Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
PRODUÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
DISCIPLINA: SEMINÁRIOS DE ATUALIZAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
DOCENTE: TAYANE
ARTIGO CIENTÍFICO
O ESTIGMA DA BAIANIDADE NA CAMPANHA PUBLICITÁRIA
DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA EM 2006
Salvador
2008.1
O Estigma da Baianidade na Campanha Publicitária do Governo do Estado da Bahia em 2006
RESUMO
Exórdio: a identidade
A construção identitária de um indivíduo, ou um grupo deles, está direta e indissociavelmente
ligada ao meio sócio-cultural no qual está inserido. Obviamente, a posição geográfica ocupada por
este indivíduo, sua naturalidade, será um forte agente condicionante de seus laços identitários, mas
“a identidade é definida historicamente, e não biologicamente” (HALL, 2003, pg. 18); tal
condicionamento é apenas uma conseqüência dos processos de experimentação social e discursiva
aos quais o indivíduo não só foi exposto, mas participou ativamente.
Considerando o vultoso progresso técnico dos sistemas de comunicação a afirmação anterior se
faz ainda mais pertinente. A interação entre as mais diversas regiões do globo terrestre foi deveras
potencializada, o que ocasionou, dentre muitos outros fenômenos, um processo de
desterritorialização da cultura – à exemplo da formação de grupos sociais que, independente dos
fatores tempo e espaço, valorizam simultaneamente elementos de várias culturas. O processo de
construção identitária do sujeito pós-moderno é dinâmico e constante, intrinsecamente relacionado
à guisa que somos concebidos e interpelados pelos aparelhos culturais que nos envolvem –
concessões e interpelações estas que, ao longo do tempo, asseguram que “dentro de nós há
identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas
identificações estão sendo continuamente deslocadas” (HALL, 2003, pg. 18).
Para o presente estudo, se faz necessário perceber que “a identidade plenamente unificada,
completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 2003, pg. 18), por mais almejada que esta
*
Graduando em Comunicação Social com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura.
2
plenitude seja. A dita baianidade é um constructo identitário-cultural bastante conhecido e
disseminado; uma tentativa de homogeneização cultural do vasto e plural estado que é a Bahia
numa reduzida gama de características estereotipadas. Mas, a fim de que a compreensão deste
artigo seja verdadeiramente atingida, é preciso ser ainda um pouco mais crítico e atentar para as
articulações políticas, sociais e econômicas que existem por trás de toda identidade e,
principalmente, para o papel que o aparelho midiático contemporâneo desempenha na manutenção
destas.
Assim sendo, intuito deste artigo é analisar os mecanismos de construção discursiva contidos
nas peças televisivas da campanha publicitária veiculada pela Empresa de Turismo da Bahia, no
fim do ano de 2005 e no início de 2006. Seguindo a doutrina da Análise do Discurso, serão
considerados para a realização de tal análise os aspectos lingüísticos e discursivos evidentes nas
construções verbais das peças: preferências lexicais, tendências verbais, elementos dêiticos, entre
outros – concentrando-se esforços na compreensão da relação estabelecida entre linguagem,
imagem e construção de identidade do povo baiano em prol do objetivo maior na qual estão todos
pautados.
3
pg.17). A TV Bahia é o primo exemplo dessa mobilização midiática: a emissora edificou uma
faceta deveras diferenciada da Rede Globo de Televisão, ela
Uma estratégia que não só sustenta um objetivo maior, mas finda por ocasionar um retorno
direto à emissora, pois “em uma circunstância de globalização, o local pode dar possibilidade
identitária, pode ser diferencial relevante de inscrição na sociedade e no mercado competitivos”
(RUBIM, 2001, pg.17).
No tópico seguinte serão explicitados alguns dos artifícios discursivos presentes nas peças
veiculadas pela mídia a fim que se possa perceber a utilização da identidade cultural da Bahia
como instrumento de fomento ao turismo – e, no caso particular do objeto estudado, também para a
auto-enaltecimento do próprio Governo do Estado.
4
“Carnaval do Planeta”, quatro são representações deste estrangeiro; representações estas que
sustentam algumas características ditas “tipicamente baianas” e se intitulam baianos.
Exemplo 1:
“Meu estado da Bahia está crescendo mais que o Brasil nos últimos anos”
Carnaval do Planeta
Exemplo 2:
“Eu tenho orgulho de ser baiano”
Carnaval do Planeta
Ao considerar um estrangeiro, que nem sequer domina a língua portuguesa, um baiano há uma
reafirmação do fim puramente comercial dessa construção identitária denominada de baianidade.
Fazê-lo é assumir que a baianidade não passa de uma máscara imaginária vendida aos turistas, que
podem intitular-se baianos a partir do momento em que atendam a todos os pré-requisitos – portem
todas as características apresentadas pela mídia – para reconhecer-se como tal. Fica possível então
perceber a criação de um novo produto turístico, um produto incorpóreo e alegórico: a condição de
“ser baiano” – forjada não só pelos órgãos oficiais de turismo e cultura do estado da Bahia, mas
também por todo o povo baiano a partir da legitimação do discurso da baianidade.
A festa é um componente primordial, e constante, da identidade do baiano e sua maior
representação é o carnaval. A manifestação cultural que foi progressivamente reduzida à mera festa
– complexo processo que vai além da alçada do presente estudo – é indissociável à figura do
“baiano midático”; quando não se encontra presente em seu discurso pode ser reconhecido no seu
comportamento, pela (suposta) alegria, disposição e criatividade baianas – mas nunca está ausente.
Exemplo 3:
““Tinha mesmo que fazer a maior festa do mundo para comemorar.”
Carnaval do Planeta
Exemplo 4:
“Cê vai se acabar no carnaval da Bahia”
Carnaval do Planeta
Faz-se imprescindível perceber como o forte apelo imagético, mais perceptível na peça
intitulada “Verão 2006”, se encarrega de evidenciar e ratificar essa constituição popular
5
comungada pelos baianos mesmo que por meio da exploração dos menores detalhes presentes no
cotidiano da população baiana: é repetidamente acentuada a condição multirracial, a invocação da
beleza feminina como atributo geográfico, a simpatia e hospitalidade para com o turista, a alegria, a
criatividade. Nada passa desapercebido – inclusive a beleza natural do estado.
Referências Bibliográficas
BIGAL, Solange. O que é criação publicitária. 2.ed. São Paulo: Nobel, 1999.
6
MAINGUENEAU, Dominique. Iniciação aos métodos da análise de discurso. Coimbra:
Livraria Almedina, 1983.
RUBIM, Antonio Albino Canelas. ACM: poder, mídia e política no Brasil. In: Comunicação
& Política Vol. VIII, nº 2, nova série, maio-agosto de 2001. Pg. 107-149
SÁ, N. S. C. A Baianidade como Produto Turístico: uma análise da ação dos Órgãos Oficiais
de Turismo na Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO,
29., 2006, Brasília. Anais...São Paulo: Intercom, 2006. CD-ROM. Disponível em:
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/handle/1904/19841. Acesso em: 23 Jun. 2008.