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Anaximandro
1. Nacionalidade
2. Época
“Diz Apolodoro, em sua Cronologia, que tinha ele (Anaximandro) 64 anos no segundo
ano da 58ª olimpíada (c. 546 a.C.) e que morreu pouco depois” (Idem. Ibem, II, 2)
3. Obras
“Escreveu ele (Anaximandro) sobre a Natureza, circuito da terra e sobre as estrelas fixas
e (construiu) um globo celeste e (produziu) outros trabalhos” (Suda)
4. O sábio:
1. Atividades científicas
- O gnomon
Foi ele o inventor deste instrumento? “Foi ele (Anaximandro) o primeiro inventor do
gnomon.” (Diógenes Laércio. Op. Cit. II,1)
Ou tê-lo-ia recebido dos babilônios? “Aprenderam (os gregos) dos babilônios, o uso
do quadrante solar (rolos), dos gnomon e a divisão do dia em 12 pares.” (Herodoto.
Histórias. II, 109)
- A obliqüidade do Zodíaco:
- A carta geográfica:
1
- Previsão de um terremoto:
“... o físico Anaximandro preveniu os lacedemônios que eles precisavam deixar sua
cidade e suas casas para se alojarem no campo com suas armas, pois que um tremor
de terra era eminente.” (Cícero. Da admiração. III, 16, 1)
“Diz ele (Anaximandro) que a terra tem forma cilíndrica e que sua profundeza
iguala um terço de as largura.” (Pseudo-Plutarco. Stromata., fragm. 2)
“ A terra Plaina livremente sem ser sustentada por nada. Mantém-se ela por
encontrar-se a igual distância do todo. Sua forma é redonda convexa como um coluna
de pedra. Estamos sobre uma de suas superfícies e a outra está do lado oposto.”
(Idem. Ibidem, I, 6)
- O Biólogo
“As criaturas vivas nasceram do úmido quando evaporado este pelo sol. No
começo, assemelhava-se o homem a outro animal, isto é, um peixe” (Idem. Ibidem, I,
6)
“Os primeiros animais se produziram na umidade, encerrado cada um em casca
espinhenta. Com o tempo, surgiram em sítios mais seco. Quando se rompeu a casca.
Eles modificaram o seu gênero de vida em pouco tempo.” (Aécio. Aetii Placita, V, 19,
1)
“Além disso, dizia ele que, originariamente, nascera o homem de animais de outa
espécie. Razão disto por ele apresentada era que, enquanto outros animais logo
encontram, por si mesmos, sua nutrição, exige o homem logo período de aleitamento.
Ora, fosse ele originariamente como ele é hoje, jamais teria sobrevivido” (Pseudo-
Plutarco. Stromata. Fragm. 2)
“Achava ele (Anaximandro) que no princípio os seres humanos nasceram no
interior dos peixes e, depois de nutridos como tubarões e capacitados a ase
protegerem, foram lançados sobre a praia e ganharam a terra.” (Plutarco.
Symposiaca, 730).
- O fisiólogo:
2
Por que quantitativamente infinito? “Acreditava na existência do infinito (apeiron) resulta
principalmente de 5 considerações: se a geração e a destruição não cessam, é
unicamente porque aquilo de que provêm todas as coisas é infinito.” (Aristóteles. Física,
III, 4, 203b. 15 e 18-19)
“Foi ele (Anaximandro) o primeiro a propor (a substância primordial) como ilimitada de
modo que pudesse considerá-la inextinguível para a geração das coisas.” (Simplício.
Sobre o céu, P. 615, 15-16)
Por que nenhum dos chamados elementos? “... há quem considere deste modo (isto é,
distinto dos chamados ‘elementos’) estão em oposição uns contra os outros: o ar é frio, a
água é úmida, o fogo é quente; (ora) se (um de tais ‘elementos’) fosse infinito (como é a
substância originária), os demais cessariam de existir. Então (acha quem assim pensa) o
apeiron há de ser diferente (dos chamados ‘elementos’) e é a origem deles.” (Aristóteles,
Op. cit., III, 5, 204b, 23-29)
Seria o apeiron:
1. algo intermediário entre a água e o fogo? “... descrevem alguns a natureza do todo
como água ou fogo ou algo intermediário entre eles” (Aristóteles, Op. cit., I, 5., 189b’).
2. algo intermediário entre a água e o ar? “Pois que o número de princípios é
necessariamente limitado, resta examinar se são muitos ou um. Filósofos há que propõem
um único princípio, para uns, a água, para outros, o fogo, para outros enfim, algo mais
leve do que a água e mais denso do que ar, um corpo infinito de que se diz conter todos
os céus.” (Aristóteles. Do céu, III, 5, 303b, 9-12)
3. algo intermediário entre o fogo e o ar? “Todos estes filósofos têm assim vislumbrado
uma espécie de causa falando do ar ou do fogo ou da água ou mesmo de um elemento
mais sutil do que ar” (Aristóteles. Metafísica, I, 7, 988 a, 29 – 32)
4. uma mistura ou mescla dos chamados ‘elementos’? “Asseveram outros físicos que os
opostos estão contidos no uno e dele procedem por segregação, por exemplo,
Anaximandro...” (Aristóteles. Op. cit., I, 4, 187 a 20-3) “... porque, uma vez que ‘todas as
coisas estão juntas’ e a “mistura” de Empédocles e Anaximandro...” (Aristóteles. Op. cit.,
XII, 2, 1069b, 20-22).
Por que a substância primordial não podia ser um elemento qualitativamente definido,
como, por exemplo, fora a água de Tales?
“Teria argumentado Anaximandro: achou Tales que todas as coisas se originaram da
água, mas a água (que se apresenta sob forma de chuva, mar e rios) se opõe ao fogo
(por exemplo, o sol, o vapor ígneo, os vulcões) e tais coisas são mutuamente destrutíveis.
Como poderia então tornar-se o fogo parte tão saliente de nosso mundo se estivesse ele
em oposição constante, desde o princípio, à massa infinitamente extensa e sua opositora
(a água)? Como, na verdade, poderia ter ele simplesmente surgido num só momento que
fosse? Os constituintes litigantes de nosso mundo então devem ter evoluído de quam
substância Kirk na Raven. The presocratic philosophers, p. 113).
As escassas palavras que nos chegaram do próprio Anaximandro: “E as coisas retornam
àquilo de eu saíram ‘conforme está prescrito, porque oferecem elas reparação umas às
outras”.
“Aqui a lei jurídica que Sólon considerava dominadora do mundo humano, lei que punia as
prevaricações e as violências, torna-se lei cósmica, lei que regula o nascimento e o
perecimento dos mundos. Mas, qual é a injustiça praticada por todos os seres e o que
devem eles expiar? Certamente deve-se ela à constituição mesma e, portanto, ao
nascimento dos seres, uma vez que nenhum deles pode evitá-lo como não pode livrar-se
da pena. Ora, viu-se que o nascimento é a separação dos seres da substância indefinida.
Evidentemente tal separação é a ruptura da unidade, própria esta do apeiron, e a
3
substituição pela diversidade e, consequentemente, pelo contraste do que era
homogeneidade e harmonia. Determina-se pois, com a separação, a condição própria dos
seres finitos: múltiplos, diversos e se opondo entre si, destinados pois, inevitavelmente, a
pagar com morte o seu próprio nascimento e volver à unidade” (Jaeger, Werner. La
teologia de los primeros filosofos griegos).
Escola de Mileto
Anaxímenes
1. Nacionalidade
2. Época
3. O Sábio
I. O geógrafo
“Acreditam Anaxímenes, Anaximandro e Demócrito que a terra se sustenta por ser chata
pois, assim, não pode cortar ar que está debaixo dela, mas o cobre como uma tampa, o
que ocorre com os corpos achatados, que dificilmente se podem mover, mesmo pelos
ventos, em virtude da resistência oposta” (Aristóteles. Do céu. II, 13, 294 b, 13-17).
II. O astrônomo
“A terra é chata, sendo sustentada sobre o ar; igualmente o sol, a lua e os outros corpos
celestes, que são ígneos, mantêm-se sobre o ar em virtude do seu achatamento.”
(Hipólito. Refutações. I, 7, 4) “Diz Anaxímenes que os corpos celestes fazem voltas por
serem arrastados por ar condensado e oponente” (Aécio. Placita. II, 23, 1) “Dizia
Anaxímenes que as estrelas estavam fixadas como pregos na abóbada cristalina do céu”
(Aécio. Placita. II, 4, 3).
III. O filósofo
4
quando se tornam estas mais condensadas, transformam-se em água. Continuando a
condensar-se, a água se torna terra e, quando condensada tanto quanto possível , torna-
se pedra.” (Idem. Ibidem)
[NOTA: esta últimas palavras transcritas por Aécio são tradicionalmente consideradas as
únicas que nos chegaram de autoria do próprio Anaxímenes]
A Escola Milesiana
Heráclito de Éfeso
1. Nacionalidade:
“Heráclito, filho de Bloson ou, segundo outros, de Heracon, procedia de Éfeso.” (Diógenes
Laércio. Vidas. IX, 1)
2. Época:
“Floreceu ele por ocasião da 69ª Olimpíada (504/3, 501/0) (Idem. Ibidem)
3. Obras
“Quanto ao trabalho a ele atribuído, constitui um trabalho Sobre a Natureza, que foi
dividido em três discursos: um sobre o universo outro sobre política e outro sobre
teologia” (Idem, Ibidem., IX, 5-6)
(Nota: há outros trabalhos com vários títulos a ele atribuídos mas sem confirmação
autorizada).
4. A estranha personalidade
“Desde a sua juventude foi objeto de estranheza. Quando moço, costumava dizer que
nada sabia, mas quando se tornou amadurecido, proclamava tudo saber. Não foi discípulo
de ninguém, declarando que pesquisou por si mesmo” (Idem. Ibidem., II, 3)
“Tendo se retirado no templo de Artemis onde jogava dados com rapazes, os efeseanos
rodearam-no e puseram-se a olhá-lo, momento em que ele perguntou: “por que se
surpreendem, velhacos? Não é preferível quem faça isto a participar como vocês da vida
administrativa?” Finalmente tornou-se tamanha a sua misantropia que retirou-se para as
montanhas onde passou a alimentar-se de ervas e outras plantas nativas.” (Idem.
Ibedem., IX, 3)
“Considera-o Teofrasto de temperamento bilioso, motivo por que algumas partes de seus
trabalhos são inacabados e outras estranhamente heterogêneas” (Idem. Ibidem., IX, 6)
5
“Depositou ele o seu trabalho no templo de Artemis e, segundo alguns, escreve-o
deliberadamente obscuro para que só os capacitados possam lê-lo e não se torne
desprezível por haver se vulgarizado.”
“Consta que, havendo Eurípedes dado a Sócrates o trabalho de Heráclito para ler, pediu-
lhe opinião a respeito e obteve dele esta resposta: “a parte que compreendi é excelente,
excelente julgo ser também a que não compreendi, esta parte exige o fôlego de um
mergulhador délio para alcançar-lhe o fundo.”
“Diz Seleuco, o gramático, que em seu livro intitulado O Mergulhador, contava um certo
Cróton que fora alguém chamado Crátes o introdutor do livro de Heráclito na Grécia
(continental), falando que necessário era ser um mergulhador délio para não ser tragado
pelo escrito” (Idem. Ibedem., IX, 12)
“Discutir essas doutrinas de Heráclito com as pessoas de Éfeso é tão impraticável como
discutir com insensatos. Pode-se que eles estão, em consonância com o seus próprios
escritos, em eterno movimento. Proposta que lhe seja feita qualquer questão a um deles,
tirará ele de sua aljava fórmulas enigmáticas e as lançará como setas; e, se a eles
perguntares de que se trata, outra seta te ferirá sob a forma de uma nova metáfora.
Jamais chegarás a qualquer conclusão com qualquer deles, tampouco chegará qualquer
daqueles entre eles próprios” (Platão. Teeteto, 179-180c)
“É uma regra geral que a composição escrita deve ser fácil de se ler e, portanto,
facilmente exposta; isto não ocorre desde que haja muitos conectivos ou cláusulas, ou
onde seja difícil a pontuação conforme ocorre nos escritos de Heráclito. Pontuar seus
escritos não é tarefa fácil pois geralmente não sabemos se determinada palavra pertence
ao que procede ou ao que se segue” (Aristóteles. Retórica, III, 5, 147b, 14-15)
6. A misantropia:
“As multidões não atentam para as coisas que encontram nem as observam quando elas
lhes chamam a atenção, embora imaginem fazê-lo” (Fragm. DK. 22 B17)
“Porque os melhores dentre eles escolhem uma coisa de preferência a todas as outras,
uma glória imortal dentre os mortais, ao passo que a maioria se empaturra de comida
como animais” (Fragm. DK. 22 B 29)
“Embora ouvindo, eles não compreendam e são como surdos. É a respeito deles que diz
o provérbio: “Estão ausentes quando presentes” (Fragm. DK. 22 B 48)
“Eles são ausentes às coisas com que têm comércio constate” (Fragm. DK. 22 B 72)
“Que saber ou inteligência têm eles? Acreditam nos poetas populares e seguem as
massas como mestra, ignorando que há muitos maus e poucos bons.” (Fragm. DK. 22 B
104)
“Quando os demais homens, não sabem o que fazem acordados, assim como esquecem
o que fazem quando adormecidos.” (Fragm. DK. 22 B 1)
“Os cães ladram para quem não conheçam” (Fragm. DK. 22 B 97)
6
- Desprezo pelos homens famosos:
“Hesíodo é mestre da maioria dos homens. Estão eles convencidos de que ele sabia
muitas coisas, ele que não conhecia o dia e a noite. Estes não são mais do que um”
(Fragm. DK. 22 B 57)
“Os homens que amam a sabedoria (filósofos) devem, em verdade, instruir-se sobre
muitas coisas” (Fragm. DK. 22 B 35)
“Aqueles que procuram ouro removem muita terra e só encontram pouco” (Fragm. DK. 22
B 22)
“A sabedoria é ma única coisa: compreender o propósito que dirige todas as coisas través
de todas as coisas” (Fragm. DK. 22 B 41)
“Há permuta de todas as coisas por fogo e de fogo por todas as coisas, assim como de
mercadorias por ouro e de ouro por mercadorias” (Fragm. DK. 22 B 90)
“Este mundo, o mesmo para todos, não se fez por nenhum dos deuses ou dos homens;
mas sempre foi, é e haverá de ser um fogo eternamente vivo que se acende com medida
e se apaga com medida (Fragm. DK. 22 B 30)
“Os pares são coisas inteiras e coisas não inteiras, o que está unido e o que está
desunido, o harmonioso e o discordante. O uno se compõe de todas as coisas e todas as
coisas saem do uno” (Fragm. DK. 22 B 10)
“Errou Homero dizendo: - “Possa extinguir-se a discórdia entre deuses e homens!” Não
percebia ele que rezava pela destruição do universo. Porque, se ouvida a sua prece ,
todas as coisas pereceriam” (Fragm. DK. 22 B 12)
7
“Necessário é saber que a guerra é comum (universal), que a luta é a justiça e que todas
as coisas ocorrem pela luta e pela necessidade” (Fragm. DK. 22 B 80)
“Não sabem os homens como o que varia está de acordo com sigo mesmo; há uma
harmonia das tensões opostas, como a do arco e da lira” (Fragm. DK. 22 B 51)
15. O relativismo:
“Os bois se sentem felizes quando encontram ervas amargas para comer” (Fragm. DK. 22
B 51 a)
“A água do mar é a mais pura e a mais impura: os peixes podem bebe-la e ela lhes é
salutar. Pelos homens não pode ser bebida, sendo-lhes funesta” (Fragm. DK. 22 B 61)
“Para Deus todas as coisa são belas boas e justas, mas os homens consideram certas
coisas injustas e outras justas” (Fragm. DK. 22 B 102)
16. O Lógos:
“O Lógos, (lei universal) tal como aqui descrevo, embora sempre verdadeiro, não é
compreendido pelos homens , seja antes de ouvi-lo, seja quando o ouvem pela primeira
vez. Porque, embora todas as coisas ocorram em conformidade com o Lógos, procedem
os homens como gente sem experiência, mesmo que encontrem eles as palavras e as
ações como as exponho, distinguindo cada coisa conforme a sua natureza e declarando
como (cada coisa) se faz. Os demais homens, entretanto, não sabem o que fazem
quando acordados, assim como esquecem o que fazem quando adormecidos” (Fragm.
DK. 22 B 1)
“Enquanto você ouvir não a mim, mas ao Lógos, será sábio concordar que toda as coisas
são uma só” (Fragm. DK. 22 B 50)
- a harmonia dos opostos sempre ocorre, motivo por que a luta é um fato básico no
mundo natural (Fragm. DK. 22 B 12 a 22 e 8);
- tudo se encontra em constante movimento e modificação (Fragm. DK. 22 B 12 e
90);
- o mundo é um fogo vivo e eterno (Fragm. DK. 22 B 30). (Guthrie. History of Greek
Philosophy)
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A Escola Itálica
“Para dizer a verdade, ainda vivo, já passara Pitágoras para a lenda. Não podemos
proceder relativamente a ele de acordo como os métodos de pesquisa histórica. Por muito
que remontemos às fontes de informação, Pitágoras sem se integrar como Orfeu no puro
mito, apresenta-se como um ser sobrenatural” (Françoís Millepíerres. Pythagore, fil d’
Apollon, p. 10)
“A severidade de seu segredo era espantosa pois, através de tantas gerações, ninguém
jamais encontrou qualquer nota pitagórica antes do tempo de Filolau.” (Idem. Ibidem. P.
199)
“O que Pitágoras dizia a seus discípulos ninguém pode saber com segurança, pois nem o
silêncio era casual entre eles. Contudo, eram especialmente conhecidas, conforme o juízo
de todos, as seguintes doutrinas:
“Pitágoras, filho de Apólo de Hermes, desceu aos infernos e de lá retornou; tem ele uma
coxa de ouro, possui o dom da ubiqüidade e faz profecias...” (Aristóteles. Sobre os
Pitagóricos)
1.d.2. Empédocles de Agrigento: “E havia entre eles (isto é, aqueles da idade de ouro)
um homem de raro saber, versado ao máximo em toda sorte de obras sábias, dotado da
maior riqueza de pensamentos...” (Fragm. DK 129)
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2. Certeza da existência do mestre:
3. Época do mestre:
“Disse Aristoxemo que quando tinha (Pitágoras) 40 anos de idade e se tornara mais
opressiva a tirania de Polícrates,... imigrou ele, finalmente, para a Itália” (Porfírio. Vida de
Pitágoras, p. 9)
4. Nacionalidade:
Não há certeza, embora se saiba que, ainda jovem, viveu em Samos: “Pelo que se ouve
dizer dos gregos habitantes de Helesponto e de Ponto, esse Zalmóxis teria sido em
Samos escravo de Pitágoras, filho de Mnemarco...” (Heródoto, Op. cit.)
6. Aspecto místico:
“Consta que um dia, quando passava por uma rua na hora em que se surrava um cão,
exclamou: - Parai! Não o surreis! É a alma de um amigo. Reconheci-o pelo tm de sua
voz...) (Xenófanes. Fragm DK 7)
“Porque fui outrora um moço e uma moça, um arbusto e um pássaro e um peixe mudo do
mar (logo que nasci) chorei e levantei vendo a região que não me era familiar” “De
quantas honras, de que altura de felicidade caí para errar nesta terra dentre os mortais!
...” “Encontremo-nos nesta caverna...” “Ai de ti, miserável raça de mortais, duas vezes
amaldiçoada de quantas lutas e de quantos gemidos nascestes!” “De criaturas vivas ele
fez mortos, modificando suas formas.” “(A divindade) revestiu (as almas) com estranho
invólucro de carne” (Empédocles. Fragm DK 117-120 e 124-126)
10
“Dizem alguns que o soma (swma: corpo) é o sema (shma: Túmulo) da alma, por estar ela
nele sepultada durante a vida. Como, por outro lado, é por meio dele que exprime a alma
o que queria ela dizer, fala-se que, também sob esse aspecto, convém a ele o nome de
sema. O que parece mais verosímil é terem sido os órficos os criadores desse nome,
querendo dizer que a alma expia as faltas porque é punida e que está ela encerrada em
um corpo como se estivesse numa prisão, para que a mantenha ele sã e salva, como o
seu nome indica é ele então soma (swma: salvação) da alma até que ela tenha resgatado
sua dívida.” (Platão. Crátilo. 400 b c)
“... nós, homens, estamos numa situação da qual não temos condição de escapar nem
fugir... Estamos sob a guarda dos deuses e constituímos uma parte de suas
propriedades...” (Platão. Fédon. 62, 6)
“Se é verdade o que acabamos de dizer, companheiro, grande é para mim nesta altura
em que chego a esperança de atingir plenamente em algum lugar a recompensa pelos
esforços que despedi durante a vida. Esta viagem que hoje me foi imposta suscita-se bela
esperança como acontece com todo aquele que considere estar o seu pensamento
preparado, por assim dizer, purificado... Ora, purificar a alma não é precisamente, como
acabamos de dizer, separá-la o mais possível do corpo e habituá-la a concentrar-se, de
modo a viver tanto quanto possível, nesta vida como na futura, por si mesma, como se
desvinculada dos laços que a pendem ao elemento corporal?
Todo aquele que atinja o Hades sem se ter purificado e iniciado permanente no lodaçal,
ao passo que o purificado e iniciado, lá chegando, viverá com os deuses. Como dizem os
versados nas iniciações: “muitos são os portadores de tirsos, poucos porém os inspirados.
Ora, a meu ver, estes não são outros senão os filósofos. Por considerar-me entre eles,
nenhum esforço poupei durante a vida para alcançar tal fim.” “...deve confiar no destino de
sua alma o homem que, durante a sua vida, haja desprezado os prazeres e os
ornamentos corporais por tê-los considerado elementos estranhos, mais próprios para
produzirem o mal do que o bem: aquele que, pelo contrário, haja satisfeito os prazeres da
Ciência e, depois de ter ornado sua alma, não com elementos a ela estranhos, mas com
os que lhes sejam próprios, a saber, a temperança, a justiça, a coragem, a liberdade, a
verdade, este estará em situação de aguardar com confiança a partida para o Hades
quando o destino o chamar.” (Platão. Fedon, 67, b-d e 144 d-c)
“Não sabes que os músicos tratam do mesmo modo a harmonia? Aplicando-se a medir
pelo ouvido os acordes e tons percebidos, fazem eles, como os astrônomos, trabalho
inútil. E – pelos deuses – são ridículos quando falam de freqüência e voltam os ouvidos
como se quisessem captar um som na vizinhança; acham uns que entre duas notas
percebem uma intermediária que é menor e precisa ser tomada como medida: sustentam
outros, ao contrário, que se assemelham eles aos sons precedentes; uns e outros,
entretanto, situam o ouvido acima do espírito (uns e outros situam o ouvido do corpo
acima do ouvido do espírito).” (Platão. República, VII, 530 c)
11
“O que há de mais admirável na ciência moderna é a sua volta ao pitagorismo” (Bertrand
Russel)
“Diz Aristóteles, em seu tratado Sobre a Aritmética, que parece ter sido precisamente
Pitágoras o primeiro a estender o estudo dos números além das necessidades do
comércio” (Estobeu. Eclogae Physicae, I, 201)
“Parece que também estes pensadores consideravam o número tanto como matéria das
coisas como elemento constituinte de suas modificações e de seus estados. E
sustentavam que os elementos dos números são o par e o ímpar, sendo este limitado e
aquele ilimitado; e que o Uno (a unidade) procede de ambos pois é, ao mesmo tempo, par
e ímpar, e o número procede do Uno, e que todo o céu, como já foi dito, se constitui de
princípios que se arranjam em duas séries paralelas: limite e ilimitado, ímpar e par, uno e
múltiplo, direita e esquerda, macho e fêmea, em repouso e em movimento, reto e curvo,
luz e obscuridade, bom e mau, quadrado e oblongo” (Idem. Ibidem., I, 5, 986 a, 16-27)
“... De acordo com certos filósofos, o movimento dos corpos tamanhos, necessariamente
há de produzir som, pois é o que ocorre, mesmo nesta terra, com os corpos que estão
longe de possuir tais massas a desenvolver semelhante velocidade. Ora, quando se
movem com tanta rapidez e sol e a lua bem como todos os outros astros, grandes que
são em número e em tamanho, impossível é (pensam aqueles filósofos) que não
produzam som prodigiosamente intenso. Apoiados em tais raciocínios e no argumento de
que as velocidades, dependentes das distâncias, têm proporções de acordes musicais,
asseveram eles de que o som produzido pelo movimento circular dos astros constitui
harmonia. Considerando, entretanto, que pareça anormal não percebermos tal som,
argumentam eles que o ouvimos desde a hora do nosso nascimento, o que o torna
indiscernível de seu oposto, o silêncio, sendo um e outro distinguíveis pelo contraste.
Assim como os ferreiros perdem pelo hábito qualquer sentimento de diferenciação, o
mesmo ocorre entre os homens “(Aristóteles. Do céu, II, 9, 209b, 15-21)
“Assegura a maioria dos filósofos que se situa a terra no centro do universo... mas os
representantes da Escola Itálica, conhecidos como Pitagóricos, sustentavam ponto de
12
vista contrário. No centro, diziam eles, está o fogo não sendo a terra mais do que um dos
astros, produzindo ela o dia e a noite em virtude de seu movimento regular em redor do
centro. Além disso, contrariam eles outra terra, contrária à nossa a qual deram o nome de
“anti-terra”. Assim procedendo, não procuraram edificar teorias e causas em consonância
com fatos observados, experimentaram acomodar tais fatos e certos pontos de vista que
lhes eram peculiares. Mas, outros filósofos houve que concordaram com eles, procurando
confirmação mais para teorias do que para fatos. Com efeito – pensaram eles – à coisa
mais nobre convém a região mais nobre. O fogo, sustentaram, é mais nobre do que a
terra e o limite, mais nobre do que o intermediário; ora (na esfera), extremidades e centro
são limites. Então, adotando tais observações, como ponto de partida, sustentaram ser o
fogo, o que ocupa o centro da esfera, não a terra. Os Pitagóricos apresentam outra razão:
sustentam que a parte mais importante do universo deve ser a mais bem guardada e esta
parte é o centro, denominando-a, ou melhor, o fogo, ocupante de tal parte, a “Cidade de
Zeus”, como se o termo “centro” fosse inteiramente inequívoco e o centro da figura
matemática também fosse o da coisa ou seu centro natural.
Entretanto, é preferível tratar do que se passa no céu em sua totalidade analogamente
como se procede com os animais cujo centro não coincide com o corpo.” (Idem. Ibidem.
II, 13, 293ª, 17 – 293b 8)
8.a. O mundo é um kosmos: Palavra intraduzível que exprime a noção de ordem, arranjo
ou perfeição estrutural, unida à noção de beleza:
“Pitágoras foi o primeiro que denominou kosmos o conjunto as coisas por causa de sua
ordem.” (Aécio. Plácito, II, 1, I)
“Além disso, foi ele (Pitágoras) o primeiro a denominar kosmos o céu e a considerar
redonda a terra” (Diógenes Laércio. Vidas, VIII, 48)
8.b. Toda a natureza, nela compreendida a alma humana, está intimamente relacionada
com o universo vivo e divino:
8.c. O semelhante é conhecido pelo semelhante, isto é, quanto mais se conheça alguma
coisa, mais afim a ela se é: “Porque é com a terra que vemos a terra, com a água vemos
a água, pelo ar, vemos o ar brilhante, pelo fogo, o fogo devorador. É pelo amor que
13
vemos o amor, pelo ódio funesto, vemos o Ódio.” “não nos é possível situar Deus diante
dos nossos olhos, ou percebê-lo com nossas mãos, sendo a via de persuasão a mais
ampla no coração do homem.” (Empédocles. Fragm. DK. 109 e 133)
14
corpos que se deslocam no céu. Mais: admitindo-se, como já foi demonstrado, que a
grandeza espacial resultasse dos princípios por eles admitidos, como explicar que alguns
sã leves e outros pesados? A julgar o que afirmam e sustentam eles próprios, suas
considerações tanto se referem aos seres matemáticos quanto aos sensíveis. E , se
jamais falaram a respeito do fogo ou da terra ou de todos os corpos da mesma natureza,
suponho que seja porque nada tinham eles especificamente a falar do seres sensíveis
(isto é, nada tinham a dizer especialmente de tais coisas, porque, para eles, os princípios
matemáticos eram suficientes para explicá-las)” (Metafísica, I, 8, 989b, 29-990a, 18)
“Para outros filósofos (Xenócrates e Espeusipo), só o número matemático existe como
primeira das realidades, separado das coisas sensíveis (conforme acham geralmente os
Platônicos) e que são delas formados. Com efeito, constróem eles todo o universo a partir
de números, não porém de números constituídos de unidades abstratas, porque supõem
eles que tal realidade tenha extensão. (Ibidem., XIII, 6, 1080b, 15-21)
“Os Pitagóricos identificaram o infinito com o par, pois todo número par é indefinidamente
divisível por dois. Neste sentido, o número dois, pelas possibilidades de suas divisões
indefinidas, confere infinidade às coisas ao passo que o ímpar, ou que ultrapassa o par,
ou que o limita, impedindo as divisões de irem tão longe, não pode ser considerado
infinito, pois o ímpar é essencialmente indivisível por dois, prova disto é o que ocorre com
os números, acrescentando-se os gnomons ao redor da unidade obtém-se, ora uma figura
sempre diferente, ora sempre a mesma (conforme o aumento seja de gnomons pares ou
ímpares)” (Física, III, 4, 203a, 10-14)
A Escola Eleata
Xenófanes de Colofônio
1. Nacionalidade:
2. Data:
“Segundo Irineu, viveu Xenófanes no tempo de Hieron (que reinou em 478-467), tirano da
Sicília, e do poeta Epicarno, enquanto Apolodoro afirma que nasceu ele por ocasião da
40ª Olimpíada (620-612) e viveu até o tempo de Dario e Círio.” (Clemente de Alexandria.
Stromata. I, 64)
“Floresceu Xenófanes por ocasião da 60ª Olimpíada. (540-537) (Diógenes Laércio. Vidas.
IX, 180)
3. O sábio:
“Dizia Xenófanes que se produziu uma mistura de terra com o mar e que a primeira se
dissolveu pouco a pouco para a unidade. Provas disto são, para ele, as seguintes:
encontram-se conchas nos locais situados nos meios das terras e sobre as montanhas, e
que se acharam, nas pedreiras de Siracusa, as marcas de um peixe e de fucos, enquanto
que, em Parcos, presenciou-se a forma de uma enchova nas profundezas da pedra e, em
Malta, as marcas achadas de todos os animais marinhos. Tais marcas, pelo que se diz, se
produziram outrora, quando todas as coisas ainda estavam cobertas de lodo e as
impressões tornaram-se secas na lama. Todos os seres humanos se destruíram quando
15
foi a terra tragada pelo mar, tornando-se lama. Houve então outro começo de geração, e
isto ocorreu em todos os mundos.” (Hipólito. Refutações. I, 15, 5)
“Consta que um dia quando passava (Pitágoras) por uma rua na hora em que se surrava
um cão exclamou: ‘Parai! Não o surreis! É a alma de um amigo. Reconheci-o pelo tom da
voz.” (Fragm. DK. 7)
3.2.3. O antropomorfismo:
“Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses todas as coisas que, entre os homens, são
opróbrio e vergonha: roubos, adultérios, embustes recíprocos”. (Fragm. DK, 21 B 11)
“Mas os mortais representam os deuses a seu modo, como se fossem engendrados com
vestimentas, voz e figuras semelhantes às suas.” (Fragm. DK, 21 B 14)
“... se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos e se, com estas mãos, pudessem
juntar e produzir obras de arte como os homens, os cavalos pintariam as imagens dos
deuses semelhantes às dos cavalos e fariam seus corpos de acordo com as próprias
espécies.” (Fragm. DK, 21 B 15)
“Os etíopes fazem os seus deuses negros e com os narizes achatados, dizem os trácios
que os seus têm os olhos azuise cabelos ruivos.” (Fragm. DK, 21 B 16)
3.2.4. O politeísmo:
“Um único Deus, o maior entre os deuses e os homens, e que não se assemelha aos
homens nem pela forma nem pelo pensamento.” (fragm. DK, 21 B 31)
(Outra tradução do mesmo fragmento (adotada por Giovanni Reale: “Uno, Deus, sumo
entre os deuses e os homens, nem por figura nem por pensamento semelhante aos
homens”.
Para Giovanni Reale interpretar o fragmento como monoteísmo é interpretá-lo
erroneamente. Cf. História da Filosofia Antiga, I, p. 101. Op. cit.)
“Por inteiro ele vê, por inteiro ele pensa, por inteiro ele ouve” (Fragm DK, 21 B 26)
“Nenhum homem ouve nem jamais haverá que tenha conhecido certo dos deuses e de
todas as coisas que falo. Ainda que, por acaso, dissesse ele a plena verdade, não se
tornaria ciente de si mesmo, mas a aparência prevalece sobre todas as coisas (segundo
outros tradutores: “mas a fantasia prevalece em todos os homens)” (Fragm DK, 21 B 34)
“Os deuses não revelaram todas as coisas aos homens desde o começo, mas,
pesquisando encontrarão eles com o tempo, o que for melhor” (Fragm DK, 21 B 17)
“Não houvesse Deus feito o mel e os homens achariam os figos muito mais doces.”
(Fragm DK, 21 B 38)
16
3.3.1. Fundador ou precursor da Escola Eleata?
“Entre nós, a Escola de Eléia, a partir de Xenófanes, e mesmo de data anterior, considera
o que se denomina todo como um único ser...” (O Sofista, 242 a)
Para confronto: “Todos os sábios, um por um, salvo Parmênides, concordaram neste
ponto: Protágoras. Heráclito e Empédocles e, dentre os poetas, os mais eminentes em
cada gênero de poesia – na comédia, Epicarmo, tragédia, Homero. Quando este diz: “-
Oceano é a origem dos deuses e Tétis sua mãe.”, está dizendo que tudo é produto do
fluxo e do movimento” (Teeteto, 152, d-e)
“Tens toda razão em dizer que nada mais é a Ciência do que a sensação e esta doutrina
se harmoniza com a de Homero, a de Heráclito e a de todos aqueles que o seguem: tudo
se move como um rio...” (Idem. Ibidem., 100 d)
“Discutir estas doutrinas de Heráclito, ou como dizer, de Homero ou mesmo de sábios
mais antigos, com as próprias pessoas de Éfeso que se consideram hábeis é tão
impraticável como discutir com impetuosos. Pode-se dizer que estão eles em consonância
com seus escrito: em perpétuo movimento” (Idem. Ibidem., 199 e)
“Quanto a Xenófanes, o mais antigo dos partidários do uno (porque se diz que
Parmênides foi seu discípulo)... (Metafísica, I, 5, 786b, 21)
“Parmênides, natural de Eléia, filho de Pijus, foi aluno de Xenófanes. Embora tenha sido
Parmênides instruído por Xenófanes, não foi, entretanto, seu sectário: de acordo com
Socion, associou-se ele também com Amínias, o pitagórico... inclinou-se ele a seguir mais
este Amínias... Além disso, foi Amínias, e não Xenófanes, que o levou a adotar vida
tranqüila de estudioso.” (Vidas. IX, 2.1)
“Diz Teofrasto que Xenófanes de Colofônio, mestre de Parmênides, supõe que fosse
único o princípio (arch) ou que toda existência fosse una (nem limitada, nem ilimitada,
nem em movimento, nem em repouso); e Teofrasto concorda que o relato da opinião de
Xenófanes pertence mais a outro estudo do que à Filosofia da Natureza (fusiça)”. (Física.
22-26).
Escola Eléia
Parmênides de Eléia
1. Nacionalidade:
“Parmênides, nascido em Eléia, filho de Pyro...” (Diógenes Laércio. Vidas. IX, 21)
2. Época:
“Floresceu ele por ocasião da 69ª Olimpíada (504-500) (Idem. Ibidem., IX, 23)
17
“Então, segundo Antifon, contara-lhe Pitódoro que, um dia, vieram Zenão e Parmênides
para as grandes Panatenéias. Parmênides já se encontrava em idade avançada, com a
cabeleira inteiramente branca, mas com bela e nobre aparência. Tinha ele cerca de 65
anos... Zenão se aproximava então dos 40 anos... Sócrates era então muito jovem
naquela época” (Platão. Parmênides, 127 a-C)
3. Relações doutrinárias:
4. O poema:
“Seja qual for o ponto de que eu parta, a mesma coisa será, pois haverá de voltar ao
mesmo ponto.” (Fagm. DK, 28 B 5)
“O que possa ser falado (ser dito) e pensado há de ser, pois é possível,mas não ser (é)
impossível. É o que te ordeno considerar. Mas, depois, impedir-te-ei de seguir aquele
caminho em que erram os mortais, nada conhecendo, bicéfalos, porque a perplexidade de
seus corações torna desorientada sua inteligência e são levados como surdos e cegos,
18
assustados, ao mesmo tempo, sem juízo, para quem ser e não ser são considerados
como o mesmo e não o mesmo para quem, em cada coisa, há lugar para cosas opostas.”
(Fragm. DK, 28 B 6)
“Porque isto ( tal ponto de vista) jamais será provado: que as coisas não são, mas que
desvies o teu pensamento desta via de pesquisa e que não deixes a experiência
ordinária, em sua variedade, forçar-te a seguir este caminho (permitir que) a vista sem
propósito como é e o ouvido cheio de som e o paladar sejam dirigentes; mas (deves)
julgar através da razão a tão discutida tese por mim suposta.” (Fragm. DK, 28 B 7)
“E só resta um caminho que possamos falar, isto é, isto (que é) é. Neste caminho muitas
características (sinais) há: o que é incriado e indestrutível porque (ele) é completo (ou
inteiro), imóvel e sem fim. E jamais foi no passado, tampouco será ( no futuro) porque é
agora, todo e ao mesmo tempo, uno, sem descontinuidade; porque, que espécie de
origem poderias procurar para ele? Como e donde (poderia ele) ter-se originado? Não te
permitirei falar ou pensar que se tenha ele originado do não ser, porque não é exprimivel
(ou expressável) que o que não seja. E, se houvesse originado do nada, que necessidade
o teria feito nascer de preferências mais tarde ou mais cedo? Então, ou ele é
absolutamente, ou não é de nenhum modo.”
“Eis que não libera a justiça suas cadeias, não deixando nada vir à luz do dia ou
desaparecer; mas sustenta ela (a justiça) firmemente o que é. A respeito, a decisão
depende disto: é ou não é. Certamente a questão é julgada como deve necessariamente
ser, isto é, devemos afastar (uma das vias) por ser inconcebível ou inexprimível pois
então é uma via verdadeira, ao passo que a outra (via) é real, é verdadeira. Como poderia
o que é perecer? Como poderia o que é ter vindo à existência? Se veio à existência, ele
não é, tampouco é, se ele for no futuro. Portanto, o nascimento está excluído e, do
perecimento não se pode falar.”
“Tampouco é o (ser) divisível, pois é absolutamente igual. Não há (dele) mais aqui e
menos ali, pois isto o impediria de se manter igualmente, mas está tudo pleno do que é
(realmente). Consequentemente ele é completamente contínuo, o que é (realmente) isto,
ele é imóvel nos laços de possantes cadeias, sem começo nem fim, pois que nascimento
e perecimento foram decididamente rejeitados, repudiados que foram pela verdadeira
convicção. Continuando o mesmo e no mesmo lugar, permanece fixo em si mesmo,
porque a poderosa necessidade o mantém nos laços do limite que o faz firme de cada
lado, eis porque não lhe é permitido ser infinito, pois nada lhe falta, ao passo que, se
fosse infinito, tudo lhe faltaria.”
“Porque não podemos encontrar um pensamento sem algo que seja a respeito de que ele
(o pensamento) se exprima. E não há nem haverá jamais algo fora do que é, porque o
destino o encadeou de modo a ser inteiro e imutável. Eis porque todas as cosas
consideradas pelos mortais nada mais são do que nomes dados, como se elas realmente
existissem: nascimento e perecimento, ser e não ser, mudança de lugar e alteração de
luza brilhante. E desde que tenha ele um limite extremo, é completo em todos os sentidos
tal como a massa de uma esfera arredondada, pesando igualmente desde o centro para
todas as direções, pois não pode ele ser maior ou menor neste lugar do que naquele,
constituindo um todo inviolável. Porque igual em si mesmo em todas as direções,
alcançará ele uniformemente seus limites.” (Fragm. DK, 28 B 8 [parte])
19
A terceira parte do poema começa no penúltimo parágrafo do fragm. * (“Com isto ponho
fim ao discurso digno de fé que te dirijo...”) e ocupa-se do caminho da opinião. Aqui,
Parmênides desenvolve a sua cosmologia. Desde a antigüidade discute-se o modo como
esta duas partes do poema podem ser conciliadas.” (Gerd Bornheim, organizador. Os
filósofos pré-socráticos. São Paulo, Cultrix, 1977)
c. O caminho da opinião: “Após terem sido todas (as coisas) denominadas luz e noite, e
aquilo que está de acordo com a sua força ter sido atribuído como nome a todas as
coisas, tudo, concomitantemente, está pleno de luz e de noite invisível, uma e outra em
igualdade; pois nada existe que não participe de um e outro.” (DK, 28 B 9)
“Conhecerás a essência do éter e todas as constelações no éter, e a ação consumidora
dos puros e límpidos raios do sol, e de onde provêm; e aprenderás a essência e a
circulação da lua arredondada; conhecerás também o céu circundante, de onde surgiu e
como a necessidade que o dirige o constrange a manter os limites dos astros.” (DK, 28 B
11)
“(...) como a Terra e o Sol e a Lua e o éter universal e a celeste via-láctea e o Olimpo
mais extremo e também como a cálida força das estrelas começaram a existir.” (DK, 28B
11)
“Ao (anéis) mais estreitos estão cheios de fogo sem mistura; os (seguintes) estão cheios
de noite, mas entre ambos está projetada a parte de fogo: no centro destes (anéis) está a
divindade que tudo governa; pois em tudo ela é o princípio do cruel nascimento e da
união, enviando o feminino a unir-se com o masculino, como, ao contrário, o masculino
com o feminino.” (DK, 28B 12)
“Em primeiro lugar criou (a divindade do nascimento ou do amor), entre todos os deuses,
a Eros (...).” (DK, 28B 13)
“(A Lua:) Brilhante durante a noite, luz estranha errante em torno à Terra.” (DK, 28B 14)
“(A Lua:) Sempre olhando para os raios do Sol.” (DK, 28B 15)
“Assim como cada um detém uma mistura própria ao movimento pródigo de seus
membros, assim o espírito se apresenta ao homem. Pois é em cada um e em todos os
homens aquilo que pensa, as propriedades internas dos membros: e o pensamento
predomina.” (DK, 28B 16)
“Assim, segundo a opinião, estas coisas vieram à luz e agora são e, no curso do tempo,
crescerão e depois morrerão. A cada uma os homens atribuíram um nome que lhes é
próprio.” (DK, 28B 19)
20
Escola de Eléia
Zenão de Eléia
1. Vida:
Segundo Apolodoro, floresceu Zenão na 74 ª Olimpíada (464-460 a.C.), data que se obtém
fazendo Zenão quarenta anos mais novo do que Parmênides. Parmênides e Zenão
encontram-se com Sócrates antes de 449. Zenão é filho de Celeutagoras.
2. Seus escritos:
3. Dialética:
5. Método:
7. Zenão e o Pitagorsmo:
8. Argumentos:
1. “Se o uno não tivesse tamanho, não existiria... Mas se existe, o uno deve ter um
determinado tamanho e uma determinada espessura, e deve estar a uma determinada
distância do outro, e pode-se dizer o mesmo do que é e do que venha a ser diante
dele. É a mesma coisa afirmar isto uma vez e o afirmar sempre: pois nenhuma parte
dele será a última e não há uma coisa que possa ser comparada à outra. Se as coisas
são, pois, uma pluralidade, devem ser ao mesmo tempo grandes e pequenas,
pequenas a ponto de não terem qualquer tamanho, e grandes a ponto de serem
infinitas.” (Simplício. Física, 140, 34)
2. “Se ele (o uno) tivesse se juntado a qualquer outra coisa, ele não a tornaria maior:
pois nada pode aumentar de tamanho através do acréscimo do que não tem tamanho,
daí se segue imediatamente que o que se juntou nada era. Mas, se quando alguma
21
coisa é separada de alguma outra coisa, esta última não se torna menor: e, por outro
lado, se quando alguma coisa se junta a algo mais, nada acresce a ele, fica claro que
o que se ajuntou nada era, e que aquilo que foi separado também não é nada.” (Idem.
Ibidem, 139, 5)
P. “Se as coisas são uma pluralidade, elas devem ser, ao mesmo tempo, grande e
pequenas,
Q. pequenas ao ponto de não terem tamanho
R. e grandes ao ponto de serem infinitas.”
A1. Se as coisas fossem múltiplas, cada uma delas teria que possuir unidade e
identidade;
A2. Mas nada pode ter unidade se tem tamanho;
A3. Pois o que tem tamanho é divisível em partes;
A4. E o que tem partes não pode ser uno.
A5. Assim, se há muitas coisas, nenhuma delas pode ter tamanho.
O elemento indivisível é o que não tem tamanho. (tamanho = divisibilidade). Uno é o que
não tem tamanho. Esta afirmação, aceita por Parmênides, seria dificilmente aceita por
seus contemporâneos. Os adversários de Parmênides admitem a pluralidade, logo as
coisas são formadas de partes unas, indivisíveis. Mas, se o uno não tem tamanho, se ele
não existe, como a realidade, as coisas poderiam ser formadas pela união de coisas unas
e indivisíveis?
Transição de Q a R:
Se houvesse, muitos existentes, cada um teria necessariamente de ter tamanho. Pois, (a)
se (um existente sem tamanho) fosse acrescentado a outro existente, não o faria maior.
Pois, (b) não tendo tamanho, nada poderia acrescentar. E então se seguiria que (c) a
coisa adicionada seria nada, Se, na verdade, (d) quando algo é subtraído de outro, o
último não é reduzido, nem ainda (é o último) aumentando quando (o primeiro é)
acrescentado (a ele). É claro que o que é acrescentado ou subtraído é nada.
{ transição: a, b, c, d – conclusão}
Zenão não pretendia contestar o pluralismo, mas apenas mostrar que as proposições do
pluralismo traziam em si tantas contradições quanto as de Parmênides.
A polêmica de Zenão dirige-se contra uma certa concepção de unidade. Eudemo cita: “se
alguém fosse capaz de me dizer o que é uma unidade, eu seria capaz de dizer o que são
as coisas.” Logo, é impossível dizer que as coisas sejam um pluralidade.
3. P. “Se as coisas são uma pluralidade, elas devem ser exatamente tão múltiplas
quanto elas são, serão finita em número.
22
Se as coisas são uma pluralidade, elas serão infinitas em número, porque haverá sempre
outras coisas entre elas, e de novo outras coisas entre estas. E assim as coisas são
infinitas em número.” (Idem. Ibidem, 140, 27)
Se há um espaço, ele seria em alguma coisa porque tudo o que é, é em alguma coisa, e o
que é em alguma coisa, é no espaço. Assim, o espaço será no espaço e isto continua ao
infinito, eis porque não há espaço.”
3. “A flecha que voa está em repouso. De fato, se uma coisa está em repouso quando
ocupa um espaço igual a si mesma, não pode se mover.”
A ............................................................................ B
Pensamento subjacente: um corpo que ocupa lugar no espaço está em repouso. Como a
flecha ocupa um lugar em determinado momento, está em repouso aí.
Zenão é contra a distinção entre o espaço e o corpo que o ocupa. Reforça assim a
negação parmenídea do vazio. (Parmênides fala da esfera infinita sem nada em seu
redor).
4. “A metade do tempo pode ser igual ao dobro do tempo. Suponhamos três séries de
corpos das quais uma (A) está em repouso, ao passo que outras duas (B, C) movem-se
com velocidade igual em direções opostas. Quando estiverem as três séries na mesma
parte do estádio, B terá passado duas vezes diante de igual números de corpos, tanto da
série C quanto da série A. Logo, o tempo necessário para passar diante de C é duas
vezes mais longo do que para passar diante de A. Mas o tempo que B e C empregam
para atingir a posição A é o mesmo. O dobro do tempo é, pois, igual à metade.”
23
(Zenão apresenta duas teses: a metade do tempo é igual ao dobro do tempo e metade do
tempo é igual a si mesma ).
A............
B............
............C
Quando: A . . . . . . . . . . . .
B............
C............
A metade do tempo que B levou para percorrer a metade de A foi também o tempo que
levou para percorrer todo C. Portanto, a metade do tempo é igual ao tempo inteiro. (Zenão
considerou apenas o movimento de B.)
Escola de Eléia
Melissos de Samos
1. Dados biográficos:
“Fosse qual fosse (o plano militar de Péricles) mostraram os fatos que estava ele errado:
enquanto distanciado (da ilha de Samos), o filósofo Melissos, filho de Itágenes, então
almirante dos Samianos, ou porque desprezasse o pequeno número de barcos deixados
para o bloqueio, ou porque fossem ineptos os comandantes daqueles barcos, certo é que
concitou os cidadãos a atacarem os sitiantes. Com isso, tornaram-se os Samianos os
vitoriosos, matando grande número de seus inimigos e fundando muitos barcos, tornando
assim o mar livre para entrarem na cidade os víveres e todas as aquelas coisas de que
precisavam. Diz Aristóteles que o próprio Péricles já havia sido, de outra vez, vencido no
mar por Melissos” (Plutarco. Péricles, 26)
2. Doutrina:
24
“O que era sempre foi e sempre será. Porque houvesse ele nascido, teria tido começo
(pois teria começado a existir neste ou naquele momento) e teria tido fim (pois teria
cessado de vir a existir neste ou naquele momento) mas, se ele não começou nem
acabou, sempre foi e será sem começo nem fim porque nada existe eternamente, a
menos que exista plenamente.” (Diels-Kranz, 30 B 2)
“Além disso, pois que ele sempre é, deve ser infinito em grandeza.” (Diels-Kranz, 30 B 3)
“Pois nada do que teve começo e teve fim é eterno e infinito.” (Diels-Kranz, 30 B 4)
“Em virtude (de tais argumentos) esses filósofos ultrapassaram a sensação e a
desprezaram, visando a atender ao raciocínio, pretendendo mesmo que fosse o universo
uno e imóvel, chegando certos deles (trata-se de Melissos e seus sequazes) a
acrescentar que ele era infinito, desde que todo limite confrontaria com o vazio (e o vazio
era inaceitável pois se opunha ao ser)” (Aristóteles, Da geração e da destruição, I, 8, 325
a, 13-16)
“Se não fosse único, o ser seria limitado por outra coisa.” (Diels-Kranz, 30 B 5.)
“Porque, se ele é (infinito), deve ser uno, pois se fosse duplo, então não poderia ser
infinito: neste caso seriam limitados um pelo outro.” (Diels-Kranz, 30 B 6)
“E, desde que é uno, o ser é absolutamente semelhante: não fosse assim, seria múltiplo
e, não, uno” (Diels-Kranz, 30 B 6 a)
“... e ele (o ser) não pode perecer nem tornar-se maior; e não sofre dor nem castigo.
Porque, qualquer destas coisas lhe ocorresse, não seria mais uno. Pois, se se alterasse,
então deveria o real necessariamente não ser todo semelhante: o que era outrora deveria
perecer, e o que não fosse deveria vir à existir. Ora, se ele se modificasse (na proporção
de) um cabelo que fosse, curso de mil anos, ele pereceria inteiramente no curso do
tempo.” (Diels-Kranz, 30 B 7 parte)
“Tão pouco ele move-se, pois nele não há lugar para se mover, mas é pleno. Se
houvesse nele qualquer vazio, iria ele ocupar o vazio. Mas, desde que nele não haja
qualquer vazio: nenhum lugar para onde possa ele se deslocar.” (Diels-Kranz, 30 B 7
parte)
“Ora, se ele deve existir, deve necessariamente ser uno, não pode ter corpo, porque, se
tivesse corpo, ele teria partes e, então, já não seria uno.” (Diels-Kranz, 30 B 9)
“Parece haver Parmênides atendido mais à unidade formal, ao passo que Melissos
atendeu mais a unidade material... “(Aristóteles, Metafísica, I, 9, 786b, 18-19)
25
Os Pluralistas
Empédocles
1. Data:
“Diz-nos o gramático Apolodoro, em sua Cronologia, que era Empédocles filho de Meton
e fala Glauco que foi ele a Turio (cidade da Magna Grécia) quando acabava de ser
fundada (445-444)” (Diógenes Laércio, Vidas, VIII, 52)
2. Nacionalidade:
“De acordo com Hipólito, era Empédocles filho de Meton e neto de Empédocles, tendo
nascido Agrigento (Sicília)” (Idem. Ibidem., VIII, 51)
3. Aspecto místico:
“... marcho dentre vós como deus imortal, deixando então de ser mortal, honrado entre
todos como convém, coroado com flâmulas e grinaldas...” (Diels-Kranz. 31 B 112, parte)
“Porque fui outrora um moço e uma moça, um arbusto e um pássaro e um peixe mudo no
mar (logo que nasci) chorei e lamentei vendo a região que não era familiar”. “De quantas
honras, de que altura caí para errar nesta terra de mortais!...” “Encontremo-nos nesta
caverna...” “ai de ti, miserável raça de mortais, duas vezes amaldiçoada, de quantas lutas
e de quantos gemidos nasceste!” “De criaturas vivas ele fez mortos, modificando suas
formas” “(a divindade) revestiu (as almas) com estranho imólocro de carne” (DK 31 B 117-
120 e 124-126).
4. Cosmologia:
26
pássaros, então, dizem os homens que tais seres nasceram; e quando (aqueles
elementos) se separam, chamam isto de morte dolorosa. Não empregam então expressão
adequada, mas também eu tenho o hábito de assim proceder” (Diels-Kranz, 31 B 7)
4.4. Inexistência do vazio (ou vácuo):
“E no Todo nenhum vazio há, tampouco o pleno em excesso.” (Diels-Kranz, 31 B 13)
Os Pluralistas
Anaxágoras
27
1. Data:
“Diz-se eu tinha ele vinte anos por ocasião da invasão de Xerxes (480 a.C.) e que viveu
72 anos. Em sua Cronologia, diz Apolodoro que ele nasceu por ocasião da 70 ª Olimpíada
(500-497), tendo morrido por ocasião da 88ª Olimpíada (428). (Diógenes Laércio. Vidas.
II, 7)
2. Nacionalidade:
3. Cosmologia:
“E uma vez que assim sejam estas coisas, devemos supor que muitas coisas, e de todas
as espécies, estão contidas nas coisas que vão se unindo, sementes de todas as coisas,
com toda sorte de formas, cores e sabores e que os homens delas se formaram bem
como os demais seres vivos dotados de vida... Mas, antes que fossem elas separadas,
quando todas as coisas existiam conjuntamente, nenhuma cor podia se distinguir, pois a
mistura de todas as coisas a isto se opunha – do úmido e do seco, do quente e do frio, do
luminoso e do sombrio...” (DK 59 B 4)
“E como as porções do grande e do pequeno sejam iguais quanto à soma, por isto
mesmo, todas as coisas hão de estar em cada coisa, tais coisas não podem existir
separadamente, mas todas as coisas têm uma porção de cada coisa. Uma vez que não
possam existir em último grau de pequenez, elas não podem existir separadamente, nem
podem vir a ser por si mesmas; mas, assim como eram as coisas originariamente, assim
devem elas ser agora, todas conjuntamente” (Diels-Kranz 59 B 6)
28
“Como pode o cabelo vir a ser o que não é cabelo ou a carne vir a ser o que não é
carne?” (Diels-Kranz 59 B 16)
3.6. Nous, o princípio ordenador:
“Em cada coisa há uma porção de cada coisa, exceto no Nous” (Diels-Kranz 59 B 16)
“As demais coisas participam, em certa medida, de cada coisa, ao passo que Nous é
infinito e autônomo, e não está misturado com coisa nenhuma, mas existe unicamente em
si mesmo e por si mesmo. Porque, não existisse ele em si mesmo, mas fosse misturado a
alguma outra coisa, participaria ele de todas as coisas; porque em cada coisa há uma
porção de cada coisa... e as coisas que fossem misturadas com ele impedi-lo-iam, de
modo que nada poderia controlar. Porque ele é a mais sutil e pura de todas a coisas, e
tudo conhece a respeito de cada coisa, sobre cada coisa tem o maior poder...” (Diels-
Kranz 59 B 12 parte)
“Quando vem um homem a dizer que há, tanto no âmbito da natureza quanto dentre os
animais uma inteligência que constitui causa da ordem e do arranjo universal, afigura-se
ele como único de bom senso dentre o falatório oco de seus predecessores” (Aristóteles,
Metafísica, I, 3, 984b, 15-18)
Os Atomistas
Leucipo
1. Data:
(ver Teofrato. Opinião dos Físicos, fragm. 2) e Aristófanes. As Nuvens. V. 227 e Seg.,
adiante referidos). Floresceu entre 440-435.
2. Nacionalidade:
“Leucipo nasceu em Eléia, as alguns acham que foi em Abdera, e outros, em Mileto.”
(Diógenes Laércio. Vidas. IX, 30)
Demócrito
1. Data:
“...depois, encontrou-se ele com Leucipo e, de acordo com alguns, com Anaxágoras,
sendo 40 anos mais jovem do que o último.” (Idem. Ibidem. IX, 34)
2. Nacionalidade:
“Demócrito era filho de Hegistrato, embora digam alguns que era filho de Demásipo.
Nasceu ele em Abdera (na Trácia) ou, segundo outros, em Mileto.” (Idem. Ibidem. IX, 34)
3. Cosmologia
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“alguns antigos (os eleatas) haviam, com efeito, pensado que o ser fosse
necessariamente uno e imóvel; o vazio era, segundo ele, o não-ser, não podendo haver
movimento pois que inexistia o vazio. Acrescentaram eles que também não podia haver a
pluralidade, pois nada isolava as coisas unas das outras... Mas acreditou Leucipo
apresentar argumentos, concordando com os dados dos sentidos, não negavam nem a
geração, nem a destruição, nem o movimento, nem a pluralidade dos seres. Tais
concessões, feitas aos fenômenos sensíveis, mas concordando com os construtores do
Uno (os Eleatas) quanto à impossibilidade do movimento sem o vazio, disse ele (Leucipo)
que o vazio era o Não ser e que nenhuma outra parte do ser era não ser. Isto porque, no
sentido legitimo do termo, o Ser era absoluto, plenum. Mas assim entendido, o Ser não
era – segundo Leucipo – uno, mas havia uma infinidade de seres, e que uma dessas
unidades era indivisível por causa da pequenez do seu volume. Essas unidades se
moviam no vazio – e determinavam por sua associação, a geração e a dissociação, a
destruição.” (Aristóteles. Da geração e da destruição. I, 8, 3225ª, 2-32)
3.2. Os átomos:
30
e como os seres o possuem, tais filósofos, como outros, deixaram negligentemente em
silêncio.” (Aristóteles. Metafísica. I, 4, 985b, 4-20)
O Período Antropológico
Os sofistas
B. Características:
B.III. donde, preocupação com a virtude (arete); no sentido grego, e não com a verdade
(aletheia);
B.IV. donde preocupação mais com a forma do que com a matéria do conhecimento. Daí
a importância de disciplinas tais como a Gramática, a Retórica e a Dialética, etc.;
C. Causas
C.II. Extrínsecas:
D. Os grandes Sofistas
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D.I.A. Missão a que se propôs:
“... procurando-me a aluno só aprenderá ele aquilo que tem ele propósito de aprender. De
que matéria se trata? Justamente de cuidar de suas atividades pessoais: seja do melhor
modo de cuidar de sua economia doméstica, seja da melhor maneira de tratar de seus
negócios de Estado, defendendo-o pela ação ou pela palavra.” (Platão. Protágoras, 318e-
319e).
“Pareces dizer da ciência, coisa que não é vulgar: trata-se do que a respeito dizia o
próprio Protágoras. Definia-a ele como ter, embora em termos diferentes. Não dizia, com
efeito, que era o homem a medida de toda as coisas, da existência das que existem, e da
não existência das que não existem?... Não quer isto dizer que., tal uma coisa me pareça,
tal será ela para mim, e tal a mesma coisa te pareça, tal será ela para ti?... Presume-me
que um sábio não fale em vão. Sigamo-lo então. Não ocorre que, expostos ao mesmo
vento, um de nós sinta frio, e o outro, não? Ou que um o sinta levemente e o outro
intensamente?... Neste caso, que diremos nós? Que o vento seja em ti mesmo frio ou não
frio? Ou, se dermos crédito a Protágoras, que o vento seja frio para quem assim o sinta, e
não frio para quem assim o perceba?... Então, aparência e sensação constituem a mesma
coisa no que concerne, não só ao calor, como às demais coisas do mesmo gênero,
porque tais cada um as sinta, tais parecem ser elas para cada um.” (Platão, Teeteto,
151e-152e)
“No que concerne aos deuses, não estou em condições de saber s existem ou não. Pois
muitos são os obstáculos que nos impedem tal conhecimento: tanto a obscuridade do
assunto quanto a brevidade da vida.” (Diógenes Laércio. Vidas. IX. 51-52)
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D.II.A. A lei sempre representa o interesse dos mais fortes:
“Afirmo que direito (ou justo) nada mais é do que aquilo que trava vantagem ao mais forte.
Não sabes que, dentre os Estados, uns constituem a tirania, outros a democracia, outros
a aristocracia? E o elemento mais forte do Estado não é o Governo?... Ora, cada Governo
estabelecesse as leis que lhes interessam: a democracia, leis democráticas; a tirania, leis
tirânicas, e assim por diante estabelecendo estas leis e para seu interesse próprio,
declaram-nas este Governo justas, punindo aqueles que as transgridem como violadores
do direito e autores da injustiça. Isto prova o que afirmei, em qualquer Estado, justo é isto:
o que traga vantagem para o Governo constituído: ora, elemento mais forte do Estado é o
Governo constituído, donde esta conclusão para todo aquele que tem raciocínio: em
qualquer parte, justo é o que traga vantagem para o mais forte.” (Platão. República. I,
338 a – 339 a)
I. (em sentido socrático) “Eis aí, Sócrates, simplório como é necessário encarar as
coisas: em tudo o homem justo é inferior ao injusto. Primeiro, no comércio: se associa-se
ao justo jamais poderá ganhar por ocasião da dissolução da sociedade, mas sairá sempre
perdendo. Depois, nos negócios públicos: se trata-se de pagar impostos, o justo sempre
paga mais, o injusto, menos; por outro lado, quando se trata de receber, o primeiro
receberá sempre menos, o segundo, mais. No que concerne à ocupação de cargos
públicos, embora negligenciando os seus negócios domésticos para melhor se dedicar ao
Estado, o justo, por causa de seus espírito, nenhum proveito tira da coisa pública. Além
disso, contrai ele o ódio dos parentes e amigos, recusando-se a atendê-los em detrimento
da Justiça, quanto ao injusto, é precisamente o contrário que ocorre” (Idem. Ibidem. I 343
dc)
O Período Antropológico
“Na maioria das vezes, natureza e lei se contradizem. É inevitável cair em contradição, se,
por falso pudor, receia-se dizer o que se pensa. Já descobristes este segredo e dele te
serves para discutires com má fé: se se fala da lei, perguntas sobre a natureza e se se
fala natureza perguntas sobre a lei. Foi assim que quando, ainda há pouco, a respeito da
injustiça cometida e sofrida, falava Pólos do que há de mais feio segundo a lei,
prosseguias a discussão, referindo-te à natureza. Porque, segundo a natureza, o que há
de mais feio é sempre o mais desvantajoso, isto é, sofrer a injustiça, ao passo que,
segundo a lei, é praticada. O sofrimento da injustiça não é próprio de um homem, mas de
um escravo, para ____________ morte seria de fato mais adequada do que a vida,
considerando que quando ele é lesado e escarnecido, não pode defender-se ou defender
qualquer outra pessoa que lhe seja próxima. A razão disso, segundo o meu modo de
pensar, é que aqueles que fazem as leis são a maioria dos que são fracos; eles fazem leis
e atribuem louvores e censuras visando a si próprios e aos seus próprios interesses;
amedrontam os homens fortes e aqueles que podem destacar-se entre eles, a fim de que
não tirem proveito deles: e dizem que a desonestidade é vergonhosa e injusta;
significando, através da palavra injustiça, o desejo do homem de ter mais do que os seus
vizinhos; pois, conhecendo a sua própria inferioridade; suspeito que fiquem muito
satisfeitos com a igualdade. Consequentemente, a tentativa de ter mais do que muitos, é
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convencionalmente designada como vergonha e injusta e é designada injustiça, enquanto
a própria natureza indica que é justo que os melhores tenham mais do que os piores, os
mais poderosos do que os mais fracos; e mostra, de muitas maneiras, tanto entre os
homens como entre os animais, e mesmo entre cidades e raças, que a justiça consiste na
dominação do superior e em ter mais do que o inferir. Na verdade, baseado em que
direito, levou Xerxes a guerra contra a Grécia, seu pai contra a Cítia, sem se falar em uma
infinidade de exemplos do mesmo gênero? Mas todos estes homens agiram, a meu ver,
de acordo com a própria natureza do direito, e, por Zeus, segundo a lei da natureza, mas
nunca de acordo com a lei estabelecida pelo homens. Mas contrariando tais princípios, o
que de fato fazemos é preparar os melhores e os mais fortes dentre nós, dos quais nos
assenhoramos quando ainda em tenra idade, como leõezinhos nossos, para então
subjugá-los mediante atrativos e ilusões, asseverando-lhes que é necessário respeitar a
igualdade e que, precisamente isto constitui o belo e o justo. Entretanto, se surgisse um
homem bastante forte para sacudir estes entraves e dificuldades e os inutilizar, estou
certo de que, amassando sob os pés os nossos protocolos e disfarces bem como todas
as leis contrárias à natureza, ele se voltaria e veríamos então surgir nosso chefe neste
homem que até agora era nosso escravo. E então, o direito da natureza brilharia com toda
a sua pujança”. (Platão. Górgias. 483 a – 484 a).
“Cidadãos que aqui estais: considero-os parentes, aliados, patrícios, não pela Lei, mas
pela Natureza. Porque, por natureza, o semelhante é afim ao semelhante. Mas vem a lei
que sempre acaba por tiranizar os homens, sempre violando a natureza...” (Platão.
Protágoras. 377 c-d)
a. nada existe;
b. se algo existisse, seria inconcebível,
c. se algo existisse e fosse concebível, seu conhecimento seria incomunicável. (Diles
Kranz, 82 B 3)
“Aquilo que alguém vê, como poderia exprimí-lo com a palavra? Ou como isto poderia
tornar-se manifesto a quem o escuta, sem tê-lo visto? De fato, a vista não conhece o sons
e os ouvidos não ouve as cores, mas os sons, e contudo, quem fala diz algo, mas não diz
nem uma cor nem uma experiência. Aquilo, pois, que alguém não concebe, como poderá
concebê-lo em conseqüência da intervenção de um outro, ou meio da palavra deste o por
meio de um sinal diferente da experiência, senão, no caso de uma cor, por tê-la visto, no
caso de um rumor, por tê-lo ouvido? De fato, quem fala não diz absolutamente um rumor
ou uma cor, mas uma palavra. Consequentemente não é possível nem mesmo figurar
com o pensamento uma cor, mas vê-la, nem um som, mas ouvi-lo. E mesmo que seja
possível conhecer tudo aquilo que se conhece, de que modo aquele que ouve poderá
representar-se conceitualmente o mesmo objeto? Com efeito, não seria possível que a
mesma realidade pensada encontrasse contemporaneamante em vários sujeitos
separados entre si: o um, com efeito, sereis dois. E, muito embora admitindo que a
mesma realidade pensada se encontre em vários sujeitos, nada impede que não se lhe
mostre semelhante, pois eles não são semelhantes sob todos os aspectos, nem se
encontram em idênticas condições: se, de fato, se encontrassem numa idêntica condição,
seriam um e não dois. Por outro lado, nem se quer o mesmo sujeito experimenta
percepções semelhantes ao mesmo tempo, mas as da audição são diferentes das da
visão, e agora diferente do passado. Por conseqüência dificilmente alguém poderia ter
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percepções diferentes idênticas às de outro. Segundo esta dedução, nada existe e,
mesmo que existisse, não seria de modo algum cognoscível, e mesmo que o fosse,
ninguém poderia manifestá-lo a outro, pelo fato de que as coisas não são palavras e
ninguém consegue pensar uma coisa idêntica a que pensa outro.” (Ps. Aristóteles. De.
Mel. Xenoph. Górgia, 6, 980 a 20)
Pólos: Que? Não sabes por não haveres te encontrado com ele? Enão tens meios de
saber, daqui, que ele é feliz?
Pólos: Queres dizer então que ignoras ser feliz o grande rei?
Sócrates: juro dizer-te a verdade, realmente não sei de sua posição relativamente à
instrução e à justiça.
Sócrates: Para mim, só isto, Pólos, homem e mulher são felizes quando são honestos, e
desonestos necessariamente infelizes.
Pólos: Injusto? Como haveria de ser? Nenhum direito tinha ele ao trono que hoje ocupa,
pois é filho de uma escrava de Alquetes, irmão de Péricles. Ora se observasse ele a lei
seria hoje escravo de Alquetes e, a teu ver, inteiramente infeliz. Mas, verdade foi que
praticou os crimes mais graves, e, então, deveria ele ser a mais infeliz das criaturas. Para
começar, com o pretexto de retribuir a Alquetes seu amo e tio, o trono de que o haveria
despojado Pérdicas, Arquelau o chamou em sua casa. Lá chegando, acompanhado de
seu filho, primo de Arquelau, este embebedou ambos e os colocou em um carro, degolou-
os e deu sumiço neles, isto feito, não se apercebeu de que era o mais infeliz dos homens
nem manifestou qualquer remorso. Pouco depois, tomou ele o seu próprio irmão, filho
legítimo de Pérdicas, criança de sete anos, a quem caberia legalmente a coroa da
Macedônia e, em vez de atender à justiça e ser feliz, (segundo o teu ponto de vista)
colocando-o no trono, jogou-o num poço, afogou-o e foi dizer para Cleópatra, mãe da
vítima, que o menino sofrera um acidente quando corria atrás de um ganso. Ora, tratando-
se do maior criminoso dentre os macedônios, longe de ser o mais feliz, é ele então o mais
infeliz dos homens; e, provavelmente, haverá mais de um ateniense, a começar por ti, que
preferia a posição de qualquer outro macedônio à de Arquelau.” (Platão. Górgea. 470c –
417 d)
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D.VII. Alcidamas: a lei não deve distinguir entre livres e escravos:
“Afirmam outros que o domínio do senhor sobre os seus escravos é contrário à natureza,
e que a distinção entre escravo e livre só existe por lei, não pela natureza” (Aristóteles.
Política, I, 3, 1253b. 20-22)
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