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O MOVIMENTO PENTECOSTAL:

MANIFESTAÇÃO E EXPRESSÃO DA
"NOVA IGREJA"
Rama P. Coomaraswamy

Este texto faz parte do livro


Ensaios sobre a Destruição da Tradição Cristã
T.A.Queiroz, 1990, tradução e apresentação de Mateus Soares de Azevedo

A Rápida difusão do Movimento Carismático no meio católico pegou de surpresa até


mesmo seus protagonistas. Praticamente não há paróquia ou convento que não tenham
sido de alguma maneira influenciados por esse "fenômeno" religioso e, de fato, alguns
se tornaram totalmente carismáticos. O Movimento recebeu a aprovação, senão a
bênção, não apenas de alguns dos mais importantes membros da hierarquia da Igreja,
mas até mesmo do próprio Pontífice. Sendo assim, torna-se nossa incumbência
examinar esta "religião para os nossos tempos", esta "autêntica renovação" (1), à luz das
observações de seus expoentes.

Raros pentecostais negariam que esse movimento "evangélico" é uma manifestação da


Igreja "nova" e "pós-conciliar". Como observa Ralph Martin, um dos fundadores do
movimento, "a Renovação não começou fora da Igreja, mas entre um grupo de homens
e mulheres profundamente comprometidos com a Igreja e com a renovação advogada
pelo Vaticano II (2). Quanto a seus fundadores, são bem descritos por James Manney:
"Apesar da origem variada, eles compartilhavam pelo menos dois interesses em comum
antes de experimentar o batismo do Espírito: um interesse apaixonado por uma linha
elementar e comunitária e um alto grau de concordância teórica a respeito da forma
correta e da estratégia para a renovação. Todos foram profundamente influenciados pelo
Movimento Cursilhista (3) e participaram de uma experiência intensa vivendo e
trabalhando juntos numa singular comunidade cristã formada em Notre Dame, entre
1964 e 67." (4)

A seita pentecostal - para romontar às suas origens - foi fundada em 1901 por um jovem
pastor metodista, Charles Parham. Na Escola Bíblica Bethel, em Topeka, Kansas, ele
afirmou ter recebido "o batismo do Espírito Santo", experiência que foi imediatamente
associada com o "dom das línguas" (5). Depois de ouvir Parham falar deste
acontecimento, William Seymour, pregador do movimento "Holiness", levou a doutrina
pentecostal a Los Angeles, onde dirigiu o "despertar religioso" na Azuza Street. A partir
de Azuza Street, o movimento espalhou-se rapidamente pelos Estados Unidos e outros
países. Há hoje muitas denominações pentecostais "clássicas", e estima-se em 13 ou 15
milhões o número de indivíduos que se consideram pentecostais. (6)

Inicialmente, o movimento foi rejeitado pela "linha principal" das igrejas protestantes.
Mas, com o tempo, membros das várias denominações cristãs começaram a introduzir
idéias "pentecostais" em suas respectivas organizações e, por volta de 1960, já havia
clérigos episcopais e luteranos ativamente envolvidos no que veio a ser chamado
"neopentecostalismo " .

Em 1966, um grupo de professores leigos da Duquesne University, de Pittisburg,


Pennsylvania (fundada pelos padres do Espírito Santo), participou de um congresso de
cursilhos, onde se encontraram com Steve Clark e Ralph Martin. Martin, influenciado
pelo livro The Cross and the Switchblade (7), de David Wilkerson, procurou contatar os
pentecostais, o que foi arranjado pela mediação de um pastor episcopal, W. Lewis. Em
janeiro de 1967, quatro membros do grupo da Duquesne University participaram de um
encontro de oração com os pentecostais. Impressionados com a "participação na prece"
e com a "teologia vivida", dois deles, Ralph Martin e Patrick Bourgeois (professor de
teologia), voltaram na semana seguinte e pediram a "imposição de mãos" para que eles
pudessem receber "o batismo do Espírito". O resultado, como descrito pelo próprio
Martin, foi o seguinte:

"Eles pediram somente que eu fizesse um ato de fé para que o poder do Espírito Santo
entrasse em mim. Comecei a rezar numa velocidade muito rápida. Não houve nada
particularmente entusiasmante ou espetacular em tudo aquilo. Senti uma certa paz, uma
necessidade de rezar. Estava curioso para saber aonde tudo aquilo ia me levar".(8)

Na semana seguinte, Ralph impôs suas mãos em dois outros colegas de Duquesne e eles
experimentaram a mesma sensação, acompanhada de glossolalia (o dom das línguas).
Em fevereiro do mesmo ano, um grupo de cerca de trinta estudantes e professores foi
"iniciado" do mesmo modo. Como Martin fosse graduado em filosofia em Notre Dame
(especialista em Nietzsche), foi apenas uma questão de tempo até que o movimento se
espalhasse na sua Alma Mater. Segundo a revista canadense Vers Demain, a primeira
sede do movimento foi a casa do capelão da Opus Dei em Notre Dame (9). A expansão
não se limitou ao laicato. Assim, por exemplo, o padre Connelley descreve como
monges trapistas e beneditinos, não dispostos a esperar a chegada de Ralph Martin,
correram até os pentecostais locais para serem "iniciados", e como eles difundiram o
Espírito entre os católicos de sua região.(10)

Desde o início, o movimento foi bastante assistido pelos pentecostais protestantes. Para
citar diretamente Kevin Ranaghan:

"Não se pode relatar corretamente a história da efusão do Espírito Santo entre os


católicos romanos nos últimos quatro anos sem referir-se constantemente à
impressionante contribuição dos pentecostais protestantes... Não houve apenas união e
camaradagem no trabalho, muitas vezes o Senhor utilizou o serviço de irmãos e irmãs
em Cristo de outras denominações para iniciar, alimentar e amadurecer a efusão do
Espírito Santo entre os católicos romanos." (11)

Do mesmo modo, esta assistência não se limitou à esfera espiritual, pois, de acordo com
a mesma fonte, a Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Integral provia
recursos para que os fundadores viajassem e pregassem a "nova palavra".

Nosso interesse, contudo, não é relatar em detalhe o crescimento fenomenal deste


movimento, mas chegar a uma conclusão com relação à sua natureza básica. Suspeita-se
que o movimento não passe de mais um ''entusiasmo'' (12), pelo menos no que diz
respeito à maior parte de seus membros.

Mas, permanecendo ou não o movimento enquanto tal, ele foi o meio através do qual
todo um conjunto de conceitos dúbios foi difundido entre os católicos, com aparente
aprovação eclesiástica. Tais conceitos, infelizmente, vão estar presentes entre nós por
algum tempo. São eles que temos de examinar.

Consideremos primeiramente o item "Fé". De um ponto de vista católico, a Fé deve ser


considerada tanto objetiva quanto subjetivamente. Como observa a Enciclopédia
Católica (1908): "Objetivamente, ela é o conjunto de Verdades reveladas por Deus na
Escritura e na Tradição, as quais a Igreja nos apresenta de forma sintética em seus
credos; subjetivamente, ela consiste nos hábitos ou nas virtudes pelas quais assentimos a
essas verdades." A Fé, diz Santo Tomás, é "o ato de o intelecto concordar com uma
Verdade Divina em razão do movimento da vontade, que por sua vez é movida pela
graça de Deus" (Suma Teológica, II-II IV, a, 2). Estas definições não podem ser
tomadas levianamente, pois, como observa Santo Tomás em outro lugar, "os princípios
da doutrina da salvação são os artigos de fé" (Comentário à Epístola aos Coríntios,
I,12:10); e como disse o próprio São Paulo, "sem fé é impossível agradar a Deus"
(Hebreus, XI, 6). Assim, conclui-se que, tal como a define a Enciclopédia Católica,
ortodoxia é "crença correta ou pureza de fé".

Os modernistas colocam-se em oposição a essa abordagem "linha dura" ou


"essencialista" da fé (o termo é de Andrew Greeley). Segundo eles, para citar mais uma
vez Greeley, "a fé é antes um encontro com Deus e com Jesus Cristo do que uma
concordância com um conjunto coerente de verdades definidas". Esta perspectiva é
chamada às vezes "existencialista", às vezes "Teologia do Encontro" ou "Personalismo",
e reduz a fé ao campo da experiência e do sentimento. Tal "fé" pode incluir uma visão
católica ortodoxa (na medida em que esta não seja especificamente excluída) mas, de
fato, raramente o faz, e geralmente é reduzida ao que Maritain (em Le paysan de la
Garonne) chama "uma simples aspiração de sublimação". É uma fé que nos permite
"amar, servir e adorar Jesus de todo coração, o Jesus da fé e de um Cristianismo interior,
visceral" (Maritain). Esta é a fé dos pentecostais. Como diz Dorothy Ranaghan:

"As pessoas envolvidas na Renovação Carismática são basicamente homens e mulheres


com uma fé nova e mais rica. A Fé, com certeza, é um dom de Deus, uma graça, um
favor imerecido. Ela chega a alguém no plano da redenção pela atenção e crença no
Verbo de Deus, pelo testemunho da vida do Verbo nas vidas dos cristãos, pela visão dos
resultados da fé na beleza daqueles em torno de nós... (13)

Fé, então, para os pentecostais, é "experimental", e esta característica foi notada por
vários de seus autores. Assim, Clark observa: "Homens de todos os tipos ... estão
ansiosos pela experiência do sobrenatural ... Se Cristo é alguém que pode ser
experienciado ... Se deve haver uma renovação na missão da Igreja no mundo, deve
haver uma renovação na experiência pessoal do Cristo. Toda a Renovação Carismática
é uma renovação da fé" (14). James Byrne fala de "uma experiência de Cristo, uma
experiência de conversão" e o padre Gelpi, S.J., diz que "a questão mais básica colocada
pela Renovação Carismática é a da conversão a Deus. Para compreender a
complexidade do processo de conversão, deve-se chegar a alguma conclusão quanto ao
significado de experiência e de experiência religiosa". Tomando Alfred North
Whitehead como uma de suas fontes autorizadas, o padre Gelpi reitera a fraseologia de
Maritain: "Seu [do Espírito] toque suave é mais próximo de uma percepção visceral do
que as percepções dos cinco sentidos."(15) Ralph Martin, descrevendo o "nascimento"
pentecostal, diz que todo acontecimento é uma "experiência", da qual as pessoas devem
"participar", e Kevin Ranaghan reconhece que, na linguagem da seita, as pessoas
perguntam: "Eles já receberam...?" ou "Eles já participaram da experiência?" (16)

Mas, pode-se perguntar, se nossa fé católica é reduzida ao que Schillebeeckx chama "O
Sacramento do Encontro com Deus", então qual é a necessidade que temos de uma
Igreja institucional? E, ao contrário, se temos a Igreja institucional com seus
Sacramentos, "sem os quais", como diz Santo Agostinho, "uma pessoa não pode entrar
naquela vida que é a verdadeira vida" (Tratado sobre João), então qual é a necessidade
de que o Espírito Santo nos seja dado por hereges? Examinemos com maior detalhe o
preceito "experiência" ao qual os pentecostais se submetem, o assim chamado
"nascimento do Espírito".

É bem difícil encontrar uma definição clara do que seja o "batismo do Espírito Santo",
pois, como o pe. O'Conner diz, "é bem difícil determinar o que exatamente lhe é
essencial" (17). O pe. Vincent Walsh descreve-o como "uma experiência religiosa
interna (ou experiência de oração) onde o indivíduo experimenta o Cristo ressuscitado
de uma maneira pessoal. Esta experiência resulta de uma certa liberação do poder do
Espírito Santo, geralmente já presente no indivíduo pelo Batismo ou Crisma.'' (18) John
Healey cita o teólogo Kilian McDonnel, OSB, que diz: "O batismo no Espírito Santo
manifesta-se num adulto quando, seja por uma crise ou por um processo de maturação,
ele diz 'sim' ao que objetivamente aconteceu no rito de iniciação (Batismo ou Crisma)."
Ora, todo esse palavreado procura dissimular o conflito que surge num católico que
recebeu o Crisma. Como diz o pe. Gelpi, S.J., "uma teoria protestante pentecostal
clássica da conversão distingue entre a experiência da conversão e a recepção do
Espírito Santo. Designa a última como uma 'segunda bênção' além e acima da
conversão. E encara o dom das línguas como o único sinal decisivo da recepção do
Espírito." E ele acrescenta, corretamente, que "não há como reconciliar essa teoria com
a doutrina católica'' (19). Assim, os carismáticos, na tentativa de delinear este rito
estranho aos sacramentos católicos, têm de buscar vários subterfúgios. Entre eles, o de
rebaixar os sacramentos ao nível de "afirmações públicas da fé ante a comunidade", e o
conceito de que o novo rito "libera" o "poder" do Espírito Santo, que antes estava
presente apenas em potencial, devido aos sacramentos. Tudo isso faz muito pouco
sentido, do ponto de vista lógico. De fato, como se pode reduzir à lógica o que é um
fenômeno e uma experiência? Como se pode "institucionalizar o Espírito" do
movimento pentecostal? Como diz o pe. Gelpi, "o Batismo do Espírito é uma
experiência autofundamentada", que "traz auto-integração, liberdade, aumento da
criatividade e maior abnegação na ação" (Shades of Dale Carnegie). Realmente, não
poderíamos exigir maior clareza, pois, como a mesma fonte afirma, "a Renovação
Carismática católica ... sofre de um vácuo em sua catequese pastoral". Isso significa
simplesmente que o movimento não tem doutrina bem definida. Na teoria, então, a
natureza sacramental do rito é negada, mas na prática é afirmada com insistência.

Acompanham essa "liberação" do "poder" do "Espírito" uma variedade de "dons"


carismáticos. Entre estes, dos mais característicos é o "dom das línguas", ou a pronúncia
de sons sem sentido, supostamente pertencentes a uma língua humana ou não-humana
desconhecida do sujeito falante. Como observa o pe. O'Conner, "o que marca a
diferença entre o encontro de oração pentecostal e os outros tipos de encontros de
oração é basicamente o exercício dos carismas" (20). De fato, o "dom das línguas" é algo
que se deve buscar, pois, como aponta James E. Byrne, "falar línguas desconhecidas é
um dom valioso da oração que deve ser buscado e apreciado" (2l). Ele continua: "Uma
vez recebido, este dom deve ser regularmente utilizado. Seu uso mais apropriado é na
prece diária." E o que exatamente é este dom? Byrne descreve-o como "um dom
carismático no qual um indivíduo fala em voz alta numa língua não conhecida". O pe.
Gelpi denomina-o "uma resposta vaga e emotiva ao impulso do Espírito" (22). O pe.
Walsh é mais específico, e também mais confuso. Ele observa que "rezar assim é um
dom em que a pessoa ora a Deus numa língua que ela não conhece, simplesmente
'cedendo' à ação do Espírito ... a pessoa não usa os poderes racionais de memória ou
intelecto". Mesmo assim, esta forma de oração "tem início e continua enquanto a pessoa
deseja..." e "está totalmente sob controle da própria pessoa. Ela decide quando quer
rezar assim e quando quer parar. A pessoa, contudo, não tem controle sobre as palavras
que serão pronunciadas..." (23)

Na Sagrada Escritura, a primeira menção ao dom das línguas ocorre em Atos 2:1-15,
onde, seguindo-se a Festa de Pentecostes, os cento e vinte discípulos foram ouvidos "em
diversas línguas, de acordo com o que o Espírito Santo lhes ordenou". Havia então em
Jerusalém uma diversidade tal de raças e povos, que representavam "toda nação sob o
céu". Todos ficaram "desconcertados", porque cada um ouviu os discípulos falando das
"maravilhosas coisas de Deus" em sua própria língua. A glossolalia (palavra grega que
designa este carisma) então descrita era, de acordo com a Enciclopédia Católica (1908),
"histórica, articulada e inteligível". A mesma fonte conta-nos como "manifestações
subseqüentes ocorreram em Cesaréa, Palestina, Éfeso e Corinto, todas regiões
poliglotas". E este mesmo dom manifestou-se, em tempos mais recentes, em São
Francisco Xavier e São Vicente Ferrer.

Contudo, mesmo em tempos Apostólicos, ocorreram abusos, pois São Paulo instruiu os
Coríntios (ver capítulo XIV) para não empregarem nada além da "fala correta" e
articulada em seu uso do dom e para se absterem de seu uso em igrejas, a não ser que
mesmo os iletrados pudessem entender o que era dito. O dom não poderia ser genuíno
"sem autoridade" e empregá-lo desta maneira seria atitude de bárbaros. Mesmo naquela
época, o dom das línguas tinha-se aparentemente deteriorado numa mistura de palavras
inarticuladas e sem sentido, com um elemento de sons indeterminados que poderia
eventualmente ser interpretado como quase blasfemo (XII: 3). Os louvores divinos eram
reconhecidos aqui e ali, mas o efeito geral era de confusão e de desedificação para os
próprios descrentes, aos quais o dom normal era dirigido (XIV: 22, 23, 26). Utilizado
desta maneira, o falar em línguas tornou-se fonte de cisma e escândalo para a Igreja. Se
há algum paralelo entre o que acontece hoje entre os pentecostais e o que aconteceu em
Corinto nos tempos bíblicos, então as advertências de São Paulo continuam válidas,
pois ele pediu aos fiéis que fizessem tudo com "decência e ordem".

Teólogos ortodoxos e pentecostais geralmente sustentam que esse carisma foi dado à
Igreja primitiva e que depois desapareceu por um período de tempo indeterminado. Mas
eles interpretam de maneiras diferentes a natureza do carisma e as razões de seu
desaparecimento (os pentecostais clássicos dizem que a Igreja foi "infiel" para com os
"dons"). Durante a Renascença, a linguagem "ininteligível" parece ter reaparecido. O
pe. Knox, em seu excelente livro sobre o Enthusiasm, discute este fenômeno entre os
"profetas franceses" do século XVII, onde ele se manifestou entre os huguenotes de
Cevennes e entre os jansenistas suplicantes (24). Em 1830, ele volta a aparecer nas
vizinhanças de Port Glascow, na Inglaterra, difundindo-se entre os irvingnistas e outros
grupos "revivalistas". O fenômeno apareceu também entre os mormons, os shakers e
uma longa lista de seitas similares, sempre - obviamente - associado ao "Espírito".

Segundo dom Peter Flood, OSB, uma reconhecida autoridade em questões médicas e
morais, glossolalia é "mera gíria, sem a estrutura filológica de qualquer língua", sendo
produzida pelo poder incontrolado de vocalização, como no fenômeno da "histeria e do
mau humor ou da raiva em crianças novas ainda sem capacidade de uma fala articulada"
(25). Seus estudos, baseados em fitas gravadas, levaram-no a crer que todas as emoções
sentidas nas sessões de oração eram originárias de uma excitação sensorial, pois certos
centros do baixo cérebro eram estimulados, mas não eram controlados por mecanismos
mais elevados. Esta visão é compatível com algumas das opiniões expressas pelos
próprios carismáticos.

A Igreja sempre sustentou que o dom das línguas é uma gratiae gratis datae, isto é, um
dom dado em benefício dos outros. Mais ainda, os santos advertiram repetidamente
contra um desejo ou busca individuais de tais dons, para que ninguém fosse iludido por
poderes satânicos. E este dom particular sempre foi considerado inferior; São Paulo
coloca-o em penúltimo lugar numa lista de oito carismas. Ele é um mero "sinal", dado
em vista dos descrentes, mas não para os crentes (I Cor. XIV: 22). Mas, se o dom das
línguas é ininteligível, ele perde seu valor principal e evidente. Além disso, se a pessoa
que usa desse "dom" não usa de seus poderes racionais, da memória ou do intelecto,
conjuntamente, qual é o valor de sua oração? Nenhuma língua jamais foi identificada
neste tipo de gíria pentecostal, seja em seus primórdios seja atualmente - de fato,
aqueles que clamam possuir o "dom" nunca foram capazes de interpretar coerentemente
as gravações das "preces". E tampouco se pode aceitar, com base nas afirmações
carismáticas ou no comportamento revivalista, que esta linguagem tenha qualquer coisa
a ver com a "língua dos anjos". Finalmente, nenhum santo católico canonizado jamais
manifestou esse "carisma" da maneira que os pentecostais o entendem; o pe. Thurston
nem mesmo o menciona em seu estudo dos fenômenos místicos (26). Se tudo isto não é
advertência suficiente, consideremos a opinião do pe. Knox:

"Falar em línguas nunca aprendidas pela pessoa era, e é, um reconhecido sintoma em


casos de supostas possessões diabólicas." (27)

Mas, por favor, entendam-me: não estou dizendo que todos os pentecostais estejam
possuídos pelo espírito maligno. O que estou dizendo é que, para os católicos, "buscar e
valorizar" este "carisma", usá-lo freqüentemente em orações públicas e privadas ou
considerá-lo um sinal de que o Espírito desceu no indivíduo é, para dizer o mínimo,
muito ponco prudente. E a prudência, no final das contas, é tanto uma virtude cardeal
quanto um dom do Espírito Santo. Também estou dizendo que deixar-se expor a
"respostas vagas e emotivas" é expor-se a influências cuja natureza nunca se conhece ao
certo. E isto é claramente demonstrado em outra citação de Ranaghan, que é bastante
assustadora:

"Senti uma tremedeira e reconheci clara e distintamente um odor de enxofre ferverndo,


um odor que o laboratório químico me permitiu conhecer bem." [grifo meu] (28)
Seria impossível examinar todas as opiniões legadas pelo movimento carismático. Para
dar uma amostra de suas atitudes com relação a vários tópicos, reproduzimos o seguinte
parágrafo de "O Senhor, o Espírito e a Igreja", de Kevin Ranaghan:

"Tudo isso deve ser tomado e fixado no contexto de que Deus tem um plano para seu
Povo, uma estratégia para a salvação do mundo ... Nós, sujeitos a este Rei [Cristo,
presumo eu], somos católicos, episcopais, presbiterianos, luteranos, batistas, metodistas,
menonitas, pentecostais e outros. No geral, nossas famílias nem sempre se amaram ou
confiaram umas nas outras muito bem. Mas Jesus está determinado a ser Senhor de todo
o seu Povo e está vertendo seu Espírito que dá a vida a todos nós. Não interessa de que
Igreja nós viemos, não interessa quão sérias as dificuldades teológicas que ainda
existem entre nós - Jesus está nos ensinando que somos chamados a ser básica e
fundamentalmente um só povo. Uma Santa Nação, um clero real, uma nova humanidade
conduzida pelo Novo Adão ... Outro bom fruto da Renovação Carismática que pode
permear toda a Igreja é a descoberta, com o Senhor, do papel da comunidade na vida
cristã normal. Descobrimos, e toda a Igreja precisa experimentar, que não somos feitos
para sermos salvos como indivíduos isolados, mas como irmãos e irmãs que pertencem
uns aos outros..." (29)

Com relação à Igreja Católica, ele observa:

"Não é a intenção do Senhor criar uma nova denominação ou igreja a partir da


Renovação Carismática católica; mas é Sua vontade que façamos todo esforço no
Espírito para sermos um com a Igreja Católica ... Oremos incessantemente por nossos
bispos, pois sobre eles pesa a grave responsabilidade, que eles devem exercer agora, de
reconhecer a voz do Senhor entre nós ... devemos estar em harmonia com o bispo e
pastor, e sempre que possível colaborar com eles em seu plano pastoral, apoiá-los com
nossas preces, mas também compartilhar com eles nosso discernimento e visão dos
desígnios do Senhor para a renovação da Igreja " (30).

Vimos assim um sumário das concepções carismáticas, apresentado por um de seus


maiores expoentes, ou melhor, vimos na verdade um compêndio de erros que foram
anatematizados por encíclicas papais e cânones ecumênicos da Igreja Tradicional.
Mesmo um "católico de catecismo elementar" sabe que não pode cultuar em comum
com heréticos, que a "renovação" implica livrar-se do "homem velho" e não criar uma
"nova humanidade", que a salvação é um assunto individual e não uma experiência
comunitária, e que o catolicismo era perfeitamente viável antes que os carismáticos
trouxessem à Igreja seu "discernimento e visão" modernistas.

Ainda assim, e apesar de tudo isso, pode-se dizer que a concepção pentecostal é
compatível com o Vaticano II. Consideremos as seguintes citações da Constituição
pastoral sobre a Igreja no mundo:

"Agrada a Deus tornar os homens santos e salvá-los não apenas enquanto indivíduos
sem laços mútuos, mas tornando-os um só povo, um povo que O reconhece em verdade
e O serve em santidade. Assim, desde o início da história da salvação, Ele escolheu os
homens não enquanto indivíduos, mas enquanto membros de uma certa comunidade."

"Assim testemunhamos o nascimento de um novo humanismo, no qual o homem se


define, em primeiro lugar, por sua responsabilidade perante os seus irmãos e a história. "
E novamente, do Decreto sobre o ecumenismo:

"Os irmãos separados de nós também executam muitas das ações sagradas da religião
cristã. Indubitavelmente, de maneiras que variam segundo a condição de cada Igreja ou
Comunidade, estas ações podem verdadeiramente engendrar uma vida de graça e podem
ser corretamente descritas como capazes de prover acesso à comunidade de salvação. "

A religião carismática pode, assim, proclamar com justiça ser o florescimento pleno da
religião da Igreja "Nova" e "Pós-conciliar". Não surpreende, portanto, que ela tenha
recebido a aprovação e a bênção da hierarquia, e mesmo do Pontífice. O próprio Paulo
VI saudou calorosamente os pentecostais e dirigiu-se diretamente a eles. Mesmo
formulando algumas admoestações vagas, ele diz:

"Vocês reuniram-se aqui em Roma sob o signo do Ano Santo; vocês estão lutando, em
união com toda a Igreja, por renovação - renovação espiritual, autêntica renovação,
renovação no Espírito Santo. Somos gratos de observar sinais desta renovação; gosto
pela oração, contemplação, louvor a Deus, atenção à graça do Espírito Santo e uma
leitura mais assídua das Santas Escrituras. Sabemos igualmente de sua vontade em abrir
os corações para a reconciliação com Deus e o próximo." (PauloVI, 19 de maio de
1975).

E ele dirigiu-se diretamente aos líderes do movimento:

"Estamos muito interessados no que vocês estão fazendo. Temos ouvido muito sobre o
que acontece entre vocês. E nos regozijamos. " (L'Osservatore Romano, 11 de outubro
de 1975)

Se ainda resta alguma dúvida quanto à atitude de Paulo VI, basta lembrar que o cardeal
Suenens afirmou que, se o papa pedisse, ele imediatamente, em obediência, se
dissociaria do movimento. Este pedido nunca foi feito.

A hierarquia católica, com poucas exceções, tem apoiado o movimento. O cardeal


Willebrands observou que "a missão da Renovação Carismática é ... lembrar a todo o
povo de Deus que pertencemos a Jesus Cristo, que somos batizados nele - que
recebemos o dom do Espírito". O cardeal Suenens, cuja atitude foi mencionada acima, é
considerado um "líder", e seu livro Um novo Pentecostes é em todos os aspectos um
endosso aberto ao movimento e suas idéias. A Conferência Nacional dos Bispos
Católicos dos Estados Unidos (Comitê de Doutrina) endossou o movimento e, mesmo
formulando "certas reservas", observou que ele não deveria a esta altura ser inibido, mas
sim que se devia permitir seu desenvolvimento. Dos sete cardeais americanos, seis
responderam ao movimento "de uma maneira pastoral positiva". O cardeal Dearden, de
Detroit, e o cardeal Krol, de Filadélfia (e, de fato, o próprio papa), celebraram liturgias
pentecostais carismáticas especiais em suas catedrais. Muitos dos bispos estão
abertamente envolvidos com o movimento e talvez metade do clero ativo a nível
paroquial se considere pentecostal. O que talvez seja ainda mais sério é que muitos dos
pentecostais tenham-se declarado diretores espirituais qualificados. E, desde que os
bispos autorizam quase todos os interessados em direção espiritual a se envolverem com
este aspecto do "ministério", as sementes do movimento puderam se disseminar no
coração dos poucos lares contemplativos que restaram na Nova Igreja.
Poucas foram as vozes que se levantaram em protesto. O arcebispo Robert J. Dwyer
disse que "considera o Pentecostalismo uma das tendências mais perigosas na Igreja de
nosso tempo, intimamente aliado em espírito com outros movimentos separatistas e
discordantes, que ameaçam sua unidade e causam danos a um número incalculável de
almas", mas todos sabem o que aconteceu à sua famosa carta ao papa. As advertências
daqueles que deixaram o movimento foram, igualmente, ignoradas. A dra. Josephine
Ford, uma antiga líder, deixou-o porque viu no movimento um excesso de "arrogância
espiritual" e o "espírito do sectarismo protestante" (31). O dr. William Story, responsável
por levar o "espírito" a Notre Dame, a partir do grupo inicial de trinta na Duquesne
University, também se afastou, advertindo que o movimento continha "erros dos mais
graves", "erros teológicos", e padrões "incompatíveis com a autêntica tradição católica"
(32). Apesar de tudo isso, o movimento continua a crescer, e mesmo quando a filiação
formal não ocorre, suas idéias se difundem de maneira desmedida.

Vimos, assim, que as barreiras foram vencidas e que a fortaleza foi rompida. Como São
João Fischer disse a seus colegas apóstatas, "o forte foi traído por aqueles mesmos que
deveriam defendê-lo". A bandeira inimiga foi levada até as muralhas. E o que está
escrito nestas bandeiras? Frases de efeito como "renovação", "a autêntica Igreja",
"religião dinâmica", "experimentar o Espírito", "Carismas para o homem comum", "um
novo, ou segundo, Pentecostes" (o que há de errado com o primeiro?), "abertura" e
"comunidade" .

Acredite-me, prezado leitor, o Espírito Santo sopra onde quer, mas ele não deixa cheiro
de flato, nem de enxofre fervente. Ele sopra quando quer e tem feito isto todo o tempo,
mas é sempre o mesmo Espírito que sopra. Ele não é novo, nem passível de se adaptar
aos caminhos extravagantes do homem moderno. O que quer que esta nova religião
"evangélica" seja, uma coisa é certa: ELA NÃO É CATÓLICA. Nenhum católico pode sustentar
que o Espírito Santo procede ou seja ativado por fontes de fora da Igreja. Nenhum
católico pode se submeter a ritos e rituais que não sejam de origem apostólica ou, em
última instancia, eclesiástica. Nenhum católico pode se permitir envolver-se na
linguagem desarticulada da glossolalia. Nenhum católico pode aceitar uma fé que seja
puramente "experimental" e sem base doutrinal. Nenhum católico pode sustentar que a
salvação não é um assunto individual. Nenhum católico pode participar ativamente de
atos de culto com não -católicos e, finalmente, nenhum pentecostal pode negar que
sejam exatamente estas as coisas que se exigem dos seguidores desta nova seita. Se
nossa hierarquia não vê problemas em tudo isso, então, franca e simplesmente, ela não é
católica! Aqueles que são cristãos "nascidos de novo" não nasceram de novo do ventre
da Santa Madre Igreja, pois aqueles que estão no seio desta já receberam seu segundo
nascimento no Batismo. Como católicos, faríamos bem em lembrar as palavras de Santo
Agostinho:

"Apenas a Igreja (de todos os tempos) é o Corpo de Cristo, do qual Ele é Cabeça e
Salvador. Fora deste Corpo, o Espírito Santo não vivifica ninguém.... Aqueles que estão
fora da Igreja (de todos os tempos) não têm o Espírito Santo: que aquele que deseja ter o
Espírito Santo esteja vigilante para não acabar aportando fora da Igreja (de todos os
tempos)." (Carta 185 e Tratado sobre São João)
NOTAS:

(1) A expressão renovação autêntica aplicada a este movimento é de Paulo VI—a citação completa é
dada mais adiante neste ensaio.

(2) Ralph Martin. The Spirit and the Church, Paulist Press, 1976.

(3) A natureza do movimento cursilhista exigiria uma documentação separada, trabalho dificil tanto
porque ele se pretende um movimento espiritual conservador, como porque é de caráter "reservado". Foi
condenado em uma carta encíclica do bispo Meyer, do Brasil, que demonstrou sua perspectiva modernista
e teilhardiana. O dr. Detar (TAN Books) também pôde mostrar suas conexões com o movimento
comunista. O movimento tem filiais em outras denominações cristãs, sob uma variedade de nomes.
Suspeita-se que o "círculo íntimo" dos carismáticos esteja profundamente envolvido com esta
organização suspeita, e que os cursilhos recrutem novos membros entre os carismáticos.

(4) Ralph Martin, op cit.

(5) ''Glossolalia'', ou ''falar em línguas", que é discutido mais adiante.

(6) Num certo sentido, o movimento data de Wesley, o fundador do Metodismo, que escreveu sobre o
"testemunho interior do Espírito". O conceito da inspiração "extra-eclesial" pelo Espírito Santo data
certamente dos pelagianos e dos montanistas. Discordar dos pentecostais é recusar-se a aceitar o (seu)
Espírito Santo.

(7) Pyramid Books, Nova York, 1964 , 1973.

(8) Citado em Pentecotisme chez les catholiques, por René Laurentin, Paris, Beauchesne, 1974.

(9) Estes primeiros católicos pentecostais sentiram que estava faltando algo no Movimento de Cursilhos,
e buscaram este "algo mais'' nos pentecostais. É bastante possível, também, que eles vissem no
movimento pentecostal uma maneira de difundir sua ideologia cursilhista. Certamente, o sucesso
extraordinário do pastor David Wilkerson entre os drogados de Nova York é digno de respeito. Mas seus
feitos, contudo, não são mais extraordinários que os dos ''Black Muslims" e outros similares. A história da
Igreja é repleta de feitos deste tipo - para mencionar apenas Madre Tereza de Caleutá - e isto sem a
imposição de algum rito "extra-eclesial'' de validade questionável. É verdadeiramente estranho que um
católico busque um ''rito" fora dos canais normais, e isto não sem perigos espirituais claros.

(10) J. Connelley, OSC, "The Charismatic Movement", em As the Spirit Leads us, New York, Paulist
Press, 1971.

(11) Kevin, Ranaghan, Catholics and Pentecostals Meet, ibid.

(12) Mons. R.A Knox. Enthusiasm, Londres, Oxford University Press, 1960.

(13) As The Spirit Leads us, citada.

(14) id., ibid.

(15) Pe. Donald Gelpi, SJ, Charism and Sacrament, Paulist Press, 1976.

(16) Ralph Martin, Sent by the Spirit, Paulist Press, 1976.

(17) Pe. Edward D. O'Conner, CSC, The Pentecostal Movement in the Catholic Church, Paulist Press,
1974.
(18) Rev. Vincent M. Walsh, A Key to Charismatic Renewal in the Catholic Church, St. Meinrad. Ind.,
Abby Press, 1976.

(19) Pe. Donald Gelpi, S.J., ''Charism and Sacrament'', e "Can you institutionalize the Spirit?'', em
Pentecostal Catholics, Ed. Robert Heyer.

(20) Op. cit

(21) James E. Byrne. Living in the Spirit, Nova York, Paulist Press, 1976.

(22) Op. cit.

(23) Rev. Vincent M. Walsh, A Key to Charismatic Renewal in the Catholic Church, op. cit.

(24) Rev. Mons. R.A. Knox, Enthusiasm, citado.

(25) Dom Peter Flood, OSB, ''Pentecostalism: Montanism, the Forerunner", em Christian Order, vol. 16,
n° 5, maio de 1975.<á>

(26) Herbert Thorston, S J., The.Mystical Phenomena of Mysticism, Chicago Regnery, 1952.

(27) Enthusiasm, citado.

(28) Kevin Ranaghan, "The Lord, The Spirit and the Church", em The Church, de Ralph Martin, op. cit.

(29) Ranaghan, op. cit. Nota-se, de passagem, a similaridade do palavreado de Ranaghan com o que
segue: "O plano de Deus destina-se à unificação de todas as raças, religiões e credos. Este plano, dedicado
à nova ordem das coisas, é renovar todas as coisas - uma nova nação, uma nova raça, uma nova
civilização e uma nova religião, uma religião não-sectária..." (C.W. Smith, expressando as opiniões do
Conselho Supremo do 33º grau, Rito Maçônico Escocês); e as palavras do ex-abade Roca, também
maçom, que disse: 'Haverá uma Nova Religião, um Novo Dogma, um Novo Ritual e um Novo
Sacerdócio. . . "

(30) Idem

(31) Citado por George O'Toole, op. cit.

(32) Idem.

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