Zilda Machado

Do traumatismo à fantasia e
de volta ao traumatismo*

O objetivo deste trabalho é articular algo a respeito do traumático para o ser falante,
cuja força de real compele o sujeito à fantasia, um dos recursos mais importantes
que surge como proteção diante do impossível encontro com o real traumático. Nosso
percurso vai do trauma à fantasia e ao final tentaremos cernir o percurso inverso,
aquele promovido pelo procedimento analítico, que leva o sujeito de volta ao
traumatismo.
> Palavras-chave: Traumatismo (trou-matisme, trop-matisme), fantasia,
travessia da fantasia, fim de análise

This article discusses the idea of what is “traumatic” for the speaking being. The force
of the real in a traumatic experience compels the subject to fantasize, this being one of
the most important resources at hand to serve as protection against the impossible
encounter with the traumatic real. Our argument here runs from trauma to fantasy,
ending with a treatment of the inverse path, that presented by psychoanalysis, which
leads the subject back to the trauma.
artigos > p. 42-48

> Key words: Traumatism (trou-matisme, trop-matisme), fantasy, traversing the fantasy,
end of analysis
pulsional > revista de psicanálise >

Em Freud podemos distinguir duas modalida- cesso de estímulo que rompe as barreiras do
des do trauma, que lemos com Lacan: uma li- psiquismo.
gada à estrutura mesma do falasser, o buraco O objetivo deste trabalho é, ao articular algo
ano XIX, n. 186, junho/2006

do simbólico, a falta de um significante no a respeito do traumático para o ser falante,

campo do Outro, e a outra, relacionada a um cernir as forças que compelem o sujeito à
acontecimento que aporta à mente um ex- fantasia. Neste percurso do trauma à fanta-

*> Trabalho apresentado no V Fórum Nacional da Associação Fóruns do Campo Lacaniano e III Encontro da
Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, São Paulo, 11 a 14 de novembro de 2004. Trauma e
fantasia de que se trata?

>42
sia buscaremos verificar o que Lacan apon-
ta no seminário XI: “... a fantasia nunca é
mais do que a tela que dissimula algo de ab-
solutamente primeiro, de determinante na
função da repetição” (Lacan, 1964, p. 61),
para ao final tentarmos verificar o percurso
inverso, aquele promovido pelo procedimen-
to analítico, que leva o sujeito de volta ao
traumatismo.
O ser falante é um traumatizado
A sexualidade é expressão máxima da pul-
são em uma articulação de linguagem, é,
portanto, o encontro das duas vertentes do
falasser: o Inconsciente, o que se articula
como uma linguagem, e o Isso, a parte do
inconsciente que está para além do que se
inscreve, um miolo que lateja relacionado à
vida pulsional, a que Lacan deu o nome de
Real, trata-se do campo do gozo, a parte
muda do ser falante.
O excesso despertado e experimentado nas
entranhas com a sexualidade força uma ins-
crição simbólica, pois o gozo só pode ser pen-
sado a partir da sua tradução em
significantes, aqueles que possam servir
para esta inscrição, numa tentativa de reco-
brir o inapreensível da experiência. Sabe-
mos que por estrutura palavra não há que
dê conta disso (de Isso), por este motivo,
Lacan vai do conceito de significante ao de
letra, à materialidade da linguagem, para
cernir tal inscrição. Mas Lacan (1977) nos diz:
“a linguagem é uma má ferramenta e é bem
por isso que não temos qualquer idéia do
Real” (p. 39), ou ainda, “O Real é dublado pelo
simbólico” (p. 6), mostrando que por isso,
todo discurso é da ordem do semblante.
Vem daí a primeira noção de trauma, que
nesta acepção aponta o insolúvel desencon-
tro com o sexo, com o corpo e com a lingua-
gem. É a testemunha do exílio do falasser da
natureza e da noção de instinto e é daí tam-
bém que vem seu desamparo, seu desconso-
lo. Expulso do paraíso e da natureza, tendo
de se arranjar com a insuficiência do simbó-
lico em circunscrever o real que o assola, o
ser falante é, por natureza, traumatizado.
“Não há relação sexual”, nos ensina Lacan.
Este é para todo ser falante o verdadeiro
trauma: não há complementariedade, não
há possibilidade de se recuperar o objeto
perdido. Portanto, não há recuperação de
gozo, aquele desfrutado no momento mítico
da experiência de satisfação.
A experiência de satisfação
Trata-se de um mito (Freud, 1950[1895], p.
430-3) construído por Freud para cernir o
nascimento do desejo indestrutível e o real
do gozo.
O infans, ao ser atormentado pela excitação
interna, por uma tensão de fome, de frio,
dentre outras, é sujigado pelo desprazer ex-
perimentado, o que o leva a, por meio de
uma descarga motora, debater-se e gritar.
Porém, ao ser acolhido pelo Outro pode, pela
pulsional > revista de psicanálise > artigos
intervenção deste, ao aplacar este mal-es-
tar, experimentar uma sensação de satisfa-
ção que ficará marcada indelevelmente na
estrutura como marcas mnêmicas, tanto da
satisfação experimentada como do objeto
que causou tal experiência.
ano XIX, n. 186, junho/2006
Num segundo tempo, quando surge nova-
mente a excitação, seguindo o latejar da
vida pulsional, haverá automaticamente um
reinvestimento dos traços mnêmicos da sa-
tisfação e estes, também de maneira auto-
mática, procurarão a imagem mnêmica do
objeto que causou tal experiência. Ali se ins-
>43
 creverá na estrutura o objeto como perdido,
jamais encontrável, aquele que causa o de-
sejo.
Está aqui constituído o desejo e também o
gozo, e apontado o nascedouro da compul-
são à repetição. O desejo como movimento
em direção a uma satisfação perdida que se
busca encontrar; o investimento que o tra-
ço mnêmico da excitação dirige à imagem
mnêmica do objeto, desiderium. O gozo, a
satisfação experimentada que marca para
sempre o sujeito, inaugurando a sua outra
dimensão: seu ser de gozo, a que Lacan re-
laciona o traço unário, denominado por ele
de “memorial de gozo”, aquele que comemo-
ra uma satisfação perdida e não reprodutí-
vel. E a compulsão à repetição como uma
tendência compulsiva a reencontrar esta
experiência, a resgatar o gozo experi-
mentado.
A repetição
Lacan (1964) articula no seminário 11 dois no-
mes da repetição: o “retorno” que tem a ver
com a insistência do simbólico, a memória,
Wiederkehr, a constituição mesma do cam-
po do inconsciente, o que se relaciona ao
artigos
automaton (cap. IV). E a “repetição” propria-
mente dita, o que tem a ver com o real que
“é o que vige sempre por trás do automaton”
pulsional > revista de psicanálise >
(ibid., p. 56), o que se articula à tichê, o en-
contro sempre faltoso do real.
Em seu seminário de 1991/1992 La répétition
ano XIX, n. 186, junho/2006
dans l’experience analytique, Colette Soler
elabora a repetição pelo viés do automaton,
a repetição pela via significante, tomando
a Carta Roubada, mas ligando este conceito
ao de Tichê, ao Wie d erh o l u ngzwang
de Freud, que entranha a pulsão de mor-
te, abrangendo um longo percurso na
>44
obra de Freud e no ensino de L a c a n.
A compulsão à repetição é associada à pul-
são de morte e visa restaurar um estado an-
terior. Trata-se, no entanto, de algo da
ordem da impossibilidade; como o objeto é
para sempre perdido, não se reproduz o gozo
ansiado e no próprio ato de repetir há per-
da de gozo, esta satisfação sempre faltosa,
que engendra o movimento mesmo da repe-
tição.
Há, portanto, a compulsão à repetição que
corresponde ao Inconsciente estruturado
como uma linguagem (automaton) e também
a que corresponde à via pulsional (tichê),
repetição engendrada pelo encontro sempre
faltoso com o real. No entanto, o que nos
mostra Colette Soler no seminário acima re-
ferido é que, ao final de seu ensino, Lacan
vai amalgamar estes dois conceitos que, já
no seminário XI ele intuía ao dizer: “o zwang”
– que tem a ver não com o automatismo,
mas com a pulsação, portanto, com a via
pulsional – “comanda as voltas mesmas do
processo primário” (Lacan, Op. cit., p. 57). As
elaborações de Lacan ao final de seu ensi-
no, aponta Colette Soler, levam-no a escla-
recer que “a repetição não é a carta forçada
do simbólico, a repetição... não é que o sim-
bólico force o sujeito, a repetição é que o
real comanda os desvios simbólicos que em
seguida vão determinar o sujeito” (Soler, Op.
cit., p. 62)
Portanto, trata-se aqui de verificarmos a
primazia do Real, “as substituições signifi-
cantes são orientadas, elas são finaliza-
das por uma exigência de satisfação”
(ibid., p. 28). Assim, o gozo é que determina
o sujeito enquanto ele força uma inscrição,
uma tradução em significantes que vão re-
presentar o sujeito, enredando-o numa ca-
deia de representação. Portanto, é o gozo
que também pressiona a repetição, e é o que
força o aparelho psíquico a elaborar recursos
que visam dissimular (Lacan, 1964, p. 61) e/
ou proteger o aparelho do impossível encon-
tro com o real.
O traumatismo
Há, portanto, na compulsão à repetição um
traumatismo que se refere a um encontro
faltoso com o real, a impossibilidade mesma
desse encontro, uma hiância que pulsa e for-
ça novo retorno, na esperança de encontrar
a satisfação ansiada cujo fundamento é jus-
tamente o objeto perdido, a falta. Parado-
xalmente, no malogro deste encontro se
repete o encontro faltoso com o real. O Ou-
tro não existe, não há resposta que ampare
o sujeito, não há palavra que diga o que é.
Trata-se aqui do que Lacan (1972) chamou o
“Trou-matisme” (p. 128). O buraco mesmo
que centra a estrutura, e que leva o sujeito
a construir a fantasia, um anteparo diante
do vazio, uma tela que dissimula o que não
se pode ver para não se cegar.
Mas há uma outra concepção do trauma. E
nesta outra acepção, sua lógica é distinta,
não se trata aí do encontro “faltoso” com o
real, há um encontro sim, um encontro pro-
priamente traumático, que apresenta um
excesso experimentado tanto de cunho se-
xual que leva o sujeito ao desamparo da lin-
guagem ao ter de inscrever o gozo
desfrutado, como ao encontro com a expe-
riência do Unheimliche (Freud, 1919, p. 273),
o estranho, o que surge no ponto onde era
esperada a falta do objeto.
Para entendermos o primeiro caso, tomemos
1> Trop em francês quer dizer “demais”, “excesso”.
o Rascunho K (1896, p. 307) onde Freud es-
creve a Fliess que a escolha da neurose tem
como fundamento uma experiência de mais
ou de menos de prazer. O que Freud apon-
ta ali é que o sujeito é seduzido, banhado li-
bidinalmente pelo Outro e que este
encontro é sempre traumático. Quer se ins-
creva com um “mais” ou um “menos” de sa-
tisfação, há um excesso que tenta se
inscrever e leva à construção do anteparo
da fantasia, precursora do sintoma, está,
portanto, no lugar de causa da neurose. Na
outra acepção, ali onde deveria estar a au-
sência do objeto, algo se apresenta e provo-
ca angústia, o estranho, algo da ordem do
horror, um acontecimento com a força de
uma tsunami onde se esperava a calmaria
de uma manhã na praia, um excesso. Trata-
se, nestes casos, da pura contingência, de
um acontecimento que fura o anteparo
construído pelo sujeito. Aqui está o que
Colette Soler chamou de trop-matisme 1
(Soler, 1991-1992, p. 61).
Do traumatismo à fantasia
Lacan (1980) assevera: “Não há outro trau-
ma do nascimento senão o de nascer como
pulsional > revista de psicanálise > artigos
desejado” (p. 61), apontando o destino ine-
xorável do sujeito: o ser falante nasce do
desejo do Outro e está aí o motivo de sua
angústia. Diante do buraco e da opacidade
deste desejo, sua existência de objeto se
desvela, pois, o que é o desejo do Outro se-
ano XIX, n. 186, junho/2006
não sua falta, que o sujeito é chamado a,
como objeto, tamponar?
A psicanálise nos mostra que não há relação
intersubjetiva, o que há é o sujeito em sua
relação com o objeto a, o que lhe falta e fal-
>45
 ta ao Outro, e se localiza no campo do Ou-
tro. Lacan (1972-73) aponta: “O parceiro desse
eu que é o sujeito, sujeito de qualquer frase
de pedido é, não o Outro, mas o que vem se
substituir a ele na forma da causa do dese-
jo” (p. 171), o objeto a.
É esta posição insuportável que o sujeito
vela com o quadro da fantasia. Porém, é jus-
tamente no encontro com o desejo do Ou-
tro que uma pergunta Que vuoi? pode abrir
o caminho de sua constituição enquanto su-
jeito desejante. Ao “o que queres?” a respos-
ta é a fantasia, anteparo para o traumático:
o inominável de sua condição de objeto.
Mas é esta também a única via de susten-
tação do desejo.
Precursora dos sintomas, a fantasia é o re-
curso do falasser que se estrutura do lado
neurótico para dar conta do corpo que lhe
futuca as entranhas e da inadequação da
linguagem em cifrar o gozo experimentado.
Recurso do sujeito, em um trabalho de sepa-
ração do campo do Outro, para forjar a arti-
culação destas duas vertentes em uma
construção lógica, que se lhe advém a par-
tir da ancoragem que ele encontra no obje-
to a.
pulsional > revista de psicanálise > artigos
Portanto, a fantasia é a encenação do amal-
gamento das duas dimensões do falasser: o
campo do inconsciente e o campo do gozo.
O seu encontro e desencontro como sujeito
evanescente – aquele representado pelos
significantes que o determinam – e o obje-
ano XIX, n. 186, junho/2006
to a, o ponto da falta estrutural que há en-
tre ele e o Outro e que marca seu ser de
gozo: S/ <> a. A fantasia dá o enquadre que
localiza o sujeito em conjunção/disjunção
com o objeto que causa o seu desejo, e que
aí está velado, recoberto.
Na última sessão do seminário “A lógica da
>46
fantasia”, Lacan (1966-67) articulando sobre
a função da fantasia diz:
Eu digo do modelo “Bate-se em uma criança”
que a fantasia não é senão um arranjo signifi-
cante que eu dei a fórmula há muito tempo,
ajuntando o pequeno a ao , o que quer dizer
que ela tem duas características, a presença do
objeto a, e, de outra parte, nada senão o que
engendra o sujeito como , a saber uma frase.
É por isso que “Bate-se em uma criança” é tí-
pico. “Bate-se em uma criança” não é nada se-
não a articulação significante “bate-se em
uma criança”, com aquilo que voa, que paira,
o impossível de eliminar, o olhar [ <> a è
bate-se em uma criança <> olhar]. (p. 373)
A fantasia faz suplência à não relação se-
xual, ao confronto do sujeito com o vazio
que o causa, o que dá a ele uma determina-
ção, uma ancoragem para a sua falta-a-ser,
e, ao mesmo tempo, mantém a consistência
do Outro, garantindo sua existência.
A fantasia e o final de análise
O neurótico é aquele que se apega ao trau-
mático para fazer consistir o Outro, por con-
siderar isso menos pior que o seu
desamparo diante da constatação da inexis-
tência do Outro. Lacan nos ensina que o fi-
nal de análise consiste em levar o sujeito à
travessia da fantasia, portanto, ao ponto
congruente com o S(A/), ou seja, ao desve-
lamento da falta do Outro, instante em que
o horror de saber se transmuta em desejo de
saber. Neste momento o sujeito pode se de-
parar com o que está por detrás da cortina
da fantasia, o traumático. Sabemos com
Freud que a única verdade é aquela que se
passou a vida toda velando, a verdade da
castração, só aí neste momento, ao final da
análise, é possível com ela consentir.
Entendemos então que o S/<>a só surge,
de fato, ao final da análise, quando a depu-
ração dos significantes levarem à constru-
ção de uma frase para além da ficção, para
além das memórias inventadas e o sujeito
puder se experimentar como objeto, como
puro nada, sem mais precisar tamponar
sua castração, podendo enxergar em que
teia se está enredado. Só aí ele poderá fa-
zer de seu desamparo uma aventura, uma
forma de se estar mais livre na vida. Já que
não há resposta no Outro, abre-se o campo
do risco, o tempo de se formular as próprias
respostas. Só aí o sujeito pode ascender ao
ponto último do grafo, à pulsão, porque aí,
num consentimento em ser tomado como
objeto para o gozo do Outro, a via pulsional
está finalmente aberta, quando então o su-
jeito puder consentir com sua própria cota
de gozo.
Há, pois, uma diferença fundamental entre
a posição do sujeito no tempo do trauma,
na fantasia e na travessia da fantasia. No
trauma, ele é tomado por algo que o ultra-
passa. Na fantasia, trata-se de um recurso
do sujeito, uma maneira de articular, de ve-
lar o insuportável, o traumático. Já a traves-
sia da fantasia é o tempo de se poder abrir
o véu.
Portanto, lá onde o traumatismo faz consis-
tir o Outro e leva o aparelho a, de maneira
lógica, engendrar o recurso da fantasia, a
travessia da fantasia implica a extração do
objeto a, fazendo com que o Outro perca sua
consistência. O que se desvelará ao sujeito
então é o real no coração do simbólico, o
buraco no saber, ao encontro do qual ele
pode escolher ir de maneira decidida final-
mente. Parece-me que desta vez, é o inver-
so. Escolher não é mais estar submetido,
como no traumatismo, mas ir ao encontro do
que é a estrutura para todo ser falante. Al-
guns param antes, outros sustentam esse
percurso até o fim.
Então, para além da história, da ficção in-
ventada, o que se constrói em uma análise,
em uma temporalidade lógica, é a causa
à qual se articulou o sujeito (S/<> a), lá
onde ele se ligou ao vazio da estrutura, ao
seu ser de gozo, e se experimentou aí. Tam-
bém me parece que “do traumatismo à fan-
tasia e à travessia da fantasia” é a
passagem da posição de ser gozado pelo Ou-
tro àquela de o próprio sujeito sustentar o
seu gozo e se responsabilizar por ele; mu-
dança de posição que a análise deve propor-
cionar a um sujeito que tenha ido até tão
longe.
Do traumatismo à fantasia é, portanto, um
trabalho lógico do sujeito, mas da fantasia
ao traumatismo é o ponto a que o leva a psi-
canálise, para aí sim, poder fazer algo de
novo, de diferente com o trauma, com o
Real.
Poderíamos então dizer que o trabalho de
análise, que se faz sobre a fantasia, é um
tratamento do traumatismo, permitindo ope-
pulsional > revista de psicanálise > artigos
rar a passagem do traumatismo da biografia,
inaugural, da contingência do vivido como
excesso, ao traumatismo da estrutura que é
a inexistência do Outro.
Ao final da análise talvez não reste mais
que algumas lembranças e seu ser de gozo.
ano XIX, n. 186, junho/2006
Porém, com uma bagagem mais leve, talvez
o sujeito possa dizer com o poeta: ”eu não
tenho caminho novo, o que eu tenho de
novo é o jeito de caminhar.” Ou, quem sabe,
aí, finalmente, estar livre para inventar no-
vos caminhos, traçados pelo pé, no exercí-
cio mesmo do caminhar.
>47
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Artigo recebido em janeiro de 2006
Aprovado para publicação em março de 2006