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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL E PROPEDÊUTICA

Prof. Msc Paulo Leão


2016.2

DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Roteiro de aula 03

APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL. COOPERAÇÃO JURÍDICA


INTERNACIONAL

 Aplicação da Lei Processual Penal:

Eficácia da Lei Processual Penal no Espaço:


O CPP vale em todo o território nacional (artigo 1 o, CPP - princípio da territorialidade
absoluta ou da lex fori no âmbito processual penal) – decorrência da soberania
nacional.

Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este


Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial;
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único - Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.

O inciso I contempla verdadeiras hipóteses excludentes da jurisdição criminal


brasileira, isto é, os crimes serão apreciados por tribunais estrangeiros segundo suas
próprias regras processuais, EXEMPLO: imunidades diplomáticas (Convenção de
Viena, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 103 de 1964).

Obs.: O Tribunal Penal Internacional (Estatuto de Roma), possui competência


subsidiária, apenas atuando no caso de inércia do país competente (regra geral),
não se enquadrando na hipótese de exclusão do inciso I.

A hipótese do inciso III refere-se à aplicação da legislação própria prevista no CPPM


(também a Justiça Eleitoral possui codificação própria para a apuração dos crimes
eleitorais – Lei 4.737/65).

O inciso IV faz menção ao antigo Tribunal de Segurança Nacional, previsto na Carta de


1937. Atualmente os crimes contra a segurança nacional (Lei 7.170/83), são afetos à
Justiça Federal (109, IV da CF), não mais sendo entendidos como segurança do Estado,
mas sim como segurança da nação, do povo.
O inciso V perdeu importância em razão da recente decisão do STF em ADPF, que
declarou como não recepcionada pela CF/88 a Lei de Imprensa.

Considera-se praticado no Brasil o crime cuja ação ou omissão tenha ocorrido em


território nacional, ou cujo resultado tenha sido produzido ou devesse ter sido produzido
no Brasil, nos termos do artigo 6o, CP (TEORIA DA UBIQUIDADE – garantia da aplicação
da soberania nacional).

O artigo 70 do CPP, que adota da TEORIA DO RESULTADO, é aplicado para fins de


definição de competência interna.

Nas exceções à sua aplicação previstas em lei especial, o CPP vale subsidiariamente.

A EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL não implica necessariamente a


extraterritorialidade da lei processual penal, sendo o sujeito processado no estrangeiro
(mesmo que se aplicando as regras de direito penal brasileiro) serão aplicadas sempre as
normas de direito processual do país estrangeiro.

A legislação processual brasileira também se aplica aos atos referentes às relações


jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devem ser praticados no Brasil: cartas
rogatórias, homologação de sentença estrangeira e procedimento de extradição.

Nesse ponto, é importante não esquecer do tema imunidades diplomáticas.

Obs.: imunidade diplomática - Convenções de Viena, de 1961 (relativa ao


agente diplomático) e de 1963 (concernente ao serviço consular), incorporadas ao
ordenamento positivo interno. A imunidade diplomática admite renúncia que, entretanto,
é de ser manifestada pelo Estado ou Organismo Internacional acreditante, e não pelo
diplomata ou cônsul. É de competência da Justiça brasileira decidir sobre a ocorrência
ou não da imunidade diplomática.
A imunidade do agente diplomático é absoluta, referindo-se a qualquer delito,
impedindo não só qualquer inquérito? ou processo, bem assim a prisão e a condução
coercitiva para prestar testemunho. Essa imunidade se estende aos membros do
pessoal administrativo e técnico da missão diplomática (exclui-se, portanto, o pessoal
não-oficial, como os secretários particulares, datilógrafos, mordomos e motoristas), assim
como aos membros de suas famílias que com eles vivam, desde que não sejam
nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residência permanente. A
imunidade absoluta abrange também o chefe de Estado estrangeiro ou Organismo
Internacional que visita o país e os membros de sua comitiva, bem assim os membros das
forças armadas estrangeiras que se encontrem no país em tempo de paz (art. 7º, Tratado
de Direito Internacional de Montevidéu, de 1940).
Importante ressaltar que os locais das missões diplomáticas já não são mais
considerados extensão de território estrangeiro, embora sejam invioláveis, não
podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Assim,
delitos cometidos nas representações diplomáticas, por pessoas que não gozam de
imunidade, submetem-se à jurisdição brasileira.
Os crimes dos agentes diplomáticos devem ser levados ao conhecimento dos
respectivos governos, únicos competentes para o respectivo processo e julgamento. Em
outras palavras: a imunidade não livra o agente da jurisdição de seu Estado patrial. De
outro lado, na hipótese de renúncia do Estado acreditante, o agente diplomático pode
então ser processado e julgado pela jurisdição nacional.
O cônsul não representa o Estado: suas funções são pertinentes às atividades
privadas, especialmente a mercantil, sem maior interesse político. Por isso, a imunidade
do cônsul é relativa tão-só à jurisdição das autoridades judiciárias e administrativas do
Estado receptor pelos atos realizados no exercício das funções consulares. A regra
se aplica tanto aos cônsules de carreira ou originários (cônsules missi), bem assim aos
cônsules honorários (cônsules electi), estes recrutados no país onde vão exercer o ofício,
já porque idêntico o regime jurídico de ambos. Essa definição da imunidade penal do
cônsul, que a torna inviável para ser estendida aos membros de sua família, permite
o inquérito, o processo e a prisão referentes a crimes não-relacionados com a
função consular.
Enfim, calha anotar que alguns países, como o Brasil, unificaram as duas
carreiras. Cada profissional da diplomacia, nesses países, transita concomitantemente
entre funções consulares e funções diplomáticas. A função exercida no momento é que
determina a pauta de privilégios no tocante à imunidade diplomática.

Eficácia da Lei Processual Penal no Tempo:


As normas de Direito Processual Penal estão submetidas às regras gerais de direito
intertemporal previstas na LINDB. EXEMPLO: vacatio legis.

Princípio da aplicação imediata da lei processual está previsto no artigo 2o, CPP, ou
seja, a lei processual penal será aplicada imediatamente. Com isso os atos anteriores são
plenamente eficazes, já que a lei nova processual tem eficácia ex nunc.

Os problemas que podem ocorrer estão relacionados com as normas processuais


materiais (leis que afetam diretamente o jus libertatis – ex.: fiança, regime de execução de
pena) casos em que os princípios aplicáveis são os da Lei Penal, principalmente, a
retroatividade da Lei Penal mais benéfica.

1. LEIS PROCESSUAIS COM REFLEXOS PENAIS: é a lei que afeta diretamente a


liberdade. EXEMPLOS lei que proíbe fiança ou lei que agrava o regime de
execução. O tratamento é de como se fosse uma lei penal, se benéfica retroage,
se maléfica não retroage. O texto legal não faz essa ressalva.

2. LEIS PROCESSUAIS MISTAS: são as leis que têm uma parte penal e outra
processual penal. EXEMPLO: artigo 366, CPP = suspende o processo é lei
processual, suspende a prescrição = é lei penal. STF: o artigo é irretroativo,
porque a parte penal é maléfica, assim, não pode retroagir. EUGÊNIO PACELLI
(posição majoritária inclusive no STF e no STJ): as leis de conteúdo misto
não podem ser separadas para fins de aplicação, do que resultaria, na
verdade, como que uma TERCEIRA legislação. LFG (posição minoritária):
discorda disso afirmando que pode haver a separação.

É aplicado o princípio do tempus regit actum:


 os atos processuais realizados sob a égide da lei anterior são considerados
válidos;
 as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar do
processo, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
LEIS PROCESSUAIS NO TEMPO – existem 03 sistemas para explicar a matéria:

1. SISTEMA DA UNIDADE PROCESSUAL: o processo é uma unidade processual,


um complexo de atos inseparáveis uns dos outros. Ao processo todo, deve ser
aplicada uma única lei. Assim, sobrevindo lei nova, ou essa ou a antiga devem ser
aplicada a todo o processo.
2. SISTEMA DAS FASES PROCESSUAIS: o processo é dividido em fases
autônomas (postulatória, probatória, decisória e recursal), cada uma
compreendendo um complexo de atos inseparáveis uns dos outros. Sobrevindo lei
nova, a fase em andamento seria regida pela lei anterior, a lei nova somente seria
aplicada às novas fases processuais.
3. SISTEMA DE ISOLAMENTO DE ATOS: considera que o processo é uma unidade
em vista do fim a que se propõe, observa que ele é um conjunto de atos, cada um
dos quais pode ser considerado isoladamente, para os efeitos de aplicação da lei
nova. A lei nova respeita a eficácia dos atos processuais já realizados e disciplina
o processo a partir da sua vigência. Foi o sistema adotado no Brasil. Vigorando
o princípio do tempus regit actum.

A questão da eficácia temporal pode ser analisada, ainda, sob o enfoque do estágio em
que se encontram os processos:

1. PROCESSO FINDO: encerrado sob a vigência da lei antiga, não sofrerá influência
da lei nova.
2. PROCESSO A SER INICIADO: será regido pela lei nova, mas, surgem algumas
questões quanto à ação e quanto à prova. Quanto à ação (pública, privada,
etc.), a tutela do direito far-se-á pela ação concedida pela lei do tempo em que a
ação for proposta. Quanto à prova, é preciso distinguir aquilo que é regulado
pelas leis substanciais daquilo que é regulado pelas leis processuais; as normas
processuais disciplinam a prova dos fatos em juízo, regulam a admissibilidade
das provas; as leis substanciais, ao estabelecer as condições de existência e
validade dos atos jurídicos, dão-lhe a forma de sua manifestação; as leis
processuais regerão os atos sob a sua vigência.
3. PROCESSO PENDENTE: válidos e eficazes são os atos realizados na vigência e
conformidade da lei antiga, aplicando-se imediatamente a lei nova aos atos
subseqüentes. Esta regra ampara até mesmo as leis de organização judiciária e
reguladoras de competência, as quais se aplicam de imediato aos processos
pendentes.

EUGÊNIO PACELLI: por atos já praticados deve-se entender também os respectivos


EFEITOS E/OU CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS. EXEMPLO: sentenciado o processo e
em curso o prazo recursal, a nova lei processual que alterar o aludido prazo NÃO SERÁ
aplicada respeitando-se OS EFEITOS PRECLUSIVOS da sentença tal como previstos à
época de sua prolação.

 Cooperação Internacional na Investigação de Crimes:

O sistema global de cooperação sustenta-se sobre três pilares: a) adoção de legislações


harmônicas; b) controle e transparência do mercado financeiro (Ex.: criação do COAF); c)
fortalecimento dos mecanismos de cooperação internacional.

Quando se concretiza a cooperação jurídica internacional? No momento em que o


aparato do Estado por não poder exercer a sua jurisdição, o seu poder de império, senão
dentro do seu território, recorre ao auxílio de outros Estados.

Onde ocorre: 1) Durante a investigação; 2) Início de um processo; 3) Desenvolvimento; 4)


Concepção de um processo criminal.

Momentos em que ocorrem os auxílios: 1) antes e durante o desenrolar do processo


penal; 2) no término do processo penal – existe a necessidade de reconhecimento da
eficácia internacional dos julgamentos repressivos; 3) cooperação na forma de extradição.

Espécies de cooperação tendo em conta os fins almejados:


 Colaboração no cumprimento de atos instrutórios e cautelares – necessários ao
início e ao desenvolvimento de um processo penal;
 Extradição – colaboração na localização, detenção e devolução de um acusado ou
culpado da prática de um delito.
 Colaboração na produção de feitos no território do Estado de uma sentença penal
condenatória havida em outro Estado – homologação de sentença estrangeira.

Evolução da cooperação judiciária penal internacional (fases):


 CORTESIA ENTRE OS PAÍSES – teoria da cortesia internacional. Em razão da
chamada justiça cosmopolita;
 OBRIGAÇÃO DOS ESTADOS PARTES EM UM TRATADO INTERNACIONAL – em
decorrência do instituto da reciprocidade;
 IMPERATIVO À GLOBALIZAÇÃO – forma de acesso à justiça. Dever do Estado de
buscar a ratificação de tratados internacionais que busque esta cooperação, o que
resulta em conseqüência jurídica que é a de que a interpretação de qualquer
instituto deve ser sempre pró cooperação.

Espécies de cooperação: a) homologação de sentença estrangeira; b) transferência de


presos; c) transferência de processos (art. 21 da Convenção de Palermo); d) carta
rogatória; e) cooperação jurídica direta.

 Convenção de Palermo - Convenção das Nações Unidas contra o Crime


Organizado Transnacional.

Obs.: Carta Rogatória – HC 87.759 – o MP italiano não pode solicitar o


cumprimento de carta rogatória no Brasil, por ser instrumento de cooperação
entre judiciários – sob o ponto de vista ampliativo, a decisão do STF está
equivocada, uma vez que o MP italiano integra a magistratura, tendo a
incumbência constitucional de instruir seus procedimentos.

O Brasil celebrou alguns acordos bilaterais com o objetivo de desburocratizar a


cooperação nas diligências investigatórias. O trâmite é mais célere porque não requer a
intervenção da via diplomática nem do Poder Judiciário (não se exige o exequatur do
STJ), afinal, não há ação penal ainda (criação de órgãos administrativos centrais em cada
país, os quais ficarão incumbidos de solicitar a realização das diligências diretamente ao
judiciário – é o trâmite judicial normal, realizado por provocação externa, mas pelo órgão
administrativo interno). Esses acordos têm esse objetivo (tornar mais rápida a tramitação
dos atos), não obstante isso, tem-se um julgado do STF contrário à tramitação sem
exequatur, o que fragiliza (para não dizer esvazia) a utilidade de tais atos de cooperação,
a saber:
Cooperação Penal Internacional – Atuação Direta e Carta Rogatória: Existente ou
não tratado de cooperação entre os países, os atos impugnados deveriam ser
precedidos de carta rogatória e do correspondente exequatur pelo STJ,
essenciais à validade do ato e à preservação da soberania nacional.

Críticas à posição do STF: há tratado, portanto não há que se falar em ausência de


previsão legal; a CF não prevê, mas também não proíbe e nem diz que a carta rogatória é
a única forma.

Obs.: MLA´S – Mutual Legal Assistance: podem ser trazidos por tratados
bilaterais, multilaterais ou apenas por compromisso de reciprocidade, não
havendo necessidade de exequatur.

Nos acordos pesquisados (EUA, França e Portugal) há a designação de uma


autoridade central em cada país que remete e recebe os pedidos de cooperação.
Esta autoridade geralmente é o Ministério da Justiça. Na ausência de tratado, os pedidos
são atendidos com base na reciprocidade. É o caso da Suíça. Uma vez admitidos os
poderes investigatórios do Ministério Público, como é de rigor, o procurador da república
pode requerer diretamente, sem intervenção da autoridade policial, nem do juiz, a
remessa de informações e documentos, bem como a oitiva de testemunhas em outros
países. Tal expediente é de grande valia na colheita de elementos para o oferecimento de
denúncia com relação aos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, e tem sido
empregado no caso Banestado (EUA) e nas relações com o parquet suíço.

De acordo com o site do Ministério da Justiça, existem acordos de cooperação


internacional entre o Brasil e: a) Colômbia – Dec. 3895/01; b) Coréia do Sul – Dec.
5721/06; c) EUA – Dec. 3810/01; d) França – Dec. 3324/99; e) Itália – Decs. 2649/98 e
862/93; f) Peru – Dec. 3988/01; g) Portugal – Dec. 1.320/94. O Acordo de Cooperação
entre os países do Mercosul foi aprovado pelo Congresso Nacional – Protocolo de
Assistência Jurídica Mútua em Assuntos Penais (Dec. 3468/2000).

Questão: Os indivíduos também poderiam se utilizar dos MLAT´s?


Argumentos contra: os acordos prevêem cooperação entre Estados, sendo
inviável estender a todos os cidadãos – qualquer interpretação constitucional deve
ensejar, sempre que possível, a manutenção da validade da norma, sob pena de
subverter o instituto; Argumentos favoráveis: a proibição de utilização pelos
investigados violaria o princípio da paridade de armas – Solução: caso o juiz
entenda como pertinente, deverá requerer a realização da diligência como prova
judicial necessária à busca da verdade e ao seu convencimento – assim,
conjugam-se o interesse público e a ampla defesa.

Principais Tratados:

Afora esse rápido panorama acima sobre os atos de cooperação, fiz uma
pesquisa e detectei que a doutrina, sobre o presente tópico, se resume a mencionar
alguns pontos do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, do Pacto de San
José da Costa e do Estatuto de Roma. Como os dispositivos desses tratados e
convenções tratam de temas já conhecidos, principalmente princípios de direito
processual, achei por bem cuidar de apenas transcrevê-los, na maior parte do tempo,
porque eles são auto-explicativos. Além disso, ao examiná-los, percebe-se que eles são
muito repetitivos, afora o Estatuto de Roma, que trata de tema mais específico, qual seja,
do Tribunal Penal Internacional.
ESTATUTO DE ROMA

Foi assinado pelo Brasil em 07/02/2000 e foi aprovado pelo Decreto Legislativo
112, de 06/06/2002. Foi ratificado em 20.06/2002. Foi promulgado pelo Decreto 4.388, de
25/09/2002. O que é mais importante saber é que este estatuto criou o Tribunal Penal
Internacional com jurisdição permanente, dotado de personalidade jurídica própria, com
sede em Haia. É a primeira instituição permanente de justiça penal internacional.
Segundo Valério Mazzouli (in Revista de Informação Legislativa n. 164 out./dez. 2004),
dentre outras coisas sua importância avulta, porque significa o fim dos Tribunais ad hoc, a
exemplo do que foi o Tribunal de Nuremberg.

A competência do Tribunal é meramente subsidiária (só exercerá sua


jurisdição quando as medidas internas dos países se mostrarem insuficientes ou
omissas no que respeita ao processo e ao julgamento dos acusados) e se destina ao
julgamento de crimes de extrema gravidade, aptos a afetarem a continuidade
internacional como um todo (o estatuto só prevê genocídio, crimes contra a humanidade,
crime de guerra e crime de agressão; todos imprescritíveis segundo o estatuto).

Ponto importante do Estatuto é o seu art. 102, alíneas a e b, quando distingue o


instituto da entrega e da extradição. Esse ponto tem sido objeto de debates no Brasil,
porque, em princípio, essa diferenciação (segundo alguns) não teria o condão de afastar a
aplicação do inc. LI, art. 5º, CF, ao dispor que, em nenhum caso, o brasileiro nato será
extraditado.

Artigo 89 - Entrega de Pessoas ao Tribunal - 1. O Tribunal poderá dirigir um


pedido de detenção e entrega de uma pessoa, instruído com os documentos
comprovativos referidos no artigo 91, a qualquer Estado em cujo território essa pessoa se
possa encontrar, e solicitar a cooperação desse Estado na detenção e entrega da pessoa
em causa. Os Estados Partes darão satisfação aos pedidos de detenção e de entrega em
conformidade com o presente Capítulo e com os procedimentos previstos nos respectivos
direitos internos.

Artigo 102 - Termos Usados - Para os fins do presente Estatuto: a) Por "entrega",
entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos do presente
Estatuto. b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro
Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno.

O art. 77, § 1º, b, do Estatuto, prevê que o Tribunal pode impor à pessoa
condenada por um dos crimes de sua competência a pena de prisão perpétua se o
elevado grau de ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado a justificarem. O
problema é um possível choque com o art. 5º, inc. XLVII, a, da CF, que proíbe as penas
de caráter perpétuo. A saída dada por Mazzuoli é a seguinte: “...a interpretação mais
correta a ser dada para o caso em comento é a de que a Constituição, quando prevê a
vedação de pena de caráter perpétuo, está direcionando o seu comando tão-somente
para o legislador interno brasileiro, não alcançando os legisladores internacionais ...”,
assim, ainda que o Brasil vede a pena de prisão perpétua internamente, isso não constitui
restrição para efeitos de extradição e de entrega.

Também, segundo Valério Mazzuoli, houve, no Estatuto, a consagração expressa


do princípio da responsabilidade penal internacional dos indivíduos, deixando de ter efeito
as eventuais imunidades e privilégios ou mesmo a posição ou a os cargos oficiais que os
mesmos porventura ostentem.
Enfim, um dispositivo que achei interessante transcrever foi o seguinte. Trata-se
princípio que não está expresso na nossa CF, a saber:

Artigo 20 - Ne bis in idem - 1. Salvo disposição contrária do presente Estatuto,


nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo Tribunal por atos constitutivos de crimes pelos
quais este já a tenha condenado ou absolvido. 2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por
outro tribunal por um crime mencionado no artigo 5°, relativamente ao qual já tenha sido
condenada ou absolvida pelo Tribunal.

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITO HUMANOS (PACTO DE SAN JOSÉ DA


COSTA RICA)

Aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de 25/09/1992, e promulgada pelo


Decreto 678, de 06/11/1992. Em tema de garantias processuais esse é o diploma que
mais tem normas tratando dos princípios processuais mais conhecidos. Por isso, apenas
transcreverei os dispositivos mais importantes da Convenção, que já se terá um bom
panorama do que interesse nesse ponto.

Art. 5o - Direito à integridade pessoal


1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou
degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o devido respeito à
dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua
condição de pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e
conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a
readaptação social dos condenados.

Art. 7o - Direito à liberdade pessoal


1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições
previamente fixadas pelas Constituições políticas dos estados-partes ou pelas leis de
acordo com elas promulgadas.
3. Ninguém pode ser submetido à detenção ou encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra autoridade permitida por lei a exercer funções judiciais e tem o
direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo
de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que
assegurem o seu comparecimento em juízo.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou
detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos estados-
partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua
liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida
sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O
recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.

Art. 8o - Garantias judiciais

1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência,
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa
tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso
não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um
defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu
defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo
Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender
ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o
comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz
sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada; e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a
novo processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os
interesses da justiça.

PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Aprovado pelo Decreto Legislativo 226, de 12.12.1991 e promulgado pelo Decreto


592, de 06/07/1992. Também aqui há mera repetição de vários princípios muito conhecido
entre nós, bem como de normas já expressas no Pacto de San José da Costa Rica.

Artigo 9º
§1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser
preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade,
salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela
estabelecidos.
§2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e
notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
§3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta
em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá
constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que
assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência e a todos os atos do
processo, se necessário for, para a execução da sentença.
§4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade, por prisão ou encarceramento,
terá o direito de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legalidade de seu
encarceramento e ordene a soltura, caso a prisão tenha sido ilegal.
§5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegal terá direito à reparação.

Artigo 10
§1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito
à dignidade inerente à pessoa humana.
a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com sua
condição de pessoas não condenadas.
b) As pessoas jovens processadas deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais
rápido possível.
§2. O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a
reforma e reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis deverão ser
separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição
jurídica.

Artigo 14
§1. Todas as pessoas são iguais perante os Tribunais e as Cortes de Justiça. Toda pessoa
terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias por um Tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer
acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da
totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, ordem pública ou de
segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida
privada das partes o exija, quer na medida em que isto seja estritamente necessário na
opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a
prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria
penal ou civil deverá tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija
procedimento oposto, ou o processo diga respeito a controvérsias matrimoniais ou à tutela
de menores.
§2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
§3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
a ser informada, sem demora, em uma língua que compreenda e de forma minuciosa, da
natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;
a dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a comunicar-se
com defensor de sua escolha;
a ser julgada sem dilações indevidas;
a estar presente no julgamento e a defender-se pessoalmente ou por intermédio de
defensor de sua escolha; a ser informada, caso não tenha defensor, do direito que lhe
assiste de tê-lo, e sempre que o interesse da justiça assim exija, a Ter um defensor
designado ex officio gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo;
a interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter comparecimento e
o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõem as de
acusação;
a ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a
língua empregada durante o julgamento;
a não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
§4. O processo aplicável aos jovens que não sejam maiores nos termos da legislação
penal levará em conta a idade dos mesmos e a importância de promover sua reintegração
social.
§5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da sentença
condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei.
§6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou
quando um indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que
provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena decorrente
dessa condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique
provado que se lhe pode imputar, total ou parcialmente, e não-revelação do fato
desconhecido em tempo útil.
§7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absolvido ou
condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e com os
procedimentos penais de cada país.

Carta Rogatória – Atos executórios e a nova jurisprudência do STJ:


As cartas rogatórias, para terem eficácia no Brasil, de acordo com a legislação comum em
vigor, devem passar por um juízo de delibação exercido pelo órgão competente brasileiro,
hoje STJ. Esse juízo consiste no controle dos requisitos exigidos pela lei e de sua
compatibilidade com a ordem pública e a soberania nacional.

Nas cartas rogatórias, assim como nas sentenças estrangeiras, o sistema adotado é o da
contenciosidade limitada, vale dizer, a defesa só poderá versar sobre a) a autenticidade
dos documentos; b) a inteligência da decisão; c) a inobservância dos requisitos da
resolução n. 09; d) e afronta à soberania nacional e à ordem pública.

A Lei 221/1894 proibia medidas executórias através de carta rogatória.

Os tribunais brasileiros competentes para realizar o controle judicial das epístolas em


comento, sempre manifestaram resistência à concessão de exequatur quando se tratava
de solicitações de caráter executório. Assim, a jurisprudência predominante do STF era no
sentido de denegação de todas as rogatórias de caráter executório, de forma a preservar
a ordem pública, pois sua concessão, implicaria na execução de ato que no Brasil
dependia de autorização judicial fundamentada (ex: impossibilidade de quebra de sigilo
bancário requerido em carta rogatória).

 As medidas executórias deviam ser encaminhadas via homologação de sentença


estrangeira.
 Medidas executórias são as que possam criar gravame ao patrimônio jurídico de
um cidadão dentro do território nacional. São medidas assecuratórias, dispostas no
CPP - arresto, sequestro e hipoteca legal.

Não obstante a questão não ser pacífica, inegável é o fato de que com a mudança da
competência para processar e julgar, originariamente, a concessão de exequatur às
cartas rogatórias, houve uma grande transformação no entendimento perfilhado. A
Resolução n° 9, que dispõe sobre os requisitos e os procedimentos para tramitação das
rogatórias, permitiu expressamente a concessão do “cumpra-se” em medidas de caráter
executório, estatuindo, em seu artigo 7°, que: “As cartas rogatórias podem ter por objeto
atos decisórios ou não decisórios”. Ressalte-se, que com tal disposição, os pedidos de
quebra de sigilo bancário e telefônico passaram a ser deferidos, sem prejuízo à análise da
ordem pública e aos demais requisitos.
Carta Rogatória nº 438: A soberania nacional ou a ordem pública não restaram
afetadas, porquanto a novel ordem de cooperação jurídica internacional,
encartada na Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional), prevê a possibilidade da concessão de
exequatur em medidas de caráter executório, em seus arts 12, partes 6 e 7; e 13,
parte 2.

Entendemos que o poder judiciário brasileiro deve evoluir conforme evoluem os meios
para se praticar o ilícito, de forma a equiparar forças com o ilegal. Tendo em vista o
crescimento do crime organizado internacional, mister que se afaste antigos preconceitos
infundados, e que se aplique da melhor forma todas as ferramentas necessárias, pois a
busca pela justiça nunca atentará contra a ordem pública. Pelo contrário, a justiça é um
direito constitucional dos cidadãos brasileiros.

Inobstante a transformação e adequação do Superior Tribunal de Justiça se encontrar em


estágio embrionário, podemos identificar algumas tendências positivas com relação à
cooperação jurídica internacional. Os juízes componentes têm demonstrado interesse em
aplicar o Direito Internacional Privado de uma forma consciente e compatível com a
moderna doutrina e jurisprudência internacional. A resolução nº 9 do STJ vem sendo
aproveitada na fundamentação das decisões. Apesar do número reduzido de decisões
fundamentadas em acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil,
constatou-se o impulso inicial no sentido de se acabar com a timidez na aplicação desse
valioso direito uniformizador, oriundo do consenso entre os mais variados países. Os
ministros do STJ têm realizado uma análise teleológica das leis que regulam a
cooperação jurídica internacional, priorizando o combate à criminalidade de toda sorte e a
celeridade e efetividade da justiça, utilizando a ordem pública como preventivo para
situações teratológicas, e não, como óbice ao funcionamento da justiça.

Espécies de Cooperação Judiciária Internacional:

Em decorrência da soberania dos Estados, há restrição na atuação jurisdicional, por isso


a necessidade de cooperação.

Fundamento para a cooperação – qual seria a fonte normativa para sua existência: alguns
entendem que a fonte seria um dever genérico do estado de cooperar para um bem
comum; outros entendem que o princípio geral de proibição de abuso de direito levaria a
esse dever de cooperação.

Níveis ou graus de cooperação:


 medidas de assistência legal leves e simples – medidas meramente instrutórias.
 medidas de assistência suscetíveis de causar gravames a bens ou pessoas. Ex.:
seqüestro, hipoteca legal, interdição ou entrega de bens.
 níveis de cooperação extremos – suscetíveis de causar gravame irreparável aos
direitos de liberdade. Ex.: extradição, afastamento do sigilo bancário ou do sigilo
fiscal.

Espécies de cooperação:
 Cooperação Ativa: posição do Estado Requerente – o país requerente é o Brasil.
 Cooperação Passiva: posição do Estado Requerido - cooperação judiciária
internacional dirigida ao nosso País, que atua como Estado requerido.
Meios de Cooperação Judiciária Internacional:
 Homologação de sentenças estrangeiras: forma de cooperação pela qual se
reconhece efetividade à decisão proferida pelo judiciário de outro estado.
 Cartas rogatórias: comporta vários atos, inclusive atos de natureza cautelar.
 Pedidos de Cooperação “Stricto Sensu” (também denominado de auxílio direto):
feito pela via diplomática - ministério das relações exteriores.
 Extradição: entrega de um pretenso criminoso.
 Transferência de Presos.

Extradição de fato ou de direito: A primeira é denominada de casos de abdução – o


Estado vai e seqüestra, é retirado a força. Caso Humberto Alvarez Machain. A extradição
é de direito quando pressupõe a existência de um procedimento jurídico. É a dita
extradição verdadeira. Extradição de fato — sem a necessária participação do Estado
requerido — ou, pura e simplesmente, um seqüestro, num ato de violação à soberania
territorial, transgredindo consagradas normas de direito internacional.

Vias de transmissão dessas formas de cooperação:


1. Via Diplomática: cooperação ocorre com a intermediação de um agente
diplomático. O órgão do estado requerente não se relaciona diretamente ao órgão
do estado requerido, existindo a intermediação do corpo diplomático de cada
estado.

2. Via Autoridade Central: o agente do órgão que está necessitando da cooperação


interage diretamente com um agente do estado requerido, sem a necessidade de
intermediação do corpo diplomático. Cooperação ocorre de forma direta entre
agentes envolvidos.

 Autoridade Central: órgão técnico-administrativo, via de regra localizado


institucionalmente junto ao poder executivo, cuja função é apenas o incremento do
fluxo de informação (celeridade), sem fazer qualquer juízo de valor.

 Autoridade Central x Juízo de Valor? MPF entende que à autoridade central não
cabe a realização de juízo de valor.

 No Brasil, via de regra, é o Ministério da Justiça.

Funções das Autoridades Centrais:


 Intervir como órgão de tramitação das rogatórias, substituindo a via diplomática;
 Informar o direito do país ao estado estrangeiro (informação não-vinculante).

Quais são as autoridades centrais: Em geral, MJ – DRCI (Departamento de Recuperação


de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) - extradição depto de estrangeiros – MJ -
Brasil-Portugal: PGR.

3. Via Contato Direto: nesse caso se reconhece eficácia das ordens da autoridade de
um país no território de um outro. Ex.: juiz dá uma ordem para a polícia de outro
país, como se um país só fosse.

 Ainda não houve evolução do direito internacional para o reconhecimento da via do


contato direto, mas já houve a tentativa de sua implementação quando se tentou
implementar o Estado europeu de justiça (autoridade de um país poderia expedir
determinações em relação às autoridades de outro).
Compartilhamento de material probatório: Corte Especial do STJ entendeu ser legal
pedido de compartilhamento de material probatório existente no Brasil, e feito por
autoridade estrangeira (Procuradoria Geral da Federação da Rússia), no exercício de
atividade investigatória sobre possíveis ilícitos penais praticados pelo reclamante naquele
país, dirigido à autoridade brasileira congênere (Procuradoria Geral da República) e não
sujeito à carta rogatória, exequatur ou a qualquer outra manifestação do STJ.

Não são inconstitucionais as clausulas dos tratados e convenções sobre


cooperação jurídica internacional (v.g.. art. 46 da Convenção de Mérida -
"Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção" e art. 18 da Convenção
de Palermo - "Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional") que estabelecem formas de cooperação entre autoridades
vinculadas ao Poder Executivo, encarregadas da prevenção ou da investigação
penal, no exercício das suas funções típicas. A norma constitucional do art.
105, I, i, não instituiu o monopólio universal do STJ de intermediar essas
relações. A competência ali estabelecida - de conceder exequatur a cartas
rogatórias -, diz respeito, exclusivamente, a relações entre os órgãos do Poder
Judiciário, não impedindo nem sendo incompatível com as outras formas de
cooperação jurídica previstas nas referidas fontes normativas internacionais.

Cartas Rogatórias:
Pedido formal de auxílio para a correta condução e instrução de um processo existente ou
futuro, feito pela autoridade judiciária de um Estado a outra. Admitida mesmo na fase de
investigação.

Ato de colaboração entre Poderes Judiciários dos Estados, em que um Poder Judiciário
solicita diligências ao outro, estrangeiro.

Podem ser ORDINATÓRIAS, INSTRUTÓRIAS ou EXECUTÓRIAS.

Podem ser ATIVAS ou PASSIVAS.

Procedimento:
 Pedido recebido no STJ:
 Vias existentes: Via diplomática;
Via autoridade central;
Diretamente pela parte.

 Atribuição da presidência: dá impulso - pode redistribuir se impugnada; decisão


monocrática da qual cabe agravo.

 Objeto: atos decisórios ou não decisórios (art. 7º, caput, resolução n. 9 – STJ).
Segundo o posicionamento adotado pelo STJ, não haveria uma cláusula geral
vedando a possibilidade de carta rogatória executiva, caberia à autoridade
judiciária competente apreciar, no caso concreto, quanto à concessão do
exequatur.

Atos geralmente veiculados por meio de cartas rogatórias:


 A realização de diligências, em fase de inquérito, instrução ou julgamento;
 Interrogatório do réu ou a inquirição de testemunhas, ausentes no estrangeiro;
 A realização de buscas ou apreensões (obs: discussão quanto a possibilidade de
carta rogatória com caráter executivo).
 A submissão de intervenientes a perícias, médicas ou outras;
 A convocação para determinados atos processuais;
 Notificação para comparecimento em julgamento;
 Notificação de despachos exarados pela autoridade judiciária competente.

Convenções Internacionais de Caráter Regional:


 CONVENÇÂO INTERAMERICANA SOBRE CR (CIDIP I)
1. Antes era regulamentado por dois grupos internacionais: os Tratados de
Montevidéu e o Código de Bustamante (aludiam a todas as diligências judiciais).
2. Há três requisitos básicos para a utilização dessa Convenção (art. 2º):
 Órgãos intervenientes sejam de caráter jurisdicional;
 A diligência requerida será de caráter processual em material civil e comercial;
 Esses atos sejam os expressamente estabelecidos como sujeitos à
cooperação.
3. Art. 3º: Proibiu os atos de execução coercitiva e limitou-a aos atos processuais
instrutórios.
4. Com sua entrada em vigor, derrogou-se parcialmente o Código de Bustamante.

MERCOSUL - PROTOCOLO DE LAS LEÑAS (o mais importante e o mais utilizado do


Bloco):
As cartas rogatórias tramitam por intermédio de Autoridades Centrais.
1. Estabelece distinção entre “atividades de simples trâmite e probatórias” e
“reconhecimento e execução de sentenças e laudos arbitrais”, embora determine
que as duas espécies de providências sejam atendidas mediante CR e sempre por
intermédio das autoridades centrais;
2. Diferencia atos que impliquem execução de decisão judicial e, portanto,
independam de homologação pelo órgão jurisdicional competente.
3. O STJ (CR 1709), continuou a seguir a orientação do STF, para que as CR que
contivessem sentenças estrangeiras obtivessem o exequatur.
4. A CR só poderá ser indeferida se a medida solicitada, por sua natureza, atentar
contra os princípios da ordem pública.
5. Prevê que os atos requeridos são praticados por impulso oficial e a sua gratuidade.

Tipos mais comuns de rogatórias executivas:


 Arresto;
 Penhora de bens;
 Quebra de sigilo bancário;
 Busca e apreensão de menores.

Não será concedido o EXEQUATUR à carta rogatória que ofenda a SOBERANIA ou a


ORDEM PÚBLICA (art. 6º, Resolução 9, STJ).

Possibilidade de dispensa de EXEQUATUR: atos que não ensejam JUÍZO DE


DELIBAÇÃO pelo STJ - cumprimento por auxílio direto / Art. 7º, parágrafo único, da
Resolução nº 9, STJ:

Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por objeto atos


que não ensejem juízo de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda
que denominados como CARTA ROGATÓRIA, serão encaminhados ou
devolvidos ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao
cumprimento por AUXÍLIO DIRETO.

 Constitucionalidade do dispositivo: olhar polêmica jurisprudencial sobre a


constitucionalidade do dispositivo. Discussão quanto à possibilidade de dispensa
do procedimento previsto para as cartas rogatórias.

Carta rogatória e convenções internacionais - o Brasil possui regulamentação


internacional sobre a matéria, de caráter multi ou bilateral:
 Multilateral: Convenção Interamericana e seu protocolo sobre cartas rogatórias.
Iniciativas do Mercosul: protocolo de cooperação jurídica internacional, Las Lenas e
protocolo de medidas cautelares. No âmbito penal, protocolo de cooperação
jurídica penal.
 Bilateral (ex: com a Itália, Portugal, França).

Cumprimento da ordem contida na carta rogatória: concedido o exequatur, a carta


rogatória será encaminhada ao órgão do Poder Judiciário (no caso brasileiro, um dos
juízos federais do país) para que se cumpra a diligência pedida (ex.: oitiva de uma
testemunha). A cooperação tem fundamento constitucional (art. 4º, CF). Deve ser uma
cooperação restrita pelo estado de direito, se violar a ordem pública brasileira, não deverá
ser aceita.
 Já se negou oitiva direta pela autoridade estrangeira. É direito de ser ouvida com a
presença de autoridade nacional (a autoridade estrangeira pode participar da oitiva,
mas quem presidirá o ato é a autoridade brasileira).

 CR 410: concessão de CR em que o pedido de informações bancárias não foi


considerado como sendo quebra de sigilo porque requerido pela própria autora da
ação (10.11.2005) – “O objeto desta carta rogatória não atenta contra a soberania
nacional ou a ordem pública. Assim, atendidos os pressupostos necessários,
concedo o exequatur”.

 CR 534: indeferimento de CR requisitando a quebra de sigilo bancário (20.04.05) -


Entendimento no mesmo sentido do STF – violação da ordem pública –
“Reiterados precedentes do Supremo Tribunal Federal orientam-se pela
impossibilidade de quebra do sigilo bancário requerida em carta rogatória, ao
argumento de que, para se autorizar tal medida excepcional, é necessário
autorização judicial fundamentada ou existência de indícios suficientes da prática
de delito, o que não ocorre no caso dos autos. Com efeito, o objeto desta carta
rogatória atenta contra a ordem pública”.

 CR 998: concessão de CR para quebra do sigilo bancário. Fundamento: Tratado


sobre Cooperação Judiciária em Matéria Penal. “A solicitação está albergada no
tratado sobre cooperação judiciária em matéria penal entre o Brasil e a Itália,
promulgado pelo Decreto nº 862/93. Assim, o objeto desta carta rogatória não
atenta contra a soberania nacional ou a ordem pública. Observa-se, portanto,
conforme ressaltado pelo MPF, que o pedido abarca assistência de segundo grau,
ou de segundo nível, para o fim de transmissão de informações contratuais,
contábeis e de movimentações bancárias".

STJ, CR 998:
Para ser exeqüível no Brasil, a quebra de sigilo bancário deve resultar de decisão judicial
emanada de órgão jurisdicional brasileiro ou de sentença estrangeira homologada pelo
Brasil.
AGRAVO REGIMENTAL. CARTA ROGATÓRIA. COOPERAÇÃO JURÍDICA. BRASIL.
ITÁLIA. DILIGÊNCIAS. VÍCIOS FORMAIS. INEXISTENTES. QUEBRA SIGILO
BANCÁRIO. SOBERANIA. ORDEM PÚBLICA. PARCIAL PROVIMENTO.
- No Direito italiano a Magistratura e o Ministério Público convivem em uma só estrutura
administrativa.
- A Procuradoria da República junto ao Tribunal de Parma tem legitimidade para solicitar
cooperação brasileira em investigações.
- O Ministério Público Italiano não tem competência para determinar a quebra de sigilo
bancário ou seqüestro de valores, tanto na Itália, como no Brasil: tal atribuição é privativa
de juiz.
- O seqüestro de valores depositados em contas correntes no Brasil depende de
sentença, previamente homologada pela Justiça brasileira, que o decrete.

Jurisprudência sobre a possibilidade de dispensa do procedimento da CR:


 Constitucionalidade do art. 7º, parágrafo único, Resolução 9 do STJ: discussão
quanto à possibilidade de realização - CR 3.124-IT afirma que o auxílio direto não é
possível, sendo necessária a carta rogatória. Decisão recente do STF afirmando a
constitucionalidade do auxílio direto – Informativo 574, HC 102041.

Limites Internacionais da Jurisdição dos Estados Nacionais - Pretendida Ordem


Mandamental a Ser Dirigida a Missão Diplomática Estrangeira – Inviabilidade
HC 102041-MC/SP
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
A decisão impugnada proveniente do STJ possui o seguinte teor: “As relações entre
Estados soberanos que têm por objeto a execução de sentenças e de cartas rogatórias
representam uma classe peculiar de relações internacionais, que se estabelecem em
razão da atividade dos respectivos órgãos judiciários e decorrem do princípio da
territorialidade da jurisdição, inerente ao princípio da soberania, segundo o qual a
autoridade dos juízes (e, portanto, das suas decisões) não pode extrapolar os limites
territoriais do seu próprio País. Ao atribuir ao STJ a competência para a ‘concessão de
‘exequatur’ às cartas rogatórias’ (art. 105, I, ‘i’), a Constituição está se referindo,
especificamente, ao juízo de delibação consistente em aprovar ou não o pedido feito por
autoridade judiciária estrangeira para cumprimento, em nosso país, de diligência
processual requisitada por decisão do juiz rogante. Preocupados com o fenômeno da
criminalidade organizada e transnacional, a comunidade das Nações e os Organismos
Internacionais aprovaram e estão executando, nos últimos anos, medidas de cooperação
mútua para a prevenção, a investigação e a punição efetiva de delitos dessa espécie, o
que tem como pressuposto essencial e básico um sistema eficiente de comunicação, de
troca de informações, de compartilhamento de provas e de tomada de decisões e de
execução de medidas preventivas, investigatórias, instrutórias ou acautelatórias, de
natureza extrajudicial. O sistema de cooperação, estabelecido em acordos internacionais
bilaterais e plurilaterais, não exclui, evidentemente, as relações que se estabelecem entre
os órgãos judiciários, pelo regime das cartas precatórias, em processos já submetidos à
esfera jurisdicional. Mas, além delas, engloba outras muitas providências, afetas, no
âmbito interno de cada Estado, não ao Poder Judiciário, mas a autoridades policiais ou do
Ministério Público, vinculadas ao Poder Executivo.
As providências de cooperação dessa natureza, dirigidas à autoridade central do Estado
requerido (que, no Brasil, é o Ministério da Justiça), serão atendidas pelas autoridades
nacionais com observância dos mesmos padrões, inclusive dos de natureza processual,
que devem ser observados para as providências semelhantes no âmbito interno (e,
portanto, sujeitas a controle pelo Poder Judiciário, por provocação de qualquer
interessado). Caso a medida solicitada dependa, segundo o direito interno, de prévia
autorização judicial, cabe aos agentes competentes do Estado requerido atuar
judicialmente visando a obtê-la. Para esse efeito, tem significativa importância, no Brasil,
o papel do Ministério Público Federal e da Advocacia Geral da União, órgãos com
capacidade postulatória para requerer, perante o Judiciário, essas especiais medidas de
cooperação jurídica.
Conforme reiterada jurisprudência do STF, os tratados e convenções internacionais de
caráter normativo, ‘(...) uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se,
no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade
em que se posicionam as leis ordinárias’ (STF, ADI-MC 1480-3, Min. Celso de Mello, DJ
de 18.05.2001), ficando sujeitos a controle de constitucionalidade e produzindo, se for o
caso, eficácia revogatória de normas anteriores de mesma hierarquia com eles
incompatíveis (‘lex posterior derrogat priori’). Portanto, relativamente aos tratados e
convenções sobre cooperação jurídica internacional, ou se adota o sistema neles
estabelecido, ou, se inconstitucionais, não se adota, caso em que será indispensável
também denunciá-los no foro próprio. O que não se admite, porque então sim haverá
ofensa à Constituição, é que os órgãos do Poder Judiciário pura a simplesmente neguem
aplicação aos referidos preceitos normativos, sem antes declarar formalmente a sua
inconstitucionalidade (Súmula vinculante 10/STF). Não são inconstitucionais as cláusulas
dos tratados e convenções sobre cooperação jurídica internacional (v.g. art. 46 da
Convenção de Mérida – ‘Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção’ e art. 18 da
Convenção de Palermo - ‘Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional’) que estabelecem formas de cooperação entre autoridades vinculadas ao
Poder Executivo, encarregadas da prevenção ou da investigação penal, no exercício das
suas funções típicas. A norma constitucional do art. 105, I, ‘i’, não instituiu o monopólio
universal do STJ de intermediar essas relações. A competência ali estabelecida - de
conceder ‘exequatur’ a cartas rogatórias -, diz respeito, exclusivamente, a relações entre
os órgãos do Poder Judiciário, não impedindo nem sendo incompatível com as outras
formas de cooperação jurídica previstas nas referidas fontes normativas internacionais.
No caso concreto, o que se tem é pedido de cooperação jurídica consistente em
compartilhamento de prova, formulado por autoridade estrangeira (Procuradoria Geral da
Federação da Rússia) no exercício de atividade investigatória, dirigido à congênere
autoridade brasileira (Procuradoria Geral da República), que obteve a referida prova
também no exercício de atividade investigatória extrajudicial. O compartilhamento de
prova é uma das mais características medidas de cooperação jurídica internacional,
prevista nos acordos bilaterais e multilaterais que disciplinam a matéria, inclusive na
‘Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional’ (Convenção
de Palermo), promulgada no Brasil pelo Decreto 5.015, de 12.03.04, e na ‘Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção’ (Convenção de Mérida), de 31.10.03, promulgada
pelo Decreto 5.687, de 31.01.06, de que a Federação da Rússia também é signatária.
Consideradas essas circunstâncias, bem como o conteúdo e os limites próprios da
competência prevista no art. 105, I, i da Constituição, a cooperação jurídica requerida não
dependia de expedição de carta rogatória por autoridade judiciária da Federação da
Rússia e, portanto, nem de ‘exequatur’ ou de outra forma de intermediação do Superior
Tribunal de Justiça, cuja competência, conseqüentemente, não foi usurpada. (Rcl
2.645/SP, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI – grifei)
Busca-se impedir, com a presente impetração, que a Missão Diplomática da Federação
da Rússia no Brasil entregue, ao Ministério Público Russo (“Prokuratura”), peças e
elementos probatórios consistentes nas cópias “dos ‘hard disks’ dos computadores
apreendidos em posse do paciente” (fls. 28). Pretende-se, para tal efeito, seja oficiado à
“Embaixada da Federação Russa, para que se abstenha de remeter tal material à
Federação Russa ou, tendo-o remetido, que providencie, de imediato, a sua devolução,
até a decisão final deste ‘habeas’.
Cabe verificar, desde logo, se se revela possível, a este Supremo Tribunal, ordenar que
Missões Diplomáticas estrangeiras, submetendo-se, coativamente, à jurisdição nacional,
façam, deixem de fazer ou tolerem que se faça alguma coisa, por efeito de determinação
judicial emanada desta Corte.
A inviabilidade de execução do comando emergente da sentença, motivada pela
incapacidade de determinado magistrado ou Tribunal impor, coativamente, em plano
transnacional, as suas próprias decisões, culmina por subtrair, a tais atos decisórios, o
atributo essencial da imperatividade (que lhes deve ser ínsito), enfraquecendo-os, assim,
como expressão da soberania do poder estatal.
Falece poder, ao Supremo Tribunal Federal, para impor, a qualquer Legação diplomática
estrangeira em nosso País, o cumprimento de determinações emanadas desta Corte,
tendo em vista a relevantíssima circunstância de que não estão elas sujeitas, em regra,
ressalvadas situações específicas, à jurisdição do Estado brasileiro. Qualquer que seja a
qualificação que se dê às Missões Diplomáticas vinculadas aos Estados acreditantes,
também denominados “États d’envoi” (a Federação da Rússia, no caso) - quer aquela
fundada na “ficção da extraterritorialidade”, que constitui, hoje, posição minoritária, como
advertem os doutrinadores, quer aquela que, rejeitando-a, apóia-se na “teoria do interesse
da função”, que atribui, aos locais da Legação, a garantia da inviolabilidade, que traduz
prerrogativa político-jurídica de caráter funcional, o fato é que não estão elas sujeitas,
ordinariamente, ainda mais em sede processual penal, à autoridade jurisdicional dos
magistrados e Tribunais brasileiros. A impossibilidade jurídica de o Supremo Tribunal
Federal expedir provimentos jurisdicionais consubstanciadores de ordens mandamentais
dirigidas a qualquer Missão Diplomática sediada em território brasileiro põe em relevo -
ante a manifesta ausência de “enforcing power” das instituições judiciárias nacionais
sobre legações diplomáticas estrangeiras - a completa inviabilidade do acolhimento, por
inexeqüível, da medida cautelar ora postulada perante esta Suprema Corte, não obstante
seja, este Tribunal, o órgão de cúpula do Poder Judiciário nacional estruturado no âmbito
do Estado acreditado (o Brasil, na espécie).

 Carta Rogatória expedida por MP: HC 91.002-5 - impossibilidade de se reconhecer


validade à carta rogatória expedida pelo MP. Mesmo mediante rogatória, o requerente
deve ser o Judiciário estrangeiro. Nesse sentido, STF fulminando rogatória requerida
pelo Ministério Público Suíço. Itália - como a situação do MP lá é híbrida, foi admitida
a carta rogatória.

Assistência Jurídica:
São os atos necessários à persecução penal do delito que não sejam a extradição, nem a
homologação de sentença estrangeira, nem a transferência de preso.

Conteúdo - art. 18.3 da Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade organizada
e transnacional:
 Tomada de depoimento de testemunhas;
 Declarações de acusados;
 Envio de peças processuais;
 Medidas preventivas de constrições judiciais: busca e apreensões, congelamentos
de contas bancárias;
 Entrega de documentos;
 Localização ou apreensão de bens;
 Instrumentos do delito.
 Qualquer outro tipo de assistência permitida pelo direito interno do país requerido -
cláusula de encerramento. Ex.: confisco de bens, perícias, medidas preventivas
probatórias de última geração (entregas vigiadas, teleconferência para colher
depoimentos, interceptação de telecomunicações).

Legitimidade ativa para os pedidos de assistência internacional:


 No séc. XIX, os legitimados ativos eram os juízes.
 No séc. XX, a autoridade competente no país estrangeiro.
 Mais para o final do século surgem convenções específicas que denominam
algumas autoridades como competente para fazer o pedido: delegados, membro
do MP, autoridades judiciais (lato sensu), ex.: protocolo de assistência mútua em
assuntos penais no MERCOSUL (de 1996). A doutrina dominante no Brasil afirma
que são legitimados para efetuar o pedido as autoridades competentes, conforme o
ordenamento do Estado requerente. No Brasil, o MP não pode afastar o sigilo
bancário diretamente, salvo se houver dinheiro público envolvido. No entanto, o
STF entende que as normas de atribuição da competência devem ser a do Estado
requerido (decisão de 2003 – carta rogatória 10536). Esta decisão do STF é
vacilante.

Legitimidade passiva para os pedidos de assistência internacional:


O destinatário final dos pedidos de assistência legal em matéria penal,
independentemente da via em que o pedido é feito, será a autoridade do Estado requerido
que tem a competência para realizar o ato solicitado.

Modelos de transmissão da assistência penal internacional:


1. VIA DA CARTA ROGATÓRIA – é o caminho mais tradicional, mais conservador. É
meio de colaboração entre poderes de Estados diversos em que um solicita
cooperação ao outro estrangeiro. É um instrumento por meio do qual se roga à
autoridade estrangeira que promova a realização de um ato. Os atos que podem
ser praticados são: 1) atos processuais ordinatórios (citações, intimações,
notificações etc), 2) atos instrutórios (produção de prova por meio de oitiva de
testemunhas, realização de perícias, requisição de documentos).

Qual é o ritual tradicional da carta rogatória na assistência internacional? O poder


judiciário do Estado requerente solicita ao seu Ministro da Justiça que faça a
cooperação internacional. Ele solicita ao Ministro das Relações Exteriores que
encaminha para o Estado requerido via malote. Lá no Estado requerido, o
consulado ou embaixada do Estado requerente remete ao Ministério das Relações
Exteriores (Estado requerido) que envia para o Ministério da Justiça e este deve
fazer o pedido ao poder judiciário. Aqui é o STJ que dá cumprimento à carta
rogatória. O STJ verificará se a carta rogatória ofende a moral, a ordem pública e a
soberania e dará sequência à execução da CR que se chama exequatur. Aí o STJ
encaminha o pedido a um juiz federal.

Carta rogatória no Brasil: o ‘cumpra-se’ nas cartas rogatórias surge em 1894, por
meio da Lei 221. Quem dava o ‘cumpra-se’ era o poder executivo. A partir da CF
1934, o STF passou a ter competência para dar execução à carta rogatória. A partir
da EC 45/04, a competência passa a ser do STJ. O CPC trata a partir do art. 201.
O STJ editou a resolução nº 9 de 2005.

Quais diligências podem ser realizadas via carta rogatória? Fases de inquérito, de
instrução processual ou no decorrer do julgamento.
Carta rogatória ativa – é a expedida por autoridade judiciária da República
Federativa do Brasil. Não se faz necessário o exaquatur do STJ / Carta rogatória
passiva – é a requerida por uma autoridade judiciária estrangeira e recebida pelo
poder judiciário nacional. Ela necessita do exequatur do STJ (art. 105, I, ‘i’, CF).

O presidente do STJ que tem a competência para impulsionar a carta rogatória. Se


ela for impugnada temos a distribuição para um dos ministros. Se não houver a
impugnação, o presidente a impulsiona. Esta decisão de impulsionar a CR pode
ser desafiada por meio de agravo regimental.

Resolução nº 9, STJ:
Art. 7º As cartas rogatórias podem ter por objeto atos decisórios ou não decisórios.
Parágrafo único. Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem por
objeto atos que não ensejem juízo de delibação pelo Superior Tribunal de Justiça,
ainda que denominados como carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos
ao Ministério da Justiça para as providências necessárias ao cumprimento por
auxílio direto.

O STF e as cartas rogatórias passivas:


a. Medidas executórias como busca e apreensão, seqüestros não podem ser
viabilizados por carta rogatória, deve-se seguir o caminho da homologação de
sentença estrangeira com a necessidade de que todos os seus requisitos sejam
atendidos.
b. Permite a realização de medidas executórias por meio da via da carta rogatória,
desde que possuam regramento em convenções internacionais (de 2000 a 2004 –
MERCOSUL – protocolo de lãs lenhas). Ex.: penhora de bens (CR 215), penhora
de cotas de sociedades (CR 374), sigilo bancário (CR 691). A convenção de
Palermo contra o crime organizado transnacional tem regras sobre carta rogatória.

 VIA AUTORIDADE CENTRAL - é um órgão técnico administrativo geralmente


localizado junto ao poder executivo, cuja função é o incremento do fluxo de
informações sem fazer qualquer juízo de valor. Celeridade sem qualquer atribuição
de natureza jurisdicional. No Brasil, em regra, a autoridade central é o Ministério da
Justiça. O MJ, no ano de 2003, criou o DRCI (depto. de recuperação de ativo e
cooperação internacional).

A lei 9.613/98 (lei de lavagem de dinheiro), art. 14 – esta lei cria o COAF (conselho
de operações de atividades financeiras) que fazem parte representante de várias
autoridades centrais, ligado ao Ministério da Fazenda. COAF é uma unidade de
inteligência financeira, ele circula as informações a respeito da lavagem de
dinheiro. Não é autoridade central.

Na maioria dos tratados, a autoridade central é MJ, exceto em dois: Canadá e


Portugal que é o PGR.

A resolução 45, ONU recomenda que a cooperação jurídica fuja da carta rogatória
e seja feita via autoridade central.

MLAT (Brasil e EUA) – tratado legal de assistência mútua – aqui está presente a
autoridade central.

Espécies de assistência via autoridade central:


 Ativa – uma autoridade brasileira pede a autoridade central do Brasil, que verifica
se os pressupostos formais estão presentes e, em caso positivo, encaminha à
autoridade central do Estado requerido.
 Passiva – a autoridade central do Estado estrangeiro solicita à autoridade central
brasileira que encaminha à autoridade competente para atender a solicitação. Na
assistência passiva, se houver necessidade de uma decisão judicial, por ex. quebra
de sigilo bancário, quem fará o pedido será o MPF.

Como se dá assistência jurídica via autoridade central?


 pedido vindo do Estado estrangeiro, este pedido pode ser formulado diretamente
no Brasil. Alguns tratados internacionais permitem que uma autoridade estrangeira
competente possa fazer o pedido diretamente aqui no Brasil via AGU ou via MPF.

 Auxílio direto - esse pedido é feito na Justiça Federal em 1º grau de jurisdição,


tombado com a seguinte denominação: ‘procedimento criminal diverso’. Existe uma
portaria conjunta MJ/AGU/MPF 01/05 que estabelece as rotinas para este tipo de
cooperação.

 Principais acordos em matéria penal que o Brasil é signatário: tratado de


cooperação jurídica com os EUA – MLAT de 2001; convenção interamericana sob
assistência mútua em matéria penal de 2008; tratados internacionais bilaterais com
Colômbia, França, Itália, Portugal, Peru; convenções multilaterais: convenção das
nações unidas contra tráfico ilícito de drogas, convenção das nações unidas contra
o crime organizado transnacional (Convenção de Palermo). Se não existir tratado é
possível a cooperação com a promessa de reciprocidade.

3. Via contato direto entre autoridades legitimadas. Assistência jurídica por meio de
contato direto. A autoridade pública de um Estado pede diretamente à autoridade
estrangeira competente a diligência ou informação necessária à instrução pré-
processual ou processual penal. Corre-se o risco de perder a prova porque ela não
passou pela autoridade central.

Críticas: Existência de verdadeira colcha de retalhos. Há disposições em diversas


leis esparsas; O contato direto ainda é uma utopia em razão de fatores meta
jurídicos (desconfiança das autoridades estrangeiras); Assistência jurídica
internacional em matéria penal ainda é vista como instituto de direito internacional
quando na realidade deveria ser estudado em direito penal e em processo penal;
Falta de uniformização das rotinas e dos procedimentos; Inexistência de banco de
dados global e insuficiência do banco de dados hoje existentes.

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