Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
A leitura do art. 109 da CF nos permite afirmar que os crimes contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira só serão de competência da Justiça
Federal caso assim esteja determinado por lei. Sendo assim, cabe analisar se
há ou não previsão legal quanto à competência da JF.
Na Lei 1.521/51 (Crimes contra a economia popular) não há previsão legal,
portanto subtende-se que esses crimes são de competência estadual.
Súmula 498 do STF: Compete a justiça dos Estados, em ambas as
instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a economia
popular.
A Lei que dispõe sobre o Sistema Financeiro Nacional (Lei 4.595/64) também
é omissa, prevalecendo o entendimento de que os crimes nela previstos são de
competência estadual.
Contudo, em relação à Lei 7.492/86, que define os crimes contra o Sistema
Financeiro Nacional, há disposição expressa no art. 26 assinalando a
competência da JF. Eventual alegação de que o prejuízo decorrente do delito
foi suportado unicamente por instituição financeira privada não afasta a
competência federal.
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida
pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.
Por fim, embora não prevista em lei, há uma última hipótese que atrai a
competência do julgamento dos crimes de branqueamento para a JF: quando
a lavagem for praticada além do território nacional e houver tratado ou
convenção internacional firmado pelo Brasil no qual o Estado brasileiro
se compromete a reprimir a infração penal antecedente. Afinal, compete à
JF, por força do art. 109, inciso V, CF, o processo e julgamento de crimes
previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente. Logo, para além da previsão no ato internacional ratificado
pelo Congresso e Presidente da República, é imprescindível que o delito se
revista do caráter de internacionalidade, ou seja, que sua execução tenha
iniciado no país, com o resultado ocorrendo ou devendo ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente.
Exemplos de Tratados: Convenção de Viena contra o Tráfico Ilícito de
Entorpecentes e substâncias psicotrópicas; Convenção de Paris da OCDE
sobre Corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações
comerciais internacionais; Convenção de Palermo contra o Crime organizado
internacional; Convenção de Mérida contra a Corrupção; Convenção
Interamericana contra o Terrorismo de Barbados.
O simples fato de o Brasil ser signatário desses diversos Tratados
internacionais não significa dizer que a lavagem de capitais cometida além do
território nacional deverá ser processada e julgada pela JF, independentemente
da infração penal antecedente.
Apesar dos diversos compromissos internacionais firmados pelo Brasil, não há
um tratado específico que obrigue o Brasil a reprimir a lavagem de capitais
isoladamente considerada, de maneira autônoma e independente da infração
antecedente.
Conclui-se que a lavagem de capitais cometida além do território nacional
deverá ser processada e julgada pela JF apenas quando possuir as seguintes
infrações penais como antecedentes: 1) tráfico de drogas; 2) crimes contra a
Administração Pública previstos na Convenção de Mérida; 3) terrorismo; 4)
delito de corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações
comerciais internacionais; 5) quando a infração antecedente for praticada por
organização criminosa transnacional. A contrario sensu, não constando a
infração antecedente de tratado internacional (ex. roubo), subsiste a
competência da Justiça Estadual para o processo e julgamento do feito, ainda
que o branqueamento seja cometido além do território nacional.
23.1. Varas especializadas para processar e julgar os crimes contra o
sistema financeiro nacional e os delitos de lavagem de capitais
Houve relevante movimento de fortalecimento do combate ao crime de
lavagem de dinheiro, após a pesquisa realizada em 2001 pelo Centro de
Estudos Judiciários, o que culminou em diversas modificações da estrutura
administrativa nesse sentido, com criação varas especializadas para processar
e julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional e os delitos de lavagem
de capitais.
Por meio de resolução (nº 314/2003), o CJF determinou que os TRF deveriam
especializar, em 60 dias, varas criminais com atribuição exclusiva para estes
delitos. Por conta dessa e outras resoluções, surgiu intensa discussão nos
Tribunais quanto à (in)compatibilidade dessas varas especializadas com o
princípio do juiz natural, e sobre a remessa dos autos em andamento a essas
varas especializadas.
Não há falar em violação ao princípio (R. Brasileiro) do juiz natural – pois a
proibição de tribunais de exceção não significa impedimento à criação de
justiça especializada ou de vara especializada. Não se pode confundir juízos de
exceção (ou ex post factum) com juízos especializados, os quais são divisões
da função jurisdicional, inseridas no quadro geral do Judiciário para colaborar
na administração da justiça. A própria CF assegura ao Judiciário autonomia
administrativa e financeira, podendo proceder a sua auto-organização
administrativa.
Também não há falar que a especialização de varas está sujeito ao princípio da
legalidade estrita (necessidade de lei ordinária), porém apenas pelo princípio
da legalidade (CF, 5º, II). Os tribunais, ao especializar varas, o fazem no
desempenho da sua função normativa. Contudo, não podem essas portarias e
resoluções alterar a competência territorial definida no art. 70, do CPP.
Súmula 206 do STJ: A existência de vara privativa, instituída por lei
estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de
processo.
Sendo assim, para o STJ, o processo fica suspenso pelo mesmo prazo
prescricional regulado pela pena máxima abstratamente cominada para o delito
narrado na inicial. Sendo, por exemplo, o delito de lavagem de capitais, a
aplicação do art. 366 do CPP levaria à suspensão do prazo prescricional pelo
prazo de 16 anos, já que a prescrição para este delito é regulada pelo máximo
de pena cominada – 10 anos. A tendência é que o STF acate o mesmo
entendimento no RE nº 600.851/DF, com julgamento ainda não concluído, já
tendo sido reconhecida a repercussão geral.
25.3. Produção antecipada de provas urgentes
O art. 366 do CPP permite a produção antecipada de provas, quando da
suspensão do processo e do prazo prescricional por não comparecimento do
acusado citado por edital. O CPC é aplicável à produção deste tipo de prova,
devido ao silêncio do CPP.
Para o autor, toda e qualquer prova testemunhal deve ser colhida antes da
suspensão do processo. Isto porque o tempo causa efeitos deletérios na
memória humana, fazendo esquecer os fatos, devendo este tipo de prova ser
colhido desde já.
No STF a questão é dividida. Enquanto a 2ª turma admite indiscriminadamente
a produção antecipada de prova testemunhal, a 1ª turma é mais rígida,
entendendo que o simples efeito de esquecimento pelo transcurso do tempo
não é idôneo à autorização para produção antecipada de provas urgentes.
O STJ, por sua vez, tem jurisprudência pacificada em súmula, exigindo que a
prova colhida antecipadamente seja justificada de maneira satisfatória, não
sendo suficiente a alegação dos limites da memória humana:
Súmula 455 do STJ: A decisão que determina a produção antecipada
de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente
fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do
tempo.
Trata-se de prazo mínimo (a Receita pode conservar por mais tempo) para
garantir a preservação desses dados, visando eventual quebra do sigilo fiscal.