Vous êtes sur la page 1sur 16
FONOLOGIA: A GRAMATICA DOS SONS. Maria Bernardete Marques Abaurre” Sobre Fonologia seria possivel escrever um extenso tratado. Em cer- tas circunstancias, no entanto, as questdes principais da disciplina deve- Go estar necessariamente contidas no limitado espaco de umas poucas paginas. Eo caso deste texto, onde nao se faré mais do que uma breve exposigio sobre este campo expecifico de investigagao lingiistica, sobre © objetivo de estudo da disciplina, as teorias, modelos ¢ procedimentos de investigagao. Ao procurar delimitar o alcance desta apresentacSo, estarei inevit velmente selecionando aqueles t6picos aos quais atril para uma compreensao preliminar da area ¢ do tipo de reflexéo sobre a linguagem que costumam fazer os fondlogos. Nao se espere, portanto, destas poucas paginas, nenhuma exaustividade. Elas jé terao cumprido 0 seu objetivo se estimularem alguns leitores interessados a buscarem ou- tras leituras ¢ informagSes que permitam o inicio de um aprofundamen- to na érea!. * Professora do Istituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas (UNICAMP), 1 o livro de ¥. Leite € D. Call, inicagdo a Foneica € a Fonotogia (RL. 3. Zabat Baitor, 1990), apresents, para 0 leitor Bralero, os topicos que devem sr necesariamente conse ‘dos em um etd introdutério sobee Sst disipinas O livto de F. M. Maia, No Reino (da Fala: a Linguagem e seus Sons (S.P: tien, 1985) consi ‘dasa interszmate doe aspectos actics, linguagem, 10 BREVISSIMA HISTORIA DA REFLEXAO FONOLOGICA: A CONSTITUICAO DO OBJETO DE INVESTIGACAO EO MODELO ESTRUTURALISTA © objeto de estudo da fonologia, para ser compreendido, deve ser definido em relagéo a uma outta disciplina a ela associada, a fonética. Em termos muito simples, pode-se dizer que & fonética interessa 0 estu- do dos sons da linguagem em geral, enquanto entidades que podem ser descritas com base em suas caracteristicas fisicas ¢ articulatérias. A fono- logia, por outro lado, interessa investigar a fungdo desses sons como com- ponentes de sistemas lingiifsticos, bem como as relagdes de oposigo que entre cles se estabelecem no interior de sistemas especificos. Essas oposi- ‘gGes sf responséveis, em iltima andlise, pelas diferengas de sentido en- tre as estruturas lingiisticas. Pelo fato mesmo de interessar-se pelas caracteristicas aciisticas e ar- ticulatérias daquilo que vem a ser a propria substincia fOnica da lingua- gem, a fonética tradicionalmente define suas unidades mfnimas como sen- do os sons da linguagem (ou fones), ao passo que a fonologia, por ocupar- se de elementos formais abstratos, constitutivos dos sistemas fonolégicos, define os fonemas como suas unidades bésicas.? Atualmente admite-se uma forte relagio entre esses dois objetos de estudo, de tal sorte que a fonética ¢ a fonologia nao sao vistas como disci- plinas que se opGem, mas como espagos de investigacio do componente fOnico das linguas naturais que diferenciam-se tebrica ¢ metodologicamen- te apenas a partir do tipo de indagagdes que propiciam sobre os sons da Jinguagem. Se, por um lado, as perguntas da fonética incidem explicitamen- te sobre os aspectos articulal6rios, actsticos c perceptuais dos sons da lin- guagem em geral, as questdes da fonologia voltam-se predominantemente para os aspectos relacionados ao modo de funcionamento desses. mesmos sons 20 Ambito de sistemas lingisticos particularcs. Observe-se que, na medida em que a fonética utiliza como critério para a selecio de evemtos (nicos relevantes para descrigéo ¢ estudo a sua ovorréncia em sistemas lingifsticos documentados, ao passo que a fonolo- gia conduz suas investigagGes sobre as oposighes fOnicas a partir de tragos distintivos de base acdstica c/ou articulatdria, as duas éisciplinas mantém necessariamente uma forte relagdo de interdependéncia © compiementa- 2 ‘tanto de um ponte de vista fonetico como de wm ponto de vista fonologic, esas unidades podem, evidentemente, ser analisadas em consituinles menores, para o que t2m sido utiliza os 08 sistemas de tragos actsticos e/ow aniclat6rios Letras 44 SANTA NATWA, HON 08 ridade.? Pode-se dizer, em um certo sentido, ye enquanto perdurou 0 inte- resse pelos estudos de cunho mais hist6rico a respeito das \inguas ¢ sua evolucio, era natural mesmo que 0 interesse dos linguiistas estivesse mais voltado para as questées de natureza fonética rclativas ao componente {0- nico das linguas. Afinal de contas, lembramo-nos muito bem, era interes- se precipuo do método histérico-comparativo em tingifstica, na verso dos neograméticos, a identificacao das chamadas leis fonéticas(inspiradas no determinismo filos6fico que subjazia aos estudos das ciéncias naturais, 1a época), leis essas que seriam responsdveis, por hipStese, por uma evo- lugio fnica inexordvel, no plano lingiiistico. Essa abordagem da evolugdo das linguas acabou por dar ao estudo dos sons uma saliéncia que foi, em sltima andlise, responsavel pelo extra- ordinario desenvolvimento dos estudos fonéticos ao longo de todo o sécu- lo XIX € primeiras décadas do século XX. A distingao metodoldgica entre fonética e fonologia, assunto de am- pplos ¢ acalorados debates entre os estudiosos dos sons da linguagem na ‘altima virada do século, foi conseqiiéncia quase que direta da discussio inaugurada na Tingistica por F. de Saussure que, 20 propor a dicotomia centre os estudos sincrénicos ¢ diacronicos, chamou a atengao para a im- portancia do estudo dos sistemas lingiisticos, de suas estruturas ¢ elemen- {os formais constitutivos, ¢ das relagdes entre eles constantemente estabe- lecidas. Nao se poderia deixar de cxeditar, no entanto, aos muitos precurso- res da fonética moderna — dado, mesmo, seu grande investimento na ca- racterizacao dos sons da linguagem c na diferenciacao precisa das ratti- plas diferengas fOnicas — a percepeao de que semelhantes sé0 muitas ve- zes “agrupados” em sipos, freqlcntemente explorados pelas Iinguas no plano funcional. Como nos recorda B. Malmberg’, muitos foneticistas da ‘ltima metade do século XIX e do inicio do século XX ja seavam conta da & posivel defender a autonomia da fonética com relaco A fonolgia sc se entender 0 objeto sete font cm mas spam pon, outcome de eso ne ‘ge poem scr produssls pelos sres humanos, Fala nao &, no eal, & Pos 800 ‘yee matt don fometcts ¢fonSlogon que preerem poslar waa f2ays0 de tec penetrcia entre as gua dacplinas, as Novas Tendincia da Linge, Ps Cia. Bitora Nacional/EDUSP, 1971, pg 108 (Criginal saeco de 195), tad. brsicira Ge &. 8. Boybs 4 partir da ta. frances). © fetor {etcfsuado na histor ds diinggo metodlipica entree campos de ext da fométea ¢ ‘news obs, tule informades¢ elementos para teleso. Outros sobre o desenvalvinento doe estudosfonot6eices, que incivem js-a tonolopin Gera, sc: V" Makar, Phonoloncal Theon® Bvoluion and Curent Practice, Now York iol Rinehart & Winston, 19726 B. Hcher Jorgensen, Tren in Phonolog £57 Theos & Mistrial nrdction, Copenhagen: Akademi, 175. Lerrashl eurannn avons 12 necessidade de distinguir entre tipos fonéticos mais ou menos préximos, do ponto de vista aciistico-articulatério, ¢ pequenas variagées dentro de cada um desses tipos. Malmberg chama ainda a nossa atengio para o fato de que O. Jesper- sen, no seu livro Phonestiche Grundfragen (Problemas de Fonética)de 1904, afirma j& que a questo de saber se determinadas diferencas fonéti- cas devem ser consideradas variantes de um s6 tipo ou tipos diferentes, 86 pode ser resolvida uo &mbito de uma lingua especifica. Assim, diz ele, se numa dada lingua, uma determinada diferenca fonica pode ser utiliza- a para distinguir vocébulos de significados diversos, os sons em questo sia considerados tipos diferentes. Se, por outro lado, a diferenga entre 0s sons nia contribui para a diferenga de significados, eles deverio ser considerados variantes de um mesmo tipo. Aqui ja se encontra, pois, o ‘germe da preocupacdo com ¢ estudo sistemitico do estatuto da variagao dos sons no ambito de sistemas fono\6gicos, questéo que foi retomada de forma mais rigorosa por Saussure, no Cours de Linguistique Générale.’ ©s fonGlogos costumam atribuir a J. Baudoin de Courtenay o crédi- to por haver tentsdo redefinir em bases mais sisteméticas, ainda no final do século XIX, o termo fonalogia, que, desde 0 final do século XVII, vi- nha sendo utilizado genericamente camo “ciéncia dos sons da fala”. (© que essas anotagdes indicam é que ja havia lingiistas (como Cour- tenay e Jespersen, para ficarmos apenas com dois nomes bastante conheci- dos...), precursors de Saussure (cujo Cours de Linguistique Générale foi publicado em 1916), preocupados com a funcéo eminentemente distint dos elementos fnicos que contribuem para marear as diferengas de sigaifi- aco entre as palavras da lingua. Anote-se ainda que para 0 estudo des- es elementos Courtenay reservou 0 temo psicofonética, passando a utili- zat 0 termo fisiofonética para 0 cstudo dos elementos {6nicos entendidos como meras realizagies, pelos falantes, dos sons-tipo. Estavam assim estabelecidas as bases, portanto, para uma distingao metodoldgica que acabou sendo explorada por Saussure, no Cours, ¢ leva- da ts Gltimas conseqiiéncias pelos lingiistas da Escola de Praga, como a seguir veremos. Com relacdo a Saussure, pode-se dizer que foi a partir das dicota- mias que propds (langue/parole, sincronia/diacronia, sintagmalparadigma © forma(substdncia) que s¢ pode comegat a pensar rigorosamentc a fonolo- gia como campo de investigacdo dos fatos fOnicos a partir dos seus as- 5 Teadusse brasileira de A- Chelii, J, P, Paes ¢ I Blinksten, Séo Paulo: C Letras 43 pectos puramente formais ¢ sincrOnicos. Esses fatos passaram também a ser delimitados, em termos de suas fungoes distintivas, tomando-se por ‘base um sistema lingistico especifico (langue). Verificou-se também que, ‘com relagao aos fatos do domfnio da Jangue, eram pertinentes tanto consi- deragies de ordem paradigmdtica, como de ordem sintagmatica.. 'Na hist6ria da fonologia, a data de 1928 é identificada como o mar- co inicial dos estudos fonolégicos stricto sensu. Essa data corresponde & realizagéo, cm Hais, do 1? Congresso Internacional de Lingiiistica, a0 qual compareceram N. S. Trubetzkoy, R. Jakobson ¢ S. Karcevsky, repre- sentantes do chamado Cireulo Lingilistico de Praga, com 0 objetivo de apre- sentar trabalhos onde se expunha e discutia o rigoroso programa de inves- tigagao fonoldgica proposto por essa escola, Costuma-se dizer que foi es- se 0 momento em que a fonologia de fato constituiu-se, nos meios acadé- micos, como disciplina dotada de um objeto préprio de investigagio, 0 que permitiu que cla se diferenciasse metodologicamente da fonética, ‘Ao propor um método sigoroso ¢ cientificamente fundamentado pa- ra.a redugao de um aémero infinito de sons a um niimero de unidades lin- ‘guisticameme pertinentes, a escola fonol6gica de Praga ajudou a implemen- {ar 0 programa estruturalista saussureano, pois foi o programa de investi- gacdo da escola de Praga que tornou possivel investigar sistematicamen- te as unidades abstratas (fonemas) constitutivas dos sistemas fonolégicas, bem como os varios tipos de oposigGes € relagbes que essas unidades po- diam manter entre si no mbito desses sistemas. Passou também a ser pos- sivel, a partir dessas andlises mais sisteméticas, a comparago entre siste- ‘mas fonoldgicos distintos, o que, é evidente, permitiu um avango significa- tivo dos estudos tipotsgicos. A obra pdstuma de Trubetzkoy, Grundziige der Phonatogie (Principios de Fonologia),* publicada em 1939, € 0 texto de referéncia para a chamada Fonologia estruturalisia de Praga. Nessa ‘obra est bem delineado o programa de investigacao fonolégica dessa esco- la, fundamentado na discussin de dados e exemplos de linguas especificas. Foi a investigagao fonolégica de inspiragdo naturalista que norteou 1s trabalhos tedricos ¢ descritivos nessa Arca até « final da década de cin- Qiienta, quando ocorre, na lingiifstica, a chamada revolugdo chomskiana, com a conseqiiente redefinig#o do objeto de estudo da fonologia (mais es- pecificamente por volta da segunda metade da década de sessenta, momen- to em que comegam a se tornar conhecidos os pressupostos tesricos ‘A edigio mais utilizada dessa obra €a tradugto francesa de J. Cantineav, Principes de Phono- logie: Paris: Kuinckseck, 1949 Letras 44 SANTAMAPIA, JUNO € metodolégicos da Fonologia Gerativa Clissica). Aesse momento singular da historia dos estudo fonol6gicos retorna- rei um pouco mais adiante. Neste ponto das minhas consideragGes € ain- da necessério fazer mengio a uma metodologia especifica de investigagio fonolégica, a Fonémica, também de cunho estruturalista, desenvolvida nos Estados Unidos a partir dos trabalhos de K. Pike. Missionério do Sum- mer Institute of Linguistics, 0 objetivo de Pike enquanto lingiista era o de desenvolver nma metodologia que permitisse a ‘‘reducdo” de Iinguas Agrafas a escrita, ou seja, que permitisse 0 desenvolvimento de alfabetos para as linguas sem sistema de escrita. Seu livro de 1947, Phonerics: a Technique for Reducing Languages to Writing’, € até hoje ceferéncia obri- gat6ria para os cursos que preparam lingiistas para a realizagio de traba- Tho de campo com Linguas ind{genas, dada a preocupagio do autor em for- necer uma “receita para identificacao de fonemas ¢ alofones” baseada nu- ma série de procedimentos de descoberta bem controlados por critérios de anilise e interpretagao dos quadros de fones extraidos das transcrigGes fonéticas. Pike nunca negou os objetivos eminentemente praticos da fonémica, que sempre nortearam as discussées fonoldgicas que fez. Simplificando (conscientemente!) a questéo, poder-se-ia dizer que enquanto a escola es- truturalista européia interessava principalmente a discusso te6rica acer- ca do modo como os fonemas se organizam nos sistemas fonol6gicos das linguas naturais ~ dai o grande interesse da fonologia de Praga pelo estu- do dios tipos de oposigao entre os fonemas e das relagSes sistematicas en- te eles — , 2 fonémica norte-americana interessava basicamente uma aplicagao e princfpios estruturalistas de andlise & descoberta dos fonemas das linguas naturais, sobretudo das: Iinguas dgrafas, para que se pudesse produzir, nessas Linguas, uma escrita de base alfabética. Para os pesquisado- res das linguas indigeaas, a fonémica continua a set uma metodologia que permite uma abordagem inicial desses sistemas linguifsticos, na medida em ‘que propicia uma organizacao preliminar dos dados e um sistema de trans- crigo econdmico, necessério para o prosseguimento da investigacio em outros niveis de andlise.® Concluo esta seco chamando a atengao para o fato de que a fonolo- T xan Arbor: University of Michigan Pres eixo de comentar aqui; por ni ser cts a discussio em pauta, um dot objeivos precipyos ‘4 fonemica: a reduclo de linguas Sprains A escrita pera que na lingus uaiva de poves indie fe puessem ser ensinados oe evangelhos cision. Lerras suvraiann acon 15 gia estruturalista, em qualquer de suas verses ou modelos, privilegia a descrigéo de um corpus lingiifstico, que toma como amostra representati- va de um sistema lingiistico especifico, seu verdadeiro objeto de investiga- do. A lingua a ser investigada pelo estruturalismo est, pois, em um cer- to sentido, fora do seu usuério, o falante nativo cuja competéncia lingiits- tica passa a ser 0 objeto de estudo das teorias modernas, de inspiragéo ‘mentalista, conforme veremos nas seqdes seguintes. AS INDAGAGOES E QUESTOES CENTRAIS DA FONOLOGIA GERATIVA Para compreender os rumos que tomou a investigagio fonolégica p6s-chomskiana é importante retomar algumas das consideracSes feitas por Chomsky € Halle em 1968, no capitulo introdut6rio do livro The Sound Pattern of English (SPE)®, pois foi nessa obra que pela primeira vez aparece delineado, de forma mais consistente, um programa de inves- tigagdo sobre o componente fonolégico das linguas naturais.'° Os pressu- postos te6ricos e metodol6gicos af apresentados ¢ discutidos pelos auto- rescom relacio A investigacio fonoldgica refletem, evidentemente, os pres- supostos mais gerais da teoria gramatical em elaboragdo, na época, por NN. Chomsky. As primeicas paginas dessa obra so dedicadas & discussio do concei- to de comperéncia lingi(stica, anunciando assim uma redefinigio do pr6- prio objeto de estudo da fonologia, que passa a ser, para os fonélogos ge- rativistas, 0 estudo da competéncia fonologica internalizada pelos falantes. Essa competéncia, ao mesmo tempo que se constitui no objeto mesmo de investigagao, € agora também cntendida como uma gramdtica das sons, no sentido de “conjunto de regras internalizadas que estabelecem a necessé- ria relagdo entre as representacdes fonoldgicas abstratas e os aspectas f6ni- cos dos enunciados”. Observe-se que essa gramética ou competéncia fonolégica— que cons- titui um dos aspects, apenas, de uma competéncia lingufstica mais geral (conhecimento inconsciente, por parte do falante/ouvinte) — subjaz, por 2° New York: Harper & Row: 19 Quatro artigos cissios de N. Trubetkoy, E. Sapir, N. Chomsky © M. Hae e F, W. Househol ‘der, traduzidos ¢ publicados em M. Dascal, Fundamenios Mesodoldgicos da Lingiistica: vol 1D, Fonofogia e Sintaxe (Campinas: Eaigio' do. Orgasizador, 1981), so representativos dos ‘rincipios«cundamentostedrions © metedolépicor da fonologia estruturaists © da fonologia ferativa classics. On atigos de Chomsty Halle de Houschelder fornecem a0 leitor que te {nicia no campo ums toa tia do acolorado debate que 0 pensaneatofonol6gco pecativie 1S innugurou na discplinn terres 4g SANTA MAPA JANN hipétese, aos processos de produgdo € peccepgao da fala: The speaker produces a signal with a certain intended ‘meaning; the hearer receives a signal and attempts to determine what was said and what was intended, (..) One fundamental factor involved in the speaker-hea- rer’s performance is his knowledge of the grammar that determines an intrinsic connection of sound and ‘meaning for each sentence. (SPE, p. 3). Dentro dessa concepgaio de gramética cabe a0 componente fonol6, co, portanto, a tarefa de atribuir uma interpretagao fonética as descri ‘ges dos enunciados produzidas pelo componente sintético, de forma a garantir, tanzo em termos da produg3o como em termos da percepcdo, a mencionada “conexao intrfnseca” dos sons com os aspectos sintaticos € semanticos da linguagem.!! Em linhas gerais, esses pressupostos continuam aceitos pelas novas geragdes de fondlogos getativistas. Vale ressaltar, porém, que a real natu- reza da interface entre as representagdes fonolégicas e as representacdes sintéticas constitui hoje um dos t6picos de maior interesse te6rico para gerativistas modernos. Uma vez marcada a diferenga entre os objetos de investigagio do programa estruturalista (centrado no sistema linguistico) e do programa gerativista (centrado na competéncia lingiistica internalizada pelos sujei- tos), fazer fonologia, para os que fizeram a opcao gerativista, passou a ser, — € ainda é! ~ elaborar hipéteses (de preferéncia boas hipéteses...) sobre a gramética fonolégica das linguas naturais, ou seja, sobre a compe- téncia fonoldgica dos falantes/ouvintes dessas lingua. Vale a pena, para deixar mais claro esse novo programa de investiga- ‘cao, tentar elencar as principais questdes das quais se ocupam os fondlo- os gerativistas na tentativa de claborar ¢ controlar suas hipéteses sobre competéncia fonolégica. Por ser um contraponto necessério para a compreenséo do clenco das indagagdes e procedimentos da fonologia gerativa, retomo brevemen- te, no pardgrafo seguinte, © modo de investigagao dos fonélogos estrutu- ralistas. 1 50 bons manuals de referencia para o modelo clissico da Fon Generative Phonology (Englewood Cltf, New Jeney: Prestice-Hall, 1973), L- M. Hysam, Phonotogy: Theory and Anaiyais (New York: Holt, Rinehart & Winston, 1975) © M. Keasto- vies © CKisseberth, Generative Phonology (New York: Academic Press, 1979). ia Gerativa: . Sehane, Letras 47 sana Nata sau 008 Dada a énfase da fonotogia estruturalista na anélise ¢ descrigdo de sistemas fonolégicos, compreende-se porque o investimento maior dos fo- ndlogos dessa escola estava na identificacio dos fonemas das Kinguas de seus alofones ou variantes posicionais contextualmente condicionadas: esses fonemas constitufam © paradigma das unidades opositivas a serem combinadas, no cixo sintagmatico, em unidades fonol6gicas maiores, co- ‘mo as sflabas, constitutivas, por sua vez, dos morfemas, Privibegiavam-se, portanto, os segmentos ¢ seus possiveis arranjos nas posigdes estruturais relevantes, bem como as “substituig6es” de fonemas em contextos morfo- 6gicos especificos. Esses eram objetivos compartilhados tanto pelos estudiosos inspira- dos pela escola estruturalista de Praga, como pelos lingiistas de postura mais pragmitica, como os pikeanos, interessados nos resultados imediatos de uma andlise fonémica que thes oferecia a getantia de aplicabilidade, a qualquer corpus, de um conjunto de procedimentos de descoberta previa- ‘mente tesiado em uma série de conjuntos de dados, reais e simulados. A crédito dos estruturalistas da escola européia, fica o fato de que seu inte- resse pelos fonemas € seus tracos distintivos, assim como pela tipologia de oposigées e sistemas fonoldgicos, sempre foi muito explicitamente orien- tado por preocupacées de natureza tedrica. A essa investigacio voltada predominantemente para a descrigio ¢ anélise da fonologia das linguas, Chomsky contrapéc um programa volta- do para o conhecimento internalizado que possuem os falantes/ouvintes acerca do componente fonolégico das linguas naturais. Essa mudanga ra- ical de objeto de investigagio determinou, necessariamente, uma mudan- {G4 no s6 no foco dos estudos fonoldgicos, mas também — e conseqdente- ‘mente — nos procedimentos de pesquisa ¢ seleco de dados resevantes. ‘Mas qual é, afinal, o perfil de um fondlogo gerativista? Qual o qua- dro de referencias no ambito do qual Ihe conduz sua investigagio sobre © conhecimento fonol6gico dos falantes? Para cesponder a esta pergunta, Teproduzo aqui as palavras de J. Goldsmith, ao delimitar, na introdugao do livro Autosegmental & Metrical Phonology,"? o escopo do seu trabalho Fundamentally, (..) the theories of phonology that we will consider here share the characteristics that are familiar in generative phonology. We shall aim ‘at producing explicit grammars, consisting of rules of various sorts, and underlying forms. The rales, applying - 72 Cyutridge, Mass: Basil Blackwell Letras ag [SANTA MARIA, JANI 088 quentially ands to some extent afc produce rr ‘output, "a Surf face representation, which serves as an input fo'a theory of phonetics (p. 2 As “graméticas explicitas” a que se refere Goldsmith devem ser entendidas como hipdteses elaboradas pelo lingiista sobre as graméti- cas fonolégicas internalizadas pelos falantes. Ora, a elaboragao de bo- as hip6teses sobre competéncia fonolégica depende, em grande parte, da sensibilidade do fondlogo para encontrar, nos dados, bons ind{cios de generalizagdes fonologicamente significativas. Por outro lado, a de- fesa de uma boa hipétese depende crucialmente de uma boa argumen- tagao. Pode-se concluir, portanto, que o trabalho do fondlogo gerati vista consiste basicamente na busca de indfcios relevantes para a elabo- ragao de gramaticas fonolégicas explicitas que representam a compe- téncia fonolégica dos falantes/ouvintes, ¢ na construgéo de uma argu- mentagio s6lida ¢ coerente, baseada nos pressupostos te6ricos € meto- dolégicos da disciplina, capaz de persuadir o maior numero possivel de interlocutores interessados nos mesmos dados ¢ fatos. Cito ainda outro trecho de Goldsmith que, acredito, torna mais. claros os objetivos da fonologia moderna, bem como a maior amplitu- de das suas indagagoes: I should mention what the generative gramma- rian says about the role of evidence and argumenta- tion in phonology. If I had to summarize the basic goal of the enterprise, it might be this: we attempt to formulate general models and principles of phono- logical analysis which can be successfully applied to a wide range of languages. Success can be hard to measure, but it consists largely in the ability the analysis grants us to see connections in various ways. First and foremost, a good analysis shows con- nections within the basic phonological facts. We ho- pe to miss as few generalizations as possible in the data as we find it. Second, we expect our phonologi- cal theory and our analyses to be able to be connec- ted to psychological theories, such as those of speech production, perception, and acquisition, and also to linguistic theories of syntax and morphology. Third, we expect our analyses to give us insight into the his- torical connections among languages and stages in the development of languages (p. 2-3). Lereasl 4g SAATALARIA JANN 005 Cabe, finalmente, chamar a stengo para uma outra importante mudanga de perspectiva com relagao ao estruturalismo, tomando-se como referéncia a versio cléssica da Fonologia Gerativa. Enquanto, como se mencionou anteriormente, a preocupagao do estruturalismo Gtava centrada nos segmentos e seus arranjos estruturais, a Fonologia Gerativa, em funco mesmo da redefinigo do scu objeto de estudo, incorporou aos estudos sincrOnicos uma perspectiva processual, centra- a no conjunto de regras que faziam a mediacao entre as representa es fonoldgicas abstrata e as representacdes fonéticas superficiais. estudo desses sistema de regra passou a ocupar lugar privilegiado na investigag4o fonolégica, e para isso contribuiu o fato de que a teo- ria havia sido dotada de um formalismo muito poderoso, capaz de ex- pressar rigorosa e sistematicamente os processos fonol6gicos operan- tes nas linguas naturais.!3 A investigagio do componente fonoldgico de qualquer lingua pressu- punha necessariamente a proposta de representagdes fonoldgicas abstra- tas para os morfemas, palavras e enunciados. Essas representagdes eram cconstitufdas de uma seqiéncia alinear de segmentos ¢ de junturas morfo- sintdticas. Os segmentos eram entendidos como representatives de conjun- tos de especificagSes (valores positivos ou negativos) para os tragos fono- légicos de base articulat6ria selecionados pela I{agua como distintivos na sua matriz segmental, ¢ ao entrarem nas representagGes subjacentes dos ‘morfemas cram liberados das especificages que se tornavam redundantes porque previsiveis a partir do contexto circunstante. ‘As regras do componente fonolégico, no modelo padrao, aplicam- se, portanto, a essas representagGes abstratas, derivando, assim, as repre- sentacdes fonéticas. Essas regras expressam processos de assimilagio e dis- similagao de tragos, inserem, apagam segmentos ou movem-nos de lugar, € especificam os valores pars tragos redundantes, previsiveis contextual- mente. De maneira geral, espera-se que as regras do componente fonolé- gico apliquem-se a classes naturais de sons ¢ nao a segmentos particula- res, pois quanto mais amplo 0 espectro de aplicaco de uma regra, maior a probabilidade de que ela expresse uma generalizacio fonologicamente significativa. HA determinados dados que por sua singularidade ¢ pelo fato de re- presentarem situagGes de certa forma “instéveis” de uso da lingua (situa- Ges em que os processos se deixam mais facilmente observar), oferecem uma oportunidade Gnica para o teste das hipéteses sobre as regras € TS Vale tembrar, aq cvolugio das Inge Toncké pias ue 0 esiruturalismo admitia a ocorrénci de procesios fonol6gicos na 'Nos estudos de fonologia diaerOnies, apenas, havia meng&o a "regras™ Lerras ewrawana somes 20 representagSes em fonologia. O dados de variagio e mudanga lingiifstica, afasia ¢ aquisigéo da linguagem caracterizam-se por mostrarem essa natu- reza cambiante da linguagem ¢ sao por esse motivo frequentemente util zados como fonte de bons indicios para para os fondlogos. ‘A prop6sito das regras fonol6gicas e do processo natural e esponta- neo de aquisigao da linguagem, cabe aqui uma observacdo importante. ‘As criangas, durante o processo de aquisicio, demonstram uma capacida- de extraordiniria para inferir, dos dados com os quais estdo em contato, as generalizagdes € as regras que organizam 0 componente fonol6gico de sua Ifngua. Essas regras nio Ihes sio ensinadas, € no entanto os falan- tes nativos de qualquer Ifngua “‘conhecem-nas” muito melhor do que qual- ‘quer linguista. A tarefa do fondlogo gerativista ndo €, pois, t40 simples assim. Ele deve tornar explicito 0 muito que os falantes inconscientemen- te “sabem” sobre os padrdes fonol6gicos de sua lingua materna, DDESENVOLVIMENTO DA FONOLOGIA GERATIVA: OS MODELOS NAO-LINEARES ‘Ao longo dos mais de vinte anos jé transcorridos desde a publicagao. do Sound Pattern of English, muitas foram as discussdes ¢ debates em tor- no de alguns tépicos do modelo cldssico da Fonologia Gerativa. Essas dis- cuss6es, centradas principalmente na questo do grau de abstragio das re- presentacdes fonolégicas ¢ da naturalidade dos processos, acabou por le- var ao surgimento, na década de setenta, de modelos claborados por al- guns fondlogos “dissidentes”, como T. Vennemann e J. Hooper (que, com © objetivo de restringir 0 alto grau de abstrago autorizado pelo modelo padrao, desenvolveram a chamada Fonologia Gerativa Natural), ¢ D. Stam- pe (que, particularmente interessado na questo da naturalidade dos pro- cessos fonoldgicos, propés um modelo de Fonologia Natural centrado na distingdo entre regras — a serem aprendidas pelos falantes porque especi- ficas das Iinguas — e processos fonoldgicos naturais, paradigmdticos e sin- tagmdticos, parte da dotagao genérica dos seres humanos}.!4 Apesar dos aparecimento desses modelos dissidentes (ou talvez co- mo resposta aos problemas por eles colocados), 0 modelo cléssico cont nuou a evoluir, sem que seus pressupostos basicos fossem modificados ‘em sua esséncia. E possivel, assim, identificar 0 percurso trilhado pela Fonologia Gerativa Classica a0 longo de todos esses anos © apon- 4 Em Current Approaches 10 Phonological Theories (Bloomington: Indiana University Press, 1915), D. Dinasen redne texbalhos que apresentam execs e outros modelos de fonologia que apireciam, na época, como alternativas a6 modelo clisico da Fonologia Geratla. Letras swranann wevanion 21 tar como importantes movimentos de renovagio tebrica ¢ metodolégica a Fonologia Auto-segmental, a Fonologia Métrica ¢ a Fonologia Lexical, tadelos dos quais se falaré brevemente a seguir.15 ( desenvolvimento da teoria fonol6gica gerativa nas dltimas duas décadas favoreceu o surgimento de modelos cujo foco de investigagio de- limita aspectos particulares da otganizagao ¢ da dinamica da fonologia das Iinguas naturais, o que, por sua vez, impede que o componente fonol6- gico das graméticas seja ingenuamente tomado como wm sistema homogé- neo. A visao que hoje se tem do componente fonol6gico das linguas apon- ta para um conjunto de sub-sistemas em interagéo, cada um dos quais go- vernado por seus prineipios particulares de organizagéo ¢ funcionamen- 10. Foi exatamente a percepgao de que cra importante reconhecer esses sub-sistemas que levou ao desenvolvimento das fonologias ditas auto-seg- mental, métrica ¢ lexical. Cada um desses modelos de fonologia pode deve, portanto, ser tomado come complementar com relagao aos demais, dado que os recortes que fazem dos fatos fonolégicos a serem preferencial- mente (mas néo exclusivamente) investigados sao diferentes. ‘Como se viu anteriormente, a Fonologia Gerativa Classica privilegia- va, a partir de uma concep¢do linear das representagées fonolégicas, os fatos fonoldgicos no plano segmental. Os fatos prosédicos nao eram ana- Jisados de forma rigorosa, do ponto de vista de sua organizagio lingifsti- ‘a. Isso levou a uma fonologia de “sintaxe pobre”, por assim dizer, una vez que a propria sflaba, enquanto dominio relevante de organizagao de constituintes menores, nao cra analisada com 0 devido rigor, assim ¢o- mo nio cram reconhecidos, nas representagSes fonol6gicas, dominios hie~ rarquicamente superiores aos scgmentos € sflabas, como os pés, as pala- vras fonolégicas, as frases fonolégicas, as frases intonacionais © os enurfcia- dos fonologicos.2¢ Atualmente, com a sofisticagio e hierarquizacao das representagdes, Fonol6gicas — que passatam a ndo-lineares na medida em que explicitam, em varios niveis, a sintaxe dos clementos representativos dos dominios fo- nolégicos relevantes — os modelos fonolégicos gerativos tornaram-se de certa forma mais “especializadas”. Concluirei esta segio com 15 team da obra 6 citada de J. Goldsmith, ver também, pars uma melhor compreensio dees ‘modelos, Ru Hogg ¢ C. B. MacCully, Metrical Phonology « Coursebook (Londom: Cambrid- ie University Press, 1987) ¢ J. Durand, Generative and Non-Linear Phonology (London: L0ng- ‘aan, 1990). 16 Vejase M. Nespor € L. Vogel, Prosodic Phonology, (Dorérecht/Riverton: Foris Publications, 1986), paca wma apreseniaglo e dixcusso sitemstiea destes dominios pros6dicos na fonolo: gia. As aulorae argumentam Yuahém a favor de Um outro dominio, o dos grupos elices, que {em susitado algum debate na literatura expecializada Letras o9 STA MAA JANN 008 uma breve apresentagio de trés modelos representativos desse pensamen- to fonol6gico moderno. ‘A Fonologia Auto-segmental, desenvolvida a partir dos trabalhos de J. Goldsmith”, fo fortemente inspirada no estudo das Kinguas tonais. Os fatos relativos & associagiio des tons as sflabas foram usados por Goldsmith ‘como evidéncia de que os tons, por nfo screm propriedades de segmentos, devem ser “auto-segmentalizados”, ou seja, representados autanomamen- te em uma “camada” (tier) exclusiva. A partir de representagbes dessa natureza, as associagGes que sio estabelecidas entre os elementos das v4- rias camadas dessas representacbes fonol6gicis (agora, pois, multilinea- res!) permite 0 postulado de princfpios gerais e regras especificas, res- ponséveis, em altima anélise, pelos padrdes dc distribuigdo dos tons nos ‘enunciados. Uma abordagem auto-segmental semelhante & proposta para 6 tons logo se mostrou também a mais adequada, do ponto de vista da adequacao observacional ¢ explicativa, para a andlise da harmonia vocsi- ca e de muitos casos de nzsalieacdo, dado o escopo desses fendmenos, maior do que o segmento, A chamada Fonologia Métrica foi inaugurada, por assim dizer, pelo artigo de 1977 de M. Liberman e A. Prince, On Stress and Linguistic Rhythm.\8 Nesse artigo, 0s autores questionam a anélise linear do acento do inglés proposta no SPE e propéem que o acento, de modo geral, no deve ser atcibuido a segmentos, mas entendido como a proeminéncia de algumas sflabas que sio eolocadas em relagio umas com as outras, no do- minio de unidades prosddicas de extensio wariada. Esse pressuposto possi- bilitow a elaboragao de uma teoria métrica para explicat 0s sistemas acen tuais das linguas, que inclufa representagGes arbdreas portadoras de infor- macao hierarquizada sobre a relagio estabelecida, nos varios niveis, entre as sflabas, os pés, as palavras fonoldgicas, ¢ assim por diante em outros dominios prosSdicos. As chamadas drvores métricas ou drvores prasédicas sio representagdes que podem ser consideradas como estando na interfa- ce entre 0 componente sintitico © camponente fonol6gico. Podem set mapeadas em outras representacdes, as grades métricas, que explicitam 0 grau de proeminéncia atribuido # cada sflaba de um enunciado, condigio necesséria para uma anilise rigorosa do ritmo das linguas. Hii hoje uma certa controvérsia sobre s¢ apenas a grade métrica for- 17 Ver principaimente seu atigo de 1976, An overview of sutneymentl phonology (Linguistic Anat 223-68) ma es de Goutorhmento no MI, Autonegrtental Prolog (New YorE Garand Presi, slém da obra jé chia tntenormeste 18 Linguistic Inquiry 8, 249-236, Letras 23 SATA MAPA, BOUIN 8 neve as informagées suficiente para uma teoria do ritmo lingtifstico (enten- dido como um esquema particular de alternancias de acentos primérios € secundérios nos enunciados), ou se as regras ritmicas precisam ter aces- so as informagdes de natureza mais sintética contida nas rvores métricas, relativas as relagdes hierdrquicas entre 0s constituintes fonolégicos. Aqui, como em tantos outros casos em que a disputa tebrico-metodol6gica se instaura na fonologia atual, fica evidente o papel da argumentagdo e das, cevidencias na defesa das alternativas propostas.!? ‘A Fonologia Lexical é a versio mais claborada da aplicacao cfclica de regras no componente fonol6gico, jé antevista por Chomky & Halle no SPE, A preocupacao maior desse modelo est na explicitagao do mo- do de interago entre os provessos fonol6gicos, por um lado, € 0 modo Ge constituigio morfoldgica das palavras, por outro, tomando-se por ba- se 05 radicais e os morfemas que a cles podem associar-se. Assim, a partir das representagdes fonol6gicas subjacentes e do estabelecimento de clas- ses de afixos, postula-se a desivacao das representacdes lexicais de pala- vras de complexidade morfolégica variavel, com base na aplicagio ordena- da e seqiiencial de blocos de regras a estratos lexicais caracterizados pela classe ou classes de formemas que podem associar-se, em cada estrato, aos radicais. As representagSes lexicais assim derivadas esto sujeitas & aplicagao das regras ditas pas-lericais, responsaveis por ajustes fonéticos € prosédicos. As representagées lexicais interagem com as representagics do componente sintético, de forma a passibilitar que as regras pés-lexi- cais tenham acesso a informagdes de natureza sintitica®® Como se depreende dessas breves consideragdes sobre a fonologia auto-segmental, métrica e lexical, foi verdadeiramente extraordinésio 0 progresso do pensarsento fonoldgico pés-chomskiano. Isso nos permite concluir enfatizando 0 fato de que a ruptura de paradigma repsesentada 19 Para uma discussio claborada da Fonologia Métriea e das teorias modernas do acento nas n= (guas naturals, ver M. Hise & IR. Vergnaud, Am Essay on Sires, Cambridge, Mass: The MIT Pres, 1987, eB. Hayes, Metical Theor: Principles and Case Studies, UCLA (ale), 1991, sobre os pressupestos da Fonologia Lerical, ver os artigos de p. Kiparsky, Lexical Morpho- logy and Phonology (LS. ang, Org, Linguitics in she Morning Calm, SeOul: Hanshin, 1982) ‘e Some Consequeites of Lexical Puonology (Phonelogy Yearbook 2, 85.138. 1985). Ver ain- ‘4s P. Mohanan, The Theory of Lexical Phonology (Dordrecht: Reidel, 1986). Lerras Ml og ae AA, NIN O88 pela redefinigée do objeto de estudo da fonologia, na passagem do estru- turalismo para o gerativismo, possibilitou uma importante renovagiia teb- ica © metodolsgica no ambito da disciplina, com significativos avangos no poder explicativo dos modelos fonoligivos.2* 21 para uma comparagio do poder explicativo de anslics sltenativas de alguns dos do porta 20% tomandovee como quadro de referCncae a versio cisica dn fonologia geravs, por ti Indo, e por outr, modelos ito ineares de fonologa, ver L- Bisol, Aspectos da Fonolo 4 Alual (DELTA, vol. 8, 1,2, 268283. 1992), Para os leltores mais curious augto procurarinformapées também, sobre a gcometria de tragoeditingvos (G, N. Clements, Se Geometry of Phonological Features, Phonological Yearbook 2, 225-252. 1985). Qutra fascinante Uiscieso, 2 da sature2a dn interac eatee oF 5 € (onolbico da gramdtic, pode set encontrada no liv de E. Selkirk, ‘Symar The Welation between Sound and Structure (Cambridge, Mast: Toe

Vous aimerez peut-être aussi