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1. O que é Língua?
Para compreendermos o conceito de língua, devemos considerar três pontos de vista:
b) Sistêmico: trata-se de um conjunto organizado de signos que são utilizados nas interações verbais
por nós, indivíduos sociais de uma dada comunidade. Esses signos (palavras) se organizam por
meio de regras que são adquiridas ao longo do nosso desenvolvimento psicológico e mental,
sendo divididas em vários níveis:
ii) Morfológico: diz respeito ao nível das palavras e da formação de palavras. Cada palavra é
formada pela junção de outros elementos menores, os morfemas, que seguem algumas regras
(e.g. pescador = pesca- + -dor). Iremos observar que a formação de novas palavras
(neologismos) segue regras que são adquiridas pelas crianças ao longo de seu
desenvolvimento;
iii) Sintático: é o nível das frases e da formação das frases. Um sistema lingüístico, ou uma
gramática (que são a mesma coisa) segue regras específicas para construir frases. No
português, por exemplo, há algumas frases como “choveu ontem” que podem ser escritas sem
sujeito, fato esse não observável no inglês (It rained yesterday) e no francês (Il a plui hier).
Além disso, as frases do português obedecem, na maioria das vezes, uma ordem específica
(Sujeito + Verbo + Objeto), enquanto o latim a ordem não importa;
iv) Semântico: corresponde ao nível da significação, isto é, cada palavra é formada por uma
cadeia de letras ou sons denominada de significante (e.g. p+o+r+t+a = porta), por um
significado (porta=abertura retangular, com o lado vertical mais comprido e a base ao nível do
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Figura 1 - Representação do Signo linguístico e seus componentes
v) Pragmático: diz respeito ao nível do sentido que é uma significação mais elaborada. O sentido
depende do contexto da interação verbal para ser apreendido. Assim, num determinado
contexto, a palavra “porta” pode ter um sentido diferente de sua significação do dicionário;
c) Social: a língua consiste em um produto social compartilhado por uma comunidade específica.
Em outras palavras, a comunidade dos brasileiros fala o português, a comunidade dos franceses o
francês, o povo do Japão, o japonês. Dessa forma, de acordo com a comunidade em que uma
criança é inserida, ela irá adequar-se a língua falada por essa comunidade. Além disso, esse
aspecto social permite perceber as variedades linguísticas no tempo e no espaço.
A língua se manifesta de forma espontânea através da fala. Logo, toda língua nasceu e nasce a
partir das falas dos indivíduos. Depois é que esses mesmos indivíduos chegam a uma espécie
de acordo e criam a língua escrita. O português, por exemplo, nasceu a partir da fala de alguns
grupos que habitavam a península ibérica (Portugal e Espanha) por volta dos séculos XI, XII
e XIII d.c. No século XIII e XIV, é que começa a aparecer os primeiros textos escritos da
língua portuguesa.
2. O que é Linguagem?
É capacidade de comunicar ideias e sentimentos por meio de palavras, imagens, sons, gestos,
cores, expressões faciais, etc. Nesse sentido, a linguagem é a manifestação concreta da língua,
isto é, linguagem é a língua em uso. Ela pode ser de dois tipos:
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b) Linguagem não-verbal: é a utilização de gestos (linguagem corporal), cores e imagens
(linguagem visual), ou sons (linguagem musical) para fins de comunicação.
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Exemplo 3 - Linguagem verbal
Dessa forma, a língua, seja como uma capacidade/faculdade mental e biológica, seja como um produto
social, só tem existência efetiva em uma situação concreta de interação verbal, isto é, a língua, isolada
de seu uso, é somente um elemento abstrato, enquanto a interação verbal (Iinguagem) é a realidade
concreta da língua.
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Figura 2 - Representação de uma interação verbal
Pela figura 2 acima, observamos que toda interação verbal é constituída por alguns elementos.
Vejamos quais são eles:
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etc.
Diz respeito aos elementos concretos na qual a interação
verbal ocorre., ou seja, os aspectos físicos, sociais,
Circunstância
temporais e espacionais da interação. Uma sala de aula,
6. sócio-histórica
com o quadro negro, as carteiras, as janelas, os cadernos,
imediata:
os livros, etc. corresponde, por exemplo, à circunstância
sócio-histórica imediata de uma aula de português.
É aquilo que uma determinada comunidade acredita. Essa
ideologia é muito importante para compreender a
interação verbal na medida em que ela nos mostra como
7. Ideologia: os objetos e os seres do mundo são “observados” por essa
comunidade. Um exemplo de ideologia pode ser
observado em relação à nossa política: nós, como
sociedade, não gostamos da corrupção. Isso é a ideologia.
Nos textos acima, vemos que há ideologias diferentes. O primeiro exemplo é uma publicidade
da década de 1940 e nela observamos que há uma ideia, uma ideologia, quanto ao hábito da
escovação diária e do cuidado com a saúde bucal. Essa mesma ideologia não está presente no
segundo texto, que é um anúncio publicitário da atualidade. Isso nos mostra que na década de
1940 o cuidado com a saúde bucal não era ainda um hábito social e por isso a publicidade
enfatiza tal hábito. No contexto da atualidade, tal hábito já é bastante comum – na verdade é
algo que todos nós sabemos desde pequenos –, não sendo necessário ser evidenciado na
publicidade. Eis ai o exemplo de como a ideologia age em nossa vida: ela é aquilo que uma
comunidade acredita e tem como hábito.
4. O que é texto?
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Considere os exemplos abaixo:
Texto é qualquer produção linguística, falada ou escrita, de qualquer tamanho, que possa
fazer sentido numa situação de comunicação humana. Pelo fato de fazer sentido numa
situação de interação verbal, texto é também o resultado da interação, pois é nele que se
encontram realizados as finalidades comunicativas dessa situação, bem como ele é o
mediador entre o locutor e o interlocutor. A mensagem do texto é sempre dirigida de um
locutor para um interlocutor, sendo que aquele, o locutor, considera as condições da situação
de comunicação e também o interlocutor para produzir o texto.
Assim, se consideramos os cinco exemplos acima, veremos que todos são textos. O texto 5,
por exemplo, é uma placa de pedido de silêncio que encontramos nos corredores de hospitais,
clínicas, postos de saúde, etc. Nele, percebemos que há dois indivíduos, o hospital e o leitor
da placa, que estão em interação. A placa surge como a manifestação verbal (isto é,
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manifestação que se realiza por meio da língua) da interação entre esses dois indivíduos,
tendo como objetivo o próprio pedido de silêncio. Além disso, ela está de conformidade com
a situação em que ela se encontra: no hospital é necessário fazer silêncio, pois há várias
pessoas doentes que precisam de repouso.
Assim, texto:
é a manifestação linguística de uma interação verbal entre dois indivíduos dentro de uma
situação de comunicação específica, na qual o locutor deseja realizar um propósito
comunicativo ou uma intenção comunicativa enquanto o interlocutor depreende essa
intenção e emite a sua “resposta”.
• Todo texto deve ser produzido de forma a deixar claro a intenção de quem o
produz (locutor) e a se adequar a um gênero e a uma situação de comunicação
específicos;
Como posso dizer o que quero dizer de forma que alcance o meu objetivo?
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5. O que é Gênero textual (ou discursivo)?
Gênero textual é uma classe de textos que possuem aspectos semelhantes entre si, o que permite dizer
que todo texto produzido em uma interação verbal está vinculado a um gênero. Sendo o texto o
resultado de uma interação verbal, logo o gênero textual está relacionado com as características dessa
interação verbal, constituindo, portanto, em um elemento sócio-interativo-comunicativo. Toda situação
de interação verbal é determinada por uma espécie de “contrato”. Assim, são as “cláusulas” desse
“contrato” que possibilitam aos falantes de uma língua utilizar os gêneros. Os gêneros são infinitos e,
de acordo com as transformações sociais, eles surgem e desaparecem.
• Função: o gênero tem a função de formalizar a interação verbal para que o sentido do texto
possa ser melhor apreendido e também produzido. Ao utilizar algum gênero em sua fala/escrita, o
falante tem um horizonte de expectativa em relação à produção do texto ou a interpretação do
mesmo. Em outras palavras, uma mesma informação em gêneros diferentes, tem sentidos
diferentes. Vejamos os exemplos abaixo:
Nos exemplos acima, vemos que a informação “IBGE diz que a distância entre pobres e ricos diminui
no Brasil” ganha sentidos diferentes devido aos gêneros. No caso da Charge, a informação deve ser
interpretada como uma crítica à realidade, já que a linguagem não-verbal mostra uma informação
contraditória à linguagem verbal. No caso da Manchete, ao contrário, a informação deve ser
interpretada como verdadeira, como algo que está de fato acontecendo no país, pois nesse caso o
gênero tem um caráter de verdade.
Alguns exemplos de gêneros textuais: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance,
bilhete, reportagem jornalística, reunião de condomínio, pauta de reunião, crônica jornalística, artigo
de opinião, receita culinária, lista de compras, horóscopo, bula de remédio, cardápio de restaurante,
resenha, resumo, edital de concurso, e-mail, perfil do Orkut, bate-papo pelo MSN, etc. Todo texto,
seja ele falado ou escrito, está organizado em um gênero, que por sua vez, dá algumas características e
particularidades a esse texto.
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Gênero textual é uma classe de textos organizada a partir de características semelhantes
que os textos compartilham entre si. A função do gênero é orientar e organizar as
interações verbais, de modo que tanto o locutor quanto o interlocutor possam
compreender um ao outro.
ELEMENTOS DO GÊNERO
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Abaixo, colocamos dois exemplos de gêneros para que possamos melhor compreender o conceito.
Todo texto, além de estar vinculado a um gênero, é constituído por sequências linguísticas, os
chamados tipos textuais, que organizam o material linguístico (advérbios, substantivos,
orações, verbos, concordância, etc.) em função de certas finalidades: narrar, descrever,
argumentar, expor e ordenar e de certos pontos de vista.
Assim, os tipos textuais são sequências linguísticas organizadas em torno das finalidades
de narrar, descrever, argumentar, expor ou ordenar. Dessa forma, existem cinco tipos
textuais, a saber:
a) Narrativo → narrar;
b) Descritivo → descrever;
c) Argumentativo → argumentar;
d) Expositivo → expor;
e) Injuntivo → ordenar.
Um texto, devido ao seu gênero, pode fazer uso de um ou mais desses cinco tipos acima. Um
anúncio publicitário, por exemplo, faz uso do tipo Descritivo e Argumentativo na maioria dos
casos.
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