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. . Tania Andrade lima
~/lULU1-Q (O;U.~ .e. oLdllu~ MR.E.S E N TA_ÇÃ.O'--- _
culturais, políticos, sociais, de gênero, Poderosa para a construção de histórias arqueológico. Historicamente, regimes o estabelecimento de políticas de
e assim por diante. nacionais inclusivas ao re~onhecer a políticos de um amplo espectro ideológiCO preservação arqueológica. Formuladas em
Assum.indo que o passado é urna diversidade, "Illtural no passado, a arqueologia dele têm se apropriado para .6flalldades nível local, regional, nacional e até mesmo
o-
global - neste último caso, concebidas à luz -c
construção do presente e para O presente, estimula a aceitação do multiculturallsmo duvidosas, como a de legitimar.fantasias de
da "unidade simbólica da população da <
posta a seu serviço e feita à luz de valores no presente e denuncia quão circunstancial homàgeneidade e pureza étnicas, cultivadas z
::;
contemporâneos, de modo a atender a e efêmera é, na longa duração, a supremacia sobretudo no Velho Mundo; a de possibilitar a Terra, em termos da sua origem comum", ~ ~
-e interesses atuais;' a sua preservação, não de uns sobre outros. Com sua profundidade construção de histórias contínuas capazes de de que nos fala TilIéy' -, elas devem ser o
~
-e
obstante decidida com os olhos voltados temporal, relativíza a condição dos justificar o presente; ou a de fundamentar a capazes de orientar suas ações para um
o -c
para O futuro, é derivada do presente, dominantes e dos subalternos ao demonstrar reivindicação de territórios em disputa, entre mesmo, único, e coerente plano de
A preservação arqueológica, portanto, se inverteram e continuam se invertendo preservação de passados excludentes, semelhantes e tendo em vista as mesmas
com urn pé no passado e outro no futuro, sucessivamente, ao longo do tempo. particularmente tentadores para regimes finalidades. Sem o estabelecimento dessas
.
'0
-O
e antes de tudo uma produção do seu A decisão sobre o que deve ser destruido ultranacionalistas e totalitários . políticas dirctívas, as ações - isoladas,
próprio tempo, com um caráter ou preservado, esquecido ou lembrado - e Preservar não é congelar UIU
sem orquestração e dispersas - se perdem
< fortemente ideológica e político. como deve ser lembrado - na construção de determinado momento no tempo, mas abrir e sua eficácia se torna duvídosa. Em
c,
O Nessa circunstância, trata-se de um memórias coletivas não pode ser unilateral, urn campo de possibilidades para que ele contrapartida, onde elas existem e estão
O
globalizantes, quanto de comunidades arqueologia, em particular a não-européia. com as próprias raizes e,. em última e acelerada degradação ambíental, com o
locais que ocupam posições desvantajosas Os diferentes atores envolvidos precisam instância, com a própria origem, para esgotamento de um amplo leque de recursos
no mundo contemporâneo, e que, ao se ser ouvidos e ela deve ser negociada também Com isso evitar o desenraizalnento e o fundamentais para a humanidade e inúmeras
engajarem na defesa do seu patrimônio, vêm no plano local, como insiste Wylíe.! esfacelamento identitário que caracterizam espécies animais e vegetais ameaçadas de 7
ganhando visibilidade, força e resistência. Falamos aqui de uma Ferramenta social e o mundo contemporâneo. Por outro lado, extínção, o patrimônio arqueológico - de
Se construida fora de perspectivas politicamente relevante, na medida em que como frisou Hodder,' onde antes indivíduos natureza. frágil, finita e não-renovável=-
excludentes ou de argumentos meramente essa noção, se bem construída, é capaz de herdavam necessariamente urna cultura e o sorna-se aos outros domínios atingidos por
retórícos, a noção de patrimônio promover o pluralismo, estimular patrimônío por ela construí do, eles agora, essa conjunção de forças. lmpactado por
arqueológico de fato como um bem comum solidariedades, reverter invisibilidades desterrítoríalízados no mundo globalizado, fatores naturais e sobretudo antrópicos, ele
pode estimular a coesão social através do históricas, reavivar esquecimentos coletivos escolhem a cultura a que querem se integrar está desaparecendo rapidamente. O ritmo
fortalecimento de identidades, sejam elas e dar voz aos que foram silenciados pela sua e as formas de se relacionar com o passado. vertiginoso ·dessa destruição torna necessário
étnicas, locais, nacionais ou mesmo circunstância histórica.' De todo modo, tanto em nível local 'luanto produzir estratégias de preservação com a
supranacionais. Conferindo a deslocados De modo geral, cabe ao Estado-nação global, as pessoas não querem mais urn mesma velocidade, cabendo no caso destacar
o sentido de lugar e de pertencimento; regular O campo da preservação e definir passado morto, distante, mas sim conectado que a sobrevivência de bens arqueológicos
inspirando orgulho étnico e cidadania; .suas metas. E, nesse ponto, se a noção de a Sua realidade cotidiana, e dessa forma só é possível se o meio ambiente onde ele se
restaurando auto-estima, respeito e patrimônio não for de fato inclusiva e se urna trazido de volta à vida. encontra for igualmente preservado.
dignidade onde eles foram perdidos, multivocalidade não for claramente audível Para que o Estado-nação não perca essas A devastação ambiental tem como
ela se transforma, sem dúvida, em um no processo decisório, abre-se espaço para referências e as utilize sempre como um conseqüência direta um impacto violento
instrumento de emancipação. toda sorte de manipulações do registro fio condutor em suas ações, é necessário sobre esse patrimônio, de tal forma que
políticas preservacionistas ambientais arqucológíco; Só que para construí-lo muito positivas. O valor social desse mapeadas em algumas áreas. Mesmo assim,
e culturais são indissociadas e devem
democraticamente os arqueólogos devem patrimônio começa a falar mais alto, os aquilo que hoje é visível e reconhecível parece
~ caminhar paralelamente.
~
-~ I -< Sem um suporte
sustentação, nenhuma
legal que lhe dê
política de preservação
olhar para o passado,
Knapp,
e ouvindo
11 a partir
a multívocalidadc
como assinalou
de múltiplas perspectivas
anteriormente
- indivíduos passam
e cria-se a condição
para a sua proteção
a se identificar
ernpática
e defesa. Já
com ele,
necessária
na ausência
ser apenas a ponta do iceberg.
Se, no caso dos saques a sítios
arqueológicos) Opera111 em muitos casos
<
se
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arqueológica se mantém. Contudo, z
~ mencionada. Não se trata apenas de produzir de propostas educativas que produzam verdadeiras quadrilhas, em outros e crucial
lembrando quc são os fatos sociais que geram
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;; as leis, é fundamental que as normas legaislO
diferentes modos de compreender o esses vinculas) seu valor é amesquinhado, entender o contexto econômico e social das
passado, mas de desenvolver passados reduzido tão-somente ao estético elou diferentes formas de pilhagem.
que regem esse domínio acompanhem a
alternativos a urna interpretação única econômico, dando lugar a atividades Acompanhando Zímmer," esse termo. é
.... dinâmica da sociedade para a qual foram
e supostamente verdadeira. Esse marginais, COIno pilhagens a sítios, entendido aqui como a remoção de materiais
concebidas. Se elas ficam defasadas e em
~
~ conhecímento precisa ser disseminado escavações clandestinas, comercialização arqueológicos de seus contextos sem a
descompasso com as praticas sociais,
por todos os segmentos da sociedade, porém de peças no mercado negro, acumulação documentação científica adequada,
o Estado-nação se torna refém de sua própria
em particular nas comunidades envolvidas de coleções particulares, entre .outras, quer seja ela feita legalmente ou de forma
obsolescêncía, impotente para combater as
diretamente com patrímôníos arqueológicos. Segundo Leaman;" o tráfico de bens clandestina. Isso envolve indistintamente
múltiplas formas de impacto 'Iue se abatem
A responsabilidade pela preservação de
sobre seu patrimônio. Isso torna necessárias
culturais - aí incluídos os arqueológicos - membros das comunidades locais, ~
bens arqueológicos não é uma ah-ibuição é a terceira maior atividade ilegal depois saqueadores, agricultores que reviram sítios o.
uma atenção e vigilância contínuas, por parte
apenas do Estado e suas instituições ou dos das drogas e do contrabando de armas, o intencionalmente quando passam arados,
dos setores interessados, sobre a base jurídica profissionais da área. Esta é uma que mostra bem a djmensãD~o problema. amadores que têm a arqueologia como
que sustenta a preservação arqueológica, de
responsahilidade a ser compartilhada por Essas práticas, na verdade, além de ilegais bobb)', e até arqueólogos profissionais com
modo a que eles se movam politicamente,
toda a sociedade, tendo em vista que se trata são moralmente perversas, porquanto formação deficiente ou eticamente duvidosa,
sempre que necessário, para a sua atualização.
de um bem comum. Dessa forma, todos têm destinam a apenas alguns O que por direito pelo fato de que em qualquer dessas
Nesse domínio! contudo, o viés educativo
o dever social de zelar por ele, de protegê-lo é de todos. Elas resultam de uma complexa situações ocorrem danos irreversiveis
precisa prevalecer necessariamente sobre
em condições adversas, de lutar pela sua combinação de fatores, que envolvem desde ao registro arqueológico.
o punitivo. A tarefa da fiscalüação, no seu
conservação. Se, de acordo com TiIley, 12 a ambições desmedidas a caprichos e Uma forma bastante polêmica
perpétuo embate com a transgressão, tem 9
arqueologia é uma relação entre o passado e compulsões pessoais, e só prosperam porque de pilhagem é a chamada "escavação de
ficado quase sempre em franca
o presente mediada por indivíduos, grupos e existe demanda. Esta se torna, portanto, subsistência", feita com a finalidade precípua
desvantagem, sobretudo em territór-ios de
instituições, a tarefa da sua preservação cabe o cerne da questão_ Uma mesma rede de recuperar artefatos para venda, de modo
dünensões continentais como o Brasil, onde
indistintamente a todos esses mediadores. subterrânea interliga colecionadores, turistas, a garantir o sustento de comunidades locais.
a vigilância é inexeqüivel. A preservação Contudo, isso só pode ocorrer se o saqucadores, negociantes clandestinos, entre Hollowell" discute suas múltiplas facetas,
depende vísceraimente, portanto, de um
conhecimento constr-uido pela arqueologia outros, chegando mesmo, em alguns casos, a apontando o papel econômico e social dessa
profundo trabalho de conscientização, de
tiver sido por sua vez prevíamente alimentar o comércio legalmente estabelecido prática que assegura a sobrevivência de
estratégias persuasivas e convincentes que
compartilhado, na medida em que as pessoas em nivel nacional e internacional. Não são muitos grupos desfavorecidos mundo afora.
apresentenl alternativas mais atraentes e
não podem ser cooptadas e estimuladas a raras as denúncias de pCÇ'''s arqueológicas em Como considerar, do ponto de vista moral
proveitosas gue a violação às normas. Um
cuidar daquilo que elas sequer conhecem, leilões, antíquáríos, galerias, lojas de soul'eniTs, e ético, o que deve ser prioritário:
trabalho que seja capaz de mostrar que
A arqueologia é uma atividade feiras de antiguidades, ou circulando com a sobrevivência de artefatos ou de seres
preservar pode ser mais vantajoso em vários
profundamente sedutora e o patrimônio desenvoltura pelo mercado internacional de humanos? É aceitável que pessoas, em
aspectos, inclusive o financeiro.
arqueológico exerce grande fascínio sobre arte. Uma das fo1'11185 de se avaliar a extensão condições de pobreza extrema e sem
Isso depende, em primeiro lugar,
o público. Essa atração, quando bem dessas atividades é através do volume de peças alternativas para a sobrevivência, lancem
da democratização do conbecimento
canalizada pela educação, gera respostas que compõem coleções particulares, já bem mão desse recurso?
o
~ .,"- sucedidas nessa direção, como a de Colin reivindicações e prioridades passam para história é passível de ser contada através do no espaço e no tempo. '"
o
v
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z
< McEwan, em Água Blanca, Equador, que um plano secundário, fazendo com que os muito ou pouco que sobreviveu dessa
%
o conseguiu atraí-Ios para a construção e a turistas - e não a população local- sejam cultura material, e essa história será tanto ~ ~
A ORGANIZAÇÃO
~ ~
V
~ administração de um museu cornunitárlo, os maiores beneficiados, de tal forma que melhor quanto menos lacunas tiver.
DO VOLUME
- -:
~ inspirando-os com novas formas de os efeitos negativos acabam prevalecendo Longe de ser monolítica, ela tem muitas
.
-e
;:
encontrar
estratégia
valor
inclusiva
no passado." Uma
não só capaz de deter
sobre os positivos.
O problema se agrava quando o
faces e pode ser contada
maneiras, dependendo
de diferentes
de quem a conta.
Concebido à luz dessas premissas, ~
.
.
o
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"""" ações em defesa da sua preservação. A eles suficientemente resolvidas, que estão a o contexto à época da sua criação, ela avalia balanceadas conservaram ao longo de <
foi solicitado que expusessem não apenas a requerer maior esclarecimento, melhor a necessidade, hoje, de possíveis dispositivos milênios. O monitoramento fotográfico de ~
z
natureza dos riscos aí existentes e as definição ou mais discernimento. alguns desses painéis vem demonstrando
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complementares para a sua adequação.
-e
dificuldades enfrentadas para contorná-Ios,
.;:
O patrimônio arqueológico no Brasil Níede Guidon, da Fundação Museu do .que poucos anos estão sendo suficientes para
- ~ mas que sobretudo apontassem saídas para
:
-::
"
-e é protegido fundamentalmente pela Lei Homem Americano, apresenta o Parque desfigurá-Ios, alertando para a necessidade
~ minímizá-los. Além desses pesquisadores, Federal n" 3.924, aprovada em 1961, Nacional Serra da Capivara, elevado em urgente de medidas de proteção para aqueles'
•.. foram considerados colaboradores natos do existindo ainda outros dispositivos que 1991 à condição de patrimônio mundial, que podem ser considerados um dos raros •...
volume os arqueólogos que integram o contribuem, em maior ou menor grau, e o bem-sucedido modelo holístico de vestígios deixados intencionalmente pelas
corpo técnico do Iphan, convidados a para sua preservação. Ela surgiu, há quase preservação lá implantado. Esse modelo, cultu~s que ocuparam o território brasileiro
discorrer sobre temas de sua especialidade meio século, em resposta aos danos contudo, capaz de assegurar não só a antes da conquista européia. Maria
ou pelos quais vêm se interessando nos provocados sobretudo por atividades proteção do seu espetacular acervo Conceição Soares Meneses Lage, do
z
o
últimos tempos. Departamento de Química da Universidade
extrativas em grutas de Minas Gerais e em arqueológico mas também do meio
Abre o volume lima reflexão critica da sambaquis litorâneos. Nas décadas que se ambiente onde ele se encontra inserido, Federal do Piauí, vem desenvolvendo no
arqueóloga norte-americana Anne Pyburn, seguiram, contudo, as transformações vem sendo ameaçado pela implantação de Parque Nacional Serra da Capívara e também
do Departamento de Antropologia da operadas na sociedade brasileira alteraram assentamentos agrários no seu entorno, no Parque Nacional de Sete Cidades, ambos
Universidade de indiana (EUA), sobre os consideravelmente esse cenário. Não' apenas onde existem mais de 400 sítíos registrados. no mesmo Estado, um trabalho exemplar de
critérios utilizados pela Unesco para a a legislação ambiental mudou drasticamente Trata-se de uma ameaça concreta não conservação preventiva e também de
escolha de sítios arqueológicos como a face da arqueologia no Brasil- sobretudo a apenas a esses sítios, mas à fauna, à flora e consolidação desses painéis. Em seu artigo
patrimônios mundiais. Supostamente partir da década de 1990, deslocando-a da ao patrimônio arqueológico no interior do ela apresenta as soluções que vêm sendo
universais e objetivos, esses critérios, na academia para o meio empresarial-·como Parque, em virtude do avanço das dadas para deter ou retardar, tanto quanto
verdade, estão submetidos a forças políticas também a disciplina, antes direcionada queimadas e da caça predatória. A autora possível, esses processos. 15
c econômicas. A autora sugere com vigor notadamente para a pré-hísrória, voltou-se aponta, preditívamente, os danos inevitáveis N a Amazônia, densamente ocupada
que eles sejam discutidos abertamente entre com ímpeto renovado para a investigação do que ocorrerão se essa ameaça não for em tempos pré-históricos, alguns grupos
todos os interessados I e gue as decisões _ período histórico. Novas e até então prontamente detida pelo Estado. alcançaram níveis mais elevados de
emanando em geral de uma cúpula - sejam imprevistas tensões foram lntroduzídas, Grafismos pré-hístóricos, quer sob a complexidade social que os observados
tomadas de forma mais democrática. deixando os dispositivos legais forma de pinturas, quer de gravações, feitos entre suas populações indigenas atuais.
Em vista da inexístência, no Brasil, de descompassados com essa nova realidade. diretamente em paredões ro~hosos, grutas, A cultura material desses grupos atesta
políticas de preservação arqueológica que Para discutir a atualidade da legislação abrigos, blocos isolados e lajedos, estão essa complexidade, caracterizando-se por
forneçam dir-etr-izes e norteiem as ações um grau 'de elaboração técnica e por um
foi convidada Regina Coeli Pinheiro da Silva, presentes em todo o território nacional.
nessa direção, tanto em nível municipal e atual subgerente de Arqueologia do Particularmente abundantes no Norte, refinamento estético invulgares. Isso a torna
estadual quanto federal, U1piano Toledo Departamento de Proteção Material e Nordeste, Centro-Oeste e Centro-Leste do objeto do desejo de colecionadores, tanto
Bezerra de Meneses, professor do Fiscalização, Depam/lphan e ex- País, estão também presentes, em menor no plano nacional quanto internacional.
Departamento de História da Universidade coordenadora da extinta Coordenadoria de escala, na região Sul. Impactos de diferentes Por conseguinte, os sítios arqueológicos da
de São Paulo e membro do Conselho Arqueologia dá' instituição. Bacharel tanto naturezas, que variam desde desplacamentos região vêm sendo, desde longa data, alvo de
Consultivo do Iphan, foi convidado a dar sua em Direito quanto em Arqueologia, e do SUporte rochoso, passando pela atividade saques sistemáticos que alimentam intenso
contribuição ao tema. Suas reflexões, à guisa profunda conhecedora das normas que de insetos e outros animais, ate agressões comércio clandestino, colocando em mãos de
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particulares, no Pais e no exterior, O que destruição, quando ímpactam áreas preservação arqueológica nas cidades. obras de restauro promovidas pela ~
I pertence legalmente ao povo brasileiro. arqueologicamente férteis. Opções Entendendo-a como indissociada da gestão instituição e e'q)ressa seu ponto de vista
1
Soma-se a esse aspecto a devastação metodol6gicas na etapa de levantamento e pública e do planejamento urbanístico, pessoal sobre essa questão. .~ ~
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da Amazônia e o avanço das frentes de no resgate dos sítios atingidos determinam as apresentanl instrumentos preventivos A baixa visibilidade dos grupos o
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': colonização, resultando em um ritmo possibilidades de sobrevivência de alguns em capazes de viabilizar crescimentos historicamente excluídos, aqueles "sem
assustador de destruição dos vestígios de detrimento de outros. Atributos como sustentáveis, amenizando os hnpactos sobre . importância", que ninguém nota, sobre os
-e
-e os testemunhos da trajetória desses núcleos quais pouco se escreveu e que não puderam
, culturas que muito têm a nos ensinar, hoje, raridade, vulnerabílídade, grau de integridade, ..•,
escrever sobre si-mesmos, corno os negros
~ sobre manejo e desenvolvimento sustentável representatividade, potencial de pesquisa, e de seus habitantes. < '"
na floresta tropical. Denise Pahl Schaan, do aliados a critérios de significância (histórica, Parte importante desse processo são os escravizados, não foi apenas social e ela se
e
...
o Departamento de Antropologia da étnica, religjosa, estética, econômica, etc. )2S prédios tombados e, por conseguinte, os estende também aOS registros arqueológícos. :; ~
Universidade Federal do Pará, expõe esses embasam decisões de natureza quase sempre restauras fre'lüentemente promovidos não Seus pertences, além de exiguos, foram
~
~ só por órgãos patrimoniais municipais, objetos em grande parte reaproveitados ou
problemas,euriquecendo seu texto com subjetiva sobre o que deve ou não ser
relatos de sua experiência pessoal na área, preservado. Solange Bezerra Caldarelli, estaduais e Federais, mas também por reciclados dos segmentos opressores, de tal
·
~
Q
e propondo
que podem
um elenco
atenuá-los.
de sugestões da Scientia Consultoria
sua opção pela preservação,
Científica,
defendendo
apresenta
a não
empresas pri vadas e por particulares.
Em vista da contribuição que a arqueologia
forma
fundirem
que eles correm o grande
visualmente à cultura material
risco de se Q
>
·
c,
o
Um outro
historicamente
domínio também
alvo de saques sistemáticos é
intervenção - ou pelo menos uma intervenção
mínima, reduzida ao estritamente necessário -
pode dar.
crescentemente
esses trabalhos,
incorporada
ela vem sendo
às obras,
dominante
obstante
e não serem reconhecidos,
em muitos casos terem sido
não
meios de comunicação sempre sob a ótica da em geral mais adotada. O fato de a arqueologia participar apenas vista que a arqueologia é uma das poucas vias
caça ao tesouro, excita a fantasia e a No subsolo das áreas urbanizadas subsidiando a arquitetura e subordinada aos de acesso ao patrimônio material desse
imaginação do público nessa direção. encontram-se abundantes vestígios seus interesses não raro tem gerado focos grupo étnico, essa dupla invisibilidade
Por conseguinte, estimula sua destruição, arqueológicos, tanto históricos quanto de tensão. Eles decorrem basicamente do representa uma aTI1eaça concreta a sua
criando um cenário altamente desfavorável pré-hístórícos, selados por camadas de fato de que enquanto à arqueologia preservação, Luís Cláudio Pereira Symanskí 17
16
à preservação desse patrirnônio. concreto e asfalto, por construções que interessa o processo díacrônico de e Marcos André Torres de Souza,
Em decorrência da Lei Federal na 10.166, foram sobrepostas a ocupações anteriores, ocupação de um prédio, a arquitetura respectivamente pesquisador associado
aprovada em 2000, que liberou a exploração o~ mesmo por áreas ainda livres, com privilegia em geral um determinado e professor do Instituto Goiano de Pré-
comercial de naufrágios, tratando ou sem tratamento paisagístico. momento da sua história em detrimento História e Antropologia da Universidade
indiferenciadamente os recentes e os O rernodelamento contínuo, determinado dos demais. Vestígios de outros momentos Católica de Coíás, ambos dedicados à
multisseculares, o quadro da pilhagem aos pelo dinamismo dos ambientes urbanos, são muitas vezes apagados, revertendo em arqueologia da escravidão no Brasil central,
bens submersos vem se agravando, Gilson impacta com diferentes graus de intensidade perdas para o patrimônio arqueológico. discutem o problema, entendendo que, na
Rambellí, pós-doutorando e pesquisador esse patrimônio, Pelo viés da memória e da Os critérios que regem essas escolhas questão da preservação, mais produtivo que
convidado da Universidade de Campinas, um identidade, em face da perda contínua de remetem aos questionamentos feitos acima apenas mostrar o passado dos negros
dos poucos arqueólogos subaquátícos no País referencíais causada por essas sobre quem deve dizer, o"que deve e o que escravizados é estimular as pessoas a refletir
e ardoroso defensor dessa causa no cenário transformações, Femanda Tocchetto e não deve ser preservado. Rosana Najjar, sobre ele.
riacional e internacional, aborda o problema Beatriz Thiesen - respectivamente do Museu arqueóloga da 6' Superintendência Contudo, o regislTo arqueológico não
e propõe alternativas. Regional do Iphan no Rio de Janeiro, compreende apenas sítios, 111as também a
Jose Joaquim Felízardo da Prefeitura de
Projetos descnvolvimentistas são Porto Alegre e da Universidade Federal rn acumulando experiência nesse campo cultura material neles existente e toda a
reconhecidamente poderosos agentes de vés da Sua participação em algumas das documentação produzida pela sua pesquisa,
de Rio Grande - abordam a questão da
construção de seu passado, uma forma de c-
vale dizer, diá~ios de campo, plantas, fotos, Museu Nacional e os resultados alcançados dissociados da sua respectiva documentação,
filmes, relatórios, etc. De nada adianta
os sítios, se aquilo que deles é retirado
salvar
se
até agora,
realizados
expondo os procedimentos
e as medidas adotadas, passíveis
ínviabiliza a produção
sobre os sistemas
de conhecimento
socioculturais que o
inclusão
em defensores
que potencialmente
incondicionais
os transforma
dos vestígios ~ ~ .
<"- perde por falta de conservação adequada nas "de serem estendidos a situações semelhantes produziram. arqueológicos de seus antecessores. Rossano <
prateleiras das reservas técnicas de museus, Pais afora. Catarina Eleonora Ferreira da Silva, Lopes Bastos, arqueólogo da lI'
Superintendência Regional do Iphan em ::;
universidades, centros de pesquisa, e assim Essa ética de conservação, compromissada arqueóloga, e Francisco Helena Barbosa
."
por diante. Os acervos, em muitos casos em proporcionar longevidade máxima aos Lima, historiadora, respectivamente técnica Santa Catarina e ex-coordenador da :
acumulados em instituições sem condições registros arqueol6gicos, envolve não apenas ... e gerente de Documentação da Coordenadoria de Arqueologia do extinto -:
adequadas para recebê-los e sem corpo as evidências fisicas de sistemas Coordenação-Geral de Pesqlrisa, Departamento de Proteção Legal da
técnico especializado em conservação socioculturais extintos, mas também toda Docwnentação e Referência - instituição, vem nos últimos anos se I-
de informação e muito menos de até as resultantes do seu estudo, em instituição. A primeira, a partir da longa para afro-descendentes, ele apresenta sua
conhecimento. Por sua vez, quase sempre qualquer tipo de suporte: papel, filme, experiência acumulada desde que esteve à visão particular sobre essa questão. ~
sem a formação adequada para lidar com fita ou meio digital. Em vista do caráter frente da Coordenadoria de Identificação do Encerra o volume a extroversão, para O
-c
reservas técnicas, os profissionais da área de destrutivo da pesquisa arqueológica, tudo extinto Departamento de Identificação e público, do patrimônio arqueol6gico e do e,
arqueologia - na ausência desses quadros - que resta dos sítios escavados é a cultura Documentação - DID/Iphan até o conhecimento cientificamente produzido a
armazenam de forma inadequada materiais material recolhida as instituições de pesquisa momento. E a última, a partir da longa e partir dele, compartilhado com a sociedade
sensíveis, contribuindo involuntariamente e a documentação produzida no seu respeitada trajetória - interna e externa - através do turismo. Maria Lúcia Franco Pardi,
para acelerar sua degradação. Trata-se de transcurso, O que exige que se dispense que a torna um nome de referência no arqueóloga da Gerência de Arqueologia do
problema particularmente grave, na medida a arribas o mesmo cuidado dispensado aos campo da documentação. Departamento de Patrimônio Material e
em que aqueles que deveriam estar sítios. É um principio cardeal o fato de que Foram apresentados e discutidos acima os Fiscalização do Iphan, que também nos
preservando são os que inadvertidamente bens arqueológicos e toda a informação a efeitos erosivos da exclusão social- entre os últimos anos vem se interessando pelo turismo
acabam acelerando a destruição de bens eles relacionada não podem ser dissociados, . quais se inclui a perda da auto-estima e da arqueológico sob a ótica patrímonial, defende,
18
arqueológicos. existindo um elo crucial entre as evidências identidade cultural- que atinge sobretudo não obstante todos os riscos que assinala, sua
Angela Maria Camardella Rabello e e os dados sobre sua procedência, meios de inorias étnicas que ocupam posições implantação como uma atividade formal
Tania Andrade Uma, do Departamento de obtenção, critérios utilizados para seu arginais na sociedade, justamente aquelas responsável, educativa e sustentável.
Antropologia do Museu N acionall registro, classificação e conservação, jo patrímônío cultural a investigação Tomados em seu conjunto, os artigos que
Universidade Federal do Rio de Janeiro, o tratamento analítico que lhes foi ,arqueológica em geral resgata nas Américas. .cornpõem este volume promovem um
apresentam o caso emblemático do acervo dispensado e sua interpretação final, .Desprovído de seus defensores 'naturais, esse balanço dos problemas que envolvem a
arqueológico da instituição. Em virtude de compondo uma cadeia de informações que patrimônio torna-se presa fácil de toda sorte preservação do patrimônio arqueológico no
não contar com conservadores até muito Ihes confere sentido, A dificuldade de .-de impactos que aceleram sua destruição. Brasil. A~ mesmo tempo, eles procuram
recentemente, e dispondo de pouquíssimos gerenciamento e manutenção desses acervos Contudo, como procuramos demonstrar, a abrir perspectivas para atenuá-los e, se
museólogos no seu quadro funcional, uma documentais no Brasil vem resultando arqueologia pode se tornar um poderoso possível, saná-Ios. Através deles, o volume
deficiência agravada pela crônica falta de na perda dessas informações e, por instrumento de inclusão social ao promover não escamoteia sua ambição maior, a de
apoio a atividades curatoriais, esse acervo conseguinte,. em sérios danos ao patrimônio 'pesquisas integradoras que assegw'em a fornecer subsídios para a construção de
chegou aníveis preocupantes de degradação. arqueológico nacional. Ao reduzi-Ia a ticipação democrática e solidária dessas políticas públicas de preservação do
As autoras apresentam o esforço de materiais descontextualizados em museus cr-ias na recuperação do seu próprio patrimônio arqueológico, nos seus diferentes
recuperação do Setor de Arqueologia do e instituições de pesquisa porquanto trímônío cultural. E, por conseguinte, na níveis, municipal, estadual e federal.
LYNOTT, Mark. "The developmenr of ethics in
Se não houver de fato um 7 Ver Philíp L. Kohl & Clare Pawcett (ccls.). Cambridgc, Cambridge Llniversity Press, 1989.
arehaeology". ln ZIMMERMAN, Larry j.;VlTELLI, "
Natíonalism, políucs and t'he pracdcc of archacolo8Y' 25 VerTirnothy Darvill. "Public archacol.ogy: a
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Cambridge: Cambrtdge Llníversity Press, 1995. Europc.n perspective". ln john BintlifT (ed.).
issues ln archacoJollJ' Walnut Crcck- AltaMira Press, c,
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< 2003, p. 17-27. <
~ diversidade cultural da nação brasileira - 9 ChristophcrTilley. Op. cit., p. 111.
10 No caso do Brasil, leis, decretos-lei, decretos,
RENFREW, Colin & BAHN, Paul. ArchacoloBJ· ~
z
~ desde o passado mais remoto, mu1t..imilenar,
resoluções, portarias, em nível federal, estadual c BIBLIOGRAFIA
Theoríes, methods and practice. London: Thames :;
~
.
z
& Hudson, 2000.
:; até o mais recente - diflcilmente municipal. No plano internacional, car-tas, convenções, -e
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conseguiremos resgatar nossas origens resoluções e recomendações, das quals o Brasil é Il
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mais justa, a partir da compreensão das
diferenças que herdamos de nossos
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