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A centralização política e sua influência

no desenvolvimento da sociedade civil angolana*


RODRIGO DE SOUZA PAIN**

Resumo: O artigo pretende apontar os novos caminhos desenvolvidos pela sociedade


civil angolana após a passagem da 1ª República, caracterizada por um Estado de Partido
Único e inspirada nos ideais marxistas e leninistas, para a 2ª República, ou seja, para uma
economia de mercado e multipartidária. Pretendo explicitar as adversidades advindas das
diversas realidades sociais, políticas e culturais do espaço territorial angolano, resultantes
do processo de colonização, para a formação e a consolidação da democracia e da sociedade
civil em Angola. Para isso foi utilizada uma revisão da bibliografia atualizada sobre o tema
e entrevistas em Luanda, concluindo-se que o poder político e administrativo angolano é
muito centralizador e inibe a participação da sociedade civil em políticas públicas.
Palavras-chave: sociedade civil angolana; democracia; economia de mercado.

Introdução africano foram características marcantes da


colonização ao longo do século XX. Nesse
A presença portuguesa no território ango- contexto, é importante salientar a importância
lano tornou-se mais intensa após o processo da da ditadura de Salazar nas colônias, pois,
Conferência de Berlim (1884/1885). No entanto, excluindo as minúsculas possessões espanholas
as políticas de ocupação do território foram na África, apenas Portugal, como potência
marcantes ao longo do século XX, basicamente colonizadora, vivia um regime autoritário.
no período do regime de Antonio Salazar,1 que A independência angolana chegou depois
trouxe conseqüências diretas para as colônias, de conflitos entre os próprios movimentos de
em especial Angola, a “jóia da coroa portu- libertação nacional2 e também contra o poder
guesa”. A repressão e a exploração do povo
de vernizes fascistas como a lei trabalhista de proibição de
* Este ensaio é uma adaptação do capítulo dois da tese de greves, inspirada no regime de Mussolini, e a implacável
doutorado intitulada Desafios da participação social em polícia secreta, o Estado Novo era essencialmente um regi-
um país de conflito agudo: estudo a partir da ONG ango- me autoritário católico. Salazar sempre demonstrou extre-
lana Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente ma aversão pela mudança. O confinamento de Portugal a
(Adra), defendida pelo autor em 25 de junho de 2007 e padrões econômicos e sociais tradicionais foi deliberado.
aprovada pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências So- Arcaico e isolado, rejeitando a industrialização por
ciais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) considerá-la um arauto de conflitos de classe e problemas
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Deixo meu trabalhistas, glorificando uma tradição folclórica e campo-
agradecimento às valiosas contribuições do professor Ivan nesa, o Portugal salazarista estava firmemente escorado
Arruda, da Fapi. contra o século XX. A maioria da população ainda era agrí-
** Doutor pelo Programa de Ciências Sociais em Desenvol- cola, e o regime promovia a família como fonte primária da
vimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade harmonia social (Maxwell, 2006, p. 35-36).
Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador associado ao 2. Os três movimentos (MPLA, FNLA e Unita) vinham de
Centro de Estudos Afro-Asiáticos, da Universidade Cândido realidades coloniais diferentes e, ao contrário das outras
Mendes (CEAA/Ucam-RJ). E-mail: rodrigo_pain@ig.com.br. possessões portuguesas na África, após a Revolução dos
1. Salazar começou a irradiar seu poder em Portugal já nos Cravos em Portugal, não houve consenso sobre quem deve-
anos 1920. A Constituição do “Estado Novo” que ele redi- ria assumir o poder. Portanto, a crise em Angola nasceu (e
giu em 1932 criou um regime “corporativo”, nos moldes do permaneceu) no próprio surgimento do país, com o confli-
que Benito Mussolini acabara de instituir na Itália. Apesar to armado entre os três movimentos.

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colonial. O nascimento do novo país surgiu no Diante desse contexto, os atores não-
meio de grandes confrontos entre os principais estatais angolanos têm se empenhando em
movimentos, que contavam com o apoio de direção à valorização da democratização e da
países estrangeiros. sociedade civil como agente transformador do
A vitória do MPLA3 trouxe um modelo espaço social através de ações fundamentais,
marxista-leninista como sistema sociopolítico- não empreendidas até então. A reconfiguração
econômico adotado pelo partido único. O auto- do espaço público pela qual passou a sociedade
ritarismo vivido pela sociedade angolana, a falta angolana durante a colonização, que foi coman-
da liberdade, a centralização política e o contexto dada pelo Estado colonial português de Salazar
de guerra civil marcaram esse momento. e, posteriormente, pelo governo do Partido Único
Em 1991, Angola adere às políticas demo- marxista-leninista, e o papel da sociedade civil
cráticas, adotando o multipartidarismo, a eco- no contexto do conflito armado, que resultou no
nomia de mercado e a liberdade de expressão. nascimento da 2ª República em Angola, serão
Nesse contexto, conhecido como 2ª República objeto de discussão neste artigo, buscando-se,
(para diferenciar da 1ª República de partido dessa forma, compreender os desafios contem-
único), começam a surgir organizações no seio porâneos que a sociedade civil angolana vem
da sociedade e, ao longo da década, passam a enfrentando, agora em um contexto que pode-
ganhar voz e assumem trabalhos importantes mos considerar de “paz”.
na luta pelo desenvolvimento. Além disso, a Na primeira parte do artigo, apresento a
sociedade civil angolana manifesta-se de várias instabilidade política no cenário angolano. A
maneiras e de forma significativa contrária à seguir, aponto o surgimento dessa sociedade civil
guerra entre o governo e a Unita.4 organizada em Angola e sua reestruturação, com
Não obstante, depois de tantos conflitos e a passagem da 1ª para a 2ª República. Logo
instabilidades, a sociedade angolana ainda é depois, saliento o papel da Fundação Eduardo
observada como possuidora de uma cultura que dos Santos e o poder da presidência na política
não valoriza o diálogo, sendo a desconfiança um do país. E, finalmente, procuro indicar os desa-
pilar importante nas relações entre pessoas e fios enfrentados pela sociedade civil angolana.
instituições. As dificuldades que essa sociedade
enfrenta, principalmente no que diz respeito às A instabilidade política na Angola
restrições de sua atuação, à dificuldade de independente
inserção na formulação de políticas públicas e
ao desenvolvimento de parcerias junto ao A guerra em Angola é complexa, envolveu
governo, caracterizam a sociedade civil5 ango- diversos atores sociais, países estrangeiros, e
lana. variou de intensidade em vários momentos. A
população sofreu com a exploração e a repres-
3. O Movimento Popular de Libertação de Angola surgiu são do poder colonial português, vivenciou o
em 10 de dezembro de 1956 como resultado da fusão de
outros partidos e organizações. Sua base de apoio saiu das
comunidades de brancos, mestiços e ambundus. Conquistou
o poder assim que Angola tornou-se independente. Até hoje modernidade ocidental, quando ela revelou-se incapaz de
permanece no controle do governo. produzir formas de solidariedade a partir de estruturas de
coordenação impessoais de ação. Essa necessidade de pro-
4. União Nacional de Independência Total de Angola. A duzir formas modernas de solidariedade a partir da sociedade
Unita foi o último dos três grandes movimentos angolanos civil gerou novas considerações acerca desse conceito. As-
a ser fundado (13 de março de 1966). Jonas Savimbi, seu sim, a sociedade civil, segundo essa concepção, é concebida
líder, acusou Holden Roberto, líder da Frente Nacional de como a esfera da interação social entre a economia e o
Libertação de Angola (FNLA), de regionalismo quando tra- Estado, composta principalmente pela esfera íntima, pela
balhavam juntos. Sua base de sustentação provém dos po- esfera associativa, pelos movimentos sociais e pelas formas
vos ovimbundus, do Planalto Central angolano, principal de comunicação pública. A sociedade civil moderna, criada
grupo étnico de Angola. Esse movimento lutou no conflito por intermédio de formas de autoconstituição e automobili-
armado contra o governo até 2002 de forma quase zação, institucionaliza-se através de leis e direitos subjeti-
ininterrupta e ganhou muita força após a independência de vos que estabilizam a diferenciação social. As dimensões de
Angola. autonomia e institucionalização podem existir separada-
5. O conceito de sociedade civil aqui utilizado tem influên- mente, mas ambas seriam necessárias em longo prazo para
cia dos autores Cohen e Arato. Para ambos, tal conceito a reprodução da sociedade civil (Cohen e Arato, 1992, p.
está no centro das discussões que levaram à constituição da 149-151).

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regime de partido único, a falta de liberdade de Com o retorno da guerra após o fracasso
expressão e a economia planificada trazida pelo das eleições em Angola, a comunidade interna-
movimento marxista-leninista na 1ª República. cional novamente tentou buscar o diálogo na
Após os Acordos de Alvor,6 a posição de tentativa de obter a paz. Com isso, em 1994,
Angola como palco do conflito regional armado surge o Protocolo de Lusaka, em outra ten-
se acentuou, passando a contar com a interven- tativa de impedir o conflito entre as partes
ção direta de forças armadas regulares dos beligerantes. No entanto, não houve respeito a
países vizinhos no interior do país, especialmente diversos pontos, tanto pelo governo como pelo
a África do Sul. O MPLA continuava com o movimento armado. O período em vigor do
apoio de forças cubanas e soviéticas; o FNLA, protocolo era conhecido entre os angolanos
por sua vez, perdeu a assistência financeira como um tempo “nem paz, nem guerra”, devido
americana,7 e também o apoio do Zaire (hoje ao clima de instabilidade e aos conflitos perió-
República Democrática do Congo), com o acor- dicos.
do firmado entre Mobutu e o governo angolano Diante disso, pode-se afirmar que a guerra
do MPLA. E, finalmente, a Unita, o mais fraco aumentou de intensidade no fim da década de
dos três movimentos pré-independência, recebeu, 1990. As ligações entre as cidades do litoral e
ao longo da década de 1980, apoio das Forças o interior agrícola enfraqueceram, a ponto de
de Defesa Sul-Africanas (SADF)8 e, com a quase desaparecerem. As cidades, em especial
revogação da Emenda Clark (em 1985), ganhou Luanda (cuja população cresceu muito após o
financiamento dos EUA. início dos conflitos), sobreviviam com alimen-
Foram realizados três acordos para o fim
tação importada, em lugar da produzida nacio-
do conflito. O primeiro aconteceu depois de
nalmente. As zonas rurais foram negligenciadas
intensas negociações no final dos anos 1980 e
e deixadas às suas próprias estratégias de
início de 1990. Os Acordos de Bicesse previam
sobrevivência (Meijer, 2006, p. 2).
eleições em 19929 para escolher o legítimo
Nessa altura, o governo financiava a guerra
governo democrático angolano e seus represen-
tantes no Legislativo.10 através de vendas antecipadas de petróleo –
vide o caso Angolagate, no qual o governo
6. Acordo entre a ex-metrópole e os três movimentos de angolano, entre 1993 e 2000, sem o apoio da
libertação nacional (MPLA, FNLA e Unita) em janeiro de desmembrada URSS, e enfraquecido diante da
1975, que previa a paz na antiga colônia. No entanto, o
acordo não foi respeitado pelos movimentos, instalando-se Unita, buscou comprar armas vindas do Leste
a guerra civil pela busca do poder em Angola. O MPLA Europeu com vários contratos ilegais, através
conquistou o poder à força e assumiu em novembro de 1975,
com respaldo de grande parte da comunidade internacional.
do apoio de altos escalões do governo francês
7. Com a aprovação da Emenda Clark pelo Senado america- de François Mitterrand. No que diz respeito
no, decretando com isso o fim da assistência clandestina às ao movimento armado, mesmo recebendo
forças anticomunistas em Angola.
diversas sanções da ONU, estas pouco adian-
8. A idéia da África do Sul era desestabilizar o governo
angolano, que era contrário à política do Apartheid e dava
tavam, porque a organização controlava terras
apoio aos guerrilheiros da Organização dos Povos do Sudo- com reservas de diamantes, as quais abaste-
este Africano (Swapo), o movimento de libertação da Namíbia ciam seu exército com a exportação ilegal para
(então colônia sul-africana).
9. Na única eleição que houve em Angola, o presidente José
países vizinhos (Vines, 1995, p, 28).
Eduardo dos Santos (MPLA) venceu no primeiro turno o Em fevereiro de 2002, morre em combate
candidato da Unita, Jonas Savimbi. No entanto, este último
não aceitou o resultado, alegando fraude (o que não foi
o líder da então enfraquecida Unita, Jonas
constatado pelos observadores internacionais), recusando- Savimbi, na província de Moxico. Com isso é
se a participar do segundo turno, o que mergulhou o país assinado o Memorando de Luena, que final-
novamente numa guerra sangrenta (inclusive na capital e
nos arredores) depois de alguns meses de trégua por causa mente coloca fim ao conflito. No entanto, nem
das eleições. todos os confrontos em Angola se encerram
10. Foi a partir desses acordos que o governo angolano com o memorando. Em Cabinda, região norte
abandonou o modelo socialista, como também os países
estrangeiros que ainda atuavam em partes do território an-
do país e um enclave territorial rico em petró-
golano passaram a desocupar a região. leo, permanecem as tentativas da Frente de

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Libertação do Enclave de Cabinda (Flec) de mas também em Lisboa, reforçando assim as


separação da região do restante de Angola.11 bases de sua identidade (Freudenthal, 1988,
p. 19).12
A sociedade civil angolana no contexto Para Pestana, a história mais recente da
da 1ª República sociedade civil angolana tem a ver com o “renas-
cer” desse movimento associativo, com a
A sociedade civil angolana tem uma história reafirmação da sua autonomia, da sua legiti-
que é anterior ao dia da independência do país. midade e de sua intervenção no espaço público
Não se pode conceber a data de 11 de novembro depois que os movimentos de libertação abando-
de 1975 como sendo o marco da história do naram o espaço público criado no contexto
surgimento da sociedade civil organizada em colonial e se assumiram como partidos-nação,
Angola. De acordo com Carlos Lopes, a “infe- ou seja, como representantes de todo povo
rioridade africana” tem por base a idéia da angolano13 (Pestana, 2004, p. 3).
inexistência do fato histórico antes da coloni- Ademais, faz-se necessário afirmar que a
zação. Para o autor, o “desenvolvimento da configuração do espaço público em Angola foi
história do continente é patente. Tudo quanto comandada pelo Estado desde a época colonial.
está ligado a um passado de descobertas e reali- Assim sendo, os severos limites impostos à parti-
zações africanas é desapropriado deles e repas- cipação14 de atores não-estatais impediram a
sado a outro povo” (Lopes, 1995, p. 22-23). construção social de uma cultura do diálogo e
O africanista Nelson Pestana, por exemplo, ignoraram a contribuição de mecanismos promo-
não considera o próprio nacionalismo moderno tores de coesão social, particularmente de nor-
angolano, que inspirou a luta armada entre os mas sociais complementares à racionalidade do
anos 1950/1960, como ponto de partida da Estado e do mercado (Elster, apud Abreu, 2006,
conformação da sociedade angolana. Para ele, p. 28).
existe uma “história antiga” dessa sociedade que De acordo com Basil Davidson, o regime
tem ligação imediata com a história do movi- português foi um órgão de repressão sistêmica
mento associativo angolano, cujas origens estão em nível interno e reproduziu as mesmas misé-
situadas nas associações culturais e nos movi- rias na África, concedendo poucos direitos cívi-
mentos cooperativistas e mutualistas de meados cos aos seus próprios cidadãos e, praticamente,
do século XIX e que deram corpo à afirmação nenhum direito válido aos seus “nativos”. As
do direito de cidadania dos africanos nos anos vicissitudes em termos de política ou de método
1930, prolongando-se ao longo de todo o século nunca foram temas de debates no seio desse
XX (Pestana, 2004, p. 3). império, mas, sim, uma provocação para a polícia
Sobre o associativismo angolano do século política15 (Davidson, 2000, p. 184).
XIX, Aida Freudenthal aponta que, através da Assim, fica difícil falar em participação da
imprensa (que surge com significativo impacto sociedade civil no contexto da época colonial.
entre a elite da Angola colonial no final do século Manifestações fizeram-se presentes, principal-
XIX), as elites passaram a participar das críticas
formuladas à administração colonial, reivindi- 12. Freudenthal chama atenção para o jornal O negro, pu-
cando direitos, denunciando abusos e desenca- blicado em Lisboa em 1911, que atuou como porta-voz do
Partido Africano, através do qual a elite africana lá residen-
deando o temor e o ódio dos colonos, cujos inte- te expôs os seus protestos e as suas aspirações sobre o futu-
resses estavam em contradição com as disposi- ro das colônias e os direitos dos africanos (1988, p. 19).
ções legais, nomeadamente no que dizia respeito 13. Isso não se restringiu apenas a Angola, mas a muitos
movimentos de libertação de outros países colonizados.
à imposição do trabalho obrigatório e as suas
14. Eis a dificuldade de compreensão do conceito de socie-
duras condições. Essas elites fizeram ouvir a dade civil, principalmente quando os autores que se debru-
sua voz através da imprensa não só em Angola, çam sobre a temática buscam um conceito definido, sem
compreender as diversas dinâmicas e os diversos atores so-
11. A ação militar da Flec na busca da autonomia em relação ciais e políticos que atuam na complexidade da sociedade
ao resto do país ocorreu numa escala bem menor do que da analisada, a angolana, no caso.
Unita, o que explica por que ele tenha recebido menos aten- 15. Polícia Internacional e de Defesa de Estado (Pide), ou
ção. Suas ações foram mais políticas que militares. seja, a polícia secreta portuguesa no período colonial.

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mente através dos movimentos de libertação Angola. Durante o domínio colonial reprimiram-
nacional, mas, no entanto, a conjuntura autori- se as organizações africanas independentes
tária dificultava qualquer tentativa de partici- [...]. No meio das fileiras do MPLA, a tentativa
pação por parte da população. de golpe de Estado de Nito Alves17 em maio de
1977 teve enormes ramificações para impedir o
Em relação às análises sobre a “sociedade
futuro crescimento da sociedade civil em
civil” angolana no período de vigência do regime Angola. (Munslow apud Comerford, 2005, p. 3)
do Partido Único em Angola (pós-independên-
cia, 1975-1991), encontramos reflexões geral- Todo o trauma de longos anos de guerra
mente reducionistas, compelidas em negar qual- mergulhou a sociedade angolana em uma
quer existência de uma autonomia latente, ou espécie de “cultura da violência e do medo”,
exclusivamente legitimadoras, transformando as que se refletiu na falta de participação, na
organizações de massas criadas pelo próprio omissão e na submissão por parte dos angolanos
governo do MPLA como exemplos – a Orga- em determinadas situações. Adão Avelino
nização das Mulheres Angolanas (OMA), a Miguel, filósofo e docente da Universidade
União Nacional dos Trabalhadores de Angola Católica de Angola, salienta, ao analisar a
(Unta) em pseudo-representantes dessa “socie- conjuntura atual, que se percebe claramente
dade civil”.16 uma manifesta falta de participação e de envol-
Outro elemento importante a se considerar vimento na execução das tarefas sociais e cultu-
na busca da compreensão da sociedade civil rais, pressentindo-se a ausência de motivação
angolana naquele contexto é a própria guerra para realizar e implementar planos e projetos
civil que, nas duas primeiras décadas após a comunitários. Sente-se a falta de disposição,
independência, inibiu o desenvolvimento de dedicação e abnegação na realização e no
organizações autônomas atuando no espaço cumprimento das tarefas sociais (2006, p. 26).
público. Dessa forma, toda a tentativa de autono- Na verdade, só poucos fazem o muito que todos
mização da sociedade civil foi também esmaga- deveriam fazer.18
da pela guerra, na medida em que a deslegiti- Ainda assim, na conjuntura do Partido
mação do poder do Estado não reforçou o poder Único, o espaço literário angolano – represen-
da sociedade civil; ao contrário, fortaleceu um tado na figura da União dos Escritores Ango-
outro poder, armado e de natureza totalitária que, lanos (UEA), nascida em um clima, ao mesmo
em contrapartida, deu novo fôlego à máquina tempo, de lutas internas no seio do poder político
estatal, quando a rejeição ao poder armado e da ânsia pela (re)estruturação do campo
contribuiu, para bem ou para mal, para o seu literário e cultural autônomo – foi o ambiente
reforço e para o conseqüente enfraquecimento em que se pôde desfrutar de uma relativa
das organizações autônomas. independência naquilo que dizia respeito ao
Toda essa configuração da história política controle do espaço público por parte do Estado,19
de Angola é importante para entendermos por constituindo-se como uma fonte de legitimidade
que seu espaço público não pode ser concebido independente (Pestana, 2004, p. 10).
como um espaço neutro. Esse espaço tem a sua
própria história (traumática) que influencia forte- 17. Seguindo esse raciocínio, podemos relacionar o violen-
mente a capacidade dos angolanos de se organi- to conflito que se seguiu após as eleições de 1992, provo-
cando milhares de mortes (em apenas dois dias), assim como,
zarem e de falarem publicamente (Comerford, em 1977, a tentativa de golpe de Estado dentro do próprio
2005, p. 3). Munslow afirma que seio do MPLA, reprimida de forma violenta, com milhares
de mortes marcando fortemente a sociedade civil angolana.
É necessário estudar de novo a história [de 18. Percebemos que até hoje o eco de tanto autoritarismo
imposto à população ainda tem significativo impacto na
Angola] para se entender o espaço limitado
sua participação em ações sociais.
que existe para a sociedade civil prosperar em
19. Na época, alguns dos maiores nomes da cultura nacio-
nal, em conseqüência da forma violenta como eram resol-
16. Pestana procura traçar a genealogia analítica dessa rea- vidas as diferenças (ou contradições) políticas ou de perso-
lidade que ainda não ousa dizer seu nome e que, por vezes, é nalidade no interior do MPLA, tinham se distanciado dos
designada como o conjunto dos cidadãos sem partido (2004, círculos do poder, também sido marginalizados ou eram,
p. 15). ainda, objeto de severo esquecimento.

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Essa instituição foi importante, pois liderou o que gerou desentendimentos na sua interpre-
o esforço de (re)estruturação do campo literário, tação21 (Abreu, 2006, p. 34).
definindo-se como uma organização de intelec- Em 1994, três anos após o surgimento da
tuais que defendia a revolução trazida pelo 2ª República em Angola, Fernando Pacheco,
governo, ao mesmo tempo em que reclamava a presidente de uma das maiores ONGs angolanas
legitimidade de representar todos os escritores (Acção para o Desenvolvimento Rural e Am-
angolanos, pretensão reveladora de uma contra- biental – Adra),22 afirmava já existir uma socie-
dição nos próprios termos e que escondia mal o dade civil angolana “como a expressão de forças
espírito confederador que ela pretendia desem- sociais e econômicas formais e não formais que
penhar. já demonstravam capacidade de assegurar, pelo
Desta maneira, como afirma Pestana, a menos, a sobrevivência das cidadãs e dos cida-
União dos Escritores Angolanos era o lugar onde dãos” (Pacheco, 1994, p. 7).
evoluía essa contradição entre “autonomia Assim, Pacheco não tinha dúvida que já
literária” e “controle político”; ao mesmo tempo existia uma afirmação de sociedade civil ango-
em que proporcionava uma relativa autonomia lana que era constituída por forças sociais
do espaço literário em face do controle do (associações informais, redes de parentesco,
Partido Único e do Estado, permitia esforços indivíduos dotados de espírito empreendedor)
redobrados das elites políticas com vistas à resultantes de um processo de urbanização
instrumentalização política da literatura e dos recente. Essas forças estavam em rápida e per-
escritores20 (Pestana, 2004, p. 11). manente transformação porque tinham acesso
às diferentes modernidades, não isoladas, e
A sociedade civil angolana organizada na estavam em permanente contato com o mundo
2ª República através dos meios de comunicação, das linhas
áreas internacionais, estabelecendo laços múlti-
Mudanças significativas ocorreram com a plos entre si e construindo redes de autênticos
transição da República Popular de Angola para contrapoderes, traduzidos em fatos conhecidos
a República de Angola, em 1991. A passagem como a organização dos mercados, o estabele-
para o Estado multipartidário democrático de cimento de taxas de câmbio, as ações de reivin-
direito trouxe enormes transformações no dicações, entre outros (Pacheco, 1994, p. 7).
quadro jurídico do país, criando leis importantes, No entanto, essa sociedade civil esteve
como a Lei das Associações (com seu funciona- ausente nas negociações de paz no Protocolo
mento independente do Estado), a Lei dos de Lusaka. Apenas os militares tiveram assento
Partidos Políticos Independentes, a Lei do Direito nas mesas de negociação; os outros atores
à Greve, a Lei de Liberdade de Imprensa, a Lei políticos desarmados foram impedidos de parti-
de Reunião Pacífica, entre outras. cipar, o que não privilegiou a verdadeira recon-
A simples observação das designações ciliação nacional.
desse pacote de leis nos revela como era a Muitos autores, como o ganense Gyimah
ocupação do espaço público pelo Estado durante Boodi, afirmam que a sociedade civil organizada
a 1ª República. A socióloga Cesaltina Abreu na África tem crescido em um ritmo muito
aponta, por outro lado, a falta de regulamentação rápido. Lopes considera que, no caso angolano,
ou a regulamentação tardia dessas leis, obser- essa afirmação é exagerada. Todavia, consoante
vável nas datas de suas respectivas aprovações,
21. Como exemplo, a nova Lei de Terras aprovada em
20. Alguns escritores com passado em agrupamentos infor- 2004 revogando a Lei 21-C/92s, de 1992 (sobre o uso e
mais de esquerda criaram, abertamente, uma associação cul- aproveitamento da terra para fins agrícolas).
tural em Luanda que publicou, conforme aponta Gonçalves, 22. ONG angolana fundada em 1991, com trabalhos que
a revista literária Archote, animando interessantes debates envolvem a valorização da cultura local, o desenvolvimen-
nos quais se combatia o monolitismo do regime na cultura e to sustentável, a preocupação com a educação e a participa-
sendo decisiva na constituição da Associação Cívica Ango- ção direta das comunidades em projetos. Trata-se de uma
lana (2004, p. 27). Fundada em 1990, a primeira ONG organização conceituada em Angola, devido à seriedade, à
angolana tinha como vocação a defesa dos direitos huma- independência em relação ao governo e à sustentabilidade
nos. de suas ações.

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o autor, a sociedade angolana constitui, segu- (como nas estatais Sonangol, do petróleo,26 e
ramente, o segmento social de maior crescimen- Endiama, dos diamantes, sociedades que sempre
to e dinamismo em Angola desde o início da dependeram diretamente, não das decisões do
construção da democracia nos primeiros anos governo, e sim do presidente), bem como em
da década de 1990 (Lopes, 2004, p. 2). diversas outras menores que também pretendem
Em 1996, é criada a Fundação Eduardo dos figurar neste “bloco” duplamente interessante,
Santos (Fesa), uma ONG que tem o nome e o porque os aproxima consideravelmente do poder
patronato do presidente da República de Angola e das benesses27 (Messiant, 1999, p. 8).
(José Eduardo dos Santos). É uma organização Destarte, o presidente angolano “recana-
que dizia inspirar-se em instituições similares liza” em direção à sua própria pessoa uma parte
existentes nos grandes países democráticos e dessas benesses e as redistribui, todos os anos,
que afirmava pretender consolidar, como estas, sob a forma de “cacho”, durante a “semana da
os objetivos de progresso social, cultural e Fesa”,28 que dá lugar a muita publicidade, votos
científico em Angola.23 A Fesa surge, mais clara- de felicidades e agradecimentos. A fundação
mente, como uma instituição na qual o presidente não funciona apenas com fundos privados.
da República intervém como pessoa privada e Dentre as realizações ostensivamente inaugu-
cujos recursos não são os seus, mas sim os de radas, algumas provêm do próprio Estado.29
grandes sociedades internacionais e nacionais.24 A Fesa colabora com o “Estado”, os minis-
Essa fundação pode ser analisada em um térios ou as administrações locais, intervindo em
primeiro nível, de acordo com Christine Messiant, complemento à “ação do governo”. Ademais,
como um produto e uma coroação do sistema apóia, outrossim, uma série de outras organi-
geral de dominação clientelista, além de ser, zações da sociedade civil (algumas surgem na
também, um sinal de tentativa de reforço do própria semana da fundação). Também ampara
poder presidencial.25 Basicamente, ela “retém” a Associação de Apoio às Mulheres Rurais e o
dinheiro público que não é seu para realçar a Fundo Lwini,30 as duas tendo a primeira-dama,
imagem pessoal de benfeitor do seu “fundador
26. De acordo com documentos de investigação da ONG
e patrono”, que nela intervém como pessoa americana Human Rights Watch, “[...] em certos casos re-
privada, mas que é também, como não deixa de centemente observados, as receitas de petróleo não foram
lembrar a fundação, “o Presidente da República processadas nem pelo Ministério das Finanças, nem pelo
Banco Nacional de Angola, passando antes pela companhia
de Angola e do MPLA, o partido majoritário no petrolífera estatal, Sonangol, ou pela Presidência da Repú-
poder”, ou seja, o Estado. blica, tendo sido utilizadas secretamente para aquisição de
Para tal, a Fesa, como “Estado” angolano, armamentos. Estas ocorrências originaram também alega-
ções de corrupção no setor público [...]” (Human Rights
atua na gestão estratégica do petróleo do país, Watch, 2002, p. 5).
rivalizando com os interesses econômicos 27. Até então, essas grandes sociedades estavam, e ficavam,
estrangeiros e as empresas estatais. A “taxa” cada vez mais abandonadas pelos serviços públicos do Esta-
do, implicadas em obras colaterais às suas atividades (estra-
(direito de entrada, contribuição em diversos das, água, eletricidade, infra-estrutura diversa, escolas, cen-
projetos) é aplicada na instituição pelas grandes tro de saúde), mas em seu próprio nome (Messiant, 1999,
p. 8).
companhias estrangeiras interessadas nos
28. Forma velada pela qual a instituição celebra o aniversá-
“negócios” angolanos (as sociedades petrolíferas rio (em agosto) de seu patrono, o presidente José Eduardo
e para-petrolíferas, as implicadas nos diamantes dos Santos.
e nos grandes projetos de infra-estrutura, o setor 29. Sabe-se que o centro de crianças abandonadas de Cacuaco,
inaugurado em agosto de 1998, foi financiado pelo governo
de construção, certos bancos, entre outros) e angolano e que os ministérios, ou ainda o governo provin-
também nas grandes sociedades angolanas cial de Luanda, contribuíram também para o financiamento
de diversos projetos (Messiant,1999, p. 9).
23. Mais informações na página da instituição na internet: 30. Inspirada na visita da princesa Diana em Angola (janei-
http://www.fesa.org.br/. ro de 1997), a primeira-dama criou o Fundo Lwini, em
junho de 1998, com o objetivo de angariar fundos para a
24. Basta ver as mensagens dos patrocinadores das revistas execução de ações de apoio às vítimas de minas terrestres.
publicadas pela instituição. É comum encontrar a brasileira Entre as entidades que aderiram ao Fundo Lwini por meio de
Odebrecht, as estatais Sonangol (petróleo) e Taag (avia- compromisso financeiro, estão estatais como a Sonangol e
ção). a Endiama, empresas petrolíferas internacionais como a
25. É clara a referência ao culto à personalidade do presi- Elf, empresas diamantíferas internacionais como a sul-afri-
dente José Eduardo dos Santos. cana De beers e, claro, a Fesa.

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PAIN, RODRIGO DE SOUZA. A centralização política e sua influência no desenvolvimento...

Ana Paula dos Santos, como presidente. Ela co- Desse modo, organizações não-governa-
financia, com diversos ministérios, essa organi- mentais internacionais e nacionais, igrejas,
zação econômica e apadrinha, ainda em asso- movimentos comunitários, associações culturais
ciação com vários ministérios, aquela fundação e profissionais, entre outras, solicitaram ao
de proteção à natureza. Ainda financia ou co- governo angolano e à Unita que agissem juridi-
financia e apóia, ocasionalmente, um certo camente, e dentro do quadro constitucional, em
número de associações nacionais, locais e de defesa dos direitos humanos dos cidadãos
ordens profissionais (Messiant, 1999, p. 10). angolanos comuns. Esse discurso, que partiu do
Foi ao falar das dificuldades financeiras seio da sociedade para as partes em guerra,
vividas pela Adra que Luis Monteiro, diretor- constituiu um apelo pela lei e pela ordem. Isto
geral da instituição, afirmou que poderia chegar inverte o argumento comum segundo o qual o
à Fesa e dizer “precisamos de dinheiro”. Mas, Estado é que vive a solicitar dos cidadãos o
por julgar que a Fesa não contribui para a cons- respeito à lei e à ordem. Nesse momento, a
trução da democracia em Angola, a Adra jamais sociedade civil é quem solicita do Estado
pediu auxílio à fundação.31 Ademais, é comum angolano e da Unita que procedam dessa forma
ouvir de ONGs angolanas a dificuldade que (Comerford, 2005, p. 153).
enfrentam em termos de financiamento. Para A nova retomada da guerra em 1998 fez
citar um exemplo, o secretário-geral da Liga com que a sociedade civil produzisse uma série
Internacional da Defesa dos Direitos Humanos de documentos. Michael Comerford, consultor
de Angola, João Castro “Freedom”, apontou da Workshop Development, tradicional ONG
com destaque a escassez de recursos financeiros canadense em Angola, e autor da tese de
como o maior obstáculo para a implementação doutorado As narrativas angolanas da paz,
com plenitude de seus projetos e programas.32 de Bicesse até a morte de Savimbi, chamou-
A Fesa, assim, é uma evidência da priva- os de “apelos de paz”, apontando-nos três
tização do Estado e de centralização do poder importantes documentos. O primeiro, de 1999,
angolano em relação àquele e da desagregação chamado Manifesto para a paz em Angola,
deste mesmo Estado. Com ela, “o engenheiro assinado por 120 pessoas, incluindo jornalistas,
José Eduardo dos Santos” assume, de alguma sociólogos, docentes universitários, advogados,
maneira, a “cabeça” da sociedade civil angolana, músicos, deputados, entre outros. O segundo,
e, sintomaticamente na posição de “patrono”, de abril de 1999, realizado pelo Grupo Angolano
utiliza trunfos incomparáveis de um presidente de Reflexão e Paz (Garp), que incluía entre os
da República. seus membros pessoas ligadas ao campo reli-
O período pós-Lusaka (1994) marca o início gioso e ao meio político e dos meios de comu-
daquilo que se tornou um engajamento signifi- nicação. O documento proclamava que “nin-
cativo na busca pela paz pelas organizações da guém tem o direito de falar em nome do povo
sociedade civil de Angola, na forma de promoção para fazer a guerra civil, seja esta com o argu-
dos direitos humanos.33 Iniciativas importantes mento de defesa ou resistência. O povo não foi
da sociedade civil organizada angolana rumo à consultado”. Interessante notar que os integran-
busca da paz duradoura fizeram-se presentes tes de ambos os movimentos sentiram-se discur-
após o fracasso do protocolo.34
sando para um grupo mais amplo do que a
própria sociedade civil organizada ou de atores
31. Em entrevista em Luanda, 7 de dezembro de 2006.
da esfera pública, falando em nome do povo
32. Em entrevista em Luanda, 30 de novembro de 2006.
angolano para aqueles que fizeram a guerra em
33. Por estar “ausente” nos Acordos de Bicesse (1991), a
promoção dos direitos humanos constituiu uma componen- seu nome (Comerford, 2005, p. 153-155).
te muito importante no Protocolo de Lusaka. Segundo Vines, O terceiro foi um apelo feito em 2000, pela
muitas organizações preferiram chamar seus trabalhos em
direitos humanos de “educação cívica”, um termo muito Mulheres Pela Democracia (MPD), uma ONG
menos controverso aos olhos do governo (Vines, 1998, formada por mulheres profissionais, como
p. 25).
advogadas, jornalistas, empresárias, entre outras,
34. Vale a pena lembrar que muitas organizações surgiram
após o Protocolo de Lusaka, daí a crescente forma de atua- que estudaram no exterior, com bolsas finan-
ção da sociedade civil organizada em Angola. ciadas pelo governo. Esse documento se aproxi-

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ma dos outros dois, mas é elaborado a partir da Fim do conflito armado e os desafios da
perspectiva das mulheres angolanas e traz um sociedade civil angolana no contexto de
sentimento de tristeza que não deriva somente centralização político-administrativa
da continuação da guerra, mas do fato de que
as mulheres, como esposas e mães, tinham Mesmo com o fim do conflito armado em
perdido maridos e filhos durante o conflito. Angola, é importante levar em consideração a
O que vale em todos esses documentos, dificuldade existente na comunicação entre o
segundo Comerford, é a explicitação de um governo e a sociedade civil no que se refere ao
reconhecimento crescente de que a sociedade planejamento de políticas públicas.35 Embora
civil tinha um papel fundamental na resolução oficialmente se considere que os novos instru-
do conflito (2005, p. 155). Isto refletiu um senti- mentos legais (como as novas leis) tenham sido
mento coletivo de que “o problema é nosso”, produzidos em ambientes de consulta entre o
ausente no passado na busca pela paz. Estado e a sociedade, e que organizações civis
Todas essas questões aqui apontadas envol- tenham se mobilizado para participar efetiva-
vem uma série de características específicas da mente dessas consultas, as experiências com
sociedade angolana que devem ser levadas em os processos de preparação e aprovação do
consideração. A sociedade civil na África é um regulamento das associações, da Lei de Terras,
campo muito mais contraditório do que pretende da Lei do Investimento Estrangeiro e da própria
o discurso ocidental dominante, pois este privi- Lei Constitucional, entre outros, demonstram que
legia de forma simplista os conflitos entre Estado as instituições do Legislativo e do Executivo
e sociedade civil, romantizando a segunda como angolanos continuam pouco abertas ao debate
um baluarte da democracia. As formas de rela- de idéias e à incorporação das visões e expecta-
cionamento de indivíduos e grupos da sociedade tivas de atores não-estatais (Abreu, 2006, p. 34).
civil com o Estado variam da acusação, quando Além disso, no bojo da sociedade civil ango-
os seus interesses são postos em questão, à lana, existe a sensação de que reside na própria
aliança e à cooperação, quando para tal têm estrutura do Estado a dificuldade de desenvolver
oportunidades e vantagens (Abreu, 2006, p. 117). uma maior participação das organizações na
É importante salientar que a maioria dos construção de políticas. O Orçamento Geral do
grupos e organizações da sociedade civil na Estado (OGE) de Angola, por exemplo, não
África é dependente da comunidade interna- repassa nenhum recurso financeiro para o muni-
cional, tanto para efeitos de financiamento quanto cípio, muito menos para a comuna.36 O poder
para a aprovação de seus programas de ação, está centralizado no governador da província,
acabando por incorporarem, acriticamente, con- que tem muita dificuldade em dialogar com as
ceitos e práticas sem a necessária reflexão organizações da sociedade civil angolana, assim
quanto à sua adequação ao contexto no qual
vão ser aplicados (Abreu, 2006, p. 117). O 35. É comum a acusação de desrespeito de ambos os lados.
Segundo o diretor-geral da Unidade Técnica de Coordena-
modelo ocidental é trazido e aplicado na maioria ção de Ajudas Humanitárias (instituição do governo que
das vezes sem levar em consideração aspectos tenta controlar ações de organizações formais da sociedade
relevantes das culturas africanas. Diversas civil), Pedro Ualipi Calenga, “diversas ONGs desenvolvem
ações contrárias à lei, de desobediência ao governo e às
ONGs negligenciam características importantes instituições”. O sociólogo Simão Helena, falando ao jornal
da cultura local, negando a importância do estatal angolano, chega a defender a expulsão das organiza-
ções que operam no país e afirma que, “quando isso aconte-
multiculturalismo em prol de concepções globais cer, se forem expulsas ou impedidas de exercer as suas ativi-
de desenvolvimento, o que gera conflitos em dades, vão se levantar vozes falando da violação dos direi-
regiões tradicionais da África (Pain, 2006, p. 42). tos humanos e evocando outros princípios” (Jornal de An-
gola, 11 de julho de 2007).
36. Angola está dividida em 18 províncias, 164 municípios
e 578 comunas (menor nível administrativo). O governa-
dor chefia a província, e os níveis inferiores do poder
autárquico ficam a cargo de administradores. O presidente
nomeia todos esses funcionários. Apenas o governador da
província recebe parte do Orçamento Geral do Estado, o
que demonstra grande centralização política e financeira.

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PAIN, RODRIGO DE SOUZA. A centralização política e sua influência no desenvolvimento...

como essas instituições, que trabalham principal- ticos, ou seja, sobre como vão ser as ações dos
mente como organizações de base e relacionadas candidatos em campanha eleitoral e com relação
com o poder local, têm pouca chance de acesso ao anúncio dos resultados finais. Essa preocu-
ao governador da província. O excesso de pação encerra em si uma outra inquietação, a
centralização política e administrativa em Angola manutenção e a consolidação da paz, pois o
é mais um fator que dificulta a participação da cidadão não quer que seu voto resulte em
sociedade civil e não contribui para a democra- violência política40 (Mazula e Mbilana, 2003,
tização do país. p. 1).
Ainda hoje é freqüente atribuir todos os Boaventura Sousa Santos aponta quatro
malefícios da vida política, social e econômica grandes desafios para o Estado e para a socie-
ao período fascista colonial português e ao leni- dade angolana nesse contexto de paz. O primeiro
nismo, do partido único do MPLA, o que, para é o da desigualdade social. Angola é um país
Fernando Pacheco, não é verdadeiro. De acordo riquíssimo, e a esmagadora maioria do seu povo
com esse autor, tanto as práticas fascistas (como vive na miséria. A guerra serviu, até agora, para
o culto ao chefe, por exemplo) como as leninistas encobrir que é nas desigualdades que reside uma
(submissão à direção centralizadora) são tam- das mais persistentes continuidades entre a
bém complementadas pela matriz cultural ban- Angola colonial e a Angola pós-colonial.
tu,37 na qual, tradicionalmente, líderes e chefes O segundo desafio é o da construção de
não têm o costume de prestarem contas aos lide- um Estado democrático, eficiente e íntegro.
rados,38 no sentido de dar satisfação, de apresen- Nesse contexto, reconhece Santos, o peso da
tar resultados de uma ação de que se é incum- herança do Estado colonial é muito forte. Toda-
bido, o que hoje têm efeitos perniciosos na via está longe de explicar tudo.41
sociedade (Pacheco, 2004, p. 79). O terceiro desafio é o da construção de
Além de tudo isso, resta saber qual papel um modelo político, social e cultural genuina-
terá a sociedade civil ao longo do processo eleito- mente angolano, um modelo que assuma o legado
ral.39 Essa é uma questão extremamente impor- cultural do país (preexistente ao colonialismo) e
tante, já que as organizações que não se envol- o faça de maneira não tradicionalista, ou seja,
veram com a guerra ficaram ausentes dos pro- em nome de uma racionalidade mais ampla que
cessos de cessar-fogo de Bicesse e Lusaka. a ocidental e de uma modernidade menos
Ademais, como foi mostrado no artigo, nos imperial e mais multicultural do que a imposta
últimos anos da guerra, percebeu-se claramente pelo colonialismo e pela globalização neoliberal.
uma maior participação da sociedade angolana Finalmente, o quarto desafio, para Santos,
em termos de mobilização no que diz respeito consiste na reconciliação nacional. As tarefas
ao fim do conflito. de reconciliação são particularmente funda-
Sobre esse aspecto são lançados desafios mentais para Angola, porque não dizem respeito
significativos à sociedade angolana. Em socie- exclusivamente à reconciliação entre os inimigos
dades pós-conflito, existe uma idéia antecipada da guerra civil,42 mas também à construção de
do cidadão e da sociedade civil que se orientam
quase sempre para o comportamento dos polí- 40. Os próprios autores, que falam da experiência eleitoral
em Moçambique, reconhecem que ainda são poucas as ex-
periências práticas das organizações da sociedade civil so-
37. Em Angola, a maioria étnica vem dos bantos. Em mui- bre prevenção de conflitos eleitorais (2003, p. 4). Daí a
tos casos, partilham hábitos e costumes comuns. importância crescente dos estudos sobre o tema.
38. Isso tanto acontece em nível da família, como da comu- 41. Esse desafio, para o autor, confronta dois grandes obs-
nidade e da nação. táculos. O primeiro é o da corrupção, ou seja, a privatização
39. Depois do fim do conflito armado, em 2002, espera- do Estado por parte da elite no poder. O segundo obstáculo
vam-se eleições rapidamente. No entanto, até hoje elas não é o da difícil interiorização da mentalidade democrática por
ocorreram. Está prevista uma eleição legislativa para 2008 parte das forças políticas que conduzem a transição demo-
e para o Executivo em 2009. A sociedade civil tenta pressi- crática. O Partido Único acaba não deixando de sê-lo, mes-
onar o governo para antecipar os prazos, acusando o presi- mo sendo reconhecida a existência de outros partidos e de
dente de tentar perpetuar-se no cargo (vale dizer que José se aceitar a disputa eleitoral.
Eduardo dos Santos é o terceiro presidente na África há 42. Embora se perceba a dificuldade em diversas ocasiões de
mais tempo no poder). conciliar o MPLA e a Unita. Tensões políticas ainda ocor-

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uma sociedade democrática em Angola, o que a parceria com a sociedade civil que, muitas
pressupõe que, para quebrar definitivamente a vezes, tem um maior conhecimento da região
fragmentação que caracterizou o governo do ou do contexto local. Isso pode valorizar ações
MPLA desde a independência, Angola deverá mais prioritárias, principalmente se lembrarmos
ter a coragem de construir concretamente uma que boa parte do território angolano ainda não é
comissão de reconciliação (Santos, 2003, p. 1-2). totalmente conhecida pelos governantes por ter
sido área de influência de outro movimento
Considerações finais armado em conjuntura recente de guerra.
É extremamente importante a descentra-
O setor da sociedade civil no mundo (e tam- lização política e também administrativa em
bém em Angola) não está emergindo somente Angola para o aumento da participação da
como um claro ator social, mas também como sociedade civil na elaboração de políticas
um ator diverso na sua natureza e composição. públicas. Além disso, um pressuposto essencial
No caso angolano, a experiência colonial trouxe a considerar no processo de desenvolvimento
autoritarismo e repressão à sociedade. O ideal local é justamente a adoção do princípio da
marxista-leninista do Partido Único, após a descentralização (é claro que pressupõe também
independência, impôs severos limites à parti- um monitoramento das ações).
cipação de atores não-estatais e só fez aumen- Esse movimento de descentralização deve
tarem a sensação da falta de liberdade e a ser acompanhado por movimentos de democra-
dificuldade da participação social da população. tização, na relação entre a administração pública
Além disso, o conflito armado das décadas local e setores da comunidade. Os órgãos públi-
de 1980 e 1990 também contribuiu para uma cos que atuam como setores técnicos-admi-
cultura do medo, da violência e da desconfiança nistrativos, nos procedimentos de prestação de
por parte da população de Angola. serviços, necessitam negociar e receber a
Assim, pode-se afirmar que são grandes influência de outros atores interessados nos
os desafios da sociedade civil organizada ango- resultados da sua ação.
lana nesse contexto de paz. A busca pela partici- Por meio desta, a autoridade e o comando
pação social e o fortalecimento das frágeis insti- para as realizações podem ser transferidos para
tuições democráticas parecem-me os elemen- os níveis de execução que estão mais próximos
tos mais importantes para a manutenção da paz. de onde os resultados finais são obtidos. Para
Para isso, torna-se fundamental a valori- que a descentralização e a participação sejam
zação das diversas culturas angolanas. A socie- instrumentos efetivos no processo de desenvol-
dade civil deve pautar-se em buscar políticas vimento local, é preciso que se cultive um clima
que respeitem os variados aspectos de sua social cooperativo.42
cultura para que não seja forjada uma organi- Dessa forma, afirmo também que a falta
zação civil artificial, à medida que se distancia de recursos financeiros está na base da debili-
das diversas realidades daquele país. dade das organizações da sociedade civil, que
Por sua vez, o governo deve buscar maior ficam dependentes dos doadores internacio-
apoio da sociedade angolana para desenvolver nais.43 Exceto, claro, a Fundação Eduardo dos
melhor as suas políticas. Num país com baixís- Santos e as demais que foram criadas e giram
simo índice de desenvolvimento humano, o em torno da esfera do poder, como a Organi-
governo não tem conseguido dar assistência zação das Mulheres Angolanas do MPLA, o
mínima para a população. Por isso é fundamental Fundo Lwini (ambas da primeira-dama Ana
Paula dos Santos), entre outras.
rem no país; um exemplo é fornecido pelo jornal Ondaka,
da ONG canadense Development Workshop, em Huambo,
em texto no qual afirma que deputados da Unita foram 42. A formação de redes fortalece a comunidade em torno
apedrejados por populares numa tentativa de encontro com de um objetivo comum de desenvolvimento.
a administração local, entidade religiosas e tradicionais. 43. Em muitos casos, essa dependência financeira é tam-
Inúmeros foram os feridos. Ao explicar os motivos da agres- bém uma dependência de agendas, com as organizações aban-
são, os populares disseram querer vingança e fazer justiça. donando seus objetivos sociais aos quais estavam ligadas
In: Jornal Ondaka, nº 38, Huambo, 2004. inicialmente.

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Acredito que a melhoria das condições de DAVIDSON, Basil. Angola no centro do furacão.
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