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Durkheim As Formas Elementares da Vida Religiosa | O sistema totémico na Australia ‘s@D-FLCH-USP Ov Martins Fontes | S00 Pao 2003 a 2atatt Does e? nos Bary Rvs wemoougto OBJETO DA PESQUISA \ Soca rolgaa mete eotameny DEDALUS - Acervo - FFLCH 20900004700 Propomo-nos estudar neste Livro a rligito mais pri- mitiva € mais simples atualmente conhiecida, fazer sua Analise ¢ tentar sua explicacio. Dizemos de tim sistema religioso que ele €0 mais primitive que nos © dado ob ‘servar, quando preenche as duas condigoes seguintes: em imeiro lugar, ue se enconte em sociedades Cua orga acto nao €ultrapassada por nealuima outa cx simpli cidade’; € preciso, alem disso, que seja possvel explict Io sem fazer intervir nenhum elemento tomado de wat rel ‘50 anterior. Faremos 0 esforco de descrever a economia desse sistema com a exatidao e a fidelidade de um etndgrafo ‘ou de um historiador. Mas nossa tarefa nao se limita 2 |ss0, A sociologia coloca-se problemas diferentes daque les da historia ou da etmografia, Ela nio busca conhecer as formas extintas da eizagao com o tnico objetivo de ‘onhect-las¢ reconstiutlas, Como toda ciéacia positva, tem por objeto, acima de tudo, explicar uma realidade atual, proxima de nés, capaz portanto de afetar nossas ul (AS PORMAS BLEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA iias © nossos ato: esa realidade € 0 homem e, mais ‘epeciaimente, 0 homem de hoe, pois no ha outro que ‘StSamos mas itrestdos em conhecer bet. Asin, ‘no esuudaremos a religito areica que iemos abot pelo simples praser de conta ss cxravagincas sn {blardades. Sa tomamos como objeto de nossa pesgu- Si éque nos parcceu mals ape que ovtra qualquer para fazer entendet a mturezareigiosa do homer, to és pa ‘a nos revelar um aspecto essencil permanente da hi ‘manidade. Mas essa proposigio nio delxa de provocar fortes ‘objegoes, Considers estranho que, para chegar co ‘tntcorainumanidade present, ses preciso comerar por fasarse dele tanspomtsrse aoe Comegos da historia ssa mapa de cede figs somo prea te paradonal pa questo que nod ocupa. De fat, cost fase atc A religis wm valor ew igi Srgusisy dire, gealmente, que nem todas contem 2 ines parte de verdade: Pare, pots, que nio se pode ‘Compartras formas mais clevadae do pensamento rel {lose com as nas inlerores sem sebaixar as prmeiras 20 Evel das seyundas. Admair que os culos grosseos das tibos astalnas pdm sdsrnos a compreender Cristanismo, por exemplo, lo € supor que este proce enna tenalad, se, ue Geto as esas Superstigoese repousa sobre os mesmos ero? Ei ai co ino a impordncistericaalgumas ez atibuida as rel {Bes priv pide passa por foie de uma ieliglo ‘Sldsdesttematic que, 30 preulgar os esutados da es iss, os veiavs de aniemao. SRO cabe examinar agul se howve realmente estudio- sos que mereceram esa crtica que fusram da historia © {2 stoografa religion uma magna de guerra conta 2 {eligto: Em todo caso, esse ndo paderia sero ponto de ‘sta de um socclogo, Com eleto, € um postulado essen- Uhl socilogaa que uma insti humana nao pode fepousar sobre o evo ea inti, 80 conto AZO pO- ro na passa vu de dura. Se no estvessefundada na natureza das coisas, fa tera encontrado nas coisas resists insuperavels ‘Assim, quando abocdamono exo das egies prt Yas, € coma cerers de que elas pertencets 0 real e'6 ‘expeimem, veremos esse principio retorna a todo mo mento a0 longo das andlisese das discussOc a segu 0 ‘de censuraremon nas escolas das quais nos sepaaiyos & Drecisimente havelo desconhcido’ Ceramente, quando 5 considera apenas a letra das foraula, esses crengas © Prins religions parecem, 4s vests desconcertnies, © Podemos ser tentados a atnbulas a ona epecie de aber Facto insinsea. Mao, debaixo do sibolo € preciso si tering a reaidade que el figura e De di Ss igh ‘agto verdadeira. Os rts mais baros Ou Os mas Sura ‘auantes, os mitos mats estanos taduzem alguma ne ‘essidade humana, algum aspecto vid, se nda fu social. As rzBes que o fel concede a's propio part fuses podem set~c multe veses, de foo © er ‘neds; mas as razdes verdadetas io daar Je exist compete hciéncia descobrias ‘No fundo, portato, nia hi eeligies falsas. Todas so verdadetras'1 seu modo, todas correspond, ainda {que de maneiras diferentes, a condigbes dada da exten dia humana. Ceramente nao € impossivel dopo ls 90. {Bundlo uma ordem hiereguics, Um podem se supeto. Fes'aouttas, no sentido de empregaren fungoes mental tials levadan, de seer mais nest exn kts ¢ cm sot ‘mento, de elas haver mais conceitos, mens scnsapbes| imagens, e de sua sistematizagao ser mals caborada ‘Mas, por reais que sjam essa complenidade maior essa ‘mais lta dealdade, eas nto so auficentes pars classi {it as religioescovtespondentes em generor separados ‘Todas So igualmente reigioes, como toro sres vives so iguatmente vives, dos mais humldes plastids a0 ho- fmem: Portanto, se nos driginos ts religies primtivas, Ino 6 com ila de deprecara religto de uma manciea Berl pos esas religidesndo sio menos repeitivel que i vin (AS PORMAS BLEMENTANES DA VDA RELGIOSA as outras, Elas correspondem 3s mesmas necessidades, ‘desempenham 0 mesmo papel; dependem das mesmas ‘casas, poranto, podem servi muito bem para maniestar ‘Trnaureza da vide religiosse, conseqdentemente, para re- ‘olver 0 problema que desejimos trata. as por que conceder ns umm cope de preogs- tivafor que excolht las de preferénca a todas as demas Se ie ro ca emer oe ogee Tn plats Hens fio podemoechega a compre dere cines mel oa open fx anc como is progreasmente se compe ‘seram.)A histOria, com efeito, € 0 Gnico método de analise Sree da utuiao tn sous lems constut Sone pri comerat por remontar Arf malt peimitiva, procurar Os caracteres através ‘dow quais ela te define nesse poriodo de sua exiténci, far ‘endo ver, depois, de que manera ela gradativamente se Sesenvolveu e complicou, de que maneira tomnou-se 0 {que é no momento: jOra, concebe-se sem dif ldade a importincis, para esea serie de explicardes pro- [pressivar, da determinagio do ponto de partida do qual ‘las dependem. Era um principio cartestano que, no enci- dleamento das verades enthics, primo elo desem- pena um papel preponderant. Claro que nlo se tata Colocur na base da cencla das religibes uma nogao elabo- onnro n pesquisa pe rada 3 manera canesiana, ito é, um conceto logico, um puro possvel, consiruido pela forgas do expitito. © que Atevesios enconta € uma realiade concets ves a obser ‘agi historica © ctnografica € capaz de nos revelar/Mas, ‘embora essa concepeao fundamental. deva ser obtida pot procedimentos diferentes, continua senda verdadeiro que la € chamada a tr uma influencia consideravel sobre to dla a série de proposigdes que a cica estabelece. A evo lugo biologic fol concebida de forma completamente di ferente a pari do momento em que se soube da exisen ‘ia de seres monocelulares. Ass também, 0 detalhe dos fatos religiosos € explicado diferentemente, conforme se onl na ongem da evolugio © naturiso, 0 animismo os Alguma outra forma relgiosa. Mesmo os estudiowos mais specilizados, se nao pretendem limitarse a una tarcta dle pura erudiio, se desejam explicar os fatos que arali- Sam, sto obrigades a excolher uma dessas hipotcses © nla Se inspirar, Queiram ou no, as questées que cles se colo. ‘am addquirem necessariamente a seguinge forma: de que manera o naturismo ou o animismo foram determinados 3 Adour, aqul ou acols, al aspecto particular, a enriquecet. Se ou a empobrecer-se deste ou daquele modo? Uina vee ‘que mio se pode evitar tomar um partido sobre esse pro. Dlema inci © uma ver que a solugio que the € dada est sdestinada a afetar 0 conjunto da ciencia, conven bord lo frontalmente, Eo que nos propemos fazer. ‘Alls, incusive sem consideraressas repercuseBs ia- sliretas(0'estudo das religies primiivas tem, por st mes~ ‘mo, um interesse imei que € de primeics importants Se, de fo, € Gl saber em que consist exta ou aque la religifo particular, importa ainda mas examinar 0 que 4 religto de uma mania gerat) 0 problema que, en totais as epocas, tentou a curtosdade dos flsofos, ¢ nl0 sem razio, pois ele interessa a humanidade itera fife. lizmente, 6 metodo que eles costumam empregar pats Te solvé-lo'é puramente dialético: limitamse 4 analisar a ‘deia que fazem da religito, quando muito iustrando o x AS FORMAS BLEMENTARES DA VIDA REIGIOSA resultados dessa anise com exemplostomados dad el {bes que relizam melhor se deal Ms, se esse metodo {eve sev abandonado, 0 problema permanece de pé co grande serigo que a flosola presou fol impedir que cle {ase preset pelo desdem dor erudts. Or, tl proble tha pode scr fetomado por outs vis ome toa 4 7 iigies st0 comparaveds, e como todas 40 especies de tim meomo genero, ba necessarlamente elementos essen. ‘Gals que hes sho comuns}Com leo, nfo-nos referimos Smplemente 20 cere xeon ve deo nko da pguis, ua tcfagie prov, 4 des. ster dase parents ¢eavamete ch, pon Sbservagio queekige no precisa slem ds superficie das cohas. Mas as semelhangas exterioressupoem outa, {ue sho profundas/Aia base de todos os seman de cre {hs de todos os eulos, deve necesarameate haver Um ‘Sto iimoro de represcotagbes fundamentals © de rt Ses tus que, apesar da diversidade de formas qe tanto {imas come oxiess puderam reves tém sempre 2 mes. ma signtcasio objeiya'e desempenham por toda pate {is meamas funyBes, Sto esses elementos permanentes ‘Gue constiuem © que hd Je etemo e de human na rel eles sio.0 contedd obyevo da Kea que se expri- fhe Ganda se faa de ‘lg em gene ve mana, Ponto, € posse! ating os? ‘Mio, cemamente, dbservando af religides complexas que aparecemn na sequencia da hits. Cada uma € for, _Shada Ge al varedade de elementos, que € muito difel™ > ‘litinguir ness o secondrto do principale oessencal do Seessbro. Que se pense em relgioes como as do Epo ‘loci ou da Andguldade classi! € uma tama espesst ‘Se culos miliplon, varavels com a loalidades, com 0: templon, com as geagdes, as dinasta, as ivasoes, etc Neus, as superstigoes populares esto mescladas sos dog: thas mais refinados. Nemo pensamento, nem a avidade ‘eligiosa encontranae igualmente dstibuidos n= massa 70 Da resource x dos fits; conforme os homens, os mis, as cicunstinias, tanto as crencas como on its sto experimentados de Tor. tas diferentes. Aqui, so sicerdotes, al, monges,alhures, leigos; ht misicos cracionaistas,tedlogos e profetas, ete Em ais condigdes, € fell pereber o que & comm 3 to des, Care que se pode endontrro melo de etudat pro. elosamen strates dein ou sto ees Seas te ou aquelefato particular que neles se acha especial mente desenvolvido, como o sacrficio ou 0 pofetsmo, vida monistica ou os misterios, mas como descobrit 0 undo comum da vida religions sob a lexurane vegets 20 ae a recabrey Como, sob o chou das tol, las varagdes dos nits a mulupicdade dos grupos, da diversidade dos individuos, encontrar os estos funda imentaiscaractristicos ea mentalidadereligiosa em ger? ‘Algo bem diferente ocorte nas societadesinferiores. (0 menor desenvolvimento das individualidades, menor ‘euenaio do grupo, homogenedade da crumstncis eX tenors, do contrib para tedusit as dierengas © as Ya ragoes 20 minima grupo reli, de manci resblat, {uma niformidade itelectal e mora ajo exemple 36. ‘mente se enconta nas sociedades mats svangadas. do ¢ comm a todosOs movimentos sto extereotipados, todos executam os mesmos nas mesmas ccna, € tse confomismo da conduits ni fa sero traduat © do Pensamento)Sendo todas as conseniasarstadas nos fnesmos turblhoes, 0 tipo individual peticamente se con. finde com © po generico. Ao menmo tempo em gue tie {80 € unforme, tudo & simples. Nada mat Osco que esses ‘mitos Composios de um mesmo e tinico tema que se re- © pete sem cesar, que esse ts fotos de um petuen ni nero de gestos recomegadon iterninavelmente (A imag nnagto popular ou sacerdoeal no teve ainda tempo nem Inios de refina e tansformar materia prima das Kiss _priticasveligosas esta se mosis, porno, nba © se Sterece espontancamente 4 obseragao, que io precisa Inais que um pequeno esforg pars Sescobut © Sees xu AS FORMAS LEMENTARES DA VIDA ELCIOS tio, 0 secundrio, 08 desenvolvimentos de lux nao vie~ fam ainda ocular © peinepalrp Tudo € reduzida ao indi pensivel, aquilo sem o que Mo poderia haverreligito. ‘Maso indispensivel € também o essencial) ou sia, 0 que cima de tudo nos impora eonticoet ‘ ‘As civlizdes primiivas constituem, portanto, casos privilegiados, por serem casos simples. Els por que, em {ods a8 ordens de fatos, as observagoes dos etnografos Toram com frequencia verdadeiras revelagdes que renova fram o esudo das insthuigdes humanas. Por exemplo, af tes da metade do século XIX, todos estavam coavencides ‘de que'o pal ert o elemento essencial da familia, nao se ‘concebia sequer que pudesse haver uma organizacao fa imiliarcuja pedra angular nao fosse o poder paterno. A Ldescoberta Ge Bachoten velo derubar essa velha concep ‘Glo. Ate tempos bem recentes, considerava-se evidente ‘gue ar relagtcs moras ¢juridicas que consttwem 0 pa Tentesco fossem apenas um Oulw aspecto das relagdes fi Siologicas que resultam da comunidade de descendéncia, Bachofen e seus sucessores, Mac Lennan, Morgan e mui= tos outros, cstavam ainda sob a inluéncia desse precon- feito, Desde que conhecemos a natreza do dla primitvo, Sabemos, 20 contran, que o parentesco no poderia set Gefinido pela consanglinidade. Para voltarmos 2s reli~ fides, a simples consideragio das formas eligiosas que ‘hos sho mais familiares fer acredtar durante muito tempo ‘Que a nogio de deus era caracteristica de tudo 0 que € fe" Iigioso. Ors, a rligito que estudaremos mais adiante 6, ‘em grande parte, esiranha a toda ideia de divindade; 28 Toeeas 25 quals 6 dirgem seus ritos sio muito diferentes Si uma questo ue lps a cpus than de presto e que als, lo chega a ser esencia ‘Mas estas, os nos, culo, efi, nao sto toa a religit Esta no € somente um sistema de pratias, ‘Stubém um ssema de Helas com a finalidade de expe muro mundo: vimos que mesmo os mats hamaldes tem Sus cosmologia.Ainds que posss haver alguma relag20 hire eases dois elementos david religiosa, eles 0 det Shinde cer muito diferentes. Um est volado part a ag30, ue ce solctae regula 0 outro, para o pensamento, que SIS Canquece © organiza Poranto, eles nao dependem {Eas mesa condibes, avendo modvos para indagar se S seyundo corresponde a necessidades fo universals © Permnentes quanto o prineto. "Quando se atta so pensamento rcligiso caraceres espectios, quando sec que ele tem por fungi expr thir ates de metedoe popes, todo um aspeco do fal {Qus eseapa ap conhecioento vulgar etambem a cit, Slauralmenic ha urna recuea em admitr que a fligiao poss vira perder seu papel especulatvo. Mas analise op fats ado nos paretes demonstrar essa espeificida- ceoncusio a5 de. A religito que acabamos de estudar é uma daquelas fem que os simbolos empregados sio os mals desconcer {antes para a razio. Tudo fela parece misterioso. Esses setes que participam a0 mesmo tempo dos reinos mais hheterogéneos, que se multiplicam sem deixarem de sé lunos, qbe se fragmentam sem se diminuirem. parccer, 4 primeira vista, pertencer a um mundo inteiamnente dif Fente daquele em que vivemas; chegou-se até a dizer que © pensamento que a elaborow ignorava totalmente es dda logics. Jamats, alvez, 0 contraste entre a rizio © 4 1e foi mais acentuado, Se, poranto, houve um momento a historia em que a heterogeneidade delay deverla sobres Sir com evidéneta, foi bem esse. Ora, contrartamente 25 aparencias, constatamos iis se ‘plica entio 2 especulacao religiosa sto as mesthas jue servirio mais tarde de objeto a veflexao dos cinta. hatureza, © homem, a Sociedade. © misténo que parece Cercivlas & completamente superficial c se disipa ante uma observagao mais aprofundada: basta retirar 0 ve ‘com que a imaginagio miologiea as cobriu para que se ‘mosem tas como sto, Essastealidads, a rcligilo 9c e forga por taduzi-ias numa inguagem inteligivel que no dlifere'em natureza daquela que a ciencia empresa de parte a pare, tata-se de vineula as coisas unas As outeas, ide estabelecer entre elas relagdes internas, de classifica. las, de sstematizalas.Vimos até que as hoses essenclals da logica cientfica sio de origem religiosa Claro que a ‘léncia, para uullzi-las, submete-as g uma nova elabora ‘lo; depura-as de todo tipo de elementos acidentaisy de ‘uma maneira geral, em todos os seus passos ela utiliza lum espiio entico que religido ignora, cerca se de pre ‘augdes para “evitar a precipiagio e o juiza antecipad™, para mantet a distancia as paixbes, os preconceitos © to! fas as influencias subjetivas, Mas eses apercigoamenton Imetodolégicos nao #40 suficientes para diferencld la da religito. Sob esse aspecto, ambas perseguem 0 mesin0 ‘objetivo: o pensamento clentifico ¢ t4o:s0 uma Forma 46 AS PORMAS LEMENTARES DA VD REGION mais perfeita do pensamento religioso. Parece natural, portanto, que o sckundo se apague progressivamente dian fe'do primes, a medida que este se torne mais apto a slesempenhar 2 tarefs. “TE no € de duvidar, com efeito, que essa regressio tenha se preduzido ao longo da histGna. Oriunda da tel sido, a cléncia tende a substituir esta Gltima em tudo 0. Gue dia respeito as fungoes cogntivas e intelectuais, O Proprio cristanismo ja consagrou efiniivamente essa Substituipao na ordem dos fendmenos materials. Vendo. ‘na materia 4 coisa profana por excelénciy ele facilmente abandonou o coahecimento dela 4 uma disciplina ests ‘ha, tradidit mundum bominum disputations Foi sss ‘que’ as ciéncias da naturcza puderam se estabelecer ef er reconhecer sua autoridade sem dificuldades muito srandes. Mas ele no podia abrir mio Uo facilmente do ‘undo das almas, pois € sobre as almas que 0 deus dos fristios aspira antes de tudo a reinar. El por Aue, por ‘muito tempo, a idea de submeter a vida psiquich a len ‘ia parecia uma especie de profanagio; mesmo hoje ela ainda repugna a numerosos espfitos. Enretano, a psico- logia experimental ¢ comparativa se constitul'e hoje & precio contar com ela. Mas 0 mundo da vida relgioss © oral permanece intedtado. A maoria dos homens con ‘Unua a crer que existe nele uma ordem de coisas na qual © espitto s6 pode penetar por vias muito especiais. Dal fas fortes resistencias encontmadas sempre que se tent tr {Gr clentificamente os fendmenos eeliglosos © moras Mas, 2 despeito das oposicbes, a tenativas se repetem e «5s [Peristéneia mest permite prever que essa alma barre ‘i acabard por cede e que a ciencia se estabelecers sobe ‘ana mesmo nessa regia reservada, 'Nisso consiste o conflito da cigncia e da religito. & ‘comum fazerse um iia inexata 4 respeito, Dis-se que 4 Giéncia nega a religito em principio. Mas a religto exis te, € um sistema de fatos dados, em uma palavrs, € oma realidade. Como poderia a cigncia negar uma realidade? concusio a Alem do mais, enquanto a rligito€ ago, enquanto € um meio de fazer viver os homens, a ciencia to poder et ‘considerada tal, pols, mesmo exprimino 4 Via; nio a ‘ria; ela pode petfetmente procurar explicar a fe ms [por isso mesmo, a supoe. Assim, no hi conflito a no set ‘num pontolimitado. Das duas fangBes que 1 reigiae pr ‘milvamente cumpria, existe uma, mas uina 6, que teh ‘ada vez mais a Ihe escapar: a funcio especulativa, O que 4 cignecia contesta 8 rlighio nto €0 direto de exist, 9 “iret de dogmatizar sobre 4 natureza das coisas, e5- pécie de competéncia especial que ela se atibula para Eonhecer 6 homem co mundo. Na verdade, a teligito into conhece asi mesma, Nao sabe de que ela felt, nem a quais necessidades respond, Lange de poser da 41lei a eiéncia, ela propria € objeto de ciéncia! E como, por outro lado, fora do fel a que se aplica a reflexto clon: lea nto ext objeto prspdo acbre o aa inca +e pectiacio relgiosa, € evidente que esta nio poderia de- Sempenharno futuro o shesmo papel que no passado. ‘No enanto, ela parece chamada antes a se tearafor mar do que a desaparccee Dissemos que ha na rligito algo de ctemo: 0 culto, «fe, Mas 0s homens nao podem celebrar cenimdnias para ‘is quais mo veriam razio de ser, nem aceite uma fe que into compreeaderiam de maneira alguma, Para propaga ‘ou simplesmente para manter a fe, € preciso justific ta, ‘Ou Sef, fazer sa teoria Uma teoria desse género cert mente € obrigada a se apolar nas diferentes cléncias, a Brie do momento em quc ls extendas soi fem primeiro lugar, jt que a fe celigiosa tem sts onigens fa sociedude; psicologi, ja que a Sociedade ¢ uma sinte- Se de conseiéncias humans, ciéncias da natureza, enfin, HH que o homem e a sociedade sto funcao do universo ¢ 56 antficialmente podem ser abstraidos, Contudo, por mais importantes que sejam os empréstimos tornados Gas ‘iéncias constituidas, eles nao poderiam ser suficientes, pois a fe ¢, antes de tudo, um impulso a agire a clencia, 8 AS FORMASBLEMENTARES DA VDA RAIGIOSA ‘Por mais longe que se lance, sempre permanece a distin- Gia da agdo."A cnc € fragmentara, iacompleta; avanga ‘apenas lentamente e jamals esta acabada: a vida, pore into pode esperar. Teorias destinadas a fazer viver, a fa. er agit, sto obrigadas, portanto, ase adiantar 3 ciéneia © 4 completita prematuramente. Elas 36 sto possives se 4s exigencias da pratiea e as nocessidades vias, ts co ‘mo as sentimos sem concebé-as distintamente, fazem 0 pensamenta avangar, para além do que a ciéncia nos permite sfirmar Assim, 8s eligioes, mesmo a5 mas facto fais laieizadas, nao podem © n2o poderdo jamais se privar de uma espécte muito particular de especulacso {ue, embora tendo os mesmos objetos que a clencia, a0. poderta ser propramente clentiia: as intuigdes obscures {a sensagio edo sentiment com frequencia funcionarh Af como razdes logicas. Por um lado, essa especulaga0 ‘Ascemelha-se, portanto, A que encontramos nas religioes ddo passado, mas, por out, disungue-se dela. Embora ‘contedendo-se o diseko de ultrpassar a ciéncia, ela de- ‘ye comegar por conhect-Li'e por inspirarse neta. ASS ‘que a auforidade da clencia € estabeleciaa, cumpre leva iim conta; pode-se ir mais longe que ela sob.a pressio dda necessidade, mas € dela que se deve partir Nada se pode sfirmar que ela negue, nada negar que ela firme, hada estabelecer que ndo se apole, direta oy indicts ‘mente, em prineipios que the sto tomados de emprest- imo! ‘partir de entio, a f€ nto exerce mals, sobre 0 iste ima das representagdes que podemos continuar chamat do de religiosas, a mesma hegemonia de outrora. Diante ‘dela, ergue-se uma potencta fval que, dela nascida, do- ravante 4 submete 4 sua critica e 2 seu contole. F tudo faz prever que esse controle se tornard cada vez mais amplo e mais eficaz, sem que Seja possivel tragar um li- mite a sua influéncia futur concusio on m Mas, se as nogdes fundamentals da ciéncia st0 de cxigem religioss, como a religito pode engendri-las? No Se percebe a primeira vista que relagoes pone haver entre 2 logica € a relight. Inclusive, uma vez que a realidade ‘expressa pelo pensamento religioso ¢ 1 soviedade, a ‘Questio pode ser colocada nos seguintestermos que fe- Yelam melhor ainda toda a sua dftculdade: 0 que'€ que ‘Pike fazer da vida social uma fonte Wo imporante de 4 logic? Nada, aparentemente, a predestinava a 39 pa Pel, pois € Gbvio que nao fol para satsfazer a nccessida Ses especulativas que os homens se assocaram. “Talvez.pareca uma temeridade nossa abordar aqui tum problema de tal complexidade. Para poder tatilo eo mo Convem, seria precio que as condigoes sociologicas do conhecimento fossem melhor conhecidas do que 0 Slo, Apenas comegamos a entreveralgumas delas. Entre, fanto, a questio € to grave e eat Go diretamente Impl caida por tudo 0 que preced, que devemos fazer um forgo para nfo a detsar sem rsposta. ‘Ais, talver nto sei impossivelestabelecer desde jt alguns prinipion geraiscapaves, pelo menos, de esclare cera solucio ‘A materia do pensimento loyico& feta de conceit, Indagar como a sociedade pode ter desempenhado um papel na génese do pensamento logico equtval, porn to, a perguntar como ela pode ter pariipado d Formas so dos conceitos, ‘Se, como acontece mals comumente, no coneeto 56 se vé uma ila geral,o problema parece insolavel. Com feito, o individuo porte, por seus proprios meios, com. parar suas percepgoes e suas images, Yer o que elas tm de comum, em uina palaves, generlizar Poranto, sera ‘itll pereber por que a generalizagio sé sexta pessivel inte pela sociedad. Mas, em primeto lugar, €inadenis vel que o pensamentologico se caracterizeexclusvarmen 40 (AS PORMAS EIBUENTARES DA VIDA RELIGIOSA te pela maior extensio das representagdes que 0 const tuem, Se as idelas particulares nada tem de logico, por ‘que seria diferente com as idélas gerais? O geral existe ‘apenas no particulan € 0 panicular simpliicado © empo- brecido” Assim, o primelro nto poderia ter virtudes © pr- Vilegios que o segundo no tem. Inversamente, se © pet ‘samento conceitual pode se aplicar o genero, a especie, 8 varledade, por mais restr que esta Sea, por que no poderia se extender ao individvo, ito é, 20 limite para o ual tende s representagio a media que sua extensio d- Ihinu? De fat existem muitos conceltos que tem indivi ‘duos por objeto. Em toda especie de feligi2o, os deuses Sto incividuos dstinoe une dos outros; no entanto, eles Sho concebidos, no percebidos. Cada povo representa ‘de uma cert maneirs, varvel conform as €poeas, 80s herbi histonicos ou leendinios,essas representagoes S10 onceituais Enfim, cada um de nés poss uma cert no- (Glo dos individuos com os quais nos relacionamos, de Seu cariter, de ua fisionomia, dos tagos dstintivos de Seu temperimentofsico e moral: essas nogoes suo verda- ciros Conceltos. Claro que ele sao, em geral, mUIto [grosscitamente formados. Mas, entre'os conceios ‘lentficos, hd muitos que sejam perfexamente adequados S'seu objeto? Sob esse aspecto; nao ha, entre estes © ‘queles, enao diferencas de gra E por outas caractersticas, portanto, que se deve de finis ‘conceit, Ele se opbe 48 wepresentacoes sensivels de toda ofdem ~ sensagbes, peroepyOes ou imagens ~ pe- las propricdades que enumeramos a seguir. "As representapbes sensivels encontram-se num fhixo perpetuo, sucedem-se uma as outras como as ondas de {Umirio.e, mesmo enquanto duram, nao permanecem im tvels, Cada uma fungio do instante preciso em que ‘corre. Jamals estamos seguros de reencontrar uma per ‘cepgao tal como 4 experimentamos uma primeira Vez, pois, sea coisa percebida no mudou, ns € que no 80° mos mais o¢ mesmos. © conceit, 20 contri, esti como coneuusio 4a {que fora do tempo e do devit; ests subtraido a toda essa Agitasdo; dutamos que esta siuado numa regiao diferente {6 espirto, mals serena e mais calma. Nao se move por #1 ‘mesmo, por uma evolucio interna c espontines, 20 Con trio, resiste 4 mudanga-E uma mancirn de pensar que, a ‘da momento do tempo, éfixa ¢ esalizada, Na medida fm que ele 6 0 que deve ser, € imutavel Se muda, 240 & (que estejaem sua natureza muda, € que descobrimos ne Te alpuma imperfeigao, ¢ que ele tem necessidade de ser retieado, O sistema de conceitos com o qual pensamos fa vida corrente € aquele que 6 vocabuino de nos {gua materna exprime, pois cada pala traduz tm oon Ceito. Ora a lingua € fia, modiiea-se lentamente c, por Isso, 0 mesmo acontece com a organizagao conceitval que ela exprime. O cientista se encontra na mcsina situa ‘Ho em face da terminologia especial empregada pela cen Gia a que se dealca e, conseqtentemente, em face do 8 tema especial de conceitos a0 qual essa terminologia coe respond. Claro que ele pedle inovar, mas suas inovactes sto sempre una espécte de violencia praticada contra ‘maneiras de pensar instiuidas, ’A0 mesmo tempo em que € rlativamente imutivel, conceito, se nao € universal, pelo menos € universal vel. Um concelto nao ¢ meu conceito, € comm a mim € 2 outros homens ou, em todo caso, pode thes ser comunt ‘ado, f-impossivel que eu consig transmiir uma sens ‘Go de minha conscléncia a consciéncia de outrem, ela Sepende estrtamente de meu onginismo ¢ de minha per Sonalidade e no pode ser separada deles. Tudo 0 que posto fazer € convidar outrem 4 se colocar diante do mesmo objeto que eu e 4 se abi A sua ago. Ao contr 2 conversagdo, 0 comercio intelect ns consiste numa toca de conceitos.O con Fepresentacio essencialmente impessoal,¢ através dele ligencias humanas se comunican?. 'X natureza do concelto, asim definido, revela suas corigens. Se ele & comum a todos, & que € obra da conn a (AS FORMAS BLEMENTARES DA VD RALIGIOSA nidade. Se nio raz a marca de nenfiuma inteligencia par- Hula, € que € elaborado por uma inteligencia Gnica na {qual t6das as outras se enconiram e vem, de eeno modo, Se alimentar. Se tem mal extablidade que as sensugdes ‘Ou que as imagens, € que as representagbes coletvas 0 ‘mals estiveis que as individuais, pois, enquanto 0 indi dduo é sensivel inclusive « pequenas midancas que se produizem no set meio intemo e extero, apenas aconte- iments de suficlente gravidade podem chegar 4 afeta a base mental da sociedade. Toda vez que estamos em pre senga de um po de pensimento ou de ago, que sem [poe uniformemente as wontades eas intligencias partic lives, essa pressio exercida sobre o individu inde a in- tervengio da sociedade. Als, diiamos hd pouco que os Conceitos com os quais pensamos correntemente 520 fagueles consignados no vocabulanio. Ora, ado ha duvida {de que a lingsagem e, portanto, o sintema de conceitos {ue ela taduz, €0 produto de uaa elaboragao coledva ‘O que els exprime ¢ a mancira como a sociedade em sci) Conjunto representa os objetos da experiéncia. As nopbes {Que correspondem 20s diversos elementos da linglia stb, portant, representagdes coletvas ‘© proprio conteado dessas nogdes testemunha no mesmo seid Com of, pratcamente no Ha pal ‘ras, mesmo enue as que mals empregamos, cuja acep- ‘ao no ultrspasce mais ou menos largamente os limites ‘de nossa experineia pestoal, Um temo exprime com fre- ‘guéncia coisas que jamais percebemos, experiéncias que ‘Runes fizemos ou das quais nunca fomos testemunhas. ‘Mesto quando eonhecemos alguns dos ebjetos aos quals cle se relaciona, € apenas a titulo de exemplos partcul Fes que ilustam idea, as que, por S 6s, jamais teraza ‘Sido suficientes para constnula, Na palavra acha-se con

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