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Resumo
Após diagnosticar, a partir da teoria da pena, o antagonismo existente entre os
fins declarados (discurso oficial) e não-declarados ou ocultos (discurso real) da pena
prisional, desde os aportes oriundos da Criminologia Crítica (crítica marginal), o
presente trabalho, ao negar a eficácia declarada criada entorno do projeto
1
Trata-seà deà ape feiçoa e toà doà te toà ap ese tadoà oà “e i ioà Di eitosà Hu a osà e à Te posà deà
C iseà II à / ,à fe .à ,à o ga izadoà pelaà Clí i aà deà Di eitosà Hu a osà doà Ce t oà U i e sit ioà doà
Estado do Pará – CESUPA, palestrado ao lado do Dr. Vladimir Koenig (Defensor Público estadual) e Emy
Hannah (pesquisadora do NPJ/DH), no auditório da Escola de Direito do CESUPA, Belém, Pará.
Palavras-chave
Direitos Humanos; Teoria da Pena; Teoria Agnóstica da Pena; Punitivismo;
Crítica Marginal.
Abstract
After diagnosing, from the theory of penalty, the antagonism between the
stated purposes (official discourse) and undeclared or hidden (actual speech) of prison
penalty, arising from the contributions of Critical Criminology (marginal criticism), the
present work, to deny the claimed efficacy created around the project jailer and
functionality of the penal system, concluding therefore, to its crisis, the theory
proposes the adoption of worthwhile agnostic "safety valve" reduction of harm and
suffering consequential punitive state intervention, heading on hand to reverse the
current punitivist criminal policy trend in the Brazilian ordering, not seeing in its reason
for being faithful fulfillment of the commitment, and as to the realism of the system,
propose the gradual disuse and abolition of prison soon, conceiving both functions in
crisis.
Key-words
Human Rights; Theory of Penalty; Agnostic Theory of Penalty; Punitivism;
Marginal Criticism.
PODER PUNITIVO
esforço sobre a proteção dos direitos humanos a nível global, e no que se refere à sua
inserção no atual estágio da política criminal – por vezes vergastada pela influência dos
(senão leda redução) e alcance da paz social –, reclama reflexão sobre o sistema penal
trilhos das ciências criminais e concluir pela tutela do ser humano, por claro, o fim
Alagia & Slokar (2010, p. 20-42): de eà ope a à o oà di ueà deà o te çãoà dasà sujasà eà
direito , ao passo que, uma vez situadas em nível superior ao do Estado de Direito, tais
estado de polícia, onde todos os habitantes estão subordinados ao poder daqueles que
2
Em 1994, motivado pelos discursos policialescos e imediatistas de law and order e zero tolerance,
Rudolfi Giuliani, até então prefeito de Nova York, auxiliado por William Bratton (seu chefe de polícia),
inaugurou uma estratégia de planejamento baseada no repressivismo e na manutenção da ordem, de
modo que enfatizaram o combate desde condutas mínimas consideradas desviantes (nos termos da
criminologia) – como pichação, urinar nas ruas, beber em público, mendicância, etc. –, com fito de
i stitui à u aà i i iati aà deà ualidade-de-vida à quality-of-life initiative), pois acreditava-se que o
combate a delitos de menor importância seria uma medida eficaz para a prevenção de delitos de maior
monta. Para a compreensão dos discurso repressivistas policialescos, vide as críticas de COUTINHO &
Cá‘VáLHOà à à Teo iaàdasàJa elasàQue adas à Broken Windows Theory) – exemplo ímpar deste
movimento – no instigante trabalho Teo ia das Ja elas Que adas: e se a ped a e de de t o? ,
publicado na Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre: Notadez/PUCRS/!TEC, Ano 3, 2003, n. 11, e
para uma leitura precisa, o texto original de WILSON & KELLING (1982), intitulado B oke Wi do s:
The Poli e a d Neigh o hood safet , publicado no periódico The Atlantic, disponível na web:
http://www.lantm.lth.se/fileadmin/fastighetsvetenskap/utbildning/Fastighetsvaerderingssystem/Broke
nWindowTheory.pdf
portanto.
pe as ,à istoà ,à asà pe asà o oà i fliçãoà deà dor sem sentido pe da à oà se tidoà deà
realidade letal se apóiam nas agências dos sistemas penais na maioria dos países da
região e operan con un nivel tan alto de violencia que causan más muertes que la
individuais) quanto a seu posicionamento por parte da legislação, não cumpriu com as
momento do cumprimento da pena por parte dos apenados, é dizer, não efetivou o
tratamento adequado exigido a tais sujeitos. Neste sentido, para além disto, conforme
garantista.
diálogo na qual se encontram como vértices: (a) os direitos humanos, sob um plano
DECLARADOS DA PENA
3
[...]àoàapo teàteó i oàga a tista,à ãoào sta teàasàpossi ilidadesàdeàa pliaçãoàdoàseuàho izo teà à íti aà
do direito e da política, é concebido e visto nesta discussão essencialmente como modelo doutrinário
crítico das ciências penais integrais (dogmática penal e processual penal, política criminal e
criminologia). É que entendido desde sua limitação ao ramo das ciências criminais, o aporte garantista
fornece importantes ferramentas para constrição dos poderes punitivos e abre espaço para a
sofisticação das práticas forenses cotidianas voltadas à redução dos danos causados aos direitos
hu a os. à Cá‘VáLHO,à ,àp.à .
4
Liszt foi o primeiro político criminal a chamar atenção para a possibilidade de construção de uma
ciência total ou integrada das ciências criminais, porém, em seu modelo primitivo desta lógica, entendia
que os pressupostos de punibilidade deveriam ser determinados conforme um Estado Liberal de Direito
(Escola Clássica), no entanto, uma vez identificada punibilidade, esta se seguiria conforme as
necessidades sociais. Portanto, demonstrou a tensão entre o Direito Penal e a Política Criminal,
concebendo-os, inicialmente, como saberes díspares e antagônicos. Daíàaà le eàf ase:à O Direito Penal
a a ei a i t a spo í el da Políti a C i i al .
de 1988, que veio, em seu art. 5º, incisos XLV (princípio da pessoalidade da pena), XLVI
(vedações de penas desumanas, com destaque para a alínea e , que firma o princípio
5
Artigo V. Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
6
Art. 7º. Ninguém será submetido à tortura nem a pena ou a tratamentos cruéis, inumanos ou
degradantes. Em particular, é interdito submeter uma pessoa a uma experiência médica ou científica
sem o seu livre consentimento.
7
Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa
tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas;
ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas,
ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura
as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram; Artigo 16 - 1. Cada Estado-parte se comprometerá a proibir,
em qualquer território sob a sua jurisdição, outros atos que constituam tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes que não constituam tortura tal como definida no artigo 1, quando tais atos
forem cometidos por funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua
instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Aplicar-se-ão, em particular, as obrigações
mencionadas nos artigos 10, 11, 12 e 13, com a substituição das referências a outras formas de
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
penas criminais, constituindo-se estas em: (a) privativa de liberdade, (b) restritiva de
direitos, e, (c) multa. Já em seu art. 59, assevera as funções (declaradas) que a partir da
fazàaàLEP,àe àseuàa t.à º,à áàe e uçãoàpe alàte àpo ào jeti oàefeti a àasàdisposiçõesàdeà
propõe Carvalho (2011), se por um lado a Parte Geral do Código Penal, alterada em
prescrição alguma, pelo contrário, a Carta Magna apenas descreve critérios limitativos
validade de todas as demais normas. Assim, por força da supremacia, nenhuma lei ou
Constituição8. Assim, a Constituição inova frente à legislação penal geral e especial que
antes legitimavam um discurso oficial sobre os fins da pena ( Por que punir? ).
formalizado sobre as funções da pena, ele não é realizado, não de forma generalizável
ao menos – porque a pena, enquanto exercício de poder, segue rumo diverso e produz
propor-se-á uma alternativa político-criminal que será apenas permitida por conta
sancionatório.
8
J. J. Canotilho (2002, p. 245- à des e eà p e isa e te:à oà estadoà deà di eitoà à u à estado
constitucional. Pressupõe a existência de uma constituição normativa de uma ordem jurídico-normativa
fundamental vinculativa de todos os poderes públicos. A constituição confere à ordem estadual e aos
actos dos poderes públicos medida e forma. Precisamente por isso, a lei constitucional não é apenas –
como sugeria a teoria tradicional do estado de direito – uma simples lei incluída no sistema ou no
complexo normativo-estadual. Trata-se de uma verdadeira ordenação normativa fundamental dotada
de supremacia – supremacia da constituição – e é nesta supremacia normativa da lei constitucional que
o <<primado do direito>> doàestadoàdeàdi eitoàe o t aàu aàp i ei aàeàde isi aàe p essão .
intervenção penal e dos caminhos trilhados por uma política criminal de atuação não
pode se afastar jamais de um diálogo com a Criminologia, seja qual paradigma for,
porque é este diálogo que define o local em que se encontra a fala, o cerne ideológico
9
vide as grandes contribuições do cientista social norte-americano Howard S. Becker, em Outsiders:
estudos so e so iologia do des io , trad. Maria Borges, Rio de Janeiro, Zagar, 2008. Em importante
passagem, deixa bastante claro que o fenômeno do desvio (incluindo o delito, como espécie do gênero
conduta desviante que recebe tratamento jurídico particularizado, sancionável) não pode ser
compreendido única e exclusivamente sob uma ótica individualista e reducionista, senão como uma
o st uçãoàso ial:à áoà o side a àoàdes ioàu aàfo aàdeàati idadeà oleti a,àaàse ài estigada,àe àtodaà
as suas facetas, como qualquer outra atividade coletiva, vemos que o objeto de nosso estudo não é um
ato isolado cuja origem devemos descobrir. Em vez disso, o ato que alegadamente ocorreu, quando
ocorreu, tem lugar numa rede complexa de atos envolvendo outros, e assume parte dessa
o ple idadeà po à ausaà daà a ei aà o oà dife e tesà pessoasà eà g uposà oà defi e à BECKE‘,à ,à p.à
189).
seleção.
A partir disto, conforme descreve Cirino dos Santos (2006, p. 46) a Criminologia
Crítica, negando o mito do direito penal igualitário, coloca o sistema carcerário como
análise possa ser feita como uma crítica à teoria da pena no que se refere às suas
condenado.
No rol das teorias relativas da pena, que apregoam o fim utilitário de prevenção
10
De modo diverso, frise-se o entendimento de Zaffaroni, Batista, Alagia & Slokar (2011, p. 99), para o
quais, a bem da verdade, não se conheceriam todas as funções que a pena cumpre e menos ainda a
totalidade do poder punitivo, por mais que se saiba que as funções declaradas são irrealizáveis.
Ocorre que, conforme delineia Cirino dos Santos (2012), historicamente, tais
todosà o eti osàseà ost a a ài efi ie tesà ua toà à e upe ação àdoà i i oso e
caracterizando assim, o que Foucault (1977, p. 239), à sua crítica ao poder punitivo e
às prisões em Surveiller et Punir (1975), chamou de iso o fis oà efo ista , ou seja,
modo que, na atualidade recente, esta crise se espraia e resta patente tanto a nível de
processual penal que deduz critérios de justiça pautados na racionalidade, crime como
transformação do criminoso.
Estado, além de não ter o direito de obrigar os cidadãos a não serem ruins, podendo
somente impedir que se destruam entre si, não possui, igualmente, o direito de alterar
fim, o cidadão tem o dever de não cometer crimes e o direito de ser internamente
pode ser estudada sob dois aspectos: o positivo, também chamado de função
sociais, de modo a contribuir assim para uma visão de integração social, já que o
repressão, isto é, a quando da reclusão propriamente dita daquele que delinque, que,
então, torna-se exposto, servindo de exemplo para que os demais cidadãos não
tanto.
demonstra que o Estado não parece interessado em soluções sociais reais, mas em
ambiente), e não bens jurídicos individuais (ex. patrimônio), de modo que o conceito
da pena, como adverte Cirino dos Santos (2012), cumpriria o papel de escamotear a
Estado .
Niklas Luhmann, de modo que para aquele a norma penal constitui uma necessidade
penas ante as frustrações que decorrem da violação das normas. Portanto, pautado na
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, Constituição da República), valor maior da
11
Pensamento contrário é o de Zaffaroni (2001, p. 86-87) que ao tratar da aplicação do funcionalismo
sistêmico no discurso jurídico-penal, contrariando a suposta prevenção geral positiva que muitos
atribuem ao Direito Penal do Inimigo, afirma que: a pe a dei a de pe segui fi s p e e ti o-gerais
(admite-se que não evita que outros cometam delitos, mas isso não interessa), nem especiais (também
se ad ite ue ão e ita ue o auto o eta o os delitos, e ta pou o isto i po ta) , po ue o o jeti o
o ga a ti o o se so , ou seja, o e uilí io do siste a .
12
Para compreender as teorizações de Jakobs e Luhmann, vide Günther Jakobs em Direito Penal do
Inimigo ,à ªàed.,àRio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, Oà ueàp otegeàoàDi eitoàPe al:àosà e sàju ídi osàouà
aà ig iaà daà o a? , in: Direito Penal e Funcionalismo, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, e
Eduardo Lynett, em I t oduçãoà à o aà deà Gü the à Jako s , in: Direito Penal e Funcionalismo, Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005; e Niklas Luhmann, em Introdução à Teoria dos Sistemas ,
Petrópolis, RJ: Vozes, 2009 (Coleção Sociologia) e Sociologia do Direito I , trad. BAYER, Gustavo. Rio de
Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983.
das atitudes estatais, passa a ser meio e não fim (em sentido categórico kantiano), e,
e e ploàpa aàosàde ais ouà e oà odeàe piató io àe e plifi ati oàdoàpode àpe al.
diagnóstico de seu atual estágio de perda de legitimidade 13 com que opera seu poder
humanos com vinculação cogente em âmbito interno dos países signatários dos
diversos tratados que visem tal fim (tutela do humano), que se verifica a necessidade
Zaffaroni, Batista, Alagia & Slokar (2011, p. 98, grifo nosso): Nãoà seà t a spõeà esseà
atoleiro com uma nova teoria punitiva, mas sim apelando para uma teoria negativa ou
construção que surja do fracasso de todas as teorias positivas (por serem falsas ou
13
No melhor sentido, vide Euge ioà‘aúlà)affa o i,àe à E à us aàdeàlasàPe asàPe didas:àDeslegiti a ió à
y Dogmatica juridico-pe al , 2ª. Buenos Aires: Adiar, 1998.
uma teoria negativa, é possível delimitar o horizonte do direito penal sem que seu
pu iti oà ueàlheàto aàli ita (ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA & SLOKAR, 2011, p. 94).
funções que a pena cumpre, porém aquelas atribuídas pelo direito penal, mediante
teorias positivas, são falsas ou, pelo menos, não-generalizáveis, urge concluir pela
declaradas não realizáveis da pena, afirmando não existir nenhuma função positiva à
pena, de modo que é denominada de agnóstica14 quanto à sua função, pois confessa
14
Defi eà áBBáGNáNOà ,à p.à :à áGNO“TICI“MOà i .à Agnosticism; fr. Ag-nosticisme, ai.
Agnosticismus-, it. Agnosticismó). Esse termo foi criado pelo naturalista inglês Thomas Huxley em 1869
(Collected Essays, V, pp. 237 ss.) para indicar a atitude de quem se recusa a admitir soluções para os
problemas que não podem ser tratados com os métodos da ciência positiva, sobretudo os problemas
metafísicos e religiosos. O próprio Huxley declarou ter cunhado esse termo "como antítese do 'gnóstico'
da história da Igreja, que pretendia saber muito sobre coisas que eu ignorava". Esse termo foi retomado
por Darwin, que se declarou agnóstico em uma carta de 1879- Desde então o termo foi usado para
designar a atitude dos cientistas de orientação positivista em face do Absoluto, do Infinito, de Deus e
dos respectivos problemas, atitude essa marcada pela recusa de professar publicamente qualquer
opinião sobre tais problemas. Assim, foi chamada da agnóstica a posição de Spencer, que, na primeira
parte dos Primeiros princípios (1862), pretendeu demonstrar a inacessibilidade da realidade última, isto
é, da força misteriosa que se manifesta em todos os fenômenos naturais. O fisiólogo alemão Du-Bois
Raymond, num texto de 1880, enunciava Os sete enigmas do mundo (origem da matéria e da vida;
origem do movimento; surgimento da vida; organização finalista da natureza; surgimento da
sensibilidade e da consciência; pensamento racional e origem da linguagem; liberdade do querer), em
face dos quais ele achava que o homem estava destinado a pronunciar um ignorabimus, já que a ciência
nunca poderá resolvê-los. No mesmo período, essa palavra foi estendida para designar também a
doutrina de Kant, porquanto esta considere que o númeno, ou a coisa em si, está além dos limites do
conhecimento humano (v. NÚMENO). Mas essa extensão da palavra não pode ser considerada de todo
legítima, dada a concepção kantiana de númeno como conceito-limite. É parte integrante da noção de
A. a redução do objeto da religião a simples "mistério", em cuja interpretação os símbolos usados são de
todo inadequados .
Barreto (2000, p. 178) para o qual: Oà o eitoà deà pe aà ãoà à u à o eitoà ju ídi o,à
asà u à o eitoà políti o . Explica que a pena não tem força para restabelecer o
direito violado, de modo que o interesse jurídico, em um assassinato, v. g., exigiria que
vida humana, que entretanto não seria uma pena, mas somente o pagamento de uma
dívida, e deixar-se-ia bem incluir no direito das obrigações, porém não no Direito
2000, p. 178).
sofrimento imposto pela pena ag egadoà à egati açãoà dasà iol iasà pú li aà eà
relocando o p o le aà daà sa çãoà pe alà daà esfe aà ju ídi aà à políti a . Deste modo, a
judicial e administrativo.
Neste limiar, Carvalho (2010, p. 149) conclui que reduzir dor e sofrimento
(danos) seria o único motivo de justificação da pena nas atuais condições em que é
não cumpre suas funções declaradas, mas tão apenas opera infligindo dor e
saídas temporárias, etc., valorizando muito mais a indenização das vítimas que a
habitantes, isso significava uma taxa de 269,38 presos por 100 mil habitantes.
15
Por uma visão global sobre as grandes contribuições de Hulsman para o pensamento das ciências
criminais, a partir de uma perspectiva abolicionista, vide T i utoàaàLoukàHuls a à NiloàBatista & Ester
Kosovski, Org.), Rio de Janeiro, Revan, 2013.
16
vide Relatórios Estatísticos - Analíticos do sistema prisional, do Ministério da Justiça, Departamento
Penitenciário Nacional/DEPEN, conforme o InfoPen (jun/2012), disponível em: http://portal.mj.gov.br.
17
vide International Centre for Prision Studies, em E ti e Wo ld – P iso Populatio Totals , disponível
na web: http://www.prisonstudies.org/info/worldbrief/wpb_stats.php?area=all&category=wb_poptotal
encarcerada no Brasil era da ordem de 232.755 (taxa de 134 presos por 100 mil
habitantes), o que mostra que no espaço dessa década ela dobrou 18.
e, portanto, que identifica a perda de legitimidade de seu poder punitivo, seletivo por
atu eza,à ueàope a,àso etudo,àpo à pe asàpe didas à ZAFFARONI, 1998), verifica-se a
contínua criação de novos tipos penais abarcando condutas que poderiam ser
tuteladas pelo Direito Civil ou Administrativo (ex. delitos patrimoniais não violentos) e
(poder legislativo)19, intervenções das agências policiais cada vez mais pautadas em
18
Neste sentido, vide Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP. 5º Relatório Nacional sobre os
Direitos Humanos no Brasil (2001-2010). Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP,
CEPID/FAPESP/INCT/Urbania, São Paulo, 2012, p. 153. Para além das estatísticas, um estudo minucioso
sobre a criminalidade e violações de Direitos Humanos no Brasil.
19
Em tempos de discussão sobre proposta de Novo Código Penal (Projeto de Lei 236/2012, rel. senador
Pedro Taques/PMDB-MT), tais estão sendo intensamente debatidas, a propósito, bastante necessária a
leitura da Edição Especial da Revista Liberdades, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim),
que vem tratando especificamente da Reforma Penal, com artigos dos eméritos Gustavo Quandt, Luís
Greco, Paulo Busato, entre outros, e está disponível na web, podendo ser acessada a partir do link a
seguir: http://www.ibccrim.org.br/site/revistaLiberdades/_pdf/10A/integra.pdf.
não cumpre com seus fins declarados, senão com os reais, não declarados, e isto o faz
por excelência.
jurídico, senão no do político, não possui outra função senão a de reduzir ao máximo a
violência, dor e sofrimento, e, sendo assim, a partir de Zaffaroni, Batista, Alagia &
Slokar (2011), frente à atual situação, se propôs uma reflexão de uma teoria política de
violência a partir da contração do político, após conceber a pena como não situada em
liberdade de cada um são, com efeito, ameaçadas não apenas pelos delitos, mas
Por todo o exposto, se conflui com Zaffaroni (2007, p. 172) que a função do
direito penal de todo Estado de direito (da doutrina penal como programadora de um
punitivo dentro dos limites menos irracionais possíveis , de modo que, a partir deste
discurso crítico, em vista do desvelo das funções da pena, se propõe a reflexão sobre a
pena privativa de liberdade, não cabendo a esta crítica resolver-se em si mesma, senão
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fontes, 1998.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Do paradigma etiológico ao paradigma da Reação Social:
mudança e permanência de paradigmas criminológicos na ciência e no senso comum. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 14, p. 276-287, 1996.
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal: Introdução à Sociologia
do Direito Penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Revan/ICC, 2002.
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BATISTA, Nilo; KOSOVSKI, Ester (Org.). Tributo a Louk Hulsman. Rio de Janeiro: Revan, 2012.
BECKER, Howard S. Outsiders: Estudos de Sociologia do Desvio. Trad. Maria Luiza X. de Borges.
Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª ed. Coimbra,
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CARVALHO, Salo de. Antimanual de Criminologia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. A Criminologia Radical. 2ª ed. Curitiba: ICPC/Lumen Juris, 2006.
_______________________. Realidades e Ilusões do Discurso Penal. Disponível em
www.cirino.com.br, acesso em 15 de fevereiro de 2013.
COUTINHO,àJa i toàNelso àdeàMi a da;àCá‘VáLHO,àEd a d.à Teo iaàdasàJa elasàQue adas:àe
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DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Ministério da Justiça. InfoPen 2012 –
Relatórios Estatísticos - Analíticos do sistema prisional. Acesso em 25, Marc./2013, disponível
em: http://portal.mj.gov.br.