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TEORIA AGNÓSTICA E A CRISE DAS FUNÇÕES DA

PENA NA ERA DO PUNITIVISMO

AGNOSTIC THEORY AND THE CRISIS OF THE FUNCTIONS OF PRISON PENALTY IN


THE PUNITIVISM AGE

ADRIAN BARBOSA E SILVA


TEORIA AGNÓSTICA E A CRISE DAS FUNÇÕES DA
PENA NA ERA DO PUNITIVISMO1
Agnostic Theory And The Crisis Of The Func tions Of Prison
Penalty In The Punitivism Age

Adrian Barbosa e Silva*

* Acadêmico de Direito do CESUPA. Monitor de Direito


Penal. Pesquisador em ciências criminais e integrante da
Clínica institucional de Direitos Humanos – NPJ/DH,
vinculado ao Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil
(CNPq). Membro do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais – IBCCrim. Edito do Blog de Ci ias
C i i ais & Paz
[www.cienciascriminaisepaz.blogspot.com/].

SUMÁRIO: 1. Introdução: O Problema e a Problematização do Sistema Penal e do Poder


Punitivo – 2. A Tutela Internacional dos Direitos Humanos e a Crítica aos discursos declarados
da Pena – 3. Crítica Criminológica às funções declaradas da Pena; 3.1. Crítica à prevenção
especial; 3.2. Crítica à prevenção geral – 4. Teoria Agnóstica da Pena e Constituição: Em busca
de um Projeto Político de Redução de danos a partir da Deslegitimação – 5. Considerações
Últimas (?) – 6. Referências Bibliográficas.

El i e to ode o del siste a pe al es asi dia óli o,


Pues no sólo es un medio manipulador de la venganza,
sino también – y según las circunstancias –
u pote tísi o edio pa a su eje u ió
(Eugenio Raúl Zaffaroni)

Resumo
Após diagnosticar, a partir da teoria da pena, o antagonismo existente entre os
fins declarados (discurso oficial) e não-declarados ou ocultos (discurso real) da pena
prisional, desde os aportes oriundos da Criminologia Crítica (crítica marginal), o
presente trabalho, ao negar a eficácia declarada criada entorno do projeto

1
Trata-seà deà ape feiçoa e toà doà te toà ap ese tadoà oà “e i ioà Di eitosà Hu a osà e à Te posà deà
C iseà II à / ,à fe .à ,à o ga izadoà pelaà Clí i aà deà Di eitosà Hu a osà doà Ce t oà U i e sit ioà doà
Estado do Pará – CESUPA, palestrado ao lado do Dr. Vladimir Koenig (Defensor Público estadual) e Emy
Hannah (pesquisadora do NPJ/DH), no auditório da Escola de Direito do CESUPA, Belém, Pará.

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encarcerador e a funcionalidade do sistema penal, concluindo, assim, à sua crise,
p opõeàaàadoçãoàdaàteo iaàag ósti aàdaàpe aàe ua toà l ulaàdeàes ape à eduto aà
de danos e sofrimentos consequentes da intervenção punitiva estatal, rumando em
mão inversa à atual tendência punitivista das políticas criminais no ordenamento
brasileiro, por não ver em sua razão de ser o fiel cumprimento do compromisso
assumido, e quanto ao realismo do sistema, propor o gradativo desuso e abolição da
prisão, concebendo suas funções em crise.

Palavras-chave
Direitos Humanos; Teoria da Pena; Teoria Agnóstica da Pena; Punitivismo;
Crítica Marginal.

Abstract
After diagnosing, from the theory of penalty, the antagonism between the
stated purposes (official discourse) and undeclared or hidden (actual speech) of prison
penalty, arising from the contributions of Critical Criminology (marginal criticism), the
present work, to deny the claimed efficacy created around the project jailer and
functionality of the penal system, concluding therefore, to its crisis, the theory
proposes the adoption of worthwhile agnostic "safety valve" reduction of harm and
suffering consequential punitive state intervention, heading on hand to reverse the
current punitivist criminal policy trend in the Brazilian ordering, not seeing in its reason
for being faithful fulfillment of the commitment, and as to the realism of the system,
propose the gradual disuse and abolition of prison soon, conceiving both functions in
crisis.

Key-words
Human Rights; Theory of Penalty; Agnostic Theory of Penalty; Punitivism;
Marginal Criticism.

1. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA E A PROBLEMATIZAÇÃO DO SISTEMA PENAL E DO

PODER PUNITIVO

A conjuntura do século XXI demarca, mais do que nunca, intenso e necessário

esforço sobre a proteção dos direitos humanos a nível global, e no que se refere à sua

inserção no atual estágio da política criminal – por vezes vergastada pela influência dos

discursos repressivistas de zero tolerance e law and order (a exemplo da experiência

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nova-iorquina, com destaque para a atuação do poder policialesco da década de 902),

que selecionam e estereotipam inimigos, sob a pretensa busca da extinção da violência

(senão leda redução) e alcance da paz social –, reclama reflexão sobre o sistema penal

e o respectivo modus operandi de suas agências, de modo a questionar suas

possibilidades e (de)limitações, e, portanto, a medição do grau de sua (i)legitimidade

dentro de Estados Constitucionais de Direito (FERRAJOLI, 2010b), procurando desvelar

discursos reais e não-declarados, pretendendo não incorrer em aporias que guiem os

trilhos das ciências criminais e concluir pela tutela do ser humano, por claro, o fim

preterido por todo o Direito.

Neste âmbito, o saber jurídico penal, conforme a definição de Zaffaroni, Batista,

Alagia & Slokar (2010, p. 20-42): de eà ope a à o oà di ueà deà o te çãoà dasà sujasà eà

turbulentas águas do estado de polícia, para impedir a submersão do estado de

direito , ao passo que, uma vez situadas em nível superior ao do Estado de Direito, tais

águas represadas ameaçam ininterruptamente vazar sobre o dique. Assim, o Estado de

Direito é concebido como oà ueà su eteà todosà os habitantes à lei e opõe-se ao

estado de polícia, onde todos os habitantes estão subordinados ao poder daqueles que

a da (ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA & SLOKAR, 2010, p. 20-42), e encontra-se em

2
Em 1994, motivado pelos discursos policialescos e imediatistas de law and order e zero tolerance,
Rudolfi Giuliani, até então prefeito de Nova York, auxiliado por William Bratton (seu chefe de polícia),
inaugurou uma estratégia de planejamento baseada no repressivismo e na manutenção da ordem, de
modo que enfatizaram o combate desde condutas mínimas consideradas desviantes (nos termos da
criminologia) – como pichação, urinar nas ruas, beber em público, mendicância, etc. –, com fito de
i stitui à u aà i i iati aà deà ualidade-de-vida à quality-of-life initiative), pois acreditava-se que o
combate a delitos de menor importância seria uma medida eficaz para a prevenção de delitos de maior
monta. Para a compreensão dos discurso repressivistas policialescos, vide as críticas de COUTINHO &
Cá‘VáLHOà à à Teo iaàdasàJa elasàQue adas à Broken Windows Theory) – exemplo ímpar deste
movimento – no instigante trabalho Teo ia das Ja elas Que adas: e se a ped a e de de t o? ,
publicado na Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre: Notadez/PUCRS/!TEC, Ano 3, 2003, n. 11, e
para uma leitura precisa, o texto original de WILSON & KELLING (1982), intitulado B oke Wi do s:
The Poli e a d Neigh o hood safet , publicado no periódico The Atlantic, disponível na web:
http://www.lantm.lth.se/fileadmin/fastighetsvetenskap/utbildning/Fastighetsvaerderingssystem/Broke
nWindowTheory.pdf

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intensa dialética com o Estado de Polícia, em lógica de proporcionalidade inversa,

portanto.

No que se refere à realidade latino-americana – com ênfase ao estado de coisas

brasileiro –, os sistemas jurídico-penais se encontram imersos no mar negro da

ilegitimidade no que se refere ao exercício real de seus poderes punitivos de contração

do crime (intervencionismo penal), culminando em uma progressiva pe daà dasà

pe as ,à istoà ,à asà pe asà o oà i fliçãoà deà dor sem sentido pe da à oà se tidoà deà

carentes de racionalidade), de modo que, os múltiplos poderes que sustentam esta

realidade letal se apóiam nas agências dos sistemas penais na maioria dos países da

região e operan con un nivel tan alto de violencia que causan más muertes que la

totalidad de los homicidios dolosos entre desconocidos cometidos por particula es ,

conforme análise cirúrgica de Zaffaroni (1998, p. 17).

Vê-se que por uma constatação histórica e criminológica, o sistema carcerário,

a despeito de continuamente receber orientações cogentes (de respeitar direitos

individuais) quanto a seu posicionamento por parte da legislação, não cumpriu com as

finalidades a que se propôs quando se está em foco o exercício de seu poder no

momento do cumprimento da pena por parte dos apenados, é dizer, não efetivou o

tratamento adequado exigido a tais sujeitos. Neste sentido, para além disto, conforme

se mostrará, mudando as diretrizes de um projeto encarcerizador vetusto e

ultrapassado, o próprio tratamento constitucional quanto aos fins da pena alterou e,

hoje, propõe-se tratar o problema sob uma perspectiva jurídico-penal marginal e

garantista.

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A hipótese aqui é, portanto – sem pretensões de esgotamento do tema –, a de

diagnosticar as possibilidades do sistema penal brasileiro, a partir de suas agências

penitenciárias no âmbito de cumprimento da pena, sob uma estrutura de reflexão e

diálogo na qual se encontram como vértices: (a) os direitos humanos, sob um plano

metajurídico de compreensão; (b) a supremacia e a rigidez da Constituição da

República de 1988, no plano jurídico; e, (c) um modelo garantista crítico de ciências

criminais integradas3 (reformulando a proposta pioneira de Liszt4), com papel

harmonizador (e não fragmentador) do plano do político (política criminal), do

empírico (criminologia) e do dogmático (direito e processo penal), buscando, assim,

através destas matrizes, problematizar os fins declarados da teoria da pena,

doutrinariamente reinantes, defendendo-se, após a referida análise, por derradeiro,

uma política punitiva de redução de danos (teoria agnóstica da pena).

2. A TUTELA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E CRÍTICA AOS DISCURSOS

DECLARADOS DA PENA

O Brasil, a nível internacional, é signatário de diversos tratados de direitos

humanos e, especificamente quanto ao tratamento penitenciário e ao cumprimento

3
[...]àoàapo teàteó i oàga a tista,à ãoào sta teàasàpossi ilidadesàdeàa pliaçãoàdoàseuàho izo teà à íti aà
do direito e da política, é concebido e visto nesta discussão essencialmente como modelo doutrinário
crítico das ciências penais integrais (dogmática penal e processual penal, política criminal e
criminologia). É que entendido desde sua limitação ao ramo das ciências criminais, o aporte garantista
fornece importantes ferramentas para constrição dos poderes punitivos e abre espaço para a
sofisticação das práticas forenses cotidianas voltadas à redução dos danos causados aos direitos
hu a os. à Cá‘VáLHO,à ,àp.à .
4
Liszt foi o primeiro político criminal a chamar atenção para a possibilidade de construção de uma
ciência total ou integrada das ciências criminais, porém, em seu modelo primitivo desta lógica, entendia
que os pressupostos de punibilidade deveriam ser determinados conforme um Estado Liberal de Direito
(Escola Clássica), no entanto, uma vez identificada punibilidade, esta se seguiria conforme as
necessidades sociais. Portanto, demonstrou a tensão entre o Direito Penal e a Política Criminal,
concebendo-os, inicialmente, como saberes díspares e antagônicos. Daíàaà le eàf ase:à O Direito Penal
a a ei a i t a spo í el da Políti a C i i al .

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da pena (de prisão), aderiu à Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) 5, ao

Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966)6, à Convenção contra a

Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984) 7,

todos versando sobre a vedação à tortura e às penas cruéis e quaisquer espécies de

tratamento desumano e degradante, e em âmbito interno, sancionou a Lei n. 7.210/84

(Lei de Execuções Penais, a seguir LEP), e, posteriormente, a Constituição da República

de 1988, que veio, em seu art. 5º, incisos XLV (princípio da pessoalidade da pena), XLVI

(princípio da individualização da pena e instituição das penas em espécie), XLVII

(vedações de penas desumanas, com destaque para a alínea e , que firma o princípio

da vedação ao excesso punível), XLVIII (distinções e estabelecimentos diferenciados

para cumprimento de pena) e XLIX (integridade físico-moral do preso), L (direito de

presidiárias à amamentação da sua prole) a traçar os limites e possibilidades de

quaisquer políticas sancionatórias que viessem a entrar em vigor, em conformidade

com os direitos humanos internacionais.

5
Artigo V. Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
6
Art. 7º. Ninguém será submetido à tortura nem a pena ou a tratamentos cruéis, inumanos ou
degradantes. Em particular, é interdito submeter uma pessoa a uma experiência médica ou científica
sem o seu livre consentimento.
7
Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou
sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter,
dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa
tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas;
ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas,
ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura
as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram; Artigo 16 - 1. Cada Estado-parte se comprometerá a proibir,
em qualquer território sob a sua jurisdição, outros atos que constituam tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes que não constituam tortura tal como definida no artigo 1, quando tais atos
forem cometidos por funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua
instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Aplicar-se-ão, em particular, as obrigações
mencionadas nos artigos 10, 11, 12 e 13, com a substituição das referências a outras formas de
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

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No que se refere à teoria da pena, em sentido normativo, o art. 32, do Código

Penal – aos moldes da reforma da Parte Geral em 1984 –, delimita as espécies de

penas criminais, constituindo-se estas em: (a) privativa de liberdade, (b) restritiva de

direitos, e, (c) multa. Já em seu art. 59, assevera as funções (declaradas) que a partir da

dosimetria são consagradas à pena: reprovação (retribuição) e prevenção (geral e

especial, positiva e negativa, conforme a doutrina dominante), do mesmo modo que o

fazàaàLEP,àe àseuàa t.à º,à áàe e uçãoàpe alàte àpo ào jeti oàefeti a àasàdisposiçõesàdeà

sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado à p e e çãoàespe ialàpositi a .

Ocorre que, ao se analisar as razões do Po ue pu i ? , não se pode

resguardar do questionamento – enquanto uma das premissas básicas da investigação

– a aplicação e os efeitos da teoria da pena em face da realidade concreta do sistema

penal, sob pena de restringir-se apenas sob a perspectiva normativa e ideal,

incorrendo no âmbito do estritamente abstrato, portanto. Além disso, conforme

propõe Carvalho (2011), se por um lado a Parte Geral do Código Penal, alterada em

1984, e a Lei de Execuções Penais de 1984, delineavam as funções da pena, com o

advento da Constituição da República, em 1988, como já descrito, não existe mais

prescrição alguma, pelo contrário, a Carta Magna apenas descreve critérios limitativos

à interpretação, aplicação e execução das penas, mas não explicita um discurso

justificador da pena, senão delimitador de suas funções, demonstrando assim, um

posicionamento absenteísta por parte do constituinte originário.

Neste sentido, no atual estágio da democracia brasileira, vigora o princípio da

Supremacia da Constituição que, conforme explica Canotilho (2002), revela a posição

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hierárquica da Constituição enquanto norma mais elevada dentro do sistema, que se

estrutura de forma escalonada, em diferentes níveis. Assim, é ela o fundamento de

validade de todas as demais normas. Assim, por força da supremacia, nenhuma lei ou

ato normativo poderá subsistir validamente se estiver em desconformidade com a

Constituição8. Assim, a Constituição inova frente à legislação penal geral e especial que

antes legitimavam um discurso oficial sobre os fins da pena ( Por que punir? ).

Co o o a doà ueà ãoà seà t ataà deà u aà a o aà i te p etati a à doà te toà

constitucional, a própria Constituição não deixa margem para pensamentos

dissidentes porque em matéria penalógica não instituiu norma de eficácia limitada, e,

logo, independem de norma infraconstitucional integradora de seu conteúdo.

Assim, não se está negando o que doutrinariamente fora consagrado (funções

declaradas da pena), pelo contrário, em seguida, a partir de um possível diálogo com a

Criminologia Crítica, buscar-se-á (de)mostrar que a despeito de existir um discurso

formalizado sobre as funções da pena, ele não é realizado, não de forma generalizável

ao menos – porque a pena, enquanto exercício de poder, segue rumo diverso e produz

outras funções (não declaradas) –, e, portanto, concebendo a realidade marginal dela,

propor-se-á uma alternativa político-criminal que será apenas permitida por conta

desta análise jurídico-constitucional não declaratória de legitimação deste instituto

sancionatório.

8
J. J. Canotilho (2002, p. 245- à des e eà p e isa e te:à oà estadoà deà di eitoà à u à estado
constitucional. Pressupõe a existência de uma constituição normativa de uma ordem jurídico-normativa
fundamental vinculativa de todos os poderes públicos. A constituição confere à ordem estadual e aos
actos dos poderes públicos medida e forma. Precisamente por isso, a lei constitucional não é apenas –
como sugeria a teoria tradicional do estado de direito – uma simples lei incluída no sistema ou no
complexo normativo-estadual. Trata-se de uma verdadeira ordenação normativa fundamental dotada
de supremacia – supremacia da constituição – e é nesta supremacia normativa da lei constitucional que
o <<primado do direito>> doàestadoàdeàdi eitoàe o t aàu aàp i ei aàeàde isi aàe p essão .

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3. CRÍTICA CRIMINOLÓGICA ÀS FUNÇÕES DECLARADAS DA PENA

Sob a perspectiva de um modelo garantista crítico de ciências criminais

integradas – antes já esclarecido –, o estudo sobre o grau de (i)legitimidade da

intervenção penal e dos caminhos trilhados por uma política criminal de atuação não

pode se afastar jamais de um diálogo com a Criminologia, seja qual paradigma for,

porque é este diálogo que define o local em que se encontra a fala, o cerne ideológico

e empírico que guiará, portanto, a intervenção penal.

Elege-se aqui o paradigma da reação social aporte norteador adotado pela

Criminologia Crítica que, dentre a grande revolução ocasionada nas investigações

sobre a questão criminal ao romper com o até então predominante paradigma

etiológico-causal (crítica da sociologia jurídico-penal à sociologia criminal), concluiu

que a criminalidade não é um dado ontológico pré-constituído ao delinqüente 9 senão

um status atribuído a determinados indivíduos (etiquetamento – contribuições do

labelling approach), e, portanto, um bem negativo distribuído desigualmente

conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema sócio-econômico e conforme a

desigualdade social dos indivíduos, conforme leciona Baratta (2002).

Nesta linha de raciocínio, Andrade (1996, p. 280) esclarece as contribuições

essenciais do labelling na transição paradigmática ocorrida a partir da década de 70,

9
vide as grandes contribuições do cientista social norte-americano Howard S. Becker, em Outsiders:
estudos so e so iologia do des io , trad. Maria Borges, Rio de Janeiro, Zagar, 2008. Em importante
passagem, deixa bastante claro que o fenômeno do desvio (incluindo o delito, como espécie do gênero
conduta desviante que recebe tratamento jurídico particularizado, sancionável) não pode ser
compreendido única e exclusivamente sob uma ótica individualista e reducionista, senão como uma
o st uçãoàso ial:à áoà o side a àoàdes ioàu aàfo aàdeàati idadeà oleti a,àaàse ài estigada,àe àtodaà
as suas facetas, como qualquer outra atividade coletiva, vemos que o objeto de nosso estudo não é um
ato isolado cuja origem devemos descobrir. Em vez disso, o ato que alegadamente ocorreu, quando
ocorreu, tem lugar numa rede complexa de atos envolvendo outros, e assume parte dessa
o ple idadeà po à ausaà daà a ei aà o oà dife e tesà pessoasà eà g uposà oà defi e à BECKE‘,à ,à p.à
189).

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que, a partir da Criminologia Crítica, culminou em um novo paradigma (reação social)

no estudo da Criminologia e das Ciências Criminais:

Modelado pelo interacionismo simbólico e a

etnometodologia como esquema explicativo da

conduta humana (o construtivismo social) o labelling

pa teà dosà o eitosà deà o dutaà des iada à eà eaçãoà

so ial ,à o oà te osà e ip o a e teà

interdependentes, para formular sua tese central: a de

que o desvio e a criminalidade não é uma qualidade

intrínseca da conduta ou uma entidade ontológica

preconstituída à reação social e penal, mas uma

qualidade (etiqueta) atribuída a determinados sujeitos

através de complexos processos de interação social;

isto é, de processos formais e informais de definição e

seleção.

U aà o dutaà ãoà à i i alà e à si à ualidadeà

negativa ou nocividade inerente) nem seu autor um

criminoso por concretos traços de sua personalidade

ou influências de seu meio-ambiente. A criminalidade

se revela, principalmente, como um status atribuído a

determinados indivíduos mediante um duplo processo:

aà defi ição à legalà deà i e,à ueà at i uià à o dutaà oà

a te à i i alà eà aà seleção à ueà eti uetaà eà

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estigmatiza um autor como criminoso entre todos

aqueles que praticam tais condutas.

Conseqüentemente, não é possível estudar a

criminalidade independentemente desses processos.

Por isso, mais apropriado que falar da criminalidade (e

do criminoso) é falar da criminalização (e do

criminalizado) e esta é uma das várias maneiras de

construir a realidade social.

A partir disto, conforme descreve Cirino dos Santos (2006, p. 46) a Criminologia

Crítica, negando o mito do direito penal igualitário, coloca o sistema carcerário como

centro de sua contestação marxista radical na sua função de dupla reprodução:

[...] reprodução das desigualdades das relações sociais

capitalistas (pela garantia da separação

trabalhador/meios de produção) e reprodução de um

setor de estigmatizados sociais, recrutado do exército

i dust ialà deà ese a ,à ualificado negativamente em

doisà se tidos:à pelaà posiçãoà est utu alà deà

marginalizado social (fora do mercado de trabalho) e

pela imposição superestrutural de sanções

estigmatizantes (dentro do sistema penal).

Assim, em essência, na busca pela compreensão do fenômeno do crime e do

controle social, diagnostica a Criminologia Crítica a distinção entre objetivos

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ideológicos (aparentes) e objetivos reais (ocultos), residindo nestes últimos uma

explicação real sobre o exercício do poder na justiça penal.

Nesse sentido, conforme explica Cirino dos Santos (2006), os objetivos

ideológicos do aparelho penal se resumem às metas de repressão da criminalidade e

de controle/redução do crime, materializados – segundo a dogmática e o modelo de

ensino jurídico reinantes – na proteção dos bens jurídicos mais importantes e

essenciais à vida social (caráter de fragmentariedade do poder punitivo) que não

conseguem ser tutelados pelos demais ramos do Direito (caráter de subsidiariedade e

intervenção mínima e em ultima ratio do poder punitivo); já os objetivos reais,

consistem numa dupla reprodução: reprodução da criminalidade pelo recorte de

formas de criminalidade das classes e grupos sociais inferiorizados e reprodução das

relações sociais,à po ueà aà ep essãoà da uelaà i i alidadeà fu io aà o oà t ti aà deà

su issãoàaoàpode àe p egadaàpelasà lassesàdo i a tes 10.

Assim, finalmente, este acúmulo empírico (criminológico), permite que tal

análise possa ser feita como uma crítica à teoria da pena no que se refere às suas

funções declaradas, sobretudo enquanto a prometida correção/ressocialização do

condenado.

3.1. CRÍTICA À PREVENÇÃO ESPECIAL

No rol das teorias relativas da pena, que apregoam o fim utilitário de prevenção

de futuros delitos, a prevenção especial subdivide-se em positiva e negativa, que

denotam, respectivamente, conforme a doutrina majoritária, o aspecto da

10
De modo diverso, frise-se o entendimento de Zaffaroni, Batista, Alagia & Slokar (2011, p. 99), para o
quais, a bem da verdade, não se conheceriam todas as funções que a pena cumpre e menos ainda a
totalidade do poder punitivo, por mais que se saiba que as funções declaradas são irrealizáveis.

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ressocialização do criminoso a partir de técnicas e métodos corretivos intra-prisionais

e a neutralização daquele que praticou o crime a partir de sua segregação ao cárcere,

de modo que a sua retirada do meio social o impossibilitaria de cometer delitos.

Ocorre que, conforme delineia Cirino dos Santos (2012), historicamente, tais

todosà o eti osàseà ost a a ài efi ie tesà ua toà à e upe ação àdoà i i oso e

redução da criminalidade e, ainda assim, foram repetidamente deflagrados no tempo,

caracterizando assim, o que Foucault (1977, p. 239), à sua crítica ao poder punitivo e

às prisões em Surveiller et Punir (1975), chamou de iso o fis oà efo ista , ou seja,

o constante esforço de reiteração em um projeto reconhecidamente fracassado, de

modo que, na atualidade recente, esta crise se espraia e resta patente tanto a nível de

execução quanto de aplicação das penas.

A explicação provém de Cirino dos Santos (2012): (a) na execução, fracassa em

suas funções a pena a partir de um duplo processo de transformação constituído na

desculturação, ou seja, perda progressiva dos valores sociais, e na aculturação, que, a

partir do fenômeno da prisonização ou prisonalização, opera segundo o aprendizado

dos códigos de conduta e valores inerentes à vida intra-prisional; (b) na aplicação,

explicita-se tensão entre a aparência do devido processo legal e a realidade do

exercício do poder de punir, no primeiro, verifica-se um discurso dogmático penal e

processual penal que deduz critérios de justiça pautados na racionalidade, crime como

realidade ontológica pré-constituída e um sistema penal imparcial, no segundo

momento, a Criminologia Crítica mostra o crime como realidade atribuída a

determinados fatos e a criminalização como bem social negativo distribuído

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desigualmente e, finalmente, o sistema criminal como instituição ativa na

transformação do criminoso.

E ainda, sob o viés garantista de tutela de liberdades individuais do cidadão

frente ao poder punitivo estatal, ao já exposto, acrescenta Ferrajoli (2010b) que o

Estado, além de não ter o direito de obrigar os cidadãos a não serem ruins, podendo

somente impedir que se destruam entre si, não possui, igualmente, o direito de alterar

– reeducar, redimir, recuperar, ressocializar – a personalidade dos réus. Porque, por

fim, o cidadão tem o dever de não cometer crimes e o direito de ser internamente

ruim e de permanecer como de fato é, somente podendo o Estado vir a intervir, no

exercício do ius puniendi, se o indivíduo vier a violar bem jurídicos de terceiros

(princípio da lesividade do Direito Penal).

3.2. CRÍTICA À PREVENÇÃO GERAL

A prevenção geral, na mesma condição de teoria relativa da pena, também

pode ser estudada sob dois aspectos: o positivo, também chamado de função

integradora, se presta a evidenciar a sociedade a necessidade de respeito aos valores

sociais, de modo a contribuir assim para uma visão de integração social, já que o

sistema-penal busca a tutela dos bens jurídicos; já o negativo, exerce-se a partir da

repressão, isto é, a quando da reclusão propriamente dita daquele que delinque, que,

então, torna-se exposto, servindo de exemplo para que os demais cidadãos não

venham a cometer delitos antevendo desde já as conseqüências jurídico-penais de

tanto.

A vertente positiva, considerada enquanto estabilização social normativa,

demonstra que o Estado não parece interessado em soluções sociais reais, mas em

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soluções penais simbólicas, que protegeriam complexos funcionais (ex. meio

ambiente), e não bens jurídicos individuais (ex. patrimônio), de modo que o conceito

de integração-prevenção, introduzido pelo direito penal simbólico na moderna teoria

da pena, como adverte Cirino dos Santos (2012), cumpriria o papel de escamotear a

relação da criminalidade com as estruturas sociais desiguais das sociedades modernas,

instituídas pelo direito e, em última instância, garantidas pelo poder político do

Estado .

Dentre alguns pensamentos dissidentes11, parte dos penalistas – como é o caso

de Queiroz (2011) –, inclusive, considera que o Direito Penal do Inimigo de Günther

Jakobs se apropria da função preventiva geral positiva, porque, inspirado no ideário de

Niklas Luhmann, de modo que para aquele a norma penal constitui uma necessidade

funcional/sistêmica de estabilização de expectativas sociais por meio da aplicação de

penas ante as frustrações que decorrem da violação das normas. Portanto, pautado na

concepção luhmanniana de Direito enquanto instrumento de estabilização social12.

A variação negativa se demonstra como fracasso patente porque afronta

diretamente a nova sistemática constitucional inaugurada em 1988 com o princípio da

dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, Constituição da República), valor maior da

11
Pensamento contrário é o de Zaffaroni (2001, p. 86-87) que ao tratar da aplicação do funcionalismo
sistêmico no discurso jurídico-penal, contrariando a suposta prevenção geral positiva que muitos
atribuem ao Direito Penal do Inimigo, afirma que: a pe a dei a de pe segui fi s p e e ti o-gerais
(admite-se que não evita que outros cometam delitos, mas isso não interessa), nem especiais (também
se ad ite ue ão e ita ue o auto o eta o os delitos, e ta pou o isto i po ta) , po ue o o jeti o
o ga a ti o o se so , ou seja, o e uilí io do siste a .
12
Para compreender as teorizações de Jakobs e Luhmann, vide Günther Jakobs em Direito Penal do
Inimigo ,à ªàed.,àRio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, Oà ueàp otegeàoàDi eitoàPe al:àosà e sàju ídi osàouà
aà ig iaà daà o a? , in: Direito Penal e Funcionalismo, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, e
Eduardo Lynett, em I t oduçãoà à o aà deà Gü the à Jako s , in: Direito Penal e Funcionalismo, Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2005; e Niklas Luhmann, em Introdução à Teoria dos Sistemas ,
Petrópolis, RJ: Vozes, 2009 (Coleção Sociologia) e Sociologia do Direito I , trad. BAYER, Gustavo. Rio de
Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983.

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democracia e fundamento do Estado de Direito, já que, in casu, o ser humano, a partir

das atitudes estatais, passa a ser meio e não fim (em sentido categórico kantiano), e,

portanto, alijando a partir do processo de objetificação, já que suas dores e

sofrimentos pessoais, enquanto estigmas inerentes à prisão, passa a ser considerado

e e ploàpa aàosàde ais ouà e oà odeàe piató io àe e plifi ati oàdoàpode àpe al.

4. TEORIA AGNÓSTICA DA PENA E CONSTITUIÇÃO: EM BUSCA DE UM PROJETO

POLÍTICO DE REDUÇÃO DE DANOS A PARTIR DA DESLEGITIMAÇÃO

É a partir da problematização do sistema penal e do poder punitivo e do

diagnóstico de seu atual estágio de perda de legitimidade 13 com que opera seu poder

intervencionista e seletivo de penar, bem como, tendo-se em vista a atual normativa

internacional dos sistemas internacionais e regionais de proteção dos direitos

humanos com vinculação cogente em âmbito interno dos países signatários dos

diversos tratados que visem tal fim (tutela do humano), que se verifica a necessidade

de se estabelecer uma política punitiva de redução de danos.

Uma vez verificada a falibilidade das funções declaradas da teoria da pena

(prevenções gerais e especiais), sucumbidas frente às preponderantes funções reais,

não declaradas (difusão da violência e da criminalidade, etc.), conforme explicam

Zaffaroni, Batista, Alagia & Slokar (2011, p. 98, grifo nosso): Nãoà seà t a spõeà esseà

atoleiro com uma nova teoria punitiva, mas sim apelando para uma teoria negativa ou

agnóstica da pena , isto é, deve-se ensaiar – conforme explicam os autores – uma

construção que surja do fracasso de todas as teorias positivas (por serem falsas ou

13
No melhor sentido, vide Euge ioà‘aúlà)affa o i,àe à E à us aàdeàlasàPe asàPe didas:àDeslegiti a ió à
y Dogmatica juridico-pe al , 2ª. Buenos Aires: Adiar, 1998.

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não-generalizáveis) em torno de funções manifestas, concluindo que adota do-se

uma teoria negativa, é possível delimitar o horizonte do direito penal sem que seu

recorte provoque a legitimação dos elementos do estado de polícia próprios do poder

pu iti oà ueàlheàto aàli ita (ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA & SLOKAR, 2011, p. 94).

É dizer que, conforme explicam os autores, se não são conhecidas todas as

funções que a pena cumpre, porém aquelas atribuídas pelo direito penal, mediante

teorias positivas, são falsas ou, pelo menos, não-generalizáveis, urge concluir pela

procura de um conceito de pena delimitador do universo do direito penal por um

caminho diverso de suas funções.

Esta teoria se coloca como uma alternativa de reflexão às concebidas funções

declaradas não realizáveis da pena, afirmando não existir nenhuma função positiva à

pena, de modo que é denominada de agnóstica14 quanto à sua função, pois confessa

não conhecê-la (ZAFFARONI, BATISTA, ALAGIA & SLOKAR, 2011, p. 100).

14
Defi eà áBBáGNáNOà ,à p.à :à áGNO“TICI“MOà i .à Agnosticism; fr. Ag-nosticisme, ai.
Agnosticismus-, it. Agnosticismó). Esse termo foi criado pelo naturalista inglês Thomas Huxley em 1869
(Collected Essays, V, pp. 237 ss.) para indicar a atitude de quem se recusa a admitir soluções para os
problemas que não podem ser tratados com os métodos da ciência positiva, sobretudo os problemas
metafísicos e religiosos. O próprio Huxley declarou ter cunhado esse termo "como antítese do 'gnóstico'
da história da Igreja, que pretendia saber muito sobre coisas que eu ignorava". Esse termo foi retomado
por Darwin, que se declarou agnóstico em uma carta de 1879- Desde então o termo foi usado para
designar a atitude dos cientistas de orientação positivista em face do Absoluto, do Infinito, de Deus e
dos respectivos problemas, atitude essa marcada pela recusa de professar publicamente qualquer
opinião sobre tais problemas. Assim, foi chamada da agnóstica a posição de Spencer, que, na primeira
parte dos Primeiros princípios (1862), pretendeu demonstrar a inacessibilidade da realidade última, isto
é, da força misteriosa que se manifesta em todos os fenômenos naturais. O fisiólogo alemão Du-Bois
Raymond, num texto de 1880, enunciava Os sete enigmas do mundo (origem da matéria e da vida;
origem do movimento; surgimento da vida; organização finalista da natureza; surgimento da
sensibilidade e da consciência; pensamento racional e origem da linguagem; liberdade do querer), em
face dos quais ele achava que o homem estava destinado a pronunciar um ignorabimus, já que a ciência
nunca poderá resolvê-los. No mesmo período, essa palavra foi estendida para designar também a
doutrina de Kant, porquanto esta considere que o númeno, ou a coisa em si, está além dos limites do
conhecimento humano (v. NÚMENO). Mas essa extensão da palavra não pode ser considerada de todo
legítima, dada a concepção kantiana de númeno como conceito-limite. É parte integrante da noção de
A. a redução do objeto da religião a simples "mistério", em cuja interpretação os símbolos usados são de
todo inadequados .

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Daí que, se não existe fundamentação jurídica legítima, parece estar certo

Barreto (2000, p. 178) para o qual: Oà o eitoà deà pe aà ãoà à u à o eitoà ju ídi o,à

asà u à o eitoà políti o . Explica que a pena não tem força para restabelecer o

direito violado, de modo que o interesse jurídico, em um assassinato, v. g., exigiria que

o assassino fosse considerado vivo e perpetuamente condenado a trabalhar em

benefício dos parentes do morto, ou da nação prejudicada pelo aniquilamento de uma

vida humana, que entretanto não seria uma pena, mas somente o pagamento de uma

dívida, e deixar-se-ia bem incluir no direito das obrigações, porém não no Direito

Penal. Assim, sentencia: ue àp o u aàoàfu da e toàju ídi oàdaàpe aàde eàta à

p o u a ,à seà à ueà j à ãoà e o t ou,à oà fu da e toà ju ídi oà daà gue a (BARRETO,

2000, p. 178).

Assim, Carvalho (2011, p. 150) explica que o projeto de minimização do

sofrimento imposto pela pena ag egadoà à egati açãoà dasà iol iasà pú li aà eà

privada ilegítimas, possibilita a negativa explícita de qualquer modelo justificacionista,

relocando o p o le aà daà sa çãoà pe alà daà esfe aà ju ídi aà à políti a . Deste modo, a

estratégia de limitação de violência – na busca pela redução de danos – estaria

direcionada à própria contração da política, enquanto limitação do atuar punitivo,

judicial e administrativo.

Neste limiar, Carvalho (2010, p. 149) conclui que reduzir dor e sofrimento

(danos) seria o único motivo de justificação da pena nas atuais condições em que é

exercida, principalmente nos países periféricos .

Assim, a partir da concepção agnóstica da pena, isto é, refletindo-se que a pena

não cumpre suas funções declaradas, mas tão apenas opera infligindo dor e

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sofrimento, retrata Zaffaroni (1998) o pensamento de Thomas Mathiesen, o qual

sugere uma revolução permanente e sem limite visando à abolição do cárcere,

materializada em medidas como, v. g., o melhoramento de condições de vida,

ampliação do regime de visitas carcerárias, aumento da constância e do período de

saídas temporárias, etc., valorizando muito mais a indenização das vítimas que a

punição ao condenado através de compensação financeira pelo Estado, instituição de

sistema de seguro simplificado e apoio econômico em casos de luto, e de Louk

Hulsman15, o qual propõe investimentos em mecanismos de compensação, de

mediação, de conciliação, de arbitragem, de terapia, de educação, etc., propugnando

uma inversão da lógica punitiva, inclusive no que diz respeito à ampla

descriminalização e descarcerização, verificando com lucidez e consciência que

problemas sociais não são resolvidos pela pena de prisão.

5. CONSIDERAÇÕES ÚLTIMAS (?)

Na realidade marginal latino-americana, o Brasil, em números, apresentou em

2012, população carcerária no total de 549.577 pessoas reclusas, parcela altamente

significativa frente à totalidade de cidadãos brasileiros constatada neste mesmo ano

(190.732.694), representativo de 288,14 pessoas reclusas para cada 100.000

habitantes16. A quarta maior população carcerária do mundo (!)17, tendo alcançado em

julho de 2011, a marca de 513.802 presos. Para uma população de 190.732.694

habitantes, isso significava uma taxa de 269,38 presos por 100 mil habitantes.

15
Por uma visão global sobre as grandes contribuições de Hulsman para o pensamento das ciências
criminais, a partir de uma perspectiva abolicionista, vide T i utoàaàLoukàHuls a à NiloàBatista & Ester
Kosovski, Org.), Rio de Janeiro, Revan, 2013.
16
vide Relatórios Estatísticos - Analíticos do sistema prisional, do Ministério da Justiça, Departamento
Penitenciário Nacional/DEPEN, conforme o InfoPen (jun/2012), disponível em: http://portal.mj.gov.br.
17
vide International Centre for Prision Studies, em E ti e Wo ld – P iso Populatio Totals , disponível
na web: http://www.prisonstudies.org/info/worldbrief/wpb_stats.php?area=all&category=wb_poptotal

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Nesta estimativa, em termos globais, o Brasil fica atrás apenas dos Estados

Unidos (2.266.832 presos), China (1.650.000) e Rússia (747.100). Em 2000, a população

encarcerada no Brasil era da ordem de 232.755 (taxa de 134 presos por 100 mil

habitantes), o que mostra que no espaço dessa década ela dobrou 18.

Sob a ótica de uma leitura marginal consciente da realidade da América Latina,

e, portanto, que identifica a perda de legitimidade de seu poder punitivo, seletivo por

atu eza,à ueàope a,àso etudo,àpo à pe asàpe didas à ZAFFARONI, 1998), verifica-se a

inserção do Brasil na ampliação da rede do poder punitivo característico da

contemporaneidade (a Era do Punitivismo).

O fenômeno se espraia nas três esferas do poder público, a exemplo da

contínua criação de novos tipos penais abarcando condutas que poderiam ser

tuteladas pelo Direito Civil ou Administrativo (ex. delitos patrimoniais não violentos) e

legislações de combate restritivas de garantias fundamentais (ex. Lei Antidrogas)

(poder legislativo)19, intervenções das agências policiais cada vez mais pautadas em

sua seletividade estrutural, racista, sexista e classista (poder executivo) e a cominação

de penas desproporcionais e não uso do controle incidental de constitucionalidade por

parte dos julgadores no uso de dispositivos do Código de Processo Penal

patentemente inconstitucionais, característicos da cultura inquisitorial inerente aos

18
Neste sentido, vide Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP. 5º Relatório Nacional sobre os
Direitos Humanos no Brasil (2001-2010). Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP,
CEPID/FAPESP/INCT/Urbania, São Paulo, 2012, p. 153. Para além das estatísticas, um estudo minucioso
sobre a criminalidade e violações de Direitos Humanos no Brasil.
19
Em tempos de discussão sobre proposta de Novo Código Penal (Projeto de Lei 236/2012, rel. senador
Pedro Taques/PMDB-MT), tais estão sendo intensamente debatidas, a propósito, bastante necessária a
leitura da Edição Especial da Revista Liberdades, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim),
que vem tratando especificamente da Reforma Penal, com artigos dos eméritos Gustavo Quandt, Luís
Greco, Paulo Busato, entre outros, e está disponível na web, podendo ser acessada a partir do link a
seguir: http://www.ibccrim.org.br/site/revistaLiberdades/_pdf/10A/integra.pdf.

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te posà deà Ditadu aà ilita ,à dei a do,à po ta to,à deà faze à oà de idoà i o à

constitucional das normas infraconstitucionais que atentem contra a Constituição e

suas diretrizes organizacionais de um Estado democrático de direito (poder judiciário).

À luz da realidade, a partir do cogente respeito do humano a partir

internacionalização dos direitos humanos, conforme a assinatura de diversos tratados

e convenções internacionais que asseveram a vedação às penas cruéis e desumanas,

ou quaisquer outras formas ilegítimas de tratamento, constatou-se, a partir dos

aportes criminológicos como contribuição à Política Criminal (Ciências Criminais

integradas), que a teoria da pena, como consagrada doutrinariamente, é irrealizável e

não cumpre com seus fins declarados, senão com os reais, não declarados, e isto o faz

por excelência.

Situando-se, assim, desde Barreto (2000), a pena não se constitui no âmbito do

jurídico, senão no do político, não possui outra função senão a de reduzir ao máximo a

violência, dor e sofrimento, e, sendo assim, a partir de Zaffaroni, Batista, Alagia &

Slokar (2011), frente à atual situação, se propôs uma reflexão de uma teoria política de

redução de danos (teoria agnóstica da pena), como uma técnica de contenção da

violência a partir da contração do político, após conceber a pena como não situada em

razões jurídicas e, assim, buscar-se ao máximo, senão a abolição, medidas

progressivamente destituidoras desta forma de punição.

A bem da verdade, conforme esclarece Ferrajoli (2010, p. 319) aàsegurança e a

liberdade de cada um são, com efeito, ameaçadas não apenas pelos delitos, mas

também, e freqüentemente, em medida ainda maior, pelas penas despóticas e

excessivas, pelasàp isões , e assim, define: po àa ueleà o ju toàdeài te e çõesà ueà

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seà de o i aà justiçaà pe al ,à eà ueà tal ez,à aà histó iaà daà hu a idade,à te haà ustadoà

aisàdo esàeài justiçasàdoà ueàtodosàosàdelitosà o etidos (FERRAJOLI, 2010, p. 319).

Por todo o exposto, se conflui com Zaffaroni (2007, p. 172) que a função do

direito penal de todo Estado de direito (da doutrina penal como programadora de um

exercício racional do poder jurídico) deve ser a redução e a contenção do poder

punitivo dentro dos limites menos irracionais possíveis , de modo que, a partir deste

discurso crítico, em vista do desvelo das funções da pena, se propõe a reflexão sobre a

criação de gradativas medidas e mecanismos descarcerizadores e abolicionistas da

pena privativa de liberdade, não cabendo a esta crítica resolver-se em si mesma, senão

propor reflexão inclusive sobre a eficácia e validade de si própria, concebendo assim,

não apenas o marco da crítica, mas também da autocrítica.

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