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Magalhães, Teresa (2010) “Abuso de Crianças e Jovens – Da suspeita ao diagnóstico”. Editora Lidel, Lisboa.

(pag.43 – 45).

INDICADORES PSICOLÓGICOS:

Abuso Sexual

O abuso sexual intrafamiliar rompe com todas as representações que a criança ou jovem
desenvolvem acerca do papel da família, muitas delas reforçadas pelo próprio abusador, que
através de rituais específicos (Furniss T., 1991) os incita a acreditar que abuso não compromete os
outros papéis que o abusador tem na família: ser “o pai”, “o avô”, “o primo”. Esta rotura de papéis
faz com que estas vitimas interpretem a situação abusiva como uma situação estranha, ambígua,
sendo-lhes difícil nomeá-la porque para ela não possuem uma “grelha” de interpretação definida
(Ribeiro C.,2009). O facto do abuso nem sempre envolver práticas violentas, mas sim
comportamentos de sedução, acentua a ambiguidade da situação e “confunde” a criança ou
jovem.

Uma outra característica do abuso sexual é o secretismo que envolve (Furniss T., 1991). A
ocultação é, aliás, uma das principais características do abuso sexual, o que levou Furniss (1991) a
referir-se à existência de uma “síndroma de segredo” que se desenvolve sobretudo nos casos de
abuso sexual continuado, no contexto intrafamiliar. Trata-se de um conjunto de processos
construídos pelo abusador que reforçam a manutenção do segredo e se desenvolve a partir de
factores externos e internos.

Desde logo, as consequências psicológicas e sociais podem existir mesmo na ausência de lesões,
não havendo propriamente uma correspondência directa entre o dano físico e a vivência
emocional do abuso. A maioria das vítimas de crimes sexuais sofre um impacto psicológico e
emocional negativo (Briere J., 1992).

Entre as diversas formas de reacção ao abuso sexual, englobam-se alterações profundas ao nível
emocional, caracterizadas pela emergência de angústia, medo (dirigido para situações específicas
ou generalizado), raiva, bem como manifestações de instabilidade afectiva e perturbações do
humor (Kendall – Tackett e col., 2001).

Constituem igualmente manifestações do impacto psicológico da vitimização (Finkelhor D., Browne


A., 1986; Kendall – Tackett e col.,2001), ou indicadores psicológicos de abuso sexual os seguintes:

 Ansiedade;
 Depressão (crises de choro imotivado);
 Baixa auto-estima;
 Crises de pânico;
 Sentimentos de desânimo e impotência;
 Sentimentos de insegurança e desconfiança relativamente aos adultos em geral (em virtude
do facto da vitima não se ter sentido protegida pelas pessoas que supostamente deveriam
garantir a sua segurança);
 Isolamento Social;
 Ambivalência afectiva (especialmente nos casos em que há uma proximidade afectiva entre
o abusador e a vitima, como, por exemplo, nos casos de abuso intrafamiliar);
 Desenvolvimento de uma “sexualização traumática” (procura excessiva, insistente e
inadequada de contacto físico de forma erotizada, masturbação compulsiva, insistência em
tocar nos genitais dos pares ou dos adultos ou, pelo contrário, rejeição ao toque,
evitamento da proximidade física);
 Alterações comportamentais (e.g. fugas repetidas de casa ou da escola e abuso de álcool
ou outras drogas);
 Mentira compulsiva;
 Redução do rendimento escolar;
 Comportamentos agressivos;
 Comportamentos de violência autodirigida (e.g. automutilação);
 Ideação e/ou tentativas de suicídio;
 Alterações de natureza psicossomática (e.g. anorexia, bulimia, infecções, tonturas, dores
musculares e abdominais, cefaleias, perturbações do sono);

De realçar, ainda, que a sintomatologia pode variar de acordo com um conjunto de variáveis
contextuais e não apenas com o acto de abuso propriamente dito.

Existe actualmente algum consenso na literatura da especialidade acerca dos factores que
podem acentuar o impacto traumático do abuso sexual:

 A relação de proximidade entre a vítima e o abusador: a proximidade afectiva,


antecedentes da relação e danos relacionais decorrentes da relação reforçam os
sentimentos de traição e autoculpabilização na vítima (Finkelhor D., Browne A., 1986;
Briere J., 1992);
 Tentativas de revelação mal sucedidas ( Furniss T., 1991)
 Forte adesão a crenças disfuncionais ou mitos relacionados com o abuso (e.g. o mito de
que a criança é responsável pela vitimização porque “seduziu o adulto”) (Hartman C.,
Burgess A., 1989);
 Ausência de figuras de vinculação alternativas e/ou ausência de suporte da rede
informal (Furniss T., 1991);
 Ausência de suporte das redes formais de apoio: as respostas institucionais
condicionam as reacções da criança ou jovem ao abuso ((Finkelhor D., Browne A.,
1986), particularmente em situações que envolvem alterações profundas no seio
familiar;
(…)

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