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A ata que muitos professores gostariam de escrever…

“Relativamente ao aproveitamento, o Conselho de Turma caracterizou-o como hilariante, uma


vez que os níveis atribuídos pouco têm a ver com o desempenho dos alunos, mas sim com
outros fatores, nomeadamente: o desejo de nunca mais os ver na sala de aula, o que se
conseguirá se transitarem todos para o ciclo seguinte; a necessidade de cumprir as anedóticas
metas de sucesso, de forma a evitar o paleio justificativo no relatório de avaliação de
desempenho e demais documentação; a vontade de evitar recursos por três ou quatro
encarregados de educação, previamente referenciados pelo conselho de turma como “carraças
parentais obcecadas com a entrada dos descendentes para o curso de medicina” [soou uma
gargalhada geral].

Os docentes de Expressões acrescentaram que também não têm vontadinha nenhuma de


aturar os comentários infelizes de vários quadrantes sobre a importância das suas áreas
curriculares, pelo que o nível mínimo que atribuíram foi quatro, este para penalizar o Zezinho
por nunca ter levado sapatilhas para Educação Física, nem papel e lápis para Educação Visual.

A docente de Inglês esclareceu que mais de metade da turma não distingue ainda “yes” de
“no”, mas que lhe é impossível chumbar toda essa gente, com medo do que poderá acontecer
[nesse momento, fez-se silêncio temeroso].

As docentes de Matemática e de Português desataram em prantos, lembrando-se da


discrepância que certamente existirá entre avaliação interna e notas dos exames nacionais,
impedindo-as de se manterem camufladas na “bondade avaliativa” como os demais [soaram
exclamações de compreensão e comiseração]. A docente de Matemática classificou ainda de
“melgas inúteis” os pais e demais parentes que acompanham vários alunos na realização dos
TPC e que os instruem no sentido de pôr em causa tudo o que acontece nas suas aulas, embora
a maioria nem o nono ano tenha concluído [interjeições de concordância], ao passo que a
docente de Português desabafou que às vezes tem ganas de imitar Espanca, só para não ter
que voltar a ler a ramboia de disparates e facadas na bela Língua Lusitana. Nessa altura, a
professora de Educação Visual contou que fora interpelada na rua pela mãe da Tikinha, que lhe
explicara que a desconcentração da criança se devia à sua tendência artística e sonhadora
[mais galhofa].

Os docentes de Ciências Naturais e de Ciências Físico Químicas explicaram ao conselho que, no


âmbito da interdisciplinaridade, tinham decidido uniformizar os critérios de avaliação, a saber:
nível três para quem tivesse pulsação, nível quatro para quem também respirasse sozinho e
nível cinco para quem emitisse cumulativamente sons [olhares de admiração].

As docentes de História e Geografia declararam que não abdicavam dos seus princípios, pelo
que tinham atribuído nível dois a um aluno que nunca compareceu [silêncio constrangedor]. O
diretor de turma sugeriu que se alterasse para “dois mais”, o que mereceu concordância de
todos, quanto mais não fosse para não terem que aturar os chiliques pedagógicos do Gabinete
de Psicologia.”

(…)

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