Vous êtes sur la page 1sur 12

II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

A trajetória de preservação dos bens móveis e integrados sob a ótica dos projetos institucionais
de inventário 1

Adriana Sanajotti Nakamuta 2


Resumo
Pensar na preservação e na Constituição do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é algo
recente, entretanto o conjunto cultural significativo que o compõem está presente em nosso meio a
mais de séculos. O IPHAN, órgão da Administração Pública Federal, criado pelo Decreto-Lei 25 de
30 de novembro de 1937 é responsável pela proteção e fiscalização do patrimônio nacional sendo
uma das principais referências na América Latina no que tange as questões culturais.
A proposta deste trabalho é compreender a trajetória de dedicação da instituição para com os
bens móveis e integrados sob a ótica dos projetos/inventários dos mesmos, compreendendo-os
como importante ferramenta para a fiscalização e principalmente para o conhecimento e
reconhecimento do nosso acervo.
Palavras Chaves: Patrimônio Cultural Brasileiro; Inventário Cultural; História da Arte

Abstract
Think about preservation and constitution of historic artistic and national heritage, is new,
althoug the cultural group that it’s compose, is present betewen us for many century. The IPHAN, a
federal administrator institution, created trough law-decret 25 of 30 of november of 1937, is
responsible for preservation and fiscalization of national hereditage, and has been the principal
reference in latina América, in respect the cultural questions.
The purpose of present work is to investigate and to compreention the trajectory of institution
about the integrated mobiles property under the optical of projects/description of this, for the
knowledge of the importance as tool for the fiscalization and, mainly, to know the our collection.
Key-words: National Culture Heritage; Inventory; Art History.

Diversas foram às influências e contribuições que as artes, de um modo geral, receberam no Brasil.
Inicialmente ligadas à arte indígena das Américas, mais tarde ao desenvolvimento estilístico
europeu tais como o renascimento, barroco, rococó, neoclássico e por conseguinte o romantismo,

1
Pesquisa realizada com o apoio do IPHAN/UNESCO.
2
Graduada em Artes Plásticas; Bolsista do PEP/IPHAN/UNESCO – Programa de Especialização em Patrimônio/Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/United National Educational, Scientific and Cultural Organization; lotada na Gerência de
Bens Móveis e Integrados; Rua da Imprensa, 16, 9º andar, sala 909 – Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro/RJ, Brasil;
anakamuta@yahoo.com.br; sob a orientação de Izabel Sales Serzedello.

1
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

impressionismo e expressionismo; dos movimentos modernistas nacionalistas da década de 20 até o


que temos de visível e invisível na arte contemporânea.

Mesmo salientando a importância dessa verificação estilística não caberá neste momento uma
análise detalhada das produções artísticas e dos critérios de valores a cerca da seleção para a
proteção, mas as articulações que se desenvolvem para a identificação e fiscalização do acervo
brasileiro.
A questão central esta voltada para a sistematização institucional de um projeto de inventário
nacional dos bens móveis e integrados, haja vista a necessidade dessa ferramenta para identificação e
conhecimentos dos bens protegidos em todo território nacional.
Retomando alguns pontos, a organização constitucional de preservação do patrimônio histórico
e artístico em nosso país é fruto das preocupações de intelectuais modernistas com as perdas
irreparáveis dos monumentos e obras de arte de ‘valor excepcional’.

“A entrada do Estado na questão se efetivou em 1936, quando o ministro Capanema se


mobilizou para as iniciativas, já em curso desde os anos 20, visando à proteção dos
monumentos e obras de arte nacionais. Sua idéia era fazer “o levantamento das obras
de pintura, antigas e modernas, de valor excepcional existentes em poder de
particulares, na cidade do Rio de Janeiro” (Dphan, 1969, p. 41). Percebendo que o
assunto requeria uma atuação abrangente, que compreendesse também as edificações e
outras obras de arte, e alcançasse todo o território nacional, o ministro resolveu
recorrer a Mário de Andrade, para que o intelectual de trezentas facetas, apoiado em
sua experiência no Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo elaborasse
um anteprojeto sobre o assunto. 3

Foi com a promulgação do Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937 que se organizou a


proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, instituindo o instrumento do tombamento e
criando o SPHAN (hoje IPHAN) para tal competência.
Desta forma, o assunto preservação/defesa do patrimônio nacional e sua organização
constitucional, passaram a ser discutido e pensado de forma mais sistemática com a participação
efetiva do Estado e de intelectuais modernistas.
Essa movimentação de intelectuais teve nomes ativos como Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Lúcio Costa, Rodrigo Mello Franco de Andrade, entre
outros, que atrelados as discussões e anseios pelas renovações estéticas integraram-se no projeto de
formação do Estado Novo, tem como base a construção da nação brasileira, assim por meio da

3
FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2.ed.
Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC – Iphan, 2005, p. 96-97.

2
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

criação do serviço do patrimônio selecionaram, protegeram e legitimaram bens materiais – sobretudo


as obras construídas, que representavam fragmentos de uma identidade cultural nacional.
Maria Cecília Londres Fonseca 4 em O Patrimônio em Processo (2005) faz três referências: a
representação de patrimônio construída através da seleção e da valoração de bens culturais;
instrumentos utilizados para sua proteção e os agentes que se envolveram com essa prática, que
caracterizam a trajetória de preservação do patrimônio histórico e artístico nacional e, portanto,
cabíveis e direcionador da explanação que segue, tendo como eixo central os inventários5 –
instrumentos utilizados para a proteção, gestão e conhecimento dos bens móveis e integrados.
Assim faz-se necessário uma retomada simplista de alguns conceitos.
Conforme definição de Lygia Martins Costa 6, museóloga e historiadora da arte, atuou no
IPHAN durante muitos anos, até os anos 80 os bens eram divididos em duas grandes categorias:
imóveis 7 e móveis 8. Embora demasiado essa divisão persistia. Sob os cuidados de arquitetos, o
primeiro grupo; sob os de museólogos e historiadores da arte, o segundo. A amplitude dos campos
de conhecimento que esse último grupo exigia, obrigava como obriga, aos técnicos responsáveis a
recorrerem a especialistas diversificados, ou a lhes transferir a responsabilidade de classificatória
toda a vez que necessário. 9
Com a retomada no IPHAN, no final dos anos 70, do serviço de inventários, a amplitude e a
peculiaridade desse segundo grupo passaram a ser repensada. Podemos destacar desse conjunto
pinturas, esculturas, mobiliários, cerâmicas, retábulos, ligados às artes de um modo geral, na
maioria das vezes intimamente ligados/fixados à arquitetura. Percebeu-se então que esse grupo

4
Doutora em sociologia pela Universidade de Brasília; foi pesquisadora do CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural e
coordenadora da Fundação Nacional Pró-Memória; assessora no Ministério da Cultura; representou o Brasil na elaboração da
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da Unesco; atualmente é membro do Conselho Consultivo do IPHAN.
5
A expressão inventário deriva de ‘inventorium’, do latim clássico, que classificava encontrar ou descobrir. Desde pelo menos dois
séculos a palavra tem mais uma significação jurídica e contábil muito precisa. Inventário é a relação dos bens deixados por alguém
que morreu, com o fim de legalizar a transferência do seu patrimônio aos herdeiros e sucessores ou ainda o ‘levantamento
individuado e completo dos bens e valores ativos e passivos dessa sociedade mercantil ou qualquer entidade econômica’. Inventário
é, portanto o arrolamento das coisas após uma pesquisa ou devassas destinadas a identificar o conjunto dos bens pertencentes a uma
pessoa física ou jurídica. A expressão se associa, portanto, a idéia de totalidade, de universo. Distingue-se de catálogo, de origem
grega, definido pelo dicionário Aurélio como: relação sumária, metódica, e geralmente alfabética, de pessoas ou coisas. Na sua
acepção normal, catalogo se refere ao registro de conjuntos relativamente pequenos, como as coleções de galerias, museus,e
biblioteca. (AZEVEDO, Paulo Ormindo de. 1984)
6
Graduada no Curso de Conservador de Museus (1939), que funcionava na época, no Museu Histórico Nacional e que corresponde
ao curso de museologia atualmente. Ingressa em 1952 no SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para
desempenhar a função de secretária da Comissão Nacional de Belas-Artes, recém-criada, até 1955; em 1956 exerce o cargo de
conservadora dos Museus do IPHAN até 1966; nomeada diretora de Divisão de Estudos e Tombamento do IPHAN de 1972 até 1980
em substituição a Lucio Costa; 1985 exerce a função de consultora técnica da Fundação Nacional Pró-Memória/SPHAN.
7
Acervo arquitetônico, urbanístico e natural protegido, inclusive os bens de espécie vária que, por sua natureza irremovível, se
prendiam ao contexto em que se inseriam. (COSTA, Lygia Costa, 1992)
8
Evidentemente formando-lhe o contraponto – os que, criados para todo tipo de mister, a despeito de seu peso podiam ser
transferidos de um a outro local sem problemas maiores. (COSTA, Lygia Costa, 1992)
9
“Bens Integrados: conceituação e exemplos”. In: Manual de Preenchimento da Ficha do Inventário Nacional de Bens Móveis e
Integrados. Brasília: IPHAN, DID, 2000.

3
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

formava uma classe distinta e complementar das duas apresentadas anteriormente, passou-se a
denominá-las bens integrados 10.
Pensando então no inventário como ferramenta fundamental para os trabalhos de fiscalização
dos bens culturais móveis, far-se-á necessários alguns apontamentos históricos e metodológicos
referentes a esse assunto.
Do ponto de vista histórico o termo INVENTARIO é usado a partir do século XVI e
significa: Asient dos beines y demas cosas pertencientes a uma persona a comunidade, hecho com
11
ordem y distición. . Derivada do latim clássico a idéia de se inventariar implica no ideal de
encontrar, descobrir. Mas é no século XIX que o uso legal é dado ao termo e os primeiros trabalhos
se iniciam na Europa após a II Grande Guerra, países como a Alemanha e França, utilizando
recursos proporcionados pela informática, conseguiram em poucos anos avanços nesse campo,
porém os trabalhos não compartilhavam uma uniformidade de critérios e métodos a serem
utilizados.
O inventário então tem como objetivo o conhecimento real e sistemático dos bens e valores
para salvaguarda e proteção, podendo-se consolidar em três tipos: inventários de identificação –
meras listagens dos bens culturais, inventários científicos – instrumentos para se esgotar o
conhecimento dos mesmos e tem uma função principalmente acadêmica já os inventários de
proteção – entende-se pela reunião dos dados suficientes para a proteção dos bens culturais.
A partir dos anos 30 recomendações referentes à proteção do patrimônio cultural nacional e
internacional foram apresentadas em determinados encontros e ressaltando a importância do
inventário, tais como perceptíveis na Carta de Atenas – Escritório Internacional dos
Museus/Sociedade das Nações, Atenas, Outubro de 1931, dando enfoque para a conservação e
restauração dos monumentos e citando no item VII Conservação dos Monumentos e a Colaboração
Internacional a utilidade de uma documentação internacional, tais como a publicação de um
inventário dos monumentos históricos nacionais, acompanhado de fotografias e de informações.
Recomendação sobre medidas destinadas a proibir e impedir a exportação, a importação
e a transferência de propriedade ilícitas de bens culturais – Conferência Geral da Unesco/13°
sessão, Paris, 19 de novembro de 1964, tendo como medidas recomendadas a Identificação e

10
Trata-se especificamente da pintura de forros e de paredes, e eventualmente de suas molduras esculpidas; dos retábulos de um
modo geral e respectivos frontais; dos revestimentos azulejares ou esculturados,totais ou enquadrados, internos e externos; do
acabamento do arco-cruzeiro, tribunas e as vezes do supedâneo; dos púlpitos, para-ventos e grades trabalhadas da nave e do coro; das
pias de batismo e de água-benta; das portadas e portas elaboradas, internas ou externas; das lápides tumultuares gravadas ou
reveladas; dos arcazes, lavabos, nichos e mobiliário embutido. E ainda, no exterior, de conjuntos escultóricos fixos, ornatos
revelados, fontes, chafarizes, cruzeiros, pelourinhos, marcos, etc... (COSTA, Lygia Costa, 1992)
11
CONICYT, Inventario y Catalogacion del Patrimônio Cultural. Conclusiones y Recomendaciones del Seminario Regional
de Inventario y Catalogación. Santiago. Projeto Regional de Patrimonio Cultural. Andino: UNESCO/PNUD, 1977, p. 10.

4
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

Inventário Nacional dos Bens Culturais conforme as definições estabelecidas neste mesmo
encontro e Instituições de Proteção dos Bens Culturais.
Compromisso de Brasília – 1° Encontro dos governadores de Estado, secretários estaduais
da área cultural, prefeitos de municípios interessados, presidentes e representantes de instituições
culturais, Brasília, abril de 1970 incumbindo as universidades o entrosamento com bibliotecas e
arquivos nacionais, estaduais e municipais incentivando a pesquisa e avaliando os inventários dos
bens regionais.
E por fim, o Compromisso de Salvador – II Encontro de governadores para preservação do
patrimônio histórico, artístico, arqueológico e natural do Brasil, MEC/IPHAN, Salvador, outubro de
1971 recomendando a adoção de convênios entre o IPHAN e as universidades, com o objetivo de
proceder ao inventário sistemático dos bens móveis de valor cultural, inclusive dos arquivos
notariais.
Assim, desde os anos 60, a Unesco insiste em dois legados pra intervir nas perdas irreparáveis
que muitos países sofreram diante de seu patrimônio: O inventário sistemático dos bens móveis e
a formação de museus.
Em 1973, iniciou-se o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC/BA)
realizado pelo governo do estado. Esta foi a primeira catalogação sistemática de bens de interesse
cultural, posteriormente seguida por Pernambuco e outros estados, porém essa iniciativa dedicou-se
em grande parte aos bens imóveis.
No cenário nacional a elaboração de um projeto de inventário de bens móveis e integrados é
recente, contudo a preocupação com esse instrumento para o conhecimento, identificação, estudo e
preservação vem desde o Anteprojeto para a Criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional
elaborado por Mário de Andrade, aproximadamente em 1936, conforme disposto no cap. III –
Organismo do SPHAN/ III Chefia do Tombamento: Cada obra de arte a ser tombada terá a sua
proposta feita pela comissão regional compete acompanhada dos seguintes requisitos: fotografia
ou várias fotografa; explicação dos caracteres gerais da obra, tamanho, condições de
conservação, etc.; quando possível, nome de autor e biografia deste; datas; justificação de seu
valor arqueológico, etnográfico ou histórico no caso de pertencerem a uma destas categorias;...12;
no Decreto-Lei 25 de novembro de 1937 que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional instituindo o tombamento como instrumento legal de proteção de bens móveis e imóveis,
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico, bibliográfico ou artístico e posteriormente na Portaria 11 de 11 de setembro de 1986
12
CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na Repartição. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ: MinC – IPHAN, 2000, p. 47-48.

5
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

atendendo a necessidade da consolidação de normas e procedimentos para os processos de


tombamento conforme o art. 4°, parágrafo 2°: No caso de a proposta de tombamento se referir a
bem ou bens móveis a instrução do pedido constará de descrição pormenorizada do objeto, se
tratar de peça única ou da relação detalhada de peças componentes de coleção, listadas, uma a
uma, mencionado-se o material empregado, as dimensões de cada unidade e outras características
que as individualize; assim como de informações precisas sobre a localização, o proprietário e/ou
responsável pela guarda do(s) objeto(s) e seu estado de conservação, acrescidas de documentação
fotográfica e analise do valor desses bens para o patrimônio cultural do país.
Esses procedimentos citados para a instauração de um processo de tombamento suscitam a
necessidade do conhecimento detalhado dos bens culturais a serem preservados, nesse caso em
especial atenção para os móveis e integrados, através de arrolamentos, fotografias, análises
iconográficas, entre outras metodologias aplicadas a fim de contribuir para o reconhecimento dos
mesmos.

“Nos últimos anos foram realizados alguns encontros nacionais com a participação de
especialistas da OEA 13 e do Projeto PNUD/UNESCO 14 com a finalidade de discutir
amplamente a viabilização do inventário dos bens móveis e integrados no país. A
partir de então algumas entidades particulares e estaduais além da própria SPHAN,
vêm enviando esforços no sentido de levar a termo as intenções formuladas nesses
Encontros. Por outro lado, algumas entidades religiosas também realizam
levantamentos dos acervos de suas propriedades”. 15

No início foram realizados alguns levantamentos fotográficos de algumas coleções


particulares do Rio e do que havia de mais valor em igrejas e conventos do país, dando início às
preocupações com esse conjunto peculiar.
16
A alguns anos com iniciativa de Luís Saia, em convênio com a FAPESP e o Conselho
Federal de Cultura, consegui-se inventariar mais de 6000 peças de coleções paulistanas.
Empenhado em obstruir a exportação ilícita de obras de arte e artesanato produzidas no Brasil até
o fim do período monárquico, proibida pela Lei n° 4.845 de 19 de novembro de 1965 mas de difícil
controle nas condições do órgão, imaginou ele pôr em prática duas medidas para facilitar a
fiscalização conjugada do PHAN e da Alfândega: a primeira, o inventário sistemático desses bens,
a que dera princípio em São Paulo; a segunda, a inscrição voluntária ou compulsória desse
patrimônio, sem ônus, num prazo de um ano, e a obrigatoriedade de se apresentar o certificado de
13
A Organização dos Estados Americanos (OEA) congrega os países do Hemisfério Ocidental com o fim de fortalecer a cooperação
e desenvolver interesses comuns. Trata-se do principal fórum para o diálogo multilateral e a ação concertada na região.
14
Projeto Regional de Patrimônio Cultural Andino/Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
15
Projeto: Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados, 1: Minas Gerais/Brasil, versão final, 1986.
16
Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo.

6
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

inscrição em qualquer venda ou transmissão de propriedade efetuada no país, mesmo herança e


17
legado. Apesar da aprovação no Encontro na cidade de Salvador em 1971 lamentavelmente não
recebeu exame para sua efetivação.
Com a criação da Fundação Nacional Pró-Memória através da Lei n° 6.757, de 26 de
novembro de 1979, meios e recursos foram disponibilizados a fim de agilizar as atividades da
SPHAN 18.
Essa nova organização SPHAN/Pró-Memória, cujo primeiro presidente foi Aloísio Sergio
Magalhães, contribuiu efetivamente para a elaboração do primeiro projeto institucional pois, dentre
as diretrizes dessa nova ordenação, destaca-se o inventário e documentação dos bens culturais
passados e presentes.
Nessa verificação realizada no ANS 19, junto às séries do Arquivo Técnico e Administrativo e
Planos e Projetos, pode-se observar uma organização e uma tentativa de vários profissionais e
instituições para a realização do inventário, posteriores ou anteriores ao projeto referência, o
INBMI.
Também foram encontradas atividades como curso, encontros, seminários e reuniões que
embasam o trabalho bem com demonstra uma tentativa de homogeneizar uma consciência para a
importância que os inventários de proteção e identificação representam na gestão dos trabalhos de
preservação.
A tabela que segue demonstra a atuação regional e nacional do IPHAN na década de 80 em
parceria com outras instituições para a realização de alguns inventários.
1980 1982
Tabela 1 – Projetos / Inventários 20 Curso: Inventário
de Bens Culturais:
Curso: FAU/UFBa
Inventário BA
SPHAN/FNP
M
MS

1983 1984 1985 1986 1987 1988


Projeto –
Projeto – Inventário do
Inventário Interior do Projeto – Projeto –
de Bens Estado do Pará Inventário do Bens Móveis e
Móveis e Projeto – (SCDT/SPHAN/1 acervo Integrados no Mato
17,
COSTA, Lygia Martins. A defesa do patrimônio cultural móvel. In: Revista do IPHAN, n° 22, 1987, p. 147.
18
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – atual IPHAN.
19
Arquivo Noronha Santos/Palácio Gustavo Capanema/RJ
20
Arquivo Noronha Santos/Arquivo Técnico e Administrativo/Planos e Projetos/Palácio Gustavo Capanema/RJ

7
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

Imóveis Inventário ª DR/FNPM) cultural do Grosso


do MS dos Bens PA Estado de (FCMT)
(SEDS) Culturais Inventário – Sergipe MT
Projeto – MS do Estado Igreja Madre de (SPHAN/FNP
Inventário de Goiás Deus M/UFS/SC)
de Bens Inventário (SPHAN/F Recife / PE SE
Culturais – Bens NPM) INBMI Projeto –
de Culturais GO MG Bens Móveis das
Roraima do Curso: Inventário – Reduções Jesuíticas
(FNPM/S Município Conceituação Igreja de do Rio Grande do
21
EC/DAC) de Magé Formal na Arte Nossa Sul
RR (Governo Inventário – Colonial Senhora da (SPHAN/10ªDR)
do Estado) Proteção do Brasileira, Conceição da RS
RJ Acervo Arquitetura e Junqueira;
Cultural do Bens Móveis: Recheio do
Estado do SPHAN/FNPM Cofre da
Curso: Paraná RJ Igreja de
Preparaç PR Curso: Conceitos Nossa
ão de e Práticas da Senhora do
Analista Preservação de Treco do
de Arte Bens Móveis e Recife
4ªDR/FNP Imóveis (4ªDR)
M SPHAN/MinC PE
PE DF
A década de 80, portanto, não é desprovida de fatores que contribuíram para a organização de
um projeto piloto nacional. Os cursos dos anos 80 a 86 apresentam-se em diversas regiões com
objetivos e preocupações que se equiparam. Todos são aplicados com o intuito de acrescer
informações para equipes especializadas e integrantes recentes no campo da preservação, e
principalmente para a sistematização dos trabalhos de inventários que estavam sendo elaborados e
propostos.
No caso da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional dois casos podem
exemplificar essa situação. A 4ª DR (Pernambuco) inventariou os acervos de algumas igrejas de
Recife e Olinda e a 7ª DR (Minas Gerais) iniciou em 1985 o inventário de alguns acervos e o
levantamento de bens móveis pertencentes a prédios em processo de tombamento ou em
22 23
restauração, paralelamente instituições públicas, estaduais e privadas como o IEPHA , IAC ,
UFOP 24 e a FRM 25 realizavam trabalhos nesta área embora não institucionalizados.

21
Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Inventário dos Bens Culturais do Município de Magé. Rio de Janeiro, 1984.
22
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico/MG
23
Instituto de Artes e Cultura
24
Universidade Federal de Ouro Preto
25
Fundação Roberto Marinho

8
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

Essa iniciativa da DR de Minas Gerias e toda movimentação e entusiasmo de renovação dos


nos 80 contribuiu para as pesquisas e consolidação de um projeto de inventário nacional coordenado
pela instituição e pela equipe responsável no Rio de Janeiro.
O então projeto – INBMI 26, fruto dessa movimentação teve sua redação final concluída em
27
1986 e a realização com o apoio da Vitae . A meta estabelecida para a implantação desse
programa nacional, capaz de sistematizar e agilizar o inventário de bens móveis e integrados que já
estavam sendo executado foi utilizar o Estado de Minas Gerais como piloto, já que se pensava que
50% do acervo de bens móveis brasileiros tombados encontravam-se nesta unidade federativa.
O inventário foi elaborado essencialmente para atender a necessidade da pesquisa para o
conhecimento do acervo dos bens de Minas Gerais e conseqüentemente contribuindo para a
preservação e gestão dos bens culturais móveis em relação ao comércio ilegal, a depredação e
deterioração das peças, avaliação do estado de conservação de cada peça a fim de planejar ações
futuras de conservação e restauro, subsidiar a identificação em caso de roubos e falsificações e
aplicação dos ‘primeiros socorros’ em caso de urgência.
A área contemplada do projeto piloto foi de 36 cidades (inclusive vilas e distritos), num total
de 135 monumentos tombados com uma previsão de 10.000 bens móveis durante 40 meses. O
projeto foi divido em 6 etapas, primeira: região metropolitana de Belo Horizonte, segunda: região
de Ouro Preto, terceira: região de Santa Bárbara, quarta: região de São João Del Rey, quinta: região
de Diamantina e sexta: outras regiões.
A metodologia empregada para a realização do projeto contava com algumas etapas para sua
execução: primeira etapa – Coordenação/Rio: incumbida da concepção do manual e fichas de
inventário, contratação e treinamento de pessoal, levantamento bibliográfico, pesquisa e produção
do material necessário referente aos bens que seriam inventariados e posteriormente enviado para a
equipe de campo, segunda etapa – Coordenação/Rio em Minas Gerais: divulgação do projeto junto
a comunidade e os proprietários; seleção e treinamento da equipe local, terceira etapa –
Supervisão/Minas e Gerais: sensibilização e engajamento dos trabalhos junto a comunidade;
instalação da equipe no monumento a ser inventariado tendo como meta a identificação de dez
peças/dia e o recolhimento do material para ser enviado para a coordenação no Rio e por fim a
quarta etapa – Coordenação/Rio: responsável pela supervisão e acompanhamento das atividades de
campo com até três visitas mensais de trabalho para avaliação da metodologia, correção e revisão

26
Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados.
27
Vitae é uma associação civil sem fins lucrativos que tem apoiado projetos nas áreas de Cultura, Educação e promoção Social.

9
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

final das fichas, datilografia final, produção de brochuras em cópias e encaminhamento do material
para a central de informática do MinC.
Sob a coordenação de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira 28 a ficha elaborada é portadora de
características peculiares que atendem as necessidades e demandas de nosso país. O preenchimento
é executado conforme as instruções que compõem o manual do INBMI.

“Constam na ficha, além de fotografia, dados técnicos de identificação e informações


relativas ao histórico, à iconografia, às características estilísticas e ornamentais e ao
estado de conservação de cada peça. O vocabulário controlado destinado à
classificação dos objetos inventariados foi elaborado por um grupo interinstitucional
coordenado pelo DID 29. É um trabalho aberto que deve ser permanentemente
complementado com novos termos sugeridos pelos responsáveis pelas ações de
inventário. Constitui importante instrumento para a precisão na identificação dos
bens, permitindo a recuperação das informações”. 30

No decorrer dos anos as etapas foram sendo concluídas e outros Estados participaram do
programa. Tais como listados na tabela 2, referentes aos inventários encontrados no ANS:
TABELA 2
INBMI
ESTADOS MONUMENTOS REF. Nessa primeira etapa portanto, pode-se concluir que
Alagoas 3 ANS
Minas Gerais 153 ANS o IPHAN se organizou para a realização de um trabalho
Maranhão 109 ANS
Bahia 147 ANS sistemático de inventário, unificando o que antes atendia
Pará 10 ANS
Paraná 06 ANS apenas necessidades locais

É fato que ressaltar essa organização como desprovida de contra-tempos e dificuldades seria
grandiosa, mas apesar das barreiras encontradas nas diversas etapas vivenciadas nos anos 80, como
a escassez financeira, o repensar definições como patrimônio/referência cultural, pode-se concluir
que a instituição se organizou sistematicamente em um projeto grandioso, e acima de tudo o
reconhecimento dessa ferramenta não apenas para identificação, mas como forma de conhecimento
do imenso acervo protegido no território nacional.

Referências Bibliográficas/Web:
1. AMARAL, Aracy. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Perspectiva, 1976.
2. ARGAN, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.

28
Historiadora da Arte, consultora e coordenadora do Projeto do INBMI.
29
Departamento de Identificação e Documentação.
30
Manual de preenchimento.

1
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

3. ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
4. AZEVEDO, Paulo Ormindo de. Para um inventário brasileiro. Informe elaborado por
solicitação da SPHAN/Pró-Memória. Salvador, SPHAN/Pró-Memória, set. 1984.
5. BARATA, Mário. Artes Plásticas no Brasil. In: História Universal da Arte. São Paulo:
Edições Melhoramentos, 1967, pág. 516-532.
6. Bens Móveis e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.
7. CASTRO, Sonia Rabello de. O estado na preservação dos bens culturais: o tombamento.
Rio de Janeiro: Renovar, 1991.
8. CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na Repartição. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ: MinC – IPHAN, 2000.
9. CHILVERS, Ian (org). Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
10. CONICYT, Inventario y Catalogacion del Patrimônio Cultural. Conclusiones y
Recomendaciones del Seminario Regional de Inventario y Catalogación. Santiago. Projeto
Regional de Patrimonio Cultural. Andino: UNESCO/PNUD, 1977.
11. COSTA, Lygia Martins. De museologia, arte e políticas de patrimônio. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2002.
12. DUCHER, Robert. Características dos Estilos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
13. FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória da política
federal de preservação no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC – Iphan, 2005.
14. FRONER, Yacy Ara. Ciência da Conservação Científica? Hipóteses para uma reflexão. In:
Seminário Internacional sobre os aspectos científicos da preservação documental, 02 a 04 de
agosto 2005, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro/RJ, Brasil, 2005
15. GAZZOLA, Piero. L’inventario di Protezione del Patrimonio Culturale. Verona, 1970.
16. GULLAR, Ferreira.Considerações.In: Arte Brasileira Hoje. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1973,
pág. 125-132.
17. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras (org.). Guia Básico de educação Patrimonial. Brasília:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
18. Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados: A experiência do Maranhão / Stella
Regina Soares de Brito; Osvaldo Gouveia Ribeiro; Kátia Santos Bogéa; Emanuela Sousa
Ribeiro. São Luís: IPHAN/3ªSR, 2000.

1
II Encontro de História da Arte, IFCH-Unicamp, 27 a 29 de Março de 2006, Campinas, SP

19. Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados: Manual de Preenchimento.


Departamento de Identificação e Documentação. MinC; IPHAN, 2000.
20. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: História e Memória. Campinas, SP: Editora
da Unicamp, 2003, pág. 525-541.
21. LEVY, Hanna. Valor histórico e valor artístico: importante problema da história da arte. In:
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 04, 1940, pág. 181-192.
22. IPHAN. Cartas Patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2004.
23. MOTTA, Lia; Silva, Maria Beatriz Resende (org). Inventários de Identificação. Rio de
Janeiro: IPHAN, 1998.
24. PANOFSKY, Erwin. A história da arte como uma disciplina humanística. In: Significado nas
Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 1976, 19-46.
25. Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Inventário dos Bens Culturais do Município de
Magé. Rio de Janeiro, 1984.
26. Rodrigo e a SPHAN; coletânea de textos sobre o patrimônio cultural / Rodrigo Melo Franco
de Andrade. Rio de Janeiro: MinC, Fundação Nacional Pró-Memória, 1987.
27. SILVA, Fernando Fernandes da. As Cidades Brasileiras e o Patrimônio Cultural da
Humanidade. São Paulo: Peirópolis: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
28. TOGNON, Marcos. O Centro de Pesquisas Informáticas para os Bens Culturais, Scuola
Normale Superiore, Pisa. In: Revista de História da Arte e Arqueologia. IFCH-Unicamp:
Campinas, nº 02, 1995-1996, pág. 385-392.
0http://www.icom.org.br/redlist/LatinAmerica/spanish/legislation
1http://www.revista.iphan.gov.br
2http://www.scielo.br/mercadomundialdearte
3http://www.ipac.iepha.mg.gov.br
4http://portal.iphan.gov.br

Vous aimerez peut-être aussi