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Araras
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL
Araras
2014
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
a
CDD: 628.4 (20 )
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DE
THAIS MENINA OLIVEIRA DE SIQUEIRA
APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL, DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO CARLOS, EM 18 DE DEZEMBRO DE 2014.
BANCA EXAMINADORA:
DEDICATÓRIA
LISTA DE TABELAS
Pág.
CAPÍTULO 1
Tabela 1. Metas de redução de resíduos orgânicos dispostos em aterros 15
(adaptado de BRASIL, 2012)
Tabela 2. Quantidade diária de resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos 17
encaminhados para diferentes formas de destinação final (Extraído de IPEA,
2012)
Tabela 3. Número de municípios com unidades de compostagem e quantidade 18
total de resíduos encaminhados para esses locais (2000 e 2008) (Extraído de
IPEA, 2012)
Tabela 4. Principais manuais de orientação para elaboração de planos 21
municipais de gestão integrada de resíduos sólidos identificados durante a
pesquisa.
Tabela 5. Termos relacionados às palavras “compostagem” e “orgânico” nos 22
manuais de orientação para elaboração de planos municipais de gestão
integrada de resíduos sólidos.
Tabela 6. Padrão de cores para a coleta seletiva determinado pela Resolução 24
CONAMA 275/2001 (BRASIL, 2001).
CAPÍTULO 2
Tabela 1. Experiências em compostagem de resíduos sólidos urbanos no 69
estado de São Paulo (situação: a = ativa; e = encerrada).
Tabela 2. Causas comuns de interrupção de atividades descentralizadas ou 81
com separação de resíduos orgânicos na fonte (UTC = Unidade de Triagem e
Compostagem; PUC = Pátio Urbano de Compostagem).
CAPÍTULO 3
Tabela 1. Natureza dos gestores contatados e status de funcionamento das 92
atividades.
CAPÍTULO 4
Tabela 1. Rotas centralizadas (c) de tratamento de RSU com separação na 119
fonte identificadas no estado de São Paulo.
Tabela 2. Rotas descentralizadas (d) de tratamento de RSU com separação 120
na fonte identificadas no estado de São Paulo.
Tabela 3. Estratégias desenvolvidas por iniciativas da sociedade civil ou 127
comunitárias, privadas e públicas.
ii
LISTA DE FIGURAS
Pág.
CAPÍTULO 1
Figura 1. Materiais de comunicação com a sociedade, elaborados pela 23
Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, e que tratam da compostagem
como prática realizada em usinas, sem menção à coleta de resíduos
orgânicos. a) Cadernos de Educação Ambiental; b) Cadernos Coleta Seletiva
para Prefeituras; c) Coleta Seletiva para Comunidades.
Figura 2. A esquerda, cartaz exposto em interior de metrô, na cidade de São 24
Paulo (junho 2013), indicando o coletor cinza para resíduo orgânico; a direita,
lixeiras em frente à Câmara Legislativa no município de Araras (agosto 2014),
indicando sua não reciclagem: exemplos de que a fração orgânica é mais
reconhecida como rejeito que como resíduo.
Figura 3. Leiras de compostagem de resíduos sólidos urbanos em pátio da 25
usina de compostagem de São José dos Campos (SP) (Extraído de: SILVA et
al., 2002).
Figura 4. Composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos gerados: (A) 27
na UGRHI5, que compreende Piracicaba, Capivari e Jundiaí; (B) na Região
Metropolitana da Baixada Santista e Ubatuba; e C) no município de São Paulo
(Adaptado de: SÃO PAULO, 2014).
Figura 5. A) Diferentes escalas de tratamento descentralizado de resíduos 35
sólidos para comunidades carentes; B) rota de tratamento de uma das opções
sugeridas (Extraído de: ZIMMANN, 2011).
Figura 6. Centros de compostagem comunitária (pontos marrons) implantados 36
nas cinco regiões da cidade de Nova Iorque em 2012. Em 2013 o número de
sítios aumentou para 221 (Fonte: NYC-CP, 2014).
Figura 7. Projeto Revolução dos Baldinhos, em Florianópolis (SC): A) ponto 42
de entrega voluntária; B) pátio de compostagem na escola. (Extraído de:
ABREU, 2013).
Figura 8. Projeto Revolução dos Baldinhos: utilização do composto em hortas 42
residenciais de bairro de Florianópolis (SC) (Extraído de: ABREU, 2013).
Figura 9. Consumo de fertilizantes industriais no mundo no período 2006- 44
2009: A) escala dos 10 países que apresentaram maior consumo; B) escala
dos maiores importadores de fertilizantes (Fonte: FAO, 2014).
Figura 10. Quantidade de fertilizantes comercializados por área plantada, 45
entre os anos de 1992 e 2010 no Brasil (Extraído de: IBGE, 2012).
Figura 11. Resíduos orgânicos na Companhia de Entrepostos e Armazéns 46
Gerais de São Paulo (CEAGESP).
Figura 12. Desperdício de resíduos sólidos orgânicos e outros nutrientes 47
gerados nas áreas urbanas (Extraído de: DRECHESL; KUNZE, 2001).
CAPÍTULO 2
Figura 1. Sistematização das experiências em compostagem de resíduos 67
sólidos urbanos, encontradas no estado de São Paulo.
iii
CAPÍTULO 4
Figura 1. Evolução populacional, da geração de resíduos sólidos e o 116
crescimento do produto interno bruto (PIB) no Brasil (2002–2009) (Extraído de:
CAMPOS, 2012).
Figura 2. Coleta seletiva terceirizada de resíduos orgânicos domiciliares em 121
Mogi Mirim com os resíduos sendo tratados em usina de adubo orgânico
(Fonte: BADRA, 2014).
Figura 3. Veículo pertencente à Associação para Proteção do Meio Ambiente 122
de São Carlos (APASC), parceira do Projeto ABC da Compostagem (Extraído
de: MASSUKADO, 2008).
Figura 4. Compostagem de resíduos orgânicos em diferentes ambientes no 123
espaço urbano: a) em horta comunitária (Projeto GIRO, bairro Vila Prado, São
Carlos); b) em espaço comunitário (Condomínio Grevilhas, Araras); c) em
escola (ABC da Compostagem, São Carlos) (foto: MASSUKADO, 2008); d) em
ecoponto (Jardim das Acácias em São Paulo) (foto: SAJAPE, 2012); e) horta
municipal (São Carlos) e f) Serraria Ecológica (Guarulhos).
Figura 5. Padrão geral de escoamento do composto de resíduos sólidos 125
urbanos orgânicos identificado nas rotas de tratamento, com separação na
fonte, observado no estado de São Paulo.
iv
RESUMO
Existem experiências bem sucedidas com compostagem de resíduos sólidos
urbanos (RSU)? É possível implantar soluções para os resíduos orgânicos
urbanos, alternativas ao modelo convencional de usinas de triagem e
compostagem? Responder a estas perguntas foi o principal objetivo deste
trabalho. O estado de São Paulo foi o foco da pesquisa. A metodologia incluiu o
levantamento de dados primários e secundários acerca de experiências
paulistas de compostagem centralizada e descentralizada e entrevistas
semiestruturadas com gestores, em contatos pessoais, telefônicos ou via
correio eletrônico. Foram identificadas seis modalidades de compostagem e
quinze rotas de tratamento de resíduos orgânicos com separação na fonte,
além de fatores que impulsionam e que restringem o desenvolvimento de
atividades de compostagem no estado. Os resultados desvelam a diversidade
de alternativas para valorização de resíduos orgânicos em meio urbano,
apontam brechas para a atuação de grupos que lucram com a disposição final
e revelam a falta de apoio e incentivo público às atividades de compostagem
empreendidas por diversos atores no estado. Conclui-se que a
descentralização da atividade, a diversificação das rotas tecnológicas de
compostagem e o estímulo aos empreendedores sociais, públicos e privados
pode acelerar o desvio de RSU dos aterros sanitários e lixões, contribuir para a
agricultura urbana e rural e permitir a implantação de uma cultura racional de
gestão de resíduos sólidos.
ABSTRACT
APRESENTAÇÃO
1
Em diferentes textos, técnicos ou científicos, a fração passível de compostagem dos RSU recebe
distintos nomes – resíduo úmido, orgânico, biodegradável, compostável. Neste trabalho, na maioria das
vezes, será adotado o termo resíduo orgânico.
2
De forma simplista, gestão é a política a ser seguida, com o estabelecimento de metas e diretrizes.
Gerenciamento é o conjunto de ações (geralmente a coleta, transporte, tratamento e disposição) a
serem seguidas como forma de se alcançar a gestão definida (TEIXEIRA, 2009).
8
3
Usina de reciclagem e compostagem corresponde ao termo atual, usina de triagem e compostagem. No
presente texto ambos serão utilizados, conforme a fonte mencionada.
11
coleta seletiva dos resíduos orgânicos influi diretamente nisto (PIRES; ANDRÉ;
COSCIONE, 2009).
A bibliografia indica que as causas da falência do sistema de
compostagem brasileiro variaram de região para região, de acordo com as
configurações políticas que se formavam, com as opções tecnológicas que se
dispunham, com os grupos mais aptos e influentes a oferecer tais serviços e
com o nível de capacitação, esclarecimento e comprometimento dos técnicos e
gestores públicos envolvidos. Em geral, observa-se que a gestão de resíduos
no Brasil tem sido guiada pelas demandas de mercado, com insuficiente
atuação do estado para organizar e disciplinar ações públicas e privadas,
servindo a uma população apática e pouco organizada frente às inúmeras
situações emergenciais cotidianas – uma soma de fatores que levou à situação
caótica atual.
Figueiredo (2009) corrobora e atenta para mais um importante fator:
4
Segundo a PNRS, “resíduos que depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e
recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não possuem outra
possibilidade que não a disposição final” (BRASIL, 2010).
15
Plano de Metas
Região
2015 2019 2023 2027 2031
2000 2008
Destino final Quantidade Quantidade
% %
(t/d) (t/d)
Aterro sanitário 49.614,50 35,4 110.044,40 58,3
Aterro controlado 33.854,30 24,2 36.673,20 19,4
Vazadouros a céu aberto (lixão) 45.484,70 32,5 37.360,80 19,8
Unidade de compostagem 6.364,50 4,5 1.519,50 0,8
Unidade de triagem para
2.158,10 1,5 2.592,00 1,4
reciclagem
Unidade de tratamento para
483,10 0,3 64,80 <0,1
incineração
Vazadouros em áreas alagáveis 228,10 0,2 35,00 <0,1
Locais não fixos 877,30 0,6 - .
Outra unidade 1.015,10 0,7 525,20 0,3
Total 140.080,70 - 188.814,90 -
18
b)
c)
Figura 2. A esquerda, cartaz exposto em interior de metrô, na cidade de São Paulo (junho
2013), indicando o coletor cinza para resíduo orgânico; a direita, lixeiras em frente à
Câmara Legislativa no município de Araras (agosto 2014), indicando sua não reciclagem:
exemplos de que a fração orgânica é mais reconhecida como rejeito que como resíduo.
25
5
Índice de Qualidade de Usinas de Compostagem, aferido e publicado anualmente pela CETESB desde
1997.
26
a) Ligados na Pilha
O Projeto Ligados na Pilha teve início em 2005 por iniciativa dos
professores Heloisa Micheletti (São José dos Campos) e Efraim Rodrigues
(Londrina). Com o sucesso da implantação do sistema na primeira escola, a
prática passou a ser disseminada para outras instituições e em 2007 já havia
se expandido para 35 escolas públicas e privadas no Paraná, São Paulo e
Distrito Federal (LIGADOS NA PILHA, 2008). O projeto possui estratégias de
implantação e envolvimento de professores e alunos e é levado somente para
escolas que demonstrem interesse em implantá-lo. As particularidades da
escola são levantadas, identificando os professores e colaboradores mais
entusiasmados que vão conduzir a compostagem. Os professores também são
instruídos sobre conteúdos relacionados à compostagem que podem ser
trabalhados em sala de aula e orientados quanto a escolha de alunos que vão
participar da fase de implantação e manutenção da pilha de composto
(LIGADOS NA PILHA, 2008). O composto produzido é utilizado nas hortas das
escolas, o que também incentiva a implantação das mesmas em escolas que
ainda não as possui. Ao atingir sua capacidade de agregar e instruir novas
escolas, os iniciadores do projeto solicitaram que as escolas mais antigas
orientassem as mais novas, estabelecendo um método de propagação e
incentivando a formação dos próprios alunos como agentes ambientais.
Escolas possuem ampla inserção na sociedade e atuam como um órgão
irradiador da prática da compostagem. Facilidades e dificuldades podem ser
39
A B
Figura 12. Desperdício de resíduos sólidos orgânicos e outros nutrientes gerados nas
áreas urbanas (Extraído de: DRECHESL; KUNZE, 2001).
orgânicos gerados nas cidades pode ser viável, bem sucedido e contribuir
significantemente com o desenvolvimento social e econômico dos territórios.
ALI, M. The Context. In: ALI, M. (Org). Sustainable composting: case studies
and guidelines for developing countries. Water, Engineering and Development
Centre, Loughborough University, UK, 2004. p. 5-11.
NOSSA SÃO PAULO. Rede Nossa São Paulo. Rede Social Brasileira para
Cidades Justas e Sustentáveis. Guia para implantação da Política Nacional
de Resíduos Sólidos. São Paulo, 2013. 57 p.
PARANÁ ON LINE. Lixo vegetal vira adubo para parques em Curitiba. 6 mai
2009. Disponível em: <http://ipevs.org.br/blog/?p=504>. Acesso: 02 jan 2014.
WEZEL, A.; BELLON, S. DORÉ, T.; FRANCIS, C.; VALLOD, D.; DAVID, C.
Agroecology as a science, a movement and a practice: a review. Agronomy
for Sustainable Development, v. 29, n. 4, p. 503-516, 2009.
Resumo
Resíduos orgânicos compõem mais da metade dos resíduos sólidos urbanos
(RSU) coletados no Brasil e grande parte não é transformada em composto,
gerando sérios problemas ambientais. Este trabalho teve por objetivos: i)
identificar experiências de compostagem de RSU no estado de São Paulo; ii)
caracterizar a dinâmica das modalidades identificadas; e iii) traçar um
panorama da compostagem de RSU no estado. O levantamento permitiu
identificar seis modalidades de experiências de compostagem, agrupadas em
dois modelos de gestão: centralizado e descentralizado. Foram observadas
oportunidades, desafios e demandas para se organizarem sistemas eficientes
que colaborem com a gestão municipal e produzam composto de qualidade
6
Trabalho submetido à Revista Ambiente e Sociedade, como parte das exigências de Qualificação para o
Mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural.
63
Abstract
Organic waste encompasses more than half of municipal solid waste (MSW)
collected in Brazil and much of it is not composted, creating serious
environmental problems. This study aimed to: i) identify composting
experiences of MSW developed in the state of São Paulo; ii) characterize the
dynamics of the modalities identified; and iii) give an overview of MSW
composting in the state. The survey identified six modalities of composting
experiences grouped into two management models: centralized and
decentralized. Opportunities, challenges and demands were observed for
organizing efficient systems to collaborate with municipal management and
produce quality compost for agriculture. The research has shown that MSW
have systematically returned to landfills, even after successful experiences,
indicating that the legislation has not been sufficient to prioritize composting in
São Paulo cities and to divert organic waste from final disposal.
Keywords: Centralized composting, decentralized composting, organic waste,
organic fertilizer.
2.1. INTRODUÇÃO
A geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil cresceu 4,1% de
2012 para 2013, enquanto que a taxa de crescimento populacional urbano foi
de 3,7% no mesmo período (ABRELPE, 2014). A maior porcentagem (51,4%)
dos resíduos gerados nas cidades brasileiras é constituída por resíduos
orgânicos (IBGE, 2010). Quando dispostos em aterros ou lixões estes resíduos
causam elevados impactos ambientais, reduzem o tempo de vida dos aterros e
geram despesas que poderiam ser evitadas. Uma forma viável e sustentável de
64
MODELO MODELO
CENTRALIZADO DESCENTRALIZADO
(UAO)
CEAGESP AgroDKV, a
Prefeitura de Piracicaba – Resíduos de poda Bioland, a
Experiência piloto de Coleta Seletiva de orgânicos BASF, Visa Fértil, Prefeitura, e
(Bairros Jd. Paulista e Jd. Silvania, Mogi Mirim) parceiros, 2013, e
Compostagem Descentralizada
Zoológico de São Paulo Autogestão, desde 2003, a
Públicos
Tabela 1. (cont.)
Creche/Pré-Escola Oeste, USP (São Paulo)i USP Recicla, desde 1994, a
Instituições de Ensino e Educação Creche Ermelinda Ottoni Queiroz, ESALQ (Piracicaba) i
USP Recicla, desde 2004, a
Compostagem Institucional
i
Creche Carochinha (Ribeirão Preto) USP Recicla, desde 1998, a
Colégio Santa Cruz (São Paulo)i Morada da Floresta, 2013, a
i
Escola não identificada (São Paulo) KMA, desde 2013, a
EE Alarico Silveira (São Paulo) Autogestão, desde 2013, a
i
EE Dr João Vitor Lamanna (Jacareí) Ligados na Pilha, desde 2008, a
EE Dr Dorothoveo Gaspar Viana (Jacareí)i Ligados na ilha, 2006 a 2014, e
i
EE Prof. João Cruz (Jacareí) Ligados na ilha, 2007 a 2011, e
Ligados na Pilha e Prefeitura,
Programa Compostagem em Escolas Municipais (Igaratá)i
2006 a 2008, e
Condomínios periurbanos (Araras) Moradores, desde 2013, a
Domi-
ciliar
iii
Condomínio residencial (Guarujá) KMA, 2006 a 2010, e
Projeto ABC da Compostagem (Bairros Santa Angelina,
CDCC/USP, SENAC, Prefeitura,
Santa Felícia e Planalto Paraíso, São Carlos) (MASSUKADO,
2005 a 2007, e
2008)
Casa do Estudante UNICAMP (Campinas) Moradores, e
Projeto Moradia Estudantil Agroecológica (Botucatu) Moradores, e
Parceria público privada (PPP),
Pátio de Compostagem Assiite (São Bernardo do Campo)
desde 1988, a
Viveiro Arthur Etzel, Parque do Carmo (São Paulo) Prefeitura, desde 1996, a
Pátio subprefeitura Lapa (São Paulo) Prefeitura, desde 2009, a
Pátio Urbano de Compostagem (PUC)
7
Segundo artigo 2º do Decreto Federal nº 4.954/2004, fertilizante organomineral é o produto resultante
da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos (BRASIL, 2004).
74
Compostagem
Descontinuidade por questões político-administrativas ou
Comunitária,
burocráticas
Institucional, PUC
Encerramento das atividades da empresa que prestava o
PUC
serviço
Falta de apoio e interesse por parte administração pública
PUC
local
“Perceba que esse universo do lixo é bem complicado. Quem sabe não fala, quem fala nada
sabe, quem quer saber não tem resposta e, quando fica sabendo e passa a falar, é taxado
como louco. Bem vinda.”
Gestor público de atividade de compostagem, março 2014
Resumo
Atividades de compostagem de resíduos sólidos urbanos (RSU) têm sido
desenvolvidas em municípios paulistas por atores de diferentes setores.
Independente do grau de sucesso, essas atividades podem apontar caminhos
para auxiliar o desenvolvimento de estratégias de gestão mais sustentáveis e
evitar a disposição final de resíduos orgânicos. Por meio de entrevistas
semiestruturadas com gestores públicos, privados, comunitários e acadêmicos,
objetivou-se com este trabalho: i) identificar fatores que restringem o
desenvolvimento de atividades de compostagem de RSU; e ii) listar aspectos
que podem impulsionar a implantação destas atividades em meio urbano e
propiciar seu sucesso. Os fatores restritivos e os aspectos que podem
colaborar para novas atividades de compostagem em meio urbano foram
89
3.1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a compostagem de resíduos orgânicos é uma atividade pouco
praticada e quase a totalidade desses materiais são dispostos em aterros
sanitários e lixões (IPEA, 2012). A disposição final de resíduos orgânicos polui
seriamente o ar, a água e o solo e gera altos custos sociais e econômicos.
Técnicas atualmente disponíveis para compostagem, e já largamente utilizadas
em todo o mundo, demonstram que se esses materiais forem tratados de forma
adequada, torna-se possível transformar um grave problema em uma atividade
socioeconômica importante, contribuindo positivamente na geração de trabalho
e renda, na recuperação de áreas degradadas e na preservação e conservação
dos recursos naturais.
Segundo o Institute for Local Self-Reliance (ILSR, 2014)
Compostagem é intrinsecamente local e pode trazer inúmeros
benefícios para as comunidades, empresas e agricultores, bem como
ajudar a proteger os recursos naturais terrestres e aquáticos. É uma
técnica milenar que converte materiais orgânicos para húmus, um
valioso condicionador do solo. O composto acrescenta necessária
matéria orgânica ao solo, sequestra carbono no solo, melhora o
crescimento das plantas, reduz o uso de água em 10%, impede a
erosão do solo e escoamento de nutrientes, ajuda a gerenciar de
águas pluviais, evita metano em aterro e as emissões de incineração
de resíduos e reduz a dependência de produtos químicos pesticidas
e fertilizantes. Compostagem também faz sentido econômico. Em
uma base por tonelada, as operações de compostagem sustentam
sozinhas de 4 a 8 vezes o número de postos de trabalho que aterros
sanitários. Pode não só reduzir os custos públicos de gestão de
resíduos sólidos, mas também cria novos empregos e negócios
verdes e diversifica a base econômica.
“O governo atual até agora eu não sei qual é a política deles pra essa
questão da compostagem. Porque eu já apresentei esse trabalho pra
eles. A ideia era retomar essa unidade [de compostagem] lá [no espaço
cedido pela administração municipal anterior], mas não teve retorno. Eu
acho que eles têm outros grandes problemas (...) em consequência
dessa transição de governo. É uma coisa assim que escapa da nossa
responsabilidade...”
Entrevistadora – Teve essa conversa, que “não, não queremos”
[implantar atividade de compostagem no município]?
“Teve. Não avança... não vai. O estado das coisas está tão enraizado
que as pessoas estão numa zona de conforto, entendeu? ‘Ah... Tira de
um lugar enfia no outro’. ‘Ah tá bom assim, vamo lá...’ E é assim
praticamente em todo município. Simplesmente empurram o problema
pra outro local.”
Entrevistadora – Agora os resíduos desses restaurantes estão indo
pra onde?
“Pro aterro.” (Gestor Privado 2)
De acordo com o relato dos gestores foi possível observar que a falta de
apoio ou dificuldade em articular com a prefeitura pode decorrer do simples
desinteresse do gestor municipal. Em alguns casos esse desinteresse pode ser
consequência i) da falta de conhecimento e capacitação da equipe municipal; ii)
da rigidez do modelo centralizado de gestão municipal de resíduos; iii) de
interesses particulares dos tomadores de decisão sobre o projeto de
compostagem; e ou iv) de interesses de grandes grupos de gestão de resíduos
influenciando decisões do poder público local.
municipal], já acha que é muito, o cara cresce os olhos... Acha que é ele
quem vai fazer. Ih! isso já aconteceu um monte de vezes.” (Gestor
Privado 2)
“... só que a empreiteira não ganhava dinheiro com isso. Você entende?
O modelo funciona, o modelo funciona! É. Era um jeito muito simples...”
[referindo-se à atividade que desviava resíduos orgânicos do aterro e foi
interrompida].
Entrevistadora: Hoje em dia você tem conseguido contornar os
conflitos políticos internos que você viveu anteriormente [ao
desenvolver atividades de aproveitamento de resíduos]?
“Não. É muito difícil. Os interesses econômicos são muito grandes...
muito grandes...”
Entrevistadora: Isso parece ser um empecilho pra se implantar
sistemas eficientes [de compostagem].
“É o principal. As empresas são... tudo na vida é montado pra ter a maior
eficiência e melhor retorno econômico, né. Então se você ganha bastante
dinheiro jogando fora [dispondo em aterro], pra quê eu vou criar uma
estrutura de separação, de reciclagem, se o dinheiro que eu continuaria
ganhando vai diminuir?” (Gestor Público 1)
3.4. RECOMENDAÇÕES
Ao longo da pesquisa, foi possível identificar propostas que podem
contribuir para estimular a implantação de sistemas de compostagem de
resíduos sólidos orgânicos produzidos em áreas urbanas. Essas propostas,
apresentadas aqui a título de sugestão, são decorrentes de experiências
vividas pelos gestores entrevistados e de relatos colhidos em fontes
bibliográficas e observações de campo.
8
Segundo Resolução SMA nº 102, “método de tratamento biológico de resíduos sólidos orgânicos,
realizado pela ação de vermes anelídeos (minhocas), em parte por ação mecânica, em parte pelo seu
processo digestivo, tendo como principal produto o vermicomposto, conhecido como húmus de
minhoca ou coprólito.”
103
“Pelo menos tem que ter uma área, tem que ter um mínimo de apoio da
municipalidade. (...) A gente não tem condições financeiras de assumir
desde a coleta... e até porque não é intenção nossa (...) fazer esse
trabalho de transporte, entendeu? Isso daí continuaria sendo feito pelas
empresas que estão instaladas. A ideia não é tirar essas empresas. É
simplesmente, entre o gerador e o aterro, ter um ponto antes.” (Gestor
Privado 2)
104
dizer, ideias que eles davam, eles mesmos! Então havia isso. Um grupo
de pessoas que apoiavam e tinham ideias.” (Consultor para Iniciativa
Pública)
sacada que sempre discuti é que estes resíduos não precisam gerar
renda, e sim, gerar menos gastos nos aterros - obras (...) que
consomem recursos altíssimos para mitigar exatamente os subprodutos
de uma não compostagem.” (Gestor Acadêmico, por email)
ALI, M. The Context. In: ALI, M. (Org). Sustainable composting: case studies
and guidelines for developing countries. Water, Engineering and Development
Centre, Loughborough University, Leicestershire, UK, 2004. 124p.
“O grande problema das pessoas é que elas pensam em projetos sempre em escalas
monumentais...”
Gestor público de atividade de compostagem, junho 2013
Resumo
Com o aumento da geração de resíduos sólidos e a escassez de
espaços próximos ao ambiente urbano para a construção de aterros, a
disposição final de resíduos no solo se torna cada vez mais dispendiosa. A
compostagem de resíduos urbanos é uma tecnologia facilmente adaptável,
apropriada para o tratamento de resíduos de diferentes estratos
socioeconômicos e áreas geográficas. Este trabalho teve por objetivos i)
identificar rotas alternativas de tratamento de resíduos urbanos orgânicos
observadas no estado de São Paulo e ii) identificar as principais demandas e
estratégias utilizadas para sua implantação. Por alternativas compreende-se
rotas com separação na fonte. As experiências de compostagem identificadas
e as entrevistas junto aos gestores descritas no capítulo 2 foram utilizadas
como base de informação. Foram identificadas cinco rotas de tratamento
115
4.1. INTRODUÇÃO
Resíduos orgânicos coletados de modo não seletivo são geralmente
encaminhados para a disposição final, uma vez que os custos para gerar
adubo de qualidade a partir de matéria prima não segregada são elevados e
inviáveis para a maioria dos municípios brasileiros. Com a proibição dos lixões
no Brasil, a partir de agosto de 2014, aterros sanitários passaram a ser o
destino ambientalmente correto para rejeitos. Isto tem levado municípios a
lançarem mão destes empreendimentos para destinar resíduos orgânicos,
mesmo com a proibição imposta pela Lei nº 12.305/2010.
Aterrar resíduos não é apenas ilegal. A evidência de sua inviabilidade se
acentua não só do ponto de vista do uso racional dos recursos, mas também
do ponto de vista financeiro. Nota-se, até 2008, uma associação direta entre a
geração de resíduos sólidos e o PIB; mas, em 2009, houve redução do PIB
116
A maior parte dos resíduos sólidos urbanos (RSU) no país tem como
destino aterros sanitários (58,3% ou 110.044 t/dia) e lixões (39,2% ou 74.034
t/dia9) (IPEA, 2012). No estado de São Paulo 65% dos municípios destinam
seus resíduos para aterros que se encontram com vida útil menor ou igual a
cinco anos (SÃO PAULO, 2014). Resíduos orgânicos compõem mais da
metade dos RSU e ainda assim, estima-se que uma mínima parcela (1,6%)
vem sendo efetivamente desviada da disposição final e aproveitada por meio
da compostagem (IPEA, 2012). Em contraposição à lógica do descarte ilimitado
de resíduos em aterro e lixões, rotas alternativas de tratamento têm sido
implantadas por iniciativa de gestores públicos, do setor privado e da
sociedade civil. Entretanto, tais rotas permanecem à margem da tendência
principal e subordinadas à política macroeconômica adotada no Brasil
(BRASIL, 2012). Para além destas questões, a não geração e a redução da
geração dos resíduos devem ser priorizadas, independentemente do quão
eficiente seja o tratamento.
9
Valor correspondente à soma da quantidade de resíduos disposta em lixões e aterros controlados.
117
4.2. METODOLOGIA
As experiências paulistas ativas e extintas de compostagem
apresentadas no capítulo 2 foram utilizadas como base para a identificação de
rotas alternativas de tratamento de resíduos orgânicos gerados em diferentes
ambientes. As informações obtidas por meio de entrevistas semiestruturadas
com os gestores também foram utilizadas para a descrição das rotas e
identificação das estratégias utilizadas para o seu desenvolvimento.
Tabela 1. Rotas centralizadas (c) de tratamento de RSU com separação na fonte identificadas no estado de São Paulo.
Rota Forma de coleta Local processamento Destinação do composto Iniciativa Exemplo
RESÍDUO DOMICILIAR
Usina de triagem e Agricultores, horta Coleta seletiva de resíduos orgânicos
1c Coleta seletiva domiciliar Público-privada
compostagem (UTC) municipal (Itatinga), Prefeitura e ABD, 2008
Usina de adubo orgânico Iniciativa piloto em Mogi Mirim,
2c Coleta seletiva domiciliar Retorno aos moradores Público-privada
(UAO) Prefeitura, BASF e Visa Fértil, 2013
RESÍDUOS DE FEIRAS, CEASAS E GRANDES GERADORES
Programa Feira Limpa, Prefeitura São
3c Coleta seletiva em feiras UTC Comercialização Pública
Paulo, 2002
Coleta seletiva em grande Privada - Walmart, Carrefour.
4c UAO Comercialização
gerador Público-Privada - CEAGESP e AgroDKV
RESÍDUO DE PODA E CAPINA MUNICIPAL
5c Coleta de poda municipal UAO Comercialização Público-Privada Prefeitura de Piracicaba e Bioland
120
Tabela 2. Rotas descentralizadas (d) de tratamento de RSU com separação na fonte identificadas no estado de São Paulo.
Rota Forma de coleta Local processamento Destinação do composto Iniciativa Exemplo
RESÍDUO DOMICILIAR
Hortas, roçados e jardins Comunitária - Condomínios periurbanos (Araras)
1d - Domicílios
domiciliares Pesquisa acadêmica - Vila Sto Antônio (Camp do Jordão)
Horta comunitária Vila Prado (São Carlos); Condomínio
Entrega voluntária dos Horta comunitária, retorno Comunitária
2d Pátio comunitário Grevilhas (Araras)
resíduos aos moradores Público-comunitária - Projeto Compostando no Ecoponto
Ecoponto
- Cond Vivendas do Lago (Sorocaba)
Pátio comunitário ONG
3d Coleta seletiva domiciliar Retorno aos moradores - Projeto ABC da Compostagem (São
Escola Pesquisa acadêmica Carlos)
Pátio urbano de
4d Coleta seletiva domiciliar Retorno aos moradores ONG - Pátio ONG Pé de Planta (Sorocaba)
compostagem (PUC)
RESÍDUOS DE COMÉRCIO E SERVIÇO E DEMAIS INSTITUIÇÕES
Interior de estabeleci- Privada - Shopping Eldorado (São Paulo);
- Zoológico de São Paulo; Viveiro
mentos privados, órgãos Agricultura, hortas e jardins Público-institucional
5d - Manequinho Lopes (São Paulo); USP
públicos e instituições de locais, doação Recicla
ensino Sociedade Civil - Projeto Ligados na Pilha
Coleta seletiva em - Horta Municipal, Prefeitura de São
Horta municipal, agricultores Pública
6d estabelecimentos públicos PUC (Horta municipal) Carlos
locais, jardins e praças Público-privada - Pátio Comp. Acelerada (Guarulhos)
e comerciais
RESÍDUOS DE FEIRAS E CEASAS
- Subprefeitura São Mateus e Casa da
7d Coleta seletiva em feira PUC Agricultores periurbanos Pública
Agricultura (São Paulo)
Propriedades agrícolas Assentamento da Reforma Agrária
8d Coleta seletiva CEAGESP - Público-institucional
(envio in natura) (Franco da Rocha)
RESÍDUO DE PODA E CAPINA MUNICIPAL
Agricultores, hortas Pátio de Compostagem Assiite (São
PUC (Equipamentos Pública
9d Coleta de poda municipal comunitárias, viveiros, Bernardo do Campo); Serraria
públicos) Público-privada Ecológica (Guarulhos)
jardins e praças públicas
Propriedades agrícolas
10d Coleta de capina municipal - Pública Prefeitura de Jaguariúna
(envio in natura)
121
10
PEVs – Pontos de Entrega Voluntária (Ecopontos) para acumulação temporária de resíduos; LEVs –
Locais de Entrega Voluntária – contêineres, sacos ou outros dispositivos instalados em espaços públicos
ou privados monitorados, para recebimento de recicláveis (MMA, 2011). O documento se refere aos
termos como estruturas para o gerenciamento de resíduos recicláveis e resíduos da construção civil.
123
a b
c d
e f
11
Não se adotou um padrão de classificação para escalas de compostagem. Os termos pequena, média
e grande escalas são utilizados neste trabalho de forma intuitiva, buscando-se, entretanto, vincular seus
significados ao contexto em que são tratados no texto.
127
CONCLUSÃO
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO 1
QUESTIONÁRIO 2