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NIVELAMENTO DE

LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

ETAPA 1
A ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE DA
LIBRAS
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br

Nivelamento de Libras Intermediário II


Centro Universitário Leonardo da Vinci

Organização
Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa

Autora
Fabiana Schmitt Corrêa

Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância


Prof.ª Francieli Stano Torres

Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância


Prof. Hermínio Kloch

Diagramação e Capa
Renan Willian Pacheco

Revisão
Aline Fernanda Guse
4 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

1. I CONICIDADE E ARBITRARIEDADE

Esse termo parece, à primeira vista, estranho, mas faz mais parte do nosso
cotidiano do que podemos imaginar.

Pois bem, seguindo a nossa fonte de referência cotidiana, o Dicionário Aurélio,


temos:
Relativo a ícone.

2 - Relativo a imagem ou imagens.


3 - Que é conforme ao modelo.
4 - Que representa com exatidão.

Hum, começaram a imaginar o que provavelmente possa ser esse conceito?! Sim,
a iconicidade faz parte do nosso cotidiano. Sem mesmo sabermos Libras, usamos alguns
sinais, os que chamamos de icônicos, no dia a dia. Antes de iniciar o esclarecimento
acerca do conceito, traremos algumas imagens que os farão perceber alguns sinais
icônicos cotidianos.

FIGURA 1 - SINAIS ICÔNICOS COTIDIANOS

CARRO CASA

COZINHAR ANDAR

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COMER

VER

TOMAR BANHO TELEFONE

DIGITAR PASSAR ROUPA


FONTE: Arquivo pessoal da autora.

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De forma resumida, são sinais que imitam de maneira real as características


visuais (QUADROS; KARNOPP, 2004). Mas vamos além, conhecer na Libras esse
conceito.

Em seu uso na Libras, Costa (2012, p. 33) comenta que “estudos científicos que
tratam de língua natural trazem a iconicidade nas suas reflexões, com o termo iconicidade
designando um vínculo ou relação de similaridade entre o representante e aquilo que
ele representa conceitualmente”. Reforçando o apresentado pelas autoras anteriormente.

Temos, ainda, outro comentário apresentado por McCleary e Viotti (2011, p. 291),
relatando que “a iconicidade das línguas sinalizadas é uma questão bastante discutida na
literatura especializada, em especial porque ela é uma característica que, à primeira vista,
pode afastar as línguas sinalizadas das línguas orais, colocando em risco seu estatuto
de língua natural”. Esclarecem ainda, em relação às línguas naturais e à iconicidade:

A discussão da iconicidade nos estudos das línguas sinalizadas tem se con-


centrado historicamente na presença marcante de iconicidade imagética dos
sinais manuais. Mais recentemente, outros tipos de iconicidade começam a ser
estudados, na medida em que o estudo da iconicidade vem ganhando espaço
nos estudos linguísticos em geral (MCCLEARY; VIOTTI, 2011, p. 291).

Os autores ainda acrescentam observações importantes:

É interessante notar que a iconicidade dos sinais não é necessariamente uma


reprodução fiel do formato dos objetos e dos movimentos envolvidos nas ações
que estão sendo relatadas. No caso de BICICLETA, por exemplo, a posição dos
braços simboliza, ao mesmo tempo, tanto as mãos segurando o guidão, quanto
as pernas fazendo o movimento de pedalar (MCCLEARY; VIOTTI, 2011, p. 299).

Incluindo, as línguas de sinais possuem suas próprias convenções, seus sinais


arbitrários.

Referindo-se ainda à iconicidade, Martelotta (2011, p. 167) esclarece que “o


princípio da iconicidade é definido como a correlação natural e motivada entre forma
e função, isto é, entre o código linguístico (expressão) e seu significado (conteúdo)”. O
mesmo autor exemplifica a questão icônica com as onomatopeias, cuja estrutura sonora
imita o som das coisas que designam, por exemplo, tic-tac (relógio) ou corococó (som
do galo). Sob a ótica de Martelotta (2011), existe a similaridade entre o som e o sentido.

Taub (2000) traz a compreensão de que iconicidade não é meramente uma


questão de ‘imitação’ ou ‘mímica’ de sons ou movimentos, sendo, pelo contrário, “uma
parte convencionalizada de recursos dos idiomas. Ela é, de fato, comum em ambas as
línguas, de sinais e faladas, tanto na gramática como no léxico. Entendemos, aqui, que
a iconicidade corresponde à forma de um item linguístico e ao seu significado.

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Na conclusão do seu trabalho, Costa revela que:

A iconicidade encontra-se presente nas línguas de sinais, mais do que nas


línguas faladas, e isso deve-se à característica visual das línguas de sinais, que
possibilitam explorar mais ricamente essa iconicidade. Estudos das línguas de
sinais podem, portanto, disponibilizar uma base de dados crítica para pesquisas
comparativas nesse campo do estudo linguístico. (COSTA, 2012, p. 93)

Para facilitar algumas compreensões acerca desse tema, que inclui muito do
senso comum, apresentamos aqui mitos relacionados à língua de sinais. Pois, falando
em sinais icônicos, os que por vezes são reconhecidos por não sinalizantes e que criam
a falsa ideia de que Libras não é língua, trazemos em Quadros e Karnopp (2004, p. 31-
37) alguns mitos e a sua desmistificação:

QUADRO 1 – MITOS DA LÍNGUA DE SINAIS


MITOS DESMISTIFICAÇÃO
1 – A língua Tal concepção está atrelada à ideia filosófica de que o mundo das
de sinais seria ideias é abstrato e que o mundo dos gestos é concreto. O equívoco
uma mistura desta concepção é entender sinais como gestos. Na verdade, os sinais
de pantomima são palavras, apesar de não serem orais-auditivas. Os sinais são tão
e gesticulação arbitrários quanto as palavras. A produção gestual na língua de sinais
concreta, incapaz também acontece como observado nas línguas faladas. A diferença é que
de expressar no caso dos sinais, os gestos também são visuais-espaciais, tornando as
conceitos fronteiras mais difíceis de serem estabelecidas. Os sinais das línguas de
abstratos. sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. Podemos falar sobre
as emoções, os sentimentos, os conceitos em língua de sinais, assim
como nas línguas faladas.
2 – Haveria uma Esta ideia está relacionada com o mito anterior. Se as línguas de sinais
única e universal são consideradas gestuais, então elas são universais. Isto é uma falácia,
língua de sinais pois as várias línguas de sinais que já foram estudadas são diferentes
usada por todas umas das outras. Assim como as línguas faladas, temos línguas de sinais
as pessoas surdas. que pertencem a troncos diferentes. Temos pelo menos dois troncos
identificados, as línguas de origem francesa e as línguas de origem
inglesa. Provavelmente, nossa língua de sinais pertence ao tronco das
línguas de sinais que se originaram na língua de sinais francesa.
3 – Haveria Como as línguas de sinais são consideradas gestuais, elas não poderiam
uma falha na apresentar a mesma complexidade das línguas faladas. Isso também não
organização é verdadeiro, pois em primeiro lugar, as línguas de sinais são línguas
gramatical da de fato. Em segundo lugar, as línguas de sinais independem das línguas
língua de sinais faladas. Um exemplo que evidencia isso claramente é que a língua de
que seria derivada sinais portuguesa é de origem inglesa e a língua de sinais brasileira
das línguas de é de origem francesa, mesmo sendo o português a língua falada nos
sinais, sendo respectivos países, ou seja, Portugal e Brasil. Como estas línguas de
um pidgin sem sinais pertencem a troncos diferentes, elas são muito diferentes uma
estrutura própria, da outra. É claro que não podemos negar o fato de ambas as línguas
subordinado e estarem em contato, principalmente entre os surdos letrados. O que se
inferior às línguas observa diante deste contato é que, assim como observado entre línguas
orais. faladas em contato, existem alguns empréstimos linguísticos. Para além
disso, as línguas de sinais não têm relação com as línguas faladas do
seu país. Elas são autônomas e apresentam o mesmo estatuto linguístico
identificado nas línguas faladas, ou seja, dispõem dos mesmos níveis
linguísticos de análise e são tão complexas quanto as línguas faladas.

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4 – A língua Como as línguas de sinais são tão complexas quanto as línguas


de sinais seria faladas, esta afirmação não procede. Nós já vimos que as línguas de
um sistema de sinais podem ser utilizadas para as inúmeras funções identificadas
comunicação na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais
superficial, com para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um
conteúdo restrito, argumento. Você pode persuadir, criticar, aconselhar, entre tantas outras
sendo estética, possibilidades que se apresentam ao se dispor de uma língua. Assim,
expressiva e a língua de sinais não é inferior a nenhuma outra língua, mas sim, tão
linguisticamente linguisticamente reconhecida quanto qualquer outra língua.
inferior ao sistema
de comunicação
oral.
5 – As línguas de A ideia de que a língua de sinais seja gestual também reaparece neste
sinais derivariam mito. As pessoas pensam que as línguas de sinais são de fácil aquisição
da comunicação por estarem diretamente relacionadas com o sistema gestual utilizado
gestual por todas as pessoas que falam uma língua. Como isso não é verdade, as
espontânea dos línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto quaisquer
ouvintes. outras línguas. Precisamos de anos de dedicação para aprendermos
uma língua de sinais, mas com base neste mito, as pessoas pensam
que sabem a língua de sinais por usarem alguns gestos e alguns sinais
que aprendem nas aulas de língua de sinais. A comunicação gestual
usada exclusivamente é extremamente limitada, pois torna inviável
a comunicação relacionada com questões mais abstratas. Assim, você
vai precisar da língua de sinais para poder comunicar estas ideias. É
verdade que você pode comunicar algumas coisas utilizando apenas
gestos, assim como você faz quando chega a um país em que é falada
uma língua desconhecida por você. Mas, também é verdade que você
estará limitado à identificação direta entre o gesto e sua intenção, sem
poder entrar em níveis de detalhamento necessário para transcorrer
sobre um determinado assunto. Para transcorrer sobre um determinado
assunto qualquer, você vai precisar de uma língua. No caso da
comunicação com surdos, você vai precisar da língua de sinais.
6 – As línguas de As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios
sinais, por serem mostram evidências de que as línguas de sinais são processadas
organizadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as
espacialmente, línguas faladas. Existe, sim, uma diferença que está relacionada com
estariam informações espaciais, pois estas, além de serem processadas no
representadas hemisfério esquerdo com suas informações linguísticas, são também
no hemisfério processadas no hemisfério direito quanto às suas informações de ordem
direito do cérebro, puramente espacial. Assim, parece haver um processamento até mais
uma vez que complexo do que o observado em pessoas que usam línguas faladas.
esse hemisfério é As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que faz
responsável pelo parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no
processamento hemisfério direito.
de informação
espacial,
enquanto que o
esquerdo, pela
linguagem.
FONTE: Adaptado de Quadros e Karnopp (2004, p. 31-37).

Envolvendo a questão dos mitos, as autoras concluem que:

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[...] esta análise dos mitos, ‘tais concepções equivocadas em relação às línguas
de sinais compartilham traços comuns, assinalando um estatuto linguístico
inferior em relação ao plano da superfície. Todavia, as investigações mostram
que as línguas de sinais, sob o ponto de vista linguístico, são completas, com-
plexas e possuem uma abstrata estruturação em todos os níveis de análise’.
(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 36-37)

Em oposto aos sinais icônicos, que podem, alguns, serem reconhecidos por não
usuários da Libras, temos os sinais arbitrários. Arbitrários? Sim, os sinais que são a
maioria convencionados na Libras, não são identificados por similaridade com o objeto
ou ação real. A arbitrariedade é vista por Saussure (2006) como um dos princípios do
signo linguístico. Esse autor considera que o laço que une o significante ao significado
seja arbitrário. Em outras palavras, visto que entende “por signo o total resultante da
associação entre um significante com um significado”, afirma, de forma mais simples,
que “o signo linguístico é arbitrário”. (SAUSSURE, 2006, p. 81, grifo do autor).

Exemplificando para início de conversa, percebendo a diferença com o conceito


de iconicidade, nos sinais abaixo:

FIGURA 2 - DIFERENÇA ENTRE ICONICIDADE

CONVERSAR AVISAR

AMAR

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INTELIGENTE

CONHECER AMIGO

TRABALHO BRINCAR

COMPRAR
FONTE: Arquivo pessoal da autora.

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Complementando as informações e acrescentando conhecimento, estudaremos


agora a arbitrariedade, segundo Saussure:

O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que en-
tendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um
significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo linguístico é arbitrário.
[...] O significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com
o qual não tem nenhum laço natural na realidade. (SAUSSURE, 2006, p. 81-83)

O pesquisador Costa comenta sobre a proposta desse conceito segundo Saussure,


considerando que:

O mesmo conceito de arbitrariedade proposto por Saussure que estabelece um


laço natural que une significante e significado pode ser compreendido quando
observamos a língua de sinais e a motivação que parece integrar todos os sinais,
quer sejam considerados arbitrários e/ou icônicos em relação similar à descrita
por Saussure ao nomear as imagens acústicas como significantes que por sua
vez designam significado (conceito) na formação do signo linguístico. Queremos
lembrar que não foi Saussure quem inventou o princípio da arbitrariedade, que
ele próprio afirma não ser contestado por ninguém. Todos os signos, que sejam
considerados arbitrários e/ou icônicos 25 permitem que uma nova observação
proponha um novo olhar principalmente na análise das línguas de sinais que
podem propiciar novas descobertas. (COSTA, 2012, p. 24)

Nesse sentido, Saussure (2006) argumenta que a ideia de “mar” e a sequência


dos sons m-a-r não estão ligadas por relação interior, bem como que a ideia de “mar”
poderia ser representada por outra sequência. Outro argumento do autor em defesa
da arbitrariedade do signo consiste na existência de diferenças entre as línguas e na
existência de línguas diferentes. Podemos exemplificar o exposto por Saussure (2006)
com “mesa” e “table”, dois significantes diferentes que representam, em duas línguas,
um signo com o mesmo significado. Saussure (2006, p. 83, grifo do autor) alerta,
porém, que a palavra arbitrário não “deve dar a ideia de que o significado dependa da
livre escolha” daquele que fala, pois “o significante é imotivado, arbitrário em relação
ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade”. Portanto,
entendemos que, para esse autor, o signo linguístico é convencional, resultando de um
acordo implícito entre os indivíduos de determinado grupo, que passam a usá-lo em
ambiente onde ocorre comunicação. (CORRÊA, 2014)

A respeito da arbitrariedade, Costa (2012, p. 35) expõe que “[...] 46 Klima e


Bellugi provaram que as línguas de sinais não são uma língua universal por causa da
arbitrariedade e que cada língua de sinais diferente possui uma convenção”. Costa (2012,
p. 35) também aponta que os estudos desses autores “[...] favorecem o entendimento de
que arbitrariedade e iconicidade não são conceitos opostos, mas devem ser entendidos
como se fossem um contínuo: alguns sinais são mais icônicos e menos arbitrários,
outros mais arbitrários e menos icônicos” e que, “nas línguas de sinais, temos sinais
mais icônicos ou mais arbitrários, os mais icônicos podendo perfeitamente representar
conceitos abstratos quando são usados metaforicamente”. Considerando os conceitos

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abordados pelos autores mencionados anteriormente à compreensão trazida de


iconicidade e arbitrariedade, podemos aprofundar os estudos da pesquisa: entender
com mais clareza os processos produtivos.

Costa (2012) referencia Martelotta (2011, p. 37) quando

[...] mostra como o conceito de dupla articulação se apresenta desde o século


XIX e como os linguistas aceitam como verdade que a linguagem humana é
articulada. Pode ficar mais clara a noção de articulação, como “constituído de
membros ou partes”, então, afirmamos que a linguagem é articulada e pode ser
desmembrada em partes menores. Tem dois tipos diferentes de articulações:
a primeira articulação (morfologia), que é o estudo da combinação entre as
unidades mínimas que formam as palavras significativas, e a segunda articu-
lação (fonologia), que é o estudo da separação entre as unidades mínimas que
mostram os fonemas e que não tem significado. Geralmente, apresentam-se
as configurações de mão da língua de sinais como análogas aos fonemas das
línguas orais, por constituírem unidades mínimas. Assim como os fonemas,
cada configuração de mão não teria, portanto, significado, estando assim em
relação de arbitrariedade. A partir de sua realização juntamente com os demais
parâmetros de formação da língua de sinais é que ela constituiria os três prin-
cipais parâmetros, passando a adquirir significado. A hipótese deste trabalho,
porém, é de que pelo menos algumas configurações de mão têm origem em
gestos instrumentais, de ação no mundo, e mantêm relação icônica de certa
semelhança com o conceito por causa das experiências humanas.

O autor indica ainda, em sua pesquisa, que Saussure e seus seguidores


desenvolveram a crença dos signos linguísticos serem tão somente arbitrários,
‘ignorando’ a iconicidade.

Bem, então podemos pensar que arbitrariedade não tem nada a ver com a
iconicidade antes apresentada. Vejamos o que nos traz Costa (2012) apontando os
pesquisadores Klima e Bellugi (1979):

[...] investigando a questão da iconicidade nas línguas de sinais, desenvolveram


um experimento que consistia em apresentar alguns sinais para participantes
que desconheciam a língua de sinais em questão e questionar sobre qual sinal
acreditavam ser aquele com base na iconicidade do mesmo. Os resultados
apresentados os levaram a concluir que os sinais, embora sejam icônicos, são
também arbitrários. Iconicidade e arbitrariedade, portanto, não são conceitos
opostos como tradicionalmente se apresenta. (COSTA, 2012, p. 26)

Acerca dessas pesquisas realizadas por Klima e Bellugi (1979), Costa apresenta
que

[...] os resultados quando alguns sinais icônicos foram retirados de um dicioná-


rio da língua de sinais americana (ASL) para serem apresentados a 50 ouvintes
que não conheciam a ASL. Constataram que a grande maioria dos participantes
não compreendeu os sinais, o que mostra que esses sinais icônicos não são
transparentes e podem também ser considerados arbitrários. Os autores tam-
bém compararam os sinais em diferentes línguas de sinais, e demonstraram
que, assim como as onomatopeias, eles variam de país para país e, portanto,

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 13

são convencionais e qual convenção será adotada é algo arbitrário. Comparar


os sinais e onomatopeias em línguas diferentes fornece um bom argumento a
favor da arbitrariedade. (COSTA, 2012, p. 35)

Ele ressalta ainda sobre as várias abordagens linguísticas e seus outros olhares
a respeito da arbitrariedade e iconicidade:

[...] tais como aqueles apresentados pela linguística funcionalista, linguística


cognitiva, estudos da gestualidade e iconicidade, e muitos estão revendo os
conceitos básicos citados anteriormente aplicados nas línguas de sinais. Essas
abordagens mostram que a iconicidade tem um papel importante em todas
as línguas naturais e que a gramática das línguas é essencialmente motivada
(COSTA, 2012, p. 26).

Importante ressaltar que em sua pesquisa Costa indica a importância de


apresentar a iconicidade e a arbitrariedade presentes nas línguas naturais.

Outro fator relevante destacado por Costa em sua pesquisa, abordando achados
de Klima e Bellugi, é que eles:

[...] provaram que as línguas de sinais não são uma língua universal por causa
da arbitrariedade e que cada língua de sinais diferente possui uma convenção.
Esses estudos favorecem o entendimento de que arbitrariedade e iconicidade
não são conceitos opostos, mas devem ser entendidos como se fossem um
contínuo: alguns sinais são mais icônicos e menos arbitrários, outros mais ar-
bitrários e menos icônicos. Em alguns sinais, pode ser muito difícil encontrar
qualquer motivação; em outros a motivação pode ser bastante visível mesmo
para quem não fala a língua, dependendo da experiência compartilhada. Estu-
dando as línguas de sinais podemos manter então a hipótese de que os sinais
são essencialmente motivados, mas essa motivação pode se perder ao longo
do tempo com o uso da língua e a mudança na experiência social dos usuários
(FRISHBERG, 1975; DINIZ, 2010 apud COSTA, 2012, p. 35).

O autor traz ainda à memória o fato de que por anos, se pensava que a língua de
sinais não era língua, justificando a questão icônica, afirmação nada verdadeira, como
já explicitado no decorrer do texto. “Nas línguas de sinais temos sinais mais icônicos ou
mais arbitrários, os mais icônicos podendo perfeitamente representar conceitos abstratos
quando são usados metaforicamente” (COSTA, 2012, p. 35).

Se observarmos esse fato, ainda hoje percebemos algumas pessoas com essa
compreensão errônea.

1.1 CONFIGURAÇÃO DE MÃO E ICONICIDADE

Costa, em seu trabalho, faz a escolha de uma configuração de mão para apresentar,
descrevendo a iconicidade do sinal. A seguir, a configuração escolhida, os sinais possíveis
e o detalhamento.

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14 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

Para iniciar a descrição, fez uso do site Acessibilidade Brasil, que contém um
dicionário de Libras, ali escolheu a configuração de mão (gesto de pinçar) e os sinais
que continham essa configuração.

FIGURA 3 - SITE ACESSIBILIDADE BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br/libras/>. Acesso


em: 29 jun. 2017

FIGURA 4 - CONFIGURAÇÃO DE MÃO ESCOLHIDA

FONTE: Disponível em: <http://www.acessobrasil.org.br/libras/>. Acesso em: 29 jun.


2017

A seguir, relacionamos alguns dos sinais escolhidos por ele para descrição, sendo
possível observar a iconicidade entre alguns:

Observação: a análise da iconicidade foi retirada das observações feitas por Costa
(2012, p. 73- 84), as fotos são de minha autoria.

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 15

ASSOBIAR - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto


operacional do gesto metafórico relacionando a um
determinado som agudo.

CATAPORA - Gesto de pinçar motivado pela forma


arredondada da união entre o dedo indicador e o
polegar, que iconicamente representa marcas de
catapora.

CEREJA - Gesto de pinçar


motivado pela forma
arredondada da união entre o
dedo indicador e o polegar, que
iconicamente representa uma
cereja pequena.

COMPRIMIDO - Gesto de
pinçar motivado pela ação
de tomar um comprimido,
formado pela união entre o
dedo indicador e o polegar, que
iconicamente representa um
comprimido.

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16 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

PERFEITO - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto


operacional do gesto metafórico relacionado à precisão
e perfeição.

CABELO - Gesto de pinçar motivado pelo gesto


instrumental de segurar os fios de cabelo.

LUXO - Gesto de pinçar motivado pelo


aspecto operacional do gesto metafórico
que demonstra sentido de superioridade e
perfeição.

CANO - Gesto de pinçar motivado pela forma arredondada,


formado da união entre o dedo indicador com o polegar, que
iconicamente representa a forma visual e concreta.

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 17

FICHA - Gesto de pinçar pelo gesto instrumental de pegar e soltar uma


ficha.

COMUNGAR - Gesto de pinçar motivado pela forma


arredondada da união entre o dedo indicador e o polegar,
que iconicamente representa uma hóstia.

IOGA - Gesto de pinçar motivado pelo gesto


típico associado à atividade de meditação e
ioga.

BOTÃO - Gesto de pinçar motivado


pela forma arredondada da união
entre o dedo indicador e o polegar,
que iconicamente representa um botão
pequeno.

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18 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

CERTO - Gesto de pinçar motivado pelo aspecto


operacional do gesto metafórico que relaciona com
aspectos de precisão.

ESTENDER (um pano) - Gesto


de pinçar motivado pelo gesto
instrumental de segurar o lençol
ou uma roupa.

FONTE: Adaptado de Costa (2012, p. 73- 84)

Segundo Costa (2012, p. 71), quanto aos sinais identificados, [...] há uma motivação
na configuração de mão do gesto de pinçar, com base na experiência humana de operar
objetos pequenos e de forma precisa, podendo ser um primitivo semântico que, associado
a outros elementos, compõe diferentes sentidos.

Para concluir, o autor apresenta:

[...] que o princípio da arbitrariedade do signo, que caracteriza as línguas hu-


manas, não é incompatível com o princípio da iconicidade. Na língua de sinais,
a forte iconicidade não deixa de ser marcada por uma convencionalidade, e os
sinais não são transparentes, ao contrário do que tradicionalmente se pensa.
Nas línguas orais, vários estudos apontam que a motivação e a iconicidade estão
presentes não apenas no léxico, mas também na gramática. (COSTA, 2012, p. 37)

Indicando assim a importância da continuidade dos estudos dos conceitos de


iconicidade e arbitrariedade, para sua melhor compreensão.

Agora assista ao vídeo da música “Aquarela” em Libras e perceba alguns sinais


icônicos, por exemplo: gaivota, barco, luva, entre outros.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WhZU2y6CE6k>.

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 19

Assista ao vídeo em Libras com sinais de animais e identifique os sinais mais


icônicos para você.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rhMzosoOtnA>.

AUTOATIVIDADE

1. Vamos treinar um pouco a iconicidade e arbitrariedade da língua de sinais. Assista


ao vídeo e veja os sinais que foram sinalizados (é importante praticar!). Em seguida,
assinale a categoria da palavra sinalizada no vídeo. Boa sorte!

Disponível em: <https://youtu.be/APpYDKlnc1o>.

1. ANDAR
( ) Icônico ( ) Arbitrário
2. AMIGO
( ) Icônico ( ) Arbitrário
3. AMAR
( ) Icônico ( ) Arbitrário
4. DIGITAR
( ) Icônico ( ) Arbitrário
5. VER
( ) Icônico ( ) Arbitrário
6. CARRO
( ) Icônico ( ) Arbitrário
7. CONHECER
( ) Icônico ( ) Arbitrário
8. TRABALHAR
( ) Icônico ( ) Arbitrário
9. INTELIGENTE
( ) Icônico ( ) Arbitrário
10. COMER
( ) Icônico ( ) Arbitrário

2. Use (A) para representar sinais icônicos e use (B) para sinais arbitrários:

( ) São sinais que não têm relação com o objeto ou ação real.
( ) São sinais que condizem com o objeto ou ação/característica real.

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20 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

DICIONÁRIO DE LIBRAS

ANIMAIS

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 21

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 23

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24 NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II

REFERÊNCIAS

CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue


da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: Edusp, 2001.

CORRÊA, Fabiana Schmitt. Língua Brasileira de Sinais: Expressões inovadoras.


2014. 141 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Centro de Comunicação e
Expressão, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.

COSTA, Victor Hugo Sepúlveda da. Iconicidade e produtividade na língua


brasileira de sinais: a dupla articulação da linguagem em perspectiva. 2012. 96
f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Comunicação e Expressão,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.

AURÉLIO, Dicionário Aurélio. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/


iconico>. Acesso em 22.03.2017

FERREIRA BRITO, Lucinda. Integração social & educação de surdos. Rio de Janeiro:
Babel, 1993.

PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1999.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

MARTELOTTA, Mario Eduardo. Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto,


2011.

MCCLEARY, Leland; VIOTTI, Evani. Língua e gesto em línguas sinalizadas. Veredas


on-line - Atemática. Juiz de Fora, n. 1/2011, p. 289-304, 2011. Disponível em: <http://
www.ufjf.br/revistaveredas/files/2011/05/ARTIGO-212.pdf>. Acesso em: 22 mar. 2017
QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos
linguísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004.

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NIVELAMENTO DE LIBRAS INTERMEDIÁRIO II 25

LIBRAS. Dicionário da Língua Brasileira de Sinais. Disponível em: <http://www.


acessobrasil.org.br/libras/>. Acesso em: 26 abr. 2017.

UOL EDUCAÇÃO. Metáfora: figura de palavra, variações e exemplos. 2005.


Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-
de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm>. Acesso em: 23 jan. 2017.

TAUB, SARAH F. Iconicity in American sign language: concrete and metaphorical


applications. Springer Link. [s.l.] Spatial Cognition and Computation 2, p. 31– 50,
2000.

WILSON, Victoria; MARTELOTTA, M. E. Arbitrariedade e iconicidade. In:


MARTELOTTA, M. E. (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2009. p.
71-85.

GABARITO DAS AUTOATIVIDADES

1. ANDAR
(x) Icônico ( ) Arbitrário
2. AMIGO
( ) Icônico (x) Arbitrário
3. AMAR
( ) Icônico (x) Arbitrário
4. DIGITAR
(x) Icônico ( ) Arbitrário
5. VER
(x) Icônico ( ) Arbitrário
6. CARRO
(x) Icônico ( ) Arbitrário
7. CONHECER
( ) Icônico (x) Arbitrário
8. TRABALHAR
( ) Icônico (x) Arbitrário
9. INTELIGENTE
( ) Icônico (x) Arbitrário
10. COMER
(x) Icônico ( ) Arbitrário

2. (B)
(A)

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