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Barbara Ratbman 1982 54,45 Ver tambon Osherton e AmtsSinghar 19815 Manning Fabegt 197%: 283; 301; Berliner 1982. 4 Were « Wer 1977: 40 ver também Donninon 1977: 42-8, 7 Sobve etn queso, vex Rothehil 1981 fabrica, ou até o dono. Se o médico for o supervisor, a mulher pode- ria ser uma “trabalhadora’, cuja “maquina” (o titero) produz 0 “pro- duto”, bebés. Para ver quais sio os elementos da metéfora, é necessa- rio examinar de perto a organizagio da producio fabril em nossa sociedade para, entéo, melhor compreender se seria possivel dizer “que os ptocessos que ocorrem If acontecem também na esfera da reprodusao.t Ampliar 0 escopo da investigagao sobre metéforas a partir do nivel limitado ~ mecinico come médico, méquina como paciente ~ também nos permite considerar se relagSes semelhantes de poder ¢ controle ocorrem nos dois mbitos da “produgao”. David Noble, em um livro recente sobre tecnologia e parto, dis- ‘eure como nossa sociedade olha para a tecnologia como se ela fosse uma forsa independente que se desenvolve de acordo com um pro- ‘cess0 auténomo de evolugao e sobre a qual nao nos resta nada a fazer exceto nos adaptar: Nessa cultura objetifica a teenologia ¢ a coloca & parte e acima dos cassuntos huamanos. Aqui, a tecnologia pasion a ser vista como um process axtinomo, tendo uma vida propria gue progride automé- ica € quase que naturalmente, por um caminbo singular. A teenologia, que supostamente se autodefine e & independente do poder e do propésito socats, parece ser uma forga externa impingida 4 sociedade, por assim dizer, de fora, que determina acontecimentos em relago aos quatis as pesoas precisam sempre se ajustar” ” Nosso enfoque na tecnologia e em suas necessidades e exigéncias que esto sempre mudando distrai nossa atengio das relagées soc de poder ¢ dominagio que esto presentes sempre que os seres hu- méquinas para produzir bens em nossa sociedade Podemos nos projetar para longe de nossa tendéncia em aceitar a tecnologia como cla é oferecida se mudarmos a natureza de seu uso. Noble sugere o exemplo imagindrio de um engenheito que projetou tum novo sistema técnico que necessitava, para funcionar bem, de * O'Bvien 1981 0 ofeece um argument tice hinted come a eprom sido nega Ne 1984:bastante controle sobre 0 comportamento dos outros engenheiros do seu laboratério. Um projeto assim, comenta Noble, poderia muito bem ser rejeitado por ser considerado ridiculo, nao impot- tando os méritos de seus componentes. Mas se 0 mesmo engenbeiro criasse 0 mesmo sistema para um industrial ou para a Forga Adrea e exigixe, para que o fan- cionamento fosse satisfitério, controle sobre o:comportamento dos operdrios on dos soldados (ou até mesmo dos engenbeiros que 0 insalariam), 0 projeo talves fose considerado vidvel, aid mesmo engenboso. A diferenca entre as duas situagées estd no poder de coagao que tém o industrial e as forgas armadas robre trabathado- res e sollados (¢ engenbeiros) ¢ na falta de poder de coxdo que tem 0 engeneiro sobre seus companheiros.® Quando se imagina a tecnologia sendo usada para controlar aqueles que geralmente a usam para controlar os outros, 9 poder das relag6es é colocado em foco. As mulheres envolvidas em organiza- {g6es ativistas que trabalham com o parto, sobretudo aquelas que Passaram por cesarianas, véem claramente as relagbes ce poder na tecnologia do parto. Observem este exemplo, que é de certa forma, semelhante 20 caso do engenheiro de Noble: Se dissessem ao seu marido que ele teria de ter uma eregio ¢ gjacular dentro de um perlodo de tempo especifico, caso contririo seria castrado, voe® acha que seria fil? Para tornar a evisa mais facil, salves enfiassem sora intravenoso em seu braco, obvigasiem- no a ficar em uma determinada posigdo, colocassems esparadrapos em volta do seu penis e mandassem-no ficar imével; ee poderia ser examinado a cada dois minutos; 0 lengol seria levantado para verificar se ocorrent algum ‘progresio”! Isto nos soa rideulo, mas, como veremos, parece-nos adequado quando uma mulher € colocada numa posigio estrutura mente and loga durante seu trabalho de parto bs cman cmdsonde * Neble 1904 4 xduro ducer 1 Cohen Fave a3 73, NG FavPunfaruto Minha primeira tarefa neste capitulo é mostrar como a literatuea obstéttica trata o “trabalho” de parto. Mencionei brevemente no capitulo T que, uma ver que 0 titero ¢ tido como misculo invo- luntétio, considera-se que ele, ¢ no a mulher, faga a maior parte do trabalho de parto. Aquilo que é realizado pelo sitero é expresso em rermos que setiam familiares para qualquer estudioso das anilises de tempo © movimento usedas na indistia para avaliat © controlar os movimentos dos trabathadores: “Parto € trabalho; trabalho, meca- nicamente, As forgas envolvidas no parto sio aquelas do titero © do abdémen, que agem para expelir o feto © que precisam vencet a resisténcia oferecida pelo colo do titero a dilatagio ¢ a fricgéo criada pelo canal de nascimenco durinte a passagem da parte que se apresenta.”” Observe que o tipo de “trabalho” presumido é o trabalho mecinico, como definido na fisica, uma concepgio limitada de uma forca tra- halhando contra uma resisténcia. E 0 mesmo tipo de subdivisio, empregada aqui num processo que na verdade & complexo ¢ inter relacionado, que se faz,.por exemplo, quando os estudos sobre tem- po e movimento subdivide trabalhos como 0 de aparafusar em pprocessos mecinicos simples. No caso desses estudas, 0 objetivo & claramente, controlar os movimentos exatos do trabalhador para consiste na geragio de movimento contea a resisténcia. aumentar a produgio." A linguagem aplicada as contragées do par: to traz suspeitas de que 0 médico teria o mesmo objetivo em mente. Os titeros produzem “contragées eficientes ow ineficientes”;" o tra- balho de parto ¢ julgado bom ow fraco segundo o “progresso alcan- sado em perfodos especificos de tempo”. Nas representagées bem conhecidas do obstetra Emanuel Friedman das curvas médias de dilatagio, o tempo que o colo do sitero da mulher leva para abrir de 4.cm para 8 cm é descrito como uma “boa medida da eficiéncia geral dda mdquina’. A “maquina” 3 qual se refere, prestume-se, € 0 ttero Picard era 1985: 311 Deal Foley 1983: 5 * Nisan 1981. 207 "pd Price a 1985: 314 LeySIRT Jo EIST Vamos examinar mais de perto como o titero é mantido em “pro- _gresso", num certo “andamento”,” sem que se permita que ele pare fe recomece segundo seu ritmo natural." O trabalho de parto de uma mulher, como o trabalho fabril, é subdivide em muitos estégios e subestégios. © primeiro estigio inclui a fase latente (lento desapa- recimento e dilatagio do colo do titero para 3 ou 4 em) ea fase ativa (uma dilatagio mais répida, de 3 ou 4 em pata 10 cm). A fase ativa é ainda subdividida em fase de aceleragio, fase de queda méxima e fase de desaceleragao. O segundo estigio inclui a descida do bebé pelo canal de nascimento e seu nascimento; € 0 terceiro estigio in- lui o desprendimento e a expulsio da placenta.” Cada estigio e subestigio € marcado por um Indice de progressio baseado em um estudo estatistico do indice caracteristico de 95 por cento dos partos analisados. O primeiro estigio, a fase latente, deve progredir a 0,6 cm/h; a sublase de accleragio da fase ativa deve pro- gredir a 0,6 em/b; a subfase de queda maxima da fase ativa deve progredir a 1,2 cm/h ou mais, se for o primeiro parto, ¢ a 1,5 cm/h em partos posteriores. O segundo estigio deve progredir a 1 em/h ea 4 2 cmbh pata, respectivamente, o primeito ¢ o segundo partos.” Des- vios desses indices podem produzir uma variedade'de “diswirbios’ tum indice muito lento leva a uma fase latente, fase ativa ou fase de desaceleragio “protelada” ou “prolongada’; a interrupgio da dilatagio por periodos de tempo especficos leva a vitios tipos de “suspensbes”." ‘Manu: distirbios raios X ou ultra-sonografia para determinar se hi presenga de obstru- io; fSrceps ou cesariana.” © diagrama de Friedman em um manual | mostra graficamente como sio muitos os trajetos desde a suspensio ¢ —— 4.0 prolongamento ao corte cesariano € como sio poucos aqueles que podem levar a0 parto vaginal.® (Ver figura 14) © O'Dea «Foley 1983 314 1 Rothman 1982: 26, 1 Else Beckmann 1983: 224-28, 2 Friednan 1982; 166; Elise Beckmann 198} 502-3: My e Kaminecky 1981: 819. 2 lise Beckman 1983: 501 2 Eli Belay 1983: 5016 2 Fviedanan 19825173, de obsteteicia listam as formas adequadas de lidar com esses administragao de medicagio (para sedar ou estimular), | Fig }4-EASEATIVA DA DILATAGAO volo ds fie lente ‘Avalato ertado enecionsl Conger progresivas | 4 Moniora FHR | Diao progessiva Sitagto de doe cestieo ‘Apresenagiee posto do fxo @ Dietetic Dk ca oe ir A ©} Soa] [ee] Pea hm ESS, | polled] — aI Otero pn oma Niwa 1H: 184, 2 Hate 1972: 13: Newton 1964: 1056-1102 2 Pitch tal 1985 63, 2 Pichd et l 1985: 643, pif no gina > Qader complens eso eras quand se decide se dso ou aban) valuntto involio” expen auadamente a vaieade eo emda da aes hamanas, No vou aborar ‘as ques aguas para uma dict leant, rer Anscombe 1363; 89-90 " Emi nenhum lugar & sugerido que 0 estado ~~ton ETT \edidas sugeridas pelos compéndios de obstetticia manipulagdes externas do corpo da mulher: romper 0 saco amniético, uma aplicasio cesariana, que torna outras contragées desnecessétias."* Tendo em vista a nogo de que as contragées uterinas sio involuntérias de que no sio acompanhadas de contragGes abdo- minais no primeiro estégio, a prépria mulher praticamente nao tem papel algum nesse momento. Embora possa parecer contraditério, a mulher & freqiientemente avaliada durante 0 primeiro estigio do trabalho de parto como se fosse ela quem estivesse atuando — di- fc ocitocina, que age quimicamente no ttero, ou zem-lhe se esté indo bem ou nao tao bem quanto seria necessério, se vai conseguir ou se no vai conseguir de forma alguma, além dea advertirem sobre tempo que falta para concluir cada parte do pri- meiro estigio e se ela estd progredindo bem ou mal. As estraté de gerenciamento cientifico so consideradas adequadas porque se_ considera que a mulher realmente um sujeito a ser conttolado. Se fosse apenas uma maquina que estivesse ali, as pessoas simplesmen- te iriam ligi-la, conserté-la se estivesse quebrada, ¢ néo subdividir seus movimentos e pressioné-la a manter um certo ritmo de produ- io. Em indiistrias de processo continuo, nas quais as méquinas realizam automaticamente a maior parte do trabalho, o gerenciamento cientifico deixou de ser necesstio e 0 controle sobre os poucos trabalhadores que restaram é bastante brando.” Contradigoes também aparecem nas descrigses do segundo esti- gic do trabalho de parto, Embora se considere que, nesse momento, a mulher “empurte” com seus miisculos abdominais, juntamence ‘com 0 titero que se ests contraindo, as vezes torna-se dificil sequer ——“#edetectar a presenga de uma pessoa na complexa terminologia médi- 2. Na 17! edigio do Williams Obstetrics (1985), 0 segundo estégio do trabalho de parto é descrito assim: “Apés a completa dilatagao do colo do titeto, a principal forga de expulsio do feto € aquela Benson 1982: 905-7: Ninwander 1981: 2075 Picard etl 1985: 644 2 Blauner 1964 147-56 produzida pela crescente presséo intra-abdominal criada pela contr «40 dos misculos abdominais simultaneamente com os esforgos res- piratérios forsados com a glote fechada. Isso costuma ser chamado de ‘empurrar’.”* Apesar da natureza altamente abstrata dessa des- crigio, fica evidente no exemplo de mulheres paraplégicas que é a mulher quem “empurra”. Com as mulheres paraplégicas, que néo sentem o fmpeto de empurrar, diz-se que a expulséo do recém-nas- cido & raramente posstvel, a menos que 0 obstetta perceba o inicio de uma contracio, sentindo o dtero da mulher, e entio a instrua para fazet pressio para baixo com os mmisculos abdominais. No se- gundo estigio, uma mulher que sente o fmpeco de emputtar € pres- sionada a empurrar com mais forga e the dizem que ela escé se apro- ximando do final do tempo destinado ao segundo estagio. (Por outro Jado, talver the digam para no empurrac) Aqui, ela é vista clara- mente como a “trabalhadora’® do parto. ‘Uma mulher expressou assim a confuso que sentiu diante das instrugdes contraditérias recebidas: E entdéo chegou aguela parte horrtvel, quando eles me diziam para iio empurrar e ew ndo conseguia {parar de empurrar]. Nio dé ‘para evivar. Uma bora eles dizem que o titero € um miisculo involuntério e no minuto seguinte dizem para vocé ndo empurrar. Exc no se se a pessoa empurra com 0 titero: néo acho que empurre.* Em sama, 0 imagindrio médico justapée duas imagens: 0 stero como maquina que produz o bebé ¢ a mulher como trabalhadora que produz o bebé. Em alguns momentos, as duas talver. se juntem, de maneira consistente, como a muther-trabalhadora cujo titero maquina produz o bebé. ~ Que papel é atribuido ao médico? Acho que esté claro que ele € visto predominantemente como supervisor ou capataz. do processo do parto. Primeito, uma expresso quase universal para o papel do Pied ea. 1985: 31 Iden 1985: 338 "Oakley 1984 204.5médico é de que ele “conduz” 0 parto. Condigbes especiais deman- dam uma “condugao ativa’;" cesarianas anteriores ou tras com- plicagbes requerem uma “conducio vigilante”, no caso de se per- mitir um parto vaginal. Segundo, cabe aos médicos, evidentemente, decidir quando 0 “ritmo” do trabalho é insuficiente e quando deve ser acelerado por meio de drogas ou instrumentos mecaricos. Kieran O'Driscoll, obstetra islandés e forte defensor da “condugie ariva’, instituiu um rigido esquema para o controle do parto no National Maternity Hospital, em Dublin, Como sintetiza Ann Oakley, A natureca fundamental da condugdo ativa é de que nenbum parto pode durar mais de 12 horas, (Os gréficos empregados para registrar dados sobre partos e nascimentos no National Maternity Hospital ndo admitem 0 registro de periados de mais de 12 horas.) ‘Nas primiparas [mes de primeira vez), a conducao asiva do parto corre da seguinte forma: a ruptura artificial das mersbranas é realizada uma hora apds o diagnéstico inicial de trabathe de parto, “a ndo ser que a dilasacao do colo do sitero esteja ocorrendo em ritmo satisfatério" Uma hora depois disso, a néo ser que a dilatagao do colo do vtero tenha se acelerado, coma a ser administrada ocitocina por via intravenosa: “Existe wm procedi- mento padrio, empregado em todas as circunstincias por todos os membros do corpo médico, que & 0 seguinte: usam-se dee unidades de octocina em wm litro de solugto de deste a cinco per cento,™ Se 0 médico esté conduzindo o titero como uma maquina e a mulher como uma trabalhadora, s ia 0 bebé visto como um “pro- dduto"? Parece que a preocupagao dos médicos com o “resultado fetal” parto ¢ algo que esti acima de qualquer critica. C que parece significativo & que a cesariana, que exige 0 méximo de “condugio” por parte do médico € um minimo de “trabalho” de vicero e da mulher, € considerada como 0 processo que fornece os melhores » Daife 1993: 239, {© Gllwn eal 1983: 2985 Elise Beckman 1983: 57 ‘Onley 1884: 2065, Cites adn de O' Drill Meagher 1980; 140, 142. produtos." “Os médicos criaram 0 ponto de vista de que o patto por cesariana implica bebés perfeitos.”" Alguns relatos chegam a come- morar 0 “crescimento’dramatico” dos indices de cesarianas. O “cré- dito” deve pertencer aos colegas mais antigos que defenderam o cres- cimento do indice (de 3a 8 por cento der anos atris para 15 a 23 por cento hoje) ¢ incentivaram uma mudanga de ponto de vista (uma rmudanga que, como fica claro, deveria ser deesjads): “O enfoque, que antigamente na mie eno parto, esté concentrado agora no resultado fetal.” Conseqiientemente, 0 alto indice arual talvez nfo cesteja perto do que ser no futuro. O The New York Times cita o dow- ror Robert Sokol: “Os médicos nao hesitario em realizar uma cesa- riana se houver qualquer possibilidade de melhorar o resultado.’ Ape- nas por este critério, disse ele, ‘um indice de 20 por cento pode nio ser tio alto.""* Outros detectam um “novo principio”: “O conceito por tanto tempo mantido do parto vaginal est rapidamente ceden- do. O novo prinefpio que ver crescendo em importincia parece ser purto vaginal apenas para pacientes selecionadas.”* Fssa conviegio de que cesarianas podem produzir bebés de me- thor qualidade pode estar, em parte, relacionada 4 nogio de que mesmo partos normais sio intrinsecamente trauméticos para o bebé. Desde a antiga descrigto feita por um ginecologista do século XIX do iter como missil mortal,” passando por descrigées posteriores (1920) do trabalho de parto, que diziam ser como se a mae caisse ditetamente num forcado ou como se a cabega do bebé ficasse presi no barence da porta," até os esforgas dos obstetras contemporincos para aliviar a experiencia terrivel do nascimento para o bebé com o uso de huzes fracas ¢ banho morno depois do. parto, foi_con para_o médico 0 papel de se aliar ao bebé contra a destruigio ern Mind 1983: 189. 1 Wesker 1983: 476, Jane 1976: 257. Blk 195, ‘Var 1976: 804 argument cine Kroes, Barker Beall 1976288, ‘Wer « Wer cand Delee 1977: 142-3,aaa SIRES Jo TTT) potencial causada pelo corpo da mae. Usando as palavras de Rothman, “mae ¢ feta sio vistos pelo modelo médico como uma diade ante, € néo como uma unidade integral”. © A luz dessas imagens, extrait o beb@ por meio de uma cirurgia poderia facilmente ser visto como a tinica grasa salvadora para o bebe. De fato, apés uma cesariana que as tenha deixado com raiva € frustradas, as mulheres sio consoladas ouvindo que deveriam se sen- tir felizes por terem um bebé saudavel. O enfoque no produto do trabalho de parto ignora, é claro, aquilo que talvet fosse importante para a mulher na mesma medida: a natureza de sua prdptia expe- ia como A anulagao de sua propria experiéncia. Sua experiéncia com a cesaria- na fora de perda e frustragao por ter perdido a cena do nascimento para a qual se havia plangjado: “Nao pude vé-la sendo pesada, sew primeiro banho, pequenas coisas. Dava medo ficar ali deitada de- pois de ter sido aberta com um corte, sem poder me mexer.” Além do mais, 0 perfodo de recuperasio foi frustrante ¢ desconfortivel “Eu nio podia cuidar do bebé, néo deixavam meu marido passar a noite no hospital, nao me deixavam comer. Tinha de ficar horas sem comer ¢ ainda espetavam que eu me recuperasse de uma cirurgia importante! Quem é que consegue se curar sem nutrientes? Quan- do trouxeram a bandcja, cu tive vontade de atiré-la pelo quarto.” Nesse cantexto, ela ficava furiosa quando as pessoas (enfermeiras, meédicos ¢ familiares) diziam que cla tinha sorte de ter um bebé saudével. No curso de proparasio pré-natal que freqiientou antes de ter seu préximo filho, ficou futiosa com um casal que disse que sua prioridade era ter um bebé sauddvel. “Pulei em cima deles. Disse que era 0 Sbvio: néo deviam sequer mencionar isso, Todo mundo quer um bebé saudével, Isso nao merece ser mencionado; para come- ‘an, nao se fica geévida se ndo se deseja um bebé sauclével. [E zomban do] ‘Ah, puxa, eu queria tanto que esta crianga Fosse deficiente! Es- scimento, Uma mulher reagiu com raiva redobrada tou tio desapontada!” Pensem nisso” (Sarah Lasch). © Rohan 1982: 48, _Avtava dessa mulher veio da sensagSo de que sua propria experién- perto. do bem-estar de seu bebe. ‘Mas 0 bebé no passou por softimento em momento algum teve, na verdade, uma contagem de Apgar de 9/10 (uma contagem perfeica seria 10/10), de forma que era dificil para ela dar crédito a preocupa- «io da equipe médica com bem-estar do beb@. Outra mulher, que jé havia feito uma cesatiana, ficou surpresa ao notar © pouco que o resi- dente que a atendia no hospital sabia a respeito dos sentimentos das mulheres em relagio a cesarianas, “Ele fer um monte de perguntas ‘Por que voc? nao quis fazer outra cesariana? Eles cortam voce embai- x0, cortam voce em cima, qual é a diferenga?’ Isso me mostrou real- mente como eles sio ingénuos: a gente acaba com softimento dessa mulher ¢ cla vai ficar eternamente grata por Ihe termos dado seu bebe. Tali de minha frustracio, de ter perdido a cena do nascimento ¢ da dor que senti depois, ¢ ele disse: mesmo? Puxal” (Laura Cromwell) Em nossa maneira de pensar a esfera do lar e a esfera do trabalho ‘encontram-se, como jd vimos, totalmente separadas. O trabalho numa ibrica nos parece muito diferente do trabalho doméstico ou do trabalho de uma mulher no parto porque o primeiro é procurado e remunerado no mercado, enquanto os outros dois, nao. Talvez por essa raz0 a maioria dos relatos contemporancos sobre a produgio cm sociedades pré-industriais (em que essa divisio nao esté presen- te, pelo menos ndo da mesma maneira) afitma que nao conseguem descnvolvéer um modelo de atividade produtiva que seja suficiente- mente abrangente de modo a incluir 0 trabalho feito por uma mu- ther dentro de casa e, muito menos, o trabalho que ela tem para produzir criangas.” Como diz Raymond. William: E bastante extraordindrio que, se examinarmas toda a extensto do Marxism, a importincia fbico-material do proceso reprodu- ‘iv bumano tenha sido geralmente ignorada, Foram levantadas cls 198; indess ise 1975. sora ecenter pra "eampreender ant relgbet crie dug repredus coma parte de ue ico proces” 2 medida ques transormador ts ‘hs hina eechey 1979: 79) inluem Mackintosh 1977, Edin el 1977, Perce 1983, aidenhal 1976 © Garnsey 1978quesies coretas e necesstrias sobre a exploragao da muller ox 0 (papel da familia, mas nao existe nenhum texto importance sobre todo este campo. Mesmo assim, € praticamente impossivel duvidar da centratidade absoluta da reproducao e do,cuidado humanos ¢ de sua inquestiondvel natureza fsca. Isso € ainda mais extraordinério porque, desde o aéculo XV, a mesma palavra em inglés, com a mesma raiz, “labor” (ou “trabalho”, ‘em portugués), € empregada para descrever o que as mulheres fa- ‘rem ao patircriangas € o que homens e mulheres fazem a0 produit coisas para uso ¢ froca em casa € no mercado." Tado isso contém tuma dupla ironia. Quando os antropélogos, armados de conceitos sobre producio e trabalho associados aquele realizado sobretudo por homens nas fibricas ¢ empresas fora do lar, centam descrever socie~ dades pré-industriais, muitas vezes ignoram completamente 0 tra- batho que as mulheres realizam; quando os médicos descrevem o trabalho que as mulheres execuitam no parto, suas expectativas estio centradas em como outros tipos de trabalho séo organizados em nossa sociedade ¢ como a tecnologia ¢ as méquinas podem ser em- pregadas pata controlar aqueles que trabalham, Em ambos os casos, as mulheres perdem; no primeiro, a0 serem ignoradas, € no segundo, pelo faro de um processo complexo, que inter-relaciona experiéncias fisicas, emocionais e mentais, ser cratado como se pudesse ser subdi- vidido e conduzido como outras formas de produgio. ‘Nos eapinulos 3 e 4 vimos que as metéforas médicas dominantes empregadas para o corpo da mulher durante a menstruagzo, 0 parro tc meoupanss cme tn stra heroes de conole ne tralizado, organizado com o propésito de obser uma produgio efi- ciente e répida Fsse sistema costuma receber atengio médica quando para de funcionar, entra em decadéncia, fatha ou se torna ineficiente Como poderfamos reagir a essa situagio? Os marxistas acharam inquietante © emprego de principios de mercado para coisas que no eram mercadorias. O préprio Marx via 4 Wiliams 1979: 147 5 Orford Engl Dinar 133 5 esse processo como inevirdvel, porém lastimavel. Ele falava de coisas “que inetentemente nao se tratam de mercadoria, como a conscién- cia, a honra ete. [..] sendo postas & venda por seus donos e, dessa forma, adquirindo, por intermédio de seu prego, a forma de merca- doria. Portanto, um objeto pode ter um prego sem tet valor. O pre- go, nesse caso, € imaginério, como certas quantidades na macemsti- cx’ A expressio “prego imaginério” define sua compreensio de que essas no so coisas em que se possa colocar um prego. Winner em- prega 0 termo “perverso” para o pracesso pelo qual normas que per- tencem ao dom{nio da produgio sio estendidas de mancira inapropriada a outros dominios, “casos em que as coisas tornaram- se, de forma insensivel ou inapropriada, eficientes, ligeiras, raciona- lizadas, medidas ou cecnicamente refinadas [...] A predomindncia de normas instrumentais pode ser vista como um excesso ou exagero do desenvolvimento de meios téenicos. Nao que essas normas sejam perversas em sis elas, no entanto, escaparam de sua esfera usual”. ‘As feministas também se opuseram a0 uso de metéfaras de produ- fo para descrever a reproducio, Em Womans Bxate (A condigio da mulher), Juliet Mitchel se refere & reprodugio como uma “triste imita- 40 da produgio”, pensando em como ter filhos pode ser visto como ‘uma imitagio do trabalho: “A crianga é vista como um objeto criado pela mie, da mesma forma que uma mercadoria ¢ criada pot um traba- thador.”* Mitchell escreveu isso em 1971. Agora, em meados da déca- dha de 1980, ew dita, e pode ser que ela concorde, que nio temos bem tuma iste imitagio da produgio, mas sim uma caricarura destrutiva Essas reagées de redricos nos levam diretamente & questio central deste livro: Como as mulheres reagem a essas meciforas cientificas sobre seus corpos enquanto vivem suas vidas normais? Para comegar, send que elas as percebem? Ser que as aceitam como sendo nacurais ¢ corretamente aplicadas 3s mulheres, ou se conformam em toleri-las? Ou serd que as combatem como ameagas profundas e sinistras a uuma existéncia plena? Mare 19674 102 Winner 1977: 230 Michal 1971; 108A CRIAGAO DE UM NOVO IMAGINARIO 00 PARTO. A tradigao das grapes more pera «como wm pesadel na mente dos vivo. Karl Marx, O Dezoito Brumdrio de Luts Bonaparte io tipo de resistencia que descrevi até agora, as mulheres sio vistas, ssio médica. As quest6es a serem abordadas, as atividades a serem sideradas, io determinadas pelos méidicos ¢ hospitais, e nio pelas fartsientes, O| movimento para levar a pressio dos consumidores js hospitais e aos médicos demonstra isso claramente. Por exem= ‘plo, a “Pregnant Patient Bill of Rights” (Carta dos direitos da pa- “dente gravida) especifica que a paciente gravida tem o diteito de ser _ifoxmada dos viscos para a sa seguranga ou do seu bebé que envol- tio sccita inteiramente, © nem seria tazodvel faé-to, os termos modelo médico do parto.’ Um outro exemplo € 0 conceito con- “inditério da “cesariana centrada na familia”. Esse conceito (que, da cesariana) dé aos pais algama Bee——fdo parto, incluindo a visio de que © parto é um tipo de produc, * procedimenco e oferece terapia de apoio para a mie. Ainda que eses Csforgos sejam louvéveis quando a cesérea € 0 dinico mésodo seguro de parto, nio se pode deixar de imaginar se eles nfo so uma mancicg relativamente fécil para os médicos ¢ as maternidlades tornarem o par. to cindigico mais agradvel; muito mais cil, por exempo, do que incentivar ativamente a maioria das mulheres que j softeu uma ces rian anteriormente a fazerem o parto vaginal, ou incentivar ati. mente a maioria das mulheres saudiveis a terem scus bebés em cas, ‘Avaliada como uma maneira de captar a importincia do ato d dar A luz, a analogia entre a produgéo de bens e a produgio de bebis € profundamente enganadora, Se os esforgos dos consumidores pary resistir ocorrem necessariamente no Ambito das concepgées médicas continuagdo da energia criativa que comesou com a concepgio € gue erescerd ao longo dos anos da criagtio? ‘As metéforas concretas que escolhem para explicar seu conceito enfutizam um processo que se desenvolve de dentro para fora ea comtinuidade deste processo com 0 passado ¢ 0 futuro, Um rie: “O 1x0 continuo do trabalho de parto estreita-se, transformando-se tm corrente intensa do nascimento cheio de vida’; sm fruto amadu- rcendo: "Como um feuto amadurecendo numa érvore,o parto precisa Je tempo. Se comegarmos cedo demas ou tentarmos apressé-lo, seré como colher uma frura verde: um trabalho mais duro, por mais horas e um possivel dano & colheica.”* Outras autoras se concentram mais explicitamente na energia que a8 pessoas sentem estar presente no parto: “No parto, voc’, mulher que esté dando & luz, é 0 canal para a Forga Vital, a energia ‘is criagio e da transformagio.”™ Els escolhem metiforas que cap- fam a maneira como as mulheres parecem “ser levadas” por essa enetgia, adaptando-se ativamente a ela: “Nao € possivel controlar | seu trabalho de parto, mas é possivel e necessério controlar-se, da nnesma forma que uum surfista se controla ao ser levado pelas grandes ‘ondas, mantendo o equilfbrio ao mesmo tempo que se entrega a tla.” Atendo-se & energia intensificada, essas auroras sio levadas a cafatizar as semelhangas entre’a experiéncia do parto e a experiéncia ‘ds unifo sexual: “O parto & fundamentalmente um ato criativo, “asim como 0 ato da unio séxual, A qualidade e a intensidade da nergia presente ¢ a entrega roral durante ambos os eventos estio Jntimamente relacionadas.”* A partir de uma preocupagio parecida com a energia, os morado- de uma comunidade espiritual do Tennessee chamada Farm (Fa- Hnda) criaram metéforas completamente novas para a conceituagio “contragies”, “Durante 0 trabalho de parto, seus miisculos uterinos ‘como conseguiremos, entio, uma concepsio genuinamente di rente do parto? O que fariam as mulheres quanto ao parto se pudes sem onganizar as coisas de forma a se adequarem completamente suas predisposigées ¢ desejos? Que imagindrio trariam para a exp riéncia, que providencias priticas buscariam tomar, que tecnologia desenvolveriam e sob que condigfes a empregariam? Estas pergune tas s6 podem ser respondidas por mulheres ~ de origens étnicay ¢ sociais diversas — reunidas em grupos, refletindo sobre suas prépri experiéncias e agindo de acordo com elas. Enesse cendrio que tam: bém devemos buscar por uma resposta & pergunta: O que seria per dido se as mulheres fossem afastadas como trabalhadoras do proces: so do parto? Existe uma necessidade inegavel de novas metéfoiat bisieas, simbolos essenciais do ato de dar a luz capazes de capttt aquilo que nao queremos perder no parto. 4 O “pata fae de Nae Cohen ¢ Lois Estner € uma tencatiy de desenvolver esse povo tipo de meréfo Um parto completamente livre de intervengdes médica E autos deserminado, ausoconfiante e auto-sufciente, sem necesariament ser solitdrio [...] 0 parto puro nio tem estdgios. Ao contrario, ¢ —— Aran ae Hitec fn 1983 1202, = Blivie 079 81 209.28 vin 1979: 81,135 2 Young 19Gao RTI) ‘Muitas mutheres buscam metéforas capazes de captar o senso de © git ¢ fazer: correr uma maratona, escalar uma montanha, nadar iiuma competigso olfmpica," esquiar montanha abaixo (Sally Xenos); “evar um piano de cauda de um canto a outro da sala: tao dificil assim, mas to tecompensador, sentir aquilo se movendo." Metdforas basicas podem escorar as organizagGes de experiéncia e Fpritca que jd existem ou mostrar o caminho para novas organizagies. Se 0 parto é exatamente igual & produgéo em nossa sociedade, entéo ‘amos deixar mesmo que ele seja gerenciado, mantido em eficiéncia e, eventualmente, realizado inteiramente pelas méquinas. Mas, se 0 parto | fix parte de nosso rio da vida, parte de uma jorada intetior ¢ exterior, = vamos querer que ele acontega onde levamos nossas vidas, em casa, cercadas de amigos e familia. Se o parto € um trabalho duro, que, ainda assim, € compensador, entéo vamos querer que nos déem tem- E po, incentivo © apoio para que nés mesmas possamos fazé-lo. Se 0 parto ¢ uma experiéncia profunda e intensa, que envolve sentimentos E nvimos (muitas vezes, extéticos) ¢ a percepsio de forsas poderosas do | mundo, vamos querer ter esta expetigncia ¢ ponto final. ‘Um exemplo de como uma metifora basica pode organizar a ex- F pevigncia e a pritica de maneiras bastante especificas ven de um | grupo localizado no Kansas, dedicado a0 parto em casa no estilo _‘faga-voct-mesmo”. Empregando referencias as escrituras cristis, esse grupo sustenta uma metafora em detrimento de todas as outras: 0 = patto é um tro {ntimo entre mulher”. Quando 6 sexo genital € escolhido como metifora bésica para aquilo que 0 parto significa, segue-se uma série de conseqtiéncias em tetmos de fomportamento, Matido e mulher dario & luz sozinhos, na intimi- "dade, exatamente como fariam se estivessem envolvidos em outro ‘ipo de atividade sexual." Para ajudar no proceso, da mesma forma que em outras manifestagdes da sexualidade, fancasiar, abragat, beijar se contraem em determinados intervalos ¢, finalmente, empurram 9 bebé para fora. Enquanto isso est acontecendo, seu colo do titero se afina e se abre, Chamamos essas explosdes regulates de energia de petos’. O trabalho de parto progride melhor se vocé prestar mais atengio A expansfo, e no A contracio.”” Uma mie de tr filhos dy mesma comunidade descreve sua experiencia: “As contragies nao pre. cisam ser dolorosas. Elas sio impetos de energia que permitem que voc se abra de forma que o bebé possa sair, Se voce tiver uma posturg de que vai doer, entéo vai ficar toda tensa e no vai conseguir relaxay completamente; vai levar mais tempo para o bebé conseguir passar¢ | voc nem vai aproveitar o momento. E.um milagre ser capaz de ciar | nas forga vital e nfo hé espago para reclamagbes.” Enquanto a visio do parto como forsa vital concentrada permite A mie ser um recipiente passivo pelo qual a forsa flui ow uma pants cipance ativa que “élevada’ pela energia, outras concepg6es colocam a mulher num papel claramente ativo. Considere a nogio de “parto concentra na integragio harmoniosa de corpo, mente, coragso ¢ alma, A mente ¢ 0 corpo, quando alinhados, dangam em sincronia ¢ unis 2 dade, entregando-se livremente & nova vida que vem chegando.” ~ Outta concepgao baseada em outta metéfora bisica também colon = ca.a mulher em um papel ativo. Gayle Peterson diz: “O parto é uma _jormada (...] A visto da gravidex € do nascimento como uma jor torna-se uma oportunidade para o crescimento psicolégico ¢ um’ acontecimento a0 qual a mulher que esté em trabalho de parto se relaciona fntima e singularmente, tecendo uma experiéncia de apren- dizado toda sua." Ghee Bone 1988223. I ann wh Meo shan 1982: 20 » Gatkin 1977: 239. * Gaakin 1977: 87 2 Panuthor 1984 484 Peterson 1984: 52.¢ acariciar io 05 meios mais relevantes.” A necessidade de privaci. Permite-se que 0 parto evolua sem recorver & amniotomia, nem qualquer tipo de medictgio para induzir 0 parto ou aumentar as contnagdes. Timbém nao sio empregades analgsicos on anestesia cexteto em partes cinirgicos. (O indice de cessrianas & mantido em niveit maize baixos, cerea de 5%.) Quando 0 parto jd avangou a jponto de a mee 0 pai se sentirem mais d vontade em wma das salas te parto, eles caminbam para ld. A mide exulbe a positzo que dosian, mudando livemente de posgao durante 0 wubalho de parto € 0 nascimento da crianga. A maioria das mulheres. prefere caminhar, ajoetbarse ou semtar durante as coniragies, ou tabvee tomem wm banko morno on relaxem em urna das piscinas de plistico com gua morna. Tados os eforgos sto no sentido de ajudar as mulheres a encontrar posigdesconfortéveise, sobretudo, permitir que seu cerebro instintivo ou vixerallafeivo determine seu comportamen- ‘0. O parto acontece em qualquer lugar ow posigdo que a mite ache confortivel. Muitas veces, esa posgto & de chcoras com sustentagao, na qual seguracte a mite por debaixo dos brazos ¢ ombros enguanto la fleciona levemente os joelbos, parindo para baixo.” dade exige que nenhum assistente de parto esteja presente, mas, “quando uma parteira ajuda fisicamente no nascimento de um bebs, isto é uma experiéncia homossexual [...] no € 0 que a parteira diz que torna 0 momento uma experiéncia lésbica. 0 que ela fiz. Ely poderia ser surda ¢ muda. Mas, se esti manuseando as partes in mas de uma mulher que csté se expressando de forma genital (e ¢ jsro que € 0 parto), entao & uma experiéncia homossecual. Apenas 6 marido da parturiente a deveria estar tocando”. Vidas diferentes, partos diferentes. Mas, apesar da civersidade, um cema comum permeia estas descrigbes ce parto nas quis as mulheres esto timidamente tentando criar um significado para 0 evento, Esse tema — encontrar um senso de completudy ~ é uma resposta & reivine dicagio que surge freqitentemente dos movimentos pela satide da mulher: “Reintegrar a pessoa em um todo a partir de quebra-cabega de pesas criado pela medicina cientifica moderna.”” A reivindicagia ¢ clara, da mesma forma que a adverténcia que a acom2anha de que a reintegragio nao pode set feita de uma maneira simples, uma vex que “as partes que so reconhecidas atualmente pela biomadicina no pox dem ser montadas novamente para formar um toda" Aparentemente, 6 que Odent tem feito pela experiéncia de parto hs mulheres é extraordinétio, $6 precisamos comparar a iconografia do parto em um hospieal (Figura 25) com a imagem forte, ativa e ereta ds mulheres em Pithiviets (Figueas 26 e 27), para perceber a diferen- a dramitica, Mas 0 custo é alto. E impossivel para Odent oferecer as mulheres esse novo cendrio para 0 parto sem descrever 0 que acontece om elas como uma volta a um estado animal ¢ infantil Ainda que tle diga que sua intengao é deixar as mulberes dacem & luz suas erian- 48," ele interpreta o que clas fizem da seguinte maneira: dlente se os defensores de um novo imagindrio do garto conseguis sem criar imagens completamente desprovidas de contradigées, coms plecamente livres da ideologia dominante de nossa sociedade. U exemplo de um esforso para transformar a experitncia do parto que esti repleto de contradigées est ocorrendo na clinica de Michel Odent, em Pithiviers, na Franga. Embora a clinica esteja na Frang 6 livro O renascimento do parto, de Odent, tem sido defendido pelas ativistas do parto nos Estados Unidos. Nao foram poucas a qu visitaram Pithiviers para ver com os préptios olhos 0 tipo de pa descrito por Odent: As mulheres parecem se exquecer de tas ¢ do fe si mesmas e do que esti acontecendo em volta delas durante 0 andamento do trabalho de parto sem medicagio [..] Elas adguirem uma expresso distante : em sens olbos, esquecem-se das convensies sociais, perdem 0 * Moca 1985 2 Dla 2 Moran 1986 9-10, ler? 1 Koctke 1983 13 aa 1 Koike 1956 13 Aen 1981 15,Fig 25—(A) A posto para parto padi usada na maioria dos hospitals dos Fs Unidos. As pemas da mulher sio mantidas levantadas ¢ afasadas pelos esis pesca ete ail re prmanece dita de cons, (B)A rao penne Pats cuadonment esepados na prepargio do pao, LengSs een bran ntcamento sbimen da nde Pha MacDonald 1980416, ne I7-MB, Repectrdascom eure da Appletn-Centuy-Crofs) if 26~-Parto na nica de Michel Oden em Pithviers, rang. As mulheres acham que confortvel car de eécorassustentadas por dete pela alas enquanto fem forga fia expelic seus bebés. (Tirado de Birch Reborn de Michel Oden, waduzido pata 0 ts por Jane Pincus Juliette Levi, p. 48. Copyright 1984, Michel Odent, Reprodu- lo com autorizagéo da Pantheon Books, uma subdivisio da Random House, Inc)aa constrangimento ¢ 0 autocontrole. Muitas soltam um grito cantcteristico no momento do parto [...] Tenbo achado muito dificil deserever essa mudanga para um nivel mais profiundo de consciéncia durante o-trabatho de parto. Pensei em chamdcla de “regressto", mas sei que a palavra parece pejorativa, evocande uma volta a algum ripo de estado animal. “Instinto” & um rermo inethor, embora cle também tenhsa sama rewondrcia de implicac des moralistas [..] ndo hd nada de vergonboso ou sexista em reconhecer gue 0 instinto representa um papel em nossos compor~ tamentos, especialmente magueles que ocorrem ma intersecpdo entre natureza e cultura, como 0 ato sexual, o trabalho de parto ou 9 recém-nascido & procura do seio materno.” © que acontecen? Segundo Odent, considera-se que as mulhe- tes, a0 darem a luz, andem para trés no tempo e na evolugio, em diregio a um estado mais simples, animalesco e livre de “autocensuras.” Esta avaliagio precisa ser examinada sob a ética da txclusio histérica das mutheres da ‘cultura’ ~ aquela atividade su- perior dos homens ~ ¢ a exclusio da cultura das mulheres (como seus escritos) da corrente dominante. E uma ironia que o preco dos esforgos de Odent em devolver 0 parto para as mulheres seja a reafirmagio da concepgio da mulher como um ser animalesco, que pertence & natureza, € nfo & cultura. Ainda que Odent tenha sido _transformado em herdi por muitas ativistas do parto nos Estados Unidos, serie bom para nds perceber que suas idéias tém muito em comum com as dos esctitores do século XIX, que relegaram as mu- | theres a0 dominio “natural” da domesticidade. Bm ver de considerar que as mulheres de Pithiviers estejam cngajadas em uma atividade “natural” de nivel inferior, por que ni podemos considerar que estejam engajadas numa atividade de na- {ureza superior? Os tipos de integragio entre corpo © mente fomen- _tados nas abordagens psicofisiolégicas, entre outras, ¢ os tipos de Oe 198K 12-13, [Bd extey (1977 axa onenas pretuposigtes em pod participa do mati no pane Fe Orne (1974) sabre genera em ao deepal ere atures tur, 48, Copyright 1984, Michel Odent, Reproduzido com autorizagio da Pantheon Books, uma subslvisto da Random House, inc)atividade que implicam um envolvimento integral que foram capis das pelas metéforas da jornada e da danga poderiam muito bem sep considerados formas de consciéncia ¢ atividade superiores, mais es. nos integeais, com todas as suas partes inter-relacionadas, engajado naquilo que talver scja a Gnica forma de trabalho verdadeiramen inalienado agora dispontvel para nds. a Se a fragmentagio na linguagem comum que empregamos pa falar sobre parto é, em parte, resultado da maneira pela qual a medi ina cientifica define e trata 0 patto, 0 que acontece com essa fine ‘guagem quando as mulheres preparam-se para parit em um cendriy diferente, segundo prinefpios diferentes? © imagindrio implicico dy separaggo — “as contragSes chegaram”, “Eu passei pelo parto” ~ ai da & comumente usado, em parte, tenho certeza, porque € muita dificil enxergar suas implicagées. Mas as mulheres conseguem gat a outras maneiras de descrever a experiénc! i mam a integeidade em face oe das mulher (Nancy Jankowski), que descreveu seu segundo parto, fe cem casa, depois de jé ter feito uma cesariana, relatou um trabs de parto dificil, com dias em que o primeito estégio parava e re megava, um bebé com apresentagio pélvica, horas fazendo forga com dor &, finalmente, 0 nascimento de um bebé de mais de 4,5 Ny: ‘Mesmo assim, niio havia nenhum sinal perceptivel em suas palaay de que alguém tivesse achado que algo estava errado, de que me d das especiais tivessem de ser tomadas ou de que houvesse alganiy causa para alarme, Evidentemente, ela, seus amigos ¢ as part consideraram © nascimento um processo que aconteceria dentro seu ptdprio tempo, algo que ela mesma seria capai, fazer e, embok ~tenha sido dificil, uma ocasifo para um ambiente festivo. A me: resumiu a experiéncia dizendo: “Eu me senti inteira”; como o bal nfo respirou de imediato, a patteira soprou suavemente no se to para mostrar a ele o que fazer. MENOPAUSA, PODER E CALOR Jovi mulheres comparare suas sensag6es a um vapor ardentesubindo da boca do estémago. Bses cores poder ser considerados como casos de ruborizagio patoldgica. Edward Tilt, The change of lifein health and diseare (A mudanga da vida na satide e na doenga), 1857 senvolver modelos alternativos que reintegram a experiéncia huma- “fa O qué acontece depois disso? Ser que existe uma “gramatica cultural” alternativa da menopausa, apesar de sua imagem pablica : indicagio “fisica” espectfica da Fenopausa.' E preciso ser dito, de inicio, que nfo existe uma ma- Eacira segura de separar os aspectos puramente “fisicos” dos calores seu contexto social ¢ cultural. Os pesquisadores tém encontrado iagGes marcantes na incidéncia dessa experiéncia e em como ela HeKinly«Jeteys 1974