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25/08/2017 As mulheres de 1917 // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo

As mulheres de 1917 // Especial Revolução Russa

As mulheres não foram apenas a “centelha” da


Revolução Russa, mas a força motriz que a impulsionou.

Publicado em 14/06/2017 // 2 comentários

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25/08/2017 As mulheres de 1917 // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo

Por Megan Trudell.

No Dia Internacional das Mulheres em 1917, mulheres tecelãs no distrito de Vyborg, em Petrogrado,
entraram em greve, saíram das fábricas e se dirigiram às centenas, de fábrica em fábrica, chamando
operárias e operários para a greve e se envolvendo em violentos confrontos com a polícia e com os
soldados.

Sem qualificação, com baixa remuneração, trabalhando de doze a treze horas por dias em condições
de higiene precárias e insalubres, as mulheres exigiram solidariedade e ação por parte dos homens,
especialmente daqueles que trabalhavam com engenharia qualificada e em fábricas metalúrgicas, que
eram tidos como os politicamente mais conscientes e a força de trabalho socialmente mais poderosa
da cidade. As mulheres jogaram paus, pedras e bolas de neve nas janelas das fábricas e forçavam sua
entrada nos lugares de trabalho, pedindo pelo fim da guerra e pelo retorno de seus homens que
estavam no front.

De acordo com muitos contemporâneos e historiadores, essas mulheres que se revoltaram pelo pão –
usando métodos tradicionais e “primitivos” de protesto social para demandas puramente
econômicas, agindo a partir da emoção ao invés da formação teórica – inadvertidamente deram início
à tempestade que varreu o czarismo, antes de desaparecerem por de trás dos batalhões de
trabalhadores e de seus partidos políticos dominados por homens.

Já no início das greves de fevereiro, foram tecidas palavras de ordem políticas contra a guerra em
meio aos protestos. A audácia, determinação e os métodos das mulheres deixaram claro que elas
compreendiam a raiz de seus problemas, assim como a necessidade de uma unidade entre os
trabalhadores e de convencer os soldados que estavam longe, protegendo o Estado czarista, a apoiar a
revolta. Mais tarde, Trotsky registrou:

“As mulheres trabalhadoras desempenham um importante papel na relação entre trabalhadores e soldados.
Elas sobem até os cordões com mais coragem do que os homens, agarram os rifles, suplicam, praticamente
ordenam: “Abaixem suas baionetas – juntem-se a nós”. Os soldados estão empolgados, envergonhados,
trocam olhares ansiosos, vacilam; alguém se decide primeiro e as baionetas se levantam com ares de culpa
por cima dos ombros da multidão que avança”.

No final de 23 de fevereiro, soldados que faziam guarda nos depósitos de bondes foram convencidos
pelas trabalhadoras do setor a se juntarem a elas dentro do prédio, e os bondes foram virados para
serem usadoscomo barricadas contra a polícia. Conquistar os soldados não foi simplesmente um
resultado do crescente fardo da guerra contra as tropas ou da infecciosa “espontaneidade” dos
protestos. Desde 1914, tecelãs relacionavam-se com o grande número de soldados, principalmente os
de origem camponesa em Petrogrado. Homens em quartéis e mulheres em fábricas, vindos das
mesmas regiões para a cidade, conversavam e estreitavam relações, esmaecendo as divisõe s entre
trabalhadora e soldado e fornecendo às trabalhadoras uma clara compreensão da necessidade de
apoio armado.

As trabalhadoras estavam firmes na vanguarda da Revolução de Fevereiro, que culminou na


destruição do czarismo. As mulheres não foram meramente uma “centelha”, mas a força motriz que a
impulsionou – apesar da desconfiança inicial de muitos trabalhadores e revolucionários homens.

Geralmente, a Revolução de Fevereiro é descrita como “espontânea” e, em certo sentido, isso é


verdade: ela não foi planejada e executada por revolucionários. Mas espontaneidade não era o
mesmo que falta de consciência política. As experiências das mulheres que invadiram as fábricas em

Petrogrado, tanto como trabalhadoras quanto como chefes de


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25/08/2017 As mulheres de 1917 // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo

Petrogrado, tanto como trabalhadoras quanto como chefes de famílias forçadas a permanecerem por
horas em filas para alimentar suas famílias, acabaram com a distinção entre a demanda “econômica”
pelo pão e a pressão política para por fim à guerra. As circunstâncias materiais colocaram a culpa
pela fome e a pobreza aonde ela pertencia: na guerra e nos políticos que a conduziam. Tais demandas
não poderiam ser alcançadas sem mudanças políticas sísmicas.

Além disso, as mulheres bolcheviques eram fundamentais para a greve, tendo trabalhado
arduamente para organizar as trabalhadoras sem qualificação ao longo dos anos, apesar da postura
dos homens de seu próprio partido. Para eles, a organização das mulheres era, no mínimo, uma
distração da luta contra o czarismo e, na pior das hipóteses, jogar o jogo das feministas da elite, que
afastariam as mulheres para longe da luta de classes.

Muitos homens no movimento revolucionário sentiam que os protestos do Dia Internacional da


Mulher eram prematuros e que as mulheres trabalhadoras deveriam ser freadas até que os
trabalhadores qualificados estivessem prontos para agirem decivisvamente. Foram as mulheres
membras do partido, minoria dentro dele, que defenderam uma reunião no distrito de Vyborg,
chamando as trabalhadoras para discutirem a guerra e a inflação e as mulheres ativistas, que
chamaram por uma manifestação contra a guerra para o Dia Internacional da Mulher. Uma delas foi
Anastasia Deviatkina, bolchevique e operária que organizou um sindicato para as esposas de
soldados após a Revolução de Fevereiro.

Depois de fevereiro, as mulheres desaparecem da maioria dos relatos sobre o desenvolvimento da


Revolução ao longo de 1917. As exceções são algumas mulheres revolucionárias bastante conhecidas,
como Alexandra Kollontai, Nadezhda Krupskaia e Inessa Armand, muitas vezes discutidas tanto por
sua vida privada como esposas e amantes, quanto por sua atividade prática e contribuições teóricas.

As mulheres estavam ausentes principalmente dos órgãos administrativos que emergiam das cinzas
do czarismo. Poucas eram representantes nos conselhos das aldeias, delegadas na Assembléia
Constituinte ou mesmo como delegadas do Soviete de Petrogrado. As eleições para os comitês de
fábricas eram dominadas por homens, que eram eleitos delegados até em indústrias onde as
mulheres trabalhadoras eram maioria. Havia duas razões para isso e elas se relacionavam: as
mulheres ainda tinham a tarefa de alimentar suas famílias em circunstâncias precárias e, além disso,
careciam de confiança e de educação, bem como de tempo, para se colocarem à frente nos altos níveis
de atividade política, ou mesmo para se manter neles. As maneiras como as mulheres trabalhadoras
viviam na Rússia durante séculos, a realidade material de sua opressão, limitaram sua capacidade em
combinar o inquestionável aumento de sua consciência política com o seu engajamento político

A Rússia de antes de 1917 era uma sociedade predominantemente camponesa; a autoridade total do
czar era consagrada e reforçada pela Igreja e se refletia na instituição da família. O casamento e o
divórcio estavam sob controle religioso; as mulheres eram legalmente subordinadas, consideradas
como propriedades e menos do que humanas. Provérbios russos comuns incluíam formulações como:
“Pensei ter visto duas pessoas, mas era apenas um homem e sua esposa”.

O poder masculino sobre a unidade doméstica era total e esperava-se das mulheres que aceitassem
condições brutais, passadas de pai para marido e que as fazia frequentemente alvo de violência
sancionada. As mulheres camponesas e operárias enfrentavam um trabalho penoso e árduo nos
campos e fábricas, com o considerável fardo adicional de cuidar das crianças e das responsabilidades
domésticas, isso numa época em que o parto era difícil e perigoso, que a contracepção era inexistente
e que a mortalidade infantil era elevada.

No entanto, o envolvimento político das mulheres em 1917 não veio do nada. A Rússia era uma
contradição: ao lado da profunda pobreza, opressão e tirania sofrida pela maioria de seu povo, a
economia russa crescera nas décadas anteriores a 1905. Enormes e modernas fábricas produziam

armas e tecidos, ferrovias conectavam cidades que cresciam


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25/08/2017 As mulheres de 1917 // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo

armas e tecidos, ferrovias conectavam cidades que cresciam rapidamente e investimentos e técnicas
vindas da Europa levaram a enormes aumentos da produção de ferro e de petróleo.

Essas dramáticas mudanças econômicas geraram uma imensa transformação social nos anos
anteriores à Primeira Guerra Mundial: um crescimento no número de mulheres camponesas
migrando para as fábricas urbanas, impelidas pela pobreza e encorajadas por patrões cuja intensa
mecanização fabril gerava ainda mais empregos não qualificados. A preferência deles por
trabalhadores “submissos” levou a um gigantesco crescimento no número de mulheres trabalhando
na produção de linho, seda, algodão, lã, cerâmica e papel.

As mulheres haviam participado das greves nas fábricas têxteis em 1896, em protestos contra o
recrutamento militar antes da guerra russo-japonesa e – de maneira decisiva – na Revolução de 1905,
quando trabalhadoras não qualificadas de fábricas têxteis, de tabaco e de doces, juntaram-se às
trabalhadoras domésticas e de lavanderia, entrando em greve e tentando formar seus próprios
sindicatos como parte da revolta maciça que ocorria.

O impacto da Primeira Guerra Mundial foi decisivo para aumentar o peso econômico e político das
mulheres. A guerra destruiu famílias e suspendeu a vida das mulheres. Milhões de homens estavam
ausentes, lutando no front, ou mesmo feridos ou mortos. As mulheres, por sua vez, se viram forçadas
a trabalhar a terra sozinhas, chefiar os lares e integrar a força de trabalho urbana. As mulheres eram
26,6% da força de trabalho em 1914; e quase metade (43,4%) em 1917. Mesmo em áreas que exigiam
qualificação, a participação das mulheres aumentou significativamente. Em 1914, as mulheres
somavam apenas 3% dos trabalhadores da metalurgia; em 1917, o número subiu para 18%.

Na situação da divisão de poder entre o governo provisório e o Soviete, após a Revolução de


Fevereiro, os protestos das mulheres não desapareceram, mas passaram a fazer parte do processo que
viu o apoio dos trabalhadores mudar do governo para o Soviete e, no interior do Soviete, da liderança
socialista moderada da coalizão Mencheviques-Socialistas Revolucionários para os Bolcheviques em
setembro.

As expectativas de trabalhadoras e trabalhadores de que suas vidas melhorariam com a queda do


czar foram frustradas pelo governo e pela continuidade da guerra por parte da liderança do Soviete.
Em maio, os protestos contra a guerra haviam forçado a dissolução do primeiro governo provisório e
os líderes Mencheviques-SR haviam formado um governo de coalizão com os liberais – que ainda
estavam dedicados à guerra. A desilusão dos trabalhadores levou a novas greves, novamente
lideradas por mulheres. Cerca de quarenta mil trabalhadoras de serviços de lavanderia, membras de
um sindicato liderado pela bolchevique Sofia Goncharskaia, entraram em greve por melhor
pagamento, jornada de oito horas e melhorias nas condições de trabalho: melhores condições de
higiene no trabalho, benefícios de maternidade (era comum que as trabalhadoras escondessem a
gravidez até darem à luz no chão da fábrica) e fim ao assédio sexual. Como descrevem as
historiadoras Jane McDermid e Anna Hillyer:

“Junto com outras militantes do sindicato, Goncharskaia ia de lavanderia em lavanderia persuadindo as


mulheres a participarem da greve. Elas enchiam baldes com água fria para apagar os fornos. Em uma
lavanderia, o proprietário atacou Goncharskaia com um pé-de-cabra; ela foi salva pelas lavadeiras que o
agarraram pelas costas”.

Em agosto, diante das tentativas do general Kornilov de esmagar a revolução, as mulheres se uniram
à defesa de Petrogrado, construindo barricadas e organizando a assistência médica. Em outubro, as
mulheres do partido Bolchevique se envolveriam na prestação de assistência médica, nas
comunicações cruciais entre as localidades, algumas inclusive tinham a responsabilidade de

coordenar o levante em diferentes áreas de Petrogrado e


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coordenar o levante em diferentes áreas de Petrogrado e havia também mulheres membras da


Guarda Vermelha. McDermid e Hillyer descrevem o envolvimento de outra mulher bolchevique em
outubro:

“A condutora de bonde, A.E. Rodionova, tinha escondido 42 rifles e outras armas em seu depósito quando o
Governo Provisório tentou desarmar os trabalhadores após os dias de julho. Em outubro, ela foi responsável
por garantir que dois bondes com metralhadoras partissem do depósito para o assalto ao Palácio de Inverno.
Ela teve de garantir o funcionamento do serviço de bondes durante a noite de 25 para 26 de outubro para
auxiliar na tomada do poder e verificar os postos da Guarda Vermelha por toda a cidade”.

A trajetória da revolução ampliou o fosso entre as trabalhadoras – para quem a guerra foi a causa de
suas dificuldades e cujos apelos à paz cresceram mais com o passar do ano – e as feministas – que
continuaram a apoiar o derramamento de sangue. Para a maioria das feministas liberais da elite, a
igualdade perante a lei e na educação, assim como a reforma social, seriam conquistadas se
permanecessem leais ao novo governo e ao esforço de guerra. Demonstrar patriotismo seria o
caminho para ganhar um assento na mesa.

A Revolução de Fevereiro conduziu a uma renovada campanha feminista pelo sufrágio universal, um
significativo passo à frente quando ele foi concedido, em julho de 1917. Para a maioria das mulheres,
no entanto, o direito ao voto fazia pouca diferença em suas vidas, ainda dominadas pela escassez,
pelas longas jornadas de trabalho e por batalhas para manterem suas famílias unidas. Como escreveu
Kollontai em 1908:

“Apesar das demandas aparentemente radicais, não se deve perder de vista que as feministas não podem,
devido a sua posição de classe, lutar pela transformação fundamental da estrutura econômica e social
contemporânea da sociedade, sem a qual não pode haver libertação plena das mulheres”.

Para a maioria das mulheres operárias e camponesas, opressão e igualdade não eram questões
abstratas, mas emergiam concretamente do processo de luta por melhorias em suas vidas e nas de
seus homens e crianças. Aquelas que voltarem-se para a política e eram mais confiantes, muitas vezes
membras do Partido Bolchevique, assim tornaram-se como resultado de sua própria ação coletiva
contra a guerra e os políticos – ação centrada na oposição à fome, à guerra e à propriedade privada da
terra. Robert Service argumenta que:

“O programa político Bolchevique mostrou-se cada vez mais atraente para a massa de operários, soldados e
camponeses à medida que a turbulência social e a ruína econômica atingiram o clímax no final do outono.
Mas o programa, por si só, não era suficiente para levar à Revolução de Outubro”.

Essas experiências foram vividas tanto pelas mulheres operárias, camponesas e esposas de soldados
quanto suas contrapartes masculinas. Sem o apoio das trabalhadoras não qualificadas em Petrogrado,
a insurreição de Outubro não teria ocorrido.

O apoio aos bolcheviques não era cego, mas sim o resultado, nas palavras de Trotsky, de “uma
cautelosa e dolorosa tomada de consciência” por milhões de trabalhadoras e trabalhadores. Em
outubro, tudo já havia sido tentado: o Governo Provisório e os Mencheviques os traíram, as
manifestações trouxeram repressão ou ganhos limitados que já não satisfaziam as esperanças de uma
vida melhor e, de maneira crucial, a tentativa de golpe de Estado de Kornilov deixou clara a ameaça:
vá em frente ou seja esmagado. Um trabalhador colocou nos seguintes termos: “Os Bolcheviques
sempre disseram: ‘Não somos nós que vamos persuadi-lo, mas a própria vida’. E agora os
Bolcheviques triunfaram porque a vida provou que suas táticas são corretas”.

Foram os bolcheviques que tomaram a questão da mulher com tanta seriedade. Embora, do ponto de
vista de hoje, as mulheres estivessem bastante sub-representadas, foi feito um esforço rigoroso para
desenvolver e organizar as mulheres trabalhadoras. Mas o fato dos Bolcheviques terem feito mais do
que outros partidos socialistas, no que dizia respeito às trabalhadoras, não foi necessariamente por
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que outros partidos socialistas, no que dizia respeito às trabalhadoras, não foi necessariamente por
terem um maior compromisso com os direitos das mulheres.

Tanto Mencheviques quanto Bolcheviques entendiam a necessidade de se comprometer com as


mulheres como parte da classe operária, mas os Bolcheviques podiam vincular a luta pela igualdade
entre homens e mulheres a uma estratégia de classe contra o governo e a guerra, enquanto os
partidos envolvidos com a continuidade do conflito e com as negociatas com os privilegiados e os
patrões poderiam fazer pouco mais do que informar sobre as greves das mulheres e falar sobre
direitos políticos, sem apresentar soluções concretas para as pressões materiais das vidas das
mulheres.

Os Bolcheviques assumiam cada vez mais a organização e a politização das mulheres – em parte,
aprendendo com os começos explosivos de fevereiro; mas também, devido à tenacidade das próprias
mulheres do partido.

Lideranças dentre as Bolcheviques, tais como Kollontai, Krupskaia, Armand, Konkordiia Samoilova e
Vera Slutskaia, entre outras, argumentavam há muito que o partido deveria fazer esforços especiais
para organizar as trabalhadoras e desenvolver sua formação política. Elas lutaram para convencer
seus camaradas homens de que as mulheres trabalhadoras não qualificadas eram de importância
central à revolução, e não um obstáculo passivo, conservador e “atrasado”. O jornal bolchevique
Rabotnitsa (A mulher trabalhadora), publicado pela primeira vez em 1914 e relançado em maio de 1917,
trazia artigos sobre a importância de creches, berçários e legislação protetiva para o trabalho das
mulheres, e destacou repetidamente a necessidade de igualdade e da “questão feminina” ser
assumida por todos os trabalhadores.

O papel das mulheres trabalhadoras na Revolução de Fevereiro e sua contínua importância como
parte da classe operária de Petrogrado ajudaram a mudar a visão de muitos homens Bolcheviques,
que acreditavam que focar nas “questões femininas” era ceder ao feminismo e que a revolução seria
liderada pelos trabalhadores (homens) mais qualificados e politicamente conscientes. No entanto,
essa era uma batalha ingrata; quando Kollontai propôs um núcleo de mulheres no partido em abril,
ela estava quase isolada, embora tivesse o apoio de Lenin, cujas Teses de Abril não foram recebidas
com muito entusiasmo pela liderança Bolchevique – da mesma forma, Kollontai era a única
apoiadora de Lenin no comitê central.

Nos meses seguintes, no entanto, ficou claro que tanto o argumento de Lenin sobre dar continuidade
à revolução por meio dos sovietes, quanto a convicção de Kollontai sobre a importância das mulheres
trabalhadoras que brotava da dinâmica da revolução, poderiam impulsioná-la adiante. Os jornais
Bolcheviques, além do Rabotnitsa, passaram a argumentar que atitudes sexistas arraigadas
ameaçavam a unidade de classe e o partido trabalhava para que as mulheres fossem representadas
em comitês de fábricas, desafiando as atitudes dos homens que consideravam as trabalhadoras como
uma ameaça, buscando convencer os trabalhadores homens a votar em mulheres – especialmente em
indústrias onde elas eram maioria – e a tratá-las com respeito enquanto colegas de trabalho,
representantes e camaradas.

Seis semanas após a Revolução de Outubro, o casamento foi substituído pelo registro civil e o
divórcio tornou-se disponível a pedido de qualquer uma das partes. Essas medidas foram elaboradas
um ano mais tarde no Código da Família, que tornou as mulheres iguais perante a lei. O controle
religioso foi abolido, removendo de um só golpe séculos de opressão institucionalizada; o divórcio
poderia ser obtido por qualquer uma das partes sem necessidade de qualquer razão; as mulheres
tinham direito ao seu próprio dinheiro e nenhum dos parceiros tinha direitos sobre os bens do outro.
O conceito de ilegitimidade foi erradicado – se uma mulher não sabia quem era o pai, todos os seus
parceiros sexuais anteriores recebiam a responsabilidade coletiva pela criança. Em 1920, a Rússia
tornou-se o primeiro país a legalizar o aborto mediante solicitação.
A Revolução de 1917 foi iniciada e moldada pelas mulheres
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A Revolução de 1917 foi iniciada e moldada pelas mulheres e, ao longo do ano, muitas concepções
antigas que tratavam as mulheres como inferiores, como propriedade, como passivas, atrasadas,
conservadoras, inseguras e fracas foram desafiadas, talvez até mesmo obliteradas, pela ação das
mulheres e por seu comprometimento político.

Mas a Revolução Russa não aboliu a dominação masculina nem libertou as mulheres – as privações
catastróficas da Guerra Civil e as subseqüentes distorções do governo soviético tornaram isso uma
impossibilidade. As desigualdades permaneciam. Poucas mulheres ocuparam posições de
autoridade, poucas eram eleitas para órgãos administrativos e as idéias sexistas não podiam
simplesmente desaparecer na adversidade extrema que se seguiu a outubro.

Durante a revolução, as mulheres não participaram de maneira igual aos homens nem contribuíram
de forma significativa nos níveis mais elevados do processo político, mas, de acordo com as
possibilidades de suas vidas, desafiaram as expectativas e moldaram o curso da revolução. Como
McDermid e Hillyer afirmam:

“É verdade que a divisão do trabalho entre homens e mulheres permaneceu, mas em vez de concluir que as
mulheres falharam em desafiar a dominação masculina, consideremos como elas agiram dentro de sua esfera
tradicional e o que isso significou para o processo revolucionário”.

As mulheres foram parte integrante da Revolução de 1917, fazendo história ao lado dos homens –
não como espectadoras passivas ou cifras apolíticas, mas como participantes corajosas, cujo
engajamento foi ainda mais significativo se considerarmos a opressão arraigada que essas mulheres
rejeitaram. Ver a revolução através dos seus olhos dá uma leitura mais rica daquele que permanece
sendo o momento histórico mais transformador para a vida das mulheres.

(h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/06/06/promocao-bolchevique-assine-a-revista-da-boitempo/)

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Dossiê: Feminismo, marxismo e a Revolução Russa

Acaba de chegar da gráfica a nova revista da Boitempo! A Margem Esquerda #28


(h p://www.boitempoeditorial.com.br/v3/Titulos/visualizar/margem-28) é uma edição especial,
inteiramente dedicada ao centenário da Revolução Russa, que abre com uma longa entrevista com
Anita Leocadia Prestes, e inclui um dossiê de capa sobre “Feminismo, marxismo e a Revolução Russa,
assinado por Maria Lygia Quartim de Moraes, Rejane Hoeveler e Wendy Goldman; além de artigos
inéditos Michael Löwy, Slavoj Žižek, Miguel Urbano Rodrigues e Ricardo Pazello. Na seção
“Clássico”, uma longa reflexão de György Lukács sobre o stalinismo, e na seção “Documentos”, dois
preciosos textos de Valentina Terechkôva e Astrojildo Pereira, respectivamente sobre “mulher e
socialismo” e sobre o impacto da Revolução de 1917 no Brasil. A seção de poesia traz um poema de
Maiakovski, selecionado, traduzido e comentado por Flávio Aguiar. A seção de imagens, coordenada
por Sergio Romagnolo, traz obras de Kazimir Malevich.

Promoção de assinatura

Para comemorar o lançamento dessa edição especial, dedicada ao centenário da Revolução Russa,
está rolando até o dia 30 de junho uma promoção bolchevique de assinatura
(h p://bit.ly/bolchevique). Quem fizer uma assinatura bi-anual até o dia 30/6, ganha, além de 15% de
desconto, um exemplar gratuito da Margem Esquerda #10, que conta com dossiê temático dedicado
aniversário da Revolução Russa, com artigos de Moshe Lewin, Virgínia Fontes, Tony Wood e Moses
Guinzbourg, além de clássico de Vladimir Lenin, entrevista com Chico de Oliveira e artigos inéditos
de Göran Therborn, Daniel Bensaïd, Michael Löwy, Vera Malaguti Batista, Maria Orlanda Pinassi,
Roberto Leher, Maria Carlo o e Pablo Ortellado, entre outros. Não perca! Clique aqui
(h p://bit.ly/bolchevique) para fazer a sua.

(h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/06/06/promocao-bolchevique-assine-a-revista-da-boitempo/)

[* Traduzido por Stella Paterniani e Fernanda Moura, este artigo


https://blogdaboitempo.com.br/2017/06/14/as-mulheres-de-1917-especial-revolucao-russa/ é o sétimo de uma série de artigos
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[* Traduzido por Stella Paterniani e Fernanda Moura, este artigo é o sétimo de uma série de artigos
sobre o centenário da “Revolução Russa de 1917″ organizada pela revista Jacobin e que sairá ao longo
do ano e publicada no Brasil em uma parceria entre o Blog Junho e o Blog da Boitempo. Redigidos
originalmente em inglês, os artigos serão traduzidos em várias línguas, como francês, espanhol,
alemão e coreano. Para o português, o blog Junho reuniu um grupo de tradutores e colaboradores,
coordenados por Fernando Pureza, que atenderam ao chamado para trazer, ao público brasileiro,
alguns dos trabalhos mais atuais sobre a Revolução Russa celebrando o centenário do evento político
mais importante do século XX.]

Leia também:

“Antes de Fevereiro (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/03/20/antes-de-fevereiro/)“, de Todd


Chretien.
“A História da Revolução de Fevereiro (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/03/21/a-historia-da-
revolucao-de-fevereiro/)“, de Kevin Murphy.
“Partindo da Estação Finlândia (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/05/08/partindo-da-estacao-
finlandia-especial-revolucao-russa/)“, de Yurii Colombo.
“Gramsci e a Revolução Russa (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/05/09/gramsci-e-a-revolucao-
russa/)“, de Álvaro Bianchi e Daniela Mussi.
“De Fevereiro a Outubro (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/06/02/de-fevereiro-a-outubro-
especial-revolucao-russa/)“, de Lars T. Lih.
“A revolução na Finlândia (h ps://blogdaboitempo.com.br/2017/06/06/a-revolucao-na-finlandia-
especial-revolucao-russa/)“, de Eric Blanc.

***

Megan Trudell tem vários trabalhos publicados sobre a Primeira Guerra Mundial e sobre a
Revolução Russa. Atualmente, estuda o ano de 1919 na Itália. Este artigo foi escrito especialmente
para o dossiê sobre o centenário da Revolução Russa, organizado pela Revista Jacobin
(h ps://www.jacobinmag.com), traduzido para o português pelo Blog Junho
(h p://blogjunho.com.br/), e publicado em parceria com o Blog da Boitempo.

1917
a revolução das mulheres
Revolução de Fevereiro
Revolução Russa

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1. Os bolcheviques e o antissemitismo // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo


2. Violência e revolução em 1917 // Especial Revolução Russa – Blog da Boitempo

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