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presente em Lucas 14:28-33. Na verdade não se trata de apenas uma parábola, mas
duas parábolas, porém ambas estão intimamente ligadas de modo que uma
complementa a outra.
Assim, embora existam algumas diferenças naturais entre essas duas parábolas,
seguramente podemos entender que elas transmitem, com aspectos diferentes, o
mesmo ensino e significado.
Portanto, uma interpretação correta dessas parábolas de Jesus exige uma
exposição indivisível das duas parábolas, e é por isso que muitos comentaristas as
apresentam como uma única parábola.
28 Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para
calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?
29 Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os
que a virem zombem dele,
30 dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32 Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo
condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode
ser meu discípulo.
Introdução
A. Essas duas parábolas que são o objeto da nossa atenção agora se encontram,
exclusivamente, no evangelho de Lucas, como acontece com várias outras parábolas.
B. Essas parábolas foram contadas por Jesus em sua última viagem da Galileia para a
cidade de Jerusalém. A descrição dessa ultima viagem ocupa uma porção bastante
extensa do Evangelho de Lucas. Durante todo o período dessa viagem Jesus esteve
sempre acompanhado por grandes multidões.
C. É inegável que nos corações daquele povo que acompanhava a Jesus, existia um
genuíno anseio que, quando chegassem a Jerusalém, Jesus iria estabelecer seu reino.
Essa era a maior motivação das pessoas em acompanhá-lo na longa e vagarosa jornada
até a cidade do rei Davi.
D. Mas como já sabemos os planos de Jesus não eram bem esses. Ele não estava se
dirigindo para Jerusalém para ocupar nenhum trono secular. Antes, ele estava se
dirigindo para Jerusalém sabendo que, uma vez ali, seria preso, julgado, condenado e
crucificado sobre uma cruz.
E. Jesus então conta essas duas parábolas, para que as multidões que o seguiam, com
o objetivo de ensiná-las acerca do verdadeiro custo do discipulado, antes mesmo que
decidissem lançar suas vidas para se identificarem com Jesus.
F. Um excelente exemplo pessoal que temos dessa realidade poder ser visto na obra
de Dietrich Bonhoeffer intitulada “O Custo do Discipulado”[1]. Nesse livro Bonhoeffer
nos fala da entrega da própria vida ao Senhor e do custo do discipulado, que no caso
específico dele, custou sua própria vida, pois foi executado em 9 de Abril de 1945,
numa prisão alemã, por se posicionar claramente contra o regime nazista de Adolfo
Hitler.
I. Jesus quer nos ensinar que à parte de sua pessoa, todo o resto deve sempre ocupar o
segundo ou terceiro plano em nossas vidas. Somente o que vive, no dia a dia, a
realidade de ter a Jesus como sua prioridade número um, está realmente pronto e
capacitado para, verdadeiramente, seguir ao Senhor.
J. Ser discípulo de Jesus significa tomar a própria cruz — dia a dia — e seguir a Cristo
aonde quer que ele vá ou nos ordene ir. Jesus contrapõe duas verdades fundamentais
— Mateus 11:28 —
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. E
Lucas 14:17
27 E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.
I. As Duas Parábolas
1. Com o objetivo de ilustrar o que Ele — Jesus — queria ensinar, o Senhor contou
duas parábolas, relativamente curtas. A primeira é emprestada do cenário agrícola
daqueles dias, e a segunda de um fato político sem relação com a palestina ocupada.
As duas parábolas têm um mesmo objetivo: ensinar uma mesma e única lição de forma
prática.
2. Jesus usa seus próprios ouvintes como parte da história que irá narrar. Ele começa
com uma suposição verossímil que envolve uma tomada de decisão da parta de um
fazendeiro que pretende construir uma torre em suas próprias terras. As torres
naqueles dias tinham o propósito de guarda as ferramentas, os equipamentos e as
provisões da família. Sua intenção era proteger esses elementos da ação de ladrões
que não faltavam naquela região. Ele sabe que se construir a torre, aumentará seu
conceito, do ponto de vista social e também que sua propriedade terá seu valor
aumentado.
3. O fazendeiro reconhece a necessidade que tem de construir a torre, mas ele não
senta para calcular o custo do material e da mão de obra envolvidos no processo. O
custo maior duma torre desse tipo era o alicerce. E possível que o fazendeiro tivesse
ignorado o mesmo, já que ele não fica visível depois de uma determinada fase da
construção.
4. Ele então prepara o terreno e começa a construção pelo alicerce. Depois, quando
passa para a construção da estrutura em si, ele se dá conta que o dinheiro acabou e
ele precisa abandonar seu projeto. A torre inacabada produz, então, efeitos contrários
aos esperados: em vez de ser louvado, o fazendeiro fica envergonhado. E em vez de
ter sua propriedade valorizada, a torre inacabada não faz nenhum sentido e termina
desvalorizando toda a propriedade. Todo o dinheiro do fazendeiro foi usado na
tentativa de construir uma torre que não pode ser usada porque está inacabada. Ele
perdeu seu prestígio na comunidade e todos zombam dele dizendo: Este homem
começou a construir e não pôde acabar.
B. A Parábola do Rei Guerreiro
1. A seguir a cena muda rapidamente, pois Jesus leva seus ouvintes de uma fazenda da
área rural para um palácio. A idéia básica é a mesma. Nesse caso trata-se de um rei
que precisa fazer guerra contra outro rei.
2. O motivo para tal guerra não é apresentado por Jesus. Mas como sempre acontece
nesses casos, sabemos que pode tratar-se de uma disputa territorial acompanhada de
palavras de hostilidade e de vingança que acabaram por ferir os egos das pessoas
envolvidas.
3. Como o líder de seu povo o rei em questão, precisa decidir se parte ou não para a
guerra. Ele sabe que seria uma verdadeira loucura tentar enfrentar o inimigo com a
metade da força contrária. O rei, então, provavelmente cercado por seus conselheiros,
senta-se e calcula os verdadeiros riscos de se envolver numa empreitada contra outro
rei que possui um exército que é o dobro do seu. Sendo homem prudente e
percebendo tratar-se apenas de uma aventura que custaria a vida de seus homens,
mas sem lhe dar a vitória, o rei decide então fazer o seguinte: manda uma embaixada
para pedir as condições para que haja paz entre os dois reinos.
4. Como podemos notar, a ênfase básica é idêntica nas duas parábolas, embora os
detalhes mudem de uma para a outra. Na parábola do fazendeiro temos um alerta da
parte de Jesus: avalie os custos antes de se envolver numa obra de construção. Já na
parábola do reio, o ensinamento é: considere a sua verdadeira chance de obter
sucesso, antes de sacrificar seus homens, e esteja sempre pronto e disposto a ceder.
5. Diante dessas duas histórias, as palavras finais de Jesus fazem perfeito sentido:
Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser
meu discípulo.
Conclusão:
B. Mas depois de refletir um pouco sobre as duas parábolas é impossível afirmar que a
intenção de Jesus era desencorajar, quem quer que fosse, de tronar-se um futuro
discípulos.
D. Jesus não quer e nem deseja ter um bando de seguidores cujos corações não
estejam completamente dedicados a Ele e Sua obra.
E. Seguidores desse tipo são como todos aqueles onde a semente plantada não foi
bem recebida pelo solo — corações duros, vida sem profundidade e encanto com as
coisas e os prazeres desse mundo. É preciso ter um coração dum certo tipo para
acolher bem a semente que representa a palavra de Deus —
Lucas 8:15 “A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração,
retêm a palavra; estes frutificam com perseverança”.
F. Muitos ouvem a palavra de Deus, mas por diversos motivos não abrigam a mesma
de modo apropriado em seus corações — Mateus 13:20—21
20 O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo,
com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a
angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do
mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.
G. É preciso ter uma atitude correta para receber a Palavra de Deus de modo que a
mesma se torne frutífera em nossas vidas — Tiago 1:18, 21—22
18 Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que
fôssemos como que primícias das suas criaturas.
21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com
mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a
vós mesmos.
H. E outra vez o apóstolo Pedro insiste nessa mesma ideia — 1 Pedro 2:1—2
2. O verdadeiro discípulo de Jesus deve estar disposto a renunciar a tudo para seguir o
Senhor.
J. Nenhuma decisão daqueles que desejam seguir a Jesus pode estar baseada em
emoções fingidas ou num entusiasmo superficial. São esses que vêm e vão. São esses
que já rodaram pelo verdadeiro “mundo” de igrejas que existem por aí.
L. Jesus repete por três vezes o refrão: “NÃO PODE SER MEU DISCÍPULO” — VER Lucas
14:26—27, 33.
M. Aqui não podemos ter dúvidas: somente aqueles que avaliam o custo, de modo
apropriado e estão dispostos a renunciar a tudo por causa de Cristo é que são os
verdadeiros discípulos. Os outros todos estão apenas se enganando a si mesmos.
O cenário dessa breve, porém, notável parábola, é encontrado no ensinamento de
nosso Senhor sobre o renunciar a si mesmo como condição indispensável para ser o
seu discípulo. Todos os que participam de sua Ceia (Lc 14:24) devem considerar o
custo de estar em comunhão plena com ele. A exigência de entregarmos o coração
completamente está aqui numa forma mais forte do que estava num apelo
semelhante que fora feito anteriormente (Mt 10:37-39), e aqui é dirigida não apenas
aos seus discípulos, mas à grande multidão de seguidores ansiosos, porém indecisos. O
momento dele carregar a sua própria cruz tornava-se a cada dia "mais nítido e terrível,
à medida que se aproximava"; por isso, o seu apelo a todos os que desejavam segui-lo,
a fim de dizer-lhes que deveriam carregar a cruz deles mesmos, adquiria um
significado mais profundo.
Para reforçar a sua exigência, Cristo transmitiu duas parábolas bem contundentes
sobre a construção e a batalha. Campbell Morgan compara, contrasta e desenvolve a
idéia de que a construção de uma torre é um trabalho construtivo; no entanto, lutar
numa batalha é um trabalho destrutivo. Quando separamos as duas parábolas uma da
outra, entendermos o significado simbólico do construtor da torre. Se você for um
pregador do evangelho, assegure-se de ler o sermão com toque de mestre que C. H.
Spurgeon transmitiu sobre essa parábola, no qual ele trata até certo ponto desses três
pontos principais:
Em sua introdução a esse sermão sobre Counting the cost [Avaliando o custo], esse
famoso pregador do evangelho, ao discutir o processo de seleção do nosso Senhor, diz:
"O Mestre era sábio demais para se sentir orgulhoso sobre o número de seus
convertidos; ele se preocupava mais com a qualidade do que com a quantidade. Ele
sentia grande alegria por um pecador que se arrependia; porém dez mil pecadores, os
quais somente o faziam da boca para fora, não lhe dariam nenhum tipo de alegria. O
seu coração ansiava pelo que era verdadeiro, e ele tinha aversão ao falso; ele pulsava
pelo conteúdo real, e não se satisfazia com a sombra".
Em virtude do seu conhecimento dos assuntos locais, é bem possível que Cristo tenha
transmitido a Parábola da torre, a partir de um fato recente. Provavelmente Pilatos
tinha começado a construir um aqueduto, ou algum tipo de torre, mas não teve
condições de terminar. Esse governante talvez não tenha avaliado o custo e também
não pôde usar o dinheiro do tesouro do templo, e assim contemplou a diluição de seus
recursos, e o projeto de construção foi abandonado. Essa insensatez tem acontecido
muitas vezes com os que não tiveram a sabedoria de calcular tudo o que seria
necessário para terminar um projeto. A história aponta para muitas torres inacabadas,
monumentos surpreendentes à loucura de não fazer a necessária preparação com
antecedência.
O que nada custa também não tem valor algum. O discipulado, para o qual Cristo nos
chama, significa uma vida em que as exigências de Jesus devem ocupar o primeiro
lugar. Se ele não for o Senhor de tudo, então ele não é Senhor de nada. Mas se
calcularmos o custo de uma rendição total às suas exigências como Rei, contaremos
também com a graça, o auxílio e o alívio que precisarmos, por completamente nos
identificarmos com ele. No meio de todo esse alto preço da devoção à vontade e ao
propósito divinos, Jesus nos deixou um exemplo para que sigamos os seus passos.
Cristo nunca pede de nós algo que ele próprio não tenha feito. Ele tem todo o direito
de pedir-nos que deixemos o nosso pai —ele deixou o seu e a sua casa, quando veio do
céu à terra. A sua mãe terrena, Maria, estava em segundo lugar para ele. Jesus a
reprovou quando fez a pergunta: "Não sabeis que me convém tratar dos negócios de
meu Pai?" Ele conhecia tudo sobre a vergonha, o desprezo, a humilhação e a angústia
que estão associados a uma vida vivida na vontade de Deus.
Por que ele deixou a morada de seu Pai? Para construir a torre de sua Igreja, cujos
planos foram traçados desde a eternidade. Mas, tanto o Pai como o Filho calcularam o
custo da construção de tal torre, a qual as portas do inferno não puderam destruir. O
preço gigantesco foi a humilhação voluntária e a morte redentora do Filho. Tal preço
foi estabelecido antes de Jesus assumir sobre si mesmo a semelhança de nossa carne,
porque, quando ele veio, foi como o Cordeiro morto antes da fundação do mundo.
Portanto, sobre o caminho do verdadeiro discipulado, podemos ver as marcas de seu
sangue, que nos chama para que O sigamos como ele seguiu o Pai. E, quanto a
completar a obra, Jesus é nosso Exemplo. Ele sabia tudo sobre a tarefa para a qual foi
enviado a realizar no mundo e, apesar dos demônios e dos homens, ele a cumpriu. Foi
grande o seu triunfo quando ele pôde clamar com grande voz: "Está consumado!", e
orar ao Pai: "Concluindo a obra que me deste para fazer" (Jo 17:4)