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Todos os dias analiso artigos, livros, palestras e websites que tratam de gestão do
conhecimento. Pelo que entendi até agora, não há unanimidade nem convergência
entre os autores sobre o que ela é e como deve ser implementada na prática. As bases
teóricas sobre este tema estão no livro seminal de Peter Drucker “Sociedade pós-
capitalista” e a melhor explanação que conheço sobre o tema está no livro “Gestão do
conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo”, de
Rivadávia C. Drummond De Alvarenga Neto.
Penso que as empresas sempre fizeram a gestão do seu conhecimento, talvez de uma
maneira não tão sistematizada. Com certeza, grande parte desse alvoroço sobre o
tema é provocado pela indústria da gestão, como mais um modismo para vender mais
consultoria, cursos, livros e revistas especializadas. Isto fica evidente em “Uma
história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot (v, 1) e da enciclopédia à
Wikipedia (v. 2)”, de Peter Burke, e “A reinvenção do conhecimento: de Alexandria à
internet”, de Ian McNeely e Lisa Wolverton. A maior parte do que é abordado no
mercado não passa de uma forma diferente do que escreveram David Garvin em
“Aprendizagem em ação: um guia para transformar sua empresa em uma learning
organization” e Peter Senge em “A quinta disciplina: a arte e a prática da organização
que aprende”.
A exploração do capital intelectual como ativo organizacional foi pela primeira vez
realizada, na década de 1980, pela Skandia, a principal empresa seguradora da
Escandinávia, conforme relatado por Leif Edvinsson e Michael Malone em “Capital
intelectual: descobrindo o valor real de sua empresa pela identificação de seus valores
internos”, e Karl Sveiby em “A nova riqueza das organizações: gerenciando e
avaliando patrimônios de conhecimento”.
Para garantir que a gestão do conhecimento realmente aconteça, existem pelo menos
cinco grandes correntes de pensadores que tratam do tema. A primeira delas, a mais
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Uma terceira vertente desse tema é a dos profissionais da gestão, que centram seu
foco de aprendizado empresarial na análise e melhoria contínua dos processos para
garantir que a cada giro do ciclo do Plan-Do-Check-Learn (PDCL), aplicado em todos
os níveis e processos da organização, haja um momento de reflexão que serve para
análise dos fatos ocorridos e a proposição de melhorias. É isso que eles chamam de
“aprendizado” e que pode ser visto em “O verdadeiro poder: práticas de gestão que
conduzem a resultados revolucionários”, de Vicente Falconi. Outra boa explanação
sobre o aprendizado organizacional baseado em métodos de gestão está em
“Desmistificando o aprendizado organizacional: conhecendo a aplicando os conceitos
para alcançar a excelência e a competitividade”, de Eduardo Guaragna.
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Por fim vem a corrente mais aceita atualmente, a dos adeptos das learning
organizations, liderada por Peter Senge, Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi.
Segundo essa corrente, a gestão do conhecimento em uma organização deve basear-se
em disciplinas e metodologias que permitem a criação e o compartilhamento de
conhecimento para promover a aprendizagem em grupo. Quando um grupo de
pessoas dentro de uma empresa forma uma visão compartilhada, as pessoas se
identificam com esse grupo, sentindo-se estimuladas e unidas na busca de seus
ideais. Uma visão só é verdadeiramente compartilhada na medida em que ela se
relaciona com as visões pessoais dos membros do grupo. A aprendizagem em grupo
depende da interação autêntica entre as pessoas, que, de modo geral, é desestimulada
em nossa cultura. A própria educação, apesar de realizada em grupo, enfatiza o
desempenho individual e a competição. A técnica fundamental da aprendizagem em
grupo é o diálogo que, cultivado na Grécia antiga por filósofos como Sócrates e Platão,
acabou tendo sua forma original deturpada e esquecida em nossos tempos, sendo
agora restaurado graças, principalmente, à iniciativa do físico David Bohm, explicada
em “Diálogo: comunicação e redes de convivência”.
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Para melhorar minha gestão do conhecimento pessoal, de tudo que aprendi, o que
mais influenciou minha percepção do mundo dos negócios foi o conceito de “saber
profundo” proposto por Deming, o pai da Gestão pela Qualidade, apresentado em seu
extraordinário livro “A nova economia para a indústria, o governo e a educação”. O
sistema de “saber profundo” é assentado em quatro pilares do conhecimento: a
compreensão do conceito de variabilidade estatística; a criação e a prática de métodos
e procedimentos; o reconhecimento de que a teoria embasada em investigação
científica constrói o saber; e o uso de psicologia em todos os relacionamentos. A
compreensão do conceito de variabilidade estatística capacita gestores para
diferenciar causas de origem sistêmica daquelas de origem específicas quando
enfrentam problemas. A criação e a prática de métodos e procedimentos permitem
uma atuação sistêmica quando os problemas são sistêmicos e uma atuação especial
quando eles são especiais. A Teoria do Conhecimento embasada em investigação
científica constrói o saber mediante a revisão sistemática e a extrapolação conceitual
com base na comparação associada à observação. O uso de psicologia nos ajuda a
compreender as pessoas e a interação entre elas em cada circunstância, facilitando os
relacionamentos.
A palavra radical vem do latim radix, que significa “raiz”. Assim como só descobrimos
as raízes de uma árvore se cavoucarmos, somente se nos aprofundarmos poderemos
conhecer os fundamentos de qualquer assunto, podendo então discutir radicalmente
sobre ele. Isso sim é saber com profundidade! Logo, “Saber Profundo” tem a ver com
uma disciplina exaustiva de análise e reflexão sobre os assuntos que nos interessam
para resolvermos nossos problemas pessoais e empresariais com eficácia. Vai muito
além da empolgação com teorias e tecnologias aparentemente inovadoras, das
análises superficiais baseadas na intuição ou em dados levantados sem
sistematização, das opiniões emitidas pela cultura de verniz cada vez mais típica em
pessoas do mundo dos negócios. A propósito, sobre esse tema, não deixe de ler “Por
que as pessoas de negócios falam como idiotas: um guia de combate à embromação”,
de Brian Fugere e Chelsea Hardaway.
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competitivo sustentável.
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apontava para um músico e dizia: “- Esse é amador”. Ainda criança, eu não entendia
bem o significado daqueles comentários. Mas, com o passar dos anos, aquelas
palavras passaram a fazer sentido aos meus ouvidos. O músico amador é aquele que
“toca de ouvido”, tem um pouco de talento (isso é, usa só o bom senso), mas até meu
filhinho de sete anos aprendeu a tocar músicas “de ouvido” em seu piano de
brinquedo. Quando vou a um restaurante com música ao vivo, fico prestando atenção
ao desempenho do artista amador e imaginando se ele, com a migalha de couvert que
recebe, consegue sobreviver dignamente. De modo bem diferente sei que acontece
com o músico profissional, aquele que lê partituras, isto é, sabe o método. Com
certeza músicos profissionais ganham o suficiente para viver com segurança, conforto
e prazer, fugindo do amadorismo.
As lições que aprendi levam-me a crer que, hoje em dia, para ser um profissional de
sucesso em qualquer profissão, é preciso estar continuamente aprendendo. Para isso,
temos que substituir o ensinar pelo aprender. E compreender que o saber está em
toda parte e que depende fundamentalmente da criação de um clima de participação
e compartilhamento entre as pessoas. Essa socialização do conhecimento permitirá a
substituição da responsabilidade centrada no emprego, pois emprego se conecta com
o que se sabe, pela centrada na empregabilidade, que se conecta com o que se
aprende. Isso manterá nossas mentes e corações felizes e ocupados para a vida toda.
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