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andré singer

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OPINIÃO

São Bernardo, 1978-2018


Lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico, mas terá que se
reinventar

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7.abr.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA

No dia 12 de maio de 1978 começava a greve da Scania-Vabis em São


Bernardo do Campo. Era a primeira paralisação operária desde 1968 e o
sucesso dos trabalhadores do setor automobilístico mudaria a história
do país. A presença de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder sindical que
emergiu daquele movimento, por 24 horas no Sindicato dos
Metalúrgicos depois de decretada a sua prisão na última quinta (5),
fecha simbolicamente o longo ciclo iniciado então.

O lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico. Mas


terá que se reinventar para sobreviver sem a liberdade daquele em torno
do qual o movimento cresceu ao ponto de chegar à Presidência da
República. A despeito de quaisquer outras considerações, Lula
demonstrou, durante esses 40 anos, a inegável capacidade de aglutinar
o campo popular da política brasileira em torno de si.

70 77 Lula tem prisão decretada - Veja repercussão

O ex-presidente Lula acena para apoiadores no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, após
ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro /Avener Prado/Folhapress
A Operação Lava Jato, que alcança seu ápice com a ordem de
aprisionamento do ex-mandatário, conseguiu o efeito objetivo de afetar
o coração da alternativa popular.

O juiz Sergio Moro, mais uma vez mostrando que age olhando para a
política, apressou-se a executar a sentença antes que pudesse haver
algum recuo superior.

A profunda divisão do STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito,


demonstrada na votação do habeas corpus, indicava a instabilidade da
decisão anti-Lula tomada quarta (4).

Mas a Lava Jato, independentemente das intenções de cada um de seus


membros, é apenas a ponta de um iceberg.

Quando, na véspera da sessão do STF, o comandante Eduardo Villas


Bôas divulgou duas postagens no Twitter e em uma delas escreveu que
“o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos
de bem de repúdio à impunidade”, ficou claro que a prisão de Lula tinha
se tornado, para determinados setores da sociedade, um assunto de
“segurança nacional”.

As “intervenções pretorianas”, conforme as qualificou o ministro Celso


de Mello, aproximaram um pouco a situação atual daquela vivida depois
de 1964.

Trata-se, mais uma vez, de impedir, no tapetão, que haja verdadeira


alternância no poder. Uma disputa sem Lula candidato, e com
dificuldade para explicar ao seu eleitorado quem o representa, esvaziará
o pleito de outubro. A possível vitória de um candidato de “centro”, na
realidade do campo da classe média, nessas circunstâncias, terá a sua
legitimidade diminuída.

Por outro lado, a evolução dos acontecimentos poderá transformar a


condenação de Lula no principal assunto da própria eleição. Dependerá,
então, da capacidade dos dirigentes forjados neste ciclo, que
permanecem em liberdade, reconstruir o polo que representa os pobres.
Sobre o seu sucesso, o futuro dirá.

10 11 Como cada ministro votou no pedido de habeas corpus de Lula


CELSO DE MELLO - A FAVOR DE LULA: Para o ministro, a definição do princípio da
presunção de inocência pela Constituição é clara e garante o direito de qualquer pessoa a
recorrer em liberdade contra sentença judicial condenatóriaEvaristo Sá/AFP

André Singer
Cientista político e professor da USP, foi porta-voz e secretário de Imprensa
da Presidência no governo Lula.

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