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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us

ENTREVISTA: FENRIZ
(DARKTHRONE)
25 anos da gravação de Soulside Journey

julho 8, 2015 • 23 minute read

In Discos

Estar entre os reis do black metal do início dos anos 90 não basta. É pouco para
uma banda como o Darkthrone. Para saber mais de clássicos como
Transilvanian Hunger ou Under a Funeral Moon, você com certeza vai encontrar
várias entrevistas espalhadas pela internet. Mas a gente queria falar de um
disco rico, emblemático e peça única na carreira dos caras: o Soulside Journey.

Uma das resenhas da época dizia “don’t start here if you’re trying to get
into Darkthrone, that is the message”. Essa advertência estava errada, muito

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errada. É exatamente esse disco, e toda sua história, que faz com que a gente
entenda o movimento da banda em direção ao black metal e, mais recentemente,
ao estilo mais cru e tradicional com pitadas de metal punk.

Em 2015 faz 25 anos que a banda entrou em estúdio para gravar uma coleção de
músicas intrincadas e que em quase nada se relaciona com o que eles vieram a
fazer depois disso. A abordagem minimalista e os riffs sombrios e técnicos
resultaram nesse primogênito de gênio forte, que até hoje divide opiniões.

Para nós, não teria jeito melhor de brindar esse feito do que trocar uma ideia
com um dos caras responsáveis por essa obra-prima. A gente falou com o Fenriz,
baterista, compositor e fundador de uma das melhores bandas do mundo. Sim,
do mundo. Parece exagero, né? Deve ser. Mas é que uma banda como o
Darkthrone é feita de exageros criativos, na atitude e na convicção de criar obras
que re itam o respeito que ela tem pela sua música.

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Foto enviada por Fenriz

Sounds Like Us: Como era a Noruega e como andava sua vida quando você
gravou o Soulside Journey?
Fenriz: Na verdade, eu sinto que era assim como hoje. Acabávamos de sair de
uma monótona década de 80 aqui. Havia música, mas era um país muito jovem
musicalmente falando. Não acontecia muita coisa ao vivo se compararmos com
os dias atuais (Oslo é uma das cidades musicais mais movimentadas do mundo
e a Noruega é um dos países mais movimentados com seus festivais
constantes). Como país, a gente precisava de muito incentivo e, levando em
conta todo o espírito provocativo do black metal, o sucesso dele acabou
ajudando a Noruega a se tornar uma nação musical.

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Mas a vida era liberal por aqui. A geração irônica estava prestes a sair de cena
(agora, me parece que uma mistura de ironia e não-ironia é melhor) e também
tínhamos acabado de sair da Guerra Fria – de 1988 até o comecinho de 1990,
nosso lugar de ensaios era um abrigo antibomba que cava sob uma leira de
estacionamentos. Por causa da Guerra Fria, tínhamos que levar todo o
equipamento para baixo e transportá-lo para um alojamento a cada ensaio, haha.
Um saco, mas esse é apenas um dos detalhes de como se preparar para a guerra.

Minha vida era ótima, uma vez que meu único objetivo na vida era conseguir
assinar com uma gravadora. Eu não estava muito interessado em tocar ao vivo e,
quando criança, não cheguei a sonhar muito com os palcos, só em fazer discos.
Eu sempre fui e serei uma pessoa de DISCOS, não uma pessoa de shows. E eu
descobri o underground no comecinho de 1987 e, desde então, era o que eu fazia
na época do Soulside (eu meio que dei uma parada do underground de 1991 a
2004, mas não completamente), que era, naturalmente, trocar cartas e música
com o underground mundial, que era a nossa internet antes da internet.

Sounds: Que bandas você mais escutava na época? Consegue se lembrar do


primeiro disco de metal que comprou na vida?
Fenriz: A gente [ele e Nocturno] era fã de música desde muito cedo, e eu me sinto
muito feliz em dizer que começou quando eu tinha 1 ano e meio, quando meu tio
Stein colocou Pink Floyd para eu escutar. Ele viu minha reação e me deu um
disco no meu aniversário de 2 anos, no nal de 73. Ele gostava demais de Pink
Floyd para se desfazer do disco, então ele me deu o Morrison Hotel, do The
Doors, que tinha a pesadona “Waiting for the Sun”. No ano seguinte ganhei a
trilha sonora do lme Easy Rider (com “Born to be Wild”, do Steppenwolf, a

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primeira música a mencionar a palavra HEAVY METAL), e ganhei o “Sweet


Freedom”, do Uriah Heep, que foi meu disco favorito… provavelmente ainda é,
aquele disco é minha VIDA, VIDA, VIDA, VIDA, VIDA, VIDA, VIDA! Mas depois
disso não ganhei mais nada, não tinha grana. Daí entrei na escola e conheci o
Kiss em 1980, e depois AC/DC, Black Sabbath, Iron Maiden, Dio, Accept e também
o Hanoi Rocks, de quem eu tenho uma tatuagem grande; e nalmente, o
Metallica e, em seguida, o Slayer, na época perfeita dos meus 13-14 anos.

Na época, como tínhamos gravadores nos nossos quartos, a gente comprava


FITAS K7. As vitrolas cavam na sala e nossos pais geralmente não queriam
escutar hard rock/heavy metal. Eu comprei o Hotter than Hell, do Kiss, em vinil e
claro, ele continua sendo um dos meus LPs preferidos. Os discos do Iron Maiden
eu ganhava nos meus aniversários, porque todo ano eles eram lançados por volta
do mês de outubro. Highway to Hell, do AC/DC, também foi um que comprei bem
precocemente. Mas não antes de 81/82. Eu acho que fui ter um toca-discos no
meu quarto por volta de 82 ou, pera aí, isso deve ter rolado depois do Lick it Up,
do Kiss, em 83… eu acho que eu ganhei um toca-discos no m de 83, ou melhor
dizendo, depois de eu ter ido para uma LEIRSKOLE (esses passeios escolares
para que as turmas se conheçam são comuns por aqui, e geralmenre se vai mais
às montanhas, para construir cavernas de neve, andar de ski e aprender a viver
em uma cabana). Isso deve ter sido no começo de 84 e eu me lembro de voltar
pra casa e encontrar um toca-discos que meus pais compraram pra mim… muito
amor por ele. Mas isso PODE ter acontecido no m ou no início de 85. Desculpe, é
bem difícil lembrar… em todo caso, eu tive discos de vinil desde que nasci, mas é
uma grande diferença escutar na sala de estar em vez de no meu quarto, então
era costume eu gravar tudo no sala e continuar a escutar no tocador de K7. Esse
gravador de K7 acabou revolucionando a música, uma vez que cada pessoa podia
gravar suas bandas (ensaio e demos de ensaio), e com o underground já
reaparecendo no início dos anos 80, a revolução estava começando.

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Em 90, quando gravamos Soulside Journey, a gente começou a escutar qualquer


coisa. Passamos pela fase do thrash, deaththrash, death metal e doom death. Era
hora de voltar e ouvir mais Black Sabbath, mais Last in Line, do Dio (pra mim,
pessoalmente, um disco muito importante), Motörhead, Bathory e Celtic Frost.
Pra mim, todas essas coisas, que começaram em 89 para mim, pessoalmente,
expandiram meus gostos e sentidos. Então, quando eu estava em Estocolmo para
gravar o Soulside, em setembro de 90, eu também comprei alguns discos.
Lucifuge, do Danzig, Ishtar, do Adrenalin O.D, Gloom, do Macabre, o homônimo do
Trouble (um dos meus favoritos desde então) e também um LP do STRYPER, para
o incrível aborrecimento de todos os demais, hahahahaha.

Em 90, eu comprei quase nada de death metal (embora tenha sido o estilo que a
gente dominava na época). Nós começamos a car retrô com todas as coisas
primitivas que estávamos escutando, com Black Sabbath, Bathory e Celtic Frost,
e passou a ser lógico sair do death metal mais técnico e tocar de uma forma
mais primitiva no início de 91.

Sounds: Como você achava que seria o futuro do Darkthrone na época do


lançamento de Soulside Journey?
Fenriz: A gente só esperava que as pessoas fossem gostar do nosso COSMIC
death metal. A gente estava feliz por ter um contrato de gravadora, mas era uma
felicidade misturada com melancholia, e logo a escuridão cou mais presente
nas nossas vidas.

Sounds: Aqui no Brasil era difícil conseguir discos novos. Sem internet, os discos

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lançados na época chegavam pra gente com meses, às vezes anos, de atraso.
Escutei [Vina] o Soulside Journey por volta de 1991, em uma ta K7 gravada que
comprei aqui. Como era pra vocês na Noruega? O acesso era mais fácil ou tão
difícil quanto?
Fenriz: Bem, eu comprei os dois primeiros do Sepultura do próprio Max no m de
86, por meio da DEATHVINE, uma coluna de meia página da revista Kerrang. Era
como um mini fanzine. Os discos chegaram um ano depois, junto com uma carta
de pedido de desculpas do Max. Ele também enviou o disco novo, em reparação
ao meu tempo de espera. Era o Schizophrenia, um dos meus discos favoritos de
thrash até hoje.

Eu pude comprar os Sarcófago por mail order. Isso era tudo que eu tinha, porque
aqui a distribuição era fraca na época e, na verdade, sempre foi assim, pelo
menos para freaks do underground como eu. Você poderia ter trocado tas do
Darkthrone. Nós trocamos tas com coisas da América do Sul. Era comum ter
demos de lugares exóticos (como a Noruega, para vocês) em 88, 89. De qualquer
forma, depois de 87 eu quase não comprava discos de metal nas lojas mais, as
coisas de que eu gostava eram muito underground. Mas eu podia comprar
alguns discos, claro.

Sounds: Consegue se lembrar de alguma banda que você conheceu nas famosas
trocas de tas e que acompanha até hoje?
Fenriz: Haha, de pelo menos uma centena!!! Eu não sou como os velhos caras do
metal dos anos 80 que, logo depois do sucesso do primeiro disco, se esqueceram
do lugar de onde vieram… eu dedico pouquíssima parte do meu tempo
promovendo a minha própria banda, e grande parte divulgando a música de
OUTRAS PESSOAS. Grátis [ele escreveu a palavra em português].

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Nas trocas de tas ou apenas comprando demos mesmo, foram Sabbat, da


Inglaterra; Poison, da Alemanha; Agony, da Suécia; Nihilist, Brainwarp,
Entombed, Devastation, Revelation (doom), Regurgitation, O.L.D, Spazztoc BLurr,
Sindrome Halls of Extermination, Nocturnus demo 2, Autopsy, Death Strike,
Vomit (Noruega), Me sto (Suécia), Pentagram (Chile), Death Yell, Obscurity
(Suécia), Paradox, Obliveon (Canadá), Cerebral Haemmorhage (projeto paralelo
do Whiplash que era tipo um S.O.D), Soothsayer, Devastation (eu escrevi no
encarte do relançamento), Fantom Warrior (escrevi no encarte do relançamento
deles também), Morbid, Mayhem, Cadaver, Impostor, Insecticide, Sacred Reich,
Merciless, Massacre, Death, Intense Mutilation, Multilator/Multilated, Necrovore,
Slaughter Lord, Carcass, Immolaton, Macabre, Pestilence, Rotting Christ,
Annihilator, Dr Shrinker, Kazjurol, Minotaur, Battalion, Crionic, Mental Decay, a
demo de ensaio do Dismember (não gosto muito da fase recente), Grave, Xyster,
Aggressor (Itália), Morbis Angel, Goatlord, Righteous Pigs, Groovy Aardvark… a
lista poderia se estender com o que eu continuo gostando e escutando. Eu
provavelmente devo ter esquecido um monte de bandas importantes. Em uns
dois anos eu já tinha algumas centenas de demos.

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Sounds: Comparando todas as gravações, Soulside Journey é um disco diferente


dos que vieram depois. Existe um motivo para o rompimento com aquela
sonoridade, já que A Blaze in the Northern Sky inaugura uma fase mais crua e
orgânica da banda?
Fenriz: Bem, isso se comparando ao Soulside Journey E ao Goatlord, que a gente
compôs e gravou demos de ensaios entre outubro de 90 e fevereiro de 91. Como
eu falei antes, era porque nós experimentamos uma fase mais retrô durante o
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ano de 1990. Nós fomos uma das primeiras bandas de metal retrô, mesmo sem
ter essa intenção. Na verdade, ninguém havia usado o termo RETRÔ até então.

Sounds: Vocês não se identi cavam mais com aqueles timbres registrados na
gravação?
Fenriz: A gente não queria ser associado com um gênero que vinha cando
polido demais. Eu tinha o som underground no meu sangue. Mas também pelo
que a gente tinha escutado.

Sounds: O quanto a gravação desse disco foi importante para que vocês se
encontrassem como banda?
Fenriz: Não foi. A gente não tinha muito tempo e o que nós queríamos era o
estúdio local Creative Studios, mas ele era muito caro naquela época. Nós não
queríamos soar como as outras bandas polidas de death metal, mas sentimos
que não tínhamos escolha. O Sunlight Studios era seguro e barato e nós
pudemos contar com a ajuda dos nossos amigos do Entombed, então foi uma
bela viagem e tudo mais. Mas nós aprendemos que não vamos mais abrir
concessões, se não precisarmos. E sempre tentaremos atingir um som mais
ORGÂNICO. Não plástico.

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Sounds: Vocês já tinham alguma experiência em estúdio? Tiveram alguma ajuda


ou conselhos de amigos ou de outras bandas da época?
Fenriz: Sim, em um mini estúdio onde gravamos a demo Thulcandra, no nosso
lugar para ensaiar, a 200 metros de onde estou agora. Claro que eu tinha que
voltar pra casa. Sim! E também nos convidaram para um projeto com a NRK
(espécie de BBC norueguesa) para fazer um vídeo e uma gravação de estúdio
para alguns estudantes de TV… então aquela versão da música entrou como
bônus da nossa demo da “Cromlech” [acreditamos que ele se re ra a “Iconoclasm
Sweeps Cappadocia”] e no relançamento das nossas demos pela Peaceville. Pelo
menos umas duas vezes. Algumas vezes, Uffe do Entombed ajudou a gente no
Soulside Journey.

Sounds: Na época, vocês caram felizes com o resultado? E hoje, ele te agrada?
Mudaria alguma coisa?
Fenriz: Provavelmente é o disco que eu mais escutei, porque ele é o primeiro.
Mas eu continuo não gostando do som. Eu poderia sonhar e sonhar em como ele
soaria se tivesse o som do Mob Rules, do Black Sabbath, ou da segunda demo do
Nocturnus, que é o que a gente teria feito se tivesse 25.000 Kr [coroas – moeda da
Noruega, Suécia…] para ir ao Creative Studio (que ca a 900 metros de onde eu
estou sentado). A gente só tinha 10.000 kr, então tivemos que ir ao Sunlight.

Sounds: Já era intencional uma sonoridade mais death metal sueco mesmo
antes de vocês decidirem gravar o disco na Suécia ou foi uma in uência do
ambiente mesmo?
Fenriz: Depois que o Sunlight teve um upgrade, assim como o Morrisound teve
também, os discos que eram gravados nesses estúdios começaram a soar todos
muito parecidos. Por isso, não importava de onde você vinha, você iria soar
como Morrisound ou Sunlight. Não tinha muito a ver com os países, mas sim,

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também havia algo do death metal sueco e americano. Se você analisar nossas
músicas, elas têm muito mais a ver com Autopsy, Nocturnus e Morbid Angel do
que com qualquer outra banda sueca. Eu vinha seguindo o Nihilist desde que o
Nick me escreveu querendo uma demo (era do Black Death, uma banda de merda
que eu tinha na época) no verão de 87. Ele não gostava da minha banda, claro,
mas mantivemos a troca de tas. Ele se tornou meu mentor no underground
porque ele tinha as demos mais fodas. Então, ele me enviou um ensaio do seu
novo projeto, Nihilist, e eu gostei pra caralho daquilo. Mas eles sempre tiveram
uma pegada diferente da nossa. A gente ia por um caminho mais técnico e
especial, mas ao mesmo tempo, dark.

Sounds: Quando vocês entraram no estúdio para gravar, vocês já tinham as


músicas compostas e nalizadas? Nessa época, você e Ted compuseram as
músicas juntos, presencialmente?
Fenriz: Nós TODOS escrevemos as músicas juntos desde o verão de 88. Isso rolou
até depois do A Blaze in The Northern Sky. Todas as músicas eram sempre
nalizadas antes de entrarmos no estúdio, eu odeio fazer parte desse processo.
Eu só quero gravar rápido, e isso faz com que eu não me canse. As coisas do
Soulside foram bem ensaiadas. As mais novas caram melhores, já as mais
ensaiadas não caram tão boas, então eu aprendi a entrar em estúdio com as
coisas ainda frescas. Mas não é uma regra, é só o jeito como a gente funciona. De
qualquer forma, eu escrevi sobre isso no nosso box de 3LPs que saiu no ano
passado.

Sounds: A impressão que temos é que, na época, o Soulside Journey era um


disco a ser descoberto e não algo que estava ali, fácil de digerir. Hoje, ele tem um
status cult por conta dos novos fãs que cada vez mais o descobrem. Você
concorda com isso ou acha que ele é apenas o primeiro passo de um processo
evolutivo na carreira de vocês?
Fenriz: Foi mais como um destaque a ser completado pelo ainda mais dinâmico
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Goatlord que a gente compôs depois. Era um disco muito bom, mas infelizmente
TAMBÉM não foi gravado no Creative Studio. Era uma maldição para o
Darkthrone death metal. Acho que até vendeu bem, não havia muitos discos de
death metal lançados na época. Se você é o PRIMEIRO, OU se você lança algo na
moda, o que aconteceu alguns anos depois, você normalmente vende mais.
Digamos que a gente estava no meio. De qualquer forma, o disco demorou tanto
pra sair que a gente já tinha lançado o Goatlord E começado a tocar black metal,
então virou coisa velha pra nós. Além disso, as músicas eram de 89/90. Não era
exatamente um material recente quando saiu, em 91. Se mais pessoas o
descobrem [o Soulside Journey], legal, mas elas precisam entender que nós não
queríamos aquela produção. Ouça a segunda demo do Nocturnus (NÃO o disco)
para entender que tipo de som a gente precisaria ter. Acho que foi bastante
normal escutá-lo aqui no “mundo ocidental”, haha.

Sounds: Algumas pessoas confundem in uência com referência e pra mim são
duas coisas diferentes. In uências são as bandas que moldaram o seu caráter
musical. São as bandas que estão no seu DNA. Referências podem ser bandas
novas ou antigas que te inspiram de alguma forma. É algo mais racional. Quais
bandas você citaria como in uências e quais foram referências pra vocês na
época?
Fenriz: Bem, a primeira coisa que você tem de vocal no álbum é “Lucifer!…
Master…” que eu cantei como um tributo ao sgundo disco do Possessed. O
Mallevs Malle carvm, do Pestilence, foi um disco importante pra gente, Celtic
Frost… tinha um riff de Celtic Frost lá. Muitas e muitas referências, e agora eu
tenho um leque eterno de referências que são boas para entender quais riffs são
ruins em qualquer época, e quais seriam legais a qualquer momento. Quanto às
in uências… eu diria que o “Soulside Journey” soaria muito diferente se a gente
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não tivesse ouvido Autopsy, o primeiro do DEATH, a demo do Nocturnus…


também o Sadus, mas mais como referência do que in uência.

A gente estava tentando um death metal espacial e, como percebi e ainda


percebo, não teve muita gente fazendo isso na época. Só tinha o som da Sunlight
Sound e aí soamos como um monte de outras bandas de death metal. O que foi
uma pena, acho que se a gente pudesse ter um som orgânico na sorte, o lance do
death metal espacial caria mais claro, eu acho. Mas aí, tem um synth mágico
no Soulside que nunca poderia ser recriado em outro lugar. É o momento mais
mágico do disco, na música “Neptune Towers”. Eu tive que olhar minhas
anotações pra saber isso, pois eu não sou muito de lembrar as músicas e partes
especí cas. Eu foco mais nas músicas de outras pessoas.

Sounds: Mesmo sendo colocado como um disco de death metal, antes de tudo,
estávamos diante de um disco de heavy metal. Enxergamos também muita coisa
da era Hell Awaits e alguma coisa dos primeiros discos do Voivod. Você concorda
que trazer esse tipo de in uência na bagagem pode ter contribuído para o
resultado rico das músicas, mesmo que essa in uência não seja tão na cara?
Fenriz: Os dois primeiros do Voivod… haha. Eu não tirava o RRROOOAAARRR da
minha cabeça. Eu comprei em 86 e nunca vendi. É sujo e caótico, e isso é genial,
mas eu pre ro o deaththrash caótico do Necrodeath, Death Yell ou Sodom da
fase Obsesses by Cruelty (Steamhammer version), mas o disco do Voivod pra
mim sempre foi o Killing Technology. Fui ter o War and Pain muito tempo
depois. O Hell Awaits in uenciou muito a gente e explodiu nossa cabeça quando
foi lançado. A gente conta no nosso livro…Ted e eu descobrimos esse disco no
Natal de 85, quando a gente se ligou que a música “Hell Awaits” SÓ tinha riff do
mal. A gente também tocava esse som pra se aquecer (pelo menos até o primeiro
refrão) muitas vezes em 88, haha. Bem, dizem que tudo acaba in uenciando
você. Eu não necessariamente concordo. Acho que tudo in uencia você a saber o
que NÃO fazer. Eu geralmente não sei o que quero com as músicas que eu crio,
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mas eu sei o que eu NÃO quero. A gente tinha uma grande bagagem por ter
escutado coisas pesadas dos anos 60, 70 e 80, então não fomos direto pro thrash,
pro death ou pro black, mas quando tocamos coisas de death e black, vimos que
de nitivamente queríamos fazer só aquilo. É que simplesmente a gente não
consegue copiar muito bem, então apenas nos deixamos levar pelas
coincidências. É o que parece.

Sounds: Você não acha preguiçoso por parte da mídia classi car o Soulside
Journey como um disco de death metal, sendo que as temáticas black metal já
estavam presentes nesse álbum? Você o considera um disco de black metal
(pelas temáticas) ou death metal (pela sonoridade)?
Fenriz: Não. Acho que ele foi promovido como death metal, então o que a
imprensa poderia fazer? Ele tinha uma abordagem lírica mais obscura que era
tão satânica quanto espacial e até poética. Mas quanto isso pode ditar como uma
música deve ser classi cada? É death metal dark. O disco Goatlord é ainda mais.

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Sounds: Sobre tocar ao vivo, em uma das suas poucas entrevistas, o Quorton
disse que, sem tocar ao vivo, cada um poderia criar sua ideia de um show do
Bathory escutando os discos da banda, além de não querer arruinar suas
músicas por nada. No caso de vocês, mesmo tendo feito algumas poucas
apresentações, qual o motivo para não se apresentar ao vivo?
Fenriz: Eu poderia escrever uma série de livros sobre os motivos para não tocar
ao vivo. Eu já respondi incontáveis entrevistas sobre esses motivos. Então, eu
estou bem cansado disso. Sinto quase que a mesma coisa que o Quorton e eu
sempre me senti desse jeito, como expliquei no início da nossa conversa. Muitas
vezes eu estou desinteressado em ver as bandas ao vivo, pelos mesmos motivos.

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Quando eu coloco um disco, eu quero escutá-lo SOZINHO e ter EXATAMENTE o


mesmo som todas as vezes. Eu simplesmente não sou uma pesoa do ao vivo. Nós
tocamos ao vivo umas 20 vezes porque “é o que você precisa fazer”. Não que
aquilo fosse me matar. Era pra divulgar nossa música e o nome da banda. Pra
mim, era ruim.

Sounds: Qual era a sua ambição como artista na época do lançamento do


Soulside Journey? Você diria que o mesmo pensamento se aplica a você nos dias
de hoje?
Fenriz: Seria estranho se a minha mente estivesse no mesmo lugar que eu
estava quando tinha 18 ou 19 anos. Quase retardado. Ainda assim, é preciso ter
todas as idades, eu acho. Mas parece que eu não tenho o mesmo foco ou
intenção. Agora que tenho escutado um monte de riffs INSANOS, será
interessante ver qual será o meu próximo riff ou como eu vou ligá-lo ao riff que
virá depois. É como se todos os estilos que eu escutei na vida pudessem se
converter em grandes riffs. Parafraseando Beethoven, “você pode cometer erros,
mas não tocar com coração é nojento e vergonhoso”. HEAVY METAL AMBITION
(então a qual banda eu estou me referindo aqui?)

Sounds: Nós temos uma relação bem próxima com aquele death metal mais
ortodoxo de bandas como Immolation, Morbid Angel, Krisiun, Massacre e o
próprio Death. Você tem acompanhado as novas bandas do estilo? Pode indicar
algumas pra gente?
Fenriz: Tem cinco anos de BAND OF THE WEEK pra fazer isso. Eu não posso
voltar nas listas pra achar todas as bandas de death metal que eu recomendei
nesses 6 ou 7 anos. Eu acho que foram umas 70 bandas. Do Death, eu só gosto do
primeiro disco. Do Morbid Angel é mais o Abominations, Thy Kingdom Come e o
Altars of Madness, mas não curto muito o som desse disco. Do Massacre SÓ a
primeira e a segunda demos e uma ta de ensaio que um dos caras mandou
acidentalmente pra mim. Do Immolation eu só gosto da primeira demo, mas
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aquela demo é foda demais. Krisiun é ok, mas nada que eu continuei escutando.
Eu pre ro o Angel Corpse, do disco The Inexorable. Como o death metal veio do
thrash e o black metal também se misturou na época, essa é a sopa de onde eu
vim. Muitas vezes eu curto death metal misturado com black. Eu gosto do disco
mais recente do Embrace of Thorns [Darkness Impenetrable], não é lá muito
original, mas é bom e tem um vocal ótimo. Gosto mais de experimental como
Morbus Chron e um estilo grooveado como o Under the Church… eu odeio death
metal com blastbeat de máquina de escrever ou death metal scream-técnico-
espasmódico. Eu também gosto de death metal com conotações black, como o
Hic Iacet ou Khtoniiks Cerviiks ou qualquer categoria que elas se enquadrem,
haha.

Sounds: Incomoda o fato de bandas como Cradle of Filth e Dimmu Borgir se


intitularem black metal?
Fenriz: Sim, isso incomodou. Acho que tem muito pouco a ver com o black metal

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que nós estávamos escutando. Mas eu continuo gostando muito dos ensaios do
Dimmu de 93. Não tinha vocal, se me lembro bem, mas eu escutava muito e
sempre me dei bem com o Shagrath [vocalista do Dimmu Borgir]. Costumava
encontrá-lo na rua Elm. Na verdade, ele acabou de me mandar uma solicitação
de amizade no Facebook.

Sounds: O Soulside Journey foi um disco inaugural, mas também de despedida


do death metal para o Darkthrone? Você acha que isso o torna especial?
Fenriz: Goatlord foi o disco de adeus. Nós zemos todo o álbum depois de voltar
da Suécia, mas nunca o gravamos corretamente. Era melhor, mais bem tocado e
com material mais novo e dinâmico do que o Soulside Journey.

Sounds: O que é black metal pra você?


Fenriz: Escutar The Return, do Bathory.

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Foto divulgação da Peaceville Records na época do lançamento de Soulside Journey

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15/03/2018 Entrevista: Fenriz (Darkthrone) - Sounds Like Us

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