PEELING GLICÓLICO PARA TRATAMENTO EM MELASMA: USOS E

CUIDADOS
Bruna Rodrigues Cunha¹Neiva Cristina Lubi²
1. Acadêmica do curso de tecnologia em Estética e Imagem Pessoal da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba,
PR);
2. Farmacêutica mestre. Professora Orientadora Adjunto da Universidade Tuiuti
Endereço para correspondência: Neiva Cristina Lubi, neivalubi@hotmail.com
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RESUMO: O Melasma ou cloasma é uma hiperpigmentação que ocorre na face, em
mulheres, geralmente com mais de 25 anos de idade e após gravidez ou terapia hormonal
(pílulas anticoncepcionais), tem como fator desencadeante a exposição da pele ao sol.
Manifesta-se sob a forma de manchas castanho-claras á escura, localizada geralmente nas
regiões malares podendo atingir a região frontal, labial superior e masseterianas. O tratamento
desta alteração geralmente é realizado através da esfoliação dos queratinócitos ou por inibição
da tirosinase, enzima precursora da melanina. O peeling químico possibilita maior esfoliação
e renovação celular. O ácido glicólico é um dos esfoliantes mais utilizados, apresentam baixo
peso molecular e ótima permeação em meio ácido. Entretanto, deve ser usado com cautela,
em pacientes que apresentam fototipo IV e V por causarem manchas hipocromicas por devido
alto risco de incidência de hiperpigmentação pós inflamatória e a possibilidade de esse
procedimento promover mudanças permanentes na coloração da pele. Este estudo teve como
objetivo discutir o peeling glicólico para tratamentos em melasma.
Palavra-chave: ácido glicólico, melasma, peeling
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ABSTRACT: Melasma or chloasma is a hyperpigmentation that occurs on the face in
women, usually with more than 25 years of age and after pregnancy or hormone therapy (birth
control pills), has as a trigger skin exposure to sunlight. It manifests itself in the form of tan-
light to dark, usually located in the malar region could reach the front, upper lip and
masseteric. The treatment of this condition is usually accomplished through the exfoliation of
keratinocytes or the inhibition of tyrosinase, an enzyme precursor of melanin. Chemical
peeling allows for greater exfoliation and cell renewal. Glycolic acid is an exfoliating the
most used, with low molecular weight and excellent permeation under acidic conditions.
However, it should be used with caution in patients with skin type IV and V to cause
hypochromic spots due to high risk of incidence of postinflammatory hyperpigmentation, and
the possibility of this procedure to promote permanent changes in skin color.
This study aimed to discuss the glycolic peel treatments melasma.
Keyword: glycolic acid, melasma, peeling.

1
INTRODUÇÃO pigmentares, alterações actinicas e
Os melanócitos são responsáveis queratosicas, ritides algumas cicatrizes
pela produção da melanina e é um superficiais deprimidas (MAIO, 2004).
pigmento que dá cor a pele e aos cabelos, Os Alfa-hidroxiacidos (AHA) são
sendo que sua formação é desencadeada derivados de fontes de alimentos. Entre os
pela ação da enzima tirosinase (RIBEIRO, (AHA) destaca-se o ácido glicólico
2010). derivado da cana de açúcar que possui a
Melasma ou cloasma é uma menor molécula e por isso é o mais usado.
melanodermia que ocorre na face, quase Atua sobre a epiderme, derme papilar e na
sempre em mulheres, geralmente com mais unidade pilossebácea (BARQUET, 2006).
de 25 anos de idade e após gravidez ou uso O ácido glicólico atua sobre a
de anticoncepcionais. São manchas de cor epiderme aumentando a hidratação dos
castanho-claras á escura, localizada corneócitos na pele, o que provoca leve
geralmente nas regiões malares podendo descamação muito superficial causando
atingir a região frontal, labial superior e uma necrose da epiderme ate junção
masseterianas (RIVITTI, 2001). dermoepidermica e podem com isso
O tratamento pode ser realizado estimular a formação de colágeno na
com o uso de inibidores da tirosinase e derme papilar superficial e causa menos
com esfoliação dos queratinocitos. Os danos promovendo o rejuvenescimento da
peelings químicos podem ser divididos em pele com desaparecimento das discromias
muito superficiais, superficiais, médios e (MAIO, 2004).
profundos. Este artigo tem como objetivo
Os peelings químicos, também discutir aspectos relevantes e atuais sobre
chamados de “quimioesfoliação”, melasma e peeling químico com acido
”quimiocirrurgia” ou quimioabrasão glicólico.
consistem na aplicação de um ou mais
agentes esfoliantes da pele, promovendo METODOLOGIA
destruição da epiderme e/ou derme, Nesse trabalho de revisão
resultando na regeneração de nova bibliográfica foram utilizadas fontes
epiderme e tecido dérmico. Essas eletrônicas, sites e artigos científicos já
aplicações produzem processo inflamatório publicados. Os artigos pesquisados
controlado, causando coagulação vascular compreendem as datas de 2007 a 2010.
instantânea e promovendo o Pigmentação da pele
rejuvenescimento da pele com A pigmentação da pele é decorrente
desaparecimento das discromias da presença da melanina formada através

2
de uma reação bioquímica mediada pela está repleto de melanina e perto da sua
enzima tirosinase (GARTNER & HIATT, atividade tirosinasica, recebendo, então o
2007). nome de grânulo de melanina.
Os melanócitos são células Uma vez formados, os grânulos de
dendriticas responsáveis pela produção da melanina deslocam-se pelos
melanina. Estão presentes na camada basal prolongamentos dos melanócitos e são
da epiderme, sobre a membrana basal, de injetados, por mecanismo pouco
onde projetam prolongamentos conhecido, no citoplasma dos
verticalmente e horizontalmente para queratinócitos, que funcionam como
queratinócitos das camadas suprabasais, depósitos de melanina e contêm maior
nos quais descarregam a melanina quantidade desse pigmento do que os
produzida. melanócitos. Os grânulos de melanina se
No interior do melanócito, são fundem com os lisossomos dos
formados os melanossomas, organelas queratinócitos e por isso as células mais
complexas constituídas por membranas, superficiais da epiderme não têm melanina.
proteínas de estrutura, tirosinase e outras Nas células epiteliais os grânulos de
possíveis proteínas funcionais. Dois tipos melanina localizam-se em posição
básicos de melanossomas podem ser supranuclear. Nessa localização, oferecem
formados: os eumelanossomos, pretos ou proteção máxima ao DNA contra os efeitos
marrons, e os feomelanossomas, amarelos prejudiciais da radiação solar
ou vermelhos (RIBEIRO, 2010). Devido à (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004).
ação dessa enzima o aminoácido tirosina é
transformado primeiro em 3,4- Fótotipos de pele
diidroxifenilalanina (dopa). A tironase Uma das classificações da pele é
também atua sobre a dopa, produzindo decorrente dos diferentes fótotipos, de
dopa-quinona que, após varias acordo com Fitzpatrick (quadro 1) é útil
transformações, converte em melanina. A pois é bem conhecido que a coloração da
tirosinase e sintetizada nos pele pode determinar muitas alterações
polirribossomos, introduzida nas cutâneas (OGAGI, 2004).
cisternado retículo endoplasmático rugoso Quadro 1: fototipo de pele de
e acumulada em vesículas (melanossomos) acordo com Fitzpatrick
que se inicia a síntese da melanina.
Inicialmente coexistem melanina e
tirosinase nos melanossomos. Quando
cessa s síntese de melanina, melanossomo

3
 Esta alteração apresenta etiologia não
Sensibilidade esclarecida com múltiplos fatores
Fototipos* Descrição
ao Sol
contribuintes como: Predisposição genética,
Queima com
I - Branca facilidade, nunca Muito sensível sendo a melanodermia mais freqüente em
bronzeia
individuo de pele castanha a parda. Na
Queima com
II - Branca facilidade, bronzeia Sensível gravidez verifica-se o aparecimento de
muito pouco
melasma; outro fator verificado com o
Queima
III - Morena moderadamente, aparecimento do melasma é em mulheres que
Normal
Clara bronzeia
moderadamente fazem uso de anticoncepcional e também o
Queima pouco, uso de hormônios na menopausa Atualmente,
IV - Morena
bronzeia com Normal
Moderada
facilidade destaca-se a exposição solar como fator
V - Morena Queima raramente, Pouco
Escura bronzeia bastante sensível
desencadeante mais importante no melasma.
Nunca queima, O ultravioleta aumenta a atividade dos
VI - Negra totamente Insensível
pigmentada melanócitos provocando a pigmentação; (5)
Quadro de acordo com Fitzpatrick Cosméticos produtos que contenham
Fonte: OBAGI, 2004 derivados de petróleo e outras drogas
fotossensibilizantes podem contribuir para o
Melasma agravamento do quadro (RIVITTI, 2001).

Uma hiperpigmentação que ocorre na Peeling

face, muitas vezes precipitada pela gravidez
Procedimento destinado a promover
ou anticoncepcionais orais e exacerbada pela
renovação celular. Tem como finalidade
luz do sol (PHILIP KEI, 1997)
remover comedões, corrigir cicatrizes de acne,
As placas de melasma são derivadas a atenuar as discromias. Observa-se na prática
um hiperfuncionamento dos melanócitos uso de três peelings distintos: mecânicos,
(PEYREFITTE, MARTINI & CHIVOT, químicos e enzimáticos (BEZERRA &
1998). REBLLO, 1999).

O escurecimento da pele por exposição Os peelings químicos são muito

à luz do sol ocorre inicialmente devido ao utilizados por atuarem em diversas
escurecimento da melanina preexistente e a camadas da epiderme e podem ser
aceleração da transferência de melanina para divididos em muito superficiais,
os queratinócitos. Numa segunda etapa, a superficiais, médios, profundos, conforme
síntese da melanina é aumentada a profundidade da lesão causada por um
(JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). determinado agente. Os peelings
profundidade média atingem a derme

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papilar e a reticular superficial, enquanto superficial causando um pelling químico
aos profundos atingem a derme reticular muito superficial (MAIO, 2004).
média. Peelings mais profundos Verifica-se o interesse no uso como
proporcionam resultados clínicos mais renovadores celulares pelas indústrias
evidentes, porém implicam em maior cosméticas. Atua sobre a epiderme, a
tempo para restauração cutânea e maior derme papilar e na unidade pilossebácea
numero de complicações, como conforme a concentração. Estudos
hiperpigmentação pós-inflamátoria , demonstram que a permeação através da
portanto, ser utilizados somente em epiderme, depende da concentração e do
indicações clinica preciso (MAIO, 2004). pH da formulação e apesar do mecanismo
de ação não estar inteiramente esclarecido,
Peeling glicólico acredita-se que o ácido glicólico possa
Os alfa-hidroxiacidos (AHA) são diminuir a coesão entre corneócitos e
ácidos derivados de fontes de alimentos, queratinócitos (BARQUET, 1999).
tais como cana de açúcar, leite e frutas Entretanto deve-se ter cuidado com
cítricas, e são ácidos carboxílicos que tem o uso em pele com fótotipo IV e V pelo
um grupo hidroxil alcoólico na posição aparecimento em algumas situações de
alfa. Entre os AHA incluem-se o ácido hipocromias localizadas. (BORGES,
glicólico (derivado da cana de açúcar), 2006).
ácido láctico (derivado do leite), ácido
málico (derivado da maçã), ácido cítrico Cuidados pré e pós peelings e na
(derivado das frutas cítricas) e o ácido aplicação
tartárico (derivado da uva). Preparações da pele
Diferenciam-se pelo tamanho da Esta é uma fase mais importante,
molécula, sendo o ácido glicólico menor e, em que é feito um bom exame da pele,
portanto, com maior poder de penetração avaliando possíveis áreas com pequenas
na pele. São eficientes no tratamento de irregularidades na camada córnea, ou com
rugas, desidratação, espessamento e escoriações, que possam causar diferenças
pigmentação irregular da pele (VELASCO na penetração do agente químico. O
et al., 2004 ). paciente deve lavar o rosto para remover a
Na forma de peeling o ácido maquiagem e depois o profissional faz o
glicólico pode ser usado da seguinte forma: desengorduramento.
em concentrações de 30 a 50% O desengordurante ideal da pele
promovendo uma descamação muito seria um solvente ou detergente com
lipossolubilidade elevada, não tóxica, de

5
fácil aplicação, sem deixar
(MAIO, 2004).
É importante informar ao paciente
como será realizado o peeling, como ele
age na pele, seus limites, os cuidados, a
presença do leve eritema, a irritabilidade
etc.
O intervalo entre
normalmente é de 15 em 15 dias e os
benefícios obtidos em casa sessão são
sempre somatórios, tendo sempre em vista
a reestruturação de uma melhor qualidade
final da pele (BORGES, 2006).
resíduos pois o tempo tem grande importância, 30s
já altera a penetração (MAIO, 2004).
O tempo de exposição varia de
indivíduo para indivíduo e de área para
área. A neutralização do ácido deve ser
retirada com compressas embebidas em
água e deve-se pedir para o paciente lavar
sessões o rosto com água corrente na pia; em
seguida é preciso verificar se todo ácido foi
removido para não haver complicações.
Para neutralizar o ácido, pode-se usar água
purificada ou bicarbonato de sódio (MAIO,
2004).

Aplicações de Peeling Cuidados pós peelings

O paciente deve estar Os cuidados pós-peelings
confortavelmente deitado em decúbito superficiais são mínimos. A maior
dorsal, com os cabelos presos para trás e os restrição é referente á exposição ao sol;
olhos devem estar protegidos com gaze deve-se, portanto, insistir no uso de filtro
dobrada e umedecida com soro fisiológico solar com FPS 30 no mínimo. A restrição a
para evitar acidentes durante a aplicação. O hidratantes nas primeiras 48h colabora para
ambiente deve ser muito bem iluminado, acelerar a descamação, principalmente nas
com luz natural ou fria, evitando mãos, muitos médicos adotam essa prática.
“sombras” que possam dificultar a Havendo irritação maior em alguma área,
observação de possíveis eritemas aconselha-se cuidar com corticóides ou
indesejados. antibióticos tópicos (MAIO, 2004).
Aplicação do ácido deve ser feita
com auxilio de um pincel com cerdas Uso de Fotoprotetores
adequadas, em forma de leque, sem A utilização previa de protetores
exagero e de maneira uniforme em toda solares impede a ativação da tirosinase e
área a ser tratada. sua disponibilidade durante o peeling.
A aplicação deve iniciar na região É importante que o filtro solar contenha
frontal, seguindo para nasal, malares, proteção para faixas de luz solar UVB e
mento e supralabial e finalizar na região UVA sem contar com as regiões do globo
palpebral. Deve ser feita de forma rápida, terrestre onde foi detectada a radiação

6
UVC por causa da diminuição de camada
de ozônio. Esta faixa de radiação visível
entre 400 e 700 nm tem uma atuação fraca
e duvidosa sobre a estimulação da
produção de pigmento melânico.
O fator de proteção solar alto para
UVB não bloqueia a ação do UVA, que faz
parte dos raios pigmentadores. A proteção
solar adequada para evitar a pigmentação é
formada com um filtro UVB/UVA curtos
associado com um filtro para atingir os
raios de UVA longos (MAIO, 2004).
Contra indicações
De modo geral, os peelings com
AHA são seguros, porém deve ser usado
com cautela em pacientes que apresentam
fototipos IV e V. Como em todos esses
procedimentos prevalece o bom senso na
sua execução. As contra-indicações podem
ser absolutas e relativas (MAIO, 2004).
Contra-indicações absolutas
Refere - se à presença de qualquer
processo em que há perda da solução de
continuidade da pele, tais como
escoriações; processos inflamatórios e
infecciosos, mesmo que pequenos;
cicatrizes recente pós-trauma ou pós-
cirurgia. Lesões ativas de herpes simples
(MAIO, 2004).
5.2 Contra-indicações relativas
Abrasão excessiva da pele pelo uso
prévio de ácidos esfoliantes, pacientes que
fizeram isso de ceras depilatórias ou
qualquer outro método que possa ter
agredido a pele e pacientes que apresentam
eritema solar intenso. Nesses casos, os
peelings devem ser suspensos
temporariamente ate que a pele recupere
suas condições de integridade (MAIO,
2004).
DISCUSSÃO
No estudo realizado, verificou - se
que o ácido glicólico por apresentar baixo
peso molecular seja permeado e desta
forma, atue nos queratinócitos reduzindo a
coesão entre melanina promovendo a
esfoliação.
Entretanto, alguns fatores como pH
da formulação, podem interferir na eficácia
bem como a concentração pode determinar
a profundidade.
Alguns estudos relatam o uso do
ácido glicólico em discromias,
fotoenvelhecimento e acne enfatizando o
cuidado com os fototipos IV e V.
Outro fator importante relacionado
com a eficácia e toxicidade do peeling de
ácido glicólico é o modo de aplicação,
próprio da pele e cuidados pos-peeling
cujos protocolos devem ser rigorosamente
seguidas.
CONCLUSÃO
Conclui- se que o ácido glicólico
por apresentar boa permeação pode atuar
como um eficaz esfoliante auxiliar em
7
tratamento de melasma resistentes.
Entretanto, deve-se cuidar do pH e
concentração para que nao haja toxicidade
e o mesmo seja permeado. Desta forma o
profissional tecnólogo em estética pode
utilizar o peeling glicólico superficial e é
importante que o esteticista avalie a pele
pois deve ser feito com cautela em pele de
fótotipo IV e V e oriente o cliente após o
peeling aos cuidados necessários como o
uso de filtro solar diários.
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