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z

Electrão
θ

Protão r

y
x
φ

Introdução Geométrica à Mecânica Quântica: Átomo de


Hidrogénio e Oscilador Harmónico

Sérgio Manuel Simões Elias

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores

Júri

Presidente: Prof. António Rodrigues


Orientador: Prof. António Luís Campos da Silva Topa
Coorientador: Prof. Carlos Manuel dos Reis Paiva
Vogal: Prof. Júlio Paisana

Outubro de 2007
Agradecimentos

O meu sincero agradecimento ao Professor Doutor António Topa e ao Professor Doutor Carlos Paiva,
Orientador e Co-Orientador deste projecto, respectivamente, por toda a ajuda prestada no desenvolver
de todo o trabalho e constante disponibilidade oferecida, a qual foi determinante para a contínua
motivação com que me empenhei neste trabalho.
Aos meus pais por me terem proporcionado tudo o que precisei e não precisava, pela paciência
que tiveram durante todos estes anos, por terem sido um exemplo para mim e principalmente, por
sempre acreditarem em mim.
À minha colega e namorada Cátia Marques, com quem partilhei muitos dos anos da minha
formação, pelas opiniões, conselhos e compreensão que sempre me ofereceu, e por continuar a meu
lado.
Aos meus amigos, por me terem apoiado em todos os momentos e sempre se lembrarem da
nossa amizade.

i
ii
Resumo

Este trabalho tem como objectivo, a resolução da equação de Schrödinger para o estudo do átomo de
hidrogénio e do oscilador harmónico.
A Mecânica Quântica trata a interpretação da dualidade da matéria, preocupando-se bastante
com a interpretação matemática do princípio de incerteza. As relações de incertezas são encontradas
com a utilização das integrais de Fourier, sendo também exposto o princípio da incerteza de
Heisenberg. Os operadores posição, momento, e energia são interpretados.
A resolução da equação de Schrödinger fez-se com recurso aos métodos variacionais que
permite derivar as equações do movimento de sistemas mecânicos conservativos, com e sem ligações,
independentemente do sistema de coordenadas. A vantagem da abordagem variacional para a
resolução da equação de Schrödinger está na utilização do formalismo Lagrangeano, e nas
propriedades das equações de Euler-Lagrange.
O principal interesse deste estudo é a descrição da estabilidade do átomo de hidrogénio dada
através dos estados estacionários obtidos pela equação de Schrödinger e a análise do oscilador
harmónico através da mecânica quântica que envolve a determinação das soluções da equação de
Schrödinger.
Neste trabalho é também apresentada uma nova linguagem matemática, a álgebra geométrica,
com vista à aplicação na mecânica quântica. Através da álgebra de espaço-tempo de Minkowski, o
efeito fotoeléctrico, efeito de Compton e o dualismo onda-corpúsculo podem ser traduzidos para o
formalismo da álgebra geométrica.

Palavras-chave: Mecânica quântica, métodos variacionais, equação de Schrödinger, átomo de


hidrogénio, oscilador harmónico e álgebra geométrica.

iii
Abstract

The goal of this work is the resolution of the Schrödinger equation for the study of the hydrogen atom
and the harmonic oscillator.
The Quantum Mechanics deals with the interpretation of the matter duality, and is focused on
the mathematical interpretation of the uncertainty principle. The uncertainty relations are found with
the use of the Fourier integrals, leading to the uncertainty principle of Heisenberg. The position,
moment, and energy operators are interpreted.
The resolution of the Schrödinger equation was made through the use of the variational
methods that allow deriving the motion equations in conservative mechanical systems, with and
without links, independently of the coordinate system. The advantage of the variational approach in
the resolution of the Schrödinger equation is in the use of the Lagrange formalism, and in the
properties of the Euler-Lagrange equations.
The main interest of this study is the description of the stability of the hydrogen atom given
through the stationary states derived from the Schrödinger equation and the analysis of the harmonic
oscillator through the quantum mechanics that involves the determination of the solutions of the
Schrödinger equation.
In this work a new mathematical language is also presented: the geometric algebra, which is
intended to be applied to the quantum mechanics. Through the Minkowski space-time algebra, the
photoelectric effect, the Compton effect and the wave-corpuscle dualism can be translated into the
geometric algebra formalism.

Key-words: Quantum mechanics, variational methods, Schrödinger equation, hydrogen atom,


harmonic oscillator and geometric algebra.

iv
Índice
Agradecimentos........................................................................................................................................ i
Resumo................................................................................................................................................... iii
Abstract .................................................................................................................................................. iv
Índice........................................................................................................................................................v
Lista de Tabelas..................................................................................................................................... vii
Lista de Figuras ...................................................................................................................................... ix
Lista de Símbolos ................................................................................................................................... xi
Capítulo 1. Introdução..............................................................................................................................1
1.1.Enquadramento....................................................................................................................1
1.2.Motivação............................................................................................................................3
1.3.Objectivos............................................................................................................................3
1.4.Descrição do trabalho ..........................................................................................................4
Capítulo 2. Álgebra geométrica................................................................................................................7
2.1. Produto geométrico ............................................................................................................7
2.1.1. Produto interno .............................................................................................................8
2.1.2. Produto exterior ............................................................................................................8
2.1.3. Adição de bivectores ..................................................................................................10
2.2. Álgebra geométrica do plano............................................................................................10
2.2.1. Produtos notáveis .......................................................................................................11
2.2.2. Álgebra geométrica e os números complexos ............................................................12
2.3. Análise de resultados........................................................................................................13
2.3.1. Lâminas ......................................................................................................................13
2.3.2. Produto entre vector e bivector...................................................................................14
2.3.3. Projecção de um vector ..............................................................................................16
2.3.4. Quadrado de um bivector ...........................................................................................17
2.4. Álgebra geométrica de espaço..........................................................................................17
2.4.1. Trivectores .................................................................................................................18
2.4.2. Álgebra geométrica de Clifford..................................................................................19
2.4.3. Produto geométrico ....................................................................................................20
2.5. Álgebra geométrica do espaço-tempo de Minkowski ......................................................22
2.5.1. Bases de Cl1,3 .............................................................................................................23

2.5.2. Tempo próprio e velocidade própria ..........................................................................24


2.5.3. Aceleração própria......................................................................................................26
2.5.4. Momento linear ..........................................................................................................27
2.5.5. Efeito fotoeléctrico .....................................................................................................27

v
2.5.6. Efeito de Compton......................................................................................................28
2.5.7. Dualismo onda-corpúsculo.........................................................................................31
Capítulo 3. Mecânica quântica ...............................................................................................................33
3.1. Dualismo onda-corpúsculo...............................................................................................33
3.2. Feixes em mecânica ondulatória ......................................................................................35
3.3. Princípio de incerteza de Heisenberg ...............................................................................37
3.4. Evolução dos feixes em mecânica ondulatória.................................................................39
Capitulo 4. Métodos variacionais ...........................................................................................................41
4.1. Equação de Euler-Lagrange .............................................................................................41
4.2. Princípio da acção mínima ...............................................................................................45
4.3. Dedução da equação de Schrödinger................................................................................47
Capítulo 5. Oscilador harmónico............................................................................................................49
5.1. Equação de Schrödinger ...................................................................................................49
5.2. Propriedades dos Polinómios de Hermite.........................................................................55
Capítulo 6. Átomo de hidrogénio ...........................................................................................................57
6.1. Equação radial ..................................................................................................................58
Capítulo 7. Conclusões...........................................................................................................................63
7.1. Síntese ..............................................................................................................................63
7.2. Perspectivas de trabalho futuro ........................................................................................64
Anexos....................................................................................................................................................65
Anexo A. Corpo negro ...........................................................................................................................65
Anexo B. Efeito fotoeléctrico ................................................................................................................67
Anexo C. Efeito de Compton .................................................................................................................69
Anexo D. Notação de Dirac ...................................................................................................................73
Anexo E. Operadores e valores expectáveis ..........................................................................................75
Anexo F. Princípio da sobreposição.......................................................................................................77
Anexo G. Átomo de hidrogénio .............................................................................................................79
G.1. Mudança de coordenadas ...................................................................................................79
G.2. Equação de onda a três dimensões .....................................................................................80
G.3. Momento angular................................................................................................................81
Referências .............................................................................................................................................83

vi
Lista de tabelas

2.1 Produtos
2.2 Correspondência entre a Álgebra de Clifford e a Álgebra de Gibbs
6.1 Algumas funções Rnl (r )
E.1 Alguns resultados da representação de operadores no espaço de coordenadas e no espaço do
momento

vii
viii
Lista de figuras

2.1 Representação de um bivector


2.2 Soma de dois bivectores
2.3 Exemplos de Lâminas
2.4 Produto de um vector por um bivector
2.5 Projecção e rejeição de um bivector
2.6 Representação de bivectores
2.7 Representação de um trivector
2.8 Representação do produto geométrico
2.9 Efeito de Compton

Densidade de probabilidade P(x ) = Ψ0 (x ) correspondente a Ψ0 (x ) = 0 para x < 0 e a


2
3.1

Ψ0 ( x ) = 2α α xe −αx para x > 0

4.1 Representação de y (x ) e uma das possíveis curvas de Y (x )


5.1 Partícula de massa m , oscilante no eixo
B.1a) Efeito Fotoeléctrico: Um raio de luz (hf ) incide sobre a superfície de um metal. Parte da
energia é absorvida no metal e a restante energia usada para arrancar um electrão de energia cinética
Τ.
1
B.1b) Efeito Fotoeléctrico: A energia cinética dos electrões ejectados, Τ = me v 2 , varia
2
linearmente com a frequência da luz incidente
C.1 Efeito de Compton
G.1 Coordenadas polares esféricas

ix
x
Lista de símbolos

a: vectores
⋅⋅
a: aceleração própria
a: aceleração
a0 : raio de Bohr

A( kx ) : amplitude espectral gaussiana

A: bivector
b: vector
b: boost
B: bivector
c: vector
c: velocidade da luz
ε: energia do fotão
ε0 : permitividade do vácuo
e: carga do electrão
Ε: energia própria da partícula
g: aceleração relativa
h: constante de Planck
=: constante de Planck reduzida

Η: operador hamiltoniano
Hn : polinómios de Hermite
I: pseudoescalar
L: momento angular
k: vector de onda relativo
k: vector de onda
kB : constante Boltzmann
m: massa inercial de uma partícula
me : massa do electrão

mp : massa do protão

p: momento linear relativo


p: momento linear

xi
P ( x, t ) : densidade de probabilidade

q: momento linear próprio


q: constante de propagação
Τ: energia cinética
u: velocidade própria

u: aceleração própria
u: multivector
U: energia potencial
v: velocidade relativa
v: velocidade
vg : velocidade de grupo

vp : velocidade da partícula

V: energia potencial
V (r ) : potencial de Coulomb

ω: frequência angular
Z: número atómico
μ: massa reduzida
ψ: função de onda independente do tempo
Ψ: função de onda dependente do tempo

Ψ ( x, t ) :
2
densidade de probabilidade

λ: comprimento de onda
γ: coeficiente de dilatação do tempo

δ ij : delta de Kronecker

Φ: variação de fase
x : posição média da partícula

ψ : vector de estado Ket

φ : quantidade bra

xii
Capítulo 1. Introdução

1.1. Enquadramento

A mecânica clássica ou newtoniana, que descreve de modo adequado o mundo macrofísico em que
vivemos, já não explica satisfatoriamente o comportamento das partículas a altas velocidades (sendo aí
substituída pela mecânica relativística) nem os fenómenos do mundo microfísico (escala atómica e
molecular), sendo aqui necessário recorrer à mecânica quântica, sendo esta mais geral que a mecânica
clássica.
O aparecimento da mecânica quântica está intimamente associado à evolução histórica da
natureza da luz. Primeiramente considerada de natureza corpuscular por Newton (1642-1727),
enunciada em 1675, posteriormente e contrariando este, surge a teoria ondulatória de Huygens (1629-
1695) e Young (1773-1829). Contudo, a fundação da estrutura teórica da mecânica quântica situa-se
entre os anos de 1923 e 1927 e resulta, em particular, dos trabalhos de Werner Heisenberg, Max Born,
Pascual Jordan, Erwin Schrödinger e Paul Dirac. Esta estrutura teórica não teria sido possível sem
algumas contribuições anteriores, nomeadamente: a lei da radiação de Max Planck (1900); a
descoberta do efeito fotoeléctrico por Heinrich Hertz (1887), a respectiva interpretação física por
Albert Einstein (1905) e posterior confirmação experimental por Robert A. Millikan (1915); o modelo
atómico proposto por Niels Bohr (1913); os coeficientes A e B de Einstein (1916) para explicar a
interacção entre a radiação electromagnética (os fotões) e os átomos de um gás; o efeito Compton
(1922); a experiência de O. Stern e W. Gerlach de 1922 revelando a quantificação do momento
angular.
Em 1925 Werner Heisenberg apresenta a mecânica matricial e em 1926 Erwin Schrödinger
formula a mecânica ondulatória. Contudo, já em 1924, Louis de Broglie tinha apresentado a sua tese
das ondas de matéria que deu origem ao dualismo onda-corpúsculo e que representa, de certa forma, o
ponto de partida conceptual para esta nova mecânica. A descoberta da difracção dos electrões através
dos átomos de uma rede cristalina por C. J. Davisson e L. H. Germer em 1927 (e também, de forma
independente, por G. P. Thomson) veio corroborar a teoria de Louis de Broglie. Mas foi ainda, em
1926, que Schrödinger mostrou a perfeita equivalência entre o formalismo da mecânica das matrizes
de Heisenberg e a sua própria mecânica ondulatória. Deve-se porém a Paul Dirac o desenvolvimento,

1
em 1930, do formalismo geral da mecânica quântica. A interpretação física deve muito, também, às
contribuições de Max Born, Werner Heisenberg e Niels Bohr. Nomeadamente foi Max Born quem
avançou a interpretação fisicamente aceite da função de onda (ou vector de estado). Werner
Heisenberg, por sua vez, formulou as relações de incerteza que desempenham um papel fundamental
na concepção física associada à mecânica quântica.
A mecânica quântica toca a óptica em toda a sua teoria, mas quando se fala em Laser (cuja
sigla em inglês significa Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation), remete-se a
fenómenos de absorção e emissão de luz pelos átomos. Em 1916, Albert Einstein deu inicio à invenção
do laser, maser a partir da lei de Max Planck (1858-1947). Este último sugeriu que, a emissão e
absorção de luz pela matéria ocorre em quantidades discretas de energia, designadas por quanta. Em
adição, Einstein avançou com a hipótese de que a própria luz é composta de quanta de energia e
descobriu o efeito físico por trás do laser, que se designa por emissão estimulada. Einstein através de
considerações teóricas descobriu que um átomo absorve um fotão (partícula de luz) incidente e, após
certo tempo (emissão espontânea), reemite o mesmo fotão ao acaso. Além disto, este mesmo átomo
deve reemite o fotão absorvido se um segundo fotão interage com ele. O fotão reemitido tem a mesma
frequência do fotão que o estimulou (emissão estimulada) e, igualmente importante, tem a mesma fase
(o chamado fotão clone). A teoria ficou esquecida até o final da Segunda Guerra Mundial.
Em 1953, Charles H. Townes (1915), James P.Gordon e Herbert J. Zeiger produziram o
primeiro maser (Microwave Amplification by Stimulated Emission of Radiation), um dispositivo
similar ao laser sendo que produz microondas em vez de luz visível. O maser de Townes não tinha
capacidade de emitir ondas de forma contínua. Nikolai Basov (1922) e Aleksander Prokhorov (1916)
da União Soviética trabalharam de forma independente em um oscilador quantum e resolveram o
problema de emissão contínua utilizando duas fontes de energia com níveis diferentes. Posteriormente,
surge a primeira discrição em papel de um laser, em 1958 por Townes e Arthur Schawlow (1921-
1999). Gordon Gould (1920-2005) teve um desempenho importante no desenvolvimento do laser,
tendo sido este quem o designou como tal. Contudo, não teve o devido reconhecimento e não recebeu
juntamente com Townes, Basov e Prokhorov o prémio Nobel em 1964. Apenas em 1988 houve
reconhecimento da patente pedida por este em 1959, sendo finalmente reconhecido como um dos
criadores do laser. O primeiro dispositivo a funcionar correctamente, apareceu a 7 Julho de 1960, e foi
desenvolvido por um investigador desconhecido até à data, Theodore H. Maiman (1927), este
dispositivo consistia numa laser de rubi. Posto isto, vários laboratórios dedicaram-se ao
desenvolvimento do laser, e surge em 1964 o primeiro laser de dióxido de carbono, inventado por
Kumar Patel. Mais recentemente, em 2000, surge o primeiro laser orgânico alimentado a electricidade
e em 2002, tem-se o primeiro laser semicondutor do mundo que emite luz contínua e de modo fiável
sobre um largo espectro de comprimentos de onda infravermelhos.
Um computador quântico é um dispositivo que executa cálculos e faz uso directo de
propriedades da mecânica quântica, tais como sobreposição e interferência. Teoricamente,

2
computadores quânticos podem ser implementados e o mais desenvolvido actualmente trabalha com
poucos qbits de informação. O principal ganho desses computadores é a possibilidade de resolver em
tempo eficiente, alguns problemas que na computação clássica levariam tempo impraticável, como por
exemplo: busca de informação em bancos não ordenados, etc. Richard Feynman em 1981 elaborou a
primeira proposta de utilizar um fenómeno quântico para executar rotinas computacionais. Em 1985
David Deutsch, na Universidade de Oxford, descreveu o primeiro computador quântico universal.
Exactamente como uma Maquina de Turing pode simular outra máquina de Turing eficientemente, um
computador quântico universal é capaz de simular o funcionamento de outro computador quântico
com complexidade, no máximo, polinomial. Isso fez crescer a esperança de que um dispositivo
simples seja capaz de executar muitos algoritmos quânticos diferentes. Em 1994 Peter Shor, no Bell
Labs da AT&T em Nova Jersey, descobriu um excelente algoritmo que permite a um computador
quântico facturar grandes inteiros rapidamente. Low Grover, 1996, no Bell Labs, descobriu o
algoritmo de pesquisa em bases de dados quânticos.

1.2. Motivação

A mecânica quântica provocou uma revolução que marcou de forma decisiva a Física do século XX.
Sem ela, extraordinários desenvolvimentos jamais teriam sido possíveis. Sem compreender o
comportamento dos electrões nos meios materiais, não se teria assistido ao desenvolvimento da
indústria de semicondutores, e sem a mecânica quântica não se seria capaz de fabricar estruturas cada
vez mais pequenas. Mas, explorando as propriedades quânticas de confinamento conseguiu-se
desenhar dispositivos com características optimizadas para aplicações de dimensões cada vez mais
reduzidas.
Recentes desenvolvimentos na tecnologia de informação, na concepção e desenho de novos
materiais e na nanoelectrónica, têm mostrado cada vez mais a importância de conceitos quânticos na
própria descrição das capacidades destas novas e emergentes tecnologias.
A Mecânica Quântica proporcionou uma melhor compreensão da natureza e descobertas
tecnológicas que estão na base de muitos equipamentos que não dispensamos no nosso quotidiano.
O Átomo de Hidrogénio e o Oscilador Harmónico constituem dois produtos fundamentais para
a compreensão dos fenómenos quânticos.

3
1.3. Objectivos

Este trabalho tem como objectivo, a resolução da equação de Schrödinger para o estudo do átomo de
hidrogénio e do oscilador harmónico e para tal, é necessário compreender conceitos básicos de
mecânica quântica. O principal interesse deste estudo é a descrição da estabilidade do átomo de
hidrogénio dada através dos estados estacionários obtidos pela equação de Schrödinger e a análise do
oscilador harmónico através da mecânica quântica que envolve a determinação das soluções da
equação de Schrödinger.
Outro objectivo deste trabalho é apresentar uma nova linguagem matemática, a álgebra
geométrica, com vista à aplicação na mecânica quântica. Através da álgebra de espaço-tempo de
Minkowski, o efeito fotoeléctrico, efeito de Compton e o dualismo onda-corpúsculo podem ser
traduzidos para o formalismo da álgebra geométrica.

1.4. Descrição do trabalho

No Capítulo 2 deste trabalho, introduz-se a álgebra geométrica. Os principais objectivos são: a


formulação teórica da álgebra geométrica, uso das vantagens da álgebra geométrica como uma
linguagem unificada da física moderna, formulação geométrica da electrodinâmica clássica no espaço-
tempo de Minkowski. O primeiro passo deste trabalho consiste assim no estudo dos fundamentos da
álgebra geométrica, tanto numa forma geral como quando aplicada a um espaço vectorial em
particular, e nas suas diversas utilizações. Nomeadamente a relação entre a álgebra geométrica do
plano Euclidiano com a álgebra dos números complexos. Foi também analisado como a álgebra
geométrica se pode aplicar na definição das equações da dinâmica de uma partícula e quais as
vantagens ganhas em relação a outros formalismos. Descreveu-se como se pode aplicar a álgebra
geométrica ao espaço-tempo de Minkowski, e viu-se como temas da mecânica quântica como o efeito
fotoeléctrico, efeito de Compton e dualismo onda-corpúsculo podem ser traduzidos para o formalismo
da álgebra geométrica.
O Capítulo 3 introduz a mecânica quântica, apresentando conceitos essenciais para a
compreensão deste tema. Estuda-se o dualismo onda-corpúsculo de Louis de Broglie, as relações de
incerteza na posição e no momento que constituem um dos aspectos do princípio de Heisenberg e na
conclusão deste capítulo analisa-se a evolução dos feixes em mecânica ondulatória.
No Capítulo 4 é feita a dedução de Schrödinger através dos métodos variacionais. Começa-se
por introduzir o tema dos métodos variacionais através da equação de Euler-Lagrange e do princípio
da acção mínima para depois se deduzir a equação de Schrödinger para o caso unidimensional e
independente do tempo.

4
O Capítulo 5 tem por objectivo o estudo do oscilador harmónico como modelo físico das
vibrações moleculares. Neste capítulo são obtidos alguns gráficos de simulação referentes à função de
onda e à densidade de probabilidade do oscilador harmónico. No Capítulo 6 estuda-se o átomo de
hidrogénio, introduzindo-se a equação radial e realizando-se também algumas simulações. Para a
melhor compreensão dos temas apresentados ao longo dos vários capítulos, encontram-se em anexo
secções dedicadas a vários assuntos, como a radiação do corpo negro, para uma melhor compreensão
das limitações da mecânica clássica e o surgimento de novas teorias sobre a natureza da luz, o efeito
fotoeléctrico e efeito de Compton referidos no Capítulo 2, os anexos sobre o princípio da sobreposição
e operadores e valores expectáveis bastante úteis para um melhor entendimento do Capitulo 3 e o
anexo sobre o átomo de hidrogénio para complementar o Capítulo 6. Por fim o Capítulo 7 onde se
apresentam as principais conclusões sobre este trabalho.

5
6
Capítulo 2. Introdução à Álgebra Geométrica

2.1. Produto Geométrico

Existem diversos modos de desenvolver o formalismo da álgebra geométrica, neste trabalho segue-se
o caminho utilizado em textos de engenharia [3]. Partindo dos conceitos de número real, vector e
espaço vectorial e com um novo produto, o produto geométrico, para o qual se apresentará uma
definição axiomática, obter-se-á o corpo da álgebra geométrica. Os vectores são elementos de grande
importância pois são capazes, juntamente com o produto geométrico, de gerar qualquer elemento da
respectiva álgebra geométrica.
Uma das características fundamentais da álgebra geométrica é se tratar de uma álgebra
graduada, ou seja que esta é composta por objectos de diferentes graus, sendo possível a adição de
elementos de diferente grau. Os elementos que de grau 0 são os escalares que se associam aos números
reais, os de grau 1 são os vectores e associam-se a um espaço vectorial de dimensão e assinatura
arbitrária. Sobre os elementos de grau 1 (vectores) define-se o produto geométrico.
Começa-se por introduzir a definição de espaço linear (ou vectorial) V definido sobre o corpo
dos números reais. Aos elementos do espaço linear V dá-se o nome de vectores e sendo a , b e c
vectores pertencentes a este espaço (utiliza-se a convenção de representar os vectores por letras
minúsculas, tal como é normal nos textos sobre álgebra geométrica), o produto geométrico é definido
pelos seguintes axiomas:
1. a ( bc ) = ( ab ) c = abc propriedade associativa (2.1)

⎧⎪a ( b + c ) = ab + ac
2. ⎨ propriedade distributiva (2.2)
⎪⎩( a + b ) c = ac + bc

2
3. a 2 = a ∈ \ propriedade da contracção. (2.3)

7
Do produto geométrico entre dois vectores define-se um termo simétrico e anti-simétrico em
que no primeiro é possível trocar a ordem dos vectores e no segundo para se trocar a ordem dos
vectores deve-se trocar o sinal do termo.
1 1
ab = ( ab + ba ) + ( ab − ba ) . (2.4)
2 2

2.1.1. Produto Interno

Define-se produto interno ( a, b ) 6 a ⋅ b no espaço linear V com a, b ∈ V e a ⋅ b ∈ \ tal que:

⎧⎪( a + b ) ⋅ c = a ⋅ c + b ⋅ c
⎨ linear no primeiro factor (2.5)
⎪⎩( λa ) ⋅ b = λ ( a ⋅ b )

( a ⋅ b ) = b ⋅ a simétrico (2.6)

a ⋅ a > 0 para a ≠ 0 positivo. (2.7)

Considere-se o seguinte exemplo uma base {e1 , e 2 , e3 } ∈ \ 3 onde se define o produto interno

entre o vector a e b em que a = a1e1 + a2e2 + a3e3 e b = b1e1 + b2e2 + b3e3


a ⋅ b = a1b1 + a2b2 + a3b3
(2.8)
a ⋅ b = a b cos θ

θ , com 0 ≤ θ ≤ 180º , é o ângulo entre a e b . Da definição em coordenadas vem:


a = a ⋅ a = a12 + a22 + a32
a ⋅b e (2.9)
cos θ = .
a b

Em conclusão pode-se dizer que a parte simétrica do produto geométrico é o produto interno,
1
a ⋅b = ( ab + ba ) . (2.10)
2

8
2.1.2. Produto Exterior

Como foi referido anteriormente o termo simétrico do produto geométrico é o produto interno. Quanto
ao termo anti-simétrico, ( ab − ba ) , deve ser nulo quando os vectores a e b são paralelos, e vai-se

também demonstrar que ( ab − ba ) não pode ser um escalar nem um vector mas sim um objecto de

grau 2, o bivector. A este termo anti-simétrico chama-se produto exterior.


a ∧ b = ab − b ⋅ a . (2.11)

Portanto o produto exterior, ao contrario do produto interno, anti-simétrico: a ∧ b = −b ∧ a .


Logo

⎧ 1
a ⋅ b = ( ab + ba )
⎧ab = a ⋅ b + a ∧ b ⎪⎪ 2
⎨ ⇒⎨ (2.12)
⎩ba = a ⋅ b − a ∧ b ⎪a ∧ b = 1 ( ab − ba )
⎪⎩ 2

donde se infere que


ab = ba ⇔ a || b ⇔ a ∧ b = 0 ⇔ ab = a ⋅ b (2.13)

ab = −ba ⇔ a ⊥ b ⇔ a ⋅ b = 0 ⇔ ab = a ∧ b (2.14)

a ∧a = 0. (2.15)

Pode-se dizer que o produto exterior de dois vectores representa uma direcção bidimensional
que se pode associar a um plano. Define-se assim um plano, um sentido de rotação (de a para b no
caso de a ∧ b ) e uma magnitude que se pode interpretar como sendo a área do paralelogramo formado
pelos dois vectores.

b b
a∧b

a∧b
a
a

Figura 2.1 Representação de um bivector.

9
Assim conclui-se que o produto geométrico de dois vectores (elementos de grau 1) se pode
decompor na soma de um escalar com um bivector, objectos de grau 0 e 2.

2.1.3. Adição de bivectores

A situação de adição de dois bivectores, que resultem do produto exterior de dois vectores, pode ser
interpretada geometricamente recorrendo à propriedade distributiva. Dois bivectores num espaço
tridimensional podem ser descritos através de três vectores, sendo um desses vectores comum aos
dois, neste exemplo escolheu-se o vector a para representar a recta de intersecção dos dois bivectores,
a∧b, a∧b . Recorrendo à propriedade distributiva do produto exterior obtém-se
a ∧ b + a ∧ c = a ∧ ( b + c ) . Na Figura 2.2 para se obter a soma pretendida, deve-se unir duas arestas

dos bivectores de modo a que o sentido de circulação dos bivectores seja contrário. Seguidamente
deve-se formar o paralelogramo definido pelas arestas opostas àquelas que se uniram, sendo este o
plano de bivector resultante. O sentido do bivector resultante obtém-se destas duas últimas arestas, e
como se pode verificar na figura é coerente com o sentido de ambas.

a∧b
a
a∧c

a b
c

b+c
a ∧ (b + c)

Figura 2.2 Soma de dois bivectores.

2.2. Álgebra Geométrica do Plano

Para melhor consolidar as ideias anteriormente apresentadas vai-se definir a álgebra geométrica (de
Clifford) do plano, que se vai designar por Cl2 . O produto geométrico que atrás está definido

corresponde ao produto bilinear Cl2 × Cl2 → Cl2 . A base desta álgebra é constituída pelos quatro

(
elementos 2 2 = 4 )
1 escalar

10
e1 , e2 vectores

e12 bivector

e um elemento denominado multivector u ∈ Cl2 que é dado em geral por

u = u0 + u1e1 + u2e 2 + u12e12 ∈ cl2 , u0 , u1 , u2 , u12 ∈ \ . (2.16)

Trata-se de uma álgebra graduada de dim ( Cl2 ) = 4 , com


2
u=∑ u r
= u 0
+ u 1 + u 2 ∈ Cl2 (2.17)
r =0

u 0
= u0 , u 1 = u1e1 + u2e2 , u 2
= u12 e12 (2.18)

em que u r
é uma representa a projecção do multivector u no grau r .

2.2.1. Produtos notáveis

A base ortonormada da álgebra geométrica do plano é {e1 , e2 } tal que,

⎧1, i = j
ei ⋅ e j = δ ij = ⎨ (2.19)
⎩0, i ≠ j

onde se considerou o delta de Kronecker. Tendo um vector de comprimento r ∈ \ 2 , tal que


r = xe1 + ye 2 (2.20)

é dado por

r = x2 + y 2 . (2.21)

Introduz-se agora o produto de r por si próprio que se vai designar por r 2 = rr e que deve ser
igual ao quadrado do seu comprimento,
2
r2 = r . (2.22)

Em termos de coordenadas deve-se ter

r 2 = ( xe1 + ye 2 ) = x 2 + y 2 = r .
2 2
(2.23)

11
Se apenas se considerar que o produto em causa é distributivo e não comutativo tem-se que

r 2 = ( xe1 + ye 2 ) = x 2 e12 + y 2 e 22 + xy ( e1e 2 + e 2e1 ) = x 2 + y 2 .


2
(2.24)

Os vectores {e1 , e 2 } além de serem ortogonais devem obedecer a

e12 = e 22 = 1 (2.25)

e1e 2 = −e 2 e1 . (2.26)

Se se considerar o produto associativo têm-se ainda que

( e1e2 ) = ( e1e 2 )( e1e 2 ) = e1 ( e 2 e1 ) e 2 = −e1 ( e1e 2 ) e 2 = −e12 e22 = −1 .


2
(2.27)

Visto que o quadrado de e1e 2 é negativo, não pode ser nem um escalar nem um vector o que
significa que se trata de um bivector.
A álgebra geométrica do plano obedece assim à seguinte tabela multiplicativa:

Tabela 2.1 Produtos entre vectores.

e1 e2 e12

e1 1 e12 e2

e2 −e12 1 −e1

e12 −e 2 e1 −1

2.2.2. Álgebra Geométrica e os números complexos

Existe uma relação entre a álgebra geométrica Cl2 e o conjunto dos números complexos.

A álgebra Cl2 é a soma directa


2
Cl2 = \ ⊕ \ 2 ⊕ ∧ \ 2 . (2.28)

No sentido em que, se u = u0 + u1e1 + u2e 2 + u12e12 ∈ Cl2 , então


2
u = u0 + a + B, u0 ∈ \ , a ∈ \ 2 , B ∈ ∧ \ 2

u0 = u 0 → escalar

12
a = u1e1 + u2e2 = u 1 → vector

B = u12e12 = u 2
→ bivector

É ainda possível escrever


2
Cl2 = Cl2+ ⊕ Cl2− → parte par: Cl2+ = \ ⊕ ∧ \ 2 e parte ímpar Cl2− = \ 2 .

Os números complexos podem ser vistos assim como uma representação da sub-álgebra
geométrica par (álgebra constituída pelos elementos de grau par) de Cl2 . A sub-álgebra par de Cl2

representa-se por Cl2+ , e é composta por escalares e bivectores de Cl2 . Esta álgebra é fechada em
relação ao produto geométrico.
2
Dado que e12 = −1 , existe um isomorfismo Cl2+ ≅ ^ em que
z = x + ye12 ∈ Cl2+ → número complexo

x = ℜ ( z ) ∈ \ → número real
2
ye12 = ℑ ( z ) e12 ∈ ∧ \ 2 → bivector.

2.3. Análise de resultados

2.3.1. Lâminas

Ao produto exterior de vários vectores originam-se objectos aos quais se dá o nome de lâminas.
Lâmina de grau k é um objecto formado pelo produto exterior de k vectores linearmente
independentes a sua representação é dada por
Ak = a1 ∧ a 2 ∧ ... ∧ a k . (2.29)

Pode-se definir que uma lâmina de grau 0 é um escalar, de grau 1 é um vector e de grau 2 é
um bivector. No caso de se ter o produto externo de uma lâmina de grau k com um vector obtém-se
um objecto de grau k+1. Utilizando o mesmo tipo de raciocínio sabe-se que o produto externo entre
um bivector e um vector é um trivector.
Uma lâmina pode ser construída recorrendo a diferentes vectores tal como se mostra na Figura
2.3 desde que estes formem sempre o mesmo sub-espaço. Veja-se o seguinte exemplo se b ' = b + a a
lâmina a ∧ b ' também se pode escrever como
a ∧ b' = a ∧ ( b + a ) (2.30)

13
=a∧b+a∧a
=a∧b.

Como é sempre possível obter um vector b ' = b + a tal que a ⋅ b ' = 0 qualquer lâmina de grau
2 pode ser escrita como o produto geométrico de dois vectores ortogonais,
a ∧ b = a ∧ b ' = ab ' . (2.31)

b' = b + λa
b
a∧b
a∧b

a
a λa

Figura 2.3 Exemplos de lâminas.

A equação 2.31 é valida para lâminas de qualquer grau, podendo estas ser escritas como o
produto geométrico de vectores ortogonais entre si.

2.3.2. Produto entre vector e bivector

Como foi referido anteriormente o produto geométrico, entre vectores, pode ser decomposto em
produto interno e produto exterior. Neste ponto vai-se analisar o que sucede quando se pretende obter
o produto geométrico entre um vector e um bivector. Decompondo o vector a nas suas componentes
paralela e perpendicular ao plano definido pelo bivector B . Pode-se então escrever B recorrendo a
componente paralela de a , a|| , e a um vector b ortogonal a a|| e definido no plano B ,

B = a|| ∧ b = a||b . (2.32)

Sendo que a|| ⋅ b = 0 . Assim pode-se calcular o produto aB ,

aB = ( a|| + a ⊥ ) a||b (2.33)

= a||2b + a ⊥ a||b

= a||2b + a ⊥ ∧ a|| ∧ b .

14
Sendo que o primeiro termo é um vector e o segundo termo um trivector. Conclui-se então o
produto entre um vector e um bivector desenvolve um ter de grau 1 e de grau 3. Também no produto
geométrico entre vector e bivector pretende-se que possa ser decomposto em produto interno e exterior
tal como acontece quando se tem o produto geométrico entre dois vectores. É importante referir que o
produto interno entre um vector e um bivector diminui o grau do bivector, e que o produto exterior
aumenta o grau. Assim pode-se definir,
aB = a ⋅ B + a ∧ B . (2.34)

Comparando com a equação 2.33 pode-se escrever


a ⋅ B ≡ a||2b = a|| B = a|| ⋅ B (2.35)

a ∧ B ≡ a ⊥ a||b = a ⊥ B = a ⊥ ∧ B . (2.36)

Conclui-se que o produto interno entre um vector e um bivector é anti-simétrico e que o


produto exterior é simétrico como se demonstra nas seguintes equações,
a ⋅ B = a|| B = a||a||b = −a||ba|| = − Ba|| = − B ⋅ a (2.37)

a ∧ B = a ⊥ B = a ⊥ a||b = a||ba ⊥ = Ba ⊥ = B ∧ a . (2.38)

O que é precisamente o contrario do que se passa com o produto interno e exterior entre
vectores. O produto interno entre um vector e um bivector é igual ao produto interno entre a
componente paralela do vector e o bivector, que põe sua vez é igual ao produto geométrico de ambos,
a ⋅ B = a|| ⋅ B = a|| B . (2.39)

No que diz respeito ao produto exterior passa-se o mesmo mas com a componente ortogonal do vector
a ∧ B = a⊥ ∧ B = a⊥ B . (2.40)

Geometricamente o produto interno a ⋅ B resulta num vector coplanar com B e que é


ortogonal à projecção de a em B , e o produto exterior resulta nem trivector formado pela
componente ortogonal de vector a e pelo bivector B . O resultado de ambos os produtos está
exemplificado na Figura 2.4.

15
a⋅B
a∧B

a
b B = a||b a⊥
B

a||

Figura 2.4 Produto de um vector por um bivector.

No produto geométrico entre um vector e uma lâmina de grau 2 obtém-se


1
a⋅B = ( aB − Ba ) (2.41)
2

1
a∧B= ( aB + Ba ) . (2.42)
2

2.3.3. Projecção de um vector

Tendo o inverso do bivector B


ba||
B −1 = (2.43)
b 2a||2

Podemos multiplica-lo pelas seguintes equações


a|| = ( a ⋅ B ) B −1 (2.44)

a ⊥ = ( a ∧ B ) B −1 . (2.45)

Na Figura 2.5 está representada a decomposição do vector, obtida pelas fórmulas anteriores.
Deve-se notar que o bivector se pode expressar em função de outros pares de vectores além de a|| e b ,

não sendo 2.44 e 2.45 possíveis apenas quando se sabe à partida que B = a|| ∧ b = a||b . As fórmulas da

projecção e rejeição continuam válidas caso o bivector seja substituído por uma lâmina de grau
superior (ou inferior, caso em que se pretende a componente paralela e ortogonal a um vector).

16
a ⊥ = a ∧ BB −1
a
a

B
a|| = a ⋅ BB −1 B

Figura 2.5 Projecção e rejeição de um bivector.

2.3.4. Quadrado de um bivector

Para se calcular o quadrado de um bivector, a ∧ b , utiliza-se a expansão do produto exterior dado em


2.11,

(a ∧ b ) = ( ab − a ⋅ b )( a ⋅ b − ba )
2
(2.46)

= a 2b 2 − ( a ⋅ b ) + ( a ⋅ b )( ab + ba )
2

= ( a ⋅ b ) − a 2b 2 .
2

Como o produto interno entre vectores é a ⋅ b = a b cos (θ ) então,

(a ∧ b ) = −a 2 b 2 sin (θ ) .
2
(2.47)

2.4. Álgebra Geométrica do Espaço

Considere-se agora o espaço tridimensional \ 3 , neste espaço existem vectores e bivectores. É


importante referir que dois bivectores (representados por letras maiúsculas) são iguais se tiverem a
mesma magnitude e direcção
A = B ⇔ A = B e A ↑↑ B . (2.48)

O que significa que a forma não é relevante, ou seja, o mesmo bivector pode ser representado
por formas diferentes. Como o bivector pode ser expresso através do produto exterior é importante
realçar o sentido de rotação.

17
a

−A = b ∧ a
b b
A=a∧b

Figura 2.6 Representação de bivectores.

Os bivectores podem ser adicionados e multiplicados por escalares e constituem um espaço


2
linear designado por ∧ \ 3 . Seja {e1 , e 2 , e3 } a base ortonormada de \ 3 então a base para o espaço

linear dos bivectores é


e1 ∧ e2 , e1 ∧ e3 , e2 ∧ e3 (2.49)

2.4.1. Trivectores

Um trivector é o produto exterior de três vectores e vai ser representado por V pois corresponde a um
volume orientado. O volume é o paralelepípedo de arestas a , b e c .

a1 a2 a3
V = a ∧ b ∧ c = b1 b2 b3 e1 ∧ e 2 ∧ e3 (2.50)
c1 c2 c3

⎧a = a1e1 + a2e 2 + a3e3 a1 a2 a3



⎨b = b1e1 + b2e 2 + b3e3 ⇒ V = a ∧ b ∧ c = b1 b2 b3 e1 ∧ e 2 ∧ e3 (2.51)
⎪c = c e + c e + c e
⎩ 1 1 2 2 3 3 c1 c2 c3

V = β e1 ∧ e2 ∧ e3 (2.52)

Geometricamente o trivector pode ser interpretado como já foi referido anteriormente como
sendo um paralelepípedo que se obtém quando se faz o bivector ( a ∧ b ) , por exemplo, percorrer o

vector c . Na Figura 2.7 esta uma representação de um trivector. Caso os vectores sejam linearmente
independentes o resultado deverá ser nulo, e o contrário também é verdadeiro, se o produto exterior de
um grupo de vectores for diferente de zero então estes são linearmente independentes. Utilizando a
propriedade associativa e a a ∧ b = −b ∧ a tem-se que
a∧b∧c =c∧a∧b =b∧c∧a (2.53)

18
b
a∧b

a
Figura 2.7 Representação de um trivector.

O espaço linear dos trivectores tem dimensão um

⎛3 3
dim⎜ ∧ \ ⎞⎟ = 1
⎝ ⎠
e a sua base e1 ∧ e 2 ∧ e3 .
O produto exterior é também para o trivector associativo e anti-simétrico.

2.4.2. Álgebra geométrica de Clifford

A álgebra geométrica de Clifford designa-se por Cl3


2 3
Cl3 = \ ⊕ \ 3 ⊕ ∧ \ 3 ⊕ ∧ \ 3 .

Seja {e1 , e 2 , e3 } a base ortonormada de \ 3 tal que ei ⋅ e j = δ ij , sendo δ ij o delta de Kronecker.

⎧1, i = j
ei ⋅ e j = δ ij = ⎨
⎩0, i ≠ j

Sendo i e j índices que representam elementos do conjunto {1,2,3}. Aplicando sucessivamente


o produto geométrico entre os versores obtém-se
Tabela 2.2 Correspondência entre a Álgebra de Clifford e a Álgebra de Gibbs

Cl3 ∧ \3
1 1
e1 , e 2 , e3 e1 , e 2 , e3

e12 = e1e 2, e13 = e1e3 , e 23 = e 2 e3 e1 ∧ e 2 , e1 ∧ e3 , e 2 ∧ e3

e123 = e1e 2e3 e1 ∧ e 2 ∧ e3

19
sendo a base de Cl3

base( Cl3 ) = {1 { e1 , e 2 , e3 } { e1e 2, e1e3 , e 2e3 } e1e 2 e3 }

verifica-se que Cl3 é um espaço linear de dimensão 8.

dim( Cl3 ) = 23 = 8.

2.4.3. Produto geométrico

Tal como acontece no plano também no espaço o produto geométrico dá um multivector ( u ∈ Cl3 ). As
equações mantém-se iguais a 2.12, 2.13 e 2.14.
⎧ 1
⎪ a ⋅ b = ( ab + ba )
⎧ ab = a ⋅ b + a ∧ b ⎪ 2
a, b ∈ \ 3 ⇒ ⎨ ⇒⎨
⎩ ba = a ⋅ b − a ∧ b ⎪a ∧ b = 1 ( ab − ba )
⎪⎩ 2

ab = ba ⇔ a || b ⇔ a ∧ b = 0 ⇔ ab = a ⋅ b
ab = −ba ⇔ a ⊥ b ⇔ a ⋅ b = 0 ⇔ ab = a ∧ b

⎛ 1 ⎞
a, b ∈ \ 3 6 a −1 ∈ \ 3 , a −1 = ⎜ 2 ⎟ a (2.54)
⎝a ⎠

b b sin (θ )

a
b cos (θ )

Figura 2.8 Representação do produto geométrico.

a ⋅ b = a b cos (θ ) (2.55)

a ∧ b = a b sin (θ ) (2.56)
2 2 2 2
a⋅b + a ∧ b = a b (2.57)

20
a∧b ≤ a b . (2.58)

Sendo que ab = a b

( a ∧ b ) = ( ab − a ⋅ b )( a ⋅ b − ba ) = ( a ⋅ b )( ab + ba ) − ( a ⋅ b ) − abba =
2 2

2 ( a ⋅ b ) − ( a ⋅ b ) − a 2 b 2 = ( a ⋅ b ) − a 2b 2 = a 2b 2 cos 2 (θ ) − a 2b 2
2 2 2
(2.60)
( a ∧ b ) = ( a ⋅ b ) − a 2b 2 = −a 2b 2 sin 2 (θ ) ≤ 0
2 2

Conclui-se que no espaço


dim ( Cl3 ) = 23 = 8

u= u 0
+ u 1+ u 2
+ u 3 ∈ Cl3 → soma graduada

u = α + a + be123 + β e123 , α , β ∈ \ , a, b ∈ \ 3

u 0
= α ∈ \ → escalar

u 1 = a ∈ \3 → vector
2
u 2
= B = be123 ∈ ∧ \3 → bivector
3
u 3
= V = β e123 ∈ ∧ \3 → trivector ou pseudoescalar

2.5. Álgebra geométrica do espaço-tempo de Minkowski

Nesta secção vai-se definir a álgebra geométrica do espaço-tempo de Minkowski, seguindo o


formalismo de [3], que se vai designar por Cl1,3 . A utilização da álgebra geométrica permite escrever

as equações fundamentais numa forma invariante sem referência a nenhum sistema de coordenadas,
também permite de uma forma simples a integração do espaço Euclidiano tridimensional mais o tempo
relativo que um dado observador é capaz de medir, com o espaço-tempo invariante e absoluto.
Define-se o espaço-tempo de Minkowski como sendo um espaço linear de dimensão 4.
Seja {e0 , e1 , e2 , e3 } uma base ortogonal para o espaço de Minkowski, um qualquer vector

acontecimento x quando projectado nesta base será,


x = x0e0 + xi ei . (2.61)

A forma quadrática associada ao espaço Cl1,3 , assume a forma (2.62), e deriva dos dois

postulados de Einstein da teoria de relatividade restrita: 1) Princípio da relatividade de todas as leis


físicas; 2) Velocidade da luz no vácuo constante.

21
Q(t , x, y, z ) = (ct ) 2 − x 2 − y 2 − z 2 (2.62)

Q(t , x, y, z ) = 0 define o ponto de vista do observador e0 . As componentes do vector x representam:

x0 = ct a coordenada temporal multiplicada pela velocidade da luz no vácuo; x1 = x , x2 = y e x3 = z

as coordenadas espaciais. No referencial e μ o produto interno entre vários versores é

e0 ⋅ e0 = 1 e ei ⋅ e j = −δ ij . (2.63)

O versor e0 designa-se por versor temporal, e os versores ei e e j por versores espaciais. Se se

multiplicar (2.61) pelo versor e0 obtém-se,

xe0 = ct + xi ei e0 = ct + x . (2.64)

A parte escalar ct é a coordenada temporal do acontecimento, o bivector x é de dimensão 3, e


as suas componentes são as coordenadas espaciais do acontecimento. Atendendo ao facto que x é
invariante e independente do referencial considerado, pode-se dizer que no caso geral o produto de um
vector por um versor temporal permite decompor um vector invariante de Cl1,3 nas componentes

temporais e espaciais relativas a um dado referencial.


ct = x ⋅ e0 (2.65)

x = x ∧ e0 (2.66)

A este mecanismo de decomposição de quantidades invariantes em quantidades relativas a um


dado observador dá-se o nome de vector espaço-tempo. Este é único para um dado versor temporal,
considerando-se que um referencial fica completamente definido pelo seu versor temporal. Usando
este método é possível derivar a magnitude invariante de um vector, através de (2.64)
e0 x = x ⋅ e0 − x ∧ e0 (2.67)

a magnitude de x será

x 2 = ( xe0 )( e0 x ) = ( ct + x )( ct − x ) = ( ct ) − x 2 .
2
(2.68)

A magnitude de um vector invariante deve ser também um invariante, o que se verifica pelo
facto de x 2 não depender de nenhum versor de nenhuma base.

22
2.5.1. Bases de Cl1,3

A álgebra Cl1,3 é composta por elementos de grau 0 a 4 (escalar, vector, bivector, trivector e

pseudoescalar), tendo cada sub-espaço as seguintes dimensões


dim (Cl1,3 ) = Cl10,3 + Cl11,3 + Cl12,3 + Cl13,3 + Cl14,3 = 1 + 4 + (3 + 3) + 4 + 1 = 16 (2.69)

assim, em Cl1,3 existem relações de dualidade entre escalar e pseudoescalar, entre vectores e

trivectores e entre os bivectores. O pseudoescalar é I = e0e1e2 e3 , sendo o seu quadrado negativo

I 2 = e0 e1e 2 e3e3e 2 e1e0 = −1 (2.70)

o pseudoescalar anti-comuta com todos os vectores,


aI = − Ia . (2.71)

O espaço de bivectores divide-se em dois grupos {ei e0 ei e j } , o dos bivectores temporais

composto por todos aqueles que têm como factor o versor temporal, e0e j , e o grupo dos bivectores

espaciais, ei e j . Os bivectores espaciais quando elevados ao quadrado devolvem − 1 , e os bivectores

temporais 1. Conclui-se assim que os bivectores do tipo x têm magnitude positiva.

( ei e0 )
2
=1 (2.72)

(e e )
2
i j =1 (2.73)

Como a magnitude dos vectores relativos é sempre positiva, a magnitude dos vectores
próprios, calculada em (2.68), tanto pode ser positiva como negativa. Os vectores cujo quadrado é
positivo a 2 > 0 designam-se por vectores tipo tempo, os vectores com quadrado negativo a 2 < 0 são
vectores tipo espaço e os vectores com a 2 = 0 são do tipo luz.
Os bivectores base temporais são duais dos bivectores espaciais, ou seja Ie1e0 = e3e2 , podendo

assim a base para o espaço dos bivectores ser representada por {ei e0 Iei e j } . A base para o espaço dos

trivectores pode ser { Ie μ } visto estes serem duais dos vectores.

base(Cl1,3 ) = {1 e μ ei e0 , ei e j Ie μ I }

23
2.5.2. Tempo próprio e velocidade própria

Considere-se a trajectória a ( λ ) de uma partícula no espaço-tempo. Esta trajectória admite várias

parametrizações em função de diferentes parâmetros no entanto deve existir uma parametrização para
a qual vários observadores concordem acerca do valor do parâmetro. É o caso do comprimento de arco
da trajectória que para intervalos infinitesimalmente próximos representa-se por cdτ , observando
(2.68) este comprimento resulta em

( cdτ ) = ( cdt ) − ( da ) .
2 2 2
(2.74)

Ao parâmetro τ dá-se o nome de tempo próprio visto que corresponde ao tempo medido num
referencial solidário com a partícula, neste caso da = 0 . Com base neste parâmetro define-se a
velocidade própria, que é também um invariante visto que resulta da diferenciação de um vector
invariante por um parâmetro invariante.
. da
u (τ ) = a (τ ) = (2.75)

Considerando o vector posição de uma partícula representado no seu próprio referencial e


sabendo que neste caso t = τ , tem-se através de (2.61) que
d
u= ( cτ e0 ) = ce0 (2.76)

e
u2 = c2 . (2.77)
.
Um referencial diz-se inercial se se verificar u = 0 . Considere-se agora a velocidade própria
de uma partícula em relação ao referencial inercial
. da
u (τ ) = a (τ ) = = γ ( t ) ⎡⎣ ce0 + v ( t ) ⎤⎦ . (2.78)

dt
O factor de escala entre os tempos medidos nos dois referenciais é γ = .

−1
⎛ v2 ⎞ 2
γ = ⎜1 − 2 ⎟ (2.79)
⎝ c ⎠

Introduzindo o parâmetro β 2 =
v2
c 2
, pode-se rescrever (2.79) na forma γ = 1 − β 2 ( )
−1
2
.

∧ ∧
Definindo-se v = c β v tal que v = 1 , o vector velocidade própria da partícula pode escrever-se como

24
⎛ ∧

u = γ ( u + v ) = cγ ⎜ e0 + β v ⎟ . (2.80)
⎝ ⎠

A velocidade própria u = ce0 , do referencial definido por e0 , relaciona-se com v através do

⎛ ∧

multivector par composto por um escalar e um bivector b = γ ⎜1 + β B ⎟ , podendo este ser escrito
⎝ ⎠
∧ ∧
recorrendo à função exponencial. Como o quadrado do bivector B = v e0 é positivo e define-se

cosh (ζ ) = γ (2.81)

sendo que
sinh (ζ ) = γβ . (2.82)

Obtém-se assim, a expressão da velocidade própria através da função exponencial


⎛ζ ∧ ⎞ ⎛ ζ ∧⎞
∧ ⎜ B⎟ ∧ ⎜− B⎟
u=e ⎝2 ⎠
ve ⎝ 2 ⎠
. (2.84)

Esta equação é idêntica à utilizada nas rotações espaciais, sendo b um boost


⎛1 ∧⎞
⎜ ζ B⎟ ⎛ζ ⎞ ⎛ζ ⎞ ∧
b=e ⎝2 ⎠
= cosh ⎜ ⎟ + sinh ⎜ ⎟ B . (2.85)
⎝2⎠ ⎝2⎠

∧ ∧
Que neste caso realiza a transformação entre o observador u e v ,
∧ ∧
b2 = − u v (2.86)
com
⎛ ∧ ⎞
⎛ ∧
⎞ ⎜ζ B ⎟ ∧
b = γ ⎜ 1 + β B ⎟ = e⎝ ⎠ = cosh (ζ ) + sinh (ζ ) B .
2
(2.87)
⎝ ⎠

As rotações deste género, entre vectores de velocidade própria, vectores do tipo tempo, que
são geradas por rotors cujo plano de rotação é definido por vector relativo e são designadas por
rotações do tipo boost.

2.5.3. Aceleração própria

Tal como se definiu a velocidade própria vai-se agora definir a aceleração própria de uma partícula,

25
. .. du d 2 a
u (t ) = a (t ) = = . (2.88)
dτ dτ 2

Nota-se assim que a velocidade própria é sempre ortogonal à aceleração própria,

( u ⋅ u ) = 2 ⎜⎛ u⋅ u ⎟⎞ = 0
d .

dτ ⎝ ⎠
.
u⋅ u = 0

Este vector é também invariante pelas mesmas razões referidas anteriormente no caso da
velocidade própria. A aceleração própria num referencial inercial realiza-se também do mesmo modo.
.. . dγ
a (t ) = u (t ) = γ 2 (t ) g (t ) + u (t ) (2.89)
dt

onde g é a aceleração relativa medida no referencial e0 , e que

dv
g (t ) = . (2.90)
dt

2.5.4. Momento linear próprio

O momento linear próprio de uma partícula com velocidade própria u define-se através da seguinte
expressão,
q = mu . (2.91)
Onde m representa a massa da partícula em repouso. Utilizando o mesmo processo da velocidade
própria e da aceleração própria, obtém-se em relação a e0 ,

q = mu = γ m ( ce0 + v ) = ( γ mc ) e0 + p . (2.92)

O termo p é assim o vector relativo do momento linear,


p = γ mv . (2.93)

Tal como nos casos anteriores pode-se calcular a magnitude invariante do momento linear relativo,
p 2 = γ 2 m 2 v 2 = −γ 2 m 2 v 2 < 0 . (2.94)

Define-se, ainda, a energia total da partícula como sendo Ε = γ mc 2 e que Ε0 = mc 2 é a


energia própria.

26
Assim termina a apresentação das diversas grandezas próprias, velocidade, aceleração e
momento linear próprios.

2.5.5. Efeito fotoeléctrico

Nas secções anteriores viu-se que para uma partícula em movimento num dado referencial, a

velocidade relativa é dada por v = c( Ε ) p , em que Ε = γ (v)mc


2
2
e p = γ ( v ) mv . Admitindo que a

radiação electromagnética é constituída por fotões, e que a velocidade destas partículas elementares
será em qualquer referencial, dada por v = c , sabe-se assim que a energia de um fotão é Ε = cp .
O efeito fotoeléctrico, em pormenor no anexo B, descoberto por Heinrich Hertz (1875-1894)
em 1887, foi mais tarde interpretado por Albert Einstein em 1905. Nesta interpretação, a energia
cinética dos electrões que são separados do metal através da radiação incidente provocam uma
corrente eléctrica dada por Τ = mv 2 / 2 = hf − W , onde W representa a energia que não depende da
frequência e é uma característica do metal, h representa a constante de Planck e f a frequência da
radiação incidente. De acordo com a interpretação de Einstein, o efeito fotoeléctrico explica-se pelo
facto da radiação incidente ser constituída por fotões em que a energia do fotão transporta um
momento linear p = Ε c , pelo que se pode inferir que Ε = hf = cp . Pode-se assim concluir que o
momento linear relativo do fotão é dado por,
hf h
p= = . (2.95)
c λ

Sendo λ = c f o comprimento de onda da radiação electromagnética. Como = = h 2π ,


constante reduzida de Planck, e ω = 2πf , frequência angular, pode-se inferir que Ε = =ω e p = =k ,

sendo k = 2π λ a constante de propagação da radiação incidente. Para que o efeito fotoeléctrico


aconteça é assim necessário que a frequência da radiação incidente seja superior a um limiar mínimo,
limiar essa que é precisamente o valor da energia de um fotão,
W
f ≥ f min = . (2.96)
h

A variação electromagnética não varia continuamente uma vez se encontra discretizada em


quanta, ou seja a sua variação é discreta. Abordando o efeito fotoeléctrica através da álgebra
geométrica de espaço-tempo pode-se ver que,
Ε
q= e0 + p → q = =I → q 2 = = 2 I 2 . (2.97)
c

27

Sendo q o momento linear próprio do fotão. p = h λ = =k em que k = k k é o vector de onda

⎛ ∧

relativo e I = ω c ⎜ e0 + k ⎟ , o vector de onda próprio do fotão sendo que para I 2 = 0 o vector é do
⎝ ⎠
tipo luz.

2.5.6. Efeito de Compton

O efeito Compton (Anexo C) é outra das experiências que permite perceber as ideias anteriormente
expostas. Esta é a experiência de Arthur Compton (1892-1962) que em 1922 estabelece a natureza
corpuscular do fotão.

λ2

k2
θ
λ1

∧ m φ
k1

∧ Electrão
v
Figura 2.9 Efeito de Compton.

Através da Figura 2.9 pode-se ver que um fotão de onda λ1 colide com um electrão em

repouso de massa m . Após a colisão o fotão passa a ter um comprimento de onda λ2 e é desviado

com um ângulo θ . Em relação ao electrão, este inicia um movimento ao longo de uma direcção que
faz um ângulo φ com a direcção do fotão incidente.
A equação (2.98) representa o momento linear do fotão antes da colisão já a equação (2.99)
representa o momento linear após a colisão.
=ω1 ⎛ ∧

q1 = ⎜ 0
e + k 1⎟ (2.98)
c ⎝ ⎠

=ω2 ⎛ ∧

q2 = ⎜ 0
e + k 2⎟ (2.99)
c ⎝ ⎠

28
Em relação ao electrão, o seu momento linear antes da colisão é
Ε
q= e0 . (2.100)
c

A equação seguinte representa o momento linear do electrão após a colisão

Ε'
q' = e0 + p ' . (2.101)
c

Para que haja conservação do momento linear é necessário que


q1 + q = q 2 + q ' . (2.102)

Manipulando algebricamente a equação (2.102) obtém-se q ' ⋅ q 2 = q1 ⋅ q ' . Da álgebra

∧2 ∧2 ∧ ∧
geométrica sabe-se que q1 ⋅ q 2 = q1 ⋅ q − q ⋅ q 2 como k1 = k 2 = 1 , k1 ⋅ k 2 = − cos (θ ) ,
∧ ∧
k 1 ⋅ v = −v cos (φ ) e a energia é Ε = mc 2 obtém-se,

=2
ω1ω2 ⎡⎣1 − cos (θ ) ⎤⎦ = =ω1m − =ω2 m . (2.103)
c2

O comprimento de onda de Compton é λc = h mc . Voltando à equação (2.102), conservação

do momento linear é possível retirar através desta a energia cinética do electrão após a colisão.

⎧ =ω1 =ω2
⎪ + mc = + γ ( v ) mc
⎪ c
→ Τ = = (ω1 − ω2 )
c
q1 + q = q 2 + q → ⎨
'
(2.104)
⎪ =ω2 k 2 + γ ( v ) mv

⎪⎩ c

Sendo que Τ representa a energia cinética do electrão após a colisão e Ε ' = γ ( v ) mc e

p ' = γ ( v ) mv . A energia cinética adquirida pelo electrão, após a colisão, corresponde à diminuição de

=ω1 γ − 1 ω
energia retirada ao fotão. Como α = e = 1 − 2 pode-se verificar que
mc 2
α ω1
Τ γ −1 ω
= = 1− 2 .
=ω1 α ω1

Recorrendo às equações anteriores, nomeadamente a equação (2.103) é possível exprimir a energia


cinética em função do ângulo θ .

29
2α tan 2 (θ 2 )
Τ (θ ) = ( =ω1 ) (2.105)
(1 + 2α ) tan 2 (θ 2 ) + 1

É também possível exprimir a energia cinética em função do ângulo φ .


Τ (φ ) = ( =ω1 ) (2.106)
1 + 2α + (1 + α ) tan 2 (φ )
2

Igualando as expressões (2.105) e (2.106) da energia cinética, obtém-se a seguinte relação entre os
dois ângulos.

⎛θ ⎞
cot (φ ) = (1 + α ) tan ⎜ ⎟ (2.107)
⎝2⎠

Sendo que esta relação exprime o efeito de Compton. Através das expressões anteriores para a
energia cinética verifica-se que para θ = 0 a energia cinética é nula, ou seja o electrão permanece
imóvel e que o valor máximo da energia cinética dá-se para θ = π .
=ω1
Τmáx = (2.108)
1 ⎛ mc 2 ⎞
1+ ⎜ ⎟
2 ⎝ =ω1 ⎠

2.5.7. Dualismo onda-corpúsculo

Em 1923 Louis de Broglie (1892-1987) propôs uma nova teria em que toda a matéria tem
simultaneamente uma natureza corpuscular e ondulatória. Segundo de Broglie qualquer partícula, tal
como o fotão, deverá ter uma energia Ε = =ω sendo que a única diferença é que a massa não tem que
ser propriamente nula. A qualquer partícula é possível atribuir um vector de onda próprio e a equação
q = =I é assim universal, aplicando-se a qualquer partícula. Associando esta teoria à álgebra
geométrica obtém-se as seguintes equações.
2 2
ω ⎛ω ⎞ ⎛ω ⎞
I = e0 + k → I = ⎜ ⎟ + k 2 = ⎜ 0 ⎟
2
(2.109)
c ⎝c⎠ ⎝ c ⎠

Sendo que I representa o vector de onda próprio. q tal como se apresentou anteriormente representa
o momento linear próprio.

30
Ε ⎛ω ⎞
q= e0 + p = = ⎜ e0 + k ⎟ (2.110)
c ⎝c ⎠

E finalmente o dualismo onda-corpúsculo,


q = =I .

A conclusão a que se pode chegar ao longo deste capítulo sobre a álgebra geométrica, é que
esta é uma ferramenta poderosa para tratar temas da Física em geral. O que ficou demonstrado em
especial no tratamento de temas da mecânica quântica como o efeito fotoeléctrico, efeito de Compton
e por ultimo o dualismo onda-corpúsculo. Outra das grandes vantagens da álgebra geométrica é o facto
desta não se limitar ao espaço \ 3 , sendo que este factor bastante importante para a física, pois é no
espaço-tempo quadridimensional, nomeadamente no espaço-tempo de Minkowski que se aprofundam
temas como os referidos anteriormente.

31
32
Capítulo 3. Mecânica quântica

3.1. Dualismo onda-corpúsculo

Primeiro com a lei da radiação de Max Planck e depois com a teoria do efeito fotoeléctrico de Albert
Einstein começou a ganhar corpo a ideia de que a radiação electromagnética existia em pequenas
quantidades indivisíveis, denominadas quanta. Mais tarde o quantum de radiação electromagnética
receberia o nome de fotão sendo a sua energia ε = =ω . A Louis de Broglie deve-se a hipótese de que
qualquer partícula tem uma onda fictícia associada de frequência ω = 2π λ sendo a sua energia
própria Ε = =ω . Ao comprimento de onda λ dá-se o nome de comprimento de onda de de Broglie.
Com Erwin Scrödinger nasce a chamada mecânica ondulatória e mais tarde, com Paul Dirac, o
formalismo abstracto da mecânica quântica foi desenvolvido em toda a sua generalidade no âmbito
dos espaços de Hilbert. O dualismo onda-corpúsculo de de Broglie deve ser entendido em termos
macroscópicos e deve ser interpretado como tendo simultaneamente aspectos ondulatórios e aspectos
corpusculares [2]. É o facto da constante de Planck ser tão pequena h = 6.62606876 × 10 −34 Js que faz
como que, no nosso mundo macroscópico, seja tão nítida a separação entre as realidades ondulatórias
e corpusculares.
h
== = 1.054572 × 10 −34 Js

em que = representa a constante de Planck reduzida.


A ideia de introduzir uma, função de onda, Ψ para descrever a mecânica de cada partícula
implica que se deve considerar esta grandeza como um feixe de ondas planas e não como uma simples
onda plana. Com efeito, uma onda plana tem uma amplitude Ψ que é constante em todo o espaço.
+∞
1
Ψ ( x, t ) = ∫ Φ(k )e
[i ( kx −ϖt )]
dk → feixe de ondas planas (3.1)
2π −∞

A velocidade clássica da partícula deverá, assim, ser identificada com a velocidade de grupo do feixe
de ondas planas.

33
dω c2k c2 k c2
vg = = = = (3.2)
dk a 2 + ( ck )
2 ω vp

em que v g é a velocidade de grupo de ondas.

p2
Ε= (3.3)
2m

p ∂Ε
vp = = (3.4)
m ∂p

1
γ= (3.5)
v2
1− 2
c

Ε é representa a energia de uma partícula livre e v p a velocidade da partícula e γ o coeficiente de

dilatação do tempo.
Da mecânica clássica sabe-se que a variação de energia dΕ , por acção de uma força exterior é
dΕ = vdp , em que v é a velocidade e p o momento linear. Da mecânica relativística sabe-se também

mc 2 mv
que, para um partícula, Ε = = γmc 2 e p = = γmv , pelo que relacionando as
2
v v2
1− 2 1− 2
c c
v
expressões se pode concluir que p = Ε.
c2
⎛ = ⎞
m = a⎜ 2 ⎟ e ω = a 2 + ( ck ) → equação de dispersão
2
(3.6)
⎝c ⎠

Em seguida deduziu-se o comprimento de onda de de Broglie λ ,


⎧ ∂Ε ∂ω
⎪⎪v = ∂p = = ∂p ∂p
v = vg ⇒ ⎨ ⇒ = = ⇒ p = =k + p 0 (3.7)
⎪v = ∂ϖ ∂k
⎪⎩ g ∂k

+ x → p = =k + p 0
⇒ p0 = 0
− x → p = −=k + p0

h 2π h
e assim p = =k ou p = = .
2π λ λ

34
O comprimento de onda de de Broglie é
h
λ= . (3.8)
p
Fica assim relacionado o momento linear, que é uma grandeza típica de uma partícula, com o
comprimento de uma onda.
Com base em [2] têm interesse também mostrar como as relações universais de de Broglie,
Ε = =ω e p = =k , são compatíveis com a teoria da relatividade restrita. Veja-se como se relacionam
_
os intervalos de tempo medidos em dois referenciais, S e S , em que S representa o referencial do
_
laboratório e S o referencial próprio.
⎡i ( kx −ω t )⎦⎤
S → Ψ ( x, t ) = Ψ 0 e ⎣
⎡⎛
⎢i ⎜ − w t ⎟ ⎥
_ _ ⎞⎤
(3.9)
_
⎛ _ _⎞
S → Ψ ⎜ x, t ⎟ = Ψ 0 e ⎢⎣ ⎝ ⎠⎥⎦
⎝ ⎠

_
Ε0 mc 2
ω= = (3.10)
= =

_
⎛ v ⎞
Com base na transformação de Lorentz t = γ ⎜ t − ⎟ , e sabendo que a invariância da fase é
⎝ c2 x ⎠

_ _
ϕ = ωt − kx = ω t , pode-se tirar que
⎧ γmc 2 Ε
⎛ mc ⎞ ⎡ ⎛ ⎪ ω = =
2
v ⎤
ϕ = ωt − kx = ⎜⎜ ⎟ ⎢γ ⎜ t − 2 x ⎞⎟⎥ ⇒ ⎪⎨ = = (3.11)
= ⎟ ⎝ c ⎠ γ
⎝ ⎠⎣ ⎦ ⎪k = mv
=
p
⎩⎪ = =

Ε p
e são assim as duas equações fundamentais da mecânica ondulatória.
= =

3.2. Feixes em mecânica quântica ondulatória

A análise de Fourier permite lançar alguma luz sobre o dualismo onda-corpúsculo da mecânica
ondulatória. Têm particular relevância dois pares de Fourier, o par constituído por Ψ0 (x ) e por

Φ 0 ( p x ) para t = 0 , e o par constituído por Ψ (x, t ) e Φ( p x , t ) para qualquer instante t . Atendendo a

35
que p x = =k x e sabendo que no caso geral a função ω = ω (k x ) não é linear a relação entre Ψ (x, t ) e

Ψ0 ( x ) pode ser complicada. A probabilidade de uma partícula se encontrar entre x e x + dx é dada

por P(x, t )dx = Ψ (x, t ) dx . Por sua vez a probabilidade do momento linear da partícula se encontrar
2

entre p x e p x + dp x é dada por P( p x , t )dp x = Φ ( p x , t ) dp x .


2

1 ∞
Ψ ( x, t ) = Φ 0 (k x )e [i (k x x −ωt )]dk x → feixe de ondas planas
2π ∫
(3.12)
−∞

para t = 0 tem-se que Ψ0 (x ) ≡ Ψ (x,0 ) .


Tendo o par Fourier igual a
⎧ 1 ∞
⎪Ψ0 ( x ) = 2π −∞ Φ 0 (k x )e
(ik x x )
⎪ ∫ dk x
⎨ (3.13)
⎪Φ (k ) = 1

Ψ0 ( x )e (−ik x x )dx

⎪⎩ 0 x
2π − ∞

E sabendo através das relações universais de de Broglie que, Ε = =ϖ e p = =k conclui-se que o

primeiro par de Fourier constituído por Ψ0 (x ) e por Φ 0 ( p x ) para t = 0 é igual a

⎧ 1 ∞
⎛i ⎞
⎜ px x ⎟
⎪Ψ0 (x ) = Φ 0 ( p x )e ⎝ = ⎠ dp x
⎪ 2π= −∞ ∫
⎨ (3.14)
⎛ i ⎞
⎪ 1 ∞ ⎜ − px x ⎟
⎪Φ 0 ( p x ) = Ψ0 (x )e
∫ ⎝ = ⎠
dx
⎩ 2π= −∞

⎛ i ⎞
⎜ − Εt ⎟
que para caso geral fica Φ( p x , t ) = Φ ( p x ,0)e ⎝ = ⎠
e Φ 0 ( p x ) ≡ Φ( p x ,0) .

Em relação ao segundo par Fourier constituído por Ψ (x, t ) e Φ( p x , t ) para qualquer instante
t . Tem-se que o feixe de ondas planas é

⎧ 1 ∞
⎛i ⎞
⎜ px x ⎟
⎪Ψ ( x , t ) = Φ ( p x , t )e
⎪ 2π= −∞ ∫ ⎝= ⎠
dp x
⎨ . (3.15)
⎛ i ⎞
⎪ 1 ∞ ⎜ − px x ⎟
⎪Φ ( p x , t ) = Ψ (x, t )e
∫ ⎝ = ⎠
dx
⎩ 2π= − ∞

Um determinado estado quântico pode ser descrito tanto no espaço das coordenadas, ou seja
através de Ψ (x, t ) , como no espaço do momento linear, através de Φ( p x , t ) .

36
3.3. Princípio de incerteza de Heisenberg

O movimento de uma partícula de massa m , com velocidade v , pode ser descrito como a propagação
de uma onda de comprimento de onda λ , que de acordo com a relação de de Broglie, p = h λ . Para
definir a posição a posição de uma partícula, tem-se que descrever o seu movimento como o de um
grupo de ondas, como por exemplo a sobreposição de várias ondas planas, com comprimentos de
ondas ligeiramente diferentes que interferem na vizinhança de um ponto x . A extensão do grupo de
ondas Δx é a incerteza na posição da partícula.
A relação de incertezas na posição e no momento constitui um dos aspectos do princípio de
incerteza de Heisenberg [1], [2]. É um facto da análise de Fourier que a largura de uma risca espectral,
Δf , multiplicada pelo tempo, Δt , durante o qual a onda é emitida ou absorvida, é da ordem da
unidade ou seja, ΔfΔt ≈ 1 . Com ΔfΔt ≈ 1 e se sabendo que Ε = hf , vem que ΔΕ = hΔf , que leva à
relação ΔΕΔt ≈ h . No desenvolvimento do formalismo da mecânica quântica [1] surge a relação,
=
ΔΕΔt ≥ (3.16)
2

que traduz um dos aspectos do princípio de incerteza de Heisenberg.

Como ΔfΔt ≈ 1 , f = c λ e Δt = Δx vem que Δ(1 λ )Δx ≈ 1 . Da relação de de Broglie, p =


h
,
λ
e portanto Δp = hΔ(1 λ ) , o que implica que ΔpΔx ≈ h e

=
ΔxΔp ≥ → relação de incerteza de Heisenberg. (3.17)
2

Para melhor compreender o princípio de incerteza de Heisenberg, considera-se o exemplo para


a seguinte função de onda para t = 0 dada por
⎧⎪2α α xe −αx , x > 0
Ψ 0 (x ) = ⎨
⎪⎩0, x < 0

∞ ∞
∫ Ψ0 (x ) dx = 4α 3 ∫
2
Tem-se assim x 2 e −2αx dx = 1 . A densidade de probabilidade
0 0

P(x ) = Ψ0 (x ) = 4α 3 x 2 e −2αx é máxima para


2
(
d 2 −2αx
dx
x e ) 1
= 2 x(1 − αx )e − 2αx = 0 ⇒ x = . A posição
α
média x é, por definição
∞ ∞
x = ∫ xP( x )dx = 4α 3 ∫ x 3 e − 2αx dx (3.18)
0 0

37
Densidade de Probabilidade

1,2
α=0.5
α=1
1
α=2

0,8

|Ψ 0(x)|2 0,6

0,4

0,2

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
x

Figura 3.1 Densidade de probabilidade P(x ) = Ψ0 (x ) correspondente a Ψ0 (x ) = 0 para x < 0 e a


2

Ψ0 ( x ) = 2α α xe −αx para x > 0 .

analogamente, vem
∞ ∞
x2 = ∫ x 2 P( x )dx = 4α 3 ∫ x 4 e −2αx dx (3.19)
0 0

nestas circunstâncias define-se a incerteza da posição Δx como


2
Δx = x2 − x (3.20)

3 9 3 3
(Δx )2 = − = ⇒ Δx = .
α 2
4α 2
4α 2

Pode-se definir também a incerteza do momento linear Δp x ,


2
Δp x = p x2 − p x . (3.21)

2
Uma maneira de calcular p x2 e px consiste em determinar primeiro a transformada de Fourier

( )( )
⎛ i ⎞

Φ 0 ( p x ) . Assim vem que Φ 0 ( px ) = 1 ( )∫ ⎜ − px x ⎟


4α 3 2π = 1 (α + ( i = ) px ) .

Ψ 0 ( x ) e⎝
2
2π = = ⎠
dx = −
0

Como P( p x ) = Φ 0 (x ) , tem-se
2

38
∞ 4α 3 ∞
p x P( p x )dp x =
px
px = ∫
0 2π= ∫
0
⎛ 2 p x2 ⎞
2
dp x = 0 (3.22)
⎜α + 2 ⎟

⎝ = ⎟⎠

∞ 4α 3 ∞ p x2 8α 3 ∞ p x2
p x2 = ∫ p x2 P( p x )dp x = ∫ dp x = ∫ dp x (3.23)
0 2π= 0
⎛ 2 p x2 ⎞
2
2π= −∞ ⎛ 2 p x2 ⎞
⎜α + 2 ⎟ ⎜α + 2 ⎟
⎜ ⎜ = ⎟⎠
⎝ = ⎟⎠ ⎝

Se se introduzir a mudança de variável p x = (=α ) tan (θ ) , tem-se que

4α 2 = 2 π
p x2 = ∫
2
sin 2 (θ )dθ = = 2α 2 .
π 0

Finalmente tem-se (Δp x ) = p x2 − p x


2 2
= = 2α 2 ⇒ Δp x = =α .

3
Donde se infere que ΔxΔp x = = . Para o caso geral tem-se a seguinte relação de incerteza
2
=
ΔxΔp x ≥ , que como já foi dito anteriormente é a relação de incerteza do princípio de Heisenberg.
2

3.4. Evolução dos feixes em mecânica ondulatória

Na conclusão é deste capítulo é importante ter uma ideia da forma como um feixe de ondas planas
evolui no espaço e no tempo [2]. Na análise considerou-se apenas uma dimensão espacial. Tendo
como objectivo demonstrar a relação entre Ψ (x, t ) e Ψ0 (x ) recorre-se ao exemplo do feixe gaussiano,
⎛ x2 ⎞
⎜− ⎟
2π ⎜ 2α ⎟
Ψ0 (x ) = e ⎝ ⎠
e (ik0 x ) .
α
+∞
[( i k x x −ωt )]
Ψ ( x, t ) = ∫ A(k )e x dk x
−∞
e (3.24)
+∞
Ψ0 (x, t ) = ∫ A(k )e
(
x
ik x x )
dk x
−∞

39
⎡ α 2⎤
⎢ − 2 ( k x − k0 ) ⎥
em que A(k x ) = e ⎣ ⎦
é a amplitude espectral gaussiana. Considerando
⎡ α 2⎤
+∞ ⎢ − 2 ( k x − k0 ) ⎥
Ψ0 (x ) = ∫ e ⎣ ⎦
e (ik x x ) dk x , e fazendo uma mudança de variável tal que, Θ = k x − k 0 e
−∞

dΘ = dk x . Obtém-se,
⎛ α 2⎞
+∞ ⎜ − Θ ⎟
Ψ0 (x ) = e (ik0 x )
∫ e⎝ 2 ⎠
e (iΘx )dΘ . (3.25)
−∞

Da série de Taylor sabe-se que,


ω 0 = ω (k 0 )
∂ω 1
ω1 = → ω (Θ ) = ω 0 + ω1Θ + ω 2 Θ 2
∂k x k x = k0
2

∂ ω
2
ω2 =
∂k x2 k x = k0

assim obtém-se que,


⎧Ψ (x, t ) = U (x, t )e [i (k0 x −ω0t )]

⎨ +∞
⎛ 1 2 ⎞
⎜ −i ω 2Θ t ⎟
⎪U (x, t ) = A(Θ )e [iΘ ( x −ω1t )]e ⎝ 2
⎩ −∞ ∫ ⎠
dΘ . (3.26)

Ψ ( x, t ) = U ( x , t )
2 2

A evolução de Ψ (x, t ) revela, assim, que a função de onda não pode ter um significado físico

directo e apenas Ψ (x,t ) tem significado físico directo. A interpretação física Ψ (x,t )
2 2
deve-se a

Max Born e tem o significado de uma densidade de probabilidade de presença, P(x, t ) = Ψ (x, t ) . Ou
2

seja, Ψ (x,t ) representa a densidade de probabilidade de encontrar uma partícula descrita pela função
2

+∞ +∞
de onda Ψ (x, t ) . Assim deverá ter-se, ∫ P(x, t )dx = ∫ Ψ (x, t ) dx = 1 , normalização, uma vez que,
2
−∞ −∞

qualquer que seja o instante de tempo t , a partícula encontra-se no espaço considerado.

40
Capítulo 4. Método Variacionais

4.1. Equação de Euler-Lagrange

No presente capítulo estuda-se os métodos variacionais [6] como o objectivo de deduzir a equação de
Schrödinger através deste poderoso método de cálculo.
Um dos primeiros conceitos do cálculo variacional é o conceito de funcional. Enquanto que
uma função é uma correspondência injectiva que faz corresponder um número a outro número, um
funcional faz corresponder um número (real) a cada função (ou curva) pertencente a uma determinada
classe de funções. Supondo-se, todas as trajectórias possíveis que unem dois pontos A e B de um
plano e que uma partícula se pode deslocar ao longo de qualquer destas trajectórias. E supondo ainda,
que a cada ponto (x, y ) desse plano se faz corresponder uma determinada velocidade da partícula

v(x, y ) . Pode-se definir então um funcional ao associar a cada trajectória do plano o tempo que a
partícula leva a percorrer essa mesma trajectória.
Consideremos o seguinte funcional: seja f ( x, Y , Y ') uma função contínua de três variáveis à
qual corresponde o integral
x2
I = ∫ f ( x, Y , Y ')dx (4.1)
x1

e onde se designa por Y ' a derivada dYdx . Efectivamente, a correspondência f → I é, de acordo com
a definição, um funcional. Neste caso a função f pertence à classe das funções contínuas que unem

os dois pontos (x1 , y1 = y (x1 )) e (x2 , y2 = y (x2 )) e que admitem segunda derivada contínua no intervalo

real x1 ≤ x ≤ x2 . O primeiro problema do cálculo variacional é o seguinte: determinar a função

Y (x ) = y ( x ) que faz com que o funcional I seja estacionário (tenha um máximo, um mínimo ou um

ponto de inflexão). Assim, pode-se considerar uma infinidade de funções de teste Y (x ) e vai-se eleger,

dessa infinidade de funções possíveis, a verdadeira função y ( x ) que transforma o funcional I num

valor extremo (um mínimo). Para esse efeito vai definir-se a relação entre Y (x ) e y (x ) na forma:

Y (x ) = y (x ) + εη (x ) (4.2)

41
onde ε é um parâmetro real bem determinado e η (x ) uma função arbitrária mas contínua e que

admite, também, segunda derivada contínua. É de realçar que todas as funções Y (x ) são tais que

Y (x1 ) = y (x1 ) = y1 ⇒ η (x1 )


(4.3)
Y (x2 ) = y ( x2 ) = y2 ⇒ η (x2 )

Y (x )
y2
εη ( x0 )

y (x )
y1

x1 x0 x2

Figura 4.1 Representação de y (x ) e uma das possíveis curvas de Y ( x )

Pode-se assim determinar a função y (x ) tal que:

dI
=0 (4.4)
dε ε =0

onde
x2

I (ε ) = ∫ f (x, y(x ) + εη (x ), y' (x ) + εη ' (x ))dx (4.5)


x1

e de acordo com a equação (4.2) tem-se


Y ' (x ) = y ' (x ) + εη ' (x ) (4.6)

de (4.5) resulta que:


x2
dI ⎡⎛ ∂f ⎞⎛ ∂Y ⎞ ⎛ ∂f ⎞⎛ ∂Y ' ⎞⎤
= ⎢⎜ ∫ ⎟⎜ ⎟+⎜ ⎟⎜ ⎟ dx
dε x ⎣⎝ ∂Y ⎠⎝ ∂ε ⎠ ⎝ ∂Y ' ⎠⎝ ∂ε ⎠⎥⎦
1

ou
x2
⎡⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞ ⎤
⎟η (x ) + ⎜ ⎟η ' (x )⎥dx .
dI
= ⎢⎜ ∫
dε x ⎣⎝ ∂Y ⎠ ⎝ ∂Y ' ⎠ ⎦
(4.7)
1

Através de uma integração de partes vem que:

42
x2 x x2
⎛ ∂f ⎞ ⎡ ∂f ⎤ d ⎛ ∂f ⎞
2

∫ ⎜ ⎟η ' (x )dx = ⎢ η (x )⎥ − ∫ ⎜ ⎟η (x )dx . (4.8)


x1 ⎝
∂Y ' ⎠ ⎣ ∂Y ' ⎦ x1 x1 dx ⎝ ∂Y ' ⎠

E por isso atendendo a (4.2) obtém-se


x2 x2
⎛ ∂f ⎞ d ⎛ ∂f ⎞
∫ ⎜ ⎟η ' (x )dx = − ∫ ⎜ ⎟η (x )dx (4.9)
x1 ⎝
∂Y ' ⎠ x1
dx ⎝ ∂Y ' ⎠

que após substituição em (4.7) tem-se


x2
⎡ ∂f d ⎛ ∂f ⎞⎤
⎟ η (x )dx
dI
= ∫− ⎜
dε x ⎢⎣ ∂Y dx ⎝ ∂Y ' ⎠⎥⎦
(4.10)
1

considerando o caso particular em que ε = 0 deve fazer-se a substituição Y → y , pelo que

⎡ ∂f d ⎛ ∂f ⎞⎤
x2

= ⎢ − ⎜⎜ ⎟⎟⎥η (x )dx .
dI
dε ε =0 x1 ⎣
∫∂y dx ⎝ ∂y ' ⎠⎦
(4.11)

Como a função η ( x ) é arbitrária, a única forma de satisfazer a equação (4.4) para todos os

pontos do intervalo x ∈ [x1 , x2 ] , corresponde a impor

∂f d ⎛ ∂f ⎞
− ⎜ ⎟=0. (4.12)
∂y dx ⎜⎝ ∂y ' ⎟⎠

Com efeito se
∂f d ⎛ ∂f ⎞
− ⎜ ⎟>0
∂y dx ⎜⎝ ∂y ' ⎟⎠

para um subintervalo contido em x1 ≤ x ≤ x2 e nulo no resto desse intervalo, seria sempre possível

escolher uma função η (x ) que, nesse subintervalo, verificasse a condição η (x ) > 0 , de modo que seria
necessariamente falsa a equação (4.4). Um raciocínio análogo poderia ser feito no caso de se
considerar:
∂f d ⎛ ∂f ⎞
− ⎜ ⎟<0
∂y dx ⎜⎝ ∂y ' ⎟⎠

Daqui se infere que a equação (4.12) é verdadeira – resultado conhecido como o lema
fundamental do cálculo das variações.

43
A equação (4.12) é a solução do primeiro problema do cálculo variacional e é conhecida por
equação de Euler-Lagrange. Ou seja: a função y ( x ) , com y (x1 ) = y1 e y (x2 ) = y2 , que transforma o
integral
x1

I= ∫ f (x, y, y')dx
x1

num valor estacionário no intervalo x ∈ [x1 , x2 ] é tal que observa a equação (4.12) ou equação de
Euler-Lagrange.
É frequente aparecer a definição de variação do funcional I como sendo δI tal que
x2

δI = ε ∫ ( f yη + f y 'η ')dx . (4.13)


x1

Em (4.13) usou-se a notação:


∂f ∂f
f y := e f y ' := .
∂y ∂y '

De acordo então com esta notação, o extremo do funcional I observa-se quando se tiver
δI = 0 , pelo que
d
δI = 0 ⇒ f y − f y' = 0 (4.14)
dx

que é uma forma equivalente de escrever a equação de Euler-Lagrange.


Considerando, agora, dois casos particulares: um primeiro caso em que f só depende de x e
de y ' e um segundo caso em que f só depende de y e de y ' . Considerando o primeiro caso

particular em que ∂f ∂y = f y = 0 .

Neste caso tem-se


x2 x2

I= ∫ f (x, y ')dx → δI = ε ∫ f η ' dx


y'
x1 x1

pelo que
d
δI = 0 ⇒ f y ' = 0 ⇒ f y ' = C1
dx
ou

44
∂f ∂f
=0⇒ = C1 . (4.15)
∂y ∂y '

∂f
No segundo caso particular tem-se que = fx = 0 .
∂x
E neste caso vem
∂f ⎛ ∂f ⎞⎛ dy ⎞ ⎛ ∂f ⎞⎛ dy ' ⎞ ⎛ ∂f ⎞ ⎛ ∂f ⎞
= ⎜ ⎟⎜ ⎟ + ⎜ ⎟⎜ ⎟ = ⎜ ⎟ y '+⎜ ⎟ y ' ' = f y y '+ f y ' y ' '
∂x ⎜⎝ ∂y ⎟⎠⎝ dx ⎠ ⎜⎝ ∂y ' ⎟⎠⎝ dx ⎠ ⎜⎝ ∂y ⎟⎠ ⎜⎝ ∂y ' ⎟⎠

e como
d
δI = 0 ⇒ f y = f y'
dx

df df y '
vem ainda que = y' + y ' ' f y ' . Mas como
dx dx
d
dx
( )
y' f y ' = y'
df y '
dx
+ y' ' f y '

ainda se infere que


df
=
dx dx
d
(
y' f y' ⇒
d
dx
) (
f − y' f y' = 0 )

e finalmente
df ⎛ ∂f ⎞
= 0 ⇒ f − y ' ⎜⎜ ⎟⎟ = D . (4.16)
dx ⎝ ∂y ' ⎠

4.2. O princípio da acção mínima

A equação de Euler-Lagrange encontra uma aplicação importante na mecânica através do princípio da


acção mínima. Apresenta-se então o caso de uma única partícula movendo-se numa única direcção
espacial e no âmbito da mecânica newtoniana.
No caso em que uma partícula de massa m cujo movimento se processa ao longo do eixo x
com uma velocidade

⋅ dx
v = x := (4.17)
dt

45
⎛.⎞
a energia cinética é assim T = T ⎜ x ⎟ tal que:
⎝ ⎠

1 1
T := mv 2 = m x 2 . (4.18)
2 2

A equação de Newton do movimento da partícula vem assim na forma


..
f = ma = m x . (4.19)

Em que f representa a força. Nestas condições a energia potencial é dado por U = U (x, t ) e
admitindo que o campo é conservativo tem-se que,
∂U
f =− . (4.20)
∂x

A função Lagrangiana L da partícula vem então definida como


L := T − U . (4.21)

.
Substituindo T e U obtém-se, L = (1 2 ) m x 2 + ( ∂U ∂x ) .

Pode-se demonstrar então que a equação newtoniana do movimento (4.19) corresponde ao


princípio da acção mínima. E pode definir-se assim a acção S como o integral
t2
⎛ .


S := L⎜ t , x, x ⎟dt .
t1 ⎝ ⎠
(4.22)

Ao usar a equação de Euler-Lagrange para determinar o valor estacionário de (4.22) obtém-se


⎛ ⋅
⎞ ⋅ ⋅ .
( ∂L ∂x ) − ( d dt ) ⎜ ∂L ∂ x ⎟ = 0 , e como ∂L ∂x = − ∂U ∂x e ∂L ∂ x = ∂Τ ∂ x = m x chega-se à
⎝ ⎠
seguinte equação:

∂U d ⎛ . ⎞
− − ⎜m x⎟ = 0 . (4.23)
∂x dt ⎝ ⎠

Prova-se assim o princípio da princípio da acção mínima, ou seja, atendendo à equação (4.20),
verifica-se que (4.23) é equivalente a (4.19).

46
4.3. Dedução da equação de Schrödinger

Como exemplo de aplicação deste formalismo apresenta-se em seguida a dedução da equação de


Schrödinger para o caso independente do tempo.
Quando se tem apenas U = U ( x ) , a energia total Ε = T + U conserva-se. Pelo facto da

⎛ .⎞
Lagrangiana L = L⎜ x, x ⎟ não depender explicitamente do tempo, vem que:
⎝ ⎠
.
∂L dL ∂L dx ∂L d x . ∂L .. ∂L
=0⇒ = + . =x +x . . (4.24)
∂t dt ∂x dt dt ∂x
∂x ∂x

Aplicando a equação de Euler-Lagrange vem:

∂L d ⎛⎜ ∂L ⎞⎟ dL . d ⎛⎜ ∂L ⎞⎟ .. ⎛⎜ ∂L ⎞⎟ d ⎛⎜ . ∂L ⎞⎟
= ⇒ =x +x = x (4.25)
∂x dt ⎜ ∂ x. ⎟ dt dt ⎜ ∂ x. ⎟ ⎜ ∂ x. ⎟ dt ⎜ ∂ x. ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠

de onde se tira que,

d ⎛⎜ . ∂L ⎞ . ∂L
L−x . ⎟=0⇒ L−x . =C (4.26)
dt ⎜ ∂x⎠

∂x

onde C é uma constante. Pode-se então escrever que


.
∂L . . ∂L
.
= m x ⇒ T −U − x .
= T − U − m x 2 = −T − U = C (4.27)
∂x ∂x

ou seja,
Ε = T + U = −C (4.28)

em que a energia é efectivamente constante. Assim tem-se,

1 ⎡⎛ ∂S * ⎞ ⎛ ∂S * ⎞ ⎛ ∂S * ⎞ ⎤
2 2 2

⎢⎜ ⎟ +⎜ ⎟ +⎜ ⎟ ⎥ + U ( x, y , z ) − Ε = 0 (4.29)
2m ⎢⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎝ ∂z ⎠ ⎥⎦

em que S * = K log (ψ ) e K = h 2π . A equação (4.29) multiplicada por ψ 2 torna-se,

K 2 ⎡⎛ ∂ψ ⎞ ⎛ ∂ψ ⎞ ⎛ ∂ψ ⎞ ⎤
2 2 2

⎢⎜ + + ⎟ ⎥ + (U − Ε )ψ = 0 .
2
⎟ ⎜ ⎟ ⎜ (4.30)
2m ⎢⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎝ ∂z ⎠ ⎥
⎣ ⎦

47
Considerando o integral de volume
⎧⎪ K 2 ⎡⎛ ∂ψ ⎞ 2 ⎛ ∂ψ ⎞ 2 ⎛ ∂ψ ⎞ 2 ⎤ ⎫
2⎪
I = ∫∫∫ ⎨
*
⎢⎜ +
⎟ ⎜ ⎟ ⎜+ ⎟ ⎥ + (U − Ε )ψ ⎬ dx dy dz . (4.31)
⎪⎩ 2m ⎣⎢⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂y ⎠ ⎝ ∂z ⎠ ⎦⎥ ⎪⎭

Substituindo (4.31) na equação de Euler-Lagrange obtém-se:

K 2 ⎛ ∂2 ∂2 ∂2 ⎞
− ⎜ 2 + 2 + 2 ⎟ψ + (U − Ε )ψ = 0 ⇔
2m ⎝ ∂x ∂y ∂z ⎠
(4.32)
K2 2
− ∇ ψ + (U − Ε )ψ = 0
2m

em que ∇ 2 é o laplaciano. Substituindo K = h 2π = = tem-se,

=2 2
− ∇ ψ + Uψ = Εψ (4.33)
2m

Sendo que (4.33) é a equação de Schrödinger independente do tempo.

48
Capítulo 5. Oscilador Harmónico Linear

Este capítulo tem por objectivo o estudo do oscilador harmónico como modelo físico das vibrações
moleculares, baseado em [1] e [5]. Este é um exemplo bastante interessante pois a equação diferencial
que é necessária resolver não é assim tão trivial. E a aprendizagem de técnicas para a resolução desta
equação é por si só um motivo bastante importante para o estudo deste caso.

5.1. Equação de Schrödinger

Resolvendo a equação de Schrödinger para o caso de uma partícula de massa m , oscilante no eixo x :

Figura 5.1 Partícula de massa m , oscilante no eixo x .

A evolução no tempo é dada pela equação de Schrödinger dependente do tempo:



i= Ψ ( x, t ) = ΗΨ (x, t ) (5.1)
∂t

em que Η é o hamiltoniano e
=2 2
Η=− ∇ + V (x ) (5.2)
2m

tal que
⎡ =2 2 ⎤
⎢− ∇ + V (x, y, z )⎥ψ (x ) = Eψ (x ) (5.3)
⎣ 2m ⎦

49
Ψ (x, t ) é a função de onda dependente no tempo, a qual se separa a variável tempo, pela resolução da
equação (5.1) e recorrendo á equação (5.3):
Ψ (x, t ) = ψ (x )e −iωt com ω = E / = . (5.4)

No modelo clássico a posição da partícula oscila com a frequência ω , ao longo do eixo x , tal
que
x = x0 e − iωt (5.5)

em que x0 é a amplitude máxima da oscilação, sendo ω = K , K = ω 2 m e V = (1 2 ) kx 2 .


m
O hamiltoniano pode ser escrito na forma
p2 1 2
Η= + Kx (5.6)
2m 2

Η , p e x são operadores, p = px = −i= ( ∂ ∂x ) . Atendendo que K = ω 2 m ,

p2 1 2 2
Η= + ω mx . (5.7)
2m 2

Voltando à equação de Schrödinger e para buscar uma solução analítica da equação é


conveniente expressá-la em termos da variável adimensional

y = ⎛⎜ mω ⎞⎟ x .
⎝ =⎠

Para o parâmetro da energia usamos ε = Ε / Ε 0 com Ε0 = =ω 2 . Obtém-se assim

d 2ψ ( y )
dy 2
( )
+ ε − y2 ψ (y) = 0 (5.8)

Esta equação embora possa parecer fácil de resolver, não é assim tão fácil. Considera-se,
primeiro, o caso de valores muito grandes de y , ou seja de x . Pois para qualquer valor finito da

energia total Ε , pode-se sempre encontrar um valor de x , suficientemente grande, para tornar

desprezível ε = Ε / Ε0 em comparação a y 2 . Assim (5.8) torna-se,

d 2ψ ( y )
= y 2ψ ( y ), y → ∞ . (5.9)
dy 2

A solução geral desta equação diferencial é

50
ψ ( y ) = Ae(− y ) + Be(y / 2 )
2 2
/2
(5.10)

em que A e B são constantes arbitrárias.


Calculando as derivadas ( dψ ( y ) dy ) e ( d 2ψ ( y ) dy 2 ) , pode-se verificar que a (5.10) é uma

solução da (5.9). Obtém-se


d 2ψ ( y )
dy 2
( ) 2
(
= A y 2 − 1 e (− y / 2 ) + B y 2 + 1 e ( y / 2 )
2
) (5.11)

para y → ∞ , tem-se que

d 2ψ ( y )
dy 2
= y 2
Ae ( )
(− y 2 / 2 ) + Be( y 2 / 2 ) = y 2ψ ( y ) (5.12)

o que satisfaz (5.9) identicamente.


Já que as funções devem permanecerem finitas quando y → ∞ , é evidente que, em (5.10),

B deve ser zero. Portanto, a forma das funções para y muito grande deve ser

ψ ( y ) = Ae(− y ), y → ∞ .
2
/2
(5.13)

Para estender esta solução e incluir também pequenos valores de y , introduzimos a função Η ( y ) , tal

que,

ψ ( y ) = Ae(− y )Η ( y ) .
2
/2
(5.14)

Esta relação vai produzir funções de onda aceitáveis sobre − ∞ < y < +∞ .

Para determinar Η ( y ) , calcula-se

dψ ( y ) dΗ ( y )
= − Ae (− y / 2 )Η ( y ) + Ae (− y / 2 )
2 2

dy dy

d 2ψ ( y ) (− y 2 / 2 )⎛⎜ − Η ( y ) + y 2Η ( y ) − 2 y dΗ ( y ) + d Η ( y ) ⎞⎟
2
= Ae ⎜ (5.15)
dy 2 ⎝ dy dy 2 ⎟⎠

d 2ψ ( y )
substituindo ψ ( y ) e em (5.8), obtém-se
dy 2

)⎛⎜ − Η ( y ) + y 2Η ( y ) − 2 y dΗ ( y ) + d Η ( y ) ⎞⎟ + εAe(− y / 2 )Η ( y ) − Ay 2e(− y / 2 )Η ( y ) = 0 . (5.16)


2
Ae(− y
2 2 2
/2
⎜ 2 ⎟
⎝ dy dy ⎠

51
Esta equação pode ser simplificada, e dá a seguinte equação diferencial para a determinação de Η ( y ) :

d 2Η ( y ) dΗ ( y )
2
− 2y + (ε − 1)Η ( y ) = 0 . (5.17)
dy dy

À equação (5.17) chama-se de equação de Hermite (Charles H., 1822 - 1901).


A análise do oscilador reduz-se, então, à solução de (5.17). Para resolvê-la, utiliza-se a técnica
das séries de potência na variável independente y . Isto é, supõe-se que

Η( y ) = ∑a
m=0
my
m
= a0 + a1 y + a2 y 2 + ... + an y n . (5.18)

Para determinar os coeficientes a0 , a1 , a2 , …substitui-se (5.18) em (5.17). Nas derivadas calcula-se os


termos um a um
dΗ ( y ) ∞

dy
= ∑ ma1
my
m −1
= 1a1 + 2a2 y + 3a3 y 3 + ...

d 2Η( y ) ∞

dy 2
= ∑ (m − 1)ma
2
my
m−2
= 1.2a2 + 2.3a3 y + 3.4a4 y 2 + ...

Após a substituição, a equação (5.17) toma a seguinte forma


1.2a2 + 2.3a3 y + 3.4a4 y 2 + 4.5a5 y 3 + ...
− 2.1a1 y − 2.2a2 y 2 − 2.3a3 y 3 − ... .
+ (ε − 1)a0 + (ε − 1)a1 y + (ε − 1)a2 y + ... = 0 2

Como isto deve ser válido para todos os valores de y , a soma dos coeficientes de cada potência de y
deve anular-se.
Tem-se, então,
1.2a2 + (ε − 1)a0 = 0
2.3a3 + (ε − 1 − 2.1)a1 = 0
. (5.19)
3.4a4 + (ε − 1 − 2.2)a2 = 0
4.5a5 + (ε − 1 − 2.3)a3 = 0

Em geral, tem-se para o coeficiente de y m a relação

(m + 1)(m + 2)am + 2 + (ε − 1 − 2m )am = 0

52
ou

am + 2 = −
(ε − 1 − 2m ) a . (5.20)
(m + 1)(m + 2) m

A relação (5.20) é uma relação de recorrência que permite calcular, sucessivamente, os


coeficientes pares a2 , a4 , a6 , … em termos de a0 , e os coeficientes ímpares a3 , a5 , a7 , …em termos

de a1 . A equação (5.20) nada diz sobre os coeficientes a0 e a1 pois eles são até agora,
indeterminados. O que é de esperar, pois a solução geral da equação diferencial de segunda ordem
(5.17) deve conter duas constantes arbitrárias. Isso significa que a solução geral contém duas séries
independentes.
Se a0 for igual a zero, a equação (5.18) conterá somente termos ímpares, pois segundo esta

tem-se a2 = a4 = a6 = ... = 0 . Se a for zero, a equação (5.17) conterá apenas de termos pares, já que
1

a3 = a5 = ... = 0 .
E em ambos os casos, permanecerá um problema, pois ambas as equações que resultam com

a0 ou a1 igual a zero comportam-se como e ( y ) para grandes valores de m . E isso verifica-se,


2

comparando (5.18) com a expansão da função e ( y ) em série de potências:


2

y4 y6 y m +1
e(y ) = 1 + y 2 +
2 ym
+
2! 3!
+ ... +
( ) (
+
m ! m + 1!
2 2
+ ...
) (5.21)

Para se poder fazer esta comparação, tem que se calcular para cada série a razão entre os coeficientes
de potências sucessivas de y para m grande. Os coeficientes de (5.18) calculam-se a partir da relação
(5.20):
am + 2
=−
(ε − 1 − 2m ) ≈ 2m = 2 para m grande.
am (m + 1)(m + 2) m2 m

também se obtém para (5.21):

1 (m 2)! = ( )
m !
2 1 1 2
(m 2 + 1)! 1 ( )( ) (= ≈
m +1 m ! m +1 m
2 2 2 2
=
m )

Sabe-se assim que os termos de alta potência de y na série de e ( y ) podem diferir dos termos
2

correspondentes na série par de Η ( y ) por apenas uma constante multiplicativa C. Os termos podem

diferir dos termos da série ímpar de Η ( y ) por y vezes outra constante C´. Para y → ∞ os termos de

potências baixas em y não são importantes na determinação do valor de qualquer dessas séries.

53
Conclui-se que

Η ( y ) = a0Ce ( y ) + a1C ' ye( y ), y → ∞


2 2
(5.22)

Isso significa que a função de onda (5.14) se tornará infinita quando y → ∞ , o que não é

aceitável. Uma solução para problema consiste em procurar que os coeficientes am se tornam zero a

partir de um certo índice mmax .

Se para certo valor n = mmax o numerador da relação (5.20) é zero, ou seja, quando ε = 2n + 1 ,

todos os coeficientes an + 2 , an + 4 ,... serão zero. Se isso ocorrer para n = par , toma-se a1 = 0 para
eliminar todas as potências ímpares de y na equação (5.18).
Por exemplo, supondo que o valor de ε for tal que ε − 1 − 2m = 0 para n = 6 . Então escolhe-
se a1 = 0 e a equação (5.18) tomará a forma de um polinómio par de ordem seis

Η 6 ( y ) = a0 + a2 y 2 + a4 y 4 + a6 y 6 (5.23)

os coeficientes a2 , a4 e a6 determinamos por meio de (5.20) em termos de a0 .

Se o valor de ε for tal que ε − 1 − 2m = 0 para n = impar , por exemplo mmax = n = 7 , toma-

se a0 = 0 e Η ( y ) será um polinómio de potências ímpares de y :

Η 7 ( y ) = a1 y + a3 y 3 + a5 y 5 + a7 y 7 (5.24)

(5.23) e (5.24) são chamados polinómios de Hermite de ordem n = mmax .


Vê-se, então, que se podem obter funções aceitáveis para tais valores de ε que cumprem a
relação
ε = 2n + 1 (5.25)

n = potência mais alta no polinómio Η n ( y ) .


E deve-se também ter em conta que
a0 = 0, se n = 1,2,3,...

a1 = 0, se n = 0,2,4,...

A escolha de ε fará com que a série Η ( y ) termine no n -ésimo termo. As funções correspondentes a

são Η n ( y ) ,

ψ n ( y ) = An e − y Ηn (y).
2
/2
(5.26)

54
Utilizando a definição ε = Ε Ε0 = 2Ε =ω , vê-se que a restrição a possíveis valores de ε é equivalente
a uma restrição a possíveis valores da energia total:

( )
Ε n = n + 1 hf , n = 0,1,2,3,...
2
(5.27)

E estes são os níveis de energia de uma partícula num potencial de oscilador harmónico simples.

f = (2π ) (K m )12 = frequência de oscilação clássica. O espectro de valores de energia (5.27) é um


−1

espectro discreto e distinto.

5.2 Propriedades dos Polinómios de Hermite

Os polinómios de Hermite, [5], podem ser definidos através da fórmula de Rodrigues que é uma
fórmula muito útil no estudo das propriedades dos polinómios de Hermite.

Η n ( y ) = (− 1) e y
n 2
( )
d n − y2
dy n
e → fórmula de Rodrigues (5.28)

Outra definição do polinómio de Hermite é a série

Ηn (y) =
(2 y )n − n(n − 1)(2 y )n − 2 + n(n − 1)(n − 2)(n − 3)(2 y )n − 4 + ... (5.29)
1! 2!

Diferenciando (5.29) termo a termo, obtemos

d ⎛
Η n ( y ) = 2n⎜ (2 y ) −
n −1 (n − 1)(n − 2)(2 y )n −3 ...⎞⎟ = 2nΗ ( y ) para (n ≥ 1) (5.30)
dy ⎜ 1! ⎟ n −1
⎝ ⎠

Diferenciando outra vez, resulta


d2
Η n ( y ) = 2n Η n ( y ) = 2n(2(n − 1))Η n − 2 ( y ) = 4n(n − 1)Η n − 2 ( y )
d
2
(5.31)
dy dy

Substituindo (5.29), (5.30) e (5.31) na equação diferencial de Hermite tem-se


d2 d
2
u − 2 y u + 2nu = 0
dy dy

e obtém-se 4n(n − 1)Η n − 2 ( y ) − 2 y.2nΗ n −1 ( y ) + 2nΗ n ( y ) = 0 ou

Η n ( y ) = 2 yΗ n −1 ( y ) − 2(n − 1)Η n − 2 ( y ) . (5.32)

55
As funções Η n ( y )e (− y ) formam sobre (-∞,+∞) um conjunto ortogonal (ou seja os
2
/2

polinómios de Hermite são ortogonais no intervalo (-∞,+∞) com relação a e (− y / 2 ) ). E isso significa
2

que
+∞

∫ e − y Η n ( y )Η m ( y )dy .
2
(5.33)
−∞

Funções de Onda do Oscilador Harmónico Linear


3
Ψ (y) Ψ0
2,5 Ψ1
2 Ψ2

1,5

0,5

0
-6 -4 -2 0 2 4 6
-0,5
y
-1

-1,5

-2

-2,5

Figura 5.2 As primeiras três funções de onda para o oscilador harmónico linear.

Densidade de Probabilidade do Oscilador Harmónico Linear

6 |Ψ0|⊥2
|Ψ(y)|2
|Ψ1|⊥2
5
|Ψ2|⊥2

0
-6 -4 -2 0 2 4 6
-1 y

Figura 5.3 Densidade de probabilidade para o oscilador harmónico linear.

56
Capítulo 6. Átomo de hidrogénio

O átomo de hidrogénio é constituído por um electrão e um protão. Devido à sua simplicidade, o átomo
de hidrogénio desempenhou um importante papel no desenvolvimento da física quântica [1] e [5]. O
problema do átomo de hidrogénio pode reduzir-se ao problema de dois corpos, um protão com massa
m p = 1,673 × 10 −27 kg e um electrão com massa me = 9,109 × 10 −31 kg , que se movimenta na sua

vizinhança, a uma distância da ordem de 5 × 10 −11 m , o raio de Bohr é 5,29177 × 10 −11 m , atraído pela

força electrostática, derivada do potencial de Coulomb V ( r ) = − e 2 4πε 0 r . Em que nesta expressão

− e é a carga eléctrica do electrão (e = 1,602 ×10 −19


C ) e ε 0 é a permitividade do vácuo

(ε 0 )
= 8,85419 × 10 −12 CV −1m −1 .
No problema do átomo de hidrogénio, o que interessa é determinar os níveis de energia e as
funções de onda associadas ao movimento relativo.
Para o átomo de hidrogénio define-se assim uma massa reduzida,
me m p
μ= (6.1)
me + m p

e a equação de Schrödinger independente no tempo escreve-se


⎧⎪ = 2 ⎡ ∂ 2 ∂2 ∂2 ⎤ ⎫⎪
⎨− ⎢ 2 + 2 + 2 ⎥ + V (x, y, z )⎬ψ (x, y, z ) = Εψ ( x, y , z ) . (6.2)
⎪⎩ 2μ ⎣ ∂x ∂y ∂z ⎦ ⎪⎭

É deste movimento relativo que resultam os níveis de energia do átomo de hidrogénio. Os


correspondentes valores da energia são os valores possíveis de Ε , dados pelas soluções da equação.
Para o caso do átomo de hidrogénio dado o campo ser central ou de simetria esférica, há
vantagem em usar coordenadas polares esféricas cujo desenvolvimento se encontra no anexo G.

57
6.1. Equação Radial

A equação radial de Schrödinger é


1 d ⎛ 2 dR ⎞ ⎡ 2 μ ζ ⎤
2 ⎜r ⎟ + ⎢ 2 (Ε − V ) − 2 ⎥ R = 0 (6.3)
r dr ⎝ dr ⎠ ⎣ = r ⎦

atendendo (G.11), (G.12), (G.15) e (G.17), conclui-se que ζ = l (l + 1) , e portanto

1 d ⎛ 2 dR ⎞ ⎡ 2μ l (l + 1) ⎤
⎜r ⎟ + ⎢ 2 (Ε − V ) − R=0 (6.4)
r 2
dr ⎝ dr ⎠ ⎣= r 2 ⎥⎦

que pode ser transformada em


⎡ = 2 ⎛ d 2 2 d ⎞ = 2 l (l + 1) ⎤
⎢− ⎜ 2+ ⎟+ + V ⎥ R = ΕR .
⎜ ⎟
⎣⎢ 2 μ ⎝ dr r dr ⎠ 2 μ r 2
⎦⎥

Fazendo
R=F r (6.5)

⎛ d 2 2 d ⎞ F 1 d 2F
obtém-se simplificando e atendendo a que ⎜⎜ 2 + ⎟ = ,
⎝ dr r dr ⎟⎠ r r dr 2

⎡ = 2 d 2 = 2 l (l + 1) ⎤
⎢− + + V ⎥ F = ΕF . (6.6)
⎣ 2 μ dr 2μ r
2 2

Esta equação tem a mesma forma que a equação do oscilador harmónico mas com um potencial
= 2 l (l + 1)
+V (6.7)
2μ r 2

o primeiro termo corresponde ao potencial L2 2mr 2 . O valor próprio de L2 é L2 = l (l + 1)= 2 . É este o


potencial que mantém o electrão afastado do núcleo.
Para átomos hidrogenóides, de número atómico Z e com apenas um electrão, e considerando
o caso do estado estacionário, em que a energia é negativa, ou por outras palavras, em que Ε é a

energia e ligação:
Z 2e
V =− e Ε = −Ε (6.8)
4πε 0 r

58
e substitui-se na equação (6.6) para simplificar ainda mais é conveniente tornar a equação
adimensional, introduzindo um novo parâmetro n tal que

μe 4 Z 2 1
Ε=− (6.9)
32π 2ε 02 = 2 n 2

e uma nova variável ξ definida por:


ξ = αr
8μ Ε . (6.10)
α2 = 2
=

Chega-se assim à seguinte equação


⎡ d 2 1 n l (l + 1) ⎤
⎢ 2− + − ⎥F = 0 . (6.11)
⎣ dξ 4 ξ ξ2 ⎦

A questão que se coloca agora é a de determinar os valores de n para os quais as funções


próprias são fisicamente aceitáveis. As soluções da equação (6.11) são do tipo
−ξ
= u (ξ )ξ l e 2
F
R= (6.12)
r

verifica-se que u (ξ ) tem de satisfazer a seguinte equação diferencial:

d 2u
+ (2l + 2 − ξ ) + (n − l − 1)u = 0
du
ξ (6.13)
dξ 2

acontece que esta equação, só tem soluções satisfatórias se o termo (n − l − 1) for inteiro e positivo,
isto é, se
(n − l − 1) ≥ 0 (6.14)

l , número quântico orbital, só pode assumir os valores 0,1,2,... e n , número quântico principal, pode
assumir os valores 1,2,3,...l + 1 .
Sendo assim, os valores possíveis de energia são dados por
μe 4 Z 2 1
Ε=− com n = 1,2,3,... (6.15)
32π 2ε 02 = 2 n 2

Por sua vez, as funções próprias completas da equação radial são da forma

59
(m − l − 1)! ⎛ 2Z ⎞
3 l
2
⎛ 2 ⎞ 2 l +1 ⎛ 2 ⎞ − ρ n
Rnl (r ) = − 3 ⎜ ⎟ ⎜ ρ ⎟ Ln + l ⎜ ρ ⎟e . (6.16)
2n[(n + l )!] ⎝ na ⎠ ⎝n ⎠ ⎝n ⎠

Em que L2nl++l1 são os chamados polinómios associados de Laguerre de grau (n − l − 1) e de ordem

2l + 1 , a = ( 4πε 0 = 2 μ e 2 ) e ρ = Zr a . Na Tabela 6.1 encontram-se algumas funções Rnl (r ) .

Tabela 6.1 Algumas funções Rnl (r ) .

n l Rnl (r )

1 0 3
⎛Z⎞ 2
R1s = 2⎜ ⎟ e − ρ
⎝a⎠
2 0 3
−ρ
1 ⎛Z⎞ 2
R2 s = ⎜ ⎟ (2 − ρ )e 2
2 2⎝a⎠
2 1 3
1 ⎛ Z ⎞ 2 −ρ 2
R2 p = ⎜ ⎟ ρe
2 6⎝a⎠

Assim estão obtidos os valores próprios da energia do átomo de hidrogénio.

Funções 1s, 2s e 2p para o Átomo de Hidrogénio

0,6

1s
0,5 2s
2p

0,4

0,3

Ψ(r)

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8 10

-0,1
r

60
Figura 6.1 Funções 1s , 2s e 2 p em função de r para o átomo de hidrogénio, em unidades atómicas, para

as quais a0 = 1 .
2
Na Figura 6.2 representam-se as funções de distribuição radial P1s = 4π r 2 ψ 1s ,
2 2
P2 s = 4π r 2 ψ 2 s e P2 p = 4π r 2 ψ 2 p que definem a probabilidade de encontrar o electrão a uma

distância r do núcleo para os estados 1s , 2s e 2 p , respectivamente. É de realçar que, para o estado

1s, a distância à qual é mais provável encontrar o electrão é o raio de Bohr, a0 .

Funções de distribuição radial

0,7
1s
0,6 2s
2p
0,5

0,4

P 0,3

0,2

0,1

0
0 2 4 6 8 10
-0,1
r

2 2 2
Figura 6.2 Funções de distribuição radial P1s = 4π r 2 ψ 1s , P2 s = 4π r 2 ψ 2 s e P2 p = 4π r 2 ψ 2 p que

definem a probabilidade de encontrar o electrão a uma distância r do núcleo para os estados 1s , 2s e


2 p , respectivamente. Nota-se o máximo de P1s, para r=1 unidade atómica, ou seja a0 .

61
62
Capítulo 7. Conclusão

7.1. Síntese

Um dos objectivos deste trabalho foi a aprendizagem da álgebra geométrica para futura aplicação,
tendo em conta as grandes vantagens da utilização deste formalismo. Tentou-se focar as vantagens
desta linguagem relativamente ao aspecto da manipulação algébrica de expressões. Com a vista à
realização do posterior estudo sobre mecânica quântica, introduziram-se grandezas como a velocidade
própria, aceleração própria e momento linear próprio. O tema da álgebra geométrica e em especial a
álgebra do espaço-tempo de Minkowski não foi tratado com maior profundidade, pois para o fazer de
modo satisfatório seria necessário uma extensa introdução ao tema. Este tópico merece assim ser
tratado em trabalhos futuros, devido às grandes vantagens de aplicação deste formalismo.
Após o estudo inicial da álgebra geométrica, fez-se uma introdução aos conceitos que
constituem o formalismo da mecânica quântica salientando-se a importância dos operadores nesse
formalismo. A resolução da equação de Schrödinger fez-se com recurso aos métodos variacionais. Os
métodos variacionais permitem derivar as equações do movimento de sistemas mecânicos
conservativos, com e sem ligações, independentemente do sistema de coordenadas. É uma abordagem
essencialmente geométrica em que as equações do movimento não dependem formalmente do sistema
de coordenadas. A vantagem da abordagem variacional para a resolução da equação de Schrödinger
está na utilização do formalismo Lagrangeano, e nas propriedades das equações de Euler-Lagrange.
O estudo do oscilador harmónico como modelo físico das vibrações moleculares é um
exemplo bastante interessante pois a equação diferencial que é necessária resolver não é assim tão
trivial. E a aprendizagem de técnicas para a resolução desta equação é por si só um motivo bastante
importante para o estudo deste caso. Apresentou-se as funções próprias e os valores próprios da
equação de Schrödinger. É interessante notar que mesmo para o estado fundamental a energia do
oscilador harmónico não é nula e que uma vez que a halmitoniana é hermitiana, os seus autovalores de
energia são reais. É de notar também que os autovalores são igualmente espaçados e esta é uma
peculiaridade do oscilador harmónico que encontra muitas aplicações em sistemas de muitos corpos.
Em relação ao átomo de hidrogénio, os seus correspondentes níveis de energia são dados pelas
soluções da equação de Schrödinger. A equação é resolvida para a função de onda radial onde n é o

63
número quântico. Desde que n seja um número inteiro, a energia pode ser quantizada, mas apenas
alguns valores são possíveis. O fato de que n poder ter valores de um a infinito significa que existe um
número infinito de níveis de energia e para valores positivos de energia o espectro é contínuo.

7.2. Perspectiva de trabalho futuro

A álgebra geométrica pode ser aplicada à teoria do electromagnetismo. Um trabalho futuro pode
incidir sobre o uso das vantagens da álgebra geométrica na formulação da electrodinâmica clássica no
espaço-tempo de Minkowski. Pode-se ainda aplicar a álgebra geométrica do espaço-tempo de
Minkowski à mecânica relativística.

64
Anexos:
Anexo A. Radiação de corpo negro
Ao aquecer-se um corpo, pode-se observar que ele irradia. Em equilíbrio termodinâmico, a luz emitida
cobre todo o espectro de frequências, f , com uma distribuição espectral que depende tanto da
frequência como da temperatura.
A investigação teórica no campo da radiação térmica teve início em 1859, com o trabalho de
Kirchhoff. Definindo Ε(λ , Τ ) como a energia emitida no comprimento de onda, λ , à temperatura Τ ,
por unidade de área, por unidade de tempo, mostrou-se que para um determinado λ a razão entre a
energia emitida, Ε , e o coeficiente de absorção de radiação incidente no corpo, A , é igual para todos
os corpos, ( Ε1 A1 = Ε 2 A2 ) . Observou-se também que para um corpo negro, definido como uma

superfície que absorve totalmente a radiação que incide sobre ele, A = 1 , a função Ε(λ , Τ ) é uma
função universal.
De modo a estudar a função Ε , é necessário obter a melhor fonte de radiação de corpo negro
possível. Uma solução prática consiste em estudar a radiação emergente de um pequeno orifício de
uma cavidade à temperatura Τ. Considerando as imperfeições da superfície no interior da cavidade,
qualquer radiação incidente sobre o orifício não terá oportunidade de emergir novamente, e em
consequência a radiação que provém do orifício será “radiação de corpo negro”.
Kirchhoff demonstrou ainda que a segunda lei da termodinâmica exige que a radiação na
cavidade seja isotrópica, e ainda que essa radiação é a mesma para todas as cavidades que se
encontrem sob a mesma temperatura e no mesmo comprimento de onda. O que lhe permitiu chegar à
seguinte expressão para a densidade de energia:
4Ε(λ , Τ )
u (λ , Τ ) = (A.1)
c

Em 1894 Wien mostrou que a densidade de energia teria de ser da forma


u (λ , Τ ) = λ −5 y (λΤ ) (A.2)

onde y é uma função desconhecida de uma única variável. Colocando a densidade de energia como
função da frequência tem-se

u ( f , Τ ) = u (λ , Τ ) = 2 u (λ , Τ )
c
(A.3)
df f

Deste modo a lei de Wien toma a forma

65
⎛f ⎞
u ( f , Τ) = v 3 g ⎜ ⎟ . (A.4)
⎝Τ⎠

Wien usou a seguinte forma para g ( f Τ)

g ( f Τ) = Ce − βf Τ
. (A.5)

A forma em causa adapta-se muito bem para altas frequências, no entanto para as baixas frequências
traz alguns problemas. Razão pela qual em 1900 Rayleigh derivou o seguinte resultado, também
conhecido como a lei de Rayleigh-Jeans.
8πf 2
u ( f , Τ) = kΤ (A.6)
c3

Sendo k B = 1.38 × 10 −16 erg / deg a constante de Boltzmann e c = 3.00 × 1010 cm / sec a velocidade da
luz. Esta lei, ao contrário de (A.5) não se ajusta às altas frequências, no entanto é de realçar que ela
não é correcta uma vez que integrando na frequência a energia total seria infinita.
Deste modo em 1900 Max Planck a partir da interpolação entre as leis de Wien e de Rayleigh-
Jeans, chegou à seguinte expressão
8πh f3
u ( f , Τ) = (A.7)
c 3 e hf kΤ − 1

sendo h = 6.63 × 10 −27 erg . sec a constante de Planck. Como seria de prever f → 0 existe uma
aproximação à lei de Rayleigh-Jeans

u ( f , Τ) =
8πh 3 − hf
c3
f e kΤ
(1 − e )
− hf kΤ −1

8πf 2 3 − hf
c3
f e kΤ
. (A.8)

Nas altas frequências hf  k B Τ

8πh f3 8πf 2 hf k Τ
u ( f , Τ) = 3 hf kΤ
= 3
k B Τ hf k ΤB (A.9)
c e −1 c e B −1

Neste caso integrando na frequência a densidade de energia deixa de ser infinita, o que leva a
um resultado credível.

66
Anexo B. Efeito fotoeléctrico

Einstein explicou vários fenómenos, assumindo que a interacção da luz com a matéria consiste na
emissão e absorção de quanta de luz.
Quando se faz incidir luz ultravioleta sobre um metal, libertam-se electrões da sua superfície.
A esse fenómeno chama-se efeito fotoeléctrico. Em 1905, Einstein propôs que a energia cinética dos
electrões libertados do metal irradiado por um feixe de luz de frequência f , fosse dada por,
Τ = hf − W (B.1)

em que Τ é a energia cinética dos electrões, Τ = (1 2 ) me v 2 , me , a massa do electrão, e v a sua

velocidade. f é a frequência da luz incidente, e W , a energia de ligação dos electrões no metal.

hf Electrão Τ
(Fotão)

Metal 0 f0 = W h f

a) b)

Figura B.1 Efeito Fotoeléctrico: a) Um raio de luz (hf ) incide sobre a superfície de um metal. Parte da

energia é absorvida no metal e a restante energia usada para arrancar um electrão de energia cinética Τ .

( 2) m v
b) A energia cinética dos electrões ejectados, Τ = 1 e
2
, varia linearmente com a frequência da luz

incidente.

Verifica-se que:
Só são ejectados electrões quando a frequência da luz atinge um valor característico do metal
que é designado por frequência limiar. Este valor é calculado como f 0 = W h , onde W é a energia

de ligação ao metal.
A energia cinética dos electrões ejectados varia linearmente com a frequência da luz incidente
mas é independente da intensidade. O número de electrões ejectados é proporcional à intensidade da
luz.

67
Mesmo para intensidades mais baixas, são ejectados electrões, desde que a frequência da luz
ultrapasse o seu valor limiar f 0 = W h .
O quantum de luz era assim equiparado a uma partícula que transfere energia e momento para
os electrões do metal.

68
Anexo C. Efeito de Compton

A experiência que garante a maior evidência directa para a natureza de radiação das partículas é
denominada efeito de Compton, Arthur H. Compton descobriu essa radiação de um comprimento de
onda dado (raio x) enviando através de uma folha metálica foram dispersados de um maneira não
consistente com a teoria de radiação clássica. De acordo com a teoria clássica, o mecanismo para o
feito é a re-radiação da luz por electrões forçados a oscilações pela radiação incidente, e isto leva à
( )
predicçao da intensidade observada de um ângulo θ que varia com 1 + cos 2 (θ ) , e não depende do
comprimento de onda da radiação incidente. Compton encontrou essa dispersão de radiação através de
um ângulo dado que consiste em dois componentes: um cujo comprimento de onda é o mesmo que
essa radiação incidente o outro cujo o comprimento de onda deslocada relativo ao comprimento de
onda incidente por um quantidade dependente do ângulo. Compton foi capaz de explicar o
componente “modificado” tratando a radiação recebida como um raio de fotões de energia hf , com
fotões individuais dispersados elasticamente dos electrões individuais. Numa colisão elástica o
momento assim como a energia tem que ser conservado. Mas primeiro tem que ser designado o
momento do fotão. Assim pode-se dizer que
hf
p= . (C.1)
c

O argumento segue a relação relativista entre a energia e o momento.

( )
12
Ε = ⎡ m0 c 2 + ( pc ) ⎤
2 2
(C.2)
⎢⎣ ⎥⎦

onde m0 é a massa da partícula, a velocidade do momento é

dΕ pc 2 pc 2
v= = = . (C.3)
dp Ε (
m02 c 4 + p 2 c 2 )
12

Para um fotão é sempre c , doravante a massa do fotão em repouso tem que ser nula. Da relação (C.2)
vem que
Ε = pc . (C.4)

Que representa (C.1) quando se substitui Ε = hf . (C.4) pode também derivar da consideração de
energia e do momento de uma onda electromagnética.

69
Considera-se agora um fotão com momento inicial p , incidente sobre um electrão em
descanso. Depois da colisão, o momento do fotão é p ' e o electrão recua com momento P .
Conservação do momento está representada na figura C.1.
p = p '+ P (C.5)

de onde se segue
p 2 = ( p − p ') = p 2 + p ' 2 −2 p ⋅ p' .
2
(C.6)

Conservação da energia

(
hf + mc 2 = hf '+ m 2 c 4 + P 2 c 2 )
12
(C.7)

Fotão dispersado

Fotão incidente m

Electrão

Figura C.1 Efeito de Compton.

Onde m é a massa do electrão em repouso.

(
m 2 c 4 + P 2 c 2 = hf − hf '+ mc 2 )
2
= (hf − hf ') + 2mc 2 (hf − hf ') + m 2 c 4 .
2

Por outro lado, (C.6) pode ser escrito na forma


2 2
⎛ hf ⎞ ⎛ hf ' ⎞ hf hf '
p2 = ⎜ ⎟ + ⎜ ⎟ −2 ⋅ cos(θ )
⎝ c ⎠ ⎝ c ⎠ c c

ou seja
p 2 c 2 = (hf − hf ') + 2(hf )(hf ')(1 − cos(θ ))
2
(C.8)

onde θ é o ângulo fotão disperso.

70
hf ' (1 − cos(θ )) = mc 2 ( f − f ')

Que também é equivalente a

λ '−λ =
h
(1 − cos(θ )) (C.9)
mc

As medidas do componente modificado concordam muito bem com esta predicção. A linha
não modificada e devido ao dispersão do átomo; se m é substituído pela massa do átomo o
deslocamento no comprimento de onda é muito pequeno, pois um átomo tem uma massa muito
superior à do electrão. A quantidade h mc tem as dimensões de um comprimento. É denominado

comprimento de onda Compton de um electrão e a sua magnitude é ( h mc ) ≅ 2.4 × 10−10 cm .

Medidas do electrão recuado foram feitas também e estas estão de acordo com a teoria. Foi
posteriormente determinado por uma boa coincidente resolução de experiências que o aumento de
velocidade do fotão e o recuo do electrão aparecem simultaneamente. Não há qualquer questão sobre a
correcção na interpretação da colisão como uma colisão do tipo bola de bilhar. Como a radiação
também tem propriedades de onda e exibe interferência e difracção pode-se esperar algumas
dificuldades conceptuais.

71
72
Anexo D. Notação de Dirac

P.A.M Dirac introduziu uma notação poderosa e económica que se aplica igualmente bem ao vector de
espaço dimensional finito e ao espaço de Hilbert. Associa-se a cada função de onda ψ , um vector de

estado ψ , denominado Ket. Associa-se também a cada função de onda φ * a quantidade φ

denominado bra. O produto escalar de ψ e φ * é associado com uma relação de parênteses

∫ dxφ ψ = φ |ψ
*
(D.1)

donde se segue
*
φ |ψ = ψ |φ . (D.2)

A expressão para o integral envolvendo um operador pode ser escrita de duas maneiras
equivalentes

∫ dxφ Aψ = φ | Aψ = φ | A |ψ ,
*
(D.3)

a definição do operador conjugado Hermitiano diz-se


Aφ |ψ = φ | A |ψ (D.4)

se A é um número em vez de um operador então pode sair fora dos parênteses e tem-se
φ | aψ = a φ |ψ (D.5)

e
aφ |ψ = a * φ |ψ . (D.6)

A equação de valores próprios vem na forma


Aa =a a . (D.7)

A condição ortonormalidade da notação de Dirac lê-se


a1 | a 2 = δ a1a2 (D.8)

o teorema da expansão lê-se


ψ = ∑ Ca a (D.9)
a

73
segue-se multiplicando à esquerda por um particular estado
b |ψ = ∑C
a
a b|a = ∑C δ
a
a ab = Cb (D.10)

desta fórmula pode-se escrever


φ |ψ = ∑ C a φ | a = ∑ φ | a a |ψ (D.11)
a a

como isto é verdade para todo o φ e ψ pode-se afastar esta relação e escrever a notação de Dirac
como

∑aa
a =1 (D.12)

conclui-se ilustrando o uso da notação de Dirac para provar a ortonormalidade dos operadores
Hermitianos das funções que correspondem a diferentes valores de próprios. Considera-se
b| A| a = a b| a (D.13)

E por outro lado

b | A + | a = A(b ) | a = b * b | a (D.14)

como b é um estado próprio de A com valor de b e as quantidades aparecem no bra. No entanto

para um operador Hermitiano tem-se A = A + . Segue-se:


a b | a = b* b | a (D.15)

se se escolhe b = a imediatamente se vê que os valores próprios têm que ser reais para b * = b , por

exemplo dá-nos (a − b ) b | a = 0 , que era o que se pretendia provar, pois para a ≠ b , b | a a relação

tende a desaparecer.

74
Anexo E. Operados e valores expectáveis

Neste anexo analisa-se a importância dos operadores na mecânica quântica. Ao contrário das funções
ordinárias que comutam tal que f (x )g (x ) = g (x ) f (x ) , o mesmo não se aplica aos operadores. Define-
se assim um comutador de dois operadores que quantifica esse desvio em relação à comutação. Veja-
∧ ∧
se o exemplo dos operadores momento linear p x e posição x .

⎡ ∧ ∧⎤ ∧ ∧ ∧ ∧
⎢ p x , x ⎥ = p x x − x p x , que representa o comutador de dois operadores. O espaço de
⎣ ⎦

coordenadas é x = x ,
⎧∧ ∧ ∂ ∂Ψ
⎪⎪ p x x Ψ ( x, t ) = −i= ∂x [xΨ (x, t )] = −i=x ∂x − i=Ψ (x, t )
⎨∧ ∧ (E.1)
⎪ x p Ψ ( x, t ) = −i=x ∂Ψ
⎪⎩ x ∂x

⎛ ∧ ∧ ∧ ∧ ⎞ ⎡ ∧ ∧⎤
⎜ p x x − x p x ⎟Ψ (x, t ) = −i=Ψ (x, t ) ⇒ ⎢ p x , x ⎥ Ψ (x, t ) = −i=Ψ (x, t ) (E.2)
⎝ ⎠ ⎣ ⎦

⎡ ∧ ∧⎤
a relação de comutação é ⎢ p x , x ⎥ = −i= .
⎣ ⎦
A representação do espaço do momento linear é dada por,
∧ +∞ ∧
px = ∫ Ψ * (x, t ) p x Ψ (x, t )dx
−∞

+∞ ∂Ψ
= ∫ Ψ * (x, t )(− i= ) dx
−∞ ∂x

∂ ⎡ 1 ⎤
⎛i ⎞
+∞ +∞ ⎜ px x ⎟
= ∫ Ψ * (x, t )(− i= ) ⎢
∫ Φ ( p x , t )e ⎝ = ⎠
dp x ⎥dx (E.3)
−∞ ∂x ⎢ 2π= −∞ ⎥
⎣ ⎦

+∞ ⎡ 1 +∞
⎛i ⎞
⎜ px x ⎟ ⎤
= ∫Φ( p x , t ) p x ⎢ ∫ Ψ (x, t )e
* ⎝= ⎠
dx ⎥ dp x
−∞ ⎢ 2π= −∞ ⎥
⎣ ⎦
+∞
= ∫ Φ ( p x , t ) p x Φ * ( p x , t )dp x .
−∞

Por outro lado no espaço do momento linear deve ter-se

P( p x , t ) = Φ( p x , t )
2
(E.4)

75
∧ +∞ ⎛ ∧ ⎞ ∧ ⎛ ∧ ⎞
px = ∫
−∞
Φ * ⎜ p x , t ⎟ p x Φ⎜ p x , t ⎟
⎝ ⎠ ⎝ ⎠
(E.5)


De onde se infere que o espaço do momento linear p x = p x .

Em relação à representação do operador x , no espaço do momento linear tem-se que
∧ +∞
x = ∫ Ψ * (x, t )xΨ (x, t )dx
−∞

+∞ ⎡ 1 +∞
⎛ i ⎞
⎜ − px x ⎟ ⎤
= ∫ Ψ ( x, t )x ⎢ ∫ Φ * ( p x , t )e ⎝ = ⎠
dp x ⎥dx (E.6)
−∞ ⎢ 2π= −∞ ⎥
⎣ ⎦

∂ ⎡ 1 ⎤
⎛ i ⎞
+∞ +∞ ⎜ − px x ⎟
= ∫Φ (x, t )(− i= )
*

∫ Ψ ( p x , t )e ⎝ = ⎠
dx ⎥dp x
−∞ ∂p x ⎢ 2π= −∞ ⎥
⎣ ⎦
+∞ ⎛ ∂ ⎞
= ∫ Φ * ( p x , t )⎜⎜ i= ⎟⎟Φ ( p x , t )dp x
−∞
⎝ ∂p x ⎠


Assim tem-se que x = ( i= ∂ ∂px ) .

Na Tabela E.1 apresentam-se alguns resultados referentes à representação das grandezas


físicas em termos de operadores quer no espaço de coordenadas quer no espaço do momento linear.

Tabela E.1 Alguns resultados da representação de operadores no espaço de coordenadas e no espaço do


momento.

Grandeza física Espaço de coordenadas Espaço do momento


posição → x ∧ ∧ ⎛ ∂ ⎞
x=x x = ⎜⎜ i= ⎟⎟
⎝ ∂p x ⎠
Momento linear → p x ∧
⎛ ∂ ⎞ ∧
p x = ⎜ − i= ⎟ px = px
⎝ ∂x ⎠
Energia cinética → Τ ∧ ⎛ =2 ∂2 ⎞ ∧ p x2
Τ = ⎜⎜ − ⎟ Τ=
2 ⎟ 2m
⎝ 2m ∂x ⎠
Energia potencial → V ∧ ∧ ⎛ ∂ ⎞
V = V (x ) V = V ⎜⎜ i= ⎟⎟
⎝ ∂p x ⎠
Energia total → Ε ∧ ⎛ =2 ∂2 ⎞ ∧ p x2 ⎛ ∂ ⎞
Η = ⎜⎜ − ⎟ + V (x ) Η= + V ⎜⎜ i= ⎟⎟
⎟ 2m ⎝ ∂p x
2
⎝ 2m ∂x ⎠ ⎠

76
Anexo F. Princípio da sobreposição

Na formulação teórica da mecânica quântica o princípio da sobreposição tem um papel importante.


Este princípio estabelece que se Ψ1 (x, t ) e Ψ2 ( x, t ) são duas funções de onda que descrevem dois

estados físicos distintos, então Ψ (x, t ) = Ψ1 (x, t ) + Ψ2 (x, t ) é também uma função de onda que
descreve um possível estado físico do sistema quântico em análise. A interpretação probabilística
associada à função de onda, estabelece que,

Ψ1 Ψ2
2
( )
= (Ψ1 + Ψ2 ) Ψ1* Ψ2* = Ψ1
2
+ Ψ2
2
(
+ 2ℜ Ψ1 Ψ2* )
⎧ P ( x, t ) = Ψ ( x, t ) 2
⎪ 1
⇒ P(x, t ) = Ψ (x, t ) ≠ P1 ( x, t ) + P2 (x, t ) .
1 2
⎨ (F.1)
⎪⎩ P2 (x, t ) = Ψ2 ( x, t )
2

Mostra-se assim que em fase relativa entre Ψ1 (x, t ) e Ψ2 ( x, t ) é relevante para a determinação

de P(x, t ) , no entanto esta informação de fase é irrelevante para a determinação de P1 (x, t ) ou de

P2 ( x, t ) . Em relação ao princípio da sobreposição é importante também referir que, em geral a função


de onda que descreve o estado quântico de um sistema físico é uma grandeza complexa. Veja-se agora
o seguinte exemplo através da equação de Schrödinger.
Ψ (x, t ) = cos(kx − ωt ) + δ sin (kx − ωt )
⎧ ∂Ψ
⎪⎪ ∂t = ω [sin (kx − ωt ) − δ cos(kx − ωt )] (F.2)
⎨ 2
⎪ ∂ Ψ = − k 2 [cos(kx − ωt ) + δ sin (kx − ωt )]
⎪⎩ ∂x 2

Pelo que da equação de Schrödinger de uma partícula livre,


∂Ψ = ∂ 2Ψ
i= =− (F.3)
∂t 2m ∂x 2

se obtém sucessivamente
=2k 2
i=ω [sin (kx − ωt ) − δ cos(kx − ωt )] = [cos(kx − ωt ) + δ sin (kx − ωt )]
2m

cuja solução possível é δ = i .


Analisando agora a evolução para um estado quântico em t = 0 descrito por Ψ (x,0 ) = cos(kx ) ,

Ψ (x,0 ) = cos(kx ) = Ψ1 (x,0)Ψ2 (x,0)

77
⎧ 1 (ikx )
⎪⎪Ψ1 (x,0 ) = 2 e 1 1
⎨ ⇒ Ψ (x, t ) = e [i (kx −ωt )] + e [−i (kx −ωt )] (F.4)
⎪Ψ (x,0) = 1 e (−ikx ) 2 2
⎪⎩ 2 2

Ψ (x, t ) = cos(kx )e (− iωt ) ≠ cos(kx − ωt ) (F.5)

Conclui-se assim que a função de onda em t = 0 , Ψ ( x,0) , determina o andamento Ψ ( x, t ) , o


que significa que a equação de Schrödinger tem de ser, uma equação diferencial de primeira ordem em
relação ao tempo.

78
Anexo G. Átomo de hidrogénio

G.1. Mudança de coordenadas

Como foi dito no capítulo 6 a equação (6.2) só é possível resolver em determinados sistemas de
coordenadas em que as variáveis possam ser separadas. Como neste caso o campo é central ou de
simetria esférica, há vantagem em usar coordenadas polares esféricas, tais que:

z
Electrão
θ

r
Protão

y
x
φ

Figura G.1 Coordenadas polares esféricas

x = rsen(θ ) cos(φ )
y = rsen(θ )sen(φ ) . (G.1)
z = r cos(θ )

De (G.1) pode-se obter as transformações inversas:

r 2 = x 2 + y 2 + z 2 ; cos(θ ) = ; tg (φ ) =
z y
(G.2)
2 2 2
x +y +z x

a partir (G.2) pode-se calcular as derivadas parciais:


∂r ∂r ∂r ∂θ sen(θ ) ∂θ cos(θ )sen(φ ) ∂φ
= cos(θ ) ; = sen(θ )sen(φ ) ; = sen(θ ) cos(φ ) ; =− = = 0;
∂z ∂y ∂x ∂z r ∂y r ∂z

∂φ cos(θ )
=
∂y rsen(θ )

79
Neste caso o laplaciano ⎡⎣( ∂ 2 ∂x 2 ) + ( ∂ 2 ∂y 2 ) + ( ∂ 2 ∂z 2 ) ⎤⎦ , que também pode ser representado por ∇ 2

ou Δ , tem a forma

1 ⎡∂ ⎛ 2 ∂ ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂ ⎞ 1 ∂2 ⎤
∇2 = ⎢ ⎜r ⎟+ ⎜ sen(θ ) ⎟ + ⎥ (G.3)
r2 ⎣ ∂r ⎝ ∂r ⎠ sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen 2 (θ ) ∂φ 2 ⎦

E assim a equação de Schrödinger pode-se escrever da seguinte forma,


⎧⎪ = 2 1 ⎡ ∂ ⎛ 2 ∂ ⎞ 1 ∂ ⎛ ∂ ⎞ 1 ∂2 ⎤ ⎫⎪
⎨− ⎢ ⎜ r ⎟ + ⎜ sen (θ ) ⎟ + 2⎥
+ V (r )⎬ψ (r ,θ ,φ ) = Εψ (r ,θ ,φ )
⎪⎩ 2 μ r ⎣ ∂r ⎝ ∂r ⎠ sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen (θ ) ∂φ ⎦
2 2
⎪⎭

(G.4)

as soluções desta equação, ψ (r ,θ , φ ) , produtos de três funções, uma só de r , outra só de θ e outra só


de φ .

ψ (r ,θ , φ ) = R(r )Θ(θ )Φ (φ ) . (G.5)

Como no caso do átomo de hidrogénio o problema é a três dimensões, a energia vai depender
de três números quânticos, um para cada coordenada. As soluções da equação de Schrödinger são da
forma,
ψ nlm (r ,θ , φ ) = Rnl (r )Θ lm (θ )Φ m (φ ) (G.6)

A função radial Rnl (r ) , depende dos números quânticos n e l , a função Θ lm (θ ) , dos números

quânticos l e m , e a função Φ m (φ ) , do número quântico m . Os números quânticos n , l e m são


respectivamente o número quântico principal, o número quântico azimutal ou de momento angular
orbital e o número quântico magnético.
É também comum escrever
ψ nlm (r ,θ , φ ) = Rnl (r )Ylm (θ , φ ) = RY (G.7)

associando as funções Θ lm (θ ) e Φ m (φ ) nas chamadas harmónicas esféricas Ylm (θ ,φ ) .

G.2. Equação de onda a três dimensões

Substituindo (G.7) em (G.4) vem

80
⎧ = 2 1 ⎡ d ⎛ 2 dR ⎞⎤ ⎫ =2 1 ⎡ 1 ∂ ⎛ ∂Y ⎞ 1 ∂ 2Y ⎤
Y ⎨− ⎢ ⎜ r ⎟ ⎥ ⎬ − R 2 ⎢ ⎜ sen(θ ) ⎟ + ⎥ + VRY − ΕRY = 0
⎩ 2μ r ⎣ dr ⎝ dr ⎠⎦ ⎭
2
2 μ r ⎣ sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen 2 (θ ) ∂θ 2 ⎦

(G.7)
Separando a equação (G.7) em duas partes, uma em função de r e outra em função de θ e de φ ,
obtém-se

1 d ⎛ 2 dR ⎞ 2 μ 2 1 ⎡ 1 d ⎛ dY ⎞ 1 d 2Y ⎤
⎜r ⎟ + 2 r (Ε − V ) = − ⎢ ⎜ sen (θ ) ⎟ + ⎥. (G.8)
R dr ⎝ dr ⎠ = Y ⎣ sen(θ ) dθ ⎝ dθ ⎠ sen 2 (θ ) dφ 2 ⎦

A (G.9) equação designa-se equação radial. E ζ é uma constante que representa qualquer dos
membros da equação (G.8).
1 d ⎛ 2 dR ⎞ ⎡ 2 μ ζ ⎤
2 ⎜r ⎟ + ⎢ 2 (Ε − V ) − 2 ⎥ R = 0 (G.9)
r dr ⎝ dr ⎠ ⎣ = r ⎦

Para o segundo membro de (G.8) vem


1 ∂ ⎛ ∂Y ⎞ 1 ∂ 2Y
⎜ sen(θ ) ⎟ + + ζY = 0 (G.10)
sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen 2 (θ ) ∂φ 2

se considerar o operador Ω
1 ∂ ⎛ ∂ ⎞ 1 ∂2
Ω= ⎜ sen(θ ) ⎟ + (G.11)
sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen 2 (θ ) ∂φ 2

assim a equação (G.10) pode escrever-se como


ΩY (θ , φ ) = ωY (θ , φ ) (G.12)

(G.12) é uma equação de valores próprios ω , sendo ω = −ζ .

G.3. Momento angular

O problema do momento angular surge na resolução da equação de Schrödinger e para o átomo de


hidrogénio é particularmente importante visto que o momento angular está associado ao momento
magnético resultante da carga em movimento.
O momento angular é L = r × p , sendo p = mv . Em mecânica quântica os vectores são

substituídos por operadores e p = −i= 2 ∇ , fazendo a correspondência pode escrever-se que

81
L = Lx + L y + Lz ⇔ −i= 2 (r × ∇ ) (G.13)

⎡ ∂ ∂⎤
Lx = −i= 2 ⎢ y − z ⎥
⎣ ∂z ∂y ⎦
⎡ ∂ ∂⎤
L y = −i= 2 ⎢ z − x ⎥ (G.14)
⎣ ∂x ∂z ⎦
⎡ ∂ ∂⎤
L z = − i= 2 ⎢ x − y ⎥
⎣ ∂y ∂x ⎦

2 2 2
sendo também verdade que L2 = Lx + L y + Lz .

Para obter L2 em coordenadas esféricas basta relacionar (G.1) e (G.14):


⎡ 1 ∂ ⎛ ∂ ⎞ 1 ∂2 ⎤
L2 = −= 2 ⎢ ⎜ sen(θ ) ⎟ + 2⎥
= −= 2 Ω . (G.15)
⎣ sen(θ ) ∂θ ⎝ ∂θ ⎠ sen (θ ) ∂φ ⎦
2

A equação de valores próprios


L2Y (θ , φ ) = λY (θ , φ ) (G.16)

sendo λ = l (l + 1)= 2 , fica

L2 = l (l + 1)= 2 . (G.17)

82
Referências

[1] S. Gasiorowicz, Quantum Physics, Second Edition, University of Minnesota, John Wiley &
Sons, Inc., EUA, 1995.

[2] C. R. Paiva, Mecânica Quântica, Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico,
Lisboa, Portugal, Maio 2007.

[3] C. R. Paiva, Álgebra Geométrica e Electromagnetismo, Universidade Técnica de Lisboa,


Instituto Superior Técnico, Lisboa, Portugal, Setembro 2006.

[4] C. Doran and A. Lasenby, Geometric Algebra for Physicists, Cambridge University Press,
Cambridge, UK, 2003.

[5] L. Alcácer, Introdução à Química Quântica Computacional, Ensino da Ciência e Tecnologia


IST Press, Janeiro 2007.

[6] C. R. Paiva, Introdução aos Métodos Variacionais, Universidade Técnica de Lisboa, Instituto
Superior Técnico, Lisboa, Portugal, Abril 2004.

[7] Hestesnes,D., New Foundations for Classical Mechanics, Kluwer Academic Publishers,
Dordrecht, KNL, 1984.

[8] Hestenes,D., Space-Time Algebra, Gordon & Breach Science Pub, New York, USA, 1966.

[9] Hestenes,D., “Poper Dynamics of a Rigid Point Particle”, Journal of Mathematical Physics,
Vol. 15, Issue 10, Oct. 1974.

[10] P. J. E. Peebles, Quantum Mechanics, Princeton University Press, Princeton, N.J 1992.

[11] D. J. Griffiths., Introduction to Quantum Mechanics, Prentice Hall, Upper Saddle River, 1998.

[12] D. Park, Introduction to the Quantum Theory, 3rd edition McGraw-Hill, New York, 1984.

[13] F. Schwabl, Quantum Mechanics, Springer-Verlag, New York, 1992.

83
[14] R. Shankar, Principles of Quantum Mechanics, Plenum Press, New York, 1980.

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