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Estado de conformismo

social e a manipulação do
desejo: uma re exão crítica
DE: EVELINI FIGUEIREDO / 2 DIAS ATRÁS

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Conformismo: a pesquisa do seu signi cado no dicionário revela ser uma


atitude e/ou tendência de se aceitar passivamente situações incômodas
ou desfavoráveis, sem questionamento, luta e ação.

Ao projetarmos esse termo para o atual contexto social, identi ca-se


que, frente às inúmeras tensões e pressões político-econômicas, os
indivíduos, conscientemente (e  inconscientemente) passaram a
duvidar de suas próprias convicções, abstendo-se de expressar suas
opiniões, especialmente quando elas divergem das pessoas e dos grupos
com os quais se relacionam. O que se vê é que a busca pelo consenso se
tornou mais importante do que o interesse pela re exão mais acurada,
posto que perturbadora.

Há quem diga que o fenônomeno que intitulo de “estado de


conformismo social” é oriundo da sociedade contemporânea, marcada
por relações de di cílima assimilação e, com isso, fazem com que seus
membros simplesmente não tenham tempo e energia su cientes para
se posicionar ativamente contra o que não lhes satisfaz. Dessa forma, os
indivíduos sucumbem a um discurso super cial das coisas, incapazes
de re etir e de se expressar sob a ótica crítica do pensamento.

Aqui cabe um parêntesis. O Professor Alysson Mascaro, ao discutir


sobre a loso a, sustenta que essa ciência é diferente de ideias que
simplesmente servem para legitimar a sociedade estabelecida; “ela não
é a máxima explicação do já dado, ela vai além do dado. Por isso, a grande
loso a é crítica 1”.  Mais, aponta que o lósofo do direito pleno (e,
portanto, crítico) “é aquele que, de posse do conhecimento losó co,
amplia os horizontes de seu tempo. Virulento contra as injustiças, aponta
para o justo que ainda não existe 2”.

A crítica que aqui é proposta, portanto, não é o simples ato pejorativo de


julgar, mas o de discernir o valor e o sentido das pessoas e das coisas
para que, com isso, possamos ultrapassar os limites dos nossos tempos.
É re etirmos sobre como o “estado de conformismo social” é
projetado e de que forma se expande na sociedade. Seria ele um dos
elemementos utilizados pelo atual sistema capitalista que, ao
determinar a subjetivação dos indivíduos, os seus interesses, as suas
preocupações e, mais, o seu desejo, consolida parâmetros comuns e
previsíveis de comportamento social, afastando as pessoas da luta e do
questionamento crítico desse sistema?
É importante lembrarmos que, em momentos históricos pretéritos, o
homem, insatisfeito e sedento por uma nova realidade, foi capaz de se
voltar contra as estruturas políticas, econômicas e sociais que lhe fora
imposta, gerando, com isso, mudanças de nitivas na sociedade. A
Revolução Francesa é um grande exemplo disso. Ora, o homem, em sua
essência, não carrega consigo uma inclinação à resignação; pelo
contrário, se tomarmos como base a Teoria Política de Aristóteles, o
homem, por natureza, é um animal político – construído em torno das
ideias e, diferentemente de todos os outros animais, dotado da razão e
do discurso.

A pergunta que ca, então, é a seguinte: sendo o homem um ser


essencialmente político, por que, nos tempos atuais, não conseguimos
romper a barreira do conformismo?

Poderia utilizar muitas teorias losó cas para responder a essa


pergunta. Dentre todas elas, contudo, creio ser o pensamento de Gilles
Deleuze 3 muito pertinente.

A loso a deuleziana gravita em torno das causas políticas. A partir de


uma crítica do capitalismo e do Estado da segunda metade do século
XX, Deleuze busca compreender a forma como o Controle, enquanto
manifestação de Poder, é exercido pelo Estado sobre os indivíduos
mediante um complexo processo de captura do Desejo, para que tudo o
que é diferente se torne previsivelmente igual.

Lucas Ruiz Balconi, explica que, para Deleuze (e Guattari) “não há


dominação que seja apenas uma questão de submissão pela força, pela
autoridade ou pela lei, mas assujeitamento pela captura do desejo. É
justamente por isso, que pode-se compreender o gosto pelo discurso fascista,
a satisfação pela violência, a excitação pela vingança 4.”
A dinâmica política proposta atualmente, portanto, é a de tornar
imperceptível o comportamento dos movimentos e das singularidades
individuais, de forma a “neutralizar a potência da invenção e codi car a
repetição para subtrair dela toda possibilidade de variação, para reduzi-la à
simples reprodução 5”. Não seria ousado inferir que os meios de
comunicação de massas, nesse contexto, possuem predominante poder
– qual seja, o de produção e de estabilização de pensamentos. Nas
palavras de Deleuze, “estamos entrando nas sociedades de controles, que
funcionam não mais por con namento, mas por controle contínuo e
comunicação instantânea 6.”

A re exão losó ca de Deleuze convida-nos a pensar em uma nova


maneira de pensar o Estado, não sendo mais uma relação entre alguém
que manda e outros que obedecem. É preciso “compreender como se
deseja, quais os motivos que levam as massas a querer sua própria
repressão, bem como quais são os afetos que mobilizam tal desejo, como
eles são produzidos para que eles possam ser desativados (…)”.

Para Platão, “o preço que os homens de bem pagam pela indiferença aos
assuntos políticos é ser governado pelos maus”. Segundo o lósofo
ateniense, o idiota era o cidadão que se dedicava exclusivamente a
questões particulares e negligenciava a vida política, sendo o
responsável pelo ambiente degradante em que vivia.

Não sejamos idiotas; sejamos capazes de utilizar nossas virtudes para


ampliarmos o nosso campo de visão e nos apropriarmos do nosso
verdadeiro papel social. Precisamos parar de aceitar o inaceitável e de
sermos indiferentes às desigualdades; sair da inércia e voltar a importar
com os problemas. São tempos difíceis e que requerem mudanças a
partir de nós mesmos: questionar é necessário e posicionar-se frente
aos absurdos é ato de resistência. “Não se trata de dizer “nós temos
direito a isto porque somos aquilo”, mas sim “nós temos direitos a isto para
nos tornarmos uma outra coisa””.

Certa vez, ouvi um admirável professor dizer que “precisamos parar de


chegar atrasados na vida das pessoas, nas nossas vidas, no nosso mundo”.
Que todo o dia seja um dia de re exões, de críticas e, a partir deles, de
mudanças.

Avante!

Notas de Rodapé

1. MASCARO, Alysson Leandro. Filoso a do Direito. 5ª ed., rev.,


atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2016, p. 7. 
2. Ibid., p. 17. 
3. Gilles Deleuze (1925 – 1995). Filósofo francês cuja loso a vai de
encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana. Sua loso a é
considerada como uma loso a do desejo. 
4. BALCONI, Lucas Ruíz. Direito e Política em Deleuze. 1ª ed. – São
Paulo: Ideias & Letras, 2018, p. 75. 
5. LAZZARATO, Maurizio. As Revoluções do Capitalismo. Tradução
de Leona Corsini. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2006, p
70. 
6. DELEUZE, Gilles. Conversações. Tradução de Peter Pál Pelbart. Rio
de Janeiro: Editora 34, 1992, p. 215. 

TAGS: Conformismo, Deleuze, Manipulação


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