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06/11/2014 – Aula Prof.

Roberto – Sociologia

(...)Retomando discussão acerca do livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda (SBH)...na
1ª escrita na metade do sec. XX.
Nesta obra ele aplicava a realidade brasileira à análise “Weberiana “sobre os três tipos puros de
dominação legítimos, a lembrar:
-Dominação Legal;
-Dominação tradicional
(em suas duas formas, 1-dominação patriarcal; 2-estamental);
-Dominação carismática;
Sérgio Buarque diz que na nossa realidade o tipo de dominação legal não se completa, e que
sobrevivem entre nós, formas tradicionais e carismáticas de dominação, isso se deveria ao fato de
termos herdado de portugal e espanha, aquilo que ele chama de “cultura da personalidade”, uma
cultura de valorização da pessoa (não todas as pessoas, não de quaisquer pessoas igualitariamente,
não as pessoas em igualdade perante a lei, não), ou algumas pessoas que reúnem em torno de si,
símbolos, signos de distinção social, vide exemplo do “VIP”, aquela pessoa que passa à frente dos
outros, que se destaca por trazer consigo símbolos de distinção, e que portanto, está (ou estaria)
acima da lei, ou além da lei. Nessa cultura da personalidade por exemplo, qualquer forma de
limitação do livre arbítrio, era vista com desconfiança, considerando que a cultura da personalidade
consistia na cultura na “não regulação”, da “não ordem”, a priori, aparentemente uma cultura de
“liberdade total”.
Mas era uma cultura de uma terra de barões, e portanto, de uma terra em que acordos
coletivos duráveis não eram possíveis, ou não são possíveis (concordam?).
Por quê? Pelo fato: Barões, não se submetem a normas, acordos. Barões se submetem a vontade
irrestrita dos próprios barões. Entre nós, portanto, as formas legais de dominação legítima e os seus
princípios de hierarquia, eficiência, competência, ...não se realizariam completamente. As formas
tradicionais e carismáticas seriam portanto hegemônicas (preponderantes).

E SBH escreve a obra, produzindo portanto uma crítica a essa realidade “tradicionalesca” e
concomitantemente uma crítica a Getúlio Vargas, que seria a personificação “baronal”, coronelista,
de tal realidade.
Na obra de SBH, há a suposição de que o estado moderno, ou a emergência disso que nós
conhecemos por estado moderno, requer a transgressão da ordem doméstica e familiar. Esse estado,
exigiria um rompimento com a noção de família, ou com o modo como a família administra suas
relações. O estado moderno, sendo o estado da igualdade de todos perante a lei (Para Marx seria um
fetichismo), segundo Weber, a ordem familiar e a ordem doméstica não teriam relevância, por que
não importa ser parente de alguém, ou amigo de outro alguém, essas relações pessoais (típicas da
ordem familiar, não tem importância para o estado moderno. Este estado, típico da dominação legal,
requer portanto, a dominação legal, requer portanto, a transgressão, o rompimento, a quebra, a
ruptura com a ordem doméstica e familiar, de modo que no estado moderno haveria um triunfo do
geral (da igualdade de todos perante a lei, ou menos desse discurso) sobre o particular (os interesses
particulares), haveria por conseguinte, virtudes que seriam consagradas como contrárias a família
(antifamiliares). Enquanto na família operaria o afeto, a pessoalidade, a hierarquia fundada no
“pater” por exemplo, no estado moderno, não!
Os princípios característicos de dominação legal seriam virtudes antifamiliares (a
competência, a impessoalidade, a hierarquia, a eficiência) [chave explicativa para o estado moderno,
portanto para a dominação legal]. Entre nós, entretanto isso não se realizaria.
Nosso estado nunca foi capaz de arregimentar esses princípios, pois nunca valorizamos as
virtudes destacadas anteriormente, nem promovemos uma transgressão da ordem doméstica e
familiar.
O estado moderno e a dominação legal nunca se completaram. Porque entre nós, vigorou
aquele cultura à personalidade que nós herdamos de Portugal e Espanha que se emblematizam
numa figura que SBH chama de “o homem cordial” (HC), que é o título do primeiro capítulo a ser
lido em “Raízes do Brasil”, e “novos tempos” o outro capítulo da mesma obra. HC seria uma expressão
que SBH aplicaria a nós. Seríamos então, cordiais, segundo SBH, vivenciando a “cordialidade”, mas
não são elogios à “brasilidade” (modo brasileiro de existir), seriam críticas profundas à nossa forma
de viver em sociedade. Quando SBH se refere a nós como HC, ele está criticando o país (cordial =
homem do cordis – coração). São pessoas que tentam a todo custo, aproximar de si, portanto do
coração, relações que a priori, de antemão, de início seriam distantes, impessoais, públicas, são
convertidas a partir de um esforço cotidiano de “afetualização”, em relações muito próximas, intimas,
pessoalizadas, o HC portanto, seria aquele que tenta aproximar de si, relações que seriam de
antemão, distantes, que tenta pessoalizar essas relações. Ex.: a priori, a relação professor-aluno
deveria ser bem distante. No entanto, o tratamento diferenciado é uma forma de pessoalizar a
relação, que seria até de autoridade. (cita o exemplo de “dona Carminha” e a certidão para a posse).

Cordialidade é então, a conversão (afetualização) de relações a priori impessoais em pessoais,


para dessa forma aproximar de si, do coração. Pessoalizando o espaço público. O HC, seria a figura
brasileira, segundo SBH, ou seja, o contrário do que se exige para o estado moderno. O HC tem pavor
da impessoalidade, pavor da vida em sociedade, se esta vida não for “domesticizada”, ou seja, se ele
não for, no espaço público, tratado com o carinho e afeto que seriam próprios à ordem doméstica,
isso aconteceria, segundo SBH, porque entre nós, imperou o tipo de família patriarcal, o que
possibilitou a reprodução das formas tradicionais de dominação, e portanto, impossibilitou a
consolidação das formas legais de dominação. Esta figura, o homem cordial, nos espaços
burocráticos, nas empresas e nos estados, seria compreendido como o funcionário patrimonial (tipo
Dona Carminha), aquele que trata o público como se privado fosse, é aquele que impede o triunfo do
geral sobre o particular, por tratar aquilo que seria geral, em (como) algo seu. Toda disponibilidade
de dona carminha, em possibilitar o meu acesso (que era um direito) a uma certidão, deveu-se à
capacidade de conquista. Há ai, o exercício do “carisma”, a pessoalização da relação, pois dona
carminha, muito feliz com o fato de ter sido elogiada, possibilitou que o trabalho fosse feito. Estaria
em Dona Carminha, então, a personificação do funcionário patrimonial, que opera sob o privado e
o doméstico, ou o famoso “jeitinho brasileiro”. É difícil você não ter que lidar com isso. Esse “jeitinho
brasileiro” é, na verdade a mesma raiz da corrupção, pois o sentido é o mesmo. E a situação piora
quando a “corrupção” é legal. Só para citar como exemplo, altas patentes que legislam em causa
própria, conseguindo para si aumentos desproporcionais à realidade do país.
A cordialidade é íntima, “siamesa” da corrupção, o trato da pessoalidade faz com que muitas
pessoas passem na frente das outras pelo carinho, pelo afeto, pela cortesia, pela cordialidade, por isso
é “siamês” da prática da corrupção, pois no fim das contas é corrupção, por dar-se consequência a
algo que nas condições normais não seria possível. A tradição de nosso serviço público é de trabalhar
pela inércia. Geralmente quando se pede em um balcão de um serviço público, algo que não está
previsto no cotidiano, a pessoa dirá não! E ligar pra tentar descobrir ou dar informação, é muito
raro. Outro exemplo se dá quando se vai in loco tratar de movimentação de processo no judiciário.
Ligar e ser atendido de maneira adequada é improvável, a dificuldade é imensa em se obter o serviço
desejado. Tenta-se conseguir dizendo-se ser “doutor advogado”, ou seja, outra pessoalidade.
Se observando a norma, tem-se que a impessoalidade, eficiência, competência, hierarquia,
e o próprio (respeito à norma), ao serem aplicados, levaria, em muitos casos à negação ou
indeferimento da solicitação.
Haveria entre nós, Brasileiros, portanto, uma ética de fundo afetivo, e desta forma,
pessoalizante, que se baseia na indiferença à lei geral.
O emprego do sufixo “inho” seria por sua vez um emblema a isso (Dona Carmen = Dona
Carminha). Ao apelidar com diminutivo, por exemplo, cria-se outro grau de relação, que facilita o
trânsito, logo, eu reproduzo uma ética de fundo afetivo.
Haveria, segundo SBH, entre nós, duas características que seriam fundamentais para essa
cordialidade:
A praga do bacharelismo e o manualismo. Sendo o primeira relacionada ao que seria a
exaltação dos bacharéis. As pessoas entravam na faculdade de direito (na primeira metade do século
XX) para adquirir o título de bacharel, se transformando quase que automaticamente em Bacharel,
cujo anel promovia distinções sociais para o sujeito que o portava. (Isso é descrito no livro “menino
de engenho”), os filhos dos proprietários iriam para as faculdades para adquirir uma formação
burocrática intelectual, a fim de voltarem para suas cidades e ocupar cargos, na prefeitura, estado,
enfim, cargos burocráticos e políticos, com o intuito de defender os interesses da propriedade do ovô,
ou ascendente familiar. Essa praga do bacharelismo é uma forma de provocar distinções sociais,
então o sujeito que é “doutor” é alguém diferenciado, e acessa cargos e posições sociais sem maior
esforço (era certo que o sujeito, ao se formar na faculdade de direito, teria seu cargo esperando na
prefeitura, no banco, ou qualquer órgão público. Note que no nosso país, médicos por serem médicos,
e advogados por serem advogados são “doutores”. A cultura da personalidade pode se dar pela
cordialidade ou por imposição violenta.
A segunda parte refere-se a um revés, ou uma contraparte do bacharelismo, que SBH chama
de “manualismo”, que vem de “manual” ou “ter à mão”. É a prática de estudar por manuais e,
havendo um manual para cada cadeira, e cada disciplina cobra em prova o que está escrito no livro
(no manual) que tem tudo sobre o tema que ele se propõe a tratar.
Ao ler o manual, supõe-se “saber” sobre tudo que nele está contido. Isto é o manualismo, que
nada mais é do que características de formas de exaltação da personalidade individual, ou da cultura
da personalidade. (O Anel e o título significaria dizer que o bacharel tem acesso a uma gama de
conhecimentos que a priori dão conta de entender tudo). Ex.: juiz – figura que pode decidir sobre
qualquer coisa.
Através de sua competência “Manualesca e bacharelesca para decidir sobre tudo”, sua
personalidade estaria mais do que exaltada.
Haveria ainda uma terceira parte que SBH chama de positivismo à brasileira. Lembrando
que os positivistas foram os segundos intelectuais orgânicos da burguesia. Seriam sujeitos que
estavam dispostos a produzir uma análise da sociedade que dessem conta dos problemas que dela
emergiam, naquele contexto histórico. Para dar conta desses problemas, eles pretendiam aplicar um
método seguro, neutro, sobre a sociedade, de modo análogo, paralelo, com o que os cientistas naturais
faziam com as questões da natureza. A sociologia seria uma “física social” segundo Auguste Comte.
Os intelectuais brasileiros em sua formação, leram esses positivistas e se “apaixonaram” pelos
mesmos, avidamente (vide as palavrinhas presentes na nossa bandeira – “Comtiana”). O detalhe é
que aquele positivismo existente em seu nascedouro (Europa), era de tal forma, preocupado com a
sociedade que ali existia, e que queria regular, ordenar a sociedade. Já o nosso, não! O positivismo à
brasileira, tinha horror à realidade. Teoricamente “bebiam” dos positivistas franceses, mas com a
realidade dos fatos eles não estavam nem um pouco dispostos a entram em confronto, de modo que
eram idealistas, ou, “teoricistas” ao extremo. De modo que “ordem e progresso” cabiam na bandeira,
mas, só na bandeira, pois uma preocupação com a pobreza, miséria e escravidão, tão presentes em
nosso país, pouco importava para essas pessoas. Esse seria um cenário típico daquela época. Os
romances da época, que se “emblematizam” em trabalhos como “o guarani” se forjam a partir de
idealismos, por exemplo, peri que é o herói nacional do guarani, o “índio perfeito”, e ceci que é sua
amada, são personagens idealizados, sem concretude alguma, sendo peri, quase “embranquiçado”,
ou, herói modelo europeu. E que, por José de Alencar ser brasileiro e ter escrito o livro no brasil, esse
herói era um índio, mas poderia ser um astronauta. Há ali uma idealização, a qual só se romperia
por Aluízio Azevedo em “O Cortiço” que apresenta o contrário da idealização, ali está a “sujeira”
(cretinice, mediocridade) de que somos feitos. Essa ruptura se dá também, mesmo que de modo mais
sutil com Machado de Assis, em “Dom Casmurro”.
O positivismo à brasileira, portanto, seria idealizador, exercendo uma “fuga” da realidade
(não estava disposto ao seu encontro).
Há duas frases importantíssimas, que consubstanciarão uma questão da prova.
“A ideologia (ideia, principio) impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre nós”.
“A democracia no brasil sempre foi um lamentável mal entendido”.

Explicando: Como a dominação legal nunca se completou em razão da reprodução das formas
tradicionais de dominação, a ideologia impessoal do liberalismo nunca teve lugar entre nós. Segundo
os critérios de Weber, se não há impessoalidade, nunca poderá haver dominação legal, portanto não
pode haver igualdade de todos perante a lei, e portando, não pode haver democracia. De modo que,
entre nós, a democracia nunca passou de um mal entendido.
E isso era afirmado contra Getúlio Vargas, sobretudo. Porque era alguém democraticamente eleito, e
se manteve no poder de modo autoritário, voltando a liderar (antes do “suicídio”) mais uma vez
democraticamente.

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