(3): O veto não se aplica em questões processuais. Então, como se
decide se a questão é processual ou não? Na Conferência de São Francisco, os quatro
poderes (EUA, URSS, UK e China) elaboraram uma lista de certas questões entendi das como
questões processuais (como, por exemplo, as decisões sob os arts. 28 - 32 da Carta, e
questões referentes à agenda) e questões não processuais (como, por exemplo,
recomendações para a solução pacífica das disputas, e as decisões para tomar enforcement
action). No caso de dúvida, a questão preliminar seria a questão não processual. Esse critério
resultou em duplo veto, O membro permanente do OS poderia vetar qualquer tentativa de tratar
a questão como processual, e, em, seguida, vetar qualquer proposta de resolução que trate
dessa questão.

Desde os primeiros anos da ONU, tem- se desenvolvido uma prática consistente de não
considerar as abstenções como vetos, e tal prática veio a ser legalmente reconhecida pela CIJ
no caso Namíbia (1971).

(5) Reforma do CS: Recentemente, a composição do CS, junto com o seu procedimento de
votação, têm sido criticados ardentemente devido à sua inadequação ao mundo moderno. A
questão da representação eqüitativa e do aumento do número de membros do CS tem sido
alegada pelos países não aliados e em desenvolvimento desde 1979. A Alemanha e o Japão
manifestaram o seu interesse pelo lugar permanente. No final de 1993, a AG decidiu
estabelecer o "Open-ended Working Group on the Question of Equitable Representation on and
In crease in fhe Membership ofthe Security Council' ' à vista do interesse pelos membros
permanentes. De fato, a questão da reforma do CS está ligada ao tato de que o CS aumentou
o seu papel na época denominada de post-Co/d War. De fato falta aos países permanentes do
CS transparência no processo de decisões, os quais ainda realizam reuniões secretas.
Praticamente, o CS funciona como se fosse um órgão privativo dos países ocidentais
industrializados, com a liderança dos EUA Esse fato por si só já justifica a necessidade da
reforma do CS.

2.3.2. A Assembléia Geral (AG)


A AG é o principal órgão deliberativo da ONU, sendo composto pelos representantes de todos
os Estados-membros. As decisões da AG, como resoluções, apesar da falta de força vinculativa
para os Estados-membros, são muito importantes, já que formam a opinião pública
internacional dada pelos Estados sobre os principais assuntos internacionais, com autoridade
moral e servindo como prática dos Estados para os costumes internacionais. As resoluções da
AG são manifestações da vontade geral da comunidade internacional, cujos trabalhos são
preparados pelos comitês e pelas entidades criadas pela AG para a pesquisa de assuntos
específicos.
Apesar de que, com relação à função primária da ONU sobre a manutenção da paz e
segurança internacionais, o CS assume a responsabilidade primária (art. 24) e a AG atue
conforme a recomendação do CS, nos assuntos mais importantes, a competência da AG é
geral e abrangente, conforme mostra as seguintes disposições da Carta.

.Art. 10 - A Assembléia-Geral poderá discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem


dentro das finalidades da presente Carta ou que se relacionarem com as atribuições e funções
de qual quer dos órgãos nela previstos e, com exceção do estipulado no art. 12, poderá fazer
recomendações aos membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança, ou a este e
àqueles, conjuntamente, com referência a qualquer daquelas questões ou assuntos.

Art. 11(2) - A Assembléia-Geral poderá discutir quaisquer questões relativas à manutenção da


paz e da segurança internacionais que a ela forem submetidas por qualquer membro das
Nações Unidas, ou pelo Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja membro das
Nações Unidas, de acordo com o art. 35, § 2 e, com exceção do que fica estipulado no art. 12,
poderá fazer recomendações relativas a quaisquer destas questões ao Estado ou Estados
interessados, ou ao Conselho de Segurança, ou a ambos. Qualquer destas questões, para cuja
solução for necessária uma ação, será submetida ao Conselho de Segurança pela Assembléia-
Geral, antes ou depois da discussão.

Art. 13 (1) - A Assembléia-Geral iniciará estudos e fará recomendações, destinados a:


a) promover a cooperação internacional no terreno político e incentivar o desenvolvimento
progressivo do direito internacional e a sua codificação;

b) promover a cooperação internacional nos terrenos econômicos, social, cultural, educacional


e sanitário, e favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por
parte de todos os povos, sem distinção de raça, língua ou religião.
Art. 14- A Assembléia-Geral, sujeita aos dispositivos do art. 12, poderá recomendar medidas
para a solução pacifica de qualquer situação, qualquer que seja sua origem, que lhe pareça
prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre as nações, inclusive em
situações que resultem da violação dos dispositivos da presente Carta que estabeleçam os
propósitos e princípios das Nações Unidas.

(1) Orçamento: O orçamento da ONU gera o seu problema crônico. A ONU atualmente
encontra-se endividada, devendo algo em torno de US$ 2,8 bilhões - US$ 1,7 bilhões por
peace-keepíng operations e US$ 1,1 bilhões por orçamento regular. Particularmente, isso se
deve ao aumento das atividades da ONU após a Guerra Fria, com grandes despe sas geradas
pelas operações de manutenção de paz, que não são financiadas pelo orçamento regular.

O princípio básico do sistema do orçamento da ONU é"a capacidade a pagar"; na prática, a


quota fixada a cada membro está mais ou menos relacionada com o montante do seu produto
nacional bruto. Um Estado-membro que se encontre atrasado no pagamento das suas
contribuições financeiras à organização não terá direito de voto na AG se os quantitativos em
atraso igualarem ou excederem a soma das contribui.

SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO DIP

Para solucionar os conflitos que podem surgir na sociedade internacional, já que a guerra
passou a ser proibida, segundo disposição do art 2°, 3 da Carta da ONU, artigo 2°, "b" da OEA,
a Conferência de Haia de 1899, o Pacto de Bogotá etc, é necessário que os Estados lancem
mãos dos mecanismos que são colocados à disposição pelo Direito.
Meios de solução das controvérsias:

SOLUÇÕES PACÍFICAS: Meios diplomáticos, Meios jurisdicionais, Meios políticos, Meios


coercitivos.

MEIOS DIPLOMÁTICOS: negociações, serviços amistosos, bons ofícios, mediação.

MEIOS JURISDICIONAIS: arbitragem e solução judiciária

MEIOS POLÍTICOS: apelo às instâncias políticas da ONU, como o Conselho de Segurança e a


Assembléia-Geral

MEIOS COERCITIVOS: retorsão, represálias, embargo, bloqueio pacífico, boicotagem.

1. Meios diplomáticos

a) Negociação - É atividade diplomática, ocorre quando os Estados solucionam a controvérsia


por meio da discussão direta de governo a governo. Neste caso, não há a intervenção de
terceiros para a solução da contenda e normalmente é um pressuposto para a celebração de
um tratado. Ex.: negociação para delimitar o território - Brasil e Bolívia (Tratado de Petrópolis
de 1903, referente ao Estado do Acre).

b) Serviços amistosos - São prestados sem aspecto oficial por diplomata designado pelo
governo para que se chegue a um bom termo sem necessidade de maiores movimentações e
sem chamar a atenção da opinião pública. É uma classificação de Husek.

c) Bons Ofícios - É a tentativa amistosa de um terceiro, ou vários Estados, alheios aos conflitos,
no sentido de levar os Estados em litígio a chegarem a um consenso. Ocorre mediante
oferecimento aos litigantes ou por solicitação de um dos envolvidos no conflito. Ex.: o Brasil e a
Inglaterra valeram-se dos bons ofícios de Portugal (1864), na questão relativa à ocupação da
Ilha da Trindade por parte dos Ingleses.

d) Mediação - É uma intervenção amigável. Ocorre quando um terceiro Estado envia um


emissário para propor a solução. Distingue-se dos bons ofícios pelo fato de se constituir em
uma participação direta nas negociações entre os litigantes. Na mediação, a proposta ou
parecer do mediador não obriga as partes. Daí resulta que a mediação só terá êxito se os
contendores aceitarem satisfatória a proposta de decidirem agir na sua conformidade. Ex:
mediação da Inglaterra entre Brasil e Portugal para o reconhecimento da independência política
brasileira em 1825 (Tratado da Paz e da Amizade).

Alguns autores classificam também, os Congressos e Conferências - algumas vezes o litígio diz
respeito a dois Estados com tendência a se generalizar, e por isso, os demais Estados se
reúnem em Congressos e Conferências para propor uma solução. Ex: Conferência de Algeciras
(1906), que evitou a guerra entre a Alemanha e a França por causa do Marrocos.

2. Meios jurisdicionais

É facultado aos Estados litigantes aceitar ou não o poder jurisdicional na solução de um


conflito, entretanto, uma vez aceito deverá se submeter à sua decisão. Os meios jurisdicionais
são a solução judiciária e a arbitral que se distinguem no seu aspecto formal, isto é, os
componentes do tribunal arbitral são constituídos por escolha das partes litigantes para resolver
o litígio e desaparece com ele, enquanto o tribunal judiciário é anterior ao litígio e subsiste à
sua solução e os seus componentes não são escolhidos pelas partes litigantes.

A solução judiciária ao contrário da jurisdição arbitral, que conta com dois milênios de história, é
um fenômeno recente na sociedade internacional. A instituição pioneira foi a Corte de Justiça
Centro-Americana instituída em 20.12.1907 entre Costa Rica, El Salvador, Guatemala e
Honduras tendo durado 10 anos. A Corte Internacional de Justiça em Haia é o mais importante
tribunal internacional.

A arbitragem é o meio através do qual, os Estados conflitantes resolvem de comum acordo


entregar a solução nas mãos de um árbitro. E uma jurisdição temporária constituída depois que
surge o litígio. Como houve o acordo de vontades qualquer que seja a conclusão terá que ser
acatada. Ela pode ser obrigatória quando decorre do tratado ou voluntária quando no momento
do litígio os Estados resolvem entregar a solução nas mãos de um árbitro. Ao assinarem o
compromisso, os litigantes se obrigam a acatar o laudo arbitral, todavia, se o árbitro ou tribunal
exceder os poderes conferidos ou se houver cerceamento de defesa, a sentença será nula.

A arbitragem apresenta as seguintes características: o acordo de vontades das partes para a


fixação do objeto do litígio e o pedido de sua solução a um ou mais árbitros; a livre escolha
destes e a obrigatoriedade da decisão. Assim, o acordo de vontades para a arbitragem traduz-
se num compromisso que define a matéria da controvérsia, designa os árbitros, indica-lhes os
poderes e contém a promessa formal de aceitação, respeito e execução da futura sentença
arbitral.

Outro mecanismo para facilitar a elucidação de fatos controvertidos são as comissões


internacionais de inquérito. Ocorrendo um conflito entre dois ou mais Estados, uma comissão
estuda os fatos que ensejaram a divergência, elaborando, em seguida, um relatório que, se
aprovado, servirá de base para solucionar o impasse.

As comissões internacionais de inquérito, denominadas de comissões de investigação e


conciliação, são criadas para facilitar soluções de litígios internacionais ou elucidar fatos
controvertidos, por meio de investigação criteriosa e imparcial.

Silva e Accioly informam que a primeira aplicação da comissão de inquérito deu-se durante a
guerra russo-japonesa, em 1904, no conflito surgido entre a Inglaterra e a Rússia, por causa de
um incidente ocorrido no mar do Norte e outro caso relaciona-se ao afundamento do paquete
holandês Tubantia em 1916. Neste caso, a Holanda atribuiu o fato aos alemães que
rechaçaram as informações. Somente em 1921 os governos chegaram a um acordo e
submeteram o caso a uma comissão de inquérito.

Convém ressaltar que embora a conclusão do relatório não seja obrigatória para as partes,
estas se comprometem a não iniciar qualquer atividade bélica enquanto a comissão estiver
exercendo suas atividades.

3. Meios políticos

As soluções proferidas pela Assembléia Geral e pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas podem ser utilizadas como instâncias políticas de solução de conflitos internacionais. A
Carta da ONU faculta o acesso aos litigantes e a terceiros a qualquer dos seus dois órgãos
políticos para tentar compor os conflitos.

Tais órgãos têm competência para investigar e discutir situações conflituosas, expedindo
recomendações a respeito e em caso de ameaças à paz o Conselho tem o poder de agir
preventiva ou corretivamente, valendo-se até mesmo da força militar que os membros das
Nações Unidas mantêm à sua disposição.

4. Meios coercitivos

Sendo fracassadas as soluções diplomáticas e políticas ou se não forem aplicadas medidas


jurídicas para resolver as controvérsias entre dois ou mais Estados, um deles, cujos direitos ou
interesses foram violados, pode usar de certos meios coercitivos com objetivo de forçar o
adversário a solucionar o desacordo existente entre ambos. Seitenfus e Ventura advertem que
a coerção seria uma forma de pressão cuja intensidade é suficiente para fazer com que o
Estado objeto mude sua atitude anterior. Todavia, as pressões fazem parte de todos os
sistemas sociais inter-relacionais, sejam eles públicos ou privados, internos ou internacionais.
O momento em que a pressão, instrumento legal e legítimo de negociação, transforma-se em
coerção seria aquele em que o seu exercício provoca a perda do livre arbítrio do Estado objeto.

Dentre os meios coercitivos que são consagrados no direito internacional temos: a retorsão. a
represália, os embargos, o boicote e o rompimento das relações internacionais.

1) Retorsão - é o ato pelo qual um Estado que sofre uma lesão aplica a mesma medida para
seu agressor, ou seja, é a observância da lei de talião aplicada na ordem internacional. O
Estado revida o prejuízo ou dano de maneira idêntica sem utilizar de meios violentos como por
exemplo o aumento das tarifas alfandegárias sobre o produto de determinada procedência, a
interdição de acesso de portos de um Estado aos navios de outro Estado.

2) Represália - são medidas coercitivas, derrogatórias das regras ordinárias do direito


internacional, tomadas por um Estado em conseqüência de atos ilícitos praticados, em seu
prejuízo, por outro Estado e destinadas a impor a este, por meio de um dano, o respeito do
direito.

A distinção da represália para a retorsão consiste no fato de que aquela se baseia na existência
de uma violação de um direito enquanto que essa é motivada por um ato que o direito não
proíbe ao Estado estrangeiro, mas que causa prejuízo ao Estado que dela lança mão.

3) Embargo - o embargo consiste no seqüestro em tempo de paz, de navios mercantes do


Estado causador do dano. Não se pode confundir o embargo civil também denominado
embargo do príncipe que se relaciona a proibição da saída de navios de um porto decorrente
de questões sanitárias, judiciais e policiais.

4) Boicotagem - é a interrupção de relações comerciais com um Estado considerado ofensor


dos nacionais ou dos interesses de outro Estado. O rompimento das relações comerciais
ocorre de governo a governo e possui amparo no artigo 41 da Carta das Nações Unidas que
estabelece a aplicação da boicotagem como medida destinada a tomar efetivas suas decisões
em casos de ameaça contra a paz internacional.

5) Rompimento das relações diplomáticas - pode ocorrer a ruptura das relações entre dois
Estados decorrente de uma violação de direitos como também para ser utilizado como
mecanismo de pressão de um Estado sobre outro Estado. Assim, quando não existe mais
diálogo entre as partes, há a entrega dos passaportes ao embaixador do Estado e a solicitação
da retirada de todo o corpo diplomático podendo resultar na guerra.

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