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O candomblé no transe

Rogerio Trindade

Na noite escura se demarca o círculo, através do toque dos antigos se evoca um âmbito. A
alma do homem é tragada na dança circular. O canto, fórmulas mágicas, emana e veda
hermeticamente o espaço de culto. O terreiro e o corpo de quem dança, aos poucos, tornam-
se análogos. E é neste momento que, tragado pela coletividade do seu povo, o eu se esvai para
um lugar distante. Esvair-se significa dissolver-se no geral através de um impulso próprio. Esse
geral é o desenrolar de toda uma história. O refinado culto africano é primitivo apenas no
sentido de primeiro, isto é, trata-se de uma das primeiras vezes que o homem, através de um
contato profundo com sua origem e com aquilo que ela tem de divino, o transcreve da forma
mais refinada da qual podia fazer uso: o simbólico. A dança continua. O ‘paô’ anuncia a
chegada do divino. As três batidas iniciais e mais altas avisam que o Divino desce para
abranger (abraçar) o que é Humano, as sete batidas seguintes representam este Humano que,
na presença do divino, recua para lhe dar lugar. Os próprios orixás se fazem presentes. Seres
ancestrais, arquétipos que abrangem a própria história do povo e a conecta com o divino.
Através de gestos, o orixá refaz toda a história de seu povo, de forma que no terreiro se
desenrolam tempos ancestrais. Toda a história negra acontece, e assim também toda a
história humana, em uma abertura que apenas a mais complexa magia poderia proporcionar.
O individuo em transe, enquanto mergulhado em si mesmo, habita em conjunto esse tempo
ancestral e serve de ponte entre o divino e o mundano. Ele é instrumento do divino e, assim,
participa do divino: cumprindo a tarefa humana de servir de elo entre a criação e a palavra
criadora.

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