Vous êtes sur la page 1sur 72

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL


CURSO DE ESTUDOS DE MÍDIA

DANDARA MAGALHÃES TELLES FEIJÓ DE LEIROS

MEMES EM PAUTA
Uma análise sobre os usos de conteúdos colaborativos
dentro dos portais de notícia do grupo UOL

Niterói
2017
DANDARA MAGALHÃES TELLES FEIJÓ DE LEIROS
MEMES EM PAUTA
Uma análise sobre os usos de conteúdos colaborativos
dentro dos portais de notícia do grupo UOL

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 18 de


dezembro de 2017, como requisito parcial para a
obtenção do grau de bacharel em Estudos de Mídia
pela Universidade Federal Fluminense.

Orientador Acadêmico
Prof. Dr. Viktor Henrique Carneiro de Souza Chagas

Niterói
2017/2

1
2
DANDARA MAGALHÃES TELLES FEIJÓ DE LEIROS

MEMES EM PAUTA
Uma análise sobre os usos de conteúdos colaborativos
dentro dos portais de notícia do grupo UOL

Trabalho de conclusão de curso apresentado em 18 de


dezembro de 2017, como requisito parcial para a
obtenção do grau de bacharel em Estudos de Mídia
pela Universidade Federal Fluminense.

Trabalho aprovado em _____ de __________ de _____.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Viktor Henrique Carneiro de Souza Chagas


Universidade Federal Fluminense

Prof. Dr. José Carlos Messias Santos Franco


Universidade Federal Fluminense

Profa. Dra. Simone Evangelista Cunha


Universidade Federal Fluminense

3
Dedico este trabalho à minha mãe e em memória do meu
pai.

4
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente as mulheres da minha vida.


À minha mãe, agradeço por ter me ensinado como a educação é importante e
abre portas na vida. Obrigada por toda parceria, por todos os estímulos e
também pelas cobranças.
Às minhas tias Valéria, Valeska e à minha avó Leia, agradeço por me
mostrarem o real significado de família, se importando com cada fase do meu
processo de graduação e ajudando de todas as formas possíveis.
Ao meu orientado Viktor, agradeço por me apresentar o universo dos memes,
acreditar em mim desde o princípio e me incentivar durante toda a graduação.
Ao meu irmão Cauã, agradeço por ser exatamente quem ele é.
Ao meu avô Efraim, agradeço por ser minha figura paterna em terra e por ter
quebrado o ciclo. E digo por todas nós, obrigada.
Ao meu namorado e melhor amigo Rômullo, a.k.a. Popota, agradeço por fazer
parte de todo esse processo. Foi mais fácil por causa de você.
Aos amigos Dan e Bia, agradeço por todo apoio e vezes em que me ajudaram
nesse trajeto. Obrigada! Sem vocês eu teria perdido a cabeça há tempos.
Às amigas Quel e Nêssa, obrigada por serem minha ligação com o mundo
durante esse período. E por todas as vezes que vocês se mostraram
preocupadas comigo, seja com um café ou com um “oi, sumida”.
Ao projeto #MuseudeMemes, agradeço pelo crescimento individual e
profissional. O #memeclube é meu filho e eu o defenderei! Obrigada também
a todos os amigos que fiz aqui, vocês são todos incríveis!

5
“O humor pode ser reacionário ou revolucionário. (...) Em
suas instâncias mais afiadas e criativas, provoca a
reflexão junto com os risos e, ao usar estereótipos,
desnua o seu uso. O humor põe o dedo na ferida, mas
não é o instrumento que fere. É um aferidor.”

(Ricky Goodwin)

6
RESUMO

MAGALHÃES, Dandara. Meme em pauta: uma análise sobre os usos de


conteúdos colaborativos dentro dos portais de notícias do grupo UOL. Niterói:
Universidade Federal Fluminense, 2017. (Monografia de Graduação.)

O presente trabalho tem por objetivo desenvolver uma análise de conteúdo


que procura observar de que maneira o meme é inserido em diferentes
veículos noticiosos online e como esses memes podem ser adequados aos
assuntos de interesse de diferentes linhas editoriais de um mesmo veículo de
comunicação. Para isso, iremos analisar o grupo de sites, blogs e portais de
notícia do UOL, procurando codificar o conteúdo relacionado à Michel Temer
em notícias que abordam memes. Acreditamos que esses portais de notícia
optam por utilizar os memes para ilustrar os assuntos mais complexos da
política com humor, aproximando-se da linguagem utilizada por usuários de
sites de redes sociais.

Palavras-chaves: Memes. Jornalismo. UOL. Temer. Notícia.

7
ABSTRACT

MAGALHÃES, Dandara. Meme em pauta: uma análise sobre os usos de


conteúdos colaborativos dentro dos portais de notícias do grupo UOL. Niterói:
Universidade Federal Fluminense, 2017. (Monografia de Graduação.)

The present work aims to develop a content analysis that seeks to observe how
the meme is inserted in different online news vehicles and how these memes
can be adapted to the subjects of interest of different editorial lines of the same
vehicle of communication. For this, we will analyze the group of websites, blogs
and news of UOL, trying to code content related to Michel Temer in news that
approach memes. We believe that these web portals choose to use memes to
illustrate the more complex issues of politics with humor, approaching the
language used by users of social networking sites.

Keywords: Memes. Journalism. UOL. Temer. News.

8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 – Exemplo de meme divulgado na notícia “Memes da


internet não perdoam Temer após denúncia”............. 34
Figura 2.2 – Exemplo de meme divulgado na notícia “Memes da
internet não perdoam Temer após denúncia”............. 34
Figura 2.3 – Temer representado como o diabo…......................... 35
Figura 2.4 – Temer representado como um senhor de idade......... 35
Figura 2.5 – Aécio e Moro.............................................................. 37
Figura 4.1 – Imagem da galeria do fim da notícia “Temer anuncia
saque do PIS/PASEP para 8 milhões, mas metade já
45
podia sacar” ...............................................................
Figura 4.2 – Comentários dos seguidores de Ticiana Villas Boas
a respeito da JBS em sua conta na rede social
47
Instagram...................................................................
Figura 4.3 – Comentários dos seguidores de Ana Furtado em sua
47
conta na rede social Instagram...................................
Figura 4.4 – Interação com usuário apresentada na notícia “Caso
seja eleito, Ciro diz que revogará reformas do
governo
49
Temer”........................................................................
Figura 4.5 – Exemplo de meme compartilhado depois da visita de
Temer a churrascaria, durante a Operação Carne
52
Fraca..........................................................................
Figura 4.6 – Trolling durante a exibição do Jornal Nacional............ 52
Figura 4.7 – Meme exibido em “Governo nega censura ao
notificar blogs sobre uso de imagens em memes de
53
Temer”........................................................................
Figura 4.8 – Exemplo do meme “Logo Eu” envolvendo Temer....... 53
Figura 4.9 – Meme exibido em “O Brasil quer meme!”................... 54
Figura 4.10 – Meme exibido em “O Brasil quer meme!”................... 54

9
LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Quantidade de Matérias por Site............................... 49


Tabela 4.2 – Sites englobados na codificação como “Outros” –
Grupo UOL................................................................. 51
Tabela 4.3 – Frequência de posts por mês – Memes + Temer........ 55
Tabela 4.4 – Formatos de Memes utilizados.................................. 56
Tabela 4.5 – Sites que menos explicam o meme em notícias –
Grupo UOL................................................................. 57
Tabela 4.6 – Notícias que não ilustram os memes – Grupo
UOL............................................................................ 58

10
GLOSSÁRIO

LOOK-ALIKE O look-alike é o formato de meme onde duas imagens


são postas lado a lado para efeito de ilustrar
semelhanças físicas entre os personagens das imagens.
PHOTOBOMB Prática que tem o propósito de arruinar a fotografia de
outras pessoas através de uma intervenção no fundo da
imagem.
CATHPHRASE Frase ou expressão que se populariza e passa a ser
utilizada tanto no meio online quanto no off-line.
IMAGE MACRO Formato onde o meme é apresentando em uma ou mais
imagens expostas numa sequência, com uma legenda
sobreposta, comumente replicada em fonte Impact
branca com outline preto.
REACTION FACE Imagens ou gifs de reação que são utilizados para
expressar uma emoção em resposta a algo que foi dito.
SNOWCLONE Modelo frasal em que certas palavras podem ser
substituídas.
TROLLING A ação pode ter intuito de desestabilizar uma pessoa ou
discussão com o propósito de provocar
PARÓDIA Releitura de uma composição original

11
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................... 13
1– AS MUDANÇAS NO JORNALISMO E SEUS IMPACTOS
NA FORMA DE PROPAGAÇÃO DA NOTÍCIA...................... 18
1.1 – Avanços tecnológicos até o webjornalismo: as mudanças
advindas com o ciberespaço................................................... 19
1.2 – Humor e jornalismo: como a piada se insere na notícia........... 24
2– MEMES DE INTERNET E O DESENVOLVIMENTO DE UMA
NOVA FORMA DE NARRATIVA........................................... 29
2.1 – Meme: do conceio à prática.................................................... 30
2.2 – Os memes de internet............................................................. 31
2.3 – O uso dos memes por portais e sua relação com o humor...... 37
3– METODOLOGIA.................................................................... 39
4– APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS.................................. 44
4.1 – A inserção dos memes nas notícias........................................ 44
4.1.1 – Os usos dos memes em diferentes portais de notícias............ 49
4.1.2 – Memes datados: momentos que marcam o aumento dos
54
memes....................................................................................
4.1.3 – Usos, formatos e inserção dos memes nas notícias................ 56
4.2 – Discussão............................................................................... 59
5– CONCLUSÃO ........................................................................ 62
REFERÊNCIAS ..................................................................... 64
APÊNDICE A – LIVRO DE CÓDIGOS – TEMER+MEME
UOL........................................................................................ 68

12
INTRODUÇÃO

No dia 31 de agosto de 2016 Michel Temer tomou posse da Presidência


da República após a concretização do afastamento definitivo da presidenta
Dilma Rousseff. O até então vice-presidente, já vinha comandando o país
através de uma articulação sua para o afastamento da presidenta. Em agosto
do ano de 2017, na data de um ano do impeachment, diversos portais de
notícia online traziam compilados dos melhores memes que circularam na
internet sobre o #ImpeachmentDay1.
No decorrer desse ano de mandato de Temer, escândalos que vieram
à tona, como o caso da JBS, e a articulação para reformas legislativas, como
a reforma da previdência fizeram surgir, entre os usuários de redes sociais
online, diversos memes que questiona se a posse de Temer foi mesmo o que
o país precisava e põem em dúvida sua legitimidade.
Desde o início do processo de afastamento de Rousseff, a crescente
polarização entre a direita e a esquerda no país tem tomado conta de sites de
redes sociais através dos memes de internet. Esses memes podem ser
imagens, vídeos, hashtags ou qualquer outra mídia que, reapropriada pela
rede de usuários, pode falar sobre diferentes assuntos e levantar
questionamentos, muitas vezes disfarçados de piadas.
Esse burburinho através dos memes por vezes é tão grande que chama
a atenção de grandes canais de comunicação, que passam a tratar com um
público que, graças às mídias sociais, não só recebe conteúdo mais rápido,
como também responde e compartilha em uma velocidade muito maior. Por
isso, sempre que a repercussão de alguma notícia inflama os Trending Topics
das redes, diversos canais de comunicação voltam suas atenções para o que
seus leitores têm a dizer ou andam consumindo.
Dentro desse cenário, o presente trabalho tem o objetivo de analisar o
uso de memes de internet em sites e portais de informação online, procurando

1 Disponível em: http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2016/09/01/os-memes-do-


impeachmentday/. Acesso em: 20/11/2017

13
observar como esses memes são apresentados como conteúdo dentro das
notícias. Essa pesquisa foi realizada a partir dos sites, blogs e portais do grupo
UOL e observou as notícias veiculadas após o processo de impeachment da
ex-presidenta Dilma Rousseff. Procuramos entender de que forma o mandato
de Michel Temer foi representado em matérias que relacionam ou incorporam
memes como parte de sua pauta, procurando compreender quais diferenças
de enquadramento e narrativa na abordagem do assunto difere em linhas
editoriais distintas do mesmo portal, tais como Entretenimento, Política e
Economia, além de observar as diferenças entre sites do mesmo
conglomerado, como BOL, Jornal do Comércio e Folha de S. Paulo. Para tanto,
investigamos o conteúdo publicado durante o período de 31 de agosto de 2016
a 31 de outubro de 2017. Optamos pelo recorte de 14 meses para poder, dessa
forma, coletar o máximo de material, inclusive relacionados a gafes ou falhas
desse governo que repercutiram nas mídias sociais. Coletando o máximo de
conteúdo sem que o recorte impossibilite ou prejudique o nosso tempo de
análise do mesmo.
A partir dessa análise pretendemos entender como as notícias fazem
uso dos memes, um produto próprio das redes sociais online, e se a escolha
da pauta desses canais noticiosos é pensada com o intuito de manter-se
relacionada aos assuntos que circulam nos circuitos de discussão dos usuários
de sites de redes sociais.
A escolha dos memes como recorte baseia-se principalmente nos
estudos de Limor Shifman (2014) que aborda uma visão diferente das
pesquisas anteriores relacionadas ao campo de estudos sobre memes
(Dawkins, 1976; Blackmore, 2000). Shifman estabelece um marco nos estudos
sobre memes que diz respeito a uma definição diferenciada de meme de
internet, levando em consideração especialmente dois pontos que contribuem
para que essa ressignificação ocorra: O primeiro, diz que esses memes
compartilhar características em comum com outro meme, tais como o seu
formato, tema ou seu conteúdo, o segundo diz que os memes circulam, são
imitados e transformados pela rede de usuários da internet.
Quando os memes são inseridos no meio virtual e tornam-se memes de
internet, eles passam a ser uma poderosa arma a favor do ativismo, abrindo
as portas para que debates políticos se popularizem e se tornem mais
14
frequentes nas redes através deles. Ao criar ou compartilhar um meme o
usuário tem a oportunidade de levantar bandeiras políticas e causas sociais,
trazendo à tona assuntos sérios que muitas vezes são expostos em forma de
piada.
Com a intensa circulação de memes sobre política (e outros
acontecimentos), os veículos da mídia tradicional passam a enfrentar sua
própria audiência como produtora de conteúdo e, com isso, têm tentado se
apropriar desses conteúdos e de debates oriundos da web para estabelecer
suas pautas e criar proximidade com esse público. Observar o que circula nos
comentários da notícia nas mídias sociais passa a ser uma forma em que os
repórteres conseguem manter suas pautas sempre atualizadas diante dos
assuntos debatidos por usuários de redes sociais online.
Pensando em como esses canais utilizam os memes, nosso trabalho
procura entender como a rede de sites e blogs do grupo UOL insere os memes
de internet em sua cobertura jornalística. Para tanto, iremos analisar quais
práticas são mais usadas na inserção do meme em uma notícia procurando,
dessa forma, entender como os meios de informação se comportam ao tratar
e repercutir esses memes.
Em nossa metodologia, traçamos uma forma de coleta e codificação
que procura perceber quais são as principais estratégias de utilização dos
memes pela plataforma do UOL por meio de uma análise de conteúdo.
Através de uma busca pelos termos “meme” e “Temer” dentro do campo
de pesquisa do site, tivemos acesso a um extenso leque de notícias que,
depois de analisadas individualmente, nos forneceram 70 matérias que
cumpriam os requisitos para integrar nosso corpus de pesquisa. Essas notícias
atendem aos seguintes critérios:
1. Foram veiculadas através dos sites do grupo UOL, e trazem essa
menção na URL;
2. Estão dentro do período de agosto de 2016 a outubro de 2017;
3. Trazem memes como assunto principal, utilizam um meme ou
mencionam algum meme direta ou indiretamente na notícia;
4. Fazem menção ao nome de Michel Temer em seu conteúdo.
Feito esse recorte, construímos um livro de códigos que se baseou na
análise superficial do momento da coleta aliado à trabalhos anteriores
15
relacionados também a memes e política2. Levamos em consideração
questões como, por exemplo, se o meme foi trazido apenas como recurso
ilustrativo ou se propõe levantar alguma questão reflexiva, se ele é o tema
central da notícia e se a notícia explica o contexto do meme.
A questão que procuramos responder com essa pesquisa analisa,
portanto, de que forma a mídia insere os memes em seus diferentes canais
como material de apoio. Além de como esses memes podem ser adequados
aos assuntos de interesse de diferentes linhas editoriais de um mesmo veículo
de comunicação, tais como Entretenimento, Economia e Política.
Em nossa coleta, optamos por analisar apenas o portal de conteúdo
UOL, de modo a dar uma atenção individual à cada canal desse portal e suas
abordagens. Escolhemos um portal de notícias próprio da internet por acreditar
que esse tipo de veículo contribui ativamente para a circulação de memes e
assuntos relacionados no meio virtual.
Temos por hipótese que ao utilizar memes de internet em suas pautas,
os blogs e sites do UOL optam por ilustrar os assuntos mais complexos da
política com o humor, procurando assim se aproximar da linguagem utilizada
pelos usuários de sites de redes sociais (SRSs).
Para avançar sobre esta hipótese, no capítulo 1 discutiremos a evolução
das práticas jornalísticas, procurando dessa forma, entender o funcionamento
das rotinas jornalísticas através de uma análise histórica do uso de novos
recursos dentro dos veículos de comunicação brasileiros. Também nos
estendemos em uma investigação a respeito dos usos do humor no jornalismo
que procura criar um paralelo a respeito da inserção de novas linguagens
populares no meio. Encerramos esse capítulo tentando compreender mais a
respeito das mudanças na profissão após a popularização da internet e como
o meio virtual teve impacto no formato das notícias, no aumento de fluxo da
informação, na velocidade da propagação de uma notícia e na relação entre o
jornalista e o leitor.

2CHAGAS, Viktor, et al. "A política dos memes e os memes da política: proposta metodológica
de análise de conteúdo sobre memes dos debates nas Eleições 2014." Intexto, Porto Alegre,
UFRGS, n. 38, p. 173-196, jan./abr. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.19132/1807-
8583201738.173-196.

16
No segundo capítulo, revisaremos o conceito de meme, trazendo para
o debate de que forma ele surgiu e tentando entender todo o caminho do meme
até os memes de internet. Ao tratar de memes de internet, vamos compreender
como essa linguagem se insere não só através de assuntos do cotidiano como
em forma de participação política na contemporaneidade. Dessa forma,
procuramos encerrar o capítulo entendendo melhor qual a importância, por
parte dos canais de notícia, de olhar para esse fenômeno e procurar incorporar
a linguagem em suas pautas.
O terceiro capítulo será dedicado a explicar a metodologia utilizada
neste trabalho, mostrando como a pesquisa foi desenvolvida, quais recursos
utilizados e como propomos a codificação do conteúdo coletado. Explicaremos
todo o trabalho desde a pesquisa inicial até a escolha desse recorte e
detalharemos o método aplicado para que essa pesquisa tivesse um corpus
consistente de análise.
O quarto capítulo traz a apresentação dos resultados da nossa
pesquisa. Procuramos nesse momento ilustrar nossos resultados
estabelecendo as conexões que fizemos durante a análise e quais principais
apontamentos surgiram durante a comparação do conteúdo catalogado.
O capítulo seguinte dedica-se à discussão deste trabalho e, por fim, no
último capítulo concluímos o trabalho com a apresentação de algumas
considerações a respeito da investigação empreendida e seus eventuais
desdobramentos.

17
1. AS MUDANÇAS NO JORNALISMO E SEUS IMPACTOS NAS
FORMAS DE PROPAGAÇÃO DA NOTÍCIA

Neste capítulo, procuramos observar como as rotinas jornalísticas se


dão, quais as principais mudanças sofridas por essas rotinas a partir do
surgimento do jornalismo online e como as mídias sociais impactaram essa
atividade. Em seguida, conceituaremos historicamente o uso do humor no
jornalismo, buscando compreender como acontece a inserção do gênero na
notícia. Procuramos assim estabelecer uma relação entre o uso do humor com
as necessidades de adaptação do jornalismo para novos públicos, no início do
século XX. Finalizamos o capítulo com a discussão sobre o uso do humor no
jornalismo online que pretende nos levará até o capítulo dois deste trabalho
onde enfatizaremos os memes.
Acreditamos que, para construir a discussão proposta para esse
capítulo, é necessário um aprofundamento histórico a respeito do uso do
humor e seus recursos dentro dos tabloides e periódicos brasileiros. A
utilização desse gênero se dá no início do século XX e traça um caminho até
o jornalismo como utilizado hoje em dia. Dessa forma, procuramos explicar
como o uso e consumo de diferentes formatos narrativos dentro do meio
jornalístico contribui para que hoje os memes sejam aceitos nas notícias.
Pretendemos traçar quais as necessidades e mudanças que surgiram a
partir da ampliação do acesso à internet, observando que, com o advento da
web, o jornalismo online encontra mudanças que alteram seu paradigma
inicial.
Dessa maneira, desejamos entender, grosso modo, que papel os
portais de notícia desempenham junto à sociedade contemporânea, para
assim construir uma análise em torno da utilização de assuntos característicos
do meio virtual em suas pautas.

18
1.1 Avanços tecnológicos até o webjornalismo: as mudanças advindas
com o ciberespaço

Traquina (2005) nos apresenta uma linha histórica com os quatro


fatores que podem nos ajudar a compreender de que forma o jornalismo, como
conhecemos hoje, nasceu. Para o autor, a forma contemporânea que temos
de jornalismo se deu a partir (1) da evolução do sistema econômico, (2) dos
avanços tecnológicos, (3) de fatores sociais e (4) da evolução do sistema
político e do reconhecimento da liberdade de expressão.
Os avanços tecnológicos vividos pela imprensa especialmente no fim
do século XIX e início do século XX, fazem com que, em vários momentos, a
rotina jornalística tenha que sofrer adaptações para manter a posição do jornal
como grande mídia diante dos novos meios que passam a surgir, notadamente
o surgimento da fotografia e do cinema, e mais adiante do rádio e da televisão.
Porém, nenhum desses avanços teve mais impacto que a internet pois, desse
momento em diante, o mundo passa a estar conectado, e dispõe de acesso a
vídeos, imagens, áudio, tudo de forma muito mais dinâmica e multimidiática.
Se observarmos que em diferentes momentos, o jornalismo teve
oportunidades de utilizar as evoluções tecnológicas a seu favor, desde os
noticiários do rádio e da televisão, chegando à internet, entendemos que o
surgimento de portais de notícia nada mais é que uma estratégia de
sobrevivência encontrada pelos grandes canais de mídia para se inserir no
meio virtual e falar de forma mais dinâmica sobre assuntos que teoricamente
são relevantes para o seu público alvo, sem perder sua posição dentro da
economia política da mídia de forma geral.
Conforme Mielniczuk (2004), para entender a relação entre os sites de
notícias tradicionais e seus respectivos portais de notícias, é importante atentar
ao fato de que:

O webjornalismo passa por um momento de dualidade: ao mesmo


tempo em que é necessário manter convenções a fim de que o
público – leitores/usuários – reconheça e se identifique com o
produto jornalístico, também é preciso que rupturas aconteçam para
que os webjornais se firmem como uma opção singular e com
atrativos diferenciados diante do público. (MIELNICZUK, 2004, p.3)

19
Porém, se por um lado o jornalismo ganha com a possibilidade de maior
rapidez na entrega do conteúdo, por outro ele passa a ter que lidar de forma
mais pública com questões pertinentes à objetividade da prática jornalística.
Ao ter que lidar com sessões de comentários nos seus sites e redes sociais ou
quando seu público passa a também produzir e disseminar conteúdo de forma
autônoma −, seja tirando foto de um acidente na rua, compartilhando uma
hashtag no Twitter ou criando um meme sobre política em um Memegenerator
−, o jornalista é confrontado com uma necessidade de dinamização de sua
atividade, que interfere diretamente na sua rotina de produção e na entrega do
resultado final.
Gomes (2016) nos aponta que o ceticismo do público em relação à
imparcialidade jornalística, se dá muito mais em assuntos que são
considerados socialmente mais difíceis de se debater sem escolher um lado.
Essa discussão vai ao encontro dos apontamentos de Tuchman (1972),
segundo os quais o repórter se utiliza de estratégias para lidar com a
objetividade da sua profissão. A autora aponta que o jornal é uma compilação
de estórias. Se todas essas estórias tiverem que ser reescritas, o atraso dos
jornais para ir para as ruas desencadearia uma série de problemas
econômicos para canal atrasado. Por isso, são empregadas estratégias de
trabalho que ajudar o repórter a tornar suas notícias “objetivas”. Os jornalistas
apontam que seguir essas estratégias é o que faz a profissão não sofrer com
processos, por exemplo, de difamação.
Essa “objetividade” se dá a partir de fatos que podem ser verificáveis
através da (1) apresentação de possibilidades conflituais, (2) apresentação de
provas auxiliares, (3) uso judicioso das aspas e (4) estruturação da informação
numa sequência apropriada. Porém, essas estratégias são empregadas para
amenizar a responsabilidade sobre esses assuntos do nome do jornal ou
mesmo do jornalista.
Com a inserção de canais próprios do meio virtual, os jornalistas
passam a encarar novos modelos de produção de, com isso a estruturação da
notícia se reconfigura e acontece uma popularização de notícias que se
estruturam no estilo “Confira os melhores memes”, que é identificada por Sardá
et al. (2015) como advinda de uma linguagem jornalística que ganhou impulso
a partir da popularização do site BuzzFeed. O BuzzFeed é um site que tem
20
como proposta a rápida alimentação de conteúdo que se espalha facilmente e
se identifica como um gerador de notícias mais compartilháveis em sites de
rede social. Por isso, Sardá et al. (2015) defendem que o formato amplamente
utilizado por eles − o formato listicle, que junta os termos list e article − tornou-
se uma característica que passou a servir de inspiração para que os canais
jornalísticos tivessem maior entrada dentro das redes sociais. Tais listas,
também possibilitam que os principais pontos de vista que circulam na rede,
disseminados pelos próprios usuários e relacionados à assuntos onde existem
lados definidos, por exemplo, esportes ou política, sejam compartilhados por
canais de notícia sem que ocorra uma escolha de lado por parte do repórter.
Para melhor ilustrar o conceito de listicle disseminado pelo BuzzFeed,
Sardá et al. acrescenta:

As listas costumam seguir todas o mesmo modelo, em que cerca de


20 itens são elencados, numerados e descritos através de
parágrafos curtos e imagens. Como tratam de uma gama muito
variada de assuntos, as listas tendem a atrair diferentes nichos. E,
ainda que a maioria esteja baseada em conteúdo essencialmente
humorístico, o formato de artigo em lista também é muito utilizado
como recurso para “resumir” ou explicar rapidamente algum evento
ou fato que acabou de acontecer. De acordo com Jack Shepherd,
Diretor Editorial do BuzzFeed, a onipresente utilização de listas é
justificada porque “listas são um jeito muito natural de processarmos
informação, na ‘caótica e assustadora’ internet. Uma lista é apenas
um suporte para uma história, é bastante útil para explicar as notícias
e contextualizar” (STYLIANOU, 2014, tradução nossa). (SARDÁ et
al., 2015, p. 4)

Os novos formatos e meios de disseminação do conteúdo, que surgiram


a partir do advento da internet, nos mostram que, dentre os avanços
tecnológicos no decorrer da história do jornalismo, a internet foi um dos
principais pontos de inflexão. O jornalismo sofre algumas das suas maiores
mudanças quando a internet passa a reconfigurar a relação entre os usuários
e os sites jornalísticos (BARBOSA et al., 2014; SINGER, 2013). Para melhor
compreender essa afirmativa, precisamos entender todo o processo de
adaptação pelo qual as empresas e canais de comunicação passaram no início
da década de 1990.
Em 1995 o aumento na quantidade de jornais que estavam migrando
ou mesmo nascendo no meio virtual torna-se significativo, aumentando mais
de 2.000 % em relação ao ano anterior, de acordo com Palácios (2005, p. 5).

21
Já nessa época, ressurge uma forma narrativa que, adaptada para o meio,
ainda é utilizada pelos jornais e portais de notícia até hoje: o hipertexto.
O hipertexto é um formato em que diferentes informações paralelas
estão relacionadas por meio de links indicados a partir do texto de origem. Ou
seja, em uma leitura hipertextual, o leitor tem acesso não só ao textofonte,
como também a diversos entrelaçamentos e desdobramentos do assunto.
Admite-se que o hipertexto já era utilizado anteriormente em diferentes
gêneros literários, porém foi na internet que sua concepção se expandiu, de
acordo com as possibilidades que o meio passaria a oferecer. A forma de
leitura por hipertexto, causa uma ruptura no jornalismo, já que agora a Internet
passa a potencializar uma multimidialidade ainda maior do que anteriormente
– com o rádio e a televisão (PALÁCIOS, 2005).
Este período implicou em mudanças nos ambientes físicos, no corpo de
profissionais e nos conteúdos destes jornais, que foram refletidos no “fluxo de
produção, edição, distribuição e circulação do conteúdo jornalístico”
(BARBOSA et al., 2014 p.2).
Nascem assim diversas formas de arquitetar o trabalho, inserindo
dinamização ao processo de criação de notícias, com novos formatos e
padrões de narrativas, advindos da nova estrutura onde o ecossistema
midiático passa a existir na lógica de multiplataforma. Esses novos formatos
de narrativa passam a integrar os resultados da convergência jornalística
(BARBOSA et al., 2014).
Palácios (2005) afirma que o ambiente virtual possibilitou uma
potencialização das características multi-lineares que já existiam no jornal
impresso. A nova modalidade de prática narrativa se dá portanto quando é
estabelecido um novo formato que vai além dos experimentos iniciais. O autor
aponta que a progressão nos meios narrativos do jornalismo online caminha
de acordo com a ampliação de acesso à banda larga. Enquanto no fim do
século XX e início do século XXI era comum que os sites disponibilizassem
versões apenas em texto, para os leitores que tinham acesso a baixas
velocidades de conexão, hoje dependemos tanto das possibilidades de
conexão dos usuários e os sites podem trabalhar efetivamente de forma
multimidiática, incorporando imagens, gifs, vídeos e áudios em seus textos
(PALÁCIOS, 2005).
22
Atualmente, conseguimos ver a interação dos leitores com os
produtores de conteúdo nos próprios sites de notícia ou em suas redes sociais.
Qualquer leitor passa a ter a oportunidade de comentar, questionar e
compartilhar conteúdo, essa ação passa a ser entendida como uma forma de
distribuição secundária. Nesse contexto, a visibilidade das pautas passa a
depender muito mais do que a própria audiência considera relevante e distribui
para o seu círculo social (BARBOSA et al., 2014).
Dessa forma, podemos começar a perceber quais principais
características reconhecidas pelos pesquisadores que investigam o chamado
webjornalismo. Mielniczuk (2004) diz que o webjornalismo é desenvolvido
quando novas possibilidades resultantes do meio virtual se potencializam.
Essas possibilidades causam uma ruptura no que era considerado padrão por
poder oferecer recursos diferenciados. O desenvolvimento do webjornalismo
caminha em conjunto com a principal mudança que acontece no meio. Quando
os sites jornalísticos ultrapassam a barreira de ser uma versão para web do
jornal impresso e pensam nesse novo cenário como uma porta de entrada para
conteúdos próprios e destinados a ele, abraçando a web para explorar todas
as possibilidades que surgem a partir desse meio (MIELNICZUK, 2004), nasce
então o que chamamos hoje de jornalismo para internet.
Nesse formato, as webnotícias podem se utilizar de recursos de
multimídia interativa para aumentar o engajamento com seu público, adotando
uma forma híbrida “que integra texto, gráficos clicáveis, áudio, foto e vídeo,
criando um conjunto compreensível e interativo para narrar fatos” (DUBE,
2002; MIELNICZUK, 2004; 2001). Concordamos, portanto, com Sardá et al.
(2015), que afirmam que os jornais tradicionais também procuram se
aproximar da linguagem do público utilizando estratégias de relacionamento
com seus leitores. O emprego de memes no jornalismo pode, dessa forma, ser
considerado um híbrido entre a linguagem do jornalismo e a do entretenimento.
O que significa que os memes podem aproximar o seu público da notícia de
forma mais rápida e ampla.
Outra importante mudança oriunda desse novo meio, apresentada por
Zago (2012) são as redes sociais. Elas têm um papel fundamental na
contribuição para as mudanças relacionadas à prática jornalística. A autora
afirma que os canais de mídia tradicional utilizam as redes sociais como
23
espaços para distribuir seus conteúdos. Além disso, nesses locais os mesmos
conteúdos podem ser potencializados através de ações dos próprios usuários,
como as ações de compartilhamento. Dessa forma, quando a circulação
jornalística possibilita que seu público leitor compartilhe seu conteúdo e suas
impressões sobre o mesmo, cria uma rede amplificada em que, como
apontado anteriormente, o leitor exerce o papel de distribuidor secundário da
notícia.
Ao falar dessa circulação jornalística, Zago (2012) alega que a internet
tornou-se um canal de distribuição onde ocorre uma maior dinamização na
circulação. O papel do jornal, nesse novo contexto é de analisar o que o público
debate para compreender quais as formas de inserir esses debates em suas
notícias.
Em nossa pesquisa, por exemplo, em mais de uma vez, encontramos
matérias inteiras que ilustravam a repercussão das fotos de uma visita de
Michel Temer à uma churrascaria3, em um momento em que o Brasil passava
pela Operação da Carne Fraca. Notícias como essa, não focam nos motivos
políticos ou econômicos da visita de Michel ao restaurante, que estava
acompanhado de embaixadores de países que exportam a carne brasileira,
mas sim no que os usuários de redes sociais têm a dizer sobre esse
acontecimento. Tal quebra de paradigma leva o jornalismo a um novo patamar
onde o valor a respeito do que o público tem a dizer é tamanho, que esse valor
passa a ser a própria notícia.

1.2 Humor e jornalismo: como a piada se insere na notícia

No início do século XX, os jornais brasileiros começaram a desenvolver


o chamado jornalismo macarrônico. Esse conceito se refere à um formato de
narrativa que almeja maior proximidade com classes sociais mais baixas e
imigrantes, pois, nele, os acontecimentos do momento passam a ser narrados
em colunas e ilustrações – recursos característicos de semanários, revistas e
jornais populares – através de um dialeto que expressava a “rebeldia

3 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/03/20/ida-de-temer-


a-churrascaria-em-brasilia-rende-memes-papelao.htm. Acesso em: 24/11/2017

24
ortográfica” de uma imprensa mais caricatural, que surgia da necessidade de
representar o dia a dia e as transformações pelas quais as cidades e centros
urbanos passavam (JANOVITCH, 2011; MARTINS, 2011).
O humor dessa época, que já vinha se naturalizando desde meados do
século XIX, advém em grande parte da inserção de caricaturas e ilustrações,
que contribuíram para o avanço da imprensa que passa a unir desenho, letra
e humor no jornal impresso (MARTINS, 2011). Martins (2011) aponta que a
caricatura de filiação francesa surgiu no país como “recurso poderoso que
denunciava, educava, fazia rir, enfeitava e potencializava nossa incipiente
imprensa de letras” (MARTINS, 2011, p. 522). Essas práticas, construíram o
início de uma identidade brasileira no jornalismo, que, com sua passagem pelo
humor, possibilitou que novos públicos tivessem acesso ao noticiário de
linguagem mais simples. Com o aumento do público leitor, podemos concordar
com Traquina (2005) ao afirmar que os jornalistas são contadores de “estórias”
da sociedade contemporânea, tendo participação ativa na definição e
construção das notícias.
No âmbito das imagens, a produção brasileira concentra, nas décadas
de 1950 e 1960 seu processo principal focado nos cartuns de revistas como O
Cruzeiro, nas duas décadas seguintes surge a imprensa alternativa com O
Pasquim em paralelo ao movimento voltado para os quadrinhos que tratavam
principalmente de temas relacionados às transformações sofridas no país
através da ditadura. No fim da década de 1980, falava-se a respeito das
mudanças no parâmetro social e moral. Já em 1990 e nos anos 2000 a
crescente entrada de chargistas na grande imprensa e de cartunistas em
salões nos deixa hoje com três tipos de humor que é apresentado ao público:
(1) charges em jornais diários, (2) caricaturas nos salões de humor e (3)
quadrinhos independentes (GOODWIN, 2011).
Ao analisarmos o uso do humor dentro do jornalismo, sentimos
necessidade de conceituar seu sentido desde o nascimento do gênero. Deligne
(2011) aponta que precisamos conhecer a situação para que o riso seja bem-
sucedido. Portanto, a ironia, dentro do humor jornalístico pode surgir, por
exemplo, em um cartum editorial, onde a intenção do autor pode ser a de
provocar o humor para tornar a mensagem séria mais admissível (DAVIES,
2011), ou em charges como as de Raul Pederneiras que abordavam temas
25
sociais (NERY, 2011) e ainda no uso de estereótipos, formas reducionistas de
interpretar o todo, que dentro do humor se transformam em mecanismos para
transformar os mínimos em máximas (GOODWIN, 2011).
Mais concentrada no humor e seu uso em narrativas de caricaturas,
Janovitch (2011) aponta que:

(...) a técnica de criar o riso carrega dois ingredientes especiais: a


quebra das semelhanças e a total falta de compaixão pelo tema a
ser abordado.(...) Faz parte do humorismo tornar aquilo que se vê
em algo que se reconhece, porém que nunca é literalmente. Pode
ser um exagero, pode ser um traço dissonante, pode ser a síntese
de uma ação, ou simplesmente um trocadilho. (p. 279)

Podemos dizer que, para que o humor seja bem-sucedido no jornalismo


ou fora dele, ele precisa ser entendido por quem o consome (GOODWIN,
2011). É importante estabelecermos que as principais diferenças entre os
memes de internet e as charges e caricaturas estão, segundo Ceretta (2016)
ligadas à três fatores: (1) a facilidade e conhecimentos técnicos necessários
para a produção, (2) a linguagem utilizada por cada um - sendo o meme um
diálogo próprio da cibercultura - e (3) a intencionalidade por trás de cada um
desses artifícios.
A charge, enquanto formato, não se encaixa na nossa hipótese pois as
mesmas devem ser lidas de forma diferente em relação aos memes, já que
elas são, no mais das vezes, parte da voz editorial do veículo enquanto os
memes, mesmo que podendo ser usados para instrumentalizar um ponto de
vista, são conteúdos próprios da internet que, assim como apontado por
Ceretta, em relação à sua produção e circulação:

O diferencial da produção de memes é que se trata-se uma criação


descentralizada, com potencial viral, que dialoga com códigos de
comunicação próprios da cibercultura.
Interessante também é perceber como produzir um meme é mais
simples do ponto de vista técnico do que uma charge, sendo que boa
parte da comicidade das charges reside na retratação caricata das
figuras públicas. O meme, por outro lado, pode ser facilmente criado
com o auxílio de sites como o Meme Generator. (2016, p. 8)

Da mesma forma que é importante entendermos as divergências entre


esses dois formatos e seus usos, também precisamos estabelecer que ambos,

26
charges e memes, compartilham uma característica em comum. As charges
sempre apresentam uma crítica relacionada a um acontecimento social atual
com olhar bem-humorado. Essa ligação com o jornalismo e com assuntos que
estão atualmente em debate junto à sociedade é o principal traço que podemos
relacionar ao uso e produção dos memes. Ceretta (2016) nos mostra que a
produção de memes de cunho político consegue estimular reflexões e aponta
que o meme exerce um papel social fundamental pois argumenta de forma
cômica a respeito de fatos políticos e aproxima as pessoas dos mesmos,
divulgando assim questões que não necessariamente teriam entrada em
grupos isolados.
Esse apontamento nos leva a crer que os memes − que muitas vezes
tem humor em seu conteúdo − tem potencial para serem melhor
compreendidos pelos usuários de redes sociais que consomem notícias
através de portais de conteúdo na internet. Estabelecemos então que, o uso
dos memes pelos portais de notícias tem como intuito aproximar o público que
não mais lê notícias, porém, para que esse público entenda o humor utilizado
nos memes, ele precisa ler e compreender o contexto utilizado ali, se não o
humor empregado deixa de fazer sentido.
No webjornalismo, temos uma audiência que se mostra mais
participativa e que busca por conteúdos que dialoguem com o que é
comentado e compartilhado por seus amigos dentro das suas próprias redes.
A facilidade de acesso à diferentes conteúdos em diferentes fontes cria uma
necessidade dos portais de manter suas pautas dentro dos assuntos mais
comentados pela rede, para assim cativar seu público. Essa necessidade é
caracterizada pela apropriação por parte desses portais do conteúdo e dos
assuntos produzidos e discutidos a partir da web (SOUZA et al., 2016). Surge
por parte das empresas jornalísticas uma motivação para apostar em um novo
formato jornalístico, baseado nos memes de internet, o qual nos
aprofundaremos no capítulo seguinte.
No presente capítulo, procuramos apontar quais os principais motivos
pelos quais o jornalismo continua em constante adaptação. Dessa forma,
tentamos relacionar os memes de internet às novas práticas jornalísticas
próprias do meio virtual, onde o jornalismo passa a competir com sua própria
audiência a respeito tanto da produção de conteúdo como da sua circulação.
27
A reflexão que procuramos trazer neste capítulo observa que a
incorporação dos memes é feita pelos portais de notícia com intuito de manter-
se em diálogo com o que acontece nas redes. Essa tentativa gera, por vezes,
conteúdos que são voltados única e exclusivamente para a repercussão de um
fato e não para o fato em si. Os compilados de melhores memes entram em
momentos onde os portais procuram contar a notícia pelos olhos do seu próprio
público. No capítulo seguinte, iremos apontar de que forma os memes se
inserem no meio virtual e passam a ser entendidos não só como recurso
humorístico como também ferramenta para debates de cunho político e social,
compreendendo por fim, o real impacto que a sua incorporação assume no
meio jornalístico.

28
2. MEMES DE INTERNET E O DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA
FORMA DE NARRATIVA

Tendo compreendido no capítulo anterior que o jornalismo com


frequência se adapta a novos paradigmas relacionados à Comunicação na
sociedade, podemos observar o uso dos memes de internet em portais de
notícias como um novo recurso empregado pelos sites noticiosos.
Para melhor ilustrar como se configura seu emprego, neste capítulo, iremos
observar o desenvolvimento do conceito de meme desde o seu surgimento,
que se deu no campo das pesquisas biológicas, até hoje – assumindo ao longo
desse trajeto, um significado completamente distinto do de sua origem.
No primeiro momento, o termo surge como uma analogia aos genes que
afirma que da mesma forma que herdamos genes dos nossos antepassados,
também herdamos a bagagem cultural e ideias que são imitadas através do
tempo, estabelecendo dessa forma duas principais características que
contribuíram na evolução humana: genes e memes. Ao trazer sua origem,
procuramos compreender a partir de que momento o conceito de meme, que
se desenvolve a partir de uma explicação sobre o comportamento cultural da
sociedade, é ressignificado.
Logo depois, nos aprofundamos nos estudos a respeito dos memes de
internet. Neste ponto, entendemos quais as novas possibilidades que o meio
virtual acrescenta ao consumo e disseminação dos memes. Passaremos pela
diferença no entendimento dos memes como parte da cultura popular, e
encerramos com uma reflexão a respeito da relação do meme e do humor,
procurando abordar de que forma o meme funciona tanto com quanto sem a
utilização do recurso à comicidade, de que forma ele consegue levantar
reflexões a partir disso.
Com essa estrutura, procuramos apresentar uma discussão que aborde
a importância e o crescimento que os memes têm tido midiaticamente. Apesar
de serem produtos que têm muita força dentro da cultura popular e do meio do
29
entretenimento, os memes também podem colocar em pauta assuntos mais
sérios. Nossa análise procura apresentar esses dois lados, ilustrando que nem
sempre o meme precisa do humor para ser bem-sucedido. Porém, quando eles
envolvem piadas, essas são feitas com o intuito de tecer alguma reflexão.

2.1 Meme: do conceito à prática

Dawkins (1976) cunhou o termo “meme” quando, no último capítulo de


seu bestseller O Gene Egoísta, procura identificar a partir dos memes uma
analogia aos genes. Sua teoria é de que os genes não podem ser identificados
como única base de reprodução e seleção natural da evolução humana.
Dawkins afirma que para que possamos compreender a evolução da nossa
espécie plenamente é preciso que levemos em consideração uma unidade de
transmissão, ou de imitação, responsável por propagar nossas ideias. Ou seja,
o meme funciona como um replicador baseado nas imitações que são
transmitidas através da relação cultural dos seres humanos. O termo é
cunhado portanto baseado na palavra de origem grega “mimeme” que pode
ser traduzida como “coisa imitada”. Porém, ao cunhar o conceito, o biólogo
opta por reduzi-lo a uma palavra de duas sílabas, para torna-la mais próxima
de “gene”. Nasce assim o termo “meme”.
Nessa visão portanto, a evolução humana não está apenas relacionada
aos genes, mas também aos memes pois, segundo o autor, os memes, assim
como os genes, são propagados de cérebro para cérebro. Dessa forma, os
memes se relacionam à ideias que podem ser culturalmente propagadas de
pessoa para pessoa. Por isso, Dawkins afirma que os memes podem ser
qualquer coisa que se assemelhe a ideias, como melodias, slogans e, até
mesmo, a moda (DAWKINS, 1976).
O autor também estabelece que, para que um meme possa sobreviver,
ele precisa ter três qualidades fundamentais: as de longevidade, fecundidade
e fidelidade. Apesar de não ser a característica mais importante para Dawkins,
a longevidade está relacionada ao tempo de sobrevivência desse meme. A
fecundidade, é a capacidade do meme de se tornar uma unidade de
transmissão cultural e se disseminar, enquanto a fidelidade diz respeito à
natureza da cópia transmitida quando relacionada com o seu original.
30
Na sequência, Susan Blackmore (2000) argumenta que os memes não
são meros replicadores da nossa herança cultural. Para a autora, se os memes
fossem apenas replicados, sem sofrer nenhum tipo de alteração por parte de
quem os replica, eles não sobreviveriam e, por isso, precisam sempre de
variações para manter sua longevidade. Através dessas variações − ou
reapropriações − existe a verdadeira evolução, e apenas os memes que são
culturalmente mais fortes são capazes de sobreviver.
Blackmore concorda que os memes são replicadores, porém aponta
que a forma de se replicar é o que determina seu sucesso. Nessa visão as
nossas culturas e sociedades como são constituídas hoje podem ser
explicadas através dos comportamentos transmitidos de geração em geração.
Além disso, para ela, nós somos as máquinas de guardar memes e os memes
são, por sua vez, os replicadores da nossa evolução. Esses memes portanto,
são copiados de pessoa para pessoa lutando por sua sobrevivência dentro do
limitado espaço da memória e da cultura humana (BLACKMORE, 2000), e
dependem para isso de um suporte que os armazene e garanta sua
sobrevivência, um hospedeiro.
Ambos os autores têm uma visão dos memes como unidades de
transmissão de pensamentos, hábitos ou culturas. Porém, o termo se adapta
quando passa a ser próprio do meio virtual. Os memes de internet, tal como
apresentado por Shifman (2014), diferem do conceito original, porque podem
ser lidos como mídias, conteúdos que circulam e disseminam aspectos que
podem ser imitados. Esses memes de internet, também segundo a autora, são
grupos conteúdos (e não unidades) que contém características em comum.
Estas características podem estar no assunto tratado, no formato do meme ou
em sua origem, por exemplo.
No subcapítulo seguinte vamos observar mais a fundo as
características que definem o meme de internet e como a cultura digital se
apropriou do conceito, para dessa forma entender como os portais de notícias,
sites e blogs encontram importância na inserção dessa mídia em suas pautas.

2.2 Os memes de internet

31
Para compreendermos o surgimento e o significado dos memes de
internet, apresentamos neste tópico uma cronologia sobre como o debate
acerca do conceito foi se desenvolvendo. Pretendemos relacionar esse
trabalho com os nomes dessa área de investigações que nos ajudam a pensar
na forma em que o conceito foi empregado dentro da web e como ele foi sendo
apropriado com o tempo. Passaremos por autores como Knobel & Lankshear
(2006), Davidson (2012), Miltner (2011) e Limor Shifman (2014).
Knobel & Lankshear (2006) defendem o potencial dos memes,
apontando que esses são peças que contribuem nas formas de poder,
participação social e ativismo dentro das redes. Os autores afirmam que
quanto mais o meme sobrevive através dos seus agentes replicadores, mais
ele pode ser copiado e passado para novos agentes que podem seguir
replicando esse conteúdo. Além disso, eles apontam que, apesar dos memes
serem parte da cultura humana desde sempre, apenas recentemente eles
passaram a ser vistos através do seu poder descritivo e explicativo. Ou seja,
eles procuram explorar os memes com a intenção de compreendê-los como
fenômenos culturais, identificando que os memes são um conjunto de
experiências que vivenciamos. Para entende-los, precisamos primeiro
compreender seu sentido social e cultural, isso é definido pelo nosso
Letramento.
O Letramento é o que, para os autores, nos faz compreender um meme.
Só conseguimos passar a ver os memes como gênero, depois que
entendemos seu Letramento. O sentido do humor, nesse sentido, é a
experiência do Letramento e o que interessa, nessa visão é entender os fatores
que levam os usuários a criarem e compartilharem da forma que o fazem
(KNOBEL & LANKSHEAR, 2006).
Para Davison (2012), a principal diferença entre a evolução genética e
a evolução − denominada pelo autor − memética está na velocidade de
transmissão. Se os genes precisam de várias gerações para que suas
mudanças sejam visíveis, com os memes essa evolução é muito mais rápida.
Especialmente quando os memes passam para a internet, acentuando as
possibilidades de velocidade da sua transmissão. Com essa concepção,
Davison (2012) conclui que os memes de internet não necessariamente são
piadas e isso não é o que define o conceito. O conceito de meme de internet
32
está relacionado a sua velocidade de transmissão e a sua fidelidade à sua
forma.
Outra característica dos memes que os diferencia dos genes é a forma
como eles são replicados. Enquanto no caso dos genes, essa replicação se dá
naturalmente, através do DNA, nos memes a replicação está a todo momento
submetida à agência humana, já que ela é transmitida culturalmente, sendo
assim baseada nas ideias e conceitos da sociedade. Essa forma de observar
a replicação dos memes é um marco que distingue as pesquisas de Dawkins
(1976) e Blackmore (2000) dos pesquisadores que vem em seguida
(DAVISON, 2012; SHIFMAN, 2014).
Para Miltner (2011), o que possibilita a proliferação de memes é a
cultura participativa que se desenvolveu a partir da popularização da internet
e das mídias sociais. Miltner (2011) avança na discussão a respeito de uma
“memesfera”, que, para a autora, é o contexto ou a conexão de auto-
referências entre os memes. Ou seja, os grupos de memes estão ligados ou
no contexto da sua criação ou de consumo. Diversas características podem
ser reconhecidas como a conexão entre um grupo de memes, elas podem ser
oriundas do formato visual, como no exemplo dos image macros4. Podem ter
um padrão frasal em comum tal como o meme A Meta ou, até mesmo um
dialeto, tal qual o tiopês5. Ao estudar o fenômeno dos LOLCats, o meme image
macro que utiliza imagens de gatos sobrepostas por legendas engraçadas, a
autora conclui que a cultura participativa cria os memes tendo por motivação o
fato de ter algo para compartilhar com outras pessoas.
Shifman (2014) apresenta uma nova forma de ver os memes quando
compreende os mesmos como um grupo de conteúdos com características em

4 O image macro mais comum é aquele em que uma imagem vem sobreposta com uma grande
legenda com fonte Impact na cor branca, borda preta e maiúscula. “Sem dúvida, os image
macro são a forma mais comum de memes que vemos circulando online e nasceu em 2004
em fóruns do imageboards, porém foi no 4chan que sua popularidade decolou e ele ganhou
vida própria, com os LOLcats em 2006.”. (fonte:
http://www.museudememes.com.br/sermons/image-macro/. Acesso em: 23/11/2017)

5 “O tiopês − a “língua” do Tiop, como fas? e do kkk − se difundiu em larga escala pela internet
e hoje tem várias de suas expressões incorporadas ao cotidiano dos usuários de sites de redes
sociais.” Esse dialeto enfatiza o erro ortográfico propositado para gerar um efeito cômico.
(fonte: http://www.museudememes.com.br/exposicoes/memeclube-2/. Acesso em:
23/11/2017)

33
comum. Tais características podem ser voltadas para o conteúdo, forma ou
sua posição.
Para ilustrar essas características, nos baseamos na análise de uma
das matérias coletadas para essa pesquisa. Na lista de memes apresentados
na notícia “Memes da internet não perdoam Temer após denúncia”6, divulgada
pelo Jornal do Comércio, cujo site é hospedado no UOL, podemos ver
diferentes formatos de meme, que tem por intuito debater o mesmo assunto.
O compilado de vídeos e imagens são trazidos nessa notícia como recurso
ilustrativo, mostrando diferentes conteúdos que representam situações ou
fazem às denúncias voltadas para o presidente. Observamos que por vezes
os memes ilustram e fazem piada com a parcela dos usuários que só está ali
assistindo a tudo, e seu humor é estabelecido quando entendemos que a
posição do usuário é assistir a tudo “de camarote” através das redes sociais.
Essa é a visão dos internautas, a respeito de um contexto, apresentado em
forma de meme, que foi escolhida pelo Jornal para ilustrar o acontecimento.
FIGURA 2.1 – Exemplo de meme FIGURA 2.2 – Exemplo de meme
divulgado na notícia “Memes da divulgado na notícia “Memes da
internet não perdoam Temer após internet não perdoam Temer após
denúncia” denúncia”

FONTE: Jornal do Comércio. FONTE: Jornal do Comércio.

6Disponível no link:
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/nacional/noticia/2017/05/17/memes-da-internet-
nao-perdoam-temer-apos-denuncia-284242.php. Último acesso em 23/11/2017

34
Para ilustrar como os memes podem compartilhar semelhanças em sua
forma, escolhemos dentre o conteúdo coletado, a matéria em formato de lista
“Temer aparece em fila de banco e dá o que falar”7, divulgada pelo portal de
notícias do BOL. Nesse exemplo, podemos observar uma mesma família de
memes que é estabelecida a partir da foto do presidente onde o mesmo está
posicionado atrás de uma cliente no caixa eletrônico da Caixa Econômica
Federal que, ressignificada pelos usuários do Twitter ganha novos sentidos a
partir da legenda, sempre utilizando a mesma imagem e mudando só sua
legenda.
Os principais exemplos de legenda utilizados nesse grupo de meme
fazem menção a uma criatura maligna que aparece atrás da senhora (criatura
essa ilustrada na figura do presidente) ou a um senhor de idade que não sabe
direito o que está fazendo, reforçando estereótipos de senhores que
frequentam bancos para retirar suas aposentadorias. Em ambos os discursos,
o do velhinho ou da figura satânica, podemos estabelecer uma propagação de
ideal que não é favorável ao presidente.
FIGURA 2.3 – Temer FIGURA 2.4 –Temer representado
representando como o diabo como um senhor de idade

FONTE: BOL. FONTE: BOL.

7Disponível em https://www.bol.uol.com.br/memes/noticias/2017/05/13/temer-aparece-em-
caixa-eletronico-e-da-o-que-falar.htm. Último acesso em 17/11/2017

35
Ou seja, na análise dos memes noticiados a respeito do presidente
Michel Temer, podemos encontrar as relações de conteúdo, forma ou posição
estabelecidas pela autora. A análise que se estende no nosso capítulo
metodológico, nos apresenta quais os tipos de memes são mais usados nesse
período estabelecendo relações voltadas para as classificações de formato e
observando de que forma esse recurso é empregado na matéria.
Nos utilizamos do conceito apresentado por Shifman (2014), portanto,
para compreender os memes de internet como grupos de itens digitais que
compartilham entre eles uma das características listadas acima em comum.
Esses memes são criados e compartilhados coletivamente por usuários das
redes sociais online, que subsequentemente imitam e transformam conteúdos
anteriores.
Quando o meme emprega humor em seu discurso, estabelecemos uma
conexão com a discussão do subcapítulo 1.2 deste trabalho. Afirmando assim
que, não basta apenas que o usuário crie uma legenda, coloque ela em uma
imagem e acredite que assim seu meme no formato de image macro seja bem-
sucedido.
Shifman (2014) defende que é preciso ter uma leitura sofisticada a
respeito dos memes, entendendo o funcionamento da sua subcultura e onde
ele é empregado. Chagas (2016) acrescenta que, as manifestações de
engajamento empregadas nos memes que se propõem a uma discussão
pública geralmente são marcadas por uma “ironia ‘ingênua’” (2016, p. 97) fruto
da “interferência serial a partir de intertextualidade”. Conseguimos estabelecer
uma conexão, portanto entre as formas de se reconhecer um meme de internet
e as de se reconhecer o humor dentro de uma piada, pois só é capaz de
entender o produto final por completo que está inserido naquele contexto.
Diante dos conceitos apresentados, concordamos que quando os
usuários começam a usar os sites de redes sociais para abrir canais de debate,
eles estabelecem uma forma de ativismo que, aliada aos memes ganha
volume para levantar questões da própria sociedade. Os memes ultrapassam
assim o nível do humor e encontram espaço para tratar de assuntos sérios
através de uma linguagem mais acessível (SHIFMAN, 2014).

36
2.3 O uso dos Memes por portais e sua relação com o humor

Souza e Aragão (2016), argumentam que, “para o jornalismo, o meme


é um tipo de publicação bem-humorada, que gera grande repercussão e sofre
mutações conforme é compartilhada nas redes sociais”. Em nossa análise
encontramos argumentos que sustentam tal afirmação, entendendo que, mais
do que o humor contido em um meme, o impacto e tamanho de sua
repercussão ainda é o maior atrativo para os canais de notícia.
Como exemplo desse fato, podemos utilizar diversas notícias dentre as
que foram analisadas, porém optamos por selecionar a matéria “Aparente
descontração de Moro com Aécio repercute na internet”8 para melhor ilustrar
como esse impacto e repercussão acontecem. Nesse caso, os usuários de
sites de redes sociais se apropriaram de um momento de descontração entre
os dois atores da notícia, para criarem memes que relacionavam a foto à uma
suposta relação afetiva entre ambos. Nessa matéria, que exemplifica um
grande número de notícias que seguem o mesmo estilo, o Paraná Portal
apresenta o fato do senador Aécio Neves parecer bem confortável ao lado do
juiz federal Sérgio Moro, durante uma premiação. Apresentando exemplos de
memes que circularam no Twitter, a notícia nos apresenta o lado cômico da
imagem, sem se aprofundar, por exemplo, em memes que questionem essa
postura.
FIGURA 2.5 – Aécio e Moro

8 Disponível em: http://paranaportal.uol.com.br/geral/descontracao-de-moro-com-aecio-


repercute-na-internet/. Acesso em 02/12/2017.

37
FONTE: Paraná Portal.

Ao trazer para o debate a relação feita por Goodwin de que “a piada


feita, e transmitida, precisa ser compreendida”, isto é, “O público deve
‘entender’ a piada para que o gesto seja completo” (2011, p. 536),
estabelecemos que o meme bem-sucedido é aquele que consegue passar a
informação para quem está inserido no contexto daquele assunto.
Por isso, quando observamos o uso dos memes em portais e sites da
web, nos aproximamos de Barbosa et al. (2014), que defendem que o uso de
elementos como fotografias, ilustrações e gráficos tem relação com a forma
que recursos multimídias podem ser empregados dentro da notícia. O que
Barbosa et al. (2014) nos apontam como ponto para o nosso questionamento,
é que dentro dos ambientes virtuais essa narrativa dos jornais passa a
depender da intervenção do usuário que, ao navegar por uma publicação e
interagir com a mesma, altera todo o desenvolvimento da notícia e passa a
poder construir novas narrativas a partir dela.

38
3. METODOLOGIA

De acordo com o que apresentamos nos capítulos anteriores deste


trabalho, desenvolvemos uma pesquisa empírica que se propõe a fazer uma
análise de conteúdo de todo material publicado nos sites do grupo UOL
relacionado a memes e ao presidente Temer, durante o primeiro ano de seu
mandato, após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
Os procedimentos adotados para que fosse possível fazer essa análise
foram: (1) estabelecer o recorte temporal e contexto que desejávamos estudar
para que a pesquisa pudesse ser feita; (2) definir quais meios noticiosos seriam
analisados baseado no que queríamos apresentar em nosso debate; (3)
pesquisar e coletar os dados para análise; (4) construir um livro de códigos a
partir da análise parcial feita durante a coleta e a base em conhecimento sobre
o campo de codificação por parte da pesquisadora em suas participações em
pesquisas anteriores; (5) codificar o material recolhido com base no livro de
códigos desenvolvido; (6) analisar os resultados. Veremos no decorrer desse
capítulo, como cada etapa dessa se deu e quais resultados nos foram
apresentados.
Dentro da primeira parte da pesquisa, ainda na busca por uma questão
que baseasse o trabalho, decidimos analisar o contexto político brasileiro atual.
A crescente efervescência de hashtags políticas dentre os Trending Topics que
se fortaleceu com a hashtag #forasarney, ainda em 2008, a personificação de
políticos em perfis de redes sociais, como Marina Ecológica e Dilma Bolada e
os comentários em tempo real durante os debates políticos no Twitter são
apenas alguns dos exemplos de formatos de memes que são encontrados com
frequência nas páginas e perfis de sites de redes sociais. Porém, desde as
eleições presidenciais de 2014 as discussões sobre política têm encontrado
um terreno ainda mais fértil nas discussões e debates online. Essa observação
pauta o início do processo que nos leva ao segundo momento dessa pesquisa,

39
gerando o desejo de um aprofundamento a respeito de como os grandes meios
de comunicação respondem a esse movimento dos usuários e nos faz tentar
observar como esses canais inserem esses debates em suas pautas.
Definido o que queríamos analisar, optamos por selecionar as matérias
publicadas no último ano, durante o período pós-impeachment, para ter um
recorte mais atual possível que retratasse a forma como as notícias que têm
relação com o presidente Michel Temer e os memes são apresentadas e em
que contextos e subcategorias dos portais encontramos divergências em
enquadramentos e abordagens sobre um mesmo assunto ou a sua
repercussão. Feito isso, passamos para o trabalho manual de análise de cada
notícia.
A coleta do conteúdo aqui analisado foi feita através do portal UOL,
durante o período de agosto de 2016 a outubro de 2017, procurando analisar
o mandato do presidente Michel Temer até o período de início do processo da
nossa coleta, que se deu em novembro de 2017. Em nossa análise de
conteúdo, pretendemos observar o que é divulgado em seus diferentes blogs,
sites e portais. O UOL nos permite, através do seu campo de busca avançada,
opções de filtragem que possibilitam a quem faz a busca por uma ou mais
palavras-chave encontrar esses termos dentro de todos os jornais, portais e
blogs vinculados ao UOL.
Por ser um conglomerado que traz dentro de seu conteúdo diversos
parceiros e sites de notícia, nos aproximamos dos apontamentos feitos por
Mielniczuk (2001) a respeito da interação do leitor com a publicação. As
possibilidades de encontrarmos um mesmo fato sendo contado através de
“estórias” (TUCHMAN, 1972) que divergem a partir da visão editorial de cada
veículo, é o que nos motiva a procurar, por exemplo, conteúdos políticos dentro
de categorias como entretenimento, que não necessariamente têm uma
relação direta com as palavras-chave escolhidas para análise, “Temer” e
“meme”.
Diante dos resultados apresentados na busca por essas palavras-
chave, encontramos um leque de notícias publicadas dentro da rede de sites
hospedados pelo grupo UOL relacionadas aos termos “meme” e “Temer”.

40
Através de critérios estabelecidos pensando no que desejávamos obter ao fim
dessa coleta, nos rendeu um resultado final de 70 conteúdos para análise final.
Dentre os critérios estabelecidos, observamos:
1. Apenas os conteúdos que são reconhecidamente de parceiros do
grupo UOL e que trazem esse nome em suas URLs;
2. Apenas conteúdos que estivessem dentro do recorte temporal
estabelecido previamente, que procurava observar as notícias divulgadas após
a posse de Temer como presidente;
3. Apenas notícias que contivessem ambas as palavras-chave em seu
conteúdo e não apenas um ou outro;
4. Apenas conteúdos que sejam de livre acesso ao público,
desconsiderando os conteúdos exclusivos de assinantes.
Consideramos, portanto, todas as matérias, listas e releases no formato
narrativo ou opinativo que se adequaram a esses quesitos. A compreensão
dos memes como conteúdo, se desenvolveu através do nosso entendimento
geral sobre o que é um meme de internet, depois do aprofundamento teórico
feito no capítulo dois deste trabalho. Nesse sentido, matérias como “Internet
elege apresentadora Ana Furtado substituta oficial de Michel Temer” ou
“Twitter não perdoa o churrasco de Temer” que falam sobre a repercussão de
um acontecimento, mas não esclarecem que aquele assunto é um meme,
também são entendidas como matérias que tratam de memes.
Em nossa análise manual, avançamos no processo de produção do livro
de códigos para essa pesquisa. Esse livro de códigos, disponível na íntegra
como material apêndice a este trabalho, observa, por exemplo, questões como
de que forma a notícia procura, e se a notícia procura, explicar o meme que foi
utilizado na pauta, se o meme utilizado é o assunto principal das notícias em
questão ou se ele é apenas um recurso complementar. Esse recurso
complementar, pode apenas ilustrar a notícia ou trazer um compilado de
“melhores reações” que aquele assunto teve nos sites de redes sociais, por
exemplo.
Logo, procuramos dessa forma entender se o uso de memes em
matérias, colunas e galerias de grandes jornais, é uma tentativa de

41
aproximação com a linguagem estabelecida em sites de redes sociais, ou se
realmente aborda os debates trazidos pelos usuários que compartilham esses
memes.
Após a coleta desse material primário e da construção do nosso livro de
códigos, seguimos para a fase de análise do conteúdo dessas notícias. Nelas,
o assunto meme é usado textualmente ou visualmente. Essa proposta procura
entender as diferentes abordagens desses veículos e como o uso de memes
está empregado dentro do conteúdo, procurando identificar variáveis que ligam
a notícia ao seu uso.
Para o desenvolvimento da nossa metodologia, construímos diversas
categorias, apresentadas em nosso livro de códigos, que foram empregadas
através da análise das mesmas.
Uma vez coletada a notícia, foi procedida uma leitura inicial e feito um
primeiro esforço de classificação de seu conteúdo. O conteúdo foi classificado
observando (1) o site onde a notícia circula, (2) sua linha editorial, (3) se a
matéria ilustra o meme através de recursos visuais ou não, (4) se trás o meme
como tema principal da pauta ou apenas como complemento da notícia, (5)
qual o formato do meme (6) se o meme tem caráter ofensivo e procura ofender
algo ou alguém (7) se o meme tem caráter explicativo e busca informar sobre
alguma questão governamental e (8) quais personagens políticos aparecem
na notícia. Esse processo de codificação foi desenvolvido usando o Microsoft
Excel para tabulação.
Como estabelecido anteriormente, partimos da premissa de que nem
todos os memes são, necessariamente, engraçados. Por isso, é nossa
intenção aqui, compreender de que forma os portais abordam os memes e se
eles entendem os mesmos como práticas que estão relacionadas estritamente
à uma linguagem que faz uso do humor. Observando se dessa forma, o
conceito “meme” é visto por esses sites como um termo que deve ser
apresentado para seu público leitor apenas quando o assunto principal é
cômico ou se ele também é apresentado em seus formatos mais sérios que,
ao serem estabelecidos e apresentados por esse meio como “meme” põe em
questionamento a seriedade de um assunto.

42
A análise desse conteúdo, portanto, procura observar de que forma se
dá a inserção dos memes dentro da cobertura jornalística dos diferentes sites,
portais e blogs do UOL.

43
4. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

O presente capítulo, procura mostrar todos os dados que achamos


relevantes na análise do conteúdo coletado. Como explicado anteriormente em
nossa metodologia, trabalhamos nossa codificação a partir de um livro de
códigos de nossa autoria. Com esse livro, contido na íntegra no apêndice
desse trabalho, procuramos desenvolver pontos que nos ajudam a
compreender como cada notícia analisada foi construída e como o uso do
meme é empregado nela. Para tanto, usamos 13 formas de codificação em
cada notícia e, após observar os resultados obtidos, apresentaremos aqui os
pontos que mais nos pareceram relevantes para a reflexão deste trabalho.
Nossas principais observações, se voltam para o assunto principal da
matéria e de que forma o meme se relaciona a esse assunto. De que forma o
meme é apresentado nas matérias de cunho político? Como ele é trazido nas
notícias de entretenimento? Esse meme é o assunto principal desta matéria ou
ele é trazido como material complementar? São perguntas como essas que
basearam nossa análise.

4.1 A inserção dos memes nas notícias

Em um primeiro momento, achamos relevante ilustrar como os memes


foram inseridos em diferentes linhas editoriais de veículos noticiosos
encontrados na nossa codificação.
No livro de códigos deste trabalho, selecionamos sete categorias para
adequar o conteúdo coletado durante a codificação. Essas sete categorias, nos
apresentam diferentes linhas editoriais onde o meme foi inserido. São elas:
 Notícias
 Economia
 Entretenimento
 Política
 Opinião

44
 Eleições
 Outros
Apresentaremos como o meme é abordado, dentro das diferentes
categorias listas acima, quando ele é o tema principal de uma notícia ou
quando apenas é inserido como material complementar. Para isso,
selecionamos como material expositivo sete notícias, que representam 10% da
nossa análise.
O primeiro exemplo, a notícia “Temer não renuncia e confunde a
internet; veja os memes”9 em nossa codificação é uma matéria codificada
como Notícia. Apesar de conter apenas 3 parágrafos, a matéria consegue
explicar como o meme surge e de que forma se dá a abordagem do tema nele,
ao afimar: “O anúncio de que não vai renunciar após denúncia de delações da
JBS fez com que Temer fosse comparado à diversos personagens, como a
‘falsa grávida de Taubaté’”. A notícia ainda traz uma lista de principais memes
circulados como recurso ilustrativo.
Em uma diferente linha editorial, a notícia “Temer anuncia saque do
PIS/PASEP para 8 milhões, mas metade já podia sacar”10 encontrada na
sessão de Economia do portal BOL, procura num primeiro momento focar nas
informações a respeito do saque do fundo, como ele seria feito e quem se
beneficiava. No fim da notícia, após apresentar todas as informações
necessárias ao leitor que pudesse se interessar em realizar a retirada do seu
dinheiro, eles acrescentam uma pequena galeria de imagens com compilados
dos melhores memes relacionados à essa notícia. Dessa forma, entendemos
que, apesar da notícia não ter explicado o meme propriamente dito, ela trouxe
todas as informações que precedem a compreensão daquela imagem, para no
fim ilustrar essas informações inserindo essa galeria de humor.
FIGURA 4.1 – Imagem da galeria do fim da notícia “Temer anuncia saque do
PIS/PASEP para 8 milhões, mas metade já podia sacar”

9 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/18/temer-nao-


renuncia-e-confunde-a-internet-veja-os-memes.htm. Acesso em: 25/11/2017.
10 Disponível em: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/economia/2017/08/24/saque-

pispasep-oito-milhoes-de-pessoas-idosos.htm. Acesso em 25/11/2017.

45
FONTE: BOL.
Nas notícias de entretenimento, o assunto político vem, em alguns
casos, acompanhado de uma celebridade que está diretamente ligada ao
caso, como na notícia “Ticiana Villas Boas, mulher de Joesley Batista, é
atacada na web”11, que aborda como a mulher do empresário, que é
apresentadora de um canal televisivo, sofreu com a repercussão do caso. Em
outros casos, a relação da celebridade com o nosso recorte só se torna claro
a partir de uma apresentação maior do contexto como no exemplo da notícia
“Internautas brincam na foto de Ana Furtado: Linda e substituta do Temer!”12.
No caso em questão, a piada se forma baseada na carreira profissional da
apresentadora, que já substituiu Fátima Bernardes e Angélica em seus
respectivos programas, pela emissora Globo. Sua constante aparição em
casos que a emissora precisa de uma substituta para os programas da sua
grade televisiva, fez seus seguidores levantarem uma conspiração a respeito
de que Ana seria a substituta do cargo de presidente do país. Ambos os
exemplos, tratam de acontecimentos que se desenrolaram dentro da rede
social Instagram, nossa justifica para tratar esses acontecimentos como
memes, se baseia no fato de que o UOL os está tratando dessa forma.

11 Disponível em https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-
noticias/entretenimento/2017/05/18/ticiana-villas-boas-mulher-de-joesley-batista-e-atacada-
na-web.htm. Acesso em: 18/11/2017
12 Disponível em: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-

noticias/entretenimento/2017/05/18/internautas-brincam-em-foto-de-ana-furtado-linda-e-
substituta-do-temer.htm. Acesso em: 18/11/2017

46
FIGURA 4.2 – Comentários dos seguidores de Ticiana Villas Boas a respeito
da JBS em sua conta na rede social Instagram.

FONTE: BOL.

FIGURA 4.3 – Comentários dos seguidores de Ana Furtado em sua conta na


rede social Instagram.

FONTE: BOL.

47
Para ilustrar uma notícia da linha editorial Política, escolhemos a notícia
“Nadando em dinheiro... Grana em apartamento que seria de Geddel inspira
memes”13. Essa notícia, apesar de trazer uma abordagem política em sua
pauta, noticia o fato e em seguida apresenta o meme:

A busca faz parte da Operação "Cui Bono", em que Geddel é


investigado pelas suspeitas de pertencer a um esquema de liberação
de créditos da Caixa Econômica Federal em troca de propina. O
baiano foi vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco entre 2011
e 2013, durante o governo de Dilma Rousseff. Na gestão de Michel
Temer, ocupou a Secretaria de Governo. (...)
Como era de se esperar, a descoberta logo inundou a internet. Entre
piadas, protestos, ironias e, claro, muitos memes, famosos e
anônimos repercutiram o caso, já conhecido como "as malas do
Geddel", nas redes sociais.

Em notícias do editorial de Opinião, ilustramos a apresentação do meme


no exemplo “Operação Anti-Meme”14, da Piauí. Apesar de trazer o termo
“meme” em sua chamada, a matéria se desenvolve a partir da gestão das
mídias sociais do presidente e da mudança no cargo de gestor dessas mídias,
com intuito de mostrar as reformas empregadas pelo governo de forma
positiva. Dando a entender que a má gestão anterior dessas redes era um dos
fatores para que os usuários não criassem proximidade com o governo, esse
é o ponto mais próximo que temos dentro da matéria que possa estar ligado à
uma produção de memes por parte dos usuários. Portanto, apesar de ser uma
notícia que está dentro do enquadramento utilizado em nossa metodologia, em
nossa catalogação, ela não é vista como uma matéria que aborda o meme
como tema e nem que explica a utilização do termo.
Mesmo não estando em ano de eleições, tivemos duas notícias
enquadradas nessa catalogação, uma relacionada aos debates eleitorais para
prefeito do Rio em 2016 e a outra, ilustrada aqui, “Caso seja eleito, Ciro diz
que revogará reformas do governo Temer”15, mostra um panorama parecido
com o apresentado no exemplo que trouxemos para a linha editorial de

13 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/09/06/nadando-em-


dinheiro-grana-em-apartamento-que-seria-de-geddel-inspira-memes.htm. Acesso em
25/11/2017.
14 Disponível em: http://piaui.folha.uol.com.br/operacao-anti-meme/. Acesso em 25/11/2017.
15 Disponível em: http://blogs.ne10.uol.com.br/jamildo/2017/09/26/caso-seja-eleito-ciro-diz-

que-revogara-reformas-do-governo-temer/. Acesso em 25/11/2017.

48
Economia. Nela, são expostas as principais propostas do pré-candidato à
presidência da república, Ciro Gomes, que critica as reformas do governo
Temer. Ao fim da notícia, é apresentada uma interação de um usuário com o
perfil de Ciro no Twitter, que se refere a um meme que surgiu do pré-candidato.
FIGURA 4.4 – Interação com usuário apresentada na notícia “Caso seja
eleito, Ciro diz que revogará reformas do governo Temer”.

FONTE: Blog do Jamildo.

4.1.1 Os usos dos memes em diferentes portais de notícia

Após levantar, no sub-capítulo anterior, quais linhas editoriais foram


encontradas e quais como as matérias fazem uso dos memes em suas pautas,
trazemos a seguir os resultados que essa coleta nos forneceu a partir do
processo de codificação desse conteúdo. Nossa coleta resultou num total de
70 matérias e, dentro da distribuição dessas matérias – como exemplificadas
no gráfico abaixo – podemos começar a entender os principais usos em cada
canal.

TABELA 4.1 – Quantidade de Matérias por Site


Site Matérias Analisadas (N)
UOL16 11

16 Considera todas as notícias veiculadas através do portal oficial do UOL encontrado no link
https://www.uol.com.br/. Acesso em 02/12/2017.

49
BOL 19
Folha de S. Paulo 6
Jornal do Comércio 10
Blogs 9
Band 2
Jovem Pan 4
Piauí 1
Outros 8
Total 70
FONTE: A autora.
No site da UOL, encontramos 11 notícias relacionadas ao conjunto de
palavras meme + Temer. Sete dessas matérias seguem uma temática
diretamente política, outras duas são codificadas como notícias e relacionam
o meme ao fato noticiado, uma em economia e uma em eleições.
O site BOL foi o que mais teve matérias publicadas no período. São 19
ao todo, sendo oito delas focadas no meme apresentando o mesmo em forma
de lista, cinco que foram codificadas como Notícias, três em Entretenimento e
uma de cada nas categorias Economia, Política e Opinião. A vasta quantidade
de notícias voltadas para o meme como assunto principal apresentado no
formato de lista, nos faz ver uma relação direta desse modelo com a linguagem
do site, que traz em seu menu principal a categoria Memes ao lado de Notícias,
Listas, Vídeos, Imagens, entre outros.
No site da Folha de S. Paulo17 encontramos seis notícias em nossa
coleta. Dentre elas, três apresentam enquadramento político, uma fala de
entretenimento e duas focam mais no meme em suas pautas. Dentre essas
notícias, também é interessante observar que quatro das seis coletas estão
publicadas pelo site da Folha e duas pelo F5, portal da própria Folha que se
apresenta como o lugar onde você encontra “Tudo sobre o mundo das
celebridades e outras novidades”.

17 Dentre os sites que passaram por nossa coleta e análise, o site da Folha é o único que
bloqueia o acesso às notícias através de um limite de acessos mensal, que dificulta, por
exemplo, retornar a essas notícias na sua versão web para analisar seu conteúdo.

50
O Jornal do Comércio, que também circula na sua versão online pelo
UOL, aborda o meme como tema principal da notícia na maioria dos casos.
Em 10 matérias coletadas e analisadas, sete tem como enquadramento o
meme, duas abordam mais o lado político enquanto a última fala sobre
assuntos relacionados ao entretenimento.
No seguimento de blogs do grupo, nossa coleta encontrou notícias no
Bom Pra Cachorro, no Blog do Jamildo, Blog do Mauricio Stycer, Blog do
Sakamoto, Observatório da Televisão e no Blog Coluna Esplanada. Todos eles
juntos nos forneceram um total de nove notícias para análise.
Também observamos que em 66% (N=6) das notícias, esses blogs
procuram explicar como o meme funciona e em 77% (N=7) eles trazem
recursos que ilustrem o meme em questão.
Apenas duas notícias dentro do nosso filtro são apresentadas no site da
Band, quatro coletas foram realizadas no site da Jovem Pan e apenas um no
site da Piauí.
Durante nossa codificação, optamos por englobar todos os veículos que
não apresentados acima na opção de “Outros” pois, esses casos não nos
trazem uma quantidade tão grande para análise individual. Para melhor
visualização dos sites e da quantidade de conteúdo fornecida por cada um dos
que classificamos em “Outros”, listamos abaixo os portais enquadrados nessa
codificação e a quantidade de notícias que cada um nos ofereceu. Ao final a
categoria “Outros” conta com um total de oito notícias para análise.

TABELA 4.2 – Sites Englobados na codificação como “Outros” – Grupo UOL


Site Notícias Coletadas
Congresso em Foco 2
Omelete 1
Código Fonte 1
Glamura 1
Tv e Famosos 2
Paraná Portal 1
Total 8
FONTE: A autora.

51
No caso do site da UOL, apenas a notícia “Bolsonaro, memes e
conspirações viralizam nas redes após delação da JBS”18 não traz em seu
corpo nenhuma apresentação visual a respeito de um meme. A matéria fala
sobre um estudo feito a respeito do engajamento dentro das redes sociais com
o caso da JBS e trata, mesmo a parte relacionada ao humor, de forma mais
formal e sem trazer exemplos.
Ainda a respeito dos memes divulgados nas matérias do site da UOL,
segundo nossa codificação, encontramos seis formatos propagados dentro
desse conteúdo. A forma mais popular de se ilustrar os memes não só no
UOLmas em vários de seus portais e blogs parceiros, como observaremos
adiante neste capítulo, ainda é o compilado de comentários e piadas que
surgem a partir do Twitter. Nada menos que cinco das 11 notícias analisadas
nesse site, trazem uma lista de tweets mais populares a respeito do assunto
acoplado ao conteúdo da matéria, o formato de meme photobomb19 é trazido
uma vez, assim como o image macro e o snowclone 20. As notícias restantes
trazem vários desses e outros formatos concentrados em uma galeria. Isso nos
mostra, que as notícias geralmente não procuram concentrar-se apenas em
um formato de meme, preferindo ilustrar diferentes memes em galerias ou
listas acopladas.

FIGURA 4.5 – Exemplo de FIGURA 4.6 –Trolling durante a exibição


meme compartilhado depois da do Jornal Nacional
visita de Temer a churrascaria,
durante a Operação Carne
Fraca

18 Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2017/05/26/bolsonaro-


memes-e-conspiracoes-viralizam-nas-redes-apos-delacao-da-jbs-diz-pesquisa.htm. Acesso
em 18/11/2017
19 Apesar do termo ser relativamente novo, o photobomb é uma prática antiga onde alguém

arruína uma fotografia ou vídeo com uma aparição no plano de fundo.


20 “Snowclones são um tipo de modelo de frase em que certas palavras podem ser substituídas

por outra para produzir novas variações com significados alterados (...). Embora a paródia de
citações de filmes populares, música e programas de TV seja um tema bastante comum no
humor da Internet, os snowclones geralmente aderem a um determinado formato ou ordem de
arranjo que pode ser reduzido a uma fórmula gramatical com uma ou mais variáveis
personalizadas. Eles podem ser entendidos como a forma verbal ou baseada em texto de
ferramentas exploradas com fotos.” Fonte: http://knowyourmeme.com/memes/snowclone.
Acesso em: 25/11/2017.

52
FONTE: UOL. FONTE: BOL.

FIGURA 4.7 – Meme exibido em FIGURA 4.8 – Exemplo do meme “Logo


“Governo nega censura ao Eu” envolvendo Temer
notificar blogs sobre uso de
imagens em memes de Temer”

FONTE: UOL. FONTE: UOL.

No BOL encontramos um grande uso dos memes sendo apresentados


em listas, não notamos uma preocupação com a explicação dos fatos, alguns
modelos como o apresentado em “O Brasil quer meme!”21 trazem um pequeno

21 Disponível em https://www.bol.uol.com.br/memes/listas/o-brasil-quer-meme-nao-
presidente.htm. Acesso em: 18/11/2017

53
parágrafo introdutório porém, mesmo que nesse parágrafo sejam citadas as
denúncias e crises, as mesmas não são explicadas à fundo.

FIGURA 4.9 – Meme exibido em “O FIGURA 4.10 – Meme exibido em


Brasil quer meme!” “O Brasil quer meme!”

FONTE: BOL. FONTE: BOL.

Apresentados esses valores, que surgiram durante nossa codificação,


temos uma visualização geral que apresenta como as notícias de diferentes
linhas editoriais do grupo UOL trazem os memes dentro de suas pautas. Após
essa primeira impressão, seguimos nos sub-capítulos seguintes,
apresentando quais principais questões nos chamaram atenção durante essa
codificação.

4.1.2 Memes datados: momentos que marcam o aumento dos memes

Feita a análise e codificação exemplificadas no sub-capítulo anterior,


partimos para observações mais pontuais dentro de nossa coleta. Notamos
que existem picos nas datas de publicação dos conteúdos coletados.
Em relação à frequência das notícias, como exemplificado no gráfico
abaixo, o maior número de matérias coletadas encontra-se no mês de maio de
2017. Ao observar a intensidade do fluxo de notícias, neste mês, notamos que
os conteúdos relacionados à memes e o presidente Michel Temer começa no
dia 13 e segue com um alto ritmo de produção até o dia 26 do mesmo mês. É

54
interessante para nós observar que, neste período ocorreu a delação premiada
da JBS.
TABELA 4.3 – Frequência de posts por mês – Memes + Temer

Mês/Ano Matérias relacionadas (N)


Setembro 2016 3
Novembro 2016 1
Dezembro 2016 3
Janeiro 2017 4
Março 2017 2
Abril 2017 1
Maio 2017 31
Junho 2017 5
Julho 2017 6
Agosto 2017 7
Setembro 2017 5
Outubro 2017 2
Total 70
FONTE: A autora.

Os depoimentos dos sete executivos da JBS que foram prestados em


abril, iniciaram a fase de inquéritos envolvendo 28 partidos políticos que teriam
recebido dinheiro de caixa dois, através do grupo, para financiar as eleições
de 2014. No caso, foi apresentado que o então deputado federal Rodrigo
Rocha Loures recebia propina em nome de Temer, apesar de o presidente
negar tudo. As investigações seguem buscando as ilegalidades cometidas por
Michel Temer após sua posse como presidente, já que um eventual
afastamento do poder, só pode ser julgado a partir de crimes cometidos
durante o mandato.
No dia 18 de maio, Temer fez o primeiro pronunciamento oficial depois
da divulgação das fitas que o incriminam. Neste depoimento, o presidente nega
ter comprado o silêncio dos envolvidos, diz que ele iria demonstrar, perante o

55
Supremo Tribunal Federal que não tem envolvimento com o fato e
veementemente afirma que não pretende renunciar ao cargo de presidente.
Com a homologação dos acordos de delação, os usuários de redes
sociais causaram tanta movimentação em forma de memes e comentários
sobre o assunto que, temos em nossa análise, o dia 18 de maio de 2017 como
o dia onde mais notícias sobre o tema foram publicados pelos portais e sites
do UOL. Podemos encontrar uma maior frequência de notícias que
relacionaram o pronunciamento de Temer com os memes que circulavam na
internet dentro dos sites do próprio UOL, no BOL e em blogs de entretenimento
e opinião, tais como o site da Jovem Pan e o Observatório da Televisão.

4.1.3 Usos, formatos e inserção dos memes nas notícias

Além de observar, como apresentado, a grande concentração de


notícias publicadas perto de períodos onde grandes escândalos políticos
ocorreram. Procuramos observar quais formatos de memes têm maior
repercussão em cada site, analisamos o formato do meme compartilhado em
cada uma dessas matérias. A grande maioria das matérias trazem compilados
dos melhores tweets que circularam sobre o assunto e tratam todos os
comentários como meme.

TABELA 4.4 – Formatos de Memes utilizados


Formato do Meme Memes circulados (N)
Look-a-like 1
Photobomb 2
Catchphrase 2
Image Macro 5
Reaction Face 1
Snowclone 3
Trolling 7
Tweets 28
Hashtags 1
Paródia 1

56
Inconclusivo 8
Vários 8
Outros 3
Total 70
FONTE: A autora.

Outro ponto analisado, foi com qual frequência as matérias procuram


explicar o funcionamento do meme, sua origem ou o motivo do seu humor. Das
70 notícias analisadas, 46 procuram explicar o meme, geralmente isso se dá
apresentando um contexto que explique o que gerou o meme. Em 24 dessas
notícias o meme é apenas citado e nenhuma explicação a respeito da sua
origem, formato ou disseminação é mencionada. Ilustramos cada portal de
notícias ou site e a quantidade de notícias em que o meme não é citado, para
melhor visualização, organizamos a tabela do site que tem o maior número de
notícias sem esse aprofundamento, para o menor.

TABELA 4.5 – Sites que menos explicam o meme em notícias – Grupo UOL
Site Notícias com Memes não explicados
BOL 7
UOL 3
Folha de S. Paulo 3
Jornal do Comércio 2
Blog do Jamildo 2
Código Fonte 1
Band 1
TV e Famosos 1
Omelete 1
Blog do Sakamoto 1
Piauí 1
Jovem Pan 1
Total 24
FONTE: A autora.
Achamos importante inserir em nossa análise, uma codificação que
informe quantas dessas notícias se preocupam em ilustrar o meme citado em
57
sua pauta, utilizando recursos visuais que exemplifiquem o meme. 61 das
notícias coletadas utilizam o espaço da notícia para ilustrar o meme abordado.
Apenas 9 delas não trazem nenhum recurso ilustrativo desse meme, abaixo
listamos quais notícias são essas e por quais canais elas foram divulgadas.
TABELA 4.6 – Notícias que não ilustram o meme – Grupo UOL
Título da notícia Site em que foi vinculada
Deputado admite que tatuagem com Folha de S. Paulo
nome de Temer é falsa
Após críticas e memes, Temer diz Folha de S. Paulo
que evitará o uso de mesóclise
Acusado de assédio, deputado da Folha de S. Paulo
tatuagem compartilha meme
homofóbico
Temer: “População vai Blog do Sakamoto
compreender”. Mas povo nem
entende como ele segue lá
DJ faz remixes de gravações de Jornal do Comércio
Temer em disco de Música
Eletrônica
Bolsonaro, memes e conspirações UOL
viralizam nas redes após delação da
JBS, diz pesquisa
Operação Anti-meme Piauí
Poemas de Temer caem na rede e Coluna Esplanada
viram meme: “Por quê eu insisto?”
Retrato Oficial de Temer é divulgado Jovem Pan
e gera críticas nas redes sociais
FONTE: A autora.

Além desses pontos, que consideramos mais relevantes para uma


análise que diz respeito ao uso dos memes dentro desses portais de notícia.
Outros dados surgiram em nossa análise que podem ser um desdobramento

58
para futuras pesquisas. Nenhuma dessas matérias nos pareceu apresentar um
discurso “pró-temer”, que aborde possíveis lados positivos do governo.

4.2 Discussão

A partir dos resultados apresentados, vemos uma tímida inserção dos


memes em notícias onde o humor não é o foco da pauta. Em grande parte dos
exemplos que analisamos quando essa inserção ocorre, o meme se apresenta
em forma de galeria ou lista. Isso nos mostra que o caminho que os memes
têm a percorrer dentro do webjornalismo ainda é grande.
Muitas das notícias analisadas, não abrem uma discussão que procure
explicar o meme, sua origem e principais usos. Eles são debatidos, na maioria
dos casos como produtos que circulam “na boca do povo” e que conseguem
ilustrar quais notícias repercutem mais nos sites de redes sociais.
Ou seja, a principal inserção que reconhecemos em nossa análise é
aquela que se preocupa em mostrar aos leitores o que os usuários têm
debatido a respeito de acontecimentos que estão ou são relacionados com as
principais pautas dos veículos de notícias. Dessa forma, acontece uma
reciclagem do assunto que sai do veículo de notícia, é recebido pelo público
leitor que, ao consumir esse material, produz conteúdo (em formato de meme)
a respeito desse material que ao ser muito propagado, volta para o veículo de
notícia como uma nova pauta.
Podemos relacionar isso ao fato de que muitas dessas matérias
circulam durante o período de acontecimentos relevantes para a política –
como apresentado no caso da JBS – onde um acontecimento que se multiplica
em várias matérias, em sua maioria menores, em diferentes linhas editoriais
do meio, estabelecendo a relação daquele acontecimento com a sua
repercussão. Ainda observando o caso da JBS, analisamos 31 resultados que,
dentro de suas próprias linhas, tratam, por exemplo, a forma como a internet
reagiu a afirmação da não-renúncia de Michel Temer, como esse fato virou
meme a partir do nervosismo dos jornalistas da emissora Globo durante a
transmissão da notícia em sua pauta, celebridades que foram impactadas
através dessas denúncias, sejam esses impactos na vida pessoal ou só na
movimentação de suas redes sociais e até mesmo como a Netflix, grande rede
de streaming, reagiu à esse acontecimento nas redes sociais. Exemplificando
59
dessa forma, como diversas linhas editoriais desses veículos noticiosos podem
relacionar suas pautas, trazendo o mesmo assunto de plano de fundo porém
de diferentes pontos de vista que estejam relacionadas com sua própria linha.
Esses exemplos, apenas afirmam que o jornalismo está ainda
começando a compreender e desenvolver modos de incorporar a linguagem
dos memes em suas notícias. Enquanto por um lado, eles mostram facilidade
em empregar esse uso em diferentes editorias, por outro, nos parece haver
uma dificuldade em ir a fundo em cada caso.
Acreditamos, a partir dos resultados aqui apresentados, que o fato das
imagens de memes serem inseridas nas notícias sem nenhuma explicação
aprofundada, pode ser resultado da intencionalidade que o repórter pode ter
ao escrever uma matéria. Se considerarmos que um grande número de
notícias analisadas são listas no formado de “Confira os melhores memes”,
podemos relacionar que essas notícias são, na verdade, uma reciclagem de
uma notícia já propagada que, ao repercutir nos ambientes virtuais é
reaproveitada pelo meio para gerar novos conteúdos, que mostrem apenas o
que circula na internet a respeito de um assunto que já foi apresentado aos
leitores anteriormente.
Outro ponto que nos chamou a atenção foi, o grande número de notícias
relacionadas à memes nos sites da UOL e do BOL e um número muito menor
de coletas nos sites da Folha de S. Paulo, Band ou Piauí, isso nos mostra que,
a inserção dos memes em veículos de notícias ainda pode ser considerada,
por muitos jornalistas, algo mais casual e próprio para consumo de
entretenimento. Esse conteúdo ainda caminha em direção a relevância para
canais que seguem uma linha editorial mais formal de produção de conteúdo.
Fica a proposta de melhor entendimento, por parte dos jornalistas, a
apresentar quais contextos estão por trás da produção e disseminação de um
meme. Como os memes podem ser mais do que uma zoeira das pessoas que
estão comentando e compartilhando em sites de redes sociais. O meme abre
espaço para debates sérios trazidos com uso do humor justamente com a
intenção de apontar erros, ressaltar estereótipos e brincar com a ironia.
Portanto, nessa pesquisa, encontramos gaps que devem ser
preenchidos em futuras pesquisas da área. Analisamos os formatos e temas
dos memes. Porém não nos aprofundamos no discurso empregado, não
60
observamos se houve ou não um posicionamento político claro e esses são
aprofundamentos que ainda devem ser traçados.

61
5. CONCLUSÃO

Iniciamos esse trabalho, com o intuito de analisar como os memes de


internet se inserem em pautas de sites e portais de notícia. Para tanto,
utilizamos o grupo UOL para realizar nossa pesquisa, observando diferentes
sites, blogs e portais da rede. O recorte de nossa pesquisa corresponde as
matérias veiculadas nesses sites que faziam menção aos termos “Temer” e
“meme”.
Diante da catalogação feita a partir da coleta de conteúdo desses sites,
podemos entender que o uso dos memes por esses canais ainda precisa ser
melhor desenvolvido. Entendemos que, atualmente, a maioria desses canais
noticiosos pensam nos memes como uma forma de repercutir os
acontecimentos das próprias redes sociais.
A questão que pautou esse trabalho pode ser respondida ao notarmos
o caso JBS, que foi noticiado por diferentes veículos no mês de maio de 2017.
Em nossa pesquisa, idenfiticamos que o caso foi noticiado com diferentes
abordagens, apresentando diferentes casos, repercussões e visões a respeito
da delação contra Temer. Desde notícias de Entretenimento, à Economia ou
Política conseguiram desfragmentar o caso, apresentando os interesses de
seus respectivos públicos. Através de recursos como listas, pesquisas e, até
mesmo, as reações de famosos eles inseriram os memes nessas notícias
estabelecendo uma comunicação direta com seu público leitor.
Percebemos que a hipótese desse trabalho foi respondida ao
constatarmos que os blogs e sites do grupo UOL se utilizam dos memes para
ilustrar assuntos mais complexos e que os mesmos estabelecem uma
aproximação com a linguagem utilizada nos sites de redes sociais. Portanto,
acredito que a principal contribuição desta pesquisa esteja na constatação que
fizemos, a partir do nosso levantamento, de que os veículos noticiosos podem
utilizar os memes de diversas formas em suas pautas.

62
Os memes são uma forma prática e rápida de se comunicar com seus
leitores e de saber quais informações estão sendo mais consumidas e
comentadas. Mais do que estabelecer quais foram os comentários mais
engraçados relacionados à algum assunto, esses meios precisam entender
que os memes, enquanto conteúdo colaborativo, apresentam os debates e
questões que dizem respeito aos seus próprios consumidores.
Defendemos que essa “reação da internet” deve ser mostrada,
porém ela deve ser entendida como um processo mais complexo e com mais
camadas do que as abordadas atualmente. É preciso entender a importância
que os memes tem dentro do contexto social vivido pelos usuários que o
consomem e o quão grande é o seu poder explicativo quando pensamos na
inserção que assuntos políticos podem ter ao entrarem, nesse formato, em
sites de redes sociais.
No fim desse capítulo, deixamos então como proposta, esses e outros
pontos que podem se desmembrar a partir de uma análise semelhante à que
fizemos. A análise de uma notícia pode se desmembrar de diversas formas
aqui não testadas e, nos parece relevante apontar possíveis caminhos à serem
seguidos, tais como: posição do discurso, análise do contexto político
empregado no meme ou até mesmo se o mesmo apresenta caráter ofensivo.

63
REFERÊNCIAS

BARBOSA, S. et al.. Produção Horizontal e Narrativas Verticais: Novos


padrões para as narrativas jornalísticas. In: XXIII Encontro Anual da Compós .
2014. Universidade Federal do Pará, Belém.

BLACKMORE, S. The power of memes. In: Scientific American, 283(4), 2000.

CHAGAS, V. Uma alternativa para escapar à tabloidização ou uma forma de


tabloidização alternativa? O mercado brasileiro de jornais populares e a
economia política da imprensa escrita. Revista Brasileira de Ciência Política,
n.22., pp.7-48, jan-abr, 2017.

CHAGAS, Viktor, et al. "A política dos memes e os memes da política: proposta
metodológica de análise de conteúdo sobre memes dos debates nas Eleições
2014." Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n. 38, p. 173-196, jan./abr. 2017.

CERETTA, Fernanda Manzo. A discussão política por meio de Memes: O Caso


de Eduardo Cunha e a Apropriação Cômica das Redes. In: IX SIMPÓSIO
NACIONAL DA ABCIBER, 2016, São Paulo.

DAVISON, Patrick. The language of internet memes. In: MANDIBERG,


Michael. The social media reader, 2012.

DAVIES, C. Cartuns, Caricaturas e Piadas: roteiros e estereótipos. In:


LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A questão dos estereótipos
culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011. pp.93-124.

DAWKINS, R. The selfish gene. Londres: Oxford University Pres, 1976.

64
DELIGNE, A. De que maneira o riso pode ser considerado subversivo?. In:
LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A questão dos estereótipos
culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011. pp.29- 46.

GOMES, W. Por que a mídia é tão parcial e adversária da minha posição? A


hipótese da ‘hostile media perception’. Revista Compolítica, vol. 6(1), pp.7-29,
2016.

GOODWIN, R. A monovisão dos estereótipos no desenho de humor


contemporâneo. In: LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A
questão dos estereótipos culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011.
pp.535-555

JANOVITCH, P. E. Os jornalistas Macarrônicos da imprensa humorística


paulista. In: LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A questão dos
estereótipos culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011. pp.271-289.

KNOBEL, Michele; LANKSHEAR, Colin. Online memes affinities and cultural


production. In: _______ (org.) A new literacies sampler. Nova Iorque: Peter
Lang, 2007.

MARTINS, A. L. Desenho, letra e humor: Estereótipos na caricatura do


império. In: LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A questão dos
estereótipos culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011. pp.519-534.

MIELNICZUK, L. Webjornalismo de terceira geração: continuidades e rupturas


no jornalismo desenvolvido para a web. Anais do 27º Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 2004.

____. Características e implicações do jornalismo na Web. In: Congresso da


SOPCOM, II, 2001. Lisboa.

65
MILTNER, K. SRSLY phenomenal: an investigation into the appeal of LOLcats.
Londres: LSE, 2011. (Dissertação de Mestrado.)

NERY, L. Nostalgia e Novidade: Estratégias do humor gráfico em Raul


Pederneiras In: LUSTOSA, I. (Org). Imprensa, humor e caricatura: A questão
dos estereótipos culturais. Belo Horizonte/MG: Editora UFMG, 2011. p.225-249

PALÁCIOS, Marcos. Natura non facit saltum: Promessas, alcances e limites no


desenvolvimento do jornalismo on-line e da hiperficção. Revista Compós.
abr/2005.

SARDÁ, T et al.. A buzzfeedização do jornalismo: 5 coisas que você precisa


saber sobre o caso Zero Hora. Revista do Programa de Pós-graduação em
Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070.
Vol.9, n.2, dez/2015.

SHIFMAN, L. Memes in digital culture. Mit Press, 2013.

SHIFMAN, L. et al.. Internet Jokes: The Secret Agents of Globalization?. In:


Journal of Computer-Mediated Communication. vol,19, pp.727-743. 2014.

SOUZA, I.; ARAGÃO, R. M. Onde a Zoeira Encontra seu Limite: uma análise
do uso de memes no jornalismo do Estadão. In: INTERCOM. XVIII, 2016.
Faculdades Integradas Barros Melo - Aeso, Olinda, PE.

SPARKS, C. Popular Journalism: Theories and Practice. In: DAHLGREN, P.;


SPARKS, C. Journalism and Popular Culture Sparks. Londres: SAGE
Publications, 1992. pp.24-44.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as notícias são como são.


vol.1, 2ª edição, 2005. Editora Insular. Florianópolis.

66
TUCHMAN, Gaye. A objectividade como ritual estratégico: uma análise das
noções de objectividade dos jornalistas. Reedição de: American Journal of
Sociology, vol. 77, n. 2, 1972.

PARK, R. E.. A Cidade: Sugestões para a Investigação do comportamento


humano no meio urbano. In: VELHO, O (Org.). Fenômeno Urbano. RJ, 1967.
pp.25-66.

ZAGO, Gabriela. Circulação jornalística potencializada: o Twitter como


espaço para filtro e comentário de notícias por interagentes. C&S – São
Bernardo do Campo, v. 34, n.1, pp.249-271, jul-dez. 2012

67
APÊNDICE A – LIVRO DE CÓDIGOS - TEMER+MEME UOL

SITE:
Determina em qual portal do grupo UOL a notícia analisada foi encontrada.

01 - UOL: Essa categoria engloba todas as notícias divulgadas no site principal


da rede (http://www.uol.com.br).
02 - BOL
03 - FOLHA
04 - JORNAL DO COMÉRCIO
05 - BLOGS: Essa categoria engloba todos os blogs do grupo, considerando
as colunas de opinião.
06 - BAND
07 - JOVEM PAN
08 - PIAUÍ
0999 - OUTROS

TEMA:
Determina qual o tema principal da notícia. Em casos de classificações
ambíguas, demos prioridades as seleções feitas pelos próprios sites.

01 - NOTÍCIA
02 - ECONOMIA
03 - ENTRETENIMENTO
04 - POLÍTICA
05 - OPINIÃO
06 - ELEIÇÕES
0999 - OUTROS

68
EXPLICA O MEME:
Determina se dentro da notícia analisada o meme citado foi explicado por parte
do jornalista. Essa explicação procura citar formato, origem ou como se dá a
circulação do meme.
01 - SIM
02 - NÃO
03 - AMBÍGUO

ILUSTRA O MEME:
Determina se a notícia analisada utiliza recursos de vídeo, gif, prints ou
imagem para ilustrar o meme citado na matéria.
01 - SIM
02 - NÃO

MEME COMO TEMA PRINCIPAL:


Determina se a notícia trata o meme como tema principal de sua pauta.
01 - SIM
02 - NÃO

MEME COMO COMPLEMENTO:


Determina se o meme é empregado como recurso informacional complementar
ao assunto da pauta da notícia. Nesse caso, incluem-se as notícias com
galerias ao fim do estilo “Confira os principais memes do caso” OU quando o
meme é inserido como informação adicional também em listas.
01 - SIM
02 - NÃO

APENAS MENCIONA O MEME:


Determina se o meme é mencionado sem nenhuma explicação sobre seu
significado.
01 - SIM
02 - NÃO

FORMATO DO MEME:
69
Determina em qual formato o meme apresentado se enquadra dentro das
categorias de gênero e formato de memes baseada no livro de códigos
disponível em: www.museudememes.com.br/codebook.
01 - LOOK-ALIKE
02 - PHOTOBOMB
03 - CATCHPHRASE
04 - IMAGE MACRO
05- REACTION FACE
06 - SNOWCLONE
07 - TROLLING
08 - LISTA DE TWEETS
09 - HASHTAG
10 - PARÓDIA
0997 - INCONCLUSIVO
0998 - VÁRIOS
0999 - OUTROS

MEME DE CARÁTER OFENSIVO:


Determina se o meme ofende a alguém, seja o presidente Michel Temer, outros
políticos ou o povo brasileiro.
01 - SIM
02 - NÃO
03 - INCONCLUSIVO

MEME COM CARÁTER EXPLICATIVO:


Determina se o meme apresentado explica ou informa sobre alguma questão
governamental.
01 - SIM
02 - NÃO
03 - AMBÍGUO

PERSONAGENS POLÍTICOS:
Aponta qual personagem político, além de Michel Temer, é citado na notícia.
00 - APENAS MICHEL TEMER É CITADO
70
01 - AÉCIO NEVES
02 - DILMA
03 - LULA
0997 - OUTROS
0998 - VÁRIOS
0999 - NENHUM

71

Vous aimerez peut-être aussi