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O Público e Privado em Hannah Arendt

Lucas Moreira

ARENDT, Hanna. “Os domínios público e privado”. In: ARENDT, Hanna. A condição
humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.

Hannah Arendt, filósofa alemã de origem judaica e uma das principais


estudiosas da condição humana no cenário caótico de guerras do século XX, questiona-
nos acerca das ações humanas ao longo da história. Em “A condição humana”,
publicado inicialmente em 1958, Arendt nos apresenta como a vita activa, isto é, as
ações humanas (ou em seu sentido literal, a vida de forma ativa), modificou o cenário ao
longo dos tempos, revelando sua perspectiva materialista.

As diversas configurações históricas modificaram não apenas o campo material,


mas ainda o social. A vita activa, que torna o homem em um animal que labora (animal
laborans), só pode existir como condição humana à medida que torna o homem um
animal que relaciona-se com outros, não apenas laborando, mas fazendo-o como forma
de interação social (homo faber). À medida que a humanidade se expande (num sentido
biológico), os modos dos homens se relacionarem também se expandem; a
complexificação nas suas organizações também exigem uma novo modo de
convivência: o homem que antes lidava com seu grupo familiar, precisaria agora lidar
com outros grupos familiares (bem como relata Rousseau em “O contrato Social”).
Dessa complexificação nasce dois domínios que se modificaram grandemente ao longo
da história da humanidade e que compreendê-los se faz necessários para uma análise
atualizada das relações humanas: o domínio público e privado.

Arendt condiciona o homem ao seu convívio social. Somente vivendo em


sociedade o homem pode ser homem. A relação nas expressões de Aristóteles do
homem como um animal político (zõon politikõn) e Sêneca do homem como animal
social (animal socialis), revela a estreita relação da ação humana com a condição
humana. Arendt analise, então, o processo que a vita activa percorreu, iniciando da pólis
grega até a modernidade.

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O homem agora pertencendo a dois domínios: aquele que refere-se à família
(bios oikos) e o que refere-se aos outros homens (bios politikons), desenvolve modos
diferenciados de relacionar-se. Á vida familiar grega destinava-se o tratamento
despótico e hierárquico, onde o homem imponha-se a todos da casa. Á vida política
grega destina-se aos homens que têm suas necessidades atendidas na vida familiar e,
portanto, são livres para a vida política, isto é, a de poder agir (praxis) e discursar
(lexis). A premissa de liberdade, então, é esta: que não haja necessidade na qual seja
preciso atender. Os homens que tinham sua vida familiar organizada por suas mulheres
e escravos, eram isentos das responsabilidades desta, embora a controlasse de maneira
despótica, e poderiam, assim, participar da vida política, ou seja, “a vitória sobre as
necessidades da vida no lar constituía a condição óbvia para a liberdade da pólis”, diz
Arendt. Logo, a vida política era destinada apenas a homens com a condição de livres e
que, por apresentarem esta mesma condição, eram todos iguais. Assim, a pólis
diferenciava-se do lar por ser o lugar dos “iguais” e o lar da completa “desigualdade”. É
então que encontramos a primeira figuração do público, isto é, a vida política como
convívio como a sociedade e passível de ação, e o privado, a vida familiar como
convívio particular e privada de qualquer ação.

Durante o período feudal, o público e privado estreitaram-se a tal ponto que era
quase impossível diferenciá-los: o senhor do feudo agia como o chefe da família dentro
dos seus limites do feudo, diferenciando-se ao passo que administrava a justiça dentro
deste, coisa esta que o chefe de família só conhecia fora do domínio político. Notamos,
com isso, o advento do social, uma espécie de absorção do domínio público pelo
domínio privado, o que mais tarde resultou nos interesses privados assumindo uma
importância pública. A ascensão desta sociedade trouxe, aparentemente, o declínio da
vida familiar, mas na verdade representou a homogenia do privado e o público. Na
modernizada, isto é, no período de ascensão do social, a ação, bem como na vida
familiar, é privada aos seus membros; o que espera-se deles é um tipo de
comportamento regulado e imposto. Na liberdade, a ação é substituída pelo
comportamento regulado, que Hannah Arendt atenta para uma espécie de
“conformismo”, e o rela significado para “público e privado” agora refere-se à coisas
que devem ser expostas para adquirir existência e à coisas que devem ser ocultadas.

No final do capítulo, Hannah Arendt fala acerca da bondade humana como uma
prática da vida ativa e apresenta-nos um ensinamento sobre esta prática, decerto uma de

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suas principais preocupações relatadas em grande parte de suas obras. A filosofia de
Arendt deixa, então, uma análise empírica e materialista na história e nos faz questionar
sobre nossas ações e principalmente “o que estamos fazendo”.

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