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Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420


24 e 25 de setembro de 2013

AS REGRAS NA ESCOLA: MANIFESTAÇÕES DE PODER E


OPRESSÃO NO COTIDIANO DE FUNCIONÁRIOS E ALUNOS
Michel Vinicius Cabral Pedroso Raquel de Souza Lobo Guzzo
Faculdade de Psicologia Avaliação e intervenção psicossocial: Prevenção,
Centro de Ciências da Vida comunidade e libertação
michel.vcp@puccampinas.edu.br Centro de Ciências da Vida
rguzzo@puc-campinas.edu.br

Resumo: Esta pesquisa sistematizou 50 questioná- ter o status quo, constam: a conquista, a divisão, a
rios de estudantes e funcionários de uma escola pú- manipulação e a invasão cultural. Diferente da teoria
blica de Campinas. O objetivo que norteou a pesqui- antidiálogica, há a teoria dialógica onde o eu se en-
sa foi verificar o processo de tomada de decisão na contra com o tu para transformar o mundo, proble-
constituição da autonomia do indivíduo. Como resul- matizando a ordem opressora. Porém problematizar,
tado a pesquisa constatou que metade dos alunos e como adverte o autor, é promover a critica sobre a
funcionários não se apropriaram das regras da esco- realidade problema. Nessa segunda teoria não há
la, dificultando na constituição autônoma dos alunos. pessoas objetos, mas pessoas sujeitos que buscam
Com relação as regras boas e ruins, foi constatado a conquistar o mundo, transformá-lo tendo como obje-
internalização de padrões e valores sociais e a im- tivo a libertação [1]. Nessa perspectiva Paulo Freire,
portância da colaboração dos participantes na cons- aponta que a educação é uma forma de intervir no
trução das regras. Na mudança das regras, foi cons- mundo, de reproduzir a ideologia dominante ou des-
tatado a inconclusão do ser como possibilidade de mascará-la. Ela não é somente reprodutora uma ou
mudança e a necessidade de se discutir as relações outra, mas sim se entrelaçam dialeticamente. Outra
de poder. Na aplicação de punições foi constatado a questão, é que uma educação neutra, sem posicio-
necessidade de refletir sobre os elementos empre- namento, não existe e nem existirá [2].
gados nela. E por fim, as sugestões revelaram a in-
conclusão do ser, e a esperança de transformação Desenvolvimento Infantil
do espaço educativo. Como papel, o psicólogo pode
contribuir na reflexão sobre os elementos opressivos Para se compreender o desenvolvimento infantil e
empregados na construção das regras; na importân- humano de forma geral, essa pesquisa contará com
cia da apropriação das regras por todos participan- as contribuições da teoria Histórico-Cultural iniciada
tes; e na reflexão sobre as relações de poder. nas obras de Vygotsky (1896-1934), que teve como
Palavras-chave: Poder, Regras na escola, Ensino base filosófica as ideias marxistas, e foi um pensador
Fundamental comprometido em ir às raízes de todos os problemas
(por isso ele é radical), e se manter fiel a um método
Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Psi- de estudos do psiquismo humano [3]. Além disso,
cologia – CNPq. Vygotsky desconsidera uma personalidade formada
aprioristicamente - anterior a uma existência concre-
1. INTRODUÇÃO ta dos humanos. Ele simplesmente nega uma essên-
cia humana [4]
Opressão e Escola
Papel do Psicólogo
A constatação da desumanização nas relações soci-
ais faz com que o Ser Humano indague sobre a pos- Martin-Baró defende a ideia de que antes de querer
sibilidade da sua humanização. A possibilidade da definir a nossa identidade profissional, é mais impor-
humanização e da desumanização só são possíveis tante conhecer a realidade histórica de nossos povos
para os seres inconclusos e conscientes disso. Ape- e as suas necessidades, e não simplesmente impor-
nas a ultima condição corresponde a vocação huma- tar as definições genéricas de outros lugares que
na, essa mesma negada na opressão e afirmada na acabam sendo inadequadas e não cobrem a especi-
luta dos oprimidos. Paulo Freire aponta a teoria anti- ficidade cultural e social. Nossa atenção deve-se
diálogica, sustentáculo da ordem opressora. Dentre voltar para esse contexto antes de definir o quefazer
os mecanismos utilizados por essa teoria para man-
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da profissão [5]. A exclusão na participação dos bens 1) Você conhece as regras da escola?
produzidos em nosso país e a não concretização do 2) O que você acha das regras da escola?
direito à educação formal são problemas que estão Quais você poderia identificar como boas?
acontecendo, e que o psicólogo logo se depara com 3) O que você acha das regras da escola?
ela. Essa realidade se torna preocupante na medida Quais você poderia identificar como ruins?
em que os profissionais vão adotando teorias acríti- 4) O que você mudaria nas regras da escola?
cas descontextualizadas de nossa realidade. É ne- 5) Você já passou por alguma punição aqui na
cessário que o psicólogo e os outros profissionais escola? Como foi? O que sentiu?
fiquem atentos com isso, e volte seu compromisso
para trabalhar pelas pessoas [6]. Para finalizar, Mar- Desenvolvimento Metodológico
tin-Baró aponta alguns caminhos como possibilida-
des da construção do papel do psicólogo. O profissi- Com relação aos resultados, o pesquisador organi-
onal deve estar voltado para os problemas novos zou em tabelas, tendo o número total de respostas e
que estão surgindo, abandonando esquemas teóri- o percentual. E as respostas foram organizadas por
cos inertes; é urgente que nós psicólogos assuma- categorias, sendo que as respostas semelhantes
mos as perspectivas da maioria da população, se foram enquadradas em uma categoria por analogia.
inserindo historicamente; decidir se vamos nos aco- A primeira tabela exprime as respostas dos estudan-
modar ao status quo ou vamos nos posicionar criti- tes e funcionários, e foi elaborada a partir da ques-
camente, se a sociedade que estamos criando impli- tão: “Você conhece as regras da escola?”. Esta é a
ca o bem-estar de alguns em detrimento de outros única tabela com percentual e com as respostas de
[5]. todos os estudantes e funcionários. As outras tabelas
foram construídas com as categorias que surgiram, e
Metodologia o número de apontamentos que cada categoria re-
cebeu. A segunda e terceira tabela foram compostas
O trabalho de pesquisa foi estruturado em duas fa- pelas respostas dos funcionários e estudantes, e
ses: a primeira pela sistematização de 50 questioná- deriva da questão “O que você acha das regras da
rios pertencentes ao acervo do grupo de pesquisa escola? Quais você poderia identificar como boas?”.
“Avaliação e intervenção psicossocial: Prevenção, Dessa questão surgiram categorias que expressam
comunidade e libertação” que foram elaborados e as regras boas da escola. A quarta tabela expressa
coletados por estagiárias do curso de psicologia da as regras consideradas ruins pelos alunos e deriva
Puc-Campinas; a segunda fase constará da realiza- da questão “O que você acha das regras da escola?
ção de um resumo de cada dimensão e uma discus- Quais você poderia identificar como ruins?”. Como
são relacionando os dados com sua importância para nenhum funcionário expressou nenhuma regra ruim,
o processo da formulação de regras na escola. Para não há tabela para eles. A quinta e a sexta tabela
preservar a identidade dos informantes, a pesquisa expressam as regras da escola que os alunos e fun-
em nenhum momento utilizará o nome, e sim um cionários mudariam. Essa tabela deriva das respos-
código (exemplo: Para alunos: A01 e para funcioná- tas da questão: “O que você mudaria nas regras da
rios F01). escola?”. A sétima e oitava diz respeito aos funcioná-
rios e alunos que sofreram alguma punição e o que
Características das pessoas que responderam o sentiram com isso. Na nona e décima tabela, são
questionário apresentadas as categorias referentes a motivação
Compuseram essa amostra 50 pessoas, sendo 38 da punição. Essa tabela surgiu a partir da questão
estudantes de uma escola pública de Campinas e 12 “Você já passou por alguma punição aqui na escola?
funcionários da mesma escola. Dos estudantes, 18 Como foi? O que sentiu?”. Na ultima tabela, a déci-
são do sexo feminino, e 20 são do sexo masculino; ma primeira, são apresentadas sugestões de mu-
dos funcionários, 9 são do sexo feminino, 1 do mas- dança dos alunos e funcionários. Esta tabela é com-
culino e 2 pessoas não informaram o sexo. posta de respostas das questões 2, 3, 4 e 5 e que
não foram categorizadas. Esta foi a única tabela on-
Questionário de as respostas não foram categorizadas, e sim
O questionário contém 5 questões abertas para a transcritas na integra.
pessoa responder. Cada questão foi respondida indi-
vidualmente. Segue as questões que compuseram o
instrumento: Resultados e Discussão
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A primeira tabela de resultados expressa o conheci- alunos responderam que há, e as suas respostas
mento que os alunos e funcionários têm acerca das foram categorizadas. Das categorias que surgiram,
regras da escola. Três categorias surgiram para as que chamam a atenção são: Respeitar o colega e
compor esta tabela e são as seguintes: Tem conhe- o professor; usar o uniforme; e poder se servir na
cimento; Conhecimento parcial; e Desconhecimento. hora da merenda.
Segue abaixo a tabela com todos os resultados e o A categoria “Respeitar os colegas e o professor” e
percentual geral: “Usar uniforme” podem ser compreendidas como a
Respostas % internalização de padrões de comportamento, como
Alunos Funcionários F
aponta Miranda (1985), e que a escola cumpre um
Tem conhecimen- 14 7 21 42 grande papel no processo de internalização das re-
to gras, comportamentos e valores sociais.
Conhecimento 20 5 25 50 Nesse processo é importante se atentar para o fato,
parcial como adverte Miranda (1985), de que a escola não é
Desconhecimento 4 0 4 8 neutra no seu fazer, e que trabalha como legitimado-
Total 38 12 50 100 ra do processo de dominação, e de que serve como
Tabela 1.0 – Conhecimento acerca das regras da escola reprodutora das classes sociais. Mas essa tarefa não
O número total de pessoas que desconhecem as é cumprida por inteiro, devido estar presente na es-
regras da escola é baixo. Com percentuais próximos, cola e no conteúdo a contradição básica entre domi-
as categorias “Tem conhecimento” e “Conhecimento nadores e dominados.
parcial” expressam boa parte das respostas. Se 50% A categoria “Poder se servir na hora da merenda”
dos estudantes conhece parcialmente as regras da pode ser compreendia como a posição do individuo
escola, eles não se apropriaram completamente das nas relações que o circundam. Se essa regra é per-
regras, e isso, como aponta Freire, pode ser enten- mitida e considerada como boa, ela pode ser enca-
dido como a prescrição de conteúdos de uma pessoa rada, segundo Freire, como relação sujeito-sujeito e
à outra. É necessário como apontado o autor, preen- não a forma de relação sujeito-objeto. O outro é res-
cher esta lacuna, para possibilitar a formação de um peitado em sua humanidade [1].
individuo autônomo [1]. Na terceira tabela são apresentadas as duas catego-
Em seguida a pesquisa obteve como resultado uma rias que representam as boas regras da escola,
tabela com categorias que exprime as regras boas apontadas pelos funcionários. Apenas 5 funcionários
da escola. A segunda tabela corresponde as catego- apontaram as regras boas, 1 não informou e 6 funci-
rias dos estudantes. Segue todas as categorias ex- onários se limitarem em responder “sim”.
traídas. Categorias Frequência
Não permitir a saída dos alunos da 3
Categoria Frequência sala de aula
Respeitar o colega e o professor 17 Manter a escola organizada e limpa 2
Não fazer bagunça 3 Tabela 3.0 – Categorias que expressam as regras boas
para os funcionários
Manter a escola organizada e limpa 2
Fazer as atividades escolares 2 Chama a atenção que três funcionários tenham
Não chegar atrasado à escola 1 apontado “Não permitir a saída dos alunos da sala
Não conversar durante as aulas 3 de aula”. Se há essas regras consideradas como
Chamar os pais 4 boas pelos funcionários, qualquer sucesso delas im-
Usar o uniforme escolar 4 plica necessariamente no diálogo para que elas te-
Ter sempre atividades para os alunos 1 nham legitimidade no processo educativo. Freire ad-
desenvolverem verte que de nada serve falar em democracia, porém
Poder brincar no intervalo 1 impor uma verdade. A existência de diálogo é essen-
cial em uma relação entre sujeitos [2].
Poder se servir na hora da merenda 1
Na teoria antidialógica desenvolvida por Freire, a
Ter atendimento preferencial a família 1
manipulação é apontada como um meio utilizado
que tem mais filhos na escola
pela classe opressora para manter a ordem [1]. Em
Tabela 2.0 – Categorias que expressam as regras boas
para os alunos ambas as categorias, se a manipulação for utilizada
para manter uma determinada situação, pode haver
Apenas 3 alunos responderam que não há regras comprometimento de uma formação autônoma.
boas na escola e 5 não informaram. Os outros 30
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Na quarta tabela são apresentadas as regras consi- A seguinte categoria: “Ser impedido de correr, brin-
deradas ruins pelos alunos. Apenas 9 alunos consi- car ou conversar na escola”. Mais uma vez a neces-
deraram que não há regras ruins e 1 não informou. sidade de diálogo e a existência de uma relação en-
Os outros 28 alunos apontaram as seguintes catego- tre sujeito vêm a tona. Freire fala sobre a ruptura
rias. com ética presente no desrespeito à criatividade do
aluno [2]. No caso, não permitir que o aluno brinca
Categoria Frequência ou corra no intervalo pode ser facilmente encarado
como ruptura com a dignidade do aluno.
Ser impedido de correr, brincar ou 2 No trato com as regras ruins é importante que haja
conversar na escola por parte dos adultos nesse espaço a colaboração
Ter respeito ao colega e ao professor 6 para melhorá-las etc. Freire aponta como recurso útil
Não poder assistir filme de terror 1 na organização e entendimento, a colaboração, co-
Não poder comer, mascar chiclete ou 2 mo meio que une as pessoas [1].
beber na sala de aula. Tanto com relação as regras ruins como as regras
Esperar todo mundo comer no horário 1 boas, é importante que haja colaboração dos partici-
da merenda para poder brincar pantes na construção das regras. Colaboração, co-
Reprovar de ano 1 mo aponta Freire, como forma de combater aspectos
Não poder sair para ir ao banheiro ou 1 opressivos que podem vir a constituir as regras [1].
beber água durante a aula A sexta tabela expressa as regras que os alunos
mudariam. 16 alunos expressaram que não mudari-
Não poder ir ao banheiro no intervalo 6
am as regras, e os outros 22 fizeram os seguintes
Ficar sempre prestando atenção na 1
apontamentos.
aula
Categoria Frequência
Sempre pedir permissão para sair da 1
Não ter a obrigatoriedade do uso do 1
aula
uniforme
Não há punição no descumprimento 3
Poder fazer bagunça 2
das regras
Poder comer, chupar pirulito ou beber 1
Fazer anotações sobre as nossas vi- 1
na sala de aula
das no caderno
Poder assistir filme de terror 1
Punir toda a turma por causa de um 2
aluno Não ser obrigado a respeitar o funcio- 1
Tabela 4.0 – Categorias que expressam as regras ruins nário
para os alunos Poder usar o banheiro quando sentir 5
vontade
O limite é muito importe na construção da autonomia
Poder usar celular, discman, ir de 1
do sujeito. Como defende Freire, o respeito a auto-
short
nomia de cada um é um imperativo ético. O profes-
Ter mais acesso aos computadores e 5
sor que foge da responsabilidade de colocar limites
a biblioteca
ao aluno ou que minimiza o aluno exigindo que ele
se coloque em seu lugar desrespeita os preceitos Poder participar da reunião de profes- 1
sores
éticos de nossa existência [2].
Mas ao verificar as categorias que surgiram nessa Os professores deveriam dar atenção 2
tabela logo nos deparamos com a categoria “Ter a todos os alunos
respeito ao colega e ao professor” como uma ex- Ter mais trabalho e menos provas 1
pressão de uma regra ruim. Claramente que os seis Não chamar os pais 1
estudantes que apontaram esta categoria deveriam Trancar a porta da sala de aula duran- 1
ser entrevistados para melhor compreender o porque te o intervalo
dessa categoria. Como possibilidade, pode-se pen- Tabela 5.0 – Categorias que expressam as regras que os
alunos mudariam
sar sobre a utilização de algum instrumento nesse
espaço para manter uma determinada situação. Ins- Essas regras, sugeridas pelas crianças, expressa
trumento esse que é apontado por Freire, como um segundo Freire o inacabamento do ser, a própria
meio de manter a opressão, seja a manipulação ou a vida enquanto inconclusão. Seres capazes de intervir
conquista, ambos conceitos que traduzem a tentativa na existência, valorando, decidindo e rompendo.
de um individuo tratar o outro como um objeto [1]. Existindo o ser humano pode melhorar ou piorar o
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mundo a sua volta. E a educação, como prática emi- menta sobre essa agressão que os próprios oprimi-
nentemente ética, nós traz essas questões [2]. dos infligem uns aos outros como sendo uma hori-
Mas como se podem ver as regras são citadas arbi- zontalização do poder, onde o oprimido hospeda o
trariamente pelas crianças, chegando a ser sugerido opressor, e por isso em suas relações acaba opri-
“Não ser obrigado a respeitar o funcionário”. Marino mindo os companheiros [1].
Filho ressalta a importância - na discussão sobre o Com relação aos funcionários apenas dois relataram
poder - das gerações mais velhas para se apropriar terem passado por punição, 1 não informou e 9 ne-
do conhecimento. E de que a apropriação possibilite garam. A categoria “Sentiu-se mal” aparece na tabe-
a aquisição do poder, para compreender as condi- la dos funcionários.
ções de produção da atividade, quanto para trans- Categoria Frequência
formá-las [8]. Não sentiu nada 1
A tabela que expressa as regras que os funcionários Sentiu-se mal 1
gostariam de mudar tem duas categorias. Apenas 4 Tabela 8.0 – Categorias que expressam como os funcioná-
funcionários responderam que não mudariam ne- rios sentiram as punições
nhuma regra e 2 funcionários não responderam. Na nona tabela são apresentadas as categorias que
Categoria Frequência expressam o que motivou a punição para os alunos.
Ser mais rígido no cumprimento das 3 Categoria Frequência
regras Briga e discussão com professora 1
Ser mais exigente com o horário de 1 Estourar bombinha 3
entrada e saída dos alunos Estava com celular 1
Tabela 6.0 – Categorias que expressam as regras que os
Levar a culpa do outro 4
funcionários mudariam
Sim. Porém, não informou 4
Essas regras, que segundo os funcionários, deveri- Tabela 9.0 – Categorias que expressam a motivação da
am mudar, podem ser compreendidas pelo seu teor punição para os alunos
como a expressão histórica do poder, como o contro-
Na décima tabela duas categorias expressam o mo-
le e submissão de alguns à vontade de outros. É um
tivo da punição para os funcionários.
poder em sua expressão que se revela por interes-
Categoria Frequência
ses particulares [8].
Não cumpriu as obrigações do serviço 1
Ambas as mudanças precisam ser bem orientadas.
O adulto nesse processo cumpre grande papel. Já. Dias do tomate 1
Tabela 10.0 – Categorias que expressam a motivação da
Lembrando que nesse espaço ele é importante na
punição para os funcionários
consolidação da zona de desenvolvimento real da
criança [7]. Fora do diálogo não é possível uma educação liber-
Outra dimensão extraída de uma questão foi referen- tadora. Nessa educação também não conta argu-
te aos alunos que sofreram punição. A tabela a se- mentos de autoridade, onde o que vale é o estar
guir reúne as categorias que expressam o que os sendo com as outras liberdades [1].
alunos sentiram da punição. Apenas 1 aluno não Por fim, foi possível extrair de algumas respostas
informou e 15 responderam que não passaram por sugestões de melhoria, que são apresentadas na
punição na escola. tabela a seguir.
Categoria Frequência
Medo 4 Sigla Resposta
Sentiu-se mal 8 F12 Quando o aluno faz algo de errado ou não
Aprendizagem 3 cumpre alguma regra não tem punição (ela
Não sentiu nada 2 não é adequada). Esse negócio de anotar no
Sentimento de injustiça 4 caderno não funciona. O trabalho de equipe
Aprendizagem 1 não esta andando. Uma vez que a equipe ta
Não sentiu nada 1 frágil, isto dá a oportunidade dos alunos se-
Tabela 7.0 – Categorias que expressam como os alunos rem as falhas.
sentiram as punições F12 Deveria ter uma atividade para os professores
Na tabela surgiu a categoria “Sentiu-se mal”, “Medo”, para recuperar a auto estima, porque eles tb
“Sentimento de injustiça”. Ambas categorias retra- estão perdidos. O foco é aprendizagem. O
tando aspectos ruins da punição. Paulo Freire co- menino que chingou o professor por exemplo,
não deveria ficar fora da aula (por que eles
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gostam disto) deveriam continuar na aula, fa- Com relação as regras boas e ruins, foi constatado o
zer um trabalho extra... alguma coisa. Acha processo de internalização dos padrões sociais, valo-
legal ter um incentivo (a classe mais organi- res etc. É imprescindível que as regras sejam cons-
zada, a mais limpa)... nãoé uma competição... truídas na colaboração dos participantes. Meios co-
é gostoso porque você sabe que tem um re- mo a manipulação precisam ser descartados, caso
sultado. as pessoas envolvidas no processo almejem a for-
A32 Colocar uma aula de computação, ou melhor, mação autônoma dos alunos. Nesse ponto o psicó-
duas por semana Sala de computação e bibli- logo poderia contribuir propondo uma reflexão sobre
oteca mais acessível. Jogar bola só na Ed. os meios utilizados para a construção das regras.
Física. Professores dar atenção para todos os Com relação a mudança das regras, ficou evidente a
alunos em sala. Tem que ter mais passeio. necessidade de se discutir sobre o poder de trans-
A30 Deveria dividir o recreio em duas turmas para formação que o processo implica. Além disso, ficou
não virar bagunça. Mais trabalhos e menos evidente a essência inconclusa do ser humano, e a
provas. A professora mais rígida com os ba- importância do adulto no processo educativo, como
gunceiros. Entrar as 8:00hs e a sair 12:20hs alguém que irá contribuir na consolidação de novos
Acho que deveria ter mais atividade na hora conhecimentos. O psicólogo se faz necessário nesse
do recreio (bola de Volley, poder correr, etc) ponto, orientando os participantes acerca da perso-
A31 Jogar bola só na educação física. Duas aulas nalidade humana, e propondo reflexões sobre as
por semana de computação. Ir na biblioteca relações de poder.
toda a semana (organizar as séries na biblio- Com relação as punições, é importante uma reflexão
teca). Sala de computação e biblioteca mais sobre a presença de elementos opressivos na apli-
acessível. Professores dar atenção para todos cação da mesma. Discutir sobre o papel de autorida-
os alunos da sala. Tem que ter passeios: “não de nos processos formativos. O psicólogo se faz ne-
é justo só porque a gente ta maior... a gente cessário como um profissional que irá refletir como
gosta de passeio tb”. as estruturas dominantes refletem nas relações soci-
A37 Quase tudo – deveria poder trazer celular, ais.
disc man, poder ir de short, a escola deveria É importante que uma escola que zele pela formação
oferecer bolas e materiais de lazer. autônoma dos indivíduos, não utilize de recursos de
Tabela 11.0 – Sugestões de funcionários e alunos uma educação que nega a autonomia. A reflexão
sobre aspectos que vão viabilizar a formação autô-
noma é um compromisso.
Em um processo educativo que zele pela formação
autônoma dos participantes, deve zelar pelo diálogo. Agradecimentos
Como Freire aponta, uma educação que vise a liber- À FAPIC/REITORIA PELA BOLSA.
tação dos oprimidos não pode utilizar os recursos da
educação bancária [1]. O debate sobre a visão de Referência
mundo do outro, é essencial para a formação de [1] Freire, P. (2011), Pedagogia do oprimido, 50 ed.,
pessoas. Para além disso, é essencial para a liberta- Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, RJ.
ção de um regime opressor. Essas sugestões apre- [2] Freire, P. (2011), Pedagogia da autonomia, 43
sentadas pelos alunos devem ser encaradas de for- ed., Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, RJ.
ma dialógica no processo educativo. Cada sugestão [3] Facci, M. G. D., et.al. (2004), A periodização do
é uma visão do espaço escolar, é uma posição. Para desenvolvimento psicológico individual na perspecti-
isso é fundamental que no processo de libertar-se va de Leontiev, Elkonin e Vigostski, Caderno Cedes,
esses apontamentos sejam respeitados e ouvidos no vol. 24, n. 62, p.64-81.
processo dialógico. [4] Vecchia, M. D. & Pasqualini, J. C. (S/D), et.al.
(2004), A psicologia marxista e “A transformação
Considerações Finais socialista do homem”. On-line
Parte dos resultados não foram utilizados. Com os [5] Martin-Baró, I. (1996). O Papel do psicólogo. Es-
resultados obtidos foi possível constatar que o de- tudos de Psicologia. 2(1), 7-27.
senvolvimento autônomo exige um conhecimento [6] Maluf, M. R. (2010) Psicologia Escolar: Novos
completo das regras. Nesse ponto o psicólogo pode- olhares e o desafio das práticas in Psicologia Escolar
riam contribuir orientando os alunos e funcionários – Ética e competências na formação e atuação pro-
na apropriação das regras. fissional. Campinas: Editora Alínea. 137-139p.
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[7] Vygotsky, L. V. (2003) A formação social da men-


te. Editora Martins Fontes, São Paulo, RJ.
[8] Marino Filho, A. (2010) A necessidade da educa-
ção do poder e do domínio para as relações sociais e
políticas, Revista Psicologia Política, Vol. 10, n. 20.

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