Vous êtes sur la page 1sur 9

H-o í\tu1ii.!

\ ,
. . Tania Andrade lima
~/lULU1-Q (O;U.~ .e. oLdllu~ MR.E.S E N TA_ÇÃ.O'--- _

IQlLlQ UM PASSADO PARA O PRESENTE


P R E 5 E R V A ç Ã O
~:tuJyw tJw::f E M QUE S TÃO
ARQUEOLÓGICA

ALGUNS descendentes, movimentos sociais,


FUNDAMENTOS comunidades locais, seitas religiosas, entre
outros, vêm entendendo que determinados
o principal argumento para embasar ações registros arqueológicos com os quais têm
preservacíonistas em arqueologia é o que vínculos históricos, culturais, religiosos,
reconhece às gerações futuras o direito de afetivos ou simbólicos são parte de seu
Revista do Patrimônio conhecer os remanescentes do passado da patrimônio e lhes pertencem. Mais ainda,
humanidade, uma aspiração sem dúvida utilizam-nos como argumento para
Histórico e Artístico Nacional nº 33/2007 nobre, que precisa e deve ser cultivada. reivindicações de diferentes naturezas.
Contudo, uma tensão se estabelece quando Ao contestar muitas vezes as pesquisas
são encaminhadas as questões que científicas desenvolvidas pelos arqueólogos

Patrimônio Arqueológico. inevitavelmente acompanham essas ações:


preservar o quê, como, para quem e por
que não estariam atendendo necessariamente
aos seus interesses, julgam que a decisão
quem? Quem deve atribuir valor aos bens sobre a preservação de locais sagrados,

o desafio da preservação arqueológicos? Quem escolhe o que merece


ser preservado? Em última ínstância, de quem
tradicionais, ou imemoriais é da sua alçada.
Entendendo que esses sítios condensam não
é o passado que a arqueologia recupera? apenas expressões artísticas e histórias
À máxima de que "o passado, comunais, mas sobretudo a transmissão de
ORGANIZAÇÃO Tania Andrade Lima inevitavelmente e por direito, pertence a legados, valores e tradições culturais,' o que
todos" I se sobrepõe a possibilidade de li deve ser preservado não pode ser avaliado
múltiplas respostas a essas questões, que senão por eles. Com isso, o campo da
variam no tempo e no espaço. preservação arqueológica - onde decisões
Se até relativamente pouco tempo atrás os quase sempre foram tomadas
arqueólogos, seus autodesignados intérpretes unilateralmente e sem conflitos, por uma
e guardiões; supunham deter essa .elite intelectual e à luz dos seus próprios
prerrogativa, entendendo que esse passado era valores - está se transformando em uma
apenas da sua exclusiva competência, nas arena na qual os questionamentos aos
últimas décadas diferentes segmentos vêm critérios de preservação vêm se
toinando a frente, mundo afora, na defesa multiplicando. Estão em jogo, competindo,
cerrada dos seus interesses. Populações diferentes versões do passado, construídas
indígenas, grupos étnicos, comunidades a partir de interesses e valores étnicos,
o

culturais, políticos, sociais, de gênero, Poderosa para a construção de histórias arqueológico. Historicamente, regimes o estabelecimento de políticas de

e assim por diante. nacionais inclusivas ao re~onhecer a políticos de um amplo espectro ideológiCO preservação arqueológica. Formuladas em

Assum.indo que o passado é urna diversidade, "Illtural no passado, a arqueologia dele têm se apropriado para .6flalldades nível local, regional, nacional e até mesmo
o-
global - neste último caso, concebidas à luz -c
construção do presente e para O presente, estimula a aceitação do multiculturallsmo duvidosas, como a de legitimar.fantasias de
da "unidade simbólica da população da <
posta a seu serviço e feita à luz de valores no presente e denuncia quão circunstancial homàgeneidade e pureza étnicas, cultivadas z
::;
contemporâneos, de modo a atender a e efêmera é, na longa duração, a supremacia sobretudo no Velho Mundo; a de possibilitar a Terra, em termos da sua origem comum", ~ ~
-e interesses atuais;' a sua preservação, não de uns sobre outros. Com sua profundidade construção de histórias contínuas capazes de de que nos fala TilIéy' -, elas devem ser o
~
-e
obstante decidida com os olhos voltados temporal, relativíza a condição dos justificar o presente; ou a de fundamentar a capazes de orientar suas ações para um
o -c
para O futuro, é derivada do presente, dominantes e dos subalternos ao demonstrar reivindicação de territórios em disputa, entre mesmo, único, e coerente plano de

outras." A incorporação de múltiplas vozes ao convergência, fundamentando-se nos ...o


... historicamente situada e atende com certeza como são transitórias as culturas
a agendas políticas contemporâneas, hegemônicas, e como e quanto essas posições processo decisório é uma garantia contra a mesmos princípios, com procedimentos
-c

A preservação arqueológica, portanto, se inverteram e continuam se invertendo preservação de passados excludentes, semelhantes e tendo em vista as mesmas

com urn pé no passado e outro no futuro, sucessivamente, ao longo do tempo. particularmente tentadores para regimes finalidades. Sem o estabelecimento dessas

.
'0

-O
e antes de tudo uma produção do seu A decisão sobre o que deve ser destruido ultranacionalistas e totalitários . políticas dirctívas, as ações - isoladas,

próprio tempo, com um caráter ou preservado, esquecido ou lembrado - e Preservar não é congelar UIU
sem orquestração e dispersas - se perdem

< fortemente ideológica e político. como deve ser lembrado - na construção de determinado momento no tempo, mas abrir e sua eficácia se torna duvídosa. Em
c,

O Nessa circunstância, trata-se de um memórias coletivas não pode ser unilateral, urn campo de possibilidades para que ele contrapartida, onde elas existem e estão
O

seja vivido intensamente, de modo a que integradas, a preservação arqueológica se


~ domínio 9ue hoje é simultaneamente local nem tomada por segmentos dominantes à
e global corno demonstrou Hodder." Ele se revelia dos grupos historicamente à margem, se possa, através das suas matertalízações, torna de fato socialmente relevante.
: No atual quadro de mudança climática
encontra tanto a serviço das forças com os quais lida predominantemente a estabelecer elos profundos com o passado,

globalizantes, quanto de comunidades arqueologia, em particular a não-européia. com as próprias raizes e,. em última e acelerada degradação ambíental, com o

locais que ocupam posições desvantajosas Os diferentes atores envolvidos precisam instância, com a própria origem, para esgotamento de um amplo leque de recursos

no mundo contemporâneo, e que, ao se ser ouvidos e ela deve ser negociada também Com isso evitar o desenraizalnento e o fundamentais para a humanidade e inúmeras

engajarem na defesa do seu patrimônio, vêm no plano local, como insiste Wylíe.! esfacelamento identitário que caracterizam espécies animais e vegetais ameaçadas de 7
ganhando visibilidade, força e resistência. Falamos aqui de uma Ferramenta social e o mundo contemporâneo. Por outro lado, extínção, o patrimônio arqueológico - de

Se construida fora de perspectivas politicamente relevante, na medida em que como frisou Hodder,' onde antes indivíduos natureza. frágil, finita e não-renovável=-

excludentes ou de argumentos meramente essa noção, se bem construída, é capaz de herdavam necessariamente urna cultura e o sorna-se aos outros domínios atingidos por

retórícos, a noção de patrimônio promover o pluralismo, estimular patrimônío por ela construí do, eles agora, essa conjunção de forças. lmpactado por

arqueológico de fato como um bem comum solidariedades, reverter invisibilidades desterrítoríalízados no mundo globalizado, fatores naturais e sobretudo antrópicos, ele

pode estimular a coesão social através do históricas, reavivar esquecimentos coletivos escolhem a cultura a que querem se integrar está desaparecendo rapidamente. O ritmo
fortalecimento de identidades, sejam elas e dar voz aos que foram silenciados pela sua e as formas de se relacionar com o passado. vertiginoso ·dessa destruição torna necessário

étnicas, locais, nacionais ou mesmo circunstância histórica.' De todo modo, tanto em nível local 'luanto produzir estratégias de preservação com a

supranacionais. Conferindo a deslocados De modo geral, cabe ao Estado-nação global, as pessoas não querem mais urn mesma velocidade, cabendo no caso destacar

o sentido de lugar e de pertencimento; regular O campo da preservação e definir passado morto, distante, mas sim conectado que a sobrevivência de bens arqueológicos

inspirando orgulho étnico e cidadania; .suas metas. E, nesse ponto, se a noção de a Sua realidade cotidiana, e dessa forma só é possível se o meio ambiente onde ele se

restaurando auto-estima, respeito e patrimônio não for de fato inclusiva e se urna trazido de volta à vida. encontra for igualmente preservado.

dignidade onde eles foram perdidos, multivocalidade não for claramente audível Para que o Estado-nação não perca essas A devastação ambiental tem como

ela se transforma, sem dúvida, em um no processo decisório, abre-se espaço para referências e as utilize sempre como um conseqüência direta um impacto violento

instrumento de emancipação. toda sorte de manipulações do registro fio condutor em suas ações, é necessário sobre esse patrimônio, de tal forma que
políticas preservacionistas ambientais arqucológíco; Só que para construí-lo muito positivas. O valor social desse mapeadas em algumas áreas. Mesmo assim,
e culturais são indissociadas e devem
democraticamente os arqueólogos devem patrimônio começa a falar mais alto, os aquilo que hoje é visível e reconhecível parece
~ caminhar paralelamente.
~
-~ I -< Sem um suporte
sustentação, nenhuma
legal que lhe dê
política de preservação
olhar para o passado,
Knapp,
e ouvindo
11 a partir
a multívocalidadc
como assinalou
de múltiplas perspectivas
anteriormente
- indivíduos passam
e cria-se a condição
para a sua proteção
a se identificar
ernpática
e defesa. Já
com ele,
necessária
na ausência
ser apenas a ponta do iceberg.
Se, no caso dos saques a sítios
arqueológicos) Opera111 em muitos casos
<
se
c

<
arqueológica se mantém. Contudo, z

~ mencionada. Não se trata apenas de produzir de propostas educativas que produzam verdadeiras quadrilhas, em outros e crucial
lembrando quc são os fatos sociais que geram
-~~ "
;; as leis, é fundamental que as normas legaislO
diferentes modos de compreender o esses vinculas) seu valor é amesquinhado, entender o contexto econômico e social das
passado, mas de desenvolver passados reduzido tão-somente ao estético elou diferentes formas de pilhagem.
que regem esse domínio acompanhem a
alternativos a urna interpretação única econômico, dando lugar a atividades Acompanhando Zímmer," esse termo. é
.... dinâmica da sociedade para a qual foram
e supostamente verdadeira. Esse marginais, COIno pilhagens a sítios, entendido aqui como a remoção de materiais
concebidas. Se elas ficam defasadas e em
~
~ conhecímento precisa ser disseminado escavações clandestinas, comercialização arqueológicos de seus contextos sem a
descompasso com as praticas sociais,
por todos os segmentos da sociedade, porém de peças no mercado negro, acumulação documentação científica adequada,
o Estado-nação se torna refém de sua própria
em particular nas comunidades envolvidas de coleções particulares, entre .outras, quer seja ela feita legalmente ou de forma
obsolescêncía, impotente para combater as
diretamente com patrímôníos arqueológicos. Segundo Leaman;" o tráfico de bens clandestina. Isso envolve indistintamente
múltiplas formas de impacto 'Iue se abatem
A responsabilidade pela preservação de
sobre seu patrimônio. Isso torna necessárias
culturais - aí incluídos os arqueológicos - membros das comunidades locais, ~
bens arqueológicos não é uma ah-ibuição é a terceira maior atividade ilegal depois saqueadores, agricultores que reviram sítios o.
uma atenção e vigilância contínuas, por parte
apenas do Estado e suas instituições ou dos das drogas e do contrabando de armas, o intencionalmente quando passam arados,
dos setores interessados, sobre a base jurídica profissionais da área. Esta é uma que mostra bem a djmensãD~o problema. amadores que têm a arqueologia como
que sustenta a preservação arqueológica, de
responsahilidade a ser compartilhada por Essas práticas, na verdade, além de ilegais bobb)', e até arqueólogos profissionais com
modo a que eles se movam politicamente,
toda a sociedade, tendo em vista que se trata são moralmente perversas, porquanto formação deficiente ou eticamente duvidosa,
sempre que necessário, para a sua atualização.
de um bem comum. Dessa forma, todos têm destinam a apenas alguns O que por direito pelo fato de que em qualquer dessas
Nesse domínio! contudo, o viés educativo
o dever social de zelar por ele, de protegê-lo é de todos. Elas resultam de uma complexa situações ocorrem danos irreversiveis
precisa prevalecer necessariamente sobre
em condições adversas, de lutar pela sua combinação de fatores, que envolvem desde ao registro arqueológico.
o punitivo. A tarefa da fiscalüação, no seu
conservação. Se, de acordo com TiIley, 12 a ambições desmedidas a caprichos e Uma forma bastante polêmica
perpétuo embate com a transgressão, tem 9
arqueologia é uma relação entre o passado e compulsões pessoais, e só prosperam porque de pilhagem é a chamada "escavação de
ficado quase sempre em franca
o presente mediada por indivíduos, grupos e existe demanda. Esta se torna, portanto, subsistência", feita com a finalidade precípua
desvantagem, sobretudo em territór-ios de
instituições, a tarefa da sua preservação cabe o cerne da questão_ Uma mesma rede de recuperar artefatos para venda, de modo
dünensões continentais como o Brasil, onde
indistintamente a todos esses mediadores. subterrânea interliga colecionadores, turistas, a garantir o sustento de comunidades locais.
a vigilância é inexeqüivel. A preservação Contudo, isso só pode ocorrer se o saqucadores, negociantes clandestinos, entre Hollowell" discute suas múltiplas facetas,
depende vísceraimente, portanto, de um
conhecimento constr-uido pela arqueologia outros, chegando mesmo, em alguns casos, a apontando o papel econômico e social dessa
profundo trabalho de conscientização, de
tiver sido por sua vez prevíamente alimentar o comércio legalmente estabelecido prática que assegura a sobrevivência de
estratégias persuasivas e convincentes que
compartilhado, na medida em que as pessoas em nivel nacional e internacional. Não são muitos grupos desfavorecidos mundo afora.
apresentenl alternativas mais atraentes e
não podem ser cooptadas e estimuladas a raras as denúncias de pCÇ'''s arqueológicas em Como considerar, do ponto de vista moral
proveitosas gue a violação às normas. Um
cuidar daquilo que elas sequer conhecem, leilões, antíquáríos, galerias, lojas de soul'eniTs, e ético, o que deve ser prioritário:
trabalho que seja capaz de mostrar que
A arqueologia é uma atividade feiras de antiguidades, ou circulando com a sobrevivência de artefatos ou de seres
preservar pode ser mais vantajoso em vários
profundamente sedutora e o patrimônio desenvoltura pelo mercado internacional de humanos? É aceitável que pessoas, em
aspectos, inclusive o financeiro.
arqueológico exerce grande fascínio sobre arte. Uma das fo1'11185 de se avaliar a extensão condições de pobreza extrema e sem
Isso depende, em primeiro lugar,
o público. Essa atração, quando bem dessas atividades é através do volume de peças alternativas para a sobrevivência, lancem
da democratização do conbecimento
canalizada pela educação, gera respostas que compõem coleções particulares, já bem mão desse recurso?
o

Esse movimento vem se expandindo,


~ Alguns dos casos apresentados pela autora negociantes e colecionadores - é que A tendência é a de apertar cada vez mais
e outros periódicos estão progressivamente
c permitem entrever a complexidade dessa devem ser considerados os grandes vilões. o cerco em torno dos bens arqueológicos
adotando conduta semelhante.
questão. Nativos da Ilha St. Lawrence, no oeste São eles que cultivam o gosto por peças pilhados, tirar o fôlego desse mercado
-e
~
negro que alimenta a destruição de sítios Esse fechamento está ocorrendo
do Alasca, ao sul do Estreito de Bering, arqueológicas, impregnam-nas de fetiche,
<
também no domínio dos museus, que, z
;; escavam o solo há muitas gerações em busca atribuem a elas valor comercial e as e, tanto quanto possível, asfixiá-Ia.
::; de antigos artefatos, ossos de baleia e presas reduzem à condição de mercadoria, Medidas mais recentes vêm sendo tomadas
se historicamente construíram seus acervos, ~
-e
para estigmatizar e marginalizar que
desde o século XIX, com butins de guerras ::
o
de marfim, para conseguir dinheiro com sua 05
alimentando o tráfico de bens imemoriais.
e pilhagens de toda sorte, hoje se empenham
-:
venda. Lá, trata-se de uma atividade Peças arqueológicas, uma vez perdidas têm em seu poder ou trabalham de alguma
em receber tão-somente objetos cuja
perfeitamente lícita, que estreita os vínculos as informações sobre sua origem - ou seja, forma com peças sem proveniência o
proveniência e idoneidade possam ser
c
v ...
•... com o passado. Os artefatos são considerados conhecida, e a última década foi um marco
.
o
uma dádiva deixada pelos ancestrais e, quando
as referências
cronológicas,
estratigráficas,
bem como
espaciais
as associações
e
para a tomada de decisões nessa direção. rigorosamente comprovadas. Peças sem
história estão sendo recusadas até mesmo
estes permitem que eles sejam encontrados, com outros objetos e estruturas no solo Em 1990, a internacionalmente
conceituada revista Science publicou um para empréstimos temporários, na medida
é para que sejam utilizados no mundo atual. escavado - deixam de ter qualquer valor
em que sua exibição estaria conferindo
Há relatos de vozes que os orientam, dizendo para a arqueologia. Torna-se impossível artigo de B. Alexander em seu volume
a elas legitimidade e prestígio, contribtrindo
onde devem escavar para achá-Ias; mas que recuperar o contexto da sua produção, 250, questionando uma publicação feita
por Christopher Donnan na National para aumentar seu valor no mcrcadn."
também dizem onde não podem tocar, no caso utilização e deposição, justo o que permite
Expande-se ainda o movimento no
de peças que não desejam ser encontradas. entender O funcionamento de sistemas Geo8raphic A1aBazine, com peças da cultura
Moche (Peru) resultantes de saques. Esse sentido de integrar aos códigos
Em Belize, antes de adentrarern antigos socioculturaís extintos. Só escavações
profissionais de ética a recomendação de
sítios, grup0s nativos conduzem cerimônias cientificamente controladas permitem trahalho desencadeou um caloroso debate
recusar pedidos de laudos para identificação
e designam os artefatos que encontram resgatar esses dados, fundamentais para sobre os aspectos éticos da incorporação
de bens pilhados em estudos científicos, ou autenticação de peças em mãos de
como "sementes" deixadas pelos seus 'lue se extraia deles algum sentido. Perda
que culminou com a adoção, pela Society particulares, e até mesmo a confecção
antepassados para melhorar sua renda. de contexto, como dizem Brodie & Gill,"
for American Archaeology em 1991, de de legendas para exposições que possam
Ou seja, em ambos os casos, trata-se de um é perda de conhecimento científico.
uma política que desde 1978 já vinha conter objetos presumivelmente pilhados. 11
patrimônio da comunidade, que se arroga No caso, írrecuperável.
10
o direito de explorá-lo como bem Cresce o repúdio internacional a essas . sendo segtrida pelo American Journal '!! Multiplicam-se os alertas para que não

-. Archaeolow: a de proibir em suas sejam estabelecidos valores para artefatos


entender. t6 Em tais circunstâncias, práticas que provocam danos írreversíveís
publicações no caso, os periódicos ou coleções arqueológicas,'" um ponto sem
pílhadores seriam os arqueólogos, que ao patrimônio arqueológico. Muitos países, -r-

Amcrican Antiquity e Latin American dúvida controvertido, porquanto os museus


estariam levando dali o 'lue lhes pertence - em todo o mundo, estão aumentando as
têm necessariamente de fíxá-los para fins
a herança de seus antepassados - e restrições e expandindo os instrumentos Antiqui0', dos mais importantes em todo o
. mundo - artigos feitos a partir de peças de seguro, o que implica inevitavelmente
impedindo-os de sustentar SUaS famílias. legais contra a escalada da destruição
cuja proveniência não possa se r o tipo de valoração que se deseja evitar,
Desta forma, o que é eticamente c,orreto promovida por atividades marginais.
em uma determinada situação pode ser rigorosamente comprovada. Para serem ainda que simbólica.
Multiplicam-se os códigos de ética
aceitos, esses trabalhos devem apresentar Como uma das mais efIcientes
moralmente problemático em outra, o que profissionais condenando-as, bem como
mostra quão multifacetada é a questão. detalhadamente as condições em que o estratégias para coibir a pilhagem,
ações educativas e programas de
material em discussão foi recuperado." Zimmer" propõe trabalhos de educação
De toda forma, saqueadores recebem preservação capazes de responder também
Ou seja, não são admitidos bens par ticipativa , capazes de transformar
em geral muito pouco pelo produto das às necessidades econômicas e soeiais das
resultantes de sa'lues, exportados saqueadores - em geral pessoas que detêm
SUas pilhagens (ib.). Os que intennedeiam comunidades envolvidas, no entendimento
·iJegalmente de seus países de origem, um grande conhecimento sobre os sítios da
as vendas nessa cadeia de demanda / de que a conscientização é muito mais
u 'lue integrem coleções particulares. região em que atuam e os artefatos neles
suprimento c 05 que estão na ponta - eficaz 'lue medidas polieialescas.
o
o
passado ficará írremediavehnente ~
encontrados - em aliados da pesquisa vida locais sãodestruídos e as comunidades avanços e retrocessos, nossas conquistas e
fracassos e, em última instância, como nos comprometida e a humanidade correrá o u
arqueológica, integrando-os às equipes de invadidas ppr valores sem qualquer
risco de perder muitas de suas referências
forma positiva. Relata experiências bem- conexão com sua realidade. Seus interesses, tornamos o que somos hoje. Nossa longa e,

~ .,"- sucedidas nessa direção, como a de Colin reivindicações e prioridades passam para história é passível de ser contada através do no espaço e no tempo. '"
o
v
~
z
< McEwan, em Água Blanca, Equador, que um plano secundário, fazendo com que os muito ou pouco que sobreviveu dessa
%

o conseguiu atraí-Ios para a construção e a turistas - e não a população local- sejam cultura material, e essa história será tanto ~ ~
A ORGANIZAÇÃO
~ ~
V

~ administração de um museu cornunitárlo, os maiores beneficiados, de tal forma que melhor quanto menos lacunas tiver.
DO VOLUME
- -:
~ inspirando-os com novas formas de os efeitos negativos acabam prevalecendo Longe de ser monolítica, ela tem muitas
.
-e

;:
encontrar
estratégia
valor
inclusiva
no passado." Uma
não só capaz de deter
sobre os positivos.
O problema se agrava quando o
faces e pode ser contada
maneiras, dependendo
de diferentes
de quem a conta.
Concebido à luz dessas premissas, ~
.
.
o
>-

Diferentes grupos de interesse, cada qual


O presente volume foi dedicado ao grande ~
a sangria promovida pelas pilhagens, mas patrimônio é reduzido tão-somente a uma
~
.. imbuído do seu sistema particular de
desafio da preservação arqueológica no
também socialmente conseqüente. fonte de arrecadação, a um biO business na
Brasil. Como passo inicial, identificamos
Na mesma linha deve ser entendido o indústria do entretenimento, na expressão valores e a partir da posição que ocupa
alguns domínios que consideramos o
turismo arqueológico, na verdade uma faca de Renfrew & Bahn." Postos muitas vezes na estrutura de poder, tem seu próprio a
o particularmente vulneráveis na conjuntura
•. de dois gumes: tanto pode ser um vigoroso a serviço de celebrações duvidosas, de entendimento do que deve ser reservado
atual. Entre eles, a insuficiência de políticas
~
c, instrumento de preservação de sítios, ao saudosismos nostálgicos, de reconstituições para a posteridade. Os conflitos de
públicas e de dispositivos legais de proteção
inserir de modo positivo a comunidade em estereotipadas e fantasiosas, bens interesse que emergem do confronto
do patrimônio arqueológico, tanto em nível
projetos de desenvolvimento participativo, arqueológicos são transformados em dessas diferentes visões tornam essa arena
municipal e estadual, quanto federal; as
como pode aníquílá-los de vez. De um pastiches, em caricaturas do passado, um lócus privilegiado de ação política.
dificuldades para a sua preservação em áreas
lado, quando bem-planejado e apenas para diversão e lazer, degradados Nela, segmentos subalternos podem
teoricamente de baixo risco, como parques
.administrado, promove a compreensão pela dístorção dos seus significados. transformar contextos sociais
nacionais; de alto risco, C01110 as grutas e
mútua e o respeito entre os pOVOSjpermite Com a explosão - além do turismo desfavoráveis, negociar melhores posições
abrigos recobertos de pinturas e gravuras;
apreciar e valorizar a diversidade cultural; cultural - do eco turismo e do turismo de em movimentos reivindícatórios, entre
na imensidão da Amazônia; nas profundezas
outras tantas possibilidades." Como um 13
possibilita que um maior número de aventura alcançando lugares remotos e
12 do ambiente subaquático; na circunstância
pessoas desfrute dos bens arqueológicos, de difícil acesso, em geral repletos de empreendimento sociopolítíco, portanto,
do licenciamento ambtental; no conturbado
sobretudo quando o acesso é assegurado sítios, a pressão sobre eles vem a preservação arqueológica pode tornar
meio urbano e nas obras de restauro j entre
indistintamente a todos; revitaliza aumentando. Configurando-se como essa história inquestionavelmente mais
os excluídos, com baixa visibilidade
econômica, social e culturalmente um risco concreto e imediato, o tur-ismo interessante e mais rica.
material; e, não menos in1portante,
comunidades à margem, ao mesmo tempo arqueológico requer balizarnentos em Com base nesses princípios,
nas instituições de guarda de bens
em que assegura a sustentabilidade e a curto prazo, de modo a que seus benefícios a preservação das evidências materiais
arqueológicos e nos arquivos documentais.
manutenção do patrimônio arqueológico. superem os malefícios. das diferentes culturas que surgiram,
Além das reflexões sobre esses domínios
Por outro "lado, a falta de planejamento Vivemos basicamente em um mundo em se mantiveram, se transformaram ou se
problemáticos, dois relevantes instrumentos
e o manejo inadequado têm efeitos grande parte constituído de.objetos, nossa extinguiram em nosso planeta ao longo
para a preservação arqueológica - a inclusão
devastadores: a visitação descontrolada, condição humana está atrelada a eles e com do tempo constitui o melhor legado que
social e o turismo, conforme exposto acima
o despreparo dos agentes, a ausência de eles interagimos todo o tempo ao longo de podemos deixar para os nossos sucessores.
_ foram trazidos à discussão. Pela sua
programas educativos, a insuficiência de nossa existência. As evidências materiais Se não forem empreendidos esforços
transversalidade, o mais importante desses
informações para o público, entre outros da trajetória da humanidade, desde o maciços nessa direção, restarão tão- somente
instrumentos - a educação do público -
fatores, produzem danos irremediáveis aos surginlento de nossa espécie até o momento registros fragmentarios sobre os quais muito
perpassa todo o volume.
sítios. Mais ainda, tradições e modos de atual, nos permitem compreender nossos pouco poderá ser dito. A construção do
o
Para a apresentação e discussão desses de premissas para uma futura elaboração regulamentam o patrimônio arqueológico antrópicas diretas e indiretas, vêm
diferentes campos foram convidados dessas políticas, apontam a necessidade de se no Brasil, ela faz uma arqueologia da acelerando vertiginosamente a degradação
pesquisadores que vêm se distinguindo por equacionar previamente questões ainda não referida lei. Historiando seus antecedentes e desses registros, que condições ambientais
~ o

:;:
"""" ações em defesa da sua preservação. A eles suficientemente resolvidas, que estão a o contexto à época da sua criação, ela avalia balanceadas conservaram ao longo de <
foi solicitado que expusessem não apenas a requerer maior esclarecimento, melhor a necessidade, hoje, de possíveis dispositivos milênios. O monitoramento fotográfico de ~
z
natureza dos riscos aí existentes e as definição ou mais discernimento. alguns desses painéis vem demonstrando
.:;
complementares para a sua adequação.
-e
dificuldades enfrentadas para contorná-Ios,
.;:
O patrimônio arqueológico no Brasil Níede Guidon, da Fundação Museu do .que poucos anos estão sendo suficientes para
- ~ mas que sobretudo apontassem saídas para
:
-::
"
-e é protegido fundamentalmente pela Lei Homem Americano, apresenta o Parque desfigurá-Ios, alertando para a necessidade
~ minímizá-los. Além desses pesquisadores, Federal n" 3.924, aprovada em 1961, Nacional Serra da Capivara, elevado em urgente de medidas de proteção para aqueles'
•.. foram considerados colaboradores natos do existindo ainda outros dispositivos que 1991 à condição de patrimônio mundial, que podem ser considerados um dos raros •...
volume os arqueólogos que integram o contribuem, em maior ou menor grau, e o bem-sucedido modelo holístico de vestígios deixados intencionalmente pelas
corpo técnico do Iphan, convidados a para sua preservação. Ela surgiu, há quase preservação lá implantado. Esse modelo, cultu~s que ocuparam o território brasileiro
discorrer sobre temas de sua especialidade meio século, em resposta aos danos contudo, capaz de assegurar não só a antes da conquista européia. Maria
ou pelos quais vêm se interessando nos provocados sobretudo por atividades proteção do seu espetacular acervo Conceição Soares Meneses Lage, do
z
o
últimos tempos. Departamento de Química da Universidade
extrativas em grutas de Minas Gerais e em arqueológico mas também do meio
Abre o volume lima reflexão critica da sambaquis litorâneos. Nas décadas que se ambiente onde ele se encontra inserido, Federal do Piauí, vem desenvolvendo no
arqueóloga norte-americana Anne Pyburn, seguiram, contudo, as transformações vem sendo ameaçado pela implantação de Parque Nacional Serra da Capívara e também
do Departamento de Antropologia da operadas na sociedade brasileira alteraram assentamentos agrários no seu entorno, no Parque Nacional de Sete Cidades, ambos
Universidade de indiana (EUA), sobre os consideravelmente esse cenário. Não' apenas onde existem mais de 400 sítíos registrados. no mesmo Estado, um trabalho exemplar de
critérios utilizados pela Unesco para a a legislação ambiental mudou drasticamente Trata-se de uma ameaça concreta não conservação preventiva e também de
escolha de sítios arqueológicos como a face da arqueologia no Brasil- sobretudo a apenas a esses sítios, mas à fauna, à flora e consolidação desses painéis. Em seu artigo
patrimônios mundiais. Supostamente partir da década de 1990, deslocando-a da ao patrimônio arqueológico no interior do ela apresenta as soluções que vêm sendo
universais e objetivos, esses critérios, na academia para o meio empresarial-·como Parque, em virtude do avanço das dadas para deter ou retardar, tanto quanto
verdade, estão submetidos a forças políticas também a disciplina, antes direcionada queimadas e da caça predatória. A autora possível, esses processos. 15
c econômicas. A autora sugere com vigor notadamente para a pré-hísrória, voltou-se aponta, preditívamente, os danos inevitáveis N a Amazônia, densamente ocupada
que eles sejam discutidos abertamente entre com ímpeto renovado para a investigação do que ocorrerão se essa ameaça não for em tempos pré-históricos, alguns grupos
todos os interessados I e gue as decisões _ período histórico. Novas e até então prontamente detida pelo Estado. alcançaram níveis mais elevados de
emanando em geral de uma cúpula - sejam imprevistas tensões foram lntroduzídas, Grafismos pré-hístóricos, quer sob a complexidade social que os observados
tomadas de forma mais democrática. deixando os dispositivos legais forma de pinturas, quer de gravações, feitos entre suas populações indigenas atuais.
Em vista da inexístência, no Brasil, de descompassados com essa nova realidade. diretamente em paredões ro~hosos, grutas, A cultura material desses grupos atesta
políticas de preservação arqueológica que Para discutir a atualidade da legislação abrigos, blocos isolados e lajedos, estão essa complexidade, caracterizando-se por
forneçam dir-etr-izes e norteiem as ações um grau 'de elaboração técnica e por um
foi convidada Regina Coeli Pinheiro da Silva, presentes em todo o território nacional.
nessa direção, tanto em nível municipal e atual subgerente de Arqueologia do Particularmente abundantes no Norte, refinamento estético invulgares. Isso a torna
estadual quanto federal, U1piano Toledo Departamento de Proteção Material e Nordeste, Centro-Oeste e Centro-Leste do objeto do desejo de colecionadores, tanto
Bezerra de Meneses, professor do Fiscalização, Depam/lphan e ex- País, estão também presentes, em menor no plano nacional quanto internacional.
Departamento de História da Universidade coordenadora da extinta Coordenadoria de escala, na região Sul. Impactos de diferentes Por conseguinte, os sítios arqueológicos da
de São Paulo e membro do Conselho Arqueologia dá' instituição. Bacharel tanto naturezas, que variam desde desplacamentos região vêm sendo, desde longa data, alvo de
Consultivo do Iphan, foi convidado a dar sua em Direito quanto em Arqueologia, e do SUporte rochoso, passando pela atividade saques sistemáticos que alimentam intenso
contribuição ao tema. Suas reflexões, à guisa profunda conhecedora das normas que de insetos e outros animais, ate agressões comércio clandestino, colocando em mãos de
r'; (1
o
particulares, no Pais e no exterior, O que destruição, quando ímpactam áreas preservação arqueológica nas cidades. obras de restauro promovidas pela ~
I pertence legalmente ao povo brasileiro. arqueologicamente férteis. Opções Entendendo-a como indissociada da gestão instituição e e'q)ressa seu ponto de vista
1
Soma-se a esse aspecto a devastação metodol6gicas na etapa de levantamento e pública e do planejamento urbanístico, pessoal sobre essa questão. .~ ~
z
o
· <
o-
da Amazônia e o avanço das frentes de no resgate dos sítios atingidos determinam as apresentanl instrumentos preventivos A baixa visibilidade dos grupos o

<
-c

': colonização, resultando em um ritmo possibilidades de sobrevivência de alguns em capazes de viabilizar crescimentos historicamente excluídos, aqueles "sem

assustador de destruição dos vestígios de detrimento de outros. Atributos como sustentáveis, amenizando os hnpactos sobre . importância", que ninguém nota, sobre os
-e
-e os testemunhos da trajetória desses núcleos quais pouco se escreveu e que não puderam
, culturas que muito têm a nos ensinar, hoje, raridade, vulnerabílídade, grau de integridade, ..•,
escrever sobre si-mesmos, corno os negros
~ sobre manejo e desenvolvimento sustentável representatividade, potencial de pesquisa, e de seus habitantes. < '"
na floresta tropical. Denise Pahl Schaan, do aliados a critérios de significância (histórica, Parte importante desse processo são os escravizados, não foi apenas social e ela se
e

...
o Departamento de Antropologia da étnica, religjosa, estética, econômica, etc. )2S prédios tombados e, por conseguinte, os estende também aOS registros arqueológícos. :; ~
Universidade Federal do Pará, expõe esses embasam decisões de natureza quase sempre restauras fre'lüentemente promovidos não Seus pertences, além de exiguos, foram
~
~ só por órgãos patrimoniais municipais, objetos em grande parte reaproveitados ou
problemas,euriquecendo seu texto com subjetiva sobre o que deve ou não ser
relatos de sua experiência pessoal na área, preservado. Solange Bezerra Caldarelli, estaduais e Federais, mas também por reciclados dos segmentos opressores, de tal

·
~
Q
e propondo
que podem
um elenco
atenuá-los.
de sugestões da Scientia Consultoria
sua opção pela preservação,
Científica,
defendendo
apresenta
a não
empresas pri vadas e por particulares.
Em vista da contribuição que a arqueologia
forma
fundirem
que eles correm o grande
visualmente à cultura material
risco de se Q

>

·
c,

o
Um outro
historicamente
domínio também
alvo de saques sistemáticos é
intervenção - ou pelo menos uma intervenção
mínima, reduzida ao estritamente necessário -
pode dar.
crescentemente
esses trabalhos,
incorporada
ela vem sendo
às obras,
dominante
obstante
e não serem reconhecidos,
em muitos casos terem sido
não

contlgurando o que comumente se designa reapropriados para novas funções e


~ o subaquático, por despertar a cobiça de sempre que as circunstâncias permitirem,
-
:
toda sorte .de aventureiros. Abordado pelos como alternativa ao salvamento, a solução como "arqueologia de restauração", revestidos de novos significados. Tendo em

meios de comunicação sempre sob a ótica da em geral mais adotada. O fato de a arqueologia participar apenas vista que a arqueologia é uma das poucas vias

caça ao tesouro, excita a fantasia e a No subsolo das áreas urbanizadas subsidiando a arquitetura e subordinada aos de acesso ao patrimônio material desse

imaginação do público nessa direção. encontram-se abundantes vestígios seus interesses não raro tem gerado focos grupo étnico, essa dupla invisibilidade

Por conseguinte, estimula sua destruição, arqueológicos, tanto históricos quanto de tensão. Eles decorrem basicamente do representa uma aTI1eaça concreta a sua

criando um cenário altamente desfavorável pré-hístórícos, selados por camadas de fato de que enquanto à arqueologia preservação, Luís Cláudio Pereira Symanskí 17
16
à preservação desse patrirnônio. concreto e asfalto, por construções que interessa o processo díacrônico de e Marcos André Torres de Souza,

Em decorrência da Lei Federal na 10.166, foram sobrepostas a ocupações anteriores, ocupação de um prédio, a arquitetura respectivamente pesquisador associado

aprovada em 2000, que liberou a exploração o~ mesmo por áreas ainda livres, com privilegia em geral um determinado e professor do Instituto Goiano de Pré-

comercial de naufrágios, tratando ou sem tratamento paisagístico. momento da sua história em detrimento História e Antropologia da Universidade

indiferenciadamente os recentes e os O rernodelamento contínuo, determinado dos demais. Vestígios de outros momentos Católica de Coíás, ambos dedicados à

multisseculares, o quadro da pilhagem aos pelo dinamismo dos ambientes urbanos, são muitas vezes apagados, revertendo em arqueologia da escravidão no Brasil central,

bens submersos vem se agravando, Gilson impacta com diferentes graus de intensidade perdas para o patrimônio arqueológico. discutem o problema, entendendo que, na

Rambellí, pós-doutorando e pesquisador esse patrimônio, Pelo viés da memória e da Os critérios que regem essas escolhas questão da preservação, mais produtivo que

convidado da Universidade de Campinas, um identidade, em face da perda contínua de remetem aos questionamentos feitos acima apenas mostrar o passado dos negros

dos poucos arqueólogos subaquátícos no País referencíais causada por essas sobre quem deve dizer, o"que deve e o que escravizados é estimular as pessoas a refletir

e ardoroso defensor dessa causa no cenário transformações, Femanda Tocchetto e não deve ser preservado. Rosana Najjar, sobre ele.

riacional e internacional, aborda o problema Beatriz Thiesen - respectivamente do Museu arqueóloga da 6' Superintendência Contudo, o regislTo arqueológico não

e propõe alternativas. Regional do Iphan no Rio de Janeiro, compreende apenas sítios, 111as também a
Jose Joaquim Felízardo da Prefeitura de
Projetos descnvolvimentistas são Porto Alegre e da Universidade Federal rn acumulando experiência nesse campo cultura material neles existente e toda a

reconhecidamente poderosos agentes de vés da Sua participação em algumas das documentação produzida pela sua pesquisa,
de Rio Grande - abordam a questão da
construção de seu passado, uma forma de c-
vale dizer, diá~ios de campo, plantas, fotos, Museu Nacional e os resultados alcançados dissociados da sua respectiva documentação,
filmes, relatórios, etc. De nada adianta
os sítios, se aquilo que deles é retirado
salvar
se
até agora,
realizados
expondo os procedimentos
e as medidas adotadas, passíveis
ínviabiliza a produção
sobre os sistemas
de conhecimento
socioculturais que o
inclusão
em defensores
que potencialmente
incondicionais
os transforma
dos vestígios ~ ~ .
<"- perde por falta de conservação adequada nas "de serem estendidos a situações semelhantes produziram. arqueológicos de seus antecessores. Rossano <

prateleiras das reservas técnicas de museus, Pais afora. Catarina Eleonora Ferreira da Silva, Lopes Bastos, arqueólogo da lI'
Superintendência Regional do Iphan em ::;
universidades, centros de pesquisa, e assim Essa ética de conservação, compromissada arqueóloga, e Francisco Helena Barbosa
."
por diante. Os acervos, em muitos casos em proporcionar longevidade máxima aos Lima, historiadora, respectivamente técnica Santa Catarina e ex-coordenador da :
acumulados em instituições sem condições registros arqueol6gicos, envolve não apenas ... e gerente de Documentação da Coordenadoria de Arqueologia do extinto -:
adequadas para recebê-los e sem corpo as evidências fisicas de sistemas Coordenação-Geral de Pesqlrisa, Departamento de Proteção Legal da

técnico especializado em conservação socioculturais extintos, mas também toda Docwnentação e Referência - instituição, vem nos últimos anos se I-

Ccpedoo/Iphan, o problema, interessando pelo tema na esfera


preventiva, acabam se degradando sem documentação associada a elas, desde discutem ~
~
que deles se tenha extraído qualquer tipo aquelas produzidas no momento do achado centrando-o nos acervos arquivisticos da patrimonial. Voltando-se especificamente

de informação e muito menos de até as resultantes do seu estudo, em instituição. A primeira, a partir da longa para afro-descendentes, ele apresenta sua

conhecimento. Por sua vez, quase sempre qualquer tipo de suporte: papel, filme, experiência acumulada desde que esteve à visão particular sobre essa questão. ~
sem a formação adequada para lidar com fita ou meio digital. Em vista do caráter frente da Coordenadoria de Identificação do Encerra o volume a extroversão, para O
-c
reservas técnicas, os profissionais da área de destrutivo da pesquisa arqueológica, tudo extinto Departamento de Identificação e público, do patrimônio arqueol6gico e do e,

arqueologia - na ausência desses quadros - que resta dos sítios escavados é a cultura Documentação - DID/Iphan até o conhecimento cientificamente produzido a

armazenam de forma inadequada materiais material recolhida as instituições de pesquisa momento. E a última, a partir da longa e partir dele, compartilhado com a sociedade

sensíveis, contribuindo involuntariamente e a documentação produzida no seu respeitada trajetória - interna e externa - através do turismo. Maria Lúcia Franco Pardi,

para acelerar sua degradação. Trata-se de transcurso, O que exige que se dispense que a torna um nome de referência no arqueóloga da Gerência de Arqueologia do

problema particularmente grave, na medida a arribas o mesmo cuidado dispensado aos campo da documentação. Departamento de Patrimônio Material e

em que aqueles que deveriam estar sítios. É um principio cardeal o fato de que Foram apresentados e discutidos acima os Fiscalização do Iphan, que também nos

preservando são os que inadvertidamente bens arqueológicos e toda a informação a efeitos erosivos da exclusão social- entre os últimos anos vem se interessando pelo turismo

acabam acelerando a destruição de bens eles relacionada não podem ser dissociados, . quais se inclui a perda da auto-estima e da arqueológico sob a ótica patrímonial, defende,
18
arqueológicos. existindo um elo crucial entre as evidências identidade cultural- que atinge sobretudo não obstante todos os riscos que assinala, sua

Angela Maria Camardella Rabello e e os dados sobre sua procedência, meios de inorias étnicas que ocupam posições implantação como uma atividade formal

Tania Andrade Uma, do Departamento de obtenção, critérios utilizados para seu arginais na sociedade, justamente aquelas responsável, educativa e sustentável.

Antropologia do Museu N acionall registro, classificação e conservação, jo patrímônío cultural a investigação Tomados em seu conjunto, os artigos que

Universidade Federal do Rio de Janeiro, o tratamento analítico que lhes foi ,arqueológica em geral resgata nas Américas. .cornpõem este volume promovem um

apresentam o caso emblemático do acervo dispensado e sua interpretação final, .Desprovído de seus defensores 'naturais, esse balanço dos problemas que envolvem a

arqueológico da instituição. Em virtude de compondo uma cadeia de informações que patrimônio torna-se presa fácil de toda sorte preservação do patrimônio arqueológico no

não contar com conservadores até muito Ihes confere sentido, A dificuldade de .-de impactos que aceleram sua destruição. Brasil. A~ mesmo tempo, eles procuram

recentemente, e dispondo de pouquíssimos gerenciamento e manutenção desses acervos Contudo, como procuramos demonstrar, a abrir perspectivas para atenuá-los e, se

museólogos no seu quadro funcional, uma documentais no Brasil vem resultando arqueologia pode se tornar um poderoso possível, saná-Ios. Através deles, o volume

deficiência agravada pela crônica falta de na perda dessas informações e, por instrumento de inclusão social ao promover não escamoteia sua ambição maior, a de

apoio a atividades curatoriais, esse acervo conseguinte,. em sérios danos ao patrimônio 'pesquisas integradoras que assegw'em a fornecer subsídios para a construção de

chegou aníveis preocupantes de degradação. arqueológico nacional. Ao reduzi-Ia a ticipação democrática e solidária dessas políticas públicas de preservação do

As autoras apresentam o esforço de materiais descontextualizados em museus cr-ias na recuperação do seu próprio patrimônio arqueológico, nos seus diferentes

recuperação do Setor de Arqueologia do e instituições de pesquisa porquanto trímônío cultural. E, por conseguinte, na níveis, municipal, estadual e federal.
LYNOTT, Mark. "The developmenr of ethics in
Se não houver de fato um 7 Ver Philíp L. Kohl & Clare Pawcett (ccls.). Cambridgc, Cambridge Llniversity Press, 1989.
arehaeology". ln ZIMMERMAN, Larry j.;VlTELLI, "
Natíonalism, políucs and t'he pracdcc of archacolo8Y' 25 VerTirnothy Darvill. "Public archacol.ogy: a
comprometimento coletivo no sentido Karen D. & ZIMMER; Julio Hollowell- {cds.). Ecl<ical
Cambridge: Cambrtdge Llníversity Press, 1995. Europc.n perspective". ln john BintlifT (ed.).
issues ln archacoJollJ' Walnut Crcck- AltaMira Press, c,
de preservar as raizes mais fundas da 8 lan Hodder. Op. cit., p. 179.
< 2003, p. 17-27. <
~ diversidade cultural da nação brasileira - 9 ChristophcrTilley. Op. cit., p. 111.
10 No caso do Brasil, leis, decretos-lei, decretos,
RENFREW, Colin & BAHN, Paul. ArchacoloBJ· ~
z
~ desde o passado mais remoto, mu1t..imilenar,
resoluções, portarias, em nível federal, estadual c BIBLIOGRAFIA
Theoríes, methods and practice. London: Thames :;
~
.
z
& Hudson, 2000.
:; até o mais recente - diflcilmente municipal. No plano internacional, car-tas, convenções, -e
~ ~ BARKER, Alcx W Archaeological ethics: museums
SCHACKEL, Paul A. "Mcmory, civie engagement, and ~
"
conseguiremos resgatar nossas origens resoluções e recomendações, das quals o Brasil é Il

the public meaning of archaeologicalhentege". The ~


signatnrio. and collcctions".ln ZIMMERMAN, Larr-y J.;VlTELLI,
SAA ArchaevlvBica/ Rccord, Society for Americau
~ "
e recuperar nossa trajetória neste território.
~ ~ 11 A. Bcrnard Knnep. "Archaeology without gravity: Keren D. & ZlMMER Julie Hollcwell- (eds.). ElhJeal
Elas são fundamentais para que, no processo
de construção de nossas múltiplas
posrmodcrnlsm ond.the
Method and Tbeory 3(2),127,1996.
past". JournalojArchaeaJoaicaf. issucs fn archacolo8J'.
2003, p.71-83.
Walnut Creek: AltaMira Press,
Archaeology,
SHANKS,
hístcry".
5(2):24·27,
Míchael. "Archaeology
In HODDER
2005.
and the Iorms of
lan ct 0/. (eds.). InrcrprctinB
•....
,

•... 12 Chnstopher-Tíllej. Op. cit., p. 308 . BRODJE, Neil & GILL, D.vid. "Looting: an
identidades, possamos nos tornar uma orchacolO8J'. Finding meaning in the pasto London &
13 Olíver Leaman. "whc guards the guardiansl" ln íntcrnatíonal vicw". ln ZlMMERMAN, LarTy J.;
:: sociedade mais tolerante, mais generosa, Chris Scarre & Geolfrey Scarre (eds.). Tbe "hic, if VffELU, Karen D. & ZIMMER Julic j-lollcwcll-
N ew York: Routledge, 1995.
TILLEY, Christopher ." ArcMeology as socio-political
archaeoIOfl)'. Philosophical perspectíves in (ed s. ). EthicaJ Jssues ín archatolO[})'. Walnut Creek:

z
o
mais justa, a partir da compreensão das
diferenças que herdamos de nossos
archaeclojjcal
Llniversity
practice.

14- julie Hollowell-Zimmer.


P: 44.
Presa, 2006.
Cambridge:

"Digging in the dirt-


Cambridge AltaMira Press, 2003, p. 31-44.
CARMAN, JOM. "Interpretation, writing and
pl'esenting thc past". ln: HODDER, lan ct a/o (eds.),
actioo in the prcsent".
Reader in archaeoloyicol
cognitive: approaches.
InWHITLEY
theoT)', post-processual
London & New York:
David S. (ed.).
and .
o

antepassados e que constituem, Routlledge,1998.


ethícs and 'Iow-end looting'''. lu Larr-y J. Zimmerman, lntcrprcdna OIchaco}o8Y' Finding meanin.g lu the pasto
paradoxalmente, nossa maior fonte WYLIE, Alíson. "Socio-polítícal context". In PINSKY,
~
<
Karen D. Vltelli Bi julic Hcllowell-Zímmer (eds.). Londou & NewYork: Routledgc, 1995.
Valcrie & WYLIE, Alíson (eds.). Critica] traditians in
de conflitos e nossa maior riqueza. CARMAN, 101m. Asainrt c.ultural propert.Y' Arehaeolog)',
~ Ethica! issues m archQeoloOJ' Walnut Creek: AltaMira
Heritage and Ownership. London: Duckworth, 2005.
contemporory archaeolo8),' Esscys In the philosophy,
Press, 2003, p. 6.
~
~ 15 [ulre HolloweH. "Moral arguments on subsistence DARVILL, Tímothy, "Publíc archacology: a European
history and socio-politics of archaeolagy. Cambridge:
Cambridge Univcrsity Presa, 1989.
diggmg". In Clu-ís Scarre & GeoFrrey Searre (eds.) The pcrspectívc". ln BINTLlFF, 10M. (ed.). A companion rc
WYUE, Alíson. Thinkin8Jrom thinos. Essays in the
N O TAS ahícs oJ archaeoloB),' Philcsophical Pcrspcctives in orcMClJ1Df1)'. Malden & Oxford: Blackrvvel], 2004, P'
Philosophy of Arch.cology. Bcrkeley & Los Angclcs,
Archaeclcgical Practice. Cambrídge: Carnbridge 409-434.
Locdon: Llntversity af Calífornia Prcss, 2002.
1 [ohn Carman.. Aooinn cultural propero/. Untversity p. 69-93, 2006.
Pre.ss, HODDER, Ian. The arclJaeoJoaicaJ procfif. Oxford &
ZIMMER, [ulíe Hollcwell-. "Digging in the dirt-
Archeeology, Hcritagc and Owncrshíp. 16 [ulie Hollowell. 01'. cít., p. 88. Malden: Blackwell, 1999.
cthics and 'Iow-end looting"'. lu ZlMMERMAN, Larry
London: Duckworth, 2005, p. 46. 17 Neil Brodie & David Gill. "Looting: an HOLLOWELL, Julie. "Moral argumcnts 011
J.;VlTELU, Karen D. & ZIMMER, julio Hcllowell-
2 Chcryl janifer LaRochc. "Hcrttegc, archacology, and international víew". Iu Larry J. Zirnmerman, Karen subsíatence In SCARRE, Cbrís & SCARRE,
digging". 21
(eds.). Ethical Issucs in archacolOfV'.Walnut Creek:
20 Afrtceu American hístory". Tbe SAA ArchacoJoaical D. Vitelü & Julie Hollowell-Zimmer (eds.). E.hical GcofTrey (eds.) Thc erhicr '!!",chaeoIDI1Y. Phílosophical
AltaMira Presa, 2003, p. 45-56.
Rccord 5(2),36, 2005. IDUes in archaeolo8Jl. Walnut Creek: AltaMira Press, Pcrsnectives in Archacological Practicc. Cambridgc:
3 Vcr Miehael Shanks ." Arcbecolcgy and the forms of 2003, p. 4·1. ,C.mbridge Unh·ersity Presa, p. 69-93, 2006.
hísrory". In lan Hoddcr, Tbe DTchaeoJoaicaI processo 18 Mark Lynott. "The development of ethics in . AAP A. Bcrnard. "Arch,colog)' without gravi'l'.:
Oxford & Malden, Bleckwcll, 1999,p.169-174./ archaeology". ln Larr-y J. Zimmerrnan, Karen D. postmadernism and the past". journal of ArchaeoJoeica1
Jolm Carmen. 01'. cito / Chrtscopher Ttllcy. Vitelli & julie Hol!owell-Zimmer (eds.). Op. cír., A/"hoJ and Thc0l)' 3(2),127·158, 1996.
"Arcbecology as socio-political action in lhe present". 2003, p. 17·27. KOHL, Phílip L. & FAWCETT, Clarc,(eds.).
To David S, Whitlcy (ed.). R~(J(ler jn orchacological 19 Neil Broclie & David Gil!. Op. cit., p. 40. NadonaJism, palma and r:.hcpractica C?f aIc:haeoloEl)"
dICO')', post·processual and cOgIutive approaches. 20 Alc.x W Barker. "Archacological cthics: museums and Cambridge: Cambridge Universit)' Press/ 1995,
London & Nc\'.'York: Routllcdgc, 1995. colJections", 1n Larry J. Zimmerman, Karen D. Vitelli & LaROCHE, Che:r)'l Janifer, "Heritage, archaeology, and
.( I,n Hoddcr. Op. cito Julic Hollowell·Zimmer (cds.). Op. dt., p. 76. Afriean American history". Thc SAA Alchaeol00icaJ
5 Alisoli Vvylie. Thinkin9from (hinos. Essays in thc 21 Julio Hollowcll·Zimmcr. 01'. cit., 1'. 51. Rc""d 5(2):34-37,2005.
philosophy or arcMeology. Bcrkelcy & Los Angclcs, 22 A l·c.spcito, ver também Julic HolJowcll. LEAMAN, ali ver. 'Who gu.rds the gu.rdiansl" lu
Lonclon: Univcrsit:y ofCalifornia Press, 2002, p. 246. 01'. cit., p. 92-93. SCARRE, Chris & SCARRE, GeofTrey (eds.). Th,
6 Sohre esses aspectos ver Paul A. Shackel. uMemor)', 23 Colin Renfrew & Paul Bahn. ArchacoIOSJ'. Theories, elhics oj archacoloaJ. Prulosophical perspectives in
chric engagement, :md the public meaning of methods and practicc. Lonclon: TIlames & (-Iudson, . archaeological practice. Cambridge: Carnbridgc
arcbaeo!ogical heritage". ne SAA ArchaeoJoaical Recard 2000, p. 542. Univcrsi'l' Prcss, 2006. p. 32·45.
5(L),24·27, 2005. Barbar, Littlc & Paul A. Shaekel. 24 Ver Alison Vv)'lie. uSocio·political context", L1TTLE, Barba" & SHACKEL, Paul A. "Thc public
"Thé public meaning of arcbacologlcaI11critage". ln Valerie Pinsky & Alison W)'lie (eds.). CriricaI mcan,ing af archaeological heritagc". The SAA
The SM Archacolooical RccorJ, Society\for Arnerican uaditlons in contcmpora,J' archaeoloEl),' Essa)'s in the rdllJco1onlcal Rccord, Sociel)' for America.n
Archacology, 5(2):18, 2005. philosophy. histor)' ano socio~politics of ilrchaeology. .Archaeology, 5(2),18,2005.

Vous aimerez peut-être aussi