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2017
34
Governo Federal
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão
Ministro interino Dyogo Henrique de Oliveira
Presidente
Ernesto Lozardo
Assessora-chefe de Imprensa e
Comunicação
Regina Alvarez
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria
URL: http://www.ipea.gov.br
VISÃO GERAL DA CONJUNTURA
1
José Ronaldo de Castro Souza Júnior
2
Paulo Mansur Levy
3
Marco Antônio F. de H. Cavalcanti
SUMÁRIO
Sob as hipóteses de que não haverá grandes mudanças no ambiente externo, que a
situação política doméstica se estabilizará e que o país continuará avançando na
1
Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea. E-mail: <ronaldo.souza@ipea.gov.br>.
2
Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do
Ipea. E-mail: <paulo.levy@ipea.gov.br>.
3
Diretor adjunto da Dimac do Ipea. E-mail: <marco.cavalcanti@ipea.gov.br>.
Os sinais de reação têm sido mais fortes na agricultura e na indústria. No caso do setor
agropecuário, depois de registrar em 2016 seu pior desempenho na série histórica –
queda de 6,6%, as estimativas são de um forte crescimento da safra de grãos, da ordem
de 20% em relação a 2016. Embora o setor agropecuário, tomado isoladamente, tenha
peso relativamente pequeno no PIB – apenas 4,7% em 2016, ao se considerar a cadeia
produtiva e de comercialização como um todo, chega-se a estimativas de que o
agronegócio corresponderia a uma participação muito maior no PIB. Além do potencial
impacto direto e de seu efeito multiplicador, é preciso considerar também o efeito
indireto que uma oferta mais ampla de alimentos pode ter sobre a inflação, afetando o
poder de compra das famílias (já que itens ligados à alimentação são de mais difícil
substituição) e permitindo uma redução mais rápida da taxa de juros.
Pelo lado do consumo, os dados mais recentes já mostram alguma reação das vendas do
comércio varejista, com crescimento do volume de vendas dessazonalizado mensal de
1% e 2,1% em novembro e dezembro de 2016, respectivamente. No varejo ampliado,
que inclui automóveis e material de construção, e onde as vendas são mais sensíveis às
condições de crédito, as variações foram mais modestas: 0,2% e -0,1%,
respectivamente. Os resultados de janeiro deste ano indicaram pequena acomodação,
com as vendas recuando, na margem, 0,7% no varejo restrito e 0,2% no ampliado. Em
fevereiro, no entanto, os indicadores antecedentes do comércio revelaram um
crescimento significativo na comparação mensal dessazonalizada: +1,1% no índice de
vendas reais da Abras e +1,8% no indicador de atividade do comércio da Serasa. A
expectativa positiva para o desempenho do comércio varejista e do consumo, ainda que
apontando para um crescimento modesto a curto prazo, apoia-se na já mencionada
queda da inflação, especialmente dos alimentos; no aumento da confiança do
consumidor; na estabilização e posterior reversão das condições no mercado de
trabalho; e na recuperação do mercado de crédito, dado que famílias e empresas
parecem ter avançado bastante no processo de redução do elevado endividamento
acumulado nos últimos anos.
110
OTIMISTA
100
PESSIMISTA
90
80
60
nov/05
mar/06
jul/06
nov/06
mar/07
jul/07
nov/07
mar/08
jul/08
nov/08
mar/09
jul/09
nov/09
mar/10
jul/10
nov/10
mar/11
jul/11
nov/11
mar/12
jul/12
nov/12
mar/13
jul/13
nov/13
mar/14
jul/14
nov/14
mar/15
jul/15
nov/15
mar/16
jul/16
nov/16
mar/17
Fonte: IBRE-FGV.
Embora a renda das famílias, medida pela massa de rendimentos reais do trabalho, ainda
esteja caindo, devido à situação ainda ruim no mercado de trabalho, a velocidade da
queda vem se reduzindo rapidamente: na comparação interanual, a redução chegou a ser
de quase 5% no trimestre encerrado em maio de 2016, mas caiu gradualmente até
atingir -1,1% no trimestre encerrado em janeiro de 2017. Essa trajetória reflete
principalmente a recuperação do rendimento médio real, cuja variação interanual passou
de -4,2% em meados de 2016 para +0,4% no início de 2017. Tal melhoria, por seu
turno, reflete em boa medida a forte queda da inflação, cuja taxa anual passou de 9,3%
em maio de 2016 para 4,8% em fevereiro. Por outro lado, o nível de ocupação
permanece muito baixo: no trimestre encerrado em janeiro último, ele era 1,9% inferior
ao de um ano antes. O ritmo de queda, porém, vem se reduzindo, e no mercado formal,
captado pelo Caged, o mês de fevereiro registrou o primeiro ganho líquido de postos de
trabalho em quase dois anos.
-2
-4
-6
jul/16
set/16
jan/17
jul/15
set/15
jan/16
jul/14
set/14
jan/15
mar/16
jan/14
mar/15
mar/14
mai/16
nov/16
mai/15
nov/15
mai/14
nov/14
Fonte: PNADC-IBGE.
Essa queda dos juros tende a estimular o consumo de bens duráveis e o investimento.
Isso só não está ocorrendo ainda por conta do já mencionado sobre-endividamento das
famílias e porque a ociosidade do parque industrial ainda é muito elevada: em março, o
grau de ocupação da capacidade instalada no setor industrial era de 74,4%, apenas
pouco superior ao mínimo histórico de 72,9% registrado em dezembro de 2016. Há, no
entanto, expectativas favoráveis quanto à retomada dos investimentos nos setores de
infraestrutura. Nesse sentido, o governo vem avançando na reformulação do marco
regulatório, já tendo alterado as regras para exploração de petróleo no pré-sal e
concluído os leilões de concessão de quatro novos aeroportos. Espera-se também para
este ano a retomada de concessões nas áreas de portos e rodovias.
Os mercados parecem apostar que a reforma será aprovada sem muitas alterações. A
Bolsa de Valores de São Paulo acumula alta de 6,6% e o real valorizou-se 4,7% no ano.
Certamente as condições internacionais têm se revelado mais favoráveis, o que inclui
uma alta dos preços de commodities relevantes na pauta de exportações brasileiras, mas
parte importante deste movimento de valorização de ativos deve-se às expectativas
favoráveis quanto ao encaminhamento das questões estruturais. A aprovação da reforma
da Previdência permitirá avançar nas demais reformas, com destaque para a trabalhista e
a tributária, abrindo então espaço para uma aceleração mais forte do crescimento.
PROJEÇÕES
TABELA 2
Projeções: Variáveis macroeconômicas selecionadas (2017-2018)
Sob as hipóteses de que não haverá grandes mudanças no ambiente externo, que a
situação política doméstica se estabilizará e que o país continuará avançando na
estruturação de um arcabouço constitucional e infraconstitucional que dê suporte crível
a um novo regime fiscal, os fatores supracitados poderão continuar ativos ao longo de
2017 e 2018, contribuindo para uma retomada mais sólida da economia.
Neste contexto, seria razoável esperar que o Banco Central fosse capaz de trazer a taxa
Selic para 8,75% a.a. ao final de 2017 e mantê-la nesse nível durante 2018. A redução
nos juros permitiria o aumento dos gastos de investimento e consumo, levando o PIB a
apresentar taxas de crescimento crescentes a partir do segundo trimestre, fechando o ano
de 2017 com crescimento de 0,7% e 2018 com crescimento de 3,4%.
Cabe notar que a retomada do crescimento seria facilitada pela elevada capacidade
ociosa atualmente existente na economia, como demonstrado em Nota Técnica desta
Carta de Conjuntura n° 34, que implicaria a possibilidade de voltar a crescer em prazo
relativamente curto e sem fortes pressões inflacionárias. 4 O processo de desinflação em
curso continuaria ao longo de 2017 e a inflação poderia fechar o ano abaixo de 4%. Em
2018, à medida que a atividade acelerasse, permitindo a recomposição de margens pelas
empresas, e a contribuição do aumento da oferta de alimentos se dissipasse, a inflação
poderia voltar a subir levemente para níveis próximos da meta. Em sentido contrário, a
menor inércia impediria pressões inflacionárias mais significativas. Os ambientes
doméstico e externo favoráveis poderiam traduzir-se em uma taxa de câmbio
relativamente estável em termos nominais, mas cadente em termos reais.
4
SOUZA-JÚNIOR, J. R. C. Capacidade Produtiva Ociosa Atual e Projeção para o
Produto Potencial 2017-2018. Carta de Conjuntura do Ipea, v. 34, 2017.
GRÁFICO 3
Taxas médias anuais de crescimento: PIB efetivo x produto potencial x estoque de
capital
(Em % a.a.)
5
4,4
3,8 3,9
4
3,3
3
2,4 2,5
2,3 2,3
2 1,8 2,0
1,0
1
-0,4
-1
1994 a 1997 1998 a 2003 2004 a 2011 2012 a 2016
5
SOUZA-JÚNIOR, J. R. C. Capacidade Produtiva Ociosa Atual e Projeção para o
Produto Potencial 2017-2018. Carta de Conjuntura do Ipea, v. 34, 2017.