Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
N.T.Wright
N. T. Wright, também conhecido como Tom Wright, é mais famoso no Brasil como
um dos expoentes da chamada “Nova Perspectiva” sobre os estudos de Paulo.
Contudo, ele é internacionalmente reconhecido como exímio debatedor e
acadêmico dos estudos sobre Origens Cristãs e Jesus Histórico. Em sua formação
inclui-se estudos em Literatura Clássica, Filosofia e História no Exeter College, em
Oxford, onde também cursara teologia e também “Divindades”, também em
Durham e St. Andrews. De 2003 até se aposentar em 2010 fora Bispo de Durham
da Igreja Anglicana. Foi professor das universidades de Cambridge e Oxford
por vinte anos, professor visitante de universidades como Harvard Divinity
School, nos Estados Unidos, Universidade Hebraica de Jerusalém e
Universidade Gregoriana em Roma.
Tom Wright advoga que a memória coletiva dos judeus ainda era marcada
por um senso de continuarem no “Exílio”, sendo que mesmo após o retorno
do cativeiro babilônico, continuaram dominados por nações estrangeiras, se
debatendo sobre o porvir das promessas proféticas de Isaías, Ezequiel, etc.,
que do contrário estariam frustradas. Assim, aguardava-se a forma como
YWHW iria intervir para novamente libertar e restaurar seu povo, tal como no
Pentateuco. Wright aponta algumas referências na literatura do Judaísmo do
Segundo Templo, como o livro de Baruc e os capítpulos 13 e 14 do livro de
Tobias.
Eu gostaria de contribuir para nos ajudar com tais dúvidas, tratando de uma
abordagem de um cientista social com formação e interesse totalmente diverso, a
respeito de um tema histórico completamente diferente. Peço licença para fazer
uma divagação por um assunto de interesse distante da proposta do blog, mas que
nos ajudaria a captar melhor a propriedade desta proposta do Wright, para quem
quiser fomentar a análise crítica.
Immanuel Wallerstein teve como formação o B.A. (1951), M.A. (1954) e Ph.D.
(1959) na Universidade de Columbia, Nova Iorque; fora professor distinto de
sociologia da Universidade de Binghamton (SUNY) de 1976 até sua aposentadoria
em 1999, além de chefe do Centro Fernand Braudel para o Estudo das Economias,
Sistemas históricos e Civilizações até 2005.
A partir daí ele explica sua posição que considera escapar das armadilhas das
outras duas e unir o que de mais teriam de consistente: o Realismo Crítico. Esta
[ i.e., o Realismo Crítico] é uma maneira de descrever o processo de "saber" que
reconhece a realidade da coisa conhecida, como algo diferente do que é o
conhecedor (daí o ‘realismo’), enquanto também reconhecendo plenamente que o
único acesso que temos a esta realidade encontra-se ao longo do trajeto em
espiral de diálogo adequado ou uma conversa entre o conhecedor e a coisa
conhecida (daí o 'crítico’). Este caminho leva à reflexão crítica sobre os produtos
do nosso inquérito sobre a ‘realidade’, para que nossas afirmações sobre ela
reconheçam a sua própria provisoriedade. O conhecimento, em outras palavras,
embora em princípio concebe a realidade independente da mediação do
conhecedor, nunca é em si mesmo independente do conhecedor. [7]
Desta forma, ele acredita que a epistemologia para o estudo do caráter literário dos
evangelhos pode se envolver com eles, sem se deixar ser tomada e perder o
caráter crítico. Fechando uma encorpada sessão em que analisa a paisagem
sociocultural da Palestina do século I d.C., ele recapitula eventos-chave para
entender como se chegou àquele cenário; destarte ele explica a formação dos
diferentes “partidos” no Judaísmo de então, os ramos mais sectários, e os pontos
que ele considera em comum, elementais para se chamar Judaísmo. Ele focaliza
sua preocupação depois com a vida e mentalidade do “judeu comum”.
Chama a atenção que tal historiador também trabalha com um vasto horizonte
analítico, chamado "longue durée", marcado por interações físicas, ecológicas,
geográficas, socioculturais, numa escala de tempo em que há estruturas básicas
comuns.
Tom conclui que os judeus eram rigorosamente monoteístas, referendando-se no
atributo criador da divindade, igualmente no papel redentor e escatológico,
aguardando que ela os resgataria e livraria de toda dominação. Mais
controvertida é sua posição de que as imagens e descrições apocalípticas,
sobre fenômenos de cataclismos terrenos e cósmicos, eram figuras para
expressar mudanças procelosas em toda ordem mundial [ similares seriam
Richard Horsley, “Jesus e a Espiral da Violência”, pgs 118-128; Marcus J. Borg
[ (embora o tom na escatologia de Wright seja muito mais proeminente), Conflict,
Holiness and Politics in the Teachings of Jesus, pgs 22-35] ,
Para corroborar sua posição, procede uma análise dos capitulos clássicos
apocalípticos em Daniel e na literatura chamada pseudepígrafa. Essa foi a matiz
cultural e motivacional para os nascimento do cristianismo. Wright aponta que a
literatura cristã está marcada pela convicção de que os cristãos viram esta
redenção expressa no Messias Jesus, narrando suas histórias na perspectiva
e expetação moldada pela personificação em sua obra dos temas do “êxodo,
conquista, exílio e restauração” - “batismo , ministério, morte, ressurreição,
ascensão”; paralelos com figuras como Samuel, Davi, Elias, Eliseu
expressadas em João e Jesus, projeções da imagem do Lógos... em Jesus
eles viram o cumprimento das promessas do judaísmo e assim configuraram
seu narrar sobre ele.
Assim, ao invés de dizer "Babilônia vai cair, e isso vai ser como um colapso
cósmico", disse Isaías: "O sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, e as
estrelas cairão do céu". (Isaías 13:10). A Bíblia Judaica está repleta de tal
linguagem, que é muitas vezes chamada de "apocalíptica", e seria um grande
erro imaginar que tudo estava predestinado a ser tomado literalmente. Era
uma forma, para repetir ponto, de descrever o que poderíamos chamar de
eventos no espaço-tempo e investi-los com o seu significado teológico ou
cosmológico. Os judeus da época de Jesus não estiveram, em grande parte, a
esperar que o universo no espaço-tempo chegasse a ficar inerte. Eles esperavam
que Deus iria agir de forma tão dramática dentro do universo no espaço-
tempo, como ele tinha agido antes em momentos-chave, como o Êxodo, que
a única linguagem apropriada seria a linguagem de um mundo desmontado e
renascido.
É o ponto a partir do qual ele chega a uma das principais problematizações que
desenvolve: a esperança judaica. Ele rechaça tentativas de se trabalhá-la em
esquemas sistemáticos de dogmática; antes de tudo, para Wright, se dava como
reação às pressões de dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais,
sempre sob o auspício da humilhação da dominação romana e opressão pelos
líderes vassalos de Roma. Isso acrescenta altissonância ao centrar na “vinda do
Deus de Israel” para a libertação nacional, em contraste com expectativas de
desencarnação para sobrevivência post-mortem. [12]
Assim é então como ela deve ser entendida, lida em contextos apropriados, dentro
de uma acústica que irá permitir os seus tons serem ouvidos. Deve ser lida com
distorção tão pouca quanto possível, e com a sensibilidade , tanto quanto possível
aos seus diferentes níveis de significado. Estes devem ser lido como histórias, e a
História, à qual se diz poder ser consistente chegar com as histórias, e não como
formas de declarar 'ideias a-históricas'. Deve ser lida sem o pressuposto de que
já sabemos o que vai se dizer, e sem a arrogância que assume que 'nós '- que
pode ser qualquer grupo- já temos direitos ancestrais sobre esta ou aquela
passagem , livro, ou escritor [14] .
Desta forma está preparado o palco interativo para “Jesus and the Victory of God”.
Wright postulando um critério que ele chama de “Dupla Similaridade e Dupla
Dissimilaridade” [15]
Dupla Similaridade tenta descobrir como Jesus cabe dentro judaísmo do primeiro
século e como tal um Jesus Judeu poderia explicar a ascensão do cristianismo
primitivo. A Dupla Dissimilaridade procura explicar por que Jesus foi rejeitado pelo
judaísmo e como as tradições evangélicas, devido à sua dissemelhança , não
poderiam ter se originado dentro da igreja primitiva. Assim, sua principal
ferramenta é muito mais abrangente do que o muito mais limitado “critério de
dissimilaridade”. Com ela, vai se afigurando uma figura profética peculiar, que
passava de aldeia em aldeia, dizendo substancialmente as mesmas coisas onde
quer que fosse, com variações e novidades surgindo em resposta a uma situação
nova, um questionamento afiada ou desafio. Contudo, com o critério da Dupla
Similaridade Wrigth postula que Jesus repetira certas parábolas-chave muitas
vezes, provavelmente com pequenas variações . . .
“Meu palpite seria que temos duas versões da parábola Grande Ceia , duas
versões da Parábola dos Talentos/Libras, e duas versões das Bem-
aventuranças, não porque um é adaptado a partir do outro, ou ambos a partir
de uma fonte comum de um único escrito, mas porque estas são duas em
uma dúzia ou mais variações possíveis que, se alguém tivesse estado na
Galileia com um gravador poderia ter 'recolhido' " [16].
[1] MacINTYRE, Alasdair. After Virtue. Indiana: University of Notre Dame, 1984,
pgs.215-16.
[2] The New Testament and the People of God, pg. 118.
[3] como desenvolvido em "The New Testament(...)", parte 3.
[4] “The Rise and Future Demise of the World Capitalist System: Concepts for
Comparative Analysis”, republicado em WALLERSTEIN, I. The Essential
Wallerstein. New York: The New York Press, 2000
[5] “The West (...)”, pgs. 561-619.
[6] “The French Revolution”(…) pgs. 7-22.
[7] The New Testament and the People of God, pg. 35
[8] BRAUDEL, Fernand. (1987), A dinâmica do capitalismo. Rio de Janeiro, Rocco.
pg. 13-14
[9] em "The Challenge of Jesus", 38
[10] The Challenge of Jesus, 51
[11] conferir GREIMAS, A. J, Semântica Estrutural: Pesquisa de Método, Ed.
Cultrix, Säo Paulo, 1976
[12] The New Testament and the People of God, 169-170
[13] The New Testament and the People of God, 237-238
[14] Jesus and the Victory of God, pg. 6
[15] Jesus and the Victory of God, 131-33.
[16] Jesus and the Victory of God, 170
[17] Jesus and the Victory of God, 250
[18] Jesus and the Victory of God, 126-127
[19] Jesus and the Victory of God, 127
[20] Jesus and the Victory of God, 206.
[21] Em “The Historical Jesus and Christian Theology “
This entry was posted in Apocalíptica, Cristianismo Primitivo, criterios históricos,
Evangelhos, Jesus Histórico, Literatura, Messianismo