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A obra “Explaining Institutional Change: Ambiguity, Agency and Power”, organizada por
James Mahoney e Kathleen Thelen e publicada originalmente em 2009, é composta por sete
capítulos. O primeiro deles, escrito pelos próprios organizadores, apresenta sua teoria da mudança
institucional gradual. Outros cinco artigos constituem estudos de caso nos quais a teoria é aplicada a
diversos contextos e países. O sétimo e último capítulo constitui um apanhado histórico escrito por
um dos pesquisadores mais influentes da agenda institucionalista, Peter Hall. O objetivo desta
resenha é apresentar os pontos centrais do modelo de mudança gradual, com destaque para o
conteúdo do primeiro capítulo. Brevemente, à guisa de conclusão, abordam-se os achados dos
estudos de caso que aplicam o modelo e conceitos apresentados.
Metodologicamente, Explaining Institutional Change se insere em um processo mais amplo
da ciência política americana de retomada e qualificação de métodos qualitativos e propagação do
uso de métodos mistos. James Mahoney é de fato um dos leading authors (principais autores) desse
movimento, construído a partir da crítica a proposições centrais da obra Design Social inquiry,
King, Keohane e Verba. Em especial à proposição de KKV de que há apenas uma lógica de
pesquisa científica (a das metodologias quantitativas e das ciências da natureza), aplicada
subsidiariamente às ciências sociais. Autores como James Mahoney (autor, em parceira com Gary
Goertz de “A Tale of Two Cultures”) e Henry Brady e David Collier (no seminal “Rethinking Social
Inquiry) tem se dedicado a desenvolver os fundamentos epistemológicos da pesquisa qualitativa e
formas de atribuir a ela maior capacidade explicativa, de generalização e de replicabilidade, dentro
de suas especificidades. Esse esforço permeia a obra em análise.
Em termos teóricos, Mahoney, Thelen e Colaboradores enquadram-se na agenda de pesquisa
do neoinstitucionalismo histórico. Nessa corrente de trabalho, praticamente dominante na academia
americana, a ambição é por teorias de médio alcance sobre o impacto das instituições na sociedade.
Contudo, para Mahoney e Thelen, as correntes principais do neoinstitucionalismo
enfatizam a permanência e a mudança institucional repentina e exógena (conjunturas críticas). Se
temos boas teorias para explicar por que certas instituições surgem em certas épocas, ainda nos
faltam bons modelos explicativos para explicar a mudança gradual, uma vez que “Constitutions,
systems of social provision, and propriety right arrengements not only emerge and break down; they
also evolve and shift in more subtle ways across time” (MAHONEY; THELEN, 2009, p. 2).
(tradução: Constituições, sistemas de provisão social e arranjos de direitos proprietários não apenas emergem e
decompõem; eles também evoluem e mudam de maneiras mais sutis ao longo do tempo).
Apesar das diferenças, a maioria das definições do conceito de instituições enfatiza suas
características relativamente duradouras da vida política e social (p. 4). Isso tornaria natural a ênfase
na permanência, mais do que na mudança, para a maioria dos institucionalismos. De fato, cada uma
das três vertentes clássicas do neoinstitucionalismo, conforme a classificação de Taylor e Hall
(institucionalismo histórico, da escolha racional e sociológico) possui limitações.
O Institucionalismo sociológico adota uma definição ampla de instituições, que inclui
procedimentos informais e convenções coletivas que regulam o comportamento humano. Para essa
corrente, atores carregam padrões de “scripts” e tendem a reproduzi-los ao inventar novas
instituições. A mudança é explicada a partir de elementos exógenos, como o surgimento de novos
quadros interpretativos, importados ou impostos. Porém, não explica como e por quais propriedades
certos “scripts” institucionais são mais fáceis de serem alterados ou substituídos.
O Institucionalismo da Escolha Racional geralmente envolve comparações estáticas, mais do
que características dinâmicas. Instituições são mecanismos coordenados que sustentam o equilíbrio.
A mudança ocorre de forma exógena. O institucionalismo da escolha racional, pelo enfoque no
equilíbrio e do efeito das instituições, torna difícil pensar mudanças endógenas.
O Institucionalismo Histórico também privilegia a continuidade frente a mudança. Trabalhos
sobre path dependence (dependência do caminho) explicam mais a persistência de padrões ao longo
do tempo. O Institucionalismo Histórico reconhece tanto os componentes culturais das instituições
quanto as funções de coordenação que as instituições desempenham. Mudanças institucionais
ocorreriam, sobretudo a partir de “conjunturas críticas”, períodos nos quais os constrangimentos
sobre a ação são relaxados, como na teoria do equilíbrio pontuado.
Para Mahoney e Thelen, a ambiguidade institucional desempenha um papel central na
possibilidade de mudança. Se instituições normas que agem como mecanismos de distribuição de
poder, atores buscariam atuam nas margens de interpretação para ampliar o escopo de poder.
Mesmo quando as regras são formalizadas, atores com interesses divergentes disputarão as
aberturas providas pelas diferenças de interpretação, pois permitem diferentes alocações de recurso.
Regras enfrentam de forma inerente, limitações ao seu poder de coordenar o comportamento dos
agentes. Compliance (conformidade), conformidade do comportamento com as normas, é
considerada como variável central do processo de mudança institucional. Os autores destacam
algumas complicações ao considerarmos compliance como variável importante para o conceito de
ambiguidade.
Em primeiro lugar regras nunca serão suficientemente precisas para prever todos os
comportamentos possíveis e a complexidade de situações do mundo real. Em segundo lugar atores
possuem limites cognitivos na interpretação e compreensão das regras, pois
(Tradução: Mesmo quando regras institucionais foram criadas para acomodar situações relativamente
complexas, os atores enfrentam limitações no processamento de informações e certamente não podem antecipar
todas as possíveis situações futuras nas quais as regras escritas agora serão implementadas posteriormente)