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Fevereiro de 2017
Resumo Executivo
• O Brasil possui a mais alta taxa de spread bancário do mundo. Em 2015, o spread médio
brasileiro foi de 31,3 p.p., enquanto o spread médio de países comparáveis* foi de 1,9 p.p. Ou
seja, o spread brasileiro foi 16,4 vezes maior
• A inadimplência, que é frequentemente apontada como a maior causa do spread, não explica
essa diferença.
o A Itália, por exemplo, possui inadimplência 3 vezes maior que o Brasil e spread 8 vezes
menor
o Mesmo se não considerarmos a Itália, a inadimplência brasileira foi 3,4 vezes maior do
que a dos países comparáveis, enquanto nosso spread foi 19,7 vezes maior
• Frequentemente argumenta-se que o crédito direcionado é responsável pelo elevado spread.
Isso não se justifica porque:
o Em 2016, a concessão do crédito direcionado respondeu por menos de 10% da
concessão total
o A taxa de spread do crédito direcionado responde por apenas 18% da taxa de spread
total
o Mesmo o spread do crédito direcionado brasileiro ainda é o segundo maior entre os países
comparáveis
2
* Países que calculam o spread com metodologia igual à brasileira: Itália, Japão, Nova Zelândia, Suécia, Chile e Malásia
Resumo Executivo
• Entre 2011 e 2016, o spread do crédito livre passou de 26,4 p.p. para 40,2 p.p., ou
seja, aumentou 13,8 p.p. ou 52%
• Segundo o Banco Central, o spread pode ser decomposto em cinco fatores:
inadimplência, margem líquida, custos administrativos, impostos e compulsório
• O aumento do spread entre 2011 e 2016 (52%) não se justifica pelo aumento dos
custos incorridos pelas instituições financeiras, já que:
• A inadimplência aumentou 30,2%, ou seja, menos do que o aumento do spread
(52%)
• O recolhimento obrigatório sobre depósitos (compulsório + exigibilidade
adicional) caiu
• Os impostos diretos tiveram aumento de alíquota de 33% (CSLL) e 20% (IR sobre
Juros de Capital Próprio), ambos menores do que o aumento do spread
• Os custos administrativos cresceram apenas 4,3% em termos reais
• A variação da margem líquida não pode ser mensurada, mas entre 2011 e 2015, o
único a setor da economia brasileira que registrou aumento no retorno sobre o 3
patrimônio líquido foi o setor financeiro
Resumo Executivo
• Em fevereiro de 2017, o Banco Central anunciou uma agenda para diminuição do spread,
estruturada em três pilares: adimplência e garantias; custos administrativos;
concorrência e subsídios cruzados
• Medidas microeconômicas como aperfeiçoar cadastro positivo e limitar o uso do rotativo do
cartão de crédito são positivas e devem ser colocadas em prática.
• É preciso que dessa vez os resultado apareçam, pois várias das medidas anunciadas
agora são similares às que já apareciam em 1999, em projeto anterior do Banco Central, e
que, quando implementadas tiveram efeito muito limitado sobre o spread.
• A revisão do crédito direcionado não pode ser a prioridade do Governo e do Banco
Central porque :
O crédito direcionado representou menos de 10% das concessões em 2016;
Responde por apenas 18% da taxa média de spread da economia;
Nunca teve seus “efeitos negativos” propriamente mensurados
• Antes de qualquer mudança no crédito direcionado é preciso que as medidas anunciadas
para aumento da adimplência e segurança jurídica produzam os efeitos desejados e
4
diminuam a taxa de spread total
1 Introdução
5
1 Introdução
6
Recentemente, o Banco Central lançou uma
agenda para redução de spread, com o objetivo de
reduzi-lo de maneira “estrutural e sustentável”.
7
Essa inciativa tem gerado repercussões na
imprensa
9
Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp
Nos últimos três anos, uma combinação de
redução nas concessões e aumento do spread,
criou uma grave crise de crédito no mercado
brasileiro.
Concessão de Crédito Livre Spread Médio –
(trilhões de R$ de dez/2016) Operações com Recursos Livres
Queda de 22% em 4 anos
Aumento de 64% em 4 anos
7,0 45
40,2
6,0 40
35 31,8
5,0 4,4 4,6 4,6 30
4,1 24,5 26,0
4,0 25 22,6
3,4
20
3,0
15
2,0 10
1,0 5
0
0,0 2012 2013 2014 2015 2016
2012 2013 2014 2015 2016
10
Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp
1 Introdução
11
O Brasil tem a mais alta taxa
de spread bancário do mundo
Em 2015, o spread brasileiro foi de 31,3 p.p., enquanto
o spread médio dos países comparáveis foi de 1,9 p.p.
Ou seja, o spread brasileiro foi 16,4 vezes maior.
2000 e 2015 20
15
Média: 1,9
10
6 países com metodologia igual 5 3,5
2,0 1,9 1,8 1,5
à brasileira no cálculo do spread: 0,7
0
Chile, Itália, Japão, Malásia, Nova Brasil Itália Nova Chile Suécia Malásia Japão
Zelândia, Suécia Zelândia
12
Fonte: FMI. Elaboração: Decomtec/Fiesp
A distância entre os spreads vinha
diminuindo, mas passou a crescer a partir
de 2014 e hoje é a maior da série
Spread Médio (2000 a 2015)
Brasil Países Selecionados
50,0
45,0
39,6
40,0
35,0 31,3
30,0
25,0
12,5 x
20,0 14,6 x
16,4 x
15,0
10,0 9,5 x
5,0 3,7
1,5
0,0 Fonte: FMI. 13
2000200120022003200420052006200720082009201020112012201320142015
Elaboração: Decomtec/Fiesp
A inadimplência, um dos fatores mais frequentemente citados
como justificativa para o spread muito alto, não está entre as
maiores.
50
Grécia, Itália, Bulgária,
40
Sem o crédito Romênia, Portugal,
Incluindo o crédito Hungria, Rússia,
direcionado, a
30 direcionado, a
inadimplência Espanha e Índia tem
inadimplência
brasileira fica em 55ª.
20 brasileira é ainda inadimplência maior
menor: 77ª posição. que a nossa
10
0
Bangladesh
Costa Rica
Senegal
Italy
Middle income
Mexico
Cyprus
Ukraine
Portugal
Macedonia, FYR
Mozambique
Malaysia
Cambodia
Belarus
Azerbaijan
Jordan
Peru
Austria
Australia
Croatia
Maldives
Nigeria
Latvia
Netherlands
United Kingdom
Macau
Greece
Djibouti
Vanuatu
Malta
Bhutan
Thailand
Philippines
Argentina
Iceland
Bulgaria
Ghana
Spain
Ecuador
Guinea
Canada
Kazakhstan
South Africa
Kuwait
Uzbekistan
Tonga
Gabon
India
Uganda
Qatar
Sweden
Romania
Pakistan
St. Vincent/Grenadines
Mauritius
Botswana
Turkey
Vietnam
El Salvador
Israel
Guatemala
United States
Switzerland
Solomon Islands
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Fonte: Banco Mundial e Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp
A Itália é um caso ilustrativo: tem inadimplência maior do
que a brasileira e spread muito menor
A Itália tem inadimplência três vezes maior e spread oito vezes menor do que o Brasil
Entre 2013 e 2015, a inadimplência italiana foi muito maior do que a brasileira. Ela girou ao redor
de 17,5 % da carteira, contra 4,7% no Brasil. Nosso spread, no entanto, foi mais de 8 vezes maior
que o da Itália
25% 25%
17,50%
- 8x
20%
+ 3x 20%
15% 15%
10% 10%
4,70% 3,50%
5% 5%
0% 0%
Brasil Itália Brasil Itália 15
A inadimplência não é capaz de justificar o diferencial do
entre o spread brasileiro e dos outros países
Mesmo sem considerar a Itália, a inadimplência brasileira em 2015 foi apenas 3,4 vezes
maior que nos demais países, enquanto o spread foi 19,7 vezes maior.
Inadimplência Spread
4,9 30,6
4,8
4,5
25,4
22,4
2,7 x 2,8 x 3,4 x 19,7 x
13 x
1,8 1,6 11,8 x
1,4
média Brasil - média Brasil - média Brasil - média Brasil - média Brasil - média Brasil -
recursos recursos recursos recursos recursos recursos
livres livres livres livres livres livres
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Frequentemente se afirma que o crédito direcionado
produz efeitos negativos sobre o spread, sem que isso
tenha disso quantificado.
• Apesar de o estoque de crédito direcionado ter chegado a praticamente 50% do estoque de crédito total, quando
se mede a concessão de crédito em 2016, o crédito direcionado respondeu por apenas 9,9% do total
• Além disso, em 2016, o spread do crédito livre respondeu por cerca de 82,0% da taxa total de spread e o
crédito direcionado, por apenas 18,0%
set/15
jan/16
set/16
fev/15
abr/15
nov/15
fev/16
abr/16
nov/16
jul/15
jul/16
mai/15
mai/16
mar/15
ago/15
mar/16
ago/16
out/15
out/16
jun/15
jun/16
dez/15
dez/16
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Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp
Frequentemente se afirma que o crédito direcionado
produz efeitos negativos sobre o spread, sem que isso
tenha disso quantificado.
• Apesar de o estoque de crédito direcionado ter chegado a praticamente 50% do estoque de crédito total, quando
se mede a concessão de crédito em 2016, o crédito direcionado respondeu por apenas 9,9% do total
• Além disso, em 2016, o spread do crédito livre respondeu por cerca de 82,0% da taxa total de spread e o
crédito direcionado, por apenas 18,0%
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jun/15
jun/16
dez/15
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Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp
O spread dos recursos direcionados no Brasil é o
segundo spread mais alto entre os países
comparáveis
0,00
Chile Brasil - Itália Nova Malásia Suécia Japão
Direcionado Zelândia 20
1 Introdução
21
Considerando apenas o spread livre, entre
março de 2011 (início da série) e dezembro de
2016, o aumento do spread foi de 52%
Taxa de Captação e Spread – Crédito Livre
Total Taxa Básica
Captação
60 Taxa
Spread Taxa Total
Captação
50 Mar/11 12,1 26,4 38,5
set/12
set/13
set/14
set/15
set/16
mar/11
jun/11
mar/12
jun/12
mar/13
jun/13
mar/14
jun/14
mar/15
jun/15
mar/16
jun/16
dez/11
dez/12
dez/13
dez/14
dez/15
dez/16
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Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp * Diferença entre a taxa de juros e o spread.
Segundo o Banco Central, o spread livre tem 5
componentes:
40 6 INADIMPLÊNCIA
Inadimplência (%)
Spread (p.p.)
5
35 COMPULSÓRIO
4
30
3 IMPOSTOS
25
2
20 1 CUSTOS ADM.
Spread: + 52,0%
15 0
MARGEM LÍQ.
jul/12
jul/11
jul/13
jul/14
jul/15
jul/16
nov/11
nov/12
nov/13
nov/14
nov/15
nov/16
mar/11
mar/12
mar/13
mar/14
mar/15
mar/16
Fonte: Banco Central. Elaboração: Decomtec/Fiesp 24
Mudanças no compulsório também não
justificam a variação no spread
O recolhimento obrigatório total* (compulsório) em proporção da
carteira de empréstimos como proporção da carteira de crédito caiu
Componente aumentou
Recolhimento Obrigatório como proporção da Carteira Total
de Empréstimos tanto quanto o spread?
25% 22,8%
INADIMPLÊNCIA
20%
10% IMPOSTOS
5%
CUSTOS ADM.
0%
mar/16
mar/11
nov/11
mar/12
nov/12
mar/13
nov/13
mar/14
nov/14
mar/15
nov/15
nov/16
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
jul/15
jul/16
MARGEM LÍQ.
Componente aumentou
Os impostos diretos pagos por instituições financeiras
tanto quanto o spread?
que tiveram alteração no período foram:
INADIMPLÊNCIA
• A CSLL (Contribuição sobre o Lucro Líquido) dos
bancos subiu de 15% para 20% em setembro de
COMPULSÓRIO
2015, ou seja, aumentou em 33%.
IMPOSTOS
• A alíquota de IR incidente nos Juros sobre o
Capital Próprio foi aumentada de 15% para 18%
CUSTOS ADM.
(aumento de 20%) ao final de setembro de 2015.
MARGEM LÍQ.
26
Os custos administrativos aumentaram em 4,3%
em termos reais, no período todo, também muito
menos do que os 52% de aumento do spread
Lembrete: aumento spread = 52%
-10,0%
2011 2012 2013 2014 2015
29
Fonte: Valor PRO e CEMEC. Resultados de 2016 das empresas fechadas que publicam balanço ainda não foram divulgados
Com exceção da margem, os componentes:
inadimplência, compulsório, impostos e outros
custos administrativos não justificariam o
aumento de 52% do spread observado entre 2011
e 2016. Aumento esse que fez com que o spread
brasileiro chegasse a 16,4 vezes o spread dos
países comparáveis
30
1 Introdução
31
Em fevereiro de 2017, o Banco Central lançou
uma agenda para redução de spread, que conta
com três blocos de medidas
Concorrência e Subsídios
Adimplência e garantias Custos administrativos
Cruzados
• Diferenciação de • Aprimorar
• Cartão de crédito
preços (permitir contratação de
mais eficiente e
desconto para operações por
barato (limitação do
pagamento em meios eletrônicos
rotativo, fim
dinheiro) • Simplificar regras do
exclusividade do
• Limitação do compulsório
credenciamento)
Rotativo • Aprimorar regulação
• Reavaliar impacto
• Aperfeiçoamento do sobre arranjos de
do crédito
cadastro positivo pagamentos
direcionado
• Duplicata eletrônica
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Como avaliamos a agenda do BC?
mar/01
dez/01
mar/04
dez/04
mar/07
dez/07
mar/10
dez/10
mar/13
dez/13
mar/16
dez/16
jun/00
set/02
jun/03
set/05
jun/06
set/08
jun/09
set/11
jun/12
set/14
jun/15
Modificação Lei de
Garantias 2005
Falências
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Fonte: Banco Central
* A quebra se deve a uma mudança de metodologia do cálculo pelo Banco Central
Ao escrever sobre a agenda do BC, José Paulo Kupfer em coluna para
o Estado de São Paulo, 14/02/2017 (“Velha Novidade”), destaca que:
“(...) se a história ensina alguma coisa, não custa ter cautela com
os resultados desse novo esforço”
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É preciso definir prioridades: mudança no crédito
direcionado não é uma delas. O efeito seria baixo
no spread médio da economia e desastroso para
o investimento produtivo no país
Não podemos correr o risco de ver o spread do crédito livre não cair (como no
passado) e eliminarmos fontes de crédito com taxas minimamente praticáveis.
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