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FORTALEZA
2009
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FORTALEZA
2009
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BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Prof. Dr. José Roberto Feitosa Silva (Orientador)
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Biologia
______________________________________________
Prof. Dr. Eurípedes Antônio Funes
Universidade Federal do Ceará
Departamento de História
_______________________________________________
Prof. Ms. Alexandre Ferreira Lopes
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Biologia
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À minha mãe,
simplesmente por tudo.
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AGRADECIMENTOS
Aos sujeitos dessa pesquisa: Dona Isabel, Seu Euclídes, Seu Antônio, Dona Soledade, Dona
Marineide, Seu Marcelo, Seu Didica, Seu Manel Marinheiro, Dona Raimunda, Dona Lourdes,
José Gonzaga, Seu Batista, José Correia, Seu Zé de Chiquim, Seu Raimundo (Xerim), João de
Sunsão, Chico de Lôra (Seu Francisco) e Dona Edite, a qual sou extremamente grata por todo
carinho, atenção e hospitalidade.
À Dona Edite, Nelson, Adriana, Gracinha, Andréa, João e todos da família, por me receberem
tão bem em sua casa.
Ao Prof. Dr. José Roberto Feitosa Silva, pela orientação, pelo ensino e troca de
conhecimentos, pelos momentos de atenção e de paciência, pelo carinho e pelo “livre”
desenrolar dessa pesquisa.
Ao Prof. Eurípedes Funes, pelo carinho e atenção e, principalmente, por me fazer olhar o
meio ambiente com outros olhares.
Ao Prof. Dr. Francisco José Bezerra Souto, pelas explicações, pela atenção e pelo incentivo
nas pesquisas etnobiológicas.
Ao Javan Pires e Amanda Silvino, por terem despertado em mim o interesse pela
etnobiologia.
Ao Adalberto Maciel Mano de Carvalho, pela atenção e pela ajuda prestada no processo de
preparação das exsicatas.
Ao Ciro Albano, por toda paciência e ajuda com a pesquisa e identificação das aves.
À Cristiane Xerez, pela atenção, pelo incentivo e ajuda na descrição dos moluscos.
Ao Thiago Holanda, pelo companheirismo, pela amizade, pelo carinho, pelas experiências de
vida e pela colaboração com a parte dos peixes.
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Ao Grupo Mangue Vivo, que ao longo de três anos, foi o responsável pela busca do
conhecimento a respeito dos manguezais, principalmente no manguezal do Rio Curu em
Paracuru, juntamente com o Grupo Manguezal, Povos e Mares.
Aos amigos que estavam sempre presentes ao longo de toda a graduação, ao longo de muitas
risadas e brincadeiras, de muitas histórias, experiências e aprendizados: Rono (Preto), Glauber
(Brad), Felipe (Ameba), André (Dedé), Felipe (Braguinha), Vitor (Vitim), Diego, Victor
César, Thais e Natássia.
Ao Caio Henrique, por ter me proporcionado um grande crescimento pessoal, por me fazer
encarar muitas coisas com outro ponto de vista, senão, tentar ao menos entender muitas
diferenças.
Às irmãs que parecem ser de um universo paralelo, cujos momentos são preciosos e
duradouros: Raquel (Digimon), Silvianne (Sil), Priscila (Pri), Bruna e Nair.
Ao meu irmão, Nikássio Freire, por todos as resistências psicológicas que me causou e pela
ajuda com a parte de informática.
À minha mãe, Maria da Conceição Freire, por todo o exemplo de esforço e determinação, por
todo carinho materno, por todos os ensinamentos de uma professora, por todos os
ensinamentos de uma mulher, pelo ‘mãetrocínio’ durante minha pesquisa e principalmente por
ser minha mãe e meu pai.
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RESUMO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
Lista de figuras
Lista de quadros
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................14
1.1 A relação homem & natureza e o estudo etnobiológico ....................................................14
1.2 Etnobotânica e Etnozoologia .............................................................................................16
1.3 As comunidades tradicionais .............................................................................................17
1.4 A relação homem e manguezal ..........................................................................................19
1.5 A Comunidade Sítio Cumbe ..............................................................................................21
1.6 Justificativa e objetivos ......................................................................................................24
2. METODOLOGIA …..........................................................................................................25
2.1 Métodos e técnicas de abordagem .....................................................................................26
2.2 Coleta de dados ..................................................................................................................28
2.3 Execução da pesquisa de campo ........................................................................................29
2.4 Estratégias de análise dos dados ........................................................................................32
APÊNDICES ….....................................................................................................................158
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1. INTRODUÇÃO
palavra “cultura” tem por significado o cuidado do homem com a natureza, o cultivo
(GONÇALVES, 2008).
Ao se procurar estudar mais essa relação homem e natureza, na década de
cinquenta, inicia-se uma linha de estudos nas academias, sobre a organização do
conhecimento nas populações não ocidentais, a sua visão de mundo e a ordenação cognitiva,
ou seja, como é a organização dos pensamentos a respeito do ambiente em que essas
populações vivem (HAVERROTH, 1997).
Esses estudos foram denominados de etnociências e que, nas suas origens, a etno-
ciência e as etno-x (onde x é uma disciplina da academia) enfatizavam os aspectos
linguísticos e taxonômicos, deixando para segundo plano a diversidade e a dinâmica das
relações “ser humano de uma dada cultura/natureza” (CAMPOS, 2002). O prefixo ethno tem
sido frequentemente utilizado por significar, de maneira sintetizada, os modos como as
sociedades compreendem o mundo (MARTIN, 1995).
Assim, a etnociência vem se constituindo, no panorama científico, em um diálogo
frutífero entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais (NISHIDA, 2005), que,
segundo Mourão e Nordi (2006), nos últimos anos, muitos pesquisadores tem dedicado seus
estudos aos sistemas populares de classificação e do seu universo biológico, constatando que
os seres humanos, em diversas partes do mundo, utilizam estratégias semelhantes para
classificar os seres vivos e organizar os conceitos biológicos.
Esses estudos podem seguir diversas linhas de pesquisa, como a “Ecologia
Humana dentro da Ecologia”, que procura compreender a relação da humanidade com os
recursos, incluindo os aspectos cognitivos, comportamentais e de conservação através de
áreas, como a Etnobiologia, a Sociobiologia e Coevolução Gens-Cultura, a Psicologia
Evolutiva e a Economia Ecológica, o Manejo e Conservação (BEGOSSI, 2004).
A Etnobiologia se origina da Antropologia cognitiva, em particular da
Etnociência, que busca compreender como o mundo é percebido, conhecido e classificado por
diversas culturas humanas. Ela tem como objetivo analisar a classificação das comunidades
humanas sobre a natureza, em particular sobre os organismos. Por isso, disciplinas como
Botânica, Ecologia e Zoologia são fundamentais, caso não se tenha a intenção de ter apenas
uma abordagem êmica, ou seja, aquela abordagem oriunda unicamente do meio acadêmico.
Além disso, a Etnobiologia procura compreender como se dá a percepção humana sobre os
recursos naturais, que processos orientam a classificação da natureza e os processos de
decisão sobre o uso dos recursos naturais (BEGOSSI, 1993; 2004).
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(atitudes) que intermedeiam as relações entre as populações humanas que os possuem com as
espécies de animais dos ecossistemas que as incluem pode ser definido como Etnozoologia.
A partir do estudo “As interações entre os seres humanos e os animais: a
contribuição da etnozoologia”, os autores Santos-Fita & Costa-Neto (2007, p. 102) fazem um
breve histórico dos esforços dos etnozoólogos em diversas áreas de pesquisa como:
a) percepção cultural e sistemas de classificação etnozoológicos;
b) importância e presença dos animais nos contos, mitos e crenças;
c) aspectos biológicos e culturais da utilização dos animais pelas sociedades
humanas; formas de obtenção e preparo das substâncias orgânicas extraídas dos
animais para fins diversos (cosmética, ritualística, medicinal, alimentar etc.);
d) domesticação, verificando as bases culturais e as consequências biológicas do
manejo dos recursos faunísticos ao longo do tempo;
e) heterogeneidade biológica e processos cognitivos envolvidos no manejo e
conservação dos recursos; técnicas de coleta e seu impacto sobre as diferentes
populações animais.
importância dos símbolos, mitos e rituais associados às suas atividades; pela utilização de
tecnologias simples, com baixo impacto sobre o meio; pela auto-identificação, ou pela
identificação por outras pessoas de pertencer a uma cultura diferenciada; entre outras
características (DIEGUES & ARRUDA, 2001).
As comunidades tradicionais não convivem apenas com a biodiversidade, mas
também nomeiam e classificam as espécies vivas de acordo com suas próprias categorias e
nomes. Para essas populações, a biodiversidade pertence tanto ao domínio do natural como ao
cultural, entretanto é a cultura, como forma de conhecimento, que permite as populações
tradicionais entendê-la, representá-la mentalmente, manuseá-la, retirar suas espécies, colocar
outras, enriquecendo-a, com frequência (DIEGUES et al., 1999).
A capacidade que as comunidades tradicionais possuem de se relacionar com o
meio ecológico complexo, identificando, por exemplo, as diferenciações na fauna e na flora,
as diversas espécies existentes, suas formas de vida e funções, pode ser considerada prova do
patrimônio cultural, graças a um saber prático que valoriza e preserva os ecossistemas e que,
muitas vezes, é visto como práticas improdutivas pelas sociedades modernas (CASTRO,
2000).
Os conhecimentos tradicionais são fruto de um processo social de aprendizado, de
criações, de trocas e desenvolvimentos transmitidos de geração para geração. É possível
admitir a transmissão desse conhecimento, mas não a apropriação sob forma de patentes, sem
considerar as características peculiares que possuem. Assim como foram gerados e
transmitidos no decorrer de sua história, também devem ser protegidos como fruto da história,
como construção histórica e patrimônio histórico (KRETZMANN, 2007).
Cunha (2004), ao discutir sobre tradição ou os “povos da tradição” em
movimento, cita Bornheim (1987), o qual recorre ao sentido etimológico da palavra tradição
que no latim traditio significa igualmente entregar, ou seja, designa o ato de passar algo para
outra pessoa, ou de passar de uma geração a outra. Dessa forma, a autora ressalta que a
tradição é algo dinâmico, algo que transita, que se movimenta.
O tradicional utilizado nesse tipo de conhecimento não é a sua antiguidade, mas a
maneira como esse conhecimento é gerado, transmitido e colocado em prática, como afirmam
Fernandes-Pinto & Marques (2004).
No caso de comunidades tradicionais e, mais especificamente, de cultura
tradicional dos pescadores artesanais, Cunha (2004) verifica uma noção tridimensional do
espaço, que abrange seus distintos domínios de vida - mar, terra e céu - dotados de
significados.
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amplo conhecimento acerca dos componentes bióticos e abióticos que integram esse
ecossistema.
Esse manguezal é um ecossistema que se caracteriza pela alta produtividade de
suas grandes populações biológicas. Desde o ponto de vista ecológico-antrópico, já é
reconhecido que o manguezal presta um conjunto de bens e serviços gratuitos, como
depuração e reciclagem de dejetos, estabilização da linha da costa contra a invasão do mar,
proteção contra a erosão das margens dos rios, regulação de ciclos biogeoquímicos, berçário
de muitas espécies e contribuição para a cadeia alimentar das águas costeiras (SALDANHA,
2005).
É um ecossistema característico em regiões tropicais e subtropicais costeiras e
abrigadas, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, sujeito ao regime das marés,
sendo constituído por espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), micro e macroalgas
(criptógamas) adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem
sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio, além de ser um
ambiente que apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de
muitas espécies animais, considerado, portanto, importante transformador de nutrientes em
matéria orgânica e gerador de bens e serviços (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).
O Brasil, segundo dados do UICN – União Internacional para Conservação da
Natureza (1983), apresenta cerca de 25.000 km2 de manguezais, sendo, portanto, o país com a
mais extensa área de manguezais do mundo (DIEGUES, 2001). No Brasil, os manguezais são
encontrados ao longo de praticamente todo litoral, desde o Amapá até Laguna, em Santa
Catarina (YOKOYA, 1995).
A partir da década de 70 do século XX, os manguezais e os “povos da lama”
(aqueles que tiram do manguezal o seu sustento e tem certamente um passado e uma história
não devidamente registrados) são descobertos por segmentos da comunidade científica e
acadêmica. Logo vários trabalhos são publicados, e eventos são realizados em diversos pontos
do Brasil, enfocando essa população que depende diretamente do manguezal (SOFFIATI,
2006).
Tal interesse da comunidade científica se deve tanto pelo conhecimento que esses
“povos da lama” ou “civilização do mangue” (DIEGUES, 2001) possuem a respeito do
ambiente, como também pelo aumento da exploração dessas áreas de manguezais, seja pela
extração de madeira de mangue para a construção civil, ou seja, por diversos outros impactos
pelos quais essas áreas estão sofrendo devido aos interesses econômicos, o que vem
acarretando uma série de desastres ecológicos e sociais nessas regiões.
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1
Áreas de Preservação Permanente (APP): localizadas ao redor de lagos, lagoas e ao longo de rios variando de
acordo com a largura de cada um; nas nascentes num raio mínimo de 50m; topo de morros; nas encostas; nas
restingas e manguezais; bordas de tabuleiros ou chapadas e em terrenos com declividade a partir de 45° (Código
Florestal de 1965).
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“A história do Sítio Cumbe nos revela, assim, que as marcas não são somente
materiais, as representações simbólicas se manifestam como parte essencial integrante das
relações materiais da sociedade local com a natureza” (QUEIROZ, 2007, p. 24).
Localiza-se no município de Aracati, litoral leste do Ceará e distancia-se 12km do
distrito-sede. O acesso para essa comunidade pode ser feito de duas formas, além do Rio
Jaguaribe; uma pelo Distrito-Sede de Aracati, por uma estrada carroçável, e a outra, pelas
dunas de Beirada e de Canoa Quebrada (LIMA, 2004). A área de estudo trata-se da
Comunidade Cumbe e do manguezal do estuário do Rio Jaguaribe (04º26’S a 04°32’S e
037°46’W a 037°48W).
Tendo em vista que a Comunidade Sítio Cumbe representa uma das grandes
riquezas biológicas e culturais de Aracati, bem como da história e da cultura do Ceará, é de
suma importância resgatar os conhecimentos que os habitantes dessa região possuem sobre o
seu ambiente, especificamente o ecossistema manguezal, que vem sofrendo grandes agressões
ao longo dos anos. Além do mais, pouco se conhece a respeito da fauna e da flora da região de
manguezal do Rio Jaguaribe, como também não se tem registro de estudo etnobiológico com
esse enfoque, no Ceará.
Foi escolhida a Comunidade Sítio Cumbe para a presente pesquisa, com o intuito
de se abordar alguns aspectos da etnobiologia, na busca do entendimento dos conhecimentos
tradicionais sobre o ecossistema manguezal.
Esse tipo de investigação promove o resgate dos conhecimentos a respeito do
manguezal, na comunidade, priorizando o conhecimento dos mais antigos, pois se acredita
que esses possuem um saber acumulado ao longo das gerações.
2. METODOLOGIA
como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeito-objeto da pesquisa que
vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada” (NETO, 1994, p. 51-66).
Existe um “continuum” de situações de entrevistas, em relação à quantidade de
controle que o pesquisador exerce sobre as respostas dos entrevistados (BERNARD, 1988
apud AMOROZO & VIERTLER, 2008). De acordo com a divisão desse “continuum” em
algumas formas de entrevistas, foram escolhidas para a presente pesquisa: a entrevista
informal, a entrevista não estruturada e a entrevista semi-estruturada. A entrevista informal é a
que se aproxima de uma conversa normal e foi utilizada no início da pesquisa como uma das
primeiras fases da observação participante, quando se está conhecendo a situação,
aumentando ou estreitando relações com informantes e detectando novos tópicos de interesse,
como afirma Amorozo & Viertler (2008).
Segundo Matos (2001), a entrevista não estruturada não é mais uma situação tão
informal, pois o pesquisador assume o papel de entrevistador e seu interlocutor de
entrevistado. É baseada em um plano geral claro, porém com um controle mínimo sobre as
respostas dos informantes. Assim, é possível atentar-se melhor às expressões, termos
utilizados e ritmo de conversa. Esse tipo de entrevista foi utilizado nos encontros seguintes,
com os informantes identificados, quando foram iniciados alguns questionamentos mais
direcionados, deixando-se, porém, que os informantes estivessem à vontade para falarem do
que quisessem.
Por fim, na entrevista semi-estruturada, o assunto a ser abordado possui um foco
maior nas conversas, apesar dos informantes ficarem à vontade para se expressarem como
bem entendessem. Esse tipo de entrevista baseia-se em um roteiro, que foi elaborado a partir
das entrevistas informais e não estruturadas, realizadas anteriormente. Esse roteiro foi
esquematizado em forma de quadros, em que cada entrevistado seguia uma ordem do que
antes já tinha sido comentado de forma mais aberta. Assim, foi possível complementar os
dados, acrescentando ou corrigindo informações.
Antes da aplicação dos formulários, nas entrevistas semi-estruturadas, foi
realizado com alguns dos entrevistados um pré-teste, conhecido também como estudo piloto
para garantir a qualidade, clareza, validade e confiabilidade do instrumento (COMBESSIE,
2004 apud ALBUQUERQUE et al., 2008b).
O material utilizado na pesquisa constou de um aparelho mp4 para gravação das
entrevistas, uma máquina digital para o registro fotográfico, formulários em forma de
quadros, fotos e figuras de animais para identificação de algumas espécies, junto aos
informantes. Para a coleta de material e o registro fotográfico do manguezal, foram realizadas
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A coleta dos dados etnobotânicos e etnozoológicos não difere muito com relação
às entrevistas informais, não-estruturadas e semi-estruturadas. Foi realizada com aplicação de
formulários que eram completados no decorrer das conversas com os informantes (Apêndices I e
II.), porém vale ressaltar algumas diferenças.
No mês de março de 2009, foi realizada uma visita de três dias, para obter dados
sobre a identificação de algumas aves, peixes e cobras, finalizando assim a coleta de dados.
Essa visita foi também realizada com o intuito de informar às pessoas que participaram das
entrevistas, o término da pesquisa e que, futuramente, seria mostrado para comunidade o
resultado final da pesquisa.
As entrevistas eram realizadas principalmente nas próprias residências dos
entrevistados (Fig. 02), pois assim acreditava-se que estariam mais à vontade. Os horários das
visitas eram sempre pela manhã, entre 8:30 e 11:30 e à tarde, entre 15:30 até 19h, horário
mais apropriado para se conversar, já que era mais fácil encontrar os entrevistados em suas
casas e sem muitas ocupações.
Simultaneamente às visitas de campo e às entrevistas, foi escrito um diário de
campo, em que estão descritos todos os momentos durante as visitas na comunidade, como
também feito o registro fotográfico e as gravações, representando, dessa forma, ferramentas
muito importantes para a pesquisa, contribuindo bastante na organização dos dados.
sincrônicas. Assim, a pergunta era feita a pessoas diferentes, em tempo bastante próximo
(MARQUES, 1991).
Esses dados foram observados mediante a construção de quadros de cognição
comparada, em que alguns trechos das entrevistas foram comparados com trechos da literatura
referente ao bloco de informação citada (MARQUES, 1995).
As entrevistas gravadas foram transcritas para complementar as anotações e
elaborar os quadros de cognição, enquanto que a identificação das espécies animais, a partir
de “pista taxonômica” foram realizadas comparando-se as descrições fornecidas pelos
entrevistados com a literatura científica pertinente, como também utilizando-se fotos e
desenhos das espécies. Entretanto a identificação das plantas foi realizada a partir de coleta de
exemplares que foram devidamente identificados e depositados no herbário.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os personagens da história são aqueles que fazem parte dessa pesquisa, a qual só
foi possível devido aos relatos desses sujeitos que vivem na Comunidade Sítio Cumbe, desde
que nasceram ou desde que eram muito novos, escutando as histórias de seus avós e pais.
Esses sujeitos, mais do que ninguém conhecem a região, as belezas e as riquezas naturais que
compõem o cenário do Cumbe.
Foram visitadas 18 pessoas (Fig. 03), porém as entrevistas, utilizando os
formulários da pesquisa de Etnobotânica e de Etnozoológica foi feita somente com 14 delas,
pois alguns dos informantes, devido à idade, não se lembravam mais dos animais e das plantas
do manguezal, ou eram pessoas que viviam apenas da agricultura.
Os relatos de todos os 18 informantes visitados foram de grande importância para
compreensão da história da região, desde os tempos dos índios, dos negros, das farturas dos
sítios e dos engenhos até os dias de hoje.
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Os relatos dos entrevistados sobre a história do Cumbe condizem com o que existe
na literatura, porém eles acrescentam, de forma preciosa, fatos vividos e aprendidos com os
mais velhos, numa época de verdadeiras transformações pelas quais a região passou e vem
passando, aliando as questões sociais às questões ambientais.
“Aqui tem histórias de índios, que já moraram por aqui... negócio de escravidão
também teve” (Antônio de Pedro).
algumas condições ecológicas que tanto singularizam a costa cearense, como a presença de
manguezais, foz de rios e algumas lagoas de água doce que ainda podem ser visualizadas
(VIANA & JUNIOR, 2008).
Figura 04. Vestígios arqueológicos encontrados nas dunas no Cumbe. a) Utensílio indígena. b) Fragmentos de
conchas de ostras.
Fotos: João L. Joventino.
Segundo os escritos de Antônio Bezerra (1918), por volta de 1.680, não existiam
brancos no Jaguaribe, nem mesmo próximo da barra, de onde começou a povoação de Aracati.
Os índios que habitavam a região eram Potiguar, Tapuia, Paiacú que “infestavam as ribeiras
do Assú, do Apodí e o baixo Jaguaribe”.
Os índios dependiam diretamente dos recursos oferecidos pela natureza, porém,
com a chegada do colonizador na região, essa relação homem e natureza mudou
drasticamente. As terras, os animais, as plantas e os minerais possuem agora um outro
significado, um outro valor para o “homem branco”, o não-indígena.
As primeiras ocupações pelos colonizadores foram realizadas por volta de 1.681,
quando o primeiro lote de terra foi doado ao capitão Manuel de Abreu Soares e seus catorze
companheiros, ao longo do Rio Jaguaribe, indo de Aracati, desde a Barra do Fortim ao
Boqueirão do Cunha, no alto sertão Central (BARBOSA, 2007). Depois de muitos conflitos,
os colonizadores ocuparam as terras dos índios e passaram a desenvolver as suas atividades.
Assim, a relação com os recursos naturais que antes era de subsistência, passou, a partir desse
momento, a ter um valor econômico.
O homem não-indígena que ali se instalou, desmatou, matou e destruiu para poder
desenvolver seu modo de vida, obter lucros em cima do que a natureza oferecia e assim
construir uma nova paisagem, modificando a cultura e a tradição dos primeiros habitantes.
Começaram a surgir ranchos e fazendas, onde os colonos implantaram a pecuária,
possibilitando, assim, a ocupação das terras. Logo, novos animais e plantas foram
introduzidos na região e o ambiente foi se modificando rapidamente. A sociedade que
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começava a se formar era então um complexo de mistura entre índios, brancos e negros, que
utilizavam o meio de formas diferentes, transformando toda a paisagem da região.
Durante esse período de ocupação, existiu a presença de escravos, como comenta
Antônio de Pedro ao dizer que “negócio de escravidão também teve”. Esses escravos eram
homens e mulheres de cor que “trabalharam” nas lavouras de algodão, nas charqueadas e nos
serviços domésticos, bem como nos engenhos e nos famosos sítios do Cumbe (RATTS, 2000).
“Meu pai pegou época aqui que tinha 12 engenhos... e hoje só tem um que tá
debaixo do morro... Tinha uns movido a boi e depois passou a motor... Os mais
novos foram estudar em Aracati, os mais velhos foram morrendo ai ninguém queria
mais saber de terreno... ai foram abandonando... abandonando.. ai acabou. Tinha
muita gente aqui no Cumbe nos tempos do engenho, saiu muita gente daqui do
Cumbe pra Aracati... Fortaleza. Tinha açude dentro dos sítios. Tinha escravo
também, mas era pouco. Tinha bumba-meu-boi antigamente... Tinha muita festa na
igreja” (Manel Marinheiro).
Figura 05. Imagem do moinho de vento dos arrebaldes do Aracati. José dos Reis Carvalho, Ceará, 1859.
Fonte: Museu Histórico do Ceará.
O Cumbe é conhecido como Sítio Cumbe, justamente por causa dos sítios que
existiam na região. Sítios que ocupavam um espaço que provavelmente era área de carnaubal
e até mesmo de manguezal, de onde tiravam a madeira para usar como lenha nas casas de
farinha e engenhos, como também para construção. Além disso, era do manguezal que se
retirava o alimento complementar da comunidade.
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O fato desses sítios e engenhos ter acabado retrata um novo momento na região, já
que eram esses sítios que tanto caracterizavam o local, apesar de terem causado grandes
impactos no ambiente.
“Esses morros ai eram mais longe a uns 30 anos atrás, depois foi avançando pra
cima dos sítios...” (Seu Euclídes).
O fato de que debaixo das dunas existe água foi comentando por alguns
informantes e tal comentário se deve principalmente ao fato dessa água, no tempo dos sítios e
dos engenhos, ter sido utilizada para irrigação das plantações, como também para o consumo
nas casas, nos engenhos e nas casas de farinha. Segundo Queiroz (2007), as dunas se
destacam como unidades geológicas de alta potencialidade aquífero, produzindo vazões da
ordem de 5 a 10 m3/h.
De acordo com Lima (1956, p. 10-12), nos morros do Cumbe e da Beirada
“ouvem-se, de tempos em tempos, fortes estrondos e ruídos confusos, acompanhados de
ebulição e deslocamento das areias”. Ainda segundo o autor, os moradores do Cumbe
acreditam que, “no morro do Cumbe, está encantado El Rei D. Sebastião com os seus
soldados e que, em certos dias, principalmente nas noites de luar, ao som de seus tambores de
guerra, sai passeando pelas encostas do morro, acompanhado de sua tropa”.
O Rei Sebastião como encantado é um personagem cujas origens remontam a
Portugal e trata-se do mesmo rei Dom Sebastião, cuja morte precoce, durante a batalha de
Alcácer-Quibir, no século XVI, foi uma das razões que levaram Portugal a cair sob o domínio
da Espanha em 1580 e assim surgir uma lenda, em Portugal, afirmando que Dom Sebastião
não havia morrido, mas se encantara, devendo em breve retornar à Europa com seus exércitos
para libertar seu povo do domínio estrangeiro (MAUÉS & MACAMBIRA-VILLACORTA,
2001).
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Nos tempos dos engenhos, quem trabalhava nos sítios tinha o seu “pé-de-meia”,
ou seja, ganhava parte do que era produzido; as crianças não precisavam trabalhar. Porém,
com a falência dos engenhos, as necessidades dos que ali trabalhavam aumentaram. O
sustento das famílias se tornou mais difícil e, para ajudar na renda em casa, as crianças vão
com os pais para o duro trabalho no mangue.
“O povo daqui vivia
Da pesca e da agricultura
E os engenhos rodavam
Tudo tinha com fartura
Tinha garapa e cana
Tinha mel e rapadura
O povo tinha do que viver, tinha o que comer e o que produzir. A idéia de um
tempo de fartura traz aos informantes um sentimento de saudade, de um tempo de riquezas
que já passou e que é bastante claro ao dizer que “tinha”, hoje já não tem mais. Muitos dizem
que “aqui não tem mais nada”, retratando bem que, atualmente, o Cumbe não é mais como
era antigamente. As coisas mudaram, a economia mudou, o modo de vida e a natureza
também.
Essa afirmação radical de que “não tem mais nada” foi comentada algumas vezes
por informantes distintos. Marques (2001) ressalta que o uso de expressões como essa, na
realidade, reflete situações restritivas ou de escassez e não, necessariamente, de ausência ou
particularismo absoluto.
Os engenhos, segundo os informantes, começaram a falir a partir de década de 30
e os últimos findaram na década de 80. Os moradores mais antigos da comunidade sabem
retratar muito bem os fatos e as mudanças que ocorreram na região como se a sua memória
fotográfica não tivesse apagado nada de um tempo de fartura da época dos engenhos, em que
todos tinham o seu trabalho.
“De um lado era mangue, do outro eram sítio, engenhos... e lá ficava coqueiro,
mangueira...” (Dona Raimunda).
dunas, que propiciava uma boa irrigação com o auxilio dos moinhos de vento da época; o rio,
com toda a fartura de peixes; o manguezal com muitos crustáceos, que era fonte de
subsistência e posteriormente produto de venda; a madeira do canoé e sapateiro, utilizada
antigamente para construção de casas e embarcações e também como lenha; a carnaúba, com
a utilização da madeira, da palha e da cera, dentre outros recursos.
Sem os engenhos, as atividades se voltam principalmente para pesca no rio e para
catação de caranguejos e mariscos. Segundo Queiroz (2007), a catação de caranguejo-uçá teve
início na década de 1970, com a falência dos engenhos, porém, apenas em 1974, após a
construção da ponte que liga a comunidade à sede do município de Aracati, é que essa
atividade se fortaleceu, pois foi possível o aumento da comercialização do produto para
compradores externos. Já a catação de ostras, sururus e intãs no manguezal, conhecida como
mariscagem, começa a ganhar espaço entre as mulheres.
Porém, a partir de 1998, os membros da Associação de Desenvolvimento do
Cumbe (ADC) começaram a cultivar camarão na comunidade num sistema integrado com o
grupo COMPESCAL (QUEIROZ, 2007). A instalação dos viveiros de camarão chega de
forma rápida, trazendo grandes modificações na paisagem da região.
“Aqui era muito bom, tinha muita gente, era animado... hoje em dia é só viveiro...”
(Seu Marcelo).
Figura 06. Evolução da planície flúvio-marinha ocupada por manguezais na foz do rio Jaguaribe. Destacam-se
as áreas em que a vegetação de mangue sofreu expansão (acréscimo) e redução (decréscimo).
Fonte: CARVALHO-NETA (2007).
“O mangue era maior... aqui tudo antes era mangue... O morro ainda pegou muita
parte do mangue, depois foram os viveiros...” (Dona Raimunda).
Hoje, a área de mangue do Rio Jaguaribe, com cerca 1.260 hectares (VIANA &
JÚNIOR, 2008) teve um decréscimo, do ponto de vista natural, devido à ação das ondas nas
áreas localizadas mais próximas do litoral e, do ponto de vista social, à atividade de
carcinicultura, localizada mais no interior da planície flúvio-marinha (CARVALHO-NETA,
2007). Além disso, o decréscimo do manguezal também se deve ao avanço das dunas ao longo
dos anos.
“Os mangue daqui eram mais, mas já foi desmatado metade... e com isso foi
diminuindo a produção... que era de caranguejo né... aqui tinha muito mais... mas
hoje tem muito pouco...” (Antônio de Pedro).
percepção do comportamento animal e do meio já não são tão importantes para captura do
caranguejo, quando comparada às técnicas tradicionais que utilizavam o braço ou o raminho.
A introdução das novas técnicas teria sido devido aos impactos ambientais
ocasionados pela carcinicultura, pois, devido à diminuição significativa da quantidade de
caranguejo no mangue, restava aos catadores de caranguejo utilizarem técnicas que,
invariavelmente, seriam infalíveis na captura do caranguejo (TEIXEIRA, 2008).
Além dos problemas ocasionados com o desmatamento, a poluição do rio, a
mortandade do caranguejo e de outros animais, outros problemas começaram a surgir na
região, devido a falência fazendas de camarão, que geraram uma verdadeira crise econômica a
partir de 2004 (MEIRELES & QUEIROZ, 2007), levando. Hoje muitas estão abandonadas,
embora outras, apesar das dificuldades, ainda continuam em atividade.
Com a decadência da carcinicultura, os olhos de quem foi trabalhar nos viveiros
voltam-se novamente para o manguezal, já tão brutalmente “ferido”. Eles então procuram o
manguezal como o procuraram quando os sítios e os engenhos faliram. Apesar de muitas
fazendas de camarão terem encerrado a atividade, os espaços que elas ocuparam ainda
existem, trazendo danos para comunidade que continua cercada por viveiros e para o mangue,
que, apesar de conseguir se desenvolver, ainda sofre os impactos de tamanha devastação.
Devastação que começou com as primeiras ocupações dos não-indígenas, com os engenhos,
os sítios, as plantações, as construções e os viveiros de camarões. Assim, o Cumbe, pouco a
pouco, vai perdendo seus espaços e seus valores, como já dizia o informante José Gonzaga
Pinheiro, no seu cordel “[...] Um Frade aqui passou/ Chegando em cima do morro/ Lá de
cima ele falou / Muito breve se acaba/ Tudo que aqui tem valor”.
Um outro problema para a área do Cumbe diz respeito à instalação das turbinas
eólicas no litoral de Aracati, que começou no ano de 2007, e nas dunas da região do Cumbe,
que teve o início das obras no ano de 2008, trazendo grandes mudanças na rotina da
comunidade. Os transtornos causados pela instalação das turbinas vão desde os impactos
causados na dinâmica das dunas e na destruição dos sítios arqueológicos até os prejuízos
causados diretamente aos moradores e ao patrimônio histórico, no caso a Igreja de Nosso
Senhor do Bonfim, com sua estrutura comprometida devido ao grande tráfego de veículos e
de máquinas, no local.
“Não sou nem contra e nem a favor... mas também não sei se com esses catavento ai
vai ser bom ou vai ser ruim...” (Antônio de Pedro).
Algumas pessoas temem que os “cataventos” que estão sendo instalados na região
sejam apenas mais uma novidade, que gere alguns poucos empregos temporários, com
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salários baixos e passe depois, provocando modificação na paisagem e trazendo prejuízos para
comunidade, da mesma maneira que aconteceu com a criação da carcinicultura, que pregava
a “promessa” de bons frutos. Observa-se assim um falta de programas de Educação Ambiental
que estabeleçam comunicação com a comunidade local. Tais programas são obrigatórios para
o licenciamento de empreendimentos como esse.
céu ... ai você já sabe... a maré tá seca... Quando você ver a lua sair... a maré tá
cheia” (Chico de Lôra)
Desde o ano de 325 a.C, existem referências sobre plantas de mangue, através do
relatório do General Nearco, que, ao acompanhar Alexandre Magno em suas campanhas pelo
Delta do Indo-Pacífico ao Golfo Pérsico, registrou a ocorrência de árvores de 14 metros de
altura, com flores brancas que cresciam no mar e com os troncos sustentados por raízes com
aspecto de candelabro, característico das raízes do mangue vermelho (SCHAEFFER-
NOVELLI, 1995).
Ainda de acordo com a autora, A primeira descrição dos manguezais americanos
foi de Oviedo, em 1526, na obra História Geral e Natural das Índias, porém a referência mais
antiga sobre os manguezais brasileiros data de 1587, feita pelo historiador Gabriel Soares de
Sousa.
“A planta é o mangue” (Antônio de Pedro).
Eis um dos motivos pelo qual nenhum dos mangues da região possui o nome
relacionado com alguma cor. Segundo o relato dos entrevistados, “São quatro qualidades de
mangue”, as quais são diferenciadas pelas folhas e pela madeira: o mangue-manso, também
chamado apenas de mangue, o canoé, o sapateiro e o mangue-ratinho.
“A gente diferencia pela folha e pela madeira... A gente usa as madeiras pra fazer
as estacas pras canoa. Antigamente, faziam o caibo, curtiam as casas, tudo com o
mangue manso. O canoé pra fazer as linha.... Curtir era com o mangue manso. O
sapateiro pra fazer as linha também... Caranguejo e guaiamum se alimenta da folha
do mangue” (Manel Marinheiro).
"Antigamente, a gente tirava, mas hoje em dia ninguém tira mais porque num pode,
porque tem a lei... Antigamente, utilizava como lenha, mas hoje em dia tem o gás”
(Dona Isabel).
Embora os mangues cresçam em locais sob influência de água salgada, esta não é
uma condição obrigatória, porém sua ausência em ecossistemas sem influência marinha se
deve à competição com outras plantas, que as excluem (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
A classificação das espécies arbóreas encontradas no manguezal do Rio Jaguaribe
está de acordo com Lima (2004) e Monteiro (2005) e segue uma distribuição característica,
relacionada principalmente ao solo e ao contato com a água do rio (Fig. 09).
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O patoral (Sporobolus virginicus (L.) Kunth.) foi uma das gramíneas citadas pelos
entrevistados. É uma erva rasteira conhecida também como capim-de-corda, capim-barba-de-
bode, capim-praturá ou capim-da-praia, considerada uma das espécies de vegetação pioneira,
eficiente na fixação de areia, em zona anteduna. (BRITO et al., 2006).
Uma espécie muito comum na área de apicum é o junco (Cyperus articulatus L.)
da família Cyperaceae. Uma erva que atinge até 120cm de altura, conhecida também como
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Figura 10. Aspectos do Pirrichio. a) Pirrichio com flor branca. b) Pirrichio com flor rósea. c) Pirrichio sem flor.
Fotos: Márcia F. Pinto.
Muitas outras espécies também foram encontradas e citadas algumas vezes pelos
entrevistados. O café-brabo (Stigmaphyllum sp.) (Fig. 12a), a trepadeira (Cryptostegia
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Figura 12. Outras plantas citadas pelos entrevistados. a) Café-brabo. b) Trepadeira. c) Carnaúba.
Fotos: Márcia F. Pinto.
Quadro 1. Denominações das “qualidades” de mangue na Comunidade Sítio Cumbe, em outras localidades do
Brasil e a nomenclatura científica correspondente.
Nome Popular no Nome Popular em outras localidades do Brasil Nome científico
Cumbe
Canoé, Canué Mangue Preto, mangue negro, siriúba, seriúba, ciriuba, Avicennia L.
mangue seriba, mangue siriba, mangue siriba, mangue Avicennia germinans (L.) Stearn
branco, mangue amarelo, siribá preto, mangue, Avicennia schaueriana Staf e
cereibuna, cereitinga, guaperu, seriba, siribinha do Leechman
norte, saraíba, canoé, guapira, peré-ciriúba, mangue
língua de vaca.
Sapateiro, mangue Mangue sapateiro, mangue vermelho, mangue Rhizophora mangle L.
verdadeiro, mangue bravo, mangue sapateiro,
candapuva, canapula, mangue, mangue de pendão,
cantabú-uba, guarariba, guararaiba, catimbó,
mangarabeira, maparaíba, canaponga, mangue preto,
mangue de espeto, mangue vermelho de pendão,
mangue vermelho de cana, aparaiba, paxiubarana,
candapuva, aparaíba, cantabú-uba, mangueiro.
Mangue manso, mangue Tinteiro, tinteira, cereíba, sereiba, mangue canapomba, Laguncularia racemosa (L) C. F.
mangue roxo, mangue bravo, mangue rasteiro, mangue Gaerth
de baraço, mangue de curtume, sapateiro, canapaúba,
sibina, mangue branco, mangue amarelo, canapaúba,
cereíba, sereíba, mangue canapomba, tinteira dos
manais, ratinho, tinteira, siriba, tinteira da costa,
mangue rajadinho.
Mangue ratinho Mangue-de-botão, mangue-de-bola, Mangue-de- Conocarpus erectus L.
bolota, genipapinho, mangue-saragoça, mangue-
manso, mangue branco, mangue-ratinho.
Segue-se uma breve explanação sobre os quatro tipos de mangues, com fotos e
com o quadro de correlação de dados.
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3.4.1 Mangue-canoé
Família: AVICENNIACEAE.
O mangue-canóe (Fig. 13a), dentre os outros mangues, foi o primeiro a ser citado na
maioria das entrevistas, talvez pelo fato da madeira dessa árvore ser a mais utilizada, como
lenha e na fabricação de “caibo” de casa.
Em outras localidades denominam o mangue-canoé de mangue-siriúba, que em
tupi significa árvore siri (BRITO et al., 2006). Já a palavra canoé, não se conhece bem a sua
origem, embora, em inglês, canoe, signifique canoa ou bote. Assim, essa palavra talvez esteja
relacionada ao uso da madeira dessa planta na construção de embarcações.
O gênero Avicennia tolera salinidades do solo muito mais altas que as demais
espécies de mangue, possuindo glândulas em suas folhas com a função de eliminar
diariamente o excesso de sal absorvido (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
Observa-se, na região, duas “qualidades” de canoé: A. germinans (Fig. 13b1) e A. shaueriana
(Fig. 13b2), diferenciadas principalmente pela forma de suas folhas. Os entrevistados não
O fruto do canoé (Fig. 13d) foi comparado por vários entrevistados, com o fruto do
podói (Fig. 13e), uma planta bastante encontrada nos morros, próximos às dunas.
Quadro 2. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Mangue-
canoé.
MANGUE-CANOÉ
Avicennia spp. L.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Folha - “É diferente do mangue... a folha dele é mais - Folhas peninérvias, coriáceas.
comprida, mais miudinha”. - Folhas lanceoladas ou oblongas, com base aguda,
- “A folha é mais fina”. atenuada no pecíolo, raramente a base é arredondada ou
- “Tem a folha maior”. obtusa (Avicennia germinans).
- “Igual à folha do eucalipto”. - Extremidade da folha é obtusa ou arredondada
- “Às vezes tem uma folhinha mais gordinha”. (Avicennia schaueriana) (CINTRON & SCHAEFFER-
NOVELLI, 1984).
Tamanho - “Cresce mais que o mangue”. - São arbustos ou árvores de 4 – 8m (CINTRON &
- “Cresce bastante”. SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- Pode alcançar uma altura média de 11 metros com
tronco de 20 centímetros de diâmetro (MONTEIRO,
2005).
Caule - “Tem o pau branco”. - Tronco escuro, de casca fina com fendas superficiais
(BRITO et al., 2006).
- Casca lisa castanho-claro, que quando raspada mostra
cor amarelada (SUGIYAMA, 1995).
Distribuição no - “É uma planta marítima”. - Ocupa terrenos ao nível do mar, em águas salgadas, ao
manguezal - “Tem em todo canto, nos altos... arisco, longo das margens lamacentas próximas ao mar.
sabe? E na lama”. - Nas áreas mais externas do estuário, em terra firme,
devido à tolerância aos condicionantes edáficos
(CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- Nos manguezais de regiões tropicais (BRITO et al.,
2006).
Flor - “Tem flor, bem amarelinha... um bucado”. - Flores opostas sésseis.
- “Tem florzinha sim, ai depois ela forma um - Flores presentes o ano todo (CINTRON &
caroço”. SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- “Tem florzinha o ano todo, mas tem mais
antes das chuvas”.
Fruto - “O fruto do canoé parece com o do podói - Fruto oval, alongado e oblíquo, com duas valvas
com duas bandinhas”. coriáceas, deiscente.
- “Tem um fruto que parece assim... uma - Cotilédones grandes, carnosos, reniformes.
castanha”. - Tem o ano todo (CINTRON & SCHAEFFER-
- “Tem muita frutinha no ‘inverno’”. NOVELLI, 1984).
- Cápsulas, verde-amareladas, alongadas e superfície
aveludada, tendo aproximadamente 2,5 a 3 cm de
comprimento e 2cm de largura. (BRITO et al., 2006).
Utilidade - “Antigamente, usava muito pra fazer caibo - A madeira é usada como carvão vegetal e na construção
de casa”. de navios. (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
- “Antigamente a gente cozinhava na lenha, 1984).
usava o canoé também, mas muito pouco,
porque fazia muita fumaça”.
- “Não presta, por causa da fumaça”.
Relações - “Lá fica o caranguejo, aratu... xié... o - O gado foi observado alimentando-se dos propágulos
ecológicas tesoureiro”. desta espécie (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
- “Vixi... canoé é a casa do guaxelo... lá ele 1984).
tem os filhotes, dorme... mora lá”. - O caranguejo-uçá alimenta-se principalmente de folhas
- “O gado come a flor e a folha”. em decomposição, frutos e sementes de Avicenia
- “Caranguejo come a folha”. shaueriana (BRANCO, 1993).
- O guaxinim sobe nas árvores e descansa nos galhos (DE
LA ROSA, 2000; NOWAK, 1999).
Observações - “Tem raiz pra cima que nem o mangue - Raízes de dois tipos: umas penetram no substrato com
manso” uma porção aérea (pneumatóforos), outras, muito
ramificadas, apenas submergidas, horizontais, são
extremamente esponjosas e fibrosas interiormente (raízes
nutritivas) (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
1984).
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3.4.2 Mangue-sapateiro
Família: RHIZOPHORACEAE.
Quadro 3. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Mangue-
sapateiro.
MANGUE-SAPATEIRO
Rhizophora mangle L.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Folha - “A folha é grande e verde”. - Folhas coriáceas, ovaladas e obtusas no ápice
- “A folha é mais redonda”. (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- “A folha é maior e mais larga”. - As folhas são elíptico-ovais (com cerca de 8 a 10 cm de
- “A folha é comprida, parecida um pouco comprimento e 4 a 5cm de largura)
com a do canoé”. - Verdes reluzentes (BRITO et al., 2006).
Tamanho - “É um mangue selvagem... grande né?”. - Árvores médias ou arbustos com ramos carnosos, cilíndricos
(CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- Árvore de 6 a 10 m de altura (BRITO et al., 2006).
Caule - “Tem o pau encarnado”. - Dura e pesada (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
- “O pau do sapateiro é bem vermelho”. 1984).
- “Tem a casca fina... ai quando a gente - Tronco com casca fina, lisa e cinzenta.
corta, vê só o vermelho do pau”. - A madeira é rica em tanino (BRITO et al., 2006).
Distribuição - “Fica na lama”. - Nas franjas em contato com o mar, ao longo de canais, na
no manguezal - “O que fica mais na água é o sapateiro”. boca de alguns rios e também em bacias interiores onde a
salinidade não é muito alta (CINTRON & SCHAEFFER-
NOVELLI, 1984).
- Ocorre em todo o litoral brasileiro.
Abundante nas margens de manguezais, em contato com a
água (BRITO et al., 2006).
Flor - “A flor é bem amarelinha”. - Inflorescências paucifloras (poucas flores), ramos da
- “A florzinha é amarela... e solta um espigão inflorescência de 3,5 a 5 cm de comprimento.
depois”. - Flores com quatro pétalas brancas e branco-amareladas
- “Tem pouca florzinha... num é assim como inseridas na base de um disco carnoso (CINTRON &
a do mangue não”. SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
Fruto - “O sapateiro bota uns bichos compridos”. - Fruto cônico com semente solitária, radícula longa, estreita,
- “O fruto é um pauzinho verde”. de cor verde exceto a extremidade pontiaguda e alargada que é
- “O fruto é um espigão comprido”. de cor castanha; hipocótilo de 15-20 cm (raramente 25 cm) de
- “Ele tem uma semente, que é assim... como comprimento (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
um lápis sabe?”. - Frutos pendentes.
- “O fruto dele é complicado... é como a - As sementes germinam no interior dos frutos quando estes se
cabecinha de cachimbo... fica agarrado lá encontram presos à planta-mãe (BRITO et al., 2006).
em cima com a florzinha amarelinha em cima
do cachimbo... mas ai quando cresce o
negocio comprido... ele não cai com a
cabeçazinha... ai ele cai.. enfia na lama e
dali dá outro pé.. nasce tudim... O fruto dele
é o pauzinho que fica empindurado”.
Utilidade - “Antes a gente usava pra caibo de casa”. - Lenha para o cozimento
- “Pra envarar casa”. - O melhor carvão do mundo, com poder calorífico mais
- “Usava a madeira pra armação da casa” elevado e sem fumaça.
- “Oxe... usava era muito como lenha”. - Construção das fundações de casas
- “Usava para caibo, mas agora não usa - Madeira resistente ao apodrecimento (CINTRON &
mais”. SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- “Num apodrece como os outros mangues
não”.
Relações - “O caranguejo fica lá, entre os paus, as - Nas raízes do mangue sapateiro os caranguejos se alojam em
ecológicas raízes”. tocas mais profundas
- “Tem é muita ostra presa nas raízes dele”. - Ostras fixadas nas raízes (CINTRON & SCHAEFFER-
NOVELLI, 1984).
Observações - “Ele é cheio de raízes”. - Raízes aéreas (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
- “O sapateiro é... com raízes grandes”. 1984).
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3.4.3 Mangue-manso
Família: COMBRETACEAE
Quadro 4. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Mangue-
manso.
MANGUE-MANSO
Laguncularia racemosa (L) C. F. Gaerth.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Folha - “A folha mais redonda e mais escura”. - Folhas oblongas ou elípticas, com ápice arredondado e
- “Tem a folha pequena”. emarginado.
- “A folha verde né?!” - As folhas são de cor verde-grisáceo mais claras no avesso.
- São menores que as do mangue-vermelho (CINTRON &
SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- São simples, oblongas e espatuladas (de 4 a 11 cm de
comprimento e 4 a 5 cm de largura) (BRITO et al., 2006).
Tamanho - “Cresce menos que os outros... do que o - Árvores de 20m de altura, mas freqüentemente arbustos ou
sapateiro e canoé”. árvores pequenas (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
- “Bem largo”. 1984).
- Árvore pequena ou arbusto (BRITO et al., 2006).
- Árvore de menor porte entre as árvores de mangue
(SOUTO, 2004).
Caule - “O pau é mais escuro que o do canoé”. - Caule lenhoso, muito ramificado, pardo-avermelhado-claro
(BRITO et al., 2006).
Distribuição - “Tem nos terreno areado com lama”. - Em costas de baixa salinidade, e às vezes ao longo de
no manguezal canais de água salobra. Também se encontram nos bordos de
praias arenosas de costas de baixa energia, sozinha ou
misturada com Conocarpus erectus (CINTRON &
SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
Flor - “Tem florzinha, sim, todos os mangue - Muitas flores pequenas, geralmente hermafroditas, em
tem”. forma de campânula, de cor cinza esbranquiçadas, em
- “A flor é miúda... amarela pra branca”. pecíolo, em espigas terminais (racemos) (CINTRON &
- “Tem um monte delas... ai forma uns SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
cachozinhos”. - Flores pequenas, brancas; em cachos terminais (BRITO et
al., 2006).
Fruto - “O fruto fica num bucado de cachozinho”. - Frutos de 1,5 a 2cm de comprimento
- “É verdim”. - É de cor verde cinzento antes de amadurecer e depois é
castanho (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- Produzem grande quantidade de propágulos, formando
verdadeiros cachos (racemos) que pendem das partes
terminais dos galhos (SUGIYAMA, 1995).
Utilidade - “Usa pra envarar casa”. - A casca do tronco, galhos e folhas contêm cerca de 14% de
- “Curtir casa antigamente”. tanino (BRITO et al., 2006).
- “Dá muito bicho, não presta pra lenha”.
Observações - “Nascem no ‘inverno’”. - Raízes normais, mas também pneumatóforos, porém
- “Nascem no ‘inverno’, por causa da água desenvolvimento limitado e nem sempre presentes
doce”. (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- “Tem raiz pra cima”. - Suas raízes têm ramificações horizontais e delas crescem
prolongamentos verticalmente, que mantêm as extremidades
acima do nível da água nos manguezais. Esses
prolongamentos são raízes chamadas de pneumatóforos e
possuem poros chamados pneumatódios (um tipo de
lenticela) que, mesmo em solo lamacento, asseguram a
aeração essencial à planta (BRITO et al., 2006).
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3.4.4 Mangue-ratinho
Família: COMBRETACEAE.
desembocaduras fluviais, diminuindo a erosão, retraindo o avanço das dunas, além de assumir
um papel fundamental na proteção de inúmeras espécies de moluscos, crustáceos, peixes e
aves (SOUTO, 2004).
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Quadro 5. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Mangue-
ratinho.
MANGUE-RATINHO
Conocarpus erectus L.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Folha - “A folha é meio azulada, que nem a folha - Folha verde-amarelada.
do canoé”. - Folha oval ou lanceolada.
- “Tem a folha comprida”. - Com 3 a 8 cm de comprimento e 1,5 a 3 cm de largura.
- “A folha dele é menor que a do canoé”. (BRITO et al., 2006).
- “Tem a folha parecida com a da acerola”.
Tamanho - “Pequeno, não cresce muito” - Árvore ou arbusto de crescimento rápido. Dependendo do
- “Que nem um pé de acerola”. local em que se encontra, pode alcançar de 6 a 15m de altura
- “É o menor dos mangue”. (BRITO et al., 2006).
Caule - “O pau dele é mais grosseiro”. - A casca é de cor cinzenta ou castanha e se torna áspera e
grossa (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
- Lenhoso, com casca vermelho-escura, cinzenta ou
acastanhada, muito fendida, tornando-se áspera, grossa e
fácil de se desprender (BRITO et al., 2006).
Distribuição - “Perto do rio, nos altos (areia)”. - Não se encontram distribuídas ao acaso em um bosque.
no manguezal - “Fica mais na areia”. - Cresce em muitos locais não pantanosos, tais como praias
- “Ele é pouco.. só nos altos, mas perto do de areia e costas rochosas (CINTRON & SCHAEFFER-
rio também... Fica na areia, num é de lama NOVELLI, 1984).
não”. - Regiões litorâneas brasileiras, em áreas mais elevadas de
solo pouco úmido, no contorno de manguezais, sendo mais
freqüente nas praias arenosas e até próximo às dunas e zonas
costeiras com falésias do Nordeste (BRITO et al., 2006).
Flor - “A flor é um cachozinho cheio de - Flores pequenas (2mm de comprimento), verdes; reunidas
caroço”. em inflorescências globosas (BRITO et al., 2006).
- “Quando ele tá com florzinha é verde... ai
depois fica como se tivesse queimado”.
Fruto - “Os frutim parece com café”. - Frutos pequenos, redondos semelhantes a cones de cor
castanho púrpura.
- Infrutescência (CINTRON & SCHAEFFER-NOVELLI,
1984).
Utilidade - “Ele é pequenininho, ninguém usa a - Árvores desta espécie, embora alcancem alturas superiores
madeira não”. a quatro metros, apresentam os galhos tortos e finos, não
sendo utilizados para construção (CINTRON &
SCHAEFFER-NOVELLI, 1984).
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“Os bichos... animal cê quer dizer?! Animal aqui tem a raposa, o guaxinim, que
chamam guaxelo, o soim”. (Chico de Lôra).
habitam, como na lama, no rio, na levada, na gamboa, na ilha ou na croa, no morro, no mato,
no mangue, dentre outros.
Na lama, ficam os mariscos enterrados. No rio, ficam os peixes, alguns crustáceos
e mariscos. A levada é a água doce que desagua no rio e onde se encontram alguns peixes e
algumas aves. Nas gamboas, a água é salgada e é um local cercado por croas e mangues. O
morro é denominado como o local onde fica o carnaubal ou as regiões mais distantes dos
mangues, que ainda apresentam vegetação de mangue e onde vivem o caranguejo e o aratu.
Pelo fato do manguezal ser uma área de transição, ele é o ponto de encontro entre
faunas distintas (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003). É habitado por diversos animais, desde
formas microscópicas até grandes peixes, aves, répteis e mamíferos. Alguns deles, nem
sempre são exclusivos dos manguezais, ocupam o sedimento ou a água, as raízes, os troncos e
as copas das árvores. Esses animais são oriundos dos ambientes terrestre, marinho e de água
doce; permanecendo no manguezal, como residentes, toda sua vida, ou apenas uma parte dela,
na condição de semi-residente, visitantes regulares ou por oportunidades (LEITÃO, 1995).
“Menina... bicho aqui tem muito, se eu for dizer pra você tudim... vixe Maria..., a
gente passa é dias aqui e ainda num termina” (Seu Batista).
Muitos dos animais citados são de maior familiaridade para os entrevistados, por
possuírem alguma utilidade ou chamarem mais atenção, seja pelo comportamento ou por
características morfológicas, mas são, principalmente, os mais comuns no manguezal.
Para listar esses animais, a classificação estabelecida segue a literatura científica
como uma forma de tornar mais clara a similaridade estabelecida pelos próprios entrevistados.
Os animais informados foram classificados em mamíferos, aves, crustáceos, moluscos, peixes,
serpentes e ainda outros animais comentados, como, por exemplo, alguns insetos.
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3.5.1 Mamíferos
Os mamíferos são os animais que sempre despertaram interesses nas pessoas, por
conta da sua diversidade, beleza, utilidade ou pelos problemas que esses animais podem
causar (REIS et al., 2006). De acordo com os entrevistados, os mamíferos são os “bichos de
pelo”, os “bichos” maiores, e os “selvagens”.
A descrição formal dessas espécies, no Brasil, começou com Linnaeus em 1759,
ao descrever 47 espécies nativas e 3 espécies exóticas introduzidas (Sus scrofa, Mus musculus
e Rattus rattus) na sua obra Systema Naturae (REIS et al., 2006).
São considerados mamíferos os animais terrestres, dominantes da era Cenozóica,
porém a diversidade de espécies (cerca de 4.500) é a menor dentre os tetrápodes, embora eles
constituam um grupo altamente diversificado, adaptado a uma ampla multiplicidade de estilos
de vida, devido à grande variação ecomorfológica. Possuem características típicas, como a
lactação e a presença de pelos no corpo. Além disso, destacam-se por algumas modificações
que os distinguem dos demais vertebrados, como o aumento da caixa craniana, correlacionado
com o maior tamanho do encéfalo, a endotermia e a fecundação interna (POUGH et al.,
2003).
A diversidade biológica dos mamíferos no Brasil é considerada a maior do planeta,
com cerca de 652 espécies de mamíferos, contribuindo com aproximadamente 14% da biota
mundial, no entanto, apresentam-se insuficientemente conhecida (SILVA, 2005; REIS et al.,
2006)
De acordo com Fernandes (2000), existem cerca de 111 espécies pertencentes a 14
ordens de mamíferos em áreas de manguezal, ao redor do mundo, o que representa 7,5% do
total de 1.467 espécies de vertebrados registrados nesse ecossistema.
Na região pesquisada, foram citados quatro “bichos de pelo”: o guaxelo (Procyon
cancrivorus), também chamado de guaxinim, o soim (Callithrix jaccus), a raposa (Cerdocyon
thous) e o cassaco (Didelphis albiventris), o qual, de acordo com os entrevistados, não é
comum no manguezal.
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Guaxelo
Nome Popular
Guaxé, Guaxelo, Guaxinim.
Nome em outras localidades
Mapache; Mapache; Mão-pelada, Cachorro-do-mangue; Iguanara;
Jaguacampeba; Jaguacinim; Rato-lavador; Urso-lavador; Mascarado;
Quatizão; guará.
Nome científico
Família Procyonidae
Procyon cancrivorus Cuvier, 1788.
Quadro 6. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Guaxelo.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Ele é vermelho... metido a loiro, quando mais velho”. - Tem as mãos desprovidas de pelos.
- “É que nem um macaco”. - Comprimento do corpo varia entre 40,0 e 100,0cm.
- “Mesmo que ver que é um cachorro”. - Os machos são geralmente maiores que as fêmeas.
- “É o maior do mangue”. - Possui pelagem densa e curta, e a coloração do corpo varia do
- “Tem duas qualidades: uns pelados e outros peludos”. marrom escuro ao grisalho (REIS et al., 2006).
- “Tem as patas clarinhas, peladas”.
Habitat
- “Vive dentro dos ocos do pau do mangue... do canoé, - Habita florestas equatoriais e tropicais, sempre próximo a rios,
porque o pau é mais grosso”. brejos, pântanos e mangues (NOWAK, 1999).
- “Vive no mangue, mas vai para o carnaubal e pros
morros também”.
Alimentação
- “Come caranguejo e sapo”. - A espécie se alimenta principalmente de moluscos, insetos,
- “Chupam cana”. peixes, caranguejos, anfíbios e frutos (REIS et al., 2006).
- “O que ele pegar ele come”. - Sua dieta é onívora e consiste basicamente de frutos silvestres,
- “Comem melancia”. invertebrados e pequenos vertebrados (NOWAK, 1999).
Comportamento
- “Só sai de noite e de dia ele tá dormindo”. - Animal solitário de hábito noturno, que caminha com a cabeça
- “Eles dormem e dão cria dentro dos ocos”. abaixada.
- “Vive sozinho”. - Cheira a presa e antes de comê-la a lava na água com as patas
- “Guaxelo é mais valente que a raposa”. anteriores.
- “Ele é noturno”. - Sobe nas árvores e descansa nos galhos.
- “Lava a comida antes de comer... o bichim é esperto”. - A mãe segura o filhote com o pescoço.
- A mãe amamenta sentada (DE LA ROSA, 2000; NOWAK,
1999).
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Raposa
Nome Popular
Raposa.
Nome em outras localidades
Cachorro-do-mato; Graxaim, Graxaim-do-mato; Raposinha-do-mato;
Raposão; Lobinho; Lobete; Guaraxo; Guancito; Fusquinho; Rabo-fofo.
Nome científico
Família Canidae
Cerdocyon thous Linnaeus, 1766.
Figura 18. Raposa. “A raposa... vixi Maria... fede demais!” (Dona Isabel).
Foto: Adriano Gamabarini.
Quadro 7. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Raposa.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É tipo um cachorro”. - O comprimento do corpo varia entre 60,0 e 70,0cm.
- “Ela é vermelho queimado”. - A pelagem varia do cinzento ao castanho, com faixa de pêlos
- “Menor que um guaxelo”. pretos da nuca até a ponta da cauda, e o peito e o ventre são
claros (REIS et al., 2006).
Habitat
- “Ficam mais nos morros”. - É encontrada principalmente nos biomas Cerrado, Caatinga,
- “A gente vê é muita também no carnaubal”. Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos, utilizando bordas de
- “No mangue, nas partes enxutas”. matas e áreas alteradas e habitadas pelo homem (REIS et al.,
2006).
Alimentação
- “Come sapo, galinha, preá, pássaro novo”. - É uma espécie onívora, generalista e oportunista, cuja dieta
varia sazonalmente e é composta por frutos, pequenos
vertebrados, insetos, crustáceos e peixes, além de carniça (REIS
et al., 2006).
Comportamento
- “Ela é de noite”. - Possui hábito noturno e crepuscular.
- “Fica entocada de dia, mas às vezes sai”. - Algumas espécies tem atividade durante o dia (REIS et al.,
2006).
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Soim
Nome Popular
Soim, Saguim.
Nome em outras localidades
Sagüi.
Nome científico
Família Cebidae
Callithrix jaccus Erxleben, 1777.
Quadro 8. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Soim.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um macaco pequeno”. - Animais de pequeno porte, com peso entre 300 e 450g;
- “Um macacozim... peludim”. - A coloração da pelagem é um misto de
cinza/preto/avermelhado (REIS et al., 2006).
Habitat
- “Ficam em cima das árvores”. - São primatas arborícolas que habitam várias fisionomias
- “Tem em muito canto”. florestais, podendo ocorrer inclusive em vegetação secundária,
- “Vão pros mangues”. perturbada e fragmentada (REIS et al., 2006).
Abundância
- “Tem muito por aqui”. - Algumas populações introduzidas, especialmente de C. jacchus
e C. penicillata trazem preocupação devido ao seu potencial de
ocupação do Habitat, hibridazação com congêneres nativos,
predação de representantes da fauna local e transmissão de
doenças. (REIS et al., 2006).
Alimentação
- “Come passarim”. - Sua dieta inclui frutos, insetos, néctar e exsudados de plantas
- “Come resina do mangue manso”. (goma, resinas e látex), podendo alimentar-se também de flores,
- “Come fruta”. sementes, moluscos, ovos de aves e pequenos vertebrados (REIS
et al., 2006).
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3.5.2 Aves
“Ah... passarim tem muito ai nesse mangue... tem muita qualidade” (Seu Batista).
As aves do Brasil são estudadas desde o século XVI (OLIVEIRA PINTO, 1979
apud VOOREN & BRUSQUE, 1999). Em 1925, Teschauer escreve que "o Brasil, segundo o
estado actual da sciencia, aloja não menos que 1680 espécies de aves". Hoje, o total dessas
espécies, no Brasil totaliza 1.822, de acordo com o Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos (CBRO). Nos seus aspectos faunísticos, as aves do Brasil são bem conhecidas,
principalmente as aves marinhas e costeiras (VOOREN & BRUSQUE, 1999). Devido à sua
visibilidade e ao fato de ocuparem uma posição elevada em várias cadeias tróficas, as aves
constituem indicadores do estado de conservação e de saúde dos ecossistemas (OLMOS &
SILVA e SILVA, 2003).
Elas são vertebrados cobertos por penas, com os membros anteriores
transformados em asas (que podem ser transformadas em remos) e os membros posteriores
usados para locomoção bipedial (ou transformados em leme), com a temperatura corporal a
mais alta conhecida entre os animais e com um sistema de sacos aéreos distribuídos pelo
corpo (SICK, 1997). Algumas aves presentes nos manguezais procuram esse ambiente para
alimentação (SICK, 1997) e reprodução (VANNUCCI, 1999).
De acordo com Olmos & Silva e Silva (2003), muitas delas migram milhares de
quilômetros todos os anos entre suas áreas de reprodução, ocupadas durante o período
favorável do verão, e as áreas de invernada, para onde viajam quando o clima começa a
esfriar. Algumas chegam nos trópicos entre agosto e novembro, vindas de suas áreas de
reprodução, no hemisfério norte, fazendo uma muda completa de suas penas. A partir de
fevereiro, as aves começam a se preparar para reproduzir, adquirindo plumagem reprodutiva,
com cores mais vivas, e acumulando gordura e proteína necessárias para o vôo migratório.
Dependendo de onde tenha passado, a temporada não reprodutiva, a migração para o norte
pode durar de março a maio.
As aves, juntamente com os peixes, foram os animais mais comentados pelos
entrevistados. Eles forneceram informações sobre as características morfológicas,
comportamentais e de distribuição desses “bichos pássaro”.
Algumas aves foram citadas, ao longo da pesquisa, como predadoras de alguns
animais, porém não são tão comuns no manguezal. São, por exemplo, o gavião, a coruja, os
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Bacurau
Nome Popular
Bacurau.
Nome em outras localidades
Bacurau-miudinho; bacurau-pequeno.
Nome científico
Família Caprimulgidae
Caprimulgus parvulus Gould, 1837.
Quadro 9. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Bacurau.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É pintadinho”. - Faixa sobre as primárias externas e nódoas na ponta das retrizes
- “Vermelho com preto e branco”. brancas.
- “O macho tem duas penas grandes no rabo”. - Papo com nódoas negras e algum desenho transversal branco.
- Fêmeas sem os sinais brancos
- O macho adulto da espécie Hydropsalis brasiliana possui uma
cauda com cerca de 2/3 do comprimento total do animal, que
chega a 40 cm (SICK, 1997).
Habitat
- “Fica nos paus”. - Caatinga, campos e florestas (HOLANDA & MAJOR, 2008).
- “Mora no oco do pau seco”. - Vive na orla da mata, cerrado, campo sujo, parques e no solo
- “No mangue seco... morto... do canoé”. (SICK, 1997).
Alimentação
- “Ele come mosquito, inseto”. - Insetos (HOLANDA & MAJOR, 2008).
- São insetívoros (SICK, 1997).
Comportamento
- “È de noite”. - “À noite é esperto, de dia é ‘lesado’, em cima da cerca, fica
disfarçado” (HOLANDA & MAJOR, 2008).
- Aves noturnas cosmopolitas (SICK, 1997).
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Bem-te-vi
Nome Popular
Bem-te-vi.
Nome em outras localidades
Bentevi; Bentevi-de-coroa; Bentevi-verdadeiro; Triste-vida; Tiuí; Teuí;
Pituã; Pitaguá; Puintaguá.
Nome científico
Família Tyrannidae
Pitangus sulphuratus Linnaeus, 1766.
Como afirma Sick (1997), “é provavelmente o pássaro mais popular deste país”.
O nome científico Pitangus sulphuratus provém de “pitanga guassu”, que significa pitanga
grande, a forma pela qual os índios brasileiros tupis-guaranis chamavam essa ave, e do latim
sulphuratus, pela cor amarela como enxofre no ventre (FRISCH, 1981) É considerado pelos
entrevistados um pássaro muito abundante e que possui algumas “qualidades”, agrupados na
“família” dos bem-te-vis de acordo com a classificação local. Ele é encontrado em todo lugar
e, no manguezal, tem como predadores o guaxelo e a raposa.
Quadro 10. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Bem-
te-vi.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Ele é amarelim com preto”. - Caracteriza-se principalmente pela coloração amarela viva no
ventre e uma lista branca no alto da cabeça (FRISH, 1981).
Habitat
- “Tem em todo canto”. - Adapta-se a qualquer meio.
- “No mangue e no carnaubal”. - É visto próximo à beira d’água para pescar; habita campos de
cultura, cidades, dentre outros locais (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come os carrapato dos bichos”. - Dependendo da variedade, insetos, peixes, crustáceos, ovos de
- “Ele como lagarta”. outras aves, pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e frutos
- “Come a florzinha do mangue manso”. (HOLANDA & MAJOR, 2008).
Comportamento
- “É de dia”. - Voz: trissilábico “bentevi”, bissilábico “bi-hía”, monossilábico
- “Canta é muito... bemmm te viii... bemmm te viii”. “tchía” (chamada); estrofe de quatro sílabas “biü-biü-prrrí-bíü”
(canto), periodicamente de madrugada, destacando o matraquear
sonoro “prrr” (SICK, 1997).
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Canário-do-mangue
Nome Popular
Canário-do-mangue.
Nome em outras localidades
Figuinha-do-mangue; Sibite-do-mangue; Sebinho-do-mangue.
Nome científico
Família Thraupinae
Conirostrum bicolor Vieillot, 1809.
Quadro 11. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Canário-do-mangue.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Parece com o sanhaço... ele é meio azulado com - Todo o lado superior cinzento-azulado, face e lado inferior
cinza”. pardacento-claros, pernas amarelo-alarajandas; o imaturo é um
- “É o sibite-do-mangue... meio branco... parece o tanto diferente: por cima esverdeado, por baixo amarelo-claro.
maçarico”. - 11,5cm (SICK, 1997).
- “Ele parece com o canário, só que esse é amarelinho e
é do morro”.
- “É cinzento”.
- “Quando novinho é mei esverdeado”.
- “Pequenininho”.
Habitat
- “Vive no mangue”. - Pássaro associado aos manguezais, ocorrendo também nas
- “Dentro do mangue, fica trepado nos paus”. margens do Rio Amazonas (AQUASIS, 2007).
- “Perto de água doce”.
Comportamento
- “Saem de manhã cedinho”. - Voz: “tzri” fino como chiar de camundongo; o canto é um
- “Canta que parece um ratim”. chilreado rítmico: “zídi, zídi-didelide, zíde, lidelí-zrrr” (SICK,
1997)
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Carão
Nome Popular
Carão
Nome científico
Família Aramidae
Aramus guarauna Linnaeus, 1766.
É a única espécie viva da família Aramidae (SICK, 1997), considerada uma das
maiores do mangue pelos entrevistados. É uma ave muito comum no “inverno” e tem, como
predadores, o homem, o carcará, a coruja e o gavião, além de cobras que comem os seus
filhotes.
Quadro 12. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Carão.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um pássaro grande”. - 70 cm.
- “Parece com um urubu”. - Parece um pouco com o tapicuru (Phimosus) e o corocoró
- “Tem um bico grande”. (Mesembrinibis), mas seu porte é mais robusto e seu bico quase
- “Maior que o socó-boi”. reto.
- “Meio cinza com preto”. - Pardo-escuro com a garganta branca e riscas da cabeça e
pescoço também brancas; à distância parece todo negro.
(SICK, 1997)
Habitat
- “Fica na beira das levadas”. - Vive nos pântanos e campos alagados (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come peixim”. - Seu alimento básico são os aruás, Pomacea (=Ampullaria)
- “Come aruá”. guyanensis, gastrópodes aquáticos (SICK, 1997).
Comportamento
- “Gosta que só de água doce”. - Emigra durante o período seco para retornar com o começo das
- “Aparece no inverno”. chuvas.
- “É de noite”. - Voz: forte e cheia, um grito longo freqüentemente seguido por
- “Mia que nem gato”. 3-4 gritos curtos, por exemplo “kräo-ke”, “karáu” (daí “carão”),
no crepúsculo e à noite com demoradas repetições (SICK, 1997).
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Galinha d’água
Nome Popular
Galinha d’água; Frango-d’água.
Nome científico
Família Rallidae
Gallinula chloropus Linnaeus, 1758.
Quadro 13. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Galinha
d’água.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no rio”. - Áreas alagadas e manguezal (HOLANDA & MAJOR, 2008).
- “Tem lá no mangue”.
- “Fica na água doce”.
Alimentação
- “Come xixié, e peixinho”. - Insetos, moluscos e vermes aquáticos (HOLANDA & MAJOR,
- “Lodo da água doce”. 2008).
Predadores
- “A gente come”. - Assim como a galinha comum, sua carne é muito apreciada.
Por isso, essa ave é perseguida pelos caçadores (HOLANDA &
MAJOR, 2008).
Comportamento
- “É de dia e de noite”. - É uma ave migratória. Em épocas de secas, sai à procura de
lugares onde haja água (HOLANDA & MAJOR, 2008).
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Quadro 14. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo às Garças.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um pássaro branco e grande”. - A garça branca grande chega 90 cm. Tem bico amarelo como a
- “Tem branca... uma pequena e uma grande e tem uma garça-vaqueira (Buculcus ibis), porém com o dobro do seu
azul também”. comprimento (AQUASIS, 2007).
- “Tem as canelas grandes”. - A garça-branca-pequena é totalmente branca, com o bico e
tarsos negros, loro, íris e dedos amarelos.
- A garça-azul tem coloração totalmente ardósia, tingindo-se de
violáceo no pescoço e cabeça (SICK, 1997).
Habitat
- “Fica no mangue, no pé de mangue manso”. - A garça-azul ocorre, preferencialmente, no mangue
- “Ficam nas gamboas”. (AQUASIS, 1997).
- “A garça-branca fica onde tem gado, mais nas fazendas”. - A garça-branca-grande é comum na beira de lagos, rios e
- “A garça-branca-pequena fica no rio, onde tem peixebanhados.
pequeno”. - A garça-branca-pequena vive tanto na água doce como em
água salobra e até mesmo na praia (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come peixe, tesoureiro e xixié”. - A garça-grande alimenta-se de peixes, anfíbios e crustáceos,
- “A garça-branca, ela come os carrapatos dos bichos,enquanto que a garça-pequena alimenta-se de peixes e
come bezourim”. crustáceos (AQUASIS, 2007).
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Juriti
Nome Popular
Juriti.
Nome em outras localidades
Juriti-pupu.
Nome científico
Família Columbidae
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855.
É uma das espécies das mais conhecidas no Brasil (SICK, 1997) e é bastante
comum na região e, muitas vezes, é confundida com o pombo-doméstico (Columba livia). De
acordo com os entrevistados, é uma ave cinza, com pata vermelha e com penas brancas e
cinzas. Como predadores, foram citados o homem e alguns pássaros maiores.
Quadro 15. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Juriti.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no mangue e no mato”. - Vive em locais quentes; capoeiras, beira da mata, cerrado
- “Tem mais nos morros... nas ilhas”. (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come a semente de pião no morro”. - Os representantes da família Columbidae normalmente são
- “Fruta, areiazinha do chão”. granívoros e frugívoros (SICK, 1997).
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Lavandeira
Nome Popular
Lavadeira, lavandeira.
Nome em outras localidades
Lavandeira-de-nossa-senhora; Lavandeira-branca; Lavadeira-mascarada.
Nome científico
Família Tyrannidae
Fluvicola nengeta Linnaeus, 1766.
Quadro 16. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à
Lavandeira.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É branco com preto”. - Cabeça branca, faixa negra através do olho, costas cinzento-
claras (SICK, 1997).
Habitat
- “Tem em todo canto”. - Habita a beira d’água lamacenta (SICK, 1997).
- “No mangue e no carnaubal”.
Alimentação
- “Come carrapato dos bichos”. - Dependendo da variedade, insetos, peixes, crustáceos, ovos de
- “Come lagarta”. outras aves, pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e frutos
- “Florzinha do mangue manso”. (HOLANDA & MAJOR, 2008).
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Maçarico-grande
Nome Popular
Maçarico grande; maçaricão.
Nome em outras localidades
Maçarico-grande-de-perna-amarela; Maçarico-de-perna-amarela;
Maçarico-caneludo-grande; Maçarico-caneludo; Maçaricão-da-
asa-branca; Maçarico-de-costas-brancas.
Nome científico
Família Scolopacidae
Tringa melanoleuca Gmelin, 1789.
Quadro 17. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Maçarico-grande.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no rio”. - A espécie Tringa melanoleuca habita praias e campos alagados,
- “Todo canto, mas tem mais nas croas”. ocorrendo provavelmente em todo o Brasil.
- A Tringa flavipes habita as praias lamacentas e abertas de lagos
e rios (SICK, 1997).
Comportamento
- “Eles não são daqui”. - São visitantes oriundos do Velho Mundo, geralmente perdidos,
porém a imensa maioria vem do Hemisfério Norte (EUA e
Canadá) (SICK, 1997).
Nome Popular
Maçarico pequeno
Nome em outras localidades
Maçarico-pintado; Agachadeira.
Nome científico
Família Scolopacidae
Actitis macularius Linnaeus, 1766.
Quadro 18. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Maçarico-pequeno.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Parece uns pintos”. - 19 cm. De porte delgado.
- “Preto por cima e branco por baixo”. - O lado superior das asas com uma linha branca, sendo o lado
inferior negro com uma área branca mediana; nódoas escuras
(anegradas) no peito, característica notável ausente durante o
período de descanso reprodutivo (SICK, 1997).
Habitat
- “Fica na beira d’água”. - Vive nas margens pedregosas e lodosas dos rios, quase sempre
- “Fica no rio”. entre a vegetação, freqüentemente nos manguezais onde
- “Tem no morro e no mangue”. empoleira em raízes e galhos para pernoitar (SICK, 1997).
- “Nas croas e gamboas”.
Alimentação
- “Come xixié”. - Caça cupins em revoadas (SICK, 1997).
- “Come piaba”.
- “Come mosquito e inseto”.
Comportamento
- “Aparecem mais no fim do inverno”. - Não se reproduz no Brasil.
- “É de dia”. - Pode ser observado entre os meses de agosto a março
- “Não é daqui, mas vem pra cá pra se reproduzir”. (AQUASIS, 2007).
- “Ele é engraçado... fica balançando a bundinha”. - Quase único pelo tique de balançar o corpo enquanto anda
(SICK, 1997).
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Mãe-da-lua
Nome Popular
Mãe-da-lua
Nome em outras localidades
Mãe-da-lua-parda.
Nome científico
Família Nyctibiidae
Nyctibius griseus Gmelin, 1789.
Quadro 19. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Mãe-da-
lua.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um passarim pequeno e pintadinho”. - Cerca de 54 cm, com uma envergadura de 98 cm.
- “É preto”. - Colorido de pardo bem escuro (SICK, 1997).
Habitat
- “Fica nos pau”. - Pousa freqüentemente a pouca altura do chão, até sobre
- “Tem no morro e nos matos”. estacas, em local inteiramente aberto também de dia (SICK,
- “Fica no mangue”. 1997).
Alimentação
- “Se alimenta de mosquito e inseto”. - A família Nyctibiidae caça insetos (grandes mariposas e
besouros) (SICK, 1997).
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Maria-de-barro
Nome Popular
Maria de barro.
Nome em outras localidades
Casca-de-couro-da-lama; João-nordestino.
Nome científico
Família Furnariidae
Furnarius figulus Lichtenstein, 1823.
É uma ave pequena, com cerca de 16cm e bastante comum na região. De acordo
com os entrevistados, nenhum animal se alimenta desse pássaro, porém muitas pessoas o
pegam para criar. Apesar de ser muito parecida com o joão-de-barro (Furnarius rufus) e a
espécie F. leucopus, presentes também na região, a maria-de-barro (F. figulus) possui o hábito
de construir seu ninho de forma simples, aberto e com capim, enquanto as demais constroem
seu ninho em forma de forno (SICK, 1997).
Quadro 20. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Maria-
de-barro.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É vermelho queimadim”. - Tem as partes superiores canela-ferrugíneas-escuras, com as
coberteiras superiores das primárias ferrugíneas (SICK, 1997).
Habitat
- “No mangue”. - Uma espécie ribeirinha que habita as margens ensolaradas de
- “Na levada”. brejos, rios, cacimbas e ilhas (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come insetim”. - As espécies da família Furnariidae comem insetos e suas
larvas, aranhas, opiliões e outros artrópodes, moluscos, etc
(SICK, 1997).
Comportamento
- “É de dia”. - Parece que não constroem fornos (SICK, 1997).
- “Faz a casinha dentro das talas da carnaúba”.
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Rolinha
Nome Popular
Rolinha.
Nome em outras localidades
Rolinha-caldo-de-feijão; Cascavel; Pé-de-anjo.
Nome científico
Família Columbidae
Columbina passerina Linnaeus, 1758.
Quadro 21. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Rolinha.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Vive no mangue, em toda qualidade de mangue”. - Dependendo da variedade: caatinga, dunas e até nas cidades,
nas árvores das praças e jardins (HOLANDA & MAJOR, 2008).
Alimentação
- “Come pedrinha miudinha, nos matos”. - Pequenas sementes encontradas no solo (HOLANDA &
MAJOR, 2008).
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Siricóia
Nome Popular
Siricóia.
Nome em outras localidades
Siricóia do mangue; Saracura; Saracura-três-potes; Sericóia.
Nome científico
Família Rallidae
a Aramides cajanea Statius Muller, 1776.
Nome Popular
Siricóia.
Nome em outras localidades
Saracura; Saracura-três-potes; Saracura-do-mangue;
Galinha-do-mangue.
Nome científico
Família Rallidae
Aramides mangle Spix, 1825. b
Figura 33. Siricóias.
Fotos: a) Pedro Lima. b) Robson.
Quadro 22. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Siricóia.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Pássaro pequeno”. - 39cm, porte grande, cabeça e pescoço cinzentos, o resto das
- “Meio avermelhado”. partes inferiores e vexilo interno das rêminges ferrugíneos;
- “Família da sirizeta, maçarico”. coberteiras inferiores das asas amarelo-ferrugíneas borradas de
preto; abdômen negro, bico verde (Aramides cajanea).
- 32 cm, garganta branca, bico verde de base vermelha
(Aramides mangle) (SICK, 1997).
Habitat
- “Fica no rio”. - Esconde-se na vegetação às margens de lagoas, nas matas e
- “Tem em todo o mangue”. nos mangues (AQUASIS, 2007)
- Vive nas praias lodosas com mangues e matas adjacentes
(Aramides mangle)
- Vive nos pântanos com vegetação alta; manguezais; margens
de rios, lagos e igarapés; mata úmida e alta, as vezes distante da
água; plantação de cana etc (Aramides cajanea) (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come caranguejo pequeno”. - Busca alimento na lama, ingerindo pequenos crustáceos e
outros invertebrados (AQUASIS, 2007).
Comportamento
- “Fica cantando na beirada do mangue”. - Voz: estrofe bem acentuada em síncope “teres-pot téres-pot
teres-pot pot pot” (Aramides cajanea) (SICK, 1997).
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Sirizeta
Nome Popular
Sirizeta.
Nome em outras localidades
Sirizeira; Maçaricão; Maçarico-real; Maria-Rita; Maçarico-galego.
Nome científico
Família Scolopacidae
Numenius phaeopus Linnaeus, 1758.
Quadro 23. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Sirizeta.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Tem o bico grande”. - Bico longo e recurvado (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come xixié”. - Se alimenta de crustáceos (AQUASIS, 2007).
Comportamento
- “Aparece mais no fim do inverno”. - Não se reproduz no Brasil.
- “Não são daqui, não é do Brasil. Tem umas delas que - Em Icapuí, município vizinho a Aracati a “siriseta” é observada
vem marcadas de onde são”. de agosto a março (AQUASIS, 2007).
- “Elas vem engordar aqui e se reproduz fora”.
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Socó-boi
Nome Popular
Socó-boi.
Nome em outras localidades
Socó-pintado; Socó-boi-ferrugem; Iocó-pinim; Jurukú.
Nome científico
Família Ardeidae
Tigrisoma lineatum Boddaert, 1783.
Quadro 24. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Socó-
boi.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É grande e comprido”. - 93 cm. Espécie grande de bico extremamente longo.
- “Bico grande”. - A plumagem adulta é adquirida apenas aos dois anos de idade,
- “Cinzento”. com o pescoço castanho e manto pardo-acinzentado,
- “Pescoço comprido”. vermiculado de acanelado (SICK, 1997).
Habitat
- “Vive nos mangues”. - Habita regiões florestais, nidifica no alto das árvores (SICK,
1997).
Alimentação
- “Come xixié, caranguejo”. - A família Ardeidae se alimenta de peixes, insetos aquáticos,
- “Comem peixe”. caranguejos, moluscos, anfíbios e répteis (SICK, 1997).
- “Tesoureiro”.
Comportamento
- “É de dia e de noite”. - Solitário e crepuscular, vive escondido na vegetação ribeirinha.
- “É difícil de ver”. - Desconfiado, estica o pescoço obliquamente, arrepiando as
- “Quando tá bravo ele fica com o pescoço esticado”. longas plumas da nuca e balança a cauda (SICK, 1997).
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Socó-pequeno
Nome Popular
Socó, socó-pequeno.
Nome em outras localidades
Socó-estudante; Socó-tripa; Socó-mijão.
Nome científico
Família Ardeidae
Butorides striata Linnaeus, 1758.
Quadro 25. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Socó-
pequeno.
Tamatião
Nome Popular
Tamatião-claro.
Nome em outras localidades
Savacu.
Nome científico
Família Ardeidae
Nycticorax nycticorax Linnaeus, 1758.
a Nome Popular
Tamatião.
Nome em outras localidades
Savacu-de-coroa; Tamatião-coroa; Socó-dorminhoco. b
Nome científico
Família Ardeidae
Nyctanassa violacea Linnaeus, 1758.
Figura 37. Tamatião. a)Tamatião-claro. Foto: Alberto Campos. b) Tamatião. Foto: Fábio Olmos.
Quadro 26. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Tamatião.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É azul... meio cinza”. - 60 cm. Alto da cabeça e dorso negros, asas cinzentas, testa,
- “Ele é grande... quase do tamanho de um frango”. partes inferiores e alongas penas nucais brancas (Nycticorax
- “Tem um bico grande e grosso”. nycticorax) (SICK, 1997).
- “Tem duas listras pretas na cabeça”.
Habitat
- “Tem em todo mangue”. - Nos manguezais (SICK, 1997).
Alimentação
- “Come aratu, xié, caranguejo, peixe”. - Alimenta-se de caranguejos e peixes, ou ainda de jias como a
espécie Nycticorax nycticorax (AQUASIS, 2007).
Comportamento
- “Mora no mangue, dorme e se reproduz”. - Tem hábitos crepusculares e noturnos (SICK, 1997; AQUASIS,
- “De noite eles cantam, saem para comer na lagoa ou 2007).
no rio”.
- “É dorminhoco, dorme durante o dia”.
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3.5.3 Crustáceos
"Caranguejo, aratu, xixié, tesoureiro ficam perto dos troncos das árvores, quando a
gente chega eles se escondem tudim" (Dona Isabel).
De acordo com os entrevistados, os mariscos são todos aqueles animais que tem
casco. Essa denominação de “mariscos” também foi registrada entre as marisqueiras do
Canal de Santa Cruz, Pernambuco, por ALVES & SOUZA (2000), em que o termo “marisco”
é utilizado para designar bivalves em geral, mas que existe um grupo mais amplo denominado
“crustáceo”, formado por bivalves, caranguejos, siris, goiamuns, lagostas e camarões,
correspondendo também ao que (SOUTO, 2004) registrou entre os pescadores e marisqueiras
de Acupe, Bahia.
Os crustáceos são talvez os representantes mais comuns e os mais conhecidos dos
manguezais. De acordo com COELHO et al. (2004), eles constituem um dos grupos mais
importantes da fauna dos manguezais. Cerca de 38.000 espécies de crustáceos, entre eles
caranguejos, camarões, lagostas e lagostins, são conhecidas, sendo, portanto, um dos grupos
mais representativos do filo Arthropoda (RUPPERT & BARNES, 1994).
“Na lama, tem o caranguejo, tesoureiro, xixié” (Seu Raimundo).
Hoje essa técnica não é utilizada na região, já que existem outras formas mais
práticas de captura, como a redinha que é proibida, apesar de muitos catadores pegarem
caranguejo assim.
“Pra pegar com redinha é assim... tem um buraco... ai você enfia um pau de cada
lado... você pega a redinha coloca entre os dois paus e deixa na boca do buraco...
certo? O buraco tem que ter água... porque tem maré pequena que o buraco fica só
na lama. Ai num serve... só serve no que tem água. Quando o caranguejo vem... se
enrola nisso aqui (mostrando a redinha)”.
(Depoimento de um catador de caranguejo,
filho de uma casal de entrevistados).
Ao se perguntar por que o uso da redinha era proibido, a resposta foi bem clara:
“os catadores que usam a redinha pegam tudo, inclusive os caranguejos pequenos e, além
disso, eles cortam muito o mangue”.
A outra forma de captura é a armadilha, também conhecida como ratoeira,
utilizada tanto para a pesca do guaiamun (C. guanhumi) com a do caranguejo (U. Cordatus).
São armadilhas construídas com latas de óleo ou similares (NORDI, 1992). O catador de
caranguejo põe as ratoeiras nas tocas dos caranguejos e as deixam de um dia para o outro,
quando então retiram as armadilhas com os caranguejos capturados (TEIXEIRA, 2008).
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Aratu
Nome Popular
Aratu.
Nome em outras localidades
Jandaia; Maria-mulata; Anajá; Aratu-do-mangue; Guaiara.
Nome científico
Família Grapsidae
Goniopis cruentata Latreille, 1803.
Quadro 27. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Aratu.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no mangue e nas gamboa”. - Em manguezais, sobre as raízes ou tronco das árvores. Em
- “Ele não tem toquinha, mas ele é morador penetra das praias lodosas, em braços de mar ou estuários (MELO, 1996).
tocas do caranguejo”. - Vive em tocas escavadas nos pontos onde os rios do manguezal
formam barrancos, e também entre raízes e troncos (OLMOS,
2003).
Alimentação
- “Comem caranguejo pequeno”. - Alimentam-se de propágulos de mangue, detritos vegetais e
caranguejos menores como Aratus pisonii (OLMOS, 2003).
- Considerado um animal onívoro, alimenta-se desde folhas de
mangue a cadáveres de crustáceos, incluindo-se os da própria
espécie (BOTELHO et al., 2004)
Comportamento
- “A gente vê eles de dia e de noite”. - Escala árvores (OLMOS, 2003).
- “Sobe os paus dos mangues”. - É extremamente rápido e ágil (SOUZA, 2008).
- “Ele é bem rapidinho”.
Camarão
Classificado como um marisco, por ter casco, o camarão (Penaeus spp.) é muito
comum na região e bastante abundante. Parafraseando um dos entrevistados, “tem muito
camarão além dos que tem nos viveiros”. Existem diversas espécies de camarão no estuário
do Rio Jaguaribe, porém uma identificação precisa não foi possível.
Olmos & Silva e Silva (2003) comentam que os camarões utilizam os manguezais
como áreas de crescimento, sendo este o motivo pelo qual são encontrados, praticamente,
apenas indivíduos jovens nesses ambientes, que possuem uma função de “creche” e local de
engorda. O mangue torna-se, assim, um importante local para o setor pesqueiro. Os mesmos
autores continuam afirmando que, após a maturação sexual, os camarões adultos vão para o
mar, enquanto que os pitus (Macrobrachium spp.) sobem os rios. Os que são pescados no
estuário do Rio Jaguaribe, segundo os entrevistados, possuem a coloração amarela, “meio
transparente” e são animais que se alimentam do “lodim que cria na lama”.
Quadro 28. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Camarão.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Tem na água doce, na salgada e no cativeiro”. - É encontrado nos canais e lagoas do mangue, reproduzindo-se
- “Tem mais na época que passa pra água doce”. em mar aberto sendo que os jovens migram para o mangue e aí
se desenvolvem (MAJOR, 2002).
Predadores
- “O socó e o socó boi que come”. - As aves da família Ardeidae se alimentam de peixes, insetos
aquáticos, caranguejos, moluscos, anfíbios e répteis (SICK,
1997).
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Caranguejo
Nome Popular
Caranguejo; Caranguejo-uçá.
Nome em outras localidades
Uçauna; Uçá; Caranguejo-verdadeiro; Caranguejo-comum; Caranguejo-
uçá.
Nome científico
Família Ucididae
Ucides cordatus Linnaeus, 1763.
Quadro 29. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Caranguejo.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É azul, mas quando cozido é vermelho”. - As fêmeas possuem abdômen semicircular e os machos o
- “Tem as patas peludas”. abdômen longo, estreito e triangular (NASCIMENTO, 1993).
- “Ele é meio marrom”. - Patas ambulatórias 2-4 com longa franja de pêlos sedosos. As
- “A fêmea tem a parte de baixo mais redonda que o fêmeas não mostram esta pilosidade (MELO, 1996).
macho”.
Habitat
- “Fica só no mangue”. - Vive em tocas, construídas na vasa que circunda as plantas do
mangue (SOUZA, 1587 apud COSTA, 1972).
- Encontra-se em ambientes pantanosos, entre raízes de árvores
do mangue (MELO, 1996).
Alimentação
- “Come a folhinha de mangue”. - São animais onívoros e têm como principais fontes de
- “Ele vive da maresia, porque num tem dentinho forte... alimentos, vegetais superiores, algas e poríferos, além de
mas quando adulto ele come folha”. sedimentos (COSTA, 1972).
- “Come os frutos do mangue”. - Alimenta-se das folhas e propágulos caídos (OLMOS & SILVA
e SILVA, 2003).
Predadores
- “Quem se alimenta dele? Todos nós e o guaxinim”. - Entre os predadores do caranguejo estão alguns crustáceos,
peixes, aves e mamíferos, incluindo o ser humano (SOUTO,
2007).
- Destacam-se entre os principais predadores do caranguejo-uçá:
a coruja (Pulsatrix pesrpicillata), o falcão (Buteogallus
arquinoctialis), o guaxinim (Procyon cancrivorus), o gambá
(Didelphis marsupialis), a raposa (Dusicion thos) e o homem
(Homo sapiens) (NASCIMENTO, 1993).
Comportamento
- “Ele é gordo em maio”. - Cada indivíduo ocupa uma única galeria, sendo muito
- “Se reproduz em dezembro, janeiro e fevereiro”. pronunciado o seu territorialismo (COSTA, 1972).
- “O caranguejo... ele desova na água”. - Segundo ALCÂNTARA-FILHO (1978), o caranguejo se
- “Cada caranguejo tem a sua toquinha”. reproduz de dezembro a maio. Segundo COSTA (1979), nos
meses de janeiro e março-abril.
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Guaiamum
Nome Popular
Guaiamum.
Nome em outras localidades
Caranguejo; Caranguejo-azul; Guaiumi; Goiamun.
Nome científico
Família Gecarcinidae
Cardisoma guanhumi Latreille, 1852.
Quadro 30. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Guaiamum.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “O macho é azul e a fêmea é amarela, mas tem fêmea - Os machos possuem uma quela bem desenvolvida e os adultos,
azul também”. de ambos os sexos, apresentam carapaça com coloração que vai
- “É que nem o caranguejo”. do azul escuro até tons de cinza e branco (BURGGREN &
- “Todo azul”. MCMAHON, 1988).
- Os juvenis geralmente possuem os pereiópodes alaranjados,
enquanto as fêmeas ovígeras frequentemente mudam a coloração,
apresentando carapaça cinza ou branca (LLOYD, 2001).
Habitat
- “Ficam no meio das gamboas”. - Encontrado principalmente na faixa de transição entre o
- “Tem mais nos altos, nas ilhas”. manguezal e a restinga mais alta (POR, 1994).
- “Não é no mangue mesmo não, é nas beiradas, nas - Característico dos locais de transição entre mangue e Mata
croas”. Atlântica, encontrados rio acima (MELO, 1996).
Predadores
- “É o preferido por todo mundo, mas é caro demais”. - O guanixim (Procyon cancrivorus) se alimenta de crustáceos
- “Quem come são os turistas”. (REIS et al., 2006).
- “É pegado por todo mundo”.
- “Guaxelo come”.
Comportamento
- “Constrói tocas fundas”. - Constrói tocas muito profundas (OLMOS & SILVA e SILVA,
- “Na época do inverno eles saíam do mangue e 2003).
apareciam nos sitos. Hoje em dia já não tem mais tanto - Possui hábitos noturnos e constrói galerias perto do mar, sempre
assim”. onde a água pode ser alcançada (MELO, 1996).
- “Ele engorda muito entre os meses de janeiro a maio,
mas em maio é quando ele tá mais gordo. Tudo por causa
da chuva, que faz nascer o pasto e ai o guaiamum come”.
- “Se reproduz no final do ano”.
- “Ele sai mais de noite”.
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Maria-farinha
Nome Popular
Maria-farinha.
Nome em outras localidades
Aratu; Caranguejo-marinheiro.
Nome científico
Família Sesarmidae
Aratus pisonii H. Milde Edwards, 1837.
Quadro 31. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Maria-
farinha.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Ele parece com o aratu”. - Sua cor imita a casca dos mangues, servindo de proteção
- “Ele é vermelho meio fraco”. (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
- “É menor que o aratu, bem miudim”.
Habitat
- “Fica nos paus, nas gamboas”. - Em estuários, sobre rochas ou em pilares de embarcadouros.
- “Em cima dos garranchos, nas ostras”. Comuns em manguezais, onde chega a subir nas árvores
- “Dentro do mangue”. (MELO, 1996).
- É um caranguejo que apresenta hábito arborícola, sendo
encontrado em ramos e troncos das árvores de manguezal
(WARNER 1967)
Alimentação
- “Come lama”. - A. pisonii é um importante membro da comunidade do mangue
- “Come folha do mangue”. vermelho, destruindo e prejudicando as folhas, em função de seu
- “Come folha do sapateiro”. hábito herbívoro (BEEVER et al., 1979).
- Os aratus são fitófagos, alimentando-se especialmente de
folhas vivas e brotos de mangue (POR, 1994).
- Alimenta-se de algas e pequenos animais (incluindo moluscos
e insetos) que crescem sobre os mangues, além das folhas do
mangue vermelho e de outras espécies (MELO, 1996).
Predadores
- “Peixe, bagre”.
Comportamento
- “Sobe nos paus, nas raízes dos mangues”. - Verdadeiro caranguejo arborícola, deslocando-se com rapidez
pelos troncos e galhos dos mangues, e também em pilares e
outras construções à beira da água (OLMOS & SILVA e SILVA,
2003).
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Siri
Nome Popular
Siri (croeiro).
Nome em outras localidades
Siri-azul; Siri-açú; Siri-tinga; Siri-mirim.
Nome científico
Família Portunidae
Callinectes danae Smith, 1869.
Figura 43. Siri.
Foto: Márcia F. Pinto.
Quadro 32. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Siri.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no rio e no mangue”. - Encontra-se em manguezais e estuários lamosos. Também em
praias arenosas e mar aberto e entre-marés (MELO, 1996)
Abundância
- “Tem mais na época de inverno”. - Ocorre de águas salobras até hipersalinas (MELO, 1996).
Alimentação
- “Come peixe miúdo e camarão”. - Os itens mais importantes na alimentação da espécie C. danae
são moluscos, crustáceos Brachyura, poliquetas, insetos, peixes,
macrófitas, algas, entre outros (BRANCO & VERANI, 1997).
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Tesoureiro
Nome Popular
Tesoureiro; Mão-no-olho.
Nome em outras localidades
Chama-maré; Maracuaim; Tesoura; Violonista.
Nome científico
Família Ocypodidae
Uca maracoani Latreille, 1803.
Quadro 33. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Tesoureiro.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “O tesoureiro tem a pata maior do que ele”. - A quela dos machos do gênero Uca pode atingir o extremo de
- “É um caranguejo pequeno, com uma pata vermelha, quatro vezes o comprimento da carapaça.
bem larga”. - Os machos de Uca exibem um dos extremos níveis de
- “O macho é que tem a pata larga, a fêmea tem duas assimetria do corpo dentre os animais bilaterais, tendo uma quela
patas bem pequenininhas”. gigante e a outra pequena, enquanto as fêmeas possuem um par
de quelas pequenas que lembram a pequena do macho.
(MASUNARI, 2006).
Habitat
- “Ele fica dentro d’água e no seco também”. - Ao longo das margens de baías calmas. Ocorre sempre ao nível
- “Ficam nas croas”. de maré vazante máxima, em substratos lodosos, perto de árvores
- “Tem na lama”. de mangue (MELO, 1996).
- “Na margem do rio”.
Alimentação
- “Se alimenta de lama, maresia e folha do mangue”. - O gênero Uca alimenta-se de uma variedade de bactérias e
microflora bentônicas (MASUNARI, 2006).
Predadores
- “O peixe pacamon, um da cabeça grande, o siri, o - Os Ucas são uma importante fonte de alimento para vários
guaxelo e a siricoia que comem”. animais como mamíferos, aves, peixes e caranguejos de grande
- “Peixe grande come eles”. porte do manguezal (CRANE, 1975 apud MASUNARI, 2006).
- “Ele é explorado pelo peixe pacamon”.
- “De noite, o tamatião pega ele”.
Comportamento
- “Eles aparecerem na maré seca”. - Sincronizam as atividades reprodutivas como cortejo,
- “Tem de noite também, mas é pouco”. acasalamento e liberação das larvas com as marés locais
(MASUNARI, 2006).
- Liberam suas larvas durante a noite, nas marés altas de sizígia
(SALMON et al., 1986 apud MASUNARI, 2006).
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Xixié
Nome Popular
Xixié; Xié.
Nome em outras localidades
Mão-no-olho; Tesoureiro; Tapa-olho; Chama-maré.
Nome científico
Família Ocypodidae
Uca spp.
Quadro 34. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Xixié.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Ficam na vargem que é mais seco, é fora do mangue, - Vivem em galerias cavadas no lodo, ou na areia lamosa, na
mas perto d’água”. vizinhança dos manguezais. Nos mesmos substratos ao longo de
- “Tem onde a maré bota”. rios e riachos, e também, em lagoas. (MELO, 1996).
Alimentação
- “Come folha de mangue”. - Os Ucas alimentam-se de detritos do mangue (POR, 1994).
Predadores
- “Ninguém come, mas é comida de passarim”. - Os Ucas são uma importante fonte de alimento para vários
- “Siricóia come”. animais como mamíferos, aves, peixes e caranguejos de grande
porte do manguezal (CRANE, 1975 apud MASUNARI, 2006).
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3.5.4 Moluscos
A maioria das pessoas que pratica a mariscagem são mulheres, donas de casa e
crianças que ajudam na renda familiar.
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Alguns desses animais, como a buzana e o aruá, não são utilizados na comunidade
do Cumbe, embora sejam utilizados para alimentação, em outras localidades (BOFFI, 1979;
ANDRADE, 1983; SOUTO, 2004).
Quanto à alimentação desses “mariscos”, com exceção do aruá e da buzana, em
todos os relatos dos entrevistados, foi comentado que eles se alimentam de maresia, do
“lodozim” ou do lodo verde. De acordo com Souto (2004), as marisqueiras apresentaram uma
certa dificuldade ao falar sobre os hábitos alimentares dos moluscos bivalves, por conta da
natureza microscópica ou particulada do alimento e/ou ao modo de vida de alguns moluscos
que se enterram no sedimento, embora algumas pessoas tenham apontado, como itens
alimentares do bebe-fumo (Anomalocardia brasiliana), a areia, a lama, limo, salitre da maré,
caldo da maré ou salzinho, que em termos de ecologia acadêmica pode associar-se ao
plâncton ou à matéria orgânica em suspensão. Segundo Ruppert & Barnes (1994), a maioria
dos bivalves cavadores de fundo mole, componentes da infauna, explora a proteção oferecida
pela vida subterrânea em areia e lodo marinhos, enquanto utilizam o alimento em suspensão
na água.
Além de serem utilizados na alimentação e para o artesanato, os moluscos, em
especial os bivalves, representam bons indicadores ambientais. Eles são amplamente
utilizados como animais testes para estudos toxicológicos, já que, em sua maioria, são animais
filtradores, que, ao realizarem a filtração da água, entram em contato também com substâncias
que estão presentes no meio, sendo algumas destas substâncias prejudiciais aos indivíduos
(DAVID, 2007).
Foram citadas pelos entrevistados sete “qualidades” de moluscos, as quais
correspondem a cinco espécies e três ao nível de gênero. A lista completa encontra-se no
apêndice VI.
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Aruá
Nome Popular
Aruá.
Nome em outras localidades
Uruá; Arauá.
Nome científico
Família Ampullariidae
Pomacea sp.
Quadro 35. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Aruá.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Predadores
- “O carão gosto é muito”. - O carão (Aramus guarauna) é uma ave que tem como alimento
básico os aruás, Pomacea (=Ampullaria) guyanensis
gastrópodes aquáticos (SICK, 1997).
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Buzana
Nome Popular
Buzana.
Nome em outras localidades
Turu; Teredo.
Nome científico
Família Teredinidae
Teredo sp.
Quadro 36. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Buzana.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É uma lagarta que entra no pau e come”. - O corpo do teredo é alongado e vermiforme (BOFFI, 1879;
- “É que nem uma lombriga”. RIOS, 1994).
Habitat
- “Fica nos paus do mangue canoé”. - Os Teredinidae são perfuradores de madeira e responsáveis
- “Nas madeiras... nas embarcações”. por inúmeros danos a barcos e pontões (BOFFI, 1879; RIOS,
1994).
Alimentação
- “Come madeira”. - O aproveitamento da madeira como alimento varia de espécie
para espécie; algumas dependem quase que exclusivamente do
plâncton como fonte de alimento (BOFFI, 1879).
Comportamento
- “Ela faz uma capa tipo uma casca da ostra e anda por - Encontra-se alojado num tubo revestido por calcário (BOFFI,
dentro dela”. 1879).
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Búzio
Nome Popular
Búzio.
Nome em outras localidades
Bebe-fumo; Papa-fumo; Berbigão; Vôngoli; Maçunin;
Chumbinho; Sernambitinga; Marisco; Marisco-pedra;
Sernabitinga.
Nome científico
Família Veneridae
Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791.
Quadro 37. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Búzio.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É muidim”. - Concha triangular, com manchas escuras formando raios ou
- “Redondo”. pontos irregulares (RIOS, 1994).
- “Tem miolo dentro”.
Habitat
- “Ficam nas croas, no fundo do rio”. - Vive no sedimento lodoso das lagoas e canais do manguezal
- “São mais de água salgada”. (POR, 1994).
- “Poucos são os de água doce”. - Encontrado em bancos de areia e lama, em águas rasas (RIOS,
1994).
- Espécie que fica próxima à desembocadura do estuário
(BARROSO, 2006).
Alimentação
- “Come lodo verde”. - Espécie suspensívora (PETRAGLIA-SASSI, 1986).
Comportamento
- “Morre com água doce”. - Mostra uma tolerância relativamente limitada a salinidades
muito baixas (BARROSO, 2006).
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Intã
Nome Popular
Intã.
Nome em outras localidades
Pistoleta; Unha-de-velho; concha-navalha; Canivete; Unha-de-urubu.
Nome científico
Família Solecurtidae
Tagelus plebeius Ligthfoot, 1786.
Quadro 38. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Intã.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Bicha do tamanho do dedo”. - Concha retangular, com 70 mm de comprimento, 20 mm de
- “É uma casquinha comprida”. altura e 15 mm de largura nos exemplares maiores.
- “Tem a casca meio branca”. - Concha de cor branco-amarelada e opaca (BOFFI, 1979).
- “É bem menor que a taioba”. - Concha em formato de navalha (RIOS, 1994).
Habitat
- “Fica debaixo da lama; dentro da lama”. - Nos bancos de lodo.
- “Só dão no salgado”. - Enterrados no sedimento (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
- “No rio... nas gamboa”. - Ficam no banco areno-lodosos (NISHIDA et al., 2004).
- “No fundo do rio”. - Geralmente presente nas bocas dos rios e enseadas, em bancos
de areia e lama (RIOS, 1994).
Alimentação
- “Come maresia”. - Suga o sedimento da superfície (OLMOS & SILVA e SILVA,
2003).
- Espécie suspensívora (PETRAGLIA-SASSI, 1986).
Predadores
- “A garça, o socó comem”. - As aves da família Ardeidae se alimentam de peixes, insetos
- “O guaxinim e a raposa”. aquáticos, caranguejos, moluscos, anfíbios e répteis (SICK,
- “Bagre, peixe”. 1997).
- O guaxinim (Procyon cancrivorus) se alimenta principalmente
de moluscos, insetos, peixes, caranguejos, anfíbios e frutos
(REIS et al., 2006).
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Ostra
Nome Popular
Ostra.
Nome em outras localidades
Gureri; Ostra-gaiteira.
Nome científico
Família Ostreidae
Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828.
Quadro 39. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Ostra.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Ficam nas gamboas, dentro da maré”. - Ocupa a zona entre marés; quando em lagoas, prende-se às
- “Na lama e nos paus”. raízes de Rhizophora mangle; quando em praias, prende-se a
- “Agarrada nos paus, nas raízes do sapateiro”. rochas (BOFFI, 1979; RIOS, 1994).
- Cresce sobre as raízes dos mangues (OLMOS & SILVA e
SILVA, 2003).
- Fixa às raízes, caules e troncos do mangue-sapateiro ou
vermelho (Rhizophora mangle), expostas durante a maré baixa
(NISHIDA et al., 2004)
Alimentação
- “Se alimenta da maresia do rio”. - Filtra a água, retendo algas e animais microscópicos suspensos
na água (o plâncton), além de partículas orgânicas (OLMOS &
SILVA e SILVA, 2003).
Comportamento
- “A água doce mata... Eles apodrecem e morre tudim”. - Possui pequena tolerância a baixas salinidades (BARROSO,
2006; VILANOVA & CHAVES, 1998).
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Taioba
Nome Popular
Taioba.
Nome em outras localidades
Maçunim; Maçucunum;Tarioba.
Nome científico
Família Donacidae
Iphigenia brasiliensis Lamarck, 1818.
Quadro 40. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Taioba.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Maior que a intã”. - Concha trigonal, com 70 mm de comprimento, 50 mm de altura
- “É maior e mais funda que a intã”. e 30 mm de largura, nos exemplares maiores (BOFFI, 1879).
- “É que nem o búzio, só que mais comprido”. - Concha alongada de cor creme com manchas laranja ou roxa na
- “Tem o miolo dentro do casco”. parte superior (NARCHI, 1972).
Habitat
- “Fica dentro da lama, enterrado”. - Bancos areno-lodosos (NISHIDA et al., 2004).
- Encontra-se logo abaixo da zona entre marés, enterrando-se a
pequena profundidade no substrato lodoso (BOFFI, 1879).
- Enterram-se até 20 cm de profundidade em sedimento arenoso.
Pouco comum (NARCHI, 1972; DIJCK, 1980).
Predadores
- “Passarim do bico grande que come como o socó boi”. - A família Ardeidae se alimenta de peixes, insetos aquáticos,
caranguejos, moluscos, anfíbios e répteis (SICK, 1997).
Comportamento
- “Morre no inverno”. - Espécie pouco tolerante a baixas salinidades (SANTOS, 2004;
- “Tem uns cachimbos que sai pra respirar”. BARROSO, 2006).
- Espécie que vive em águas calmas e na maré baixa, dois
orifícios distintos e separados feitos pelos sifões tornam-se
visíveis na superfície da areia. Os sifões são separados,
extensíveis e bem desenvolvidos (NARCHI, 1972)
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Sururu
Nome Popular
Sururu.
Nome em outras localidades
Mexilhão; Marisco-do-mangue; Bacucu; Bico-de-ouro.
Nome científico
Família Mytilidae.
Mytella guyanensis Lamarck, 1819.
Quadro 41. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Sururu.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Tem uma casca e dentro o miolo”. - Apresenta concha grande (até 80 mm de comprimento) (BOFFI,
- “Tem miolo”. 1979).
- Concha alongada, em forma de cunha (RIOS, 1994)
Habitat
- “Fica dentro d’água e na lama”. - Vive em fundos de vasa preta, ricos em matéria orgânica, presa a
- “Fica na água salgada”. substratos duros (BOFFI, 1979).
- Enterrada numa profundidade máxima de 1,0 cm (NISHIDA &
LEONEL, 1995).
Comportamento
- “Só dá no verão”. - São espécies eurialinas com salinidade mínima de 5 (PEREIRA
- “Cresce lá pra outubro”. el al., 2003).
- “Demora mais pra crescer que a intã”. - Observou-se em Santa Catarina que a reprodução é contínua,
- “A água doce do rio mata". com grande eliminação de gametas ocorrendo de agosto a
- “Ele é gerado da água da maré, na água salgada”. outubro (CARPES-PATERNOSTER, 2003).
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3.5.5 Peixes
grande diversidade de organismos e outros passem toda a sua vida em manguezais e estuários
(OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
De um total de 48.170 espécies reconhecidas de vertebrados, 24.618 são de
peixes, ou seja, o grupo mais numeroso (NELSON, 1994 apud ARAÚJO et al., 2004). Nos
ambientes estuarinos, eles representam 99% das espécies nectônicas, desempenhando um
importante papel ecológico nestes ambientes, transformando o potencial energético do detrito,
por consumo direto ou por predação sobre os organismos detritívoros; conduzindo energias
dos níveis tróficos inferiores para os superiores; trocando energia por importação (peixes que
penetram nos estuários e são predados ou capturados), ou por exportação (peixes migradores,
adultos ou jovens) com os ecossistemas vizinhos e armazenando energia através de espécies
que penetram nos estuários e passam boa parte de suas vidas nestes ambientes (ARAÚJO et
al., 2004).
Por conta dessa grande diversidade de espécies e principalmente dos nomes
populares dos peixes, que variam de região para região, muitos estudos etnoictiológicos estão
sendo realizados, ao longo de toda costa brasileira, revelando o valioso conhecimento dos
pescadores (MARQUES, 1991). Muitos desses estudos mostram como esses pescadores
artesanais possuem sofisticados sistemas classificatórios, com vários critérios de nomeação e
ordenação taxonômicos, tanto em níveis genéricos, como em específicos (SOUTO, 2004).
No trabalho de Alves & Soares-Filho (1996), na região estuarina do Rio
Jaguaribe, foram constatadas 85 espécies de peixes distribuídas em 43 famílias e 73 gêneros.
Dessas espécies, 20 são típicas de água doce e, das espécies estudadas, 51,76% encontraram-
se presentes tanto na época das chuvas como na época da seca, com uma porcentagem maior
na época das chuvas. Outro dado importante, no mesmo trabalho de Alves & Soares (1996),
foi a predominância das espécies carnívoras que ingerem acidentalmente o plâncton, mas que
apresentam comumente, em seu aparelho digestivo, pequenos peixes, camarões, caranguejos,
ostra, sururu, siri e larvas de crustáceos. Porém, de um modo geral, a ictiofauna foi
caracterizada como fito-zoófagas.
Todas as identificações desses peixes, com suas características morfológicas,
comportamentais, de distribuição, de relações ecológicas, dentre outras, foram possíveis
devido ao contato direto que os pescadores tem com o meio em que vivem, tendo o peixe
como um dos principais recursos da região. Muitas espécies foram citadas, e a lista completa
encontra-se no apêndice VII. A seguir, segue as informações obtidas de apenas algumas das
espécies citadas.
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Arraia
Nome Popular
Arraia Bico-de-remo.
Nome científico
Família Dasyatidae
Dasyatis guttata Bloch & Schneider, 1801.
Quadro 42. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Arraia
(Dasyatis guttata).
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É redonda”. - Assim como todas as raias, as nadadeiras peitorais são fundidas
- “Tem até umas com 40Kg no mar, e umas de 20kg no à cabela, formando um “disco”, que em D. guttata é cerca de 1,1
rio”. vezes mais largo do que longo.
- “Tem esporão em cima do rabo”. - Tamanho máximo entre 180 e 200cm de largura de disco.
- Possui um espinho longo e serrilhado (MENESES, 2008)
Habitat
- “É de água salgada, mas tem no rio também”. - Vive em fundos arenosos, lamosos e até mesmo calcários.
- “Dá mais no mar”. - Habitante de águas costeiras, neonatos ocorrem em estuários, e
poças de maré, adultos até uma faixa de aproximadamente 30m
de profundidade (SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Come peixinho, siri mole e moréia”. - No Ceará, alimenta-se de equinodermatas (Holoturidae),
sipunculídeos (Sipunculus sp.), anelídeos poliquetas (Eunicidae),
moluscos bivalves e gastrópodes e crustáceos, como camarões
do gênero Penaeus e siris do gênero Callinectes, além de peixes
da espécie Pomadasys corvinaeformis (SILVA; VIANA &
FURTADO-NETO, 2001).
Comportamento
- “Ela cava para tirar a pistoleta”. - Apresenta hábito puramente bentônico
(SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Bagre
Nome Popular
Bagre.
Nome em outras localidades
Bagre-branco.
Nome científico
Família Ariidae
Genidens barbus Lacepede, 1803.
Quadro 43. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Bagre-
branco.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É meio branco, parece com um tubarão pequeno”. - Apresenta espinhos fortes e serrilhados nas suas nadadeiras
- “Tem a cabeça grande”. peitorais e dorsal, uma formidável defesa contra predadores
- “Tem Barba”. (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
- “Tem três esporões”.
Habitat
- “Tem no rio e no mar”. - Ocorre em águas estuarinas, mas pode ser encontrada em águas
costeiras e oceânicas (RIEDE, 2004 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Come camarão, sauna...”. - Alimentam-se de pequenos invertebrados do fundo, como
- “Xixié”. crustáceos, poliquetas, moluscos, além de aproveitar animais
mortos (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
Comportamento
- “Pra se defender o bicho usa uns esporões, que ave - Quando eretos, os espinhos aumentam o diâmetro do peixe,
Maria é uma dor medonha”. tornando-o mais difícil de capturar e engolir. Além disso, os
- “Fica com os filhotes na boca, cuidando”. espinhos apresentam glândulas de peçonha (veneno).
- A dor causada pelo espinho é bem conhecida por pescadores
que se ferem quando retiram estes peixes das redes ou do anzol
(OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
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Camurim
Nome Popular
Camurim.
Nome em outras localidades
Camurim-amarelo; Robalo.
Nome científico
Família Centropomidae
Centropomus parallelus Poey, 1860.
Quadro 44. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Camurim (Centropomus parallelus).
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É o maior dos peixes daqui”. - Atinge 5kg de peso total (CLARO, 1994).
- “De 8 a 10kg”.
- “É quase branco, com umas listrinhas pretas”.
Habitat
- “Água salgada e doce”. - Habita regiões costeiras, estuarinas e lagoas costeiras com
fundos arenosos e macios (SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Peixe, camarão”. - Alimenta-se de pequenos peixes e crustáceos (BOUJARD et
al., 1997 apud SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Camurupim
Nome Popular
Camurupim.
Nome em outras localidades
Camuripema; Tarpão; Camurupi.
Nome científico
Família Megalopidae
Megalops atlanticus Valenciennes, 1847.
Figura 56. Camurupim.
Foto: Reynaldo Marinho.
Quadro 45. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Camurupim.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É o pema grande”. - Espécie que atinge 100cm de comprimento total (CLARO,
- “De 100 a 90 Kg”. 1994).
Habitat
- “É mais peixe do mar... no rio é menor”. - Habita águas costeiras, baias, estuários e rios (BOUJARD et
al., 1997 apud SEMACE/LABOMAR).
Alimentação
- “Sauna, tainha”. - Alimenta-se de peixes como espécies de sardinha, anchovas,
- “Peixe de salto”. robalos e alguns ciclídeos e eventualmente caranguejos
- “Camarão”. (WHITEHEAD & VERGARA, 1978 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
Pema
“É o camurupim pequeno” (Seu Didica)
Esta espécie habita águas costeiras, baías, estuários e rios (BOUJARD et al., 1997
apud SEMACE/LABOMAR, 2005). É um peixe que, quando cresce, é conhecido como
camurupim.
Quadro 46. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Pema.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É largo... meio chato”. - Corpo moderadamente comprido.
- “Tem a cabeça chata e o queixo comprido”. - Boca superior, com extremo anterior da maxila inferior
- “Tem muita espinha”. dirigido para cima (ARAÚJO et al., 2004).
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Caranha
Nome Popular
Caranha.
Nome em outras localidades
Pargo-mulato.
Nome científico
Família Lutjanidae
Lutjanus apodus Walbaum, 1792.
Vermelha
Nome Popular
Vermelha.
Nome em outras localidades
Cioba; Vermelho-caranha.
Nome científico
Família Lutjanidae
Lutjanus analis Valenciennes, 1828.
Figura 58. Vermelha.
Foto: Baumeier, E. (Fishbase).
“Vira o caranha, que é preto. Quando pequeno é vermelho” (Seu Didica).
Quadro 47. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à
Vermelha.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Peixe pequeno e comprido”. - Pode alcançar 94 cm de comprimento total (IGFA, 2001).
Habitat
- “Tem no rio, no mar e nas pedras”. - Habita ambientes recifais e rochosos.
- Indivíduos maiores localizam-se em águas mais fundas,
enquanto que os jovens são mais comuns em regiões costeiras,
entre algas e pedras em estuários (SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Carapeba
Nome Popular
Carapeba.
Nome em outras localidades
Carapeba-branca.
Nome científico
Família Gerreidae
Diapterus auratus Ranzani, 1842.
Quadro 48. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à
Carapeba.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe pequeno”. - Atinge 34 cm de comprimento total (CERVIGÓN, 1993).
- “Branco”. - Corpo comprido e alto.
- “Tem o olho grande com uma rodinha vermelha ao - Olhos grandes (diâmetro ocular maior que o comprimento do
redor”. focinho).
- Coloração geral prateada com dorso escuro (ARAÚJO et al.,
2004).
Habitat
- “Vive no rio”. - Habita regiões costeiras rasas, especialmente estuários e lagunas
(SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Come os mariscos moles”. - Alimenta-se basicamente de invertebrados
(SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Cavalo-marinho
Nome Popular
Cavalo-marinho.
Nome científico
Família Syngnathidae
Hippocampus spp.
Quadro 49. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao cavalo-
marinho.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Tem duas qualidades: o preto e o vermelho”. - Focinho tubular.
- “Preto e amarelo”. - Coloração geral cinza, marrom, vermelha, laranja ou amarela
- “É do tamanho do dedo”. (ARAÚJO et al., 2004).
- “Tem um bicozim”.
Habitat
- “Fica dentro d’água, nas beiradas”. - Encontra-se normalmente presa a gorgonias-do-mar ou algas,
- “Água salgada”. vegetação sub-aquática de estuários e nadando livremente a
meia-água (LIESKE & MYERS, 1994 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Lodozim nos paus”. - O local que o animal se fixa também é onde busca por recursos
alimentares, pois se alimenta de organismos associados ao
substrato, como a fauna fital e invertebrados planctônicos
(TEIXEIRA & MUSICK, 2001).
Comportamento
- “Quem tem os filhotinhos é o macho”. - Os machos apresentam uma bolsa incubadora, chamada de
- “É do verão”. marsúpio, onde a fêmea deposita seus óvulos. Após fecundado
- “Dizem que é bom pra quem tem asma... dava um chá pelo esperma do macho, os ovos desenvolvem-se dentro do
pras crianças tomar”. marsúpio, sendo os jovens expulsos por meio de contrações
musculares (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
- Torrado e moído, dado a tomar a asmáticos, produz efeitos
terapêuticos (ARAÚJO, 1957).
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Espada
Nome Popular
Espada.
Nome em outras localidades
Embira; Peixe-espada.
Nome científico
Família Trichiuridae
Trichiurus lepturus Linnaeus, 1758.
Quadro 50. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Espada.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Tem cor de alumínio”. - Coloração geral prateada com reflexos metálicos e dorso mais
- “Não tem escama”. escuro.
- “É um peixe comprido”. - Corpo desprovido de escamas, alongado, bastante comprido
(ARAÚJO et al., 2004).
Habitat
- “Tem no rio e no mar”. - Espécie encontrada geralmente sobre fundos barrentos em
regiões costeiras e estuários (NAKAMURA, 1995 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Come os outros peixes pequenos”. - Indivíduos jovens alimentam-se principalmente de crustáceos
planctônicos e pequenos peixes, enquanto que os adultos se
alimentam principalmente de pesca e ocasionalmente de lulas e
crustáceos (NAKAMURA & PARIN, 1993 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Mero
Nome Popular
Mero.
Nome em outras localidades
Merote.
Nome científico
Família Serranidae
Epinephelus itajara Lichtenstein, 1822.
Quadro 51. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Mero.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe grande”. - Atinge 250 cm de comprimento total (ANON, 1994 apud
- “Preto com umas rajas amarelas”. SEMACE/LABOMAR, 2005) e 455kg de peso total
.- “Ele é grande no mar (uns 100Kg) e pequeno no rio”. (BULLOCK et al., 1992 apud SEMACE/LABOMAR, 2005).
Habitat
- “Tem no rio e no mar”. - Ocorre em lugares abrigados, em pedras, recifes de coral e
fundos lamacentos.
- Os indivíduos jovens e adultos podem ocorrer em áreas de
manguezais e estuários (CERVIGÓN et al., 1992).
Alimentação
- “Peixe e búzios”. - Alimenta-se principalmente de crustáceos, lagostas-espinhosas
particularmente; como também de tartarugas e de peixes,
inclusive raias (SEMACE/LABOMAR, 2005).
Predadores
- “A gente”. - Espécie importante comercialmente pelo sabor da sua carne,
capturada tanto pela pesca artesanal, quanto a industrial no
Ceará (SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Moréia
Nome Popular
Moréia.
Nome em outras localidades
Moréia-verde; Moréia; Caramuru.
Nome científico
Família Muraenidae
Gymnothorax funebris Ranzani, 1839.
Quadro 52. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Moréia.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe que parece uma cobra”. - A Gymnothorax funebris Ranzani, 1839 é uma moreia muito
- “Tem a boca grande”. grande de coloração uniforme verde escuro ao castanho (SMITH,
- “É verde e preta”. 1997).
Habitat
- “Fica na lama”. - A espécie G. funebris ocorre ao longo de costões rochosos,
- “Entocado nas pedras”. recifes e manguezais (BÖHLKE, 1978).
Alimentação
- “Come água viva... um bichinho pequeno que fica na - Alimenta-se principalmente durante a noite de peixes e
água”. crustáceos (CARVALHO-FILHO, 1999).
- “Peixe”.
- “Come siri mole”.
Comportamento
- “É valente” - Devido ao seu grande tamanho e agressividade, as picadas
- “Anda igual à cobra”. dessa moréia (Gymnothorax funebris Ranzani, 1839) são
particularmente perigosas (BÖHLKE, 1978).
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Mututuca
Nome Popular
Mututuca.
Nome em outras localidades
Murucutuca ocelada; Mutuca; Muriongo.
Nome científico
Família Ophichthidae
Myrichthys ocellatus Lesueur, 1825.
Embora seja classificada por muitos dos entrevistados, como "cobra", venenosa e
agressiva, a mututuca (Myrichthys ocellatus) é uma espécie de peixe semelhante a uma
"cobra" e que, segundo SEMACE/LABOMAR (2005), não possui importância na pesca de
subsistência das comunidades costeiras e estuarinas, no Estado do Ceará, porém é bastante
importante na alimentação de alguns pássaros, de acordo com as informações dos
entrevistados.
Quadro 53. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à
Mututuca.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Ela é pintada... assim preto e branco”. - Atinge 110 cm de comprimento padrão (SMITH, 1997).
- “Tem vermelha”.
- “É comprida que nem cobra de veado”.
- “Parece com a jararaca”.
Habitat
- “Fica nos morros e rios”. - Espécie encontrada próxima a ilhas, fundos rochosos e de
- “Água salgada”. recifes de coral (SEMACE/LABOMAR, 2005).
- “Fica no fundo do rio”.
Alimentação
- “Come piabinha... peixe miúdo, camarão”. - Alimenta-se principalmente de caranguejos (RANDALL, 1968
apud SEMACE/LABOMAR, 2005)
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Pacamon
Nome Popular
Pacamon; Pacamão.
Nome em outras localidades
Pacamon-preto.
Nome científico
Família Batrachoididae
Batrachoides surinamensis Bloch & Schneider, 1801.
Quadro 54. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao
Pacamon.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe pequeno”. - Atinge cerca de 57 cm de comprimento total e 2,3kg de peso
- “Preto”. total (COLLETE, 1978 apud SEMACE/LABOMAR, 2005;
- “Tem a boca e a cabeça grandona”. CERVIGÓN et al., 1992).
- “Tem um bucado de esporão pequeno”.
Habitat
- “Fica nos pau” - Predominante estuarina e marinha (CERVIGÓN et al., 1992)
- “Fica entocado nos ocos”. - Encontrada em fundos areno-barrentos e em águas rasas se
- “Enterrado”. camuflando no substrato. (SEMACE/LABOMAR, 2005).
- “No rio”.
Alimentação
- “Come siri, aratu...”. - Alimenta-se de pequenos moluscos gastrópodes, pequenos
- “O que ele encontrar ele come”. crustáceos como caranguejos e camarão, além de se alimentar de
outros peixes (IGFA, 2001).
Comportamento
- “Ele é leso”. - Não são tão ativos.
- “É manso”. - É inofensivo (IGFA, 2001).
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Pampo, pambo
Nome Popular
Pampo, pambo.
Nome em outras localidades
Pampo-cabeça-mole; Piraroba.
Nome científico
Família Carangidae
Trachinotus carolinus Linnaeus, 1758.
Quadro 55. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Pampo.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “Chega no máximo a 3kg”. - 3,76 Kg de peso total (IGFA, 2001).
- “É bem amarelim”.
Habitat
- “Fica no rio”. - Ocorre em águas costeiras, em enseadas e estuários
- “Entra no mar, no rio. Entra e sai”. (CERVIGÓN et al. 1992).
Alimentação
- “O que encontrar”. - Alimenta-se de moluscos, crustáceos e outros invertebrados e de
- “Peixinho”. pequenos peixes (CERVIGÓN et al. 1992).
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Parum
Nome Popular
Parum.
Nome em outras localidades
Paru.
Nome científico
Família Ephippidae
Chaetodipterus faber Broussonet, 1782.
Quadro 56. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo ao Parum.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe grande”. - Atinge 91 cm de comprimento total e 9 Kg de peso total
- “Meio largo”. (ROBINS & RAY, 1986 apud SEMACE/LABOMAR, 2005).
- “Ele é rajado”. - Corpo muito alto e comprido.
- “É um peixe com umas abas grandes”. - Coloração geral cinza-prateada (ARAÚJO e t al., 2004).
Habitat
- “Rio e mar”. - São animais pelágicos e ocorrem em águas costeiras de
pequenas profundidades (CERVIGÓN, 1993).
Abundância
- “Tem muito, de cardume”. - Adultos podem ser encontrados em cardumes com até 500
- “Mais no inverno”. indivíduos (LIESKE & MYERS, 1994 apud
SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Lodo nas pedras... nas ostras”. - Alimenta-se de uma grande variedade de invertebrados
marinhos (SEMACE/LABOMAR, 2005).
Comportamento
- “Tem tempo que fica mais no fundo e tempo que ele fica - São animais pelágicos e ocorrem em águas costeiras de
boiando”. pequenas profundidades (CERVIGÓN, 1993).
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Pescada
Nome Popular
Pescada-branca.
Nome em outras localidades
Calafetão; Cambucu; Cupá; Guatupucá; Pescada-
verdadeira; Pescada-cascuda; Pescada-selvagem.
Nome científico
Família Sciaenidae
Cynoscion acoupa (Lacepède, 1802).
Figura 69. Pescada.
Foto: Rommel Feitosa.
Quadro 57. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Pescada.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É grande”. - Pode alcançar 110 cm de comprimento total e 17Kg de peso
total (IGFA, 2001).
Habitat
- “Fica flutuando na água”. - Encontrada sobre fundos de lama em regiões costeiras e
- “Tem no rio, na lama”. estuários (bocas de rio) (SEMACE/LABOMAR, 2005).
- “No mar”.
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Solha
Nome Popular
Solha.
Nome científico
Família Achiridae
Achirus achirus Linnaeus, 1758.
Quadro 58. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Solha.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica na lama”. - Em fundos arenosos e barrentos de estuários, rios, onde as
- “A gente vê é muito nas gamboa”. vezes adentra (SEMACE/LABOMAR, 2005).
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Tainha
Nome Popular
Tainha; Peixe-de-salto.
Nome em outras localidades
Tainha-de-olho-amarelo; Tamatarana.
Nome científico
Família Mugilidae
Mugil incilis Hancock, 1830.
Muito comum e bastante citada por todos os entrevistados, é uma espécie que se
reproduz entre janeiro a abril, agrupando-se em pequenos cardumes na foz dos rios, onde os
indivíduos jovens migram entre os estuários, na busca de alimento e para se proteger de
predadores (KEITH, 2000). Possui baixo valor comercial, no entanto, é de grande importância
para pesca artesanal costeira e estuarina de subsistência do Estado do Ceará
(SEMACE/LABOMAR, 2005).
Os entrevistados afirmaram que se trata de um peixe com várias "qualidades" e que
antes de ser denominado de tainha ele é conhecido como saúna. Ou seja, a tainha e a saúna
são a mesma espécie, representantes do gênero Mugil.
Quadro 59. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Tainha.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É um peixe com 1Kg no máximo”. - Esta espécie pode alcançar 40cm de comprimento total
- “É a sauna grande”. (THOMSON, 1978 apud SEMACE/LABOMAR 2005).
- “Branca”.
Alimentação
- “Lodo”. - Alimenta-se principalmente de algas microscópicas
- “Come lama”. (diatomáceas), detritos orgânicos e microfauna associada ao
sedimento (OLMOS & SILVA e SILVA, 2003).
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Saúna
Nome Popular
Saúna.
Nome científico
Família Mugilidae
Mugil curema Valenciennes, 1836.
Quadro 60. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Saúna.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É bem pequenininha”. - Pode alcançar 90 cm de comprimento total (HARRISON, 1995
- “É bem branquinha”. apud SEMACE/LABOMAR, 2005) e 680 de peso total (IGFA,
2001).
Habitat
- “Vive no rio”. - Esta espécie habita regiões costeiras arenosas, mas também
ocorre em fundos barrentos de lagunas costeiras e de estuários,
adentrando às vezes nos rios (SEMACE/LABOMAR, 2005).
Alimentação
- “Ela come lama, que chega fica o risco dela na lama”. - Alimenta-se de algas microscópicas ou filamentosas e os
- “Não come peixe, nem camarão”. jovens de pequenos organismos planctônicos (CERVIGÓN,
1993).
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3.5.6 Serpentes
Cobra-de-cipó
Nome Popular
Cobra-de-cipó
Nome científico
Família Colubridae
Oxybelis aeneus Wagler, 1824.
Quadro 61. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Cobra-
cipó.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É bem fininha, que nem cipó”. - Corpo bastante delgado, com coloração dorsal pardo
- “Ela é meio roxa (cinza)”. acinzentada.
- Morfologia extremamente afilada, coloração marrom-
acinzentada e padrão de mimetismo com galhos e cipós secos.
(FERNANDES-FERREIRA, 2008).
Habitat
- “Ela fica junto com os paus”. - Possui hábito arborícola (VANZOLINI, RAMOS-COTA &
VITT, 1980).
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Cobra-de-veado
Nome Popular
Cobra-de-veado; Jibóia.
Nome científico
Família Boidae
Boa constrictor Linnaeus, 1758.
Essa “qualidade” foi citada pela maioria dos entrevistados, como uma “cobra”
comum na região, presente nos mangues, principalmente na região onde se encontra o
mangue-ratinho.Ela também pode ser vista nos sítios, próximas às bananeiras. O tijuaçu
(Tupinambis teguixin), também conhecido como teju, foi informado como o predador da
cobra-de-veado.
Quadro 62. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Cobra-
de-veado.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Morfologia
- “É pintada”. - Pode chegar até 4 metros de comprimento (VANZOLINI,
- “Ela é grande”. RAMOS-COTA & VITT, 1980).
- “Ela é marrom com as manchas pretas”.
Alimentação
- “Come passarim e rato”. - Tem preferência alimentar por mamíferos e aves
((VANZOLINI, RAMOS-COTA & VITT, 1980).
Comportamento
- “Não é venenosa”. - Subjuga suas presas por constricção (VANZOLINI, RAMOS-
COTA & VITT, 1980).
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Cobra-verde
Nome Popular
Cobra-verde
Nome científico
Família Colubridae
Leptophis ahaetulla Linnaeus, 1758.
Comportamento
- “Ela quase que voa... dá um pulo assim... que parece- Apresenta como comportamento defensivo abrir a boca, exibir
que tá é voando”. mucosa oral e desferir botes (HUDSON, 2007).
- “Abre bastante a boca”.
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Nome Popular
Cobra saramanta, salamanta.
Nome científico
Família Boidae
Epicrates cenchria Linnaeus, 1758.
Uma “cobra” que possui dentição áglifa, ou seja, sem estrutura para inoculação de
veneno, matando no entanto suas presas por constrição (VANZOLINI, RAMOS-COTA &
VITT, 1980). É bastante conhecida por todos os entrevistados, sendo considerada grande e
que mata por "arrocho", não sendo, portanto, "venenosa", confrontando, assim, a crendice
atribuída a Epicrates cenchria, denominada salamanta, com a injusta designação de
"venenosa" e "raivosa". Observação encontrada na pesquisa de FERNANDES-FERREIRA
(2008), e referida por todos os entrevistados.
Essa “cobra” é bastante grande e, de acordo com os entrevistados, pode chegar a
ter 3 metros de comprimento. Ela é pintada, semelhante à cobra-de-veado, apresentando umas
"pintas" brancas. Tem, como predadores, o gavião e o carcará, segundo informações dos
entrevistados.
Quadro 64. Correlação entre o conhecimento dos entrevistados e o conhecimento acadêmico relativo à Cobra
saramanta.
Características citadas pelos entrevistados Características citadas na literatura científica
Habitat
- “Fica no oco do pau... no pé de canoé”. - Hábito semi-arborícola (PUORTO, 2008).
- “Vive no mangue”.
- “A gente encontra também no lagamar”.
- “Tem nos morros”.
Alimentação
- “Come passarim”. - Alimenta-se principalmente de mamíferos e aves (PUORTO,
2008).
Comportamento
- “Ela não é venenosa, mas chega a matar só com o- Dentição áglifa, sem estrutura para inoculação de veneno,
arrocho dela”. portanto ela mata suas presas por constricção (VANZOLINI
RAMOS-COTA & VITT, 1980)
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vestimenta até untar todo o corpo com óleo de cozinha e acender o “boi-de-fogo”. Esse é feito
com uma lata de óleo ou similar, aberta em um dos lados, com uma pequena janela próxima à
base oposta, para garantir a circulação do ar, alimentado constantemente com gravetos de
mangue acesos, que produzem fumaça para afugentar os insetos. Em Paracuru, litoral oeste do
Ceará, os catadores utilizam gás, querosene, sobre o corpo para espantar os mosquitos, já, nos
manguezais do Delta da Parnaíba, no Piauí, os catadores utilizam a fumaça produzida pela
madeira da siriúba (Avicennia sp.), de forma semelhante ao “boi-de-fogo”, como, também, é
feito no manguezal do Rio Jaguaribe, em Aracati.
“O mosquito é bem miudim com um ferrim... ele é depois da maré grande, do
lançamento” (Chico de Lôra).
Com relação aos anfíbios, foram citados alguns, como os sapos que se alimentam
de muitos dos insetos e que são predados por aves, porém não são muito encontrados no
manguezal.
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Olmos & Silva e Silva (2003) comentam que os sapos, as rãs e as pererecas não se
estabelecem de forma permanente no manguezal, devido às águas salobras nesse ecossistema.
Isso ocorre porque a pele desses animais é permeável, tornando-os vulneráveis à desidratação
caso entrem em contato com a água salgada.
Por fim, o tijuaçu (Tupinambis teguixin Linnaeus, 1758) foi comentando pelos
entrevistados como um animal acinzentado, semelhante à lagartixa, comum nos "pé-do-
morro", não sendo muito encontrado no mangue, embora seja encontrado, às vezes, próximo
as gamboas. É um animal classificado pelos entrevistados como um não-inseto, da família da
lagartixa e do calango. Alimenta-se de insetos e chega a comer seus próprios filhotes.
Trata-se de um réptil grande, robusto e muito ligeiro, com quase dois metros de
comprimento e que vive em florestas, cerrados e caatingas, habitando buracos da terra com
larga abertura, cavados freqüentemente de baixo das raízes das árvores e se alimentam de
frutas e toda a espécie de criaturas menores, camundongos, rãs, vermes, insetos e ovos.
(VANZOLINI, RAMOS-COSTA & VITT, 1980; SANTOS, 1981).
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APÊNDICES
APÊNDICE III – Nome científico das espécies vegetais citadas e seus respectivos nomes
populares utilizados na região do Cumbe, Aracati, Ceará.
APÊNDICE IV – Nome científico das espécies de aves citadas e seus respectivos nomes
populares utilizados na região do Cumbe, Aracati, Ceará.
APÊNDICE VII - Nome científico das espécies de peixes citadas e seus respectivos nomes
populares utilizados na região do Cumbe, Aracati, Ceará.
APÊNDICE VIII - Nome científico das espécies de serpentes citadas e seus respectivos
nomes populares utilizados na região do Cumbe, Aracati, Ceará.