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A trajetória de preservação dos bens móveis e integrados sob a ótica dos projetos institucionais
de inventário 1
Abstract
Think about preservation and constitution of historic artistic and national heritage, is new,
althoug the cultural group that it’s compose, is present betewen us for many century. The IPHAN, a
federal administrator institution, created trough law-decret 25 of 30 of november of 1937, is
responsible for preservation and fiscalization of national hereditage, and has been the principal
reference in latina América, in respect the cultural questions.
The purpose of present work is to investigate and to compreention the trajectory of institution
about the integrated mobiles property under the optical of projects/description of this, for the
knowledge of the importance as tool for the fiscalization and, mainly, to know the our collection.
Key-words: National Culture Heritage; Inventory; Art History.
Diversas foram às influências e contribuições que as artes, de um modo geral, receberam no Brasil.
Inicialmente ligadas à arte indígena das Américas, mais tarde ao desenvolvimento estilístico
europeu tais como o renascimento, barroco, rococó, neoclássico e por conseguinte o romantismo,
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Pesquisa realizada com o apoio do IPHAN/UNESCO.
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Graduada em Artes Plásticas; Bolsista do PEP/IPHAN/UNESCO – Programa de Especialização em Patrimônio/Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/United National Educational, Scientific and Cultural Organization; lotada na Gerência de
Bens Móveis e Integrados; Rua da Imprensa, 16, 9º andar, sala 909 – Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro/RJ, Brasil;
anakamuta@yahoo.com.br; sob a orientação de Izabel Sales Serzedello.
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Mesmo salientando a importância dessa verificação estilística não caberá neste momento uma
análise detalhada das produções artísticas e dos critérios de valores a cerca da seleção para a
proteção, mas as articulações que se desenvolvem para a identificação e fiscalização do acervo
brasileiro.
A questão central esta voltada para a sistematização institucional de um projeto de inventário
nacional dos bens móveis e integrados, haja vista a necessidade dessa ferramenta para identificação e
conhecimentos dos bens protegidos em todo território nacional.
Retomando alguns pontos, a organização constitucional de preservação do patrimônio histórico
e artístico em nosso país é fruto das preocupações de intelectuais modernistas com as perdas
irreparáveis dos monumentos e obras de arte de ‘valor excepcional’.
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FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória da política federal de preservação no Brasil. 2.ed.
Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC – Iphan, 2005, p. 96-97.
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Doutora em sociologia pela Universidade de Brasília; foi pesquisadora do CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural e
coordenadora da Fundação Nacional Pró-Memória; assessora no Ministério da Cultura; representou o Brasil na elaboração da
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Imaterial da Unesco; atualmente é membro do Conselho Consultivo do IPHAN.
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A expressão inventário deriva de ‘inventorium’, do latim clássico, que classificava encontrar ou descobrir. Desde pelo menos dois
séculos a palavra tem mais uma significação jurídica e contábil muito precisa. Inventário é a relação dos bens deixados por alguém
que morreu, com o fim de legalizar a transferência do seu patrimônio aos herdeiros e sucessores ou ainda o ‘levantamento
individuado e completo dos bens e valores ativos e passivos dessa sociedade mercantil ou qualquer entidade econômica’. Inventário
é, portanto o arrolamento das coisas após uma pesquisa ou devassas destinadas a identificar o conjunto dos bens pertencentes a uma
pessoa física ou jurídica. A expressão se associa, portanto, a idéia de totalidade, de universo. Distingue-se de catálogo, de origem
grega, definido pelo dicionário Aurélio como: relação sumária, metódica, e geralmente alfabética, de pessoas ou coisas. Na sua
acepção normal, catalogo se refere ao registro de conjuntos relativamente pequenos, como as coleções de galerias, museus,e
biblioteca. (AZEVEDO, Paulo Ormindo de. 1984)
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Graduada no Curso de Conservador de Museus (1939), que funcionava na época, no Museu Histórico Nacional e que corresponde
ao curso de museologia atualmente. Ingressa em 1952 no SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para
desempenhar a função de secretária da Comissão Nacional de Belas-Artes, recém-criada, até 1955; em 1956 exerce o cargo de
conservadora dos Museus do IPHAN até 1966; nomeada diretora de Divisão de Estudos e Tombamento do IPHAN de 1972 até 1980
em substituição a Lucio Costa; 1985 exerce a função de consultora técnica da Fundação Nacional Pró-Memória/SPHAN.
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Acervo arquitetônico, urbanístico e natural protegido, inclusive os bens de espécie vária que, por sua natureza irremovível, se
prendiam ao contexto em que se inseriam. (COSTA, Lygia Costa, 1992)
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Evidentemente formando-lhe o contraponto – os que, criados para todo tipo de mister, a despeito de seu peso podiam ser
transferidos de um a outro local sem problemas maiores. (COSTA, Lygia Costa, 1992)
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“Bens Integrados: conceituação e exemplos”. In: Manual de Preenchimento da Ficha do Inventário Nacional de Bens Móveis e
Integrados. Brasília: IPHAN, DID, 2000.
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formava uma classe distinta e complementar das duas apresentadas anteriormente, passou-se a
denominá-las bens integrados 10.
Pensando então no inventário como ferramenta fundamental para os trabalhos de fiscalização
dos bens culturais móveis, far-se-á necessários alguns apontamentos históricos e metodológicos
referentes a esse assunto.
Do ponto de vista histórico o termo INVENTARIO é usado a partir do século XVI e
significa: Asient dos beines y demas cosas pertencientes a uma persona a comunidade, hecho com
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ordem y distición. . Derivada do latim clássico a idéia de se inventariar implica no ideal de
encontrar, descobrir. Mas é no século XIX que o uso legal é dado ao termo e os primeiros trabalhos
se iniciam na Europa após a II Grande Guerra, países como a Alemanha e França, utilizando
recursos proporcionados pela informática, conseguiram em poucos anos avanços nesse campo,
porém os trabalhos não compartilhavam uma uniformidade de critérios e métodos a serem
utilizados.
O inventário então tem como objetivo o conhecimento real e sistemático dos bens e valores
para salvaguarda e proteção, podendo-se consolidar em três tipos: inventários de identificação –
meras listagens dos bens culturais, inventários científicos – instrumentos para se esgotar o
conhecimento dos mesmos e tem uma função principalmente acadêmica já os inventários de
proteção – entende-se pela reunião dos dados suficientes para a proteção dos bens culturais.
A partir dos anos 30 recomendações referentes à proteção do patrimônio cultural nacional e
internacional foram apresentadas em determinados encontros e ressaltando a importância do
inventário, tais como perceptíveis na Carta de Atenas – Escritório Internacional dos
Museus/Sociedade das Nações, Atenas, Outubro de 1931, dando enfoque para a conservação e
restauração dos monumentos e citando no item VII Conservação dos Monumentos e a Colaboração
Internacional a utilidade de uma documentação internacional, tais como a publicação de um
inventário dos monumentos históricos nacionais, acompanhado de fotografias e de informações.
Recomendação sobre medidas destinadas a proibir e impedir a exportação, a importação
e a transferência de propriedade ilícitas de bens culturais – Conferência Geral da Unesco/13°
sessão, Paris, 19 de novembro de 1964, tendo como medidas recomendadas a Identificação e
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Trata-se especificamente da pintura de forros e de paredes, e eventualmente de suas molduras esculpidas; dos retábulos de um
modo geral e respectivos frontais; dos revestimentos azulejares ou esculturados,totais ou enquadrados, internos e externos; do
acabamento do arco-cruzeiro, tribunas e as vezes do supedâneo; dos púlpitos, para-ventos e grades trabalhadas da nave e do coro; das
pias de batismo e de água-benta; das portadas e portas elaboradas, internas ou externas; das lápides tumultuares gravadas ou
reveladas; dos arcazes, lavabos, nichos e mobiliário embutido. E ainda, no exterior, de conjuntos escultóricos fixos, ornatos
revelados, fontes, chafarizes, cruzeiros, pelourinhos, marcos, etc... (COSTA, Lygia Costa, 1992)
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CONICYT, Inventario y Catalogacion del Patrimônio Cultural. Conclusiones y Recomendaciones del Seminario Regional
de Inventario y Catalogación. Santiago. Projeto Regional de Patrimonio Cultural. Andino: UNESCO/PNUD, 1977, p. 10.
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Inventário Nacional dos Bens Culturais conforme as definições estabelecidas neste mesmo
encontro e Instituições de Proteção dos Bens Culturais.
Compromisso de Brasília – 1° Encontro dos governadores de Estado, secretários estaduais
da área cultural, prefeitos de municípios interessados, presidentes e representantes de instituições
culturais, Brasília, abril de 1970 incumbindo as universidades o entrosamento com bibliotecas e
arquivos nacionais, estaduais e municipais incentivando a pesquisa e avaliando os inventários dos
bens regionais.
E por fim, o Compromisso de Salvador – II Encontro de governadores para preservação do
patrimônio histórico, artístico, arqueológico e natural do Brasil, MEC/IPHAN, Salvador, outubro de
1971 recomendando a adoção de convênios entre o IPHAN e as universidades, com o objetivo de
proceder ao inventário sistemático dos bens móveis de valor cultural, inclusive dos arquivos
notariais.
Assim, desde os anos 60, a Unesco insiste em dois legados pra intervir nas perdas irreparáveis
que muitos países sofreram diante de seu patrimônio: O inventário sistemático dos bens móveis e
a formação de museus.
Em 1973, iniciou-se o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (IPAC/BA)
realizado pelo governo do estado. Esta foi a primeira catalogação sistemática de bens de interesse
cultural, posteriormente seguida por Pernambuco e outros estados, porém essa iniciativa dedicou-se
em grande parte aos bens imóveis.
No cenário nacional a elaboração de um projeto de inventário de bens móveis e integrados é
recente, contudo a preocupação com esse instrumento para o conhecimento, identificação, estudo e
preservação vem desde o Anteprojeto para a Criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional
elaborado por Mário de Andrade, aproximadamente em 1936, conforme disposto no cap. III –
Organismo do SPHAN/ III Chefia do Tombamento: Cada obra de arte a ser tombada terá a sua
proposta feita pela comissão regional compete acompanhada dos seguintes requisitos: fotografia
ou várias fotografa; explicação dos caracteres gerais da obra, tamanho, condições de
conservação, etc.; quando possível, nome de autor e biografia deste; datas; justificação de seu
valor arqueológico, etnográfico ou histórico no caso de pertencerem a uma destas categorias;...12;
no Decreto-Lei 25 de novembro de 1937 que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico
nacional instituindo o tombamento como instrumento legal de proteção de bens móveis e imóveis,
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico, bibliográfico ou artístico e posteriormente na Portaria 11 de 11 de setembro de 1986
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CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na Repartição. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ: MinC – IPHAN, 2000, p. 47-48.
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“Nos últimos anos foram realizados alguns encontros nacionais com a participação de
especialistas da OEA 13 e do Projeto PNUD/UNESCO 14 com a finalidade de discutir
amplamente a viabilização do inventário dos bens móveis e integrados no país. A
partir de então algumas entidades particulares e estaduais além da própria SPHAN,
vêm enviando esforços no sentido de levar a termo as intenções formuladas nesses
Encontros. Por outro lado, algumas entidades religiosas também realizam
levantamentos dos acervos de suas propriedades”. 15
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Região Metropolitana do Rio de Janeiro: Inventário dos Bens Culturais do Município de Magé. Rio de Janeiro, 1984.
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Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico/MG
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Instituto de Artes e Cultura
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Universidade Federal de Ouro Preto
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Fundação Roberto Marinho
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Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados.
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Vitae é uma associação civil sem fins lucrativos que tem apoiado projetos nas áreas de Cultura, Educação e promoção Social.
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final das fichas, datilografia final, produção de brochuras em cópias e encaminhamento do material
para a central de informática do MinC.
Sob a coordenação de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira 28 a ficha elaborada é portadora de
características peculiares que atendem as necessidades e demandas de nosso país. O preenchimento
é executado conforme as instruções que compõem o manual do INBMI.
No decorrer dos anos as etapas foram sendo concluídas e outros Estados participaram do
programa. Tais como listados na tabela 2, referentes aos inventários encontrados no ANS:
TABELA 2
INBMI
ESTADOS MONUMENTOS REF. Nessa primeira etapa portanto, pode-se concluir que
Alagoas 3 ANS
Minas Gerais 153 ANS o IPHAN se organizou para a realização de um trabalho
Maranhão 109 ANS
Bahia 147 ANS sistemático de inventário, unificando o que antes atendia
Pará 10 ANS
Paraná 06 ANS apenas necessidades locais
É fato que ressaltar essa organização como desprovida de contra-tempos e dificuldades seria
grandiosa, mas apesar das barreiras encontradas nas diversas etapas vivenciadas nos anos 80, como
a escassez financeira, o repensar definições como patrimônio/referência cultural, pode-se concluir
que a instituição se organizou sistematicamente em um projeto grandioso, e acima de tudo o
reconhecimento dessa ferramenta não apenas para identificação, mas como forma de conhecimento
do imenso acervo protegido no território nacional.
Referências Bibliográficas/Web:
1. AMARAL, Aracy. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Perspectiva, 1976.
2. ARGAN, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa: Editorial Estampa, 1988.
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Historiadora da Arte, consultora e coordenadora do Projeto do INBMI.
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Departamento de Identificação e Documentação.
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Manual de preenchimento.
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3. ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
4. AZEVEDO, Paulo Ormindo de. Para um inventário brasileiro. Informe elaborado por
solicitação da SPHAN/Pró-Memória. Salvador, SPHAN/Pró-Memória, set. 1984.
5. BARATA, Mário. Artes Plásticas no Brasil. In: História Universal da Arte. São Paulo:
Edições Melhoramentos, 1967, pág. 516-532.
6. Bens Móveis e Imóveis Inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.
7. CASTRO, Sonia Rabello de. O estado na preservação dos bens culturais: o tombamento.
Rio de Janeiro: Renovar, 1991.
8. CAVALCANTI, Lauro (org.). Modernistas na Repartição. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ: MinC – IPHAN, 2000.
9. CHILVERS, Ian (org). Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
10. CONICYT, Inventario y Catalogacion del Patrimônio Cultural. Conclusiones y
Recomendaciones del Seminario Regional de Inventario y Catalogación. Santiago. Projeto
Regional de Patrimonio Cultural. Andino: UNESCO/PNUD, 1977.
11. COSTA, Lygia Martins. De museologia, arte e políticas de patrimônio. Rio de Janeiro:
IPHAN, 2002.
12. DUCHER, Robert. Características dos Estilos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
13. FONSECA, Maria Cecília Londres. O Patrimônio em Processo. Trajetória da política
federal de preservação no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; MinC – Iphan, 2005.
14. FRONER, Yacy Ara. Ciência da Conservação Científica? Hipóteses para uma reflexão. In:
Seminário Internacional sobre os aspectos científicos da preservação documental, 02 a 04 de
agosto 2005, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro/RJ, Brasil, 2005
15. GAZZOLA, Piero. L’inventario di Protezione del Patrimonio Culturale. Verona, 1970.
16. GULLAR, Ferreira.Considerações.In: Arte Brasileira Hoje. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1973,
pág. 125-132.
17. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras (org.). Guia Básico de educação Patrimonial. Brasília:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
18. Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados: A experiência do Maranhão / Stella
Regina Soares de Brito; Osvaldo Gouveia Ribeiro; Kátia Santos Bogéa; Emanuela Sousa
Ribeiro. São Luís: IPHAN/3ªSR, 2000.
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