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Roberto – Sociologia
(...)Retomando discussão acerca do livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (SBH)...na
1ª escrita na metade do sec. XX.
Nesta obra ele aplicava a realidade brasileira à análise “Weberiana “sobre os três tipos puros de
dominação legítimos, a lembrar:
-Dominação Legal;
-Dominação tradicional
(em suas duas formas, 1-dominação patriarcal; 2-estamental);
-Dominação carismática;
Sérgio Buarque diz que na nossa realidade o tipo de dominação legal não se completa, e que
sobrevivem entre nós, formas tradicionais e carismáticas de dominação, isso se deveria ao fato de
termos herdado de portugal e espanha, aquilo que ele chama de “cultura da personalidade”, uma
cultura de valorização da pessoa (não todas as pessoas, não de quaisquer pessoas igualitariamente,
não as pessoas em igualdade perante a lei, não), ou algumas pessoas que reúnem em torno de si,
símbolos, signos de distinção social, vide exemplo do “VIP”, aquela pessoa que passa à frente dos
outros, que se destaca por trazer consigo símbolos de distinção, e que portanto, está (ou estaria)
acima da lei, ou além da lei. Nessa cultura da personalidade por exemplo, qualquer forma de
limitação do livre arbítrio, era vista com desconfiança, considerando que a cultura da personalidade
consistia na cultura na “não regulação”, da “não ordem”, a priori, aparentemente uma cultura de
“liberdade total”.
Mas era uma cultura de uma terra de barões, e portanto, de uma terra em que acordos
coletivos duráveis não eram possíveis, ou não são possíveis (concordam?).
Por quê? Pelo fato: Barões, não se submetem a normas, acordos. Barões se submetem a vontade
irrestrita dos próprios barões. Entre nós, portanto, as formas legais de dominação legítima e os seus
princípios de hierarquia, eficiência, competência, ...não se realizariam completamente. As formas
tradicionais e carismáticas seriam portanto hegemônicas (preponderantes).
E SBH escreve a obra, produzindo portanto uma crítica a essa realidade “tradicionalesca” e
concomitantemente uma crítica a Getúlio Vargas, que seria a personificação “baronal”, coronelista,
de tal realidade.
Na obra de SBH, há a suposição de que o estado moderno, ou a emergência disso que nós
conhecemos por estado moderno, requer a transgressão da ordem doméstica e familiar. Esse estado,
exigiria um rompimento com a noção de família, ou com o modo como a família administra suas
relações. O estado moderno, sendo o estado da igualdade de todos perante a lei (Para Marx seria um
fetichismo), segundo Weber, a ordem familiar e a ordem doméstica não teriam relevância, por que
não importa ser parente de alguém, ou amigo de outro alguém, essas relações pessoais (típicas da
ordem familiar, não tem importância para o estado moderno. Este estado, típico da dominação legal,
requer portanto, a dominação legal, requer portanto, a transgressão, o rompimento, a quebra, a
ruptura com a ordem doméstica e familiar, de modo que no estado moderno haveria um triunfo do
geral (da igualdade de todos perante a lei, ou menos desse discurso) sobre o particular (os interesses
particulares), haveria por conseguinte, virtudes que seriam consagradas como contrárias a família
(antifamiliares). Enquanto na família operaria o afeto, a pessoalidade, a hierarquia fundada no
“pater” por exemplo, no estado moderno, não!
Os princípios característicos de dominação legal seriam virtudes antifamiliares (a
competência, a impessoalidade, a hierarquia, a eficiência) [chave explicativa para o estado moderno,
portanto para a dominação legal]. Entre nós, entretanto isso não se realizaria.
Nosso estado nunca foi capaz de arregimentar esses princípios, pois nunca valorizamos as
virtudes destacadas anteriormente, nem promovemos uma transgressão da ordem doméstica e
familiar.
O estado moderno e a dominação legal nunca se completaram. Porque entre nós, vigorou
aquele cultura à personalidade que nós herdamos de Portugal e Espanha que se emblematizam
numa figura que SBH chama de “o homem cordial” (HC), que é o título do primeiro capítulo a ser
lido em “Raízes do Brasil”, e “novos tempos” o outro capítulo da mesma obra. HC seria uma expressão
que SBH aplicaria a nós. Seríamos então, cordiais, segundo SBH, vivenciando a “cordialidade”, mas
não são elogios à “brasilidade” (modo brasileiro de existir), seriam críticas profundas à nossa forma
de viver em sociedade. Quando SBH se refere a nós como HC, ele está criticando o país (cordial =
homem do cordis – coração). São pessoas que tentam a todo custo, aproximar de si, portanto do
coração, relações que a priori, de antemão, de início seriam distantes, impessoais, públicas, são
convertidas a partir de um esforço cotidiano de “afetualização”, em relações muito próximas, intimas,
pessoalizadas, o HC portanto, seria aquele que tenta aproximar de si, relações que seriam de
antemão, distantes, que tenta pessoalizar essas relações. Ex.: a priori, a relação professor-aluno
deveria ser bem distante. No entanto, o tratamento diferenciado é uma forma de pessoalizar a
relação, que seria até de autoridade. (cita o exemplo de “dona Carminha” e a certidão para a posse).
Explicando: Como a dominação legal nunca se completou em razão da reprodução das formas
tradicionais de dominação, a ideologia impessoal do liberalismo nunca teve lugar entre nós. Segundo
os critérios de Weber, se não há impessoalidade, nunca poderá haver dominação legal, portanto não
pode haver igualdade de todos perante a lei, e portando, não pode haver democracia. De modo que,
entre nós, a democracia nunca passou de um mal entendido.
E isso era afirmado contra Getúlio Vargas, sobretudo. Porque era alguém democraticamente eleito, e
se manteve no poder de modo autoritário, voltando a liderar (antes do “suicídio”) mais uma vez
democraticamente.