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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
(...) uma coisa que me deixa perturbado é a linguagem adolescente digital, essa que se usa, hoje em dia, em mensagens instantâneas por
celular ou no computador. Ela tem lá seus atrativos, em custo e tempo. Mas será que as crianças estão desaprendendo a língua portuguesa?
A receita parece ser mais ou menos assim: primeiro acabamos com os acentos (...), não vira naum, é vira eh e assim por diante. Aí,
eliminam-se os hífens e algumas vogais e consoantes que estão mesmo sobrando – você vira vc, que vira q. Para terminar, reescrevemos
algumas palavras de acordo com seus sons “falados”, economizando mais algumas letras – achei vira axei, aquilo vira akilo, mesa vira meza,
almoço vira aumosso. E pronto, está criada a linguagem adolescente digital.
Glossário
coloquial – uso informal da língua, tom de conversa amigável.
2. Explique, em poucas palavras, as vantagens que o cronista vê na linguagem adolescente digital e que, na OPINIÃO dele, a tornam atrativa.
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5. Na dúvida que expressa, qual a CONSEQUÊNCIA que poderia ter a situação que o preocupa?
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6. Que vocábulo aparece na crônica, significando o como se deve fazer da linguagem adolescente digital?
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Figuras rupestres
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fumdham.org.br
redememoria.bn.br
DESENHOS RUPESTRES ESCRITA CUNEIFORME HIERÓGLIFOS EGÍPCIOS
2.ibb.unesp.br
br.vazlon.com
globo.com
O que são figuras rupestres?
ESCRITA EM PAPIRO
Resumindo o que já vimos na página anterior, figuras rupestres ou registros
rupestres são pinturas e desenhos registrados em superfícies rochosas, no interior
de cavernas e mesmo ao ar livre, pelos seres humanos pré-históricos, época do
chamado “homem das cavernas”.
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Geralmente, representam figuras de animais e figuras humanas em
situações rotineiras: em cenas de caça, de dança, de rituais ou de guerra. Essas
representações simbólicas, cujos significados eram conhecidos por toda a
comunidade tribal, eram uma forma de comunicação e podem, hoje, ser vistos
como registros culturais de uma tribo, como relatos históricos, pois relatam o
tempo, o modo determinado de viver, os ritos e os costumes de grupos humanos
de determinada época .
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Desde o surgimento das redes sociais na internet, o uso que se faz delas e a linguagem ali utilizada têm sido
uma fonte de preocupação de famílias, de escolas e de outras instituições da sociedade. Com a velocidade com
que novos meios tecnológicos de comunicação têm surgido, com a facilidade (e a instantaneidade) cada vez
maior das trocas de mensagens que ali se dão e com a atração que exercem sobre jovens e adolescentes, a
preocupação tem aumentado.
Não se pode negar a verdadeira revolução que esses novos meios representam em termos de acesso
democrático aos meios de informação e de troca de mensagens, mas é sempre bom se colocar algumas
questões...
filosofiacienciaevida.uol.com.br
Será mesmo que o uso cada vez mais intenso das novas tecnologias e da linguagem digital pode ter uma
influência negativa na aprendizagem – e mesmo no uso cotidiano – de nossa língua-mãe, a Língua Portuguesa,
como se pergunta o autor do primeiro texto deste caderno?
Não estariam os novos meios apenas no caminho da evolução tecnológica presente desde os primórdios da
humanidade, agregando-se ao dia a dia e sendo um facilitador da vida em sociedade?
AS PRIMEIRAS Não estaria o problema no uso, adequado ou inadequado, que fazemos dos meios à nossa disposição?
RODAS DE CONVERSA Estaria o uso intensivo dos novos meios nos impedindo de encontrar e conversar frente a frente com os
DOS HUMANOS amigos? Estaria nos roubando o tempo de parar para pensar?
Que tal organizar uma Roda de Conversa e debater o assunto?
galeria.colorir.com
O SILÊNCIO Texto de apoio
Composição de Arnaldo Antunes
avisala.org.br
antes de existir computador existia tevê e a matéria em decomposição
principado.com.br
antes de existir tevê existia luz elétrica a barriga digerindo o pão
antes de existir luz elétrica existia bicicleta explosão de semente sob o chão
para-colorir.net
antes de existir bicicleta existia enciclopédia diamante nascendo do carvão
antes de existir enciclopédia existia alfabeto homem pedra planta bicho flor
antes de existir alfabeto existia a voz luz elétrica tevê computador
riscaefazdenovo.com
antes de existir a voz existia o silêncio... batedeira, liquidificador
creasp.org.br
o silêncio... vamos ouvir esse silêncio meu amor
foi a primeira coisa que existiu amplificado no amplificador
um silêncio que ninguém ouviu do estetoscópio do doutor
astro pelo céu em movimento no lado esquerdo do peito, esse tambor
e o som do gelo derretendo
zazzle.com.br
geocaching.com
AVENTURA DA ESCRITA
Vivemos num mundo rodeado de coisas escritas. Basta sair à rua e olhar: é o jornaleiro cheio de revistas, jornais e livros; é a placa da
rua, do ônibus, da loja; são os cartazes de propaganda, as embalagens dos produtos, as telas de tevês, computadores, celulares etc.
E neste mundo cheio de escrita, como o nosso, você consegue imaginar um tempo completamente diferente? Um tempo em que a
escrita não existia? Pois isso aconteceu, e foram necessários milhares de anos para que ela se desenvolvesse e ficasse como nós a
conhecemos hoje.
Imagine um mundo sem a escrita...
Vamos fazer de conta que a escrita não existe e pensar num mundo sem ela.
O que fazemos quando queremos mostrar a uma pessoa o que estamos pensando ou sentindo? É fácil: falamos. E ninguém precisa da
escrita para falar, não é verdade? Todo povo tem uma linguagem, seja ele brasileiro, congolês, japonês, espanhol, americano, guarani, russo
ou finlandês...
Mas será que é só por meio da fala e da escrita que podemos mostrar nossos sentimentos e pensamentos?
O que faz um bebê que ainda não sabe falar, mas que quer mostrar que está com fome, alegre ou irritado? Um mudo ou um surdo para
se comunicar, sem a escrita, como faz? E você, no fim de um show, filme ou peça de teatro, por exemplo, que lhe agradou ou desagradou,
alegrou ou entristeceu, como costuma reagir?
E duas pessoas que se gostam muito e se encontram depois de um longo tempo sem se ver?
Além da fala, muitas outras atitudes servem para comunicar o que sentimos e pensamos.
ZATS, Lia. Aventura da escrita: história do desenho que virou letra. São Paulo: Moderna, 2012.
Observe, agora, as imagens a seguir. Que mensagens expressam? Converse com os seus colegas.
taringa.net
otempo.com.br
ip.usp.br
cfabraunao.com.br
obviousmag.org
pixabay.com
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
A FORÇA EXPRESSIVA DA ORALIDADE 2. Agora, em leitura coletiva (junto com seus colegas, em voz
alta), você vai ler um poema do nosso grande poeta Manuel
Como vimos, além dos sinais da escrita, temos os gestos, temos as cores, temos
Bandeira. Observe, pelo som das palavras, como o poeta
os objetos (as fotos, as roupas... ); e temos os sons para nos comunicar. Entre os
buscou expressar o ritmo de um trem passando.
sons, temos o som da fala, nossa natural capacidade para emitir sons, nossa
oralidade (assim como os passarinhos têm a deles, como os cachorros, os gatos, Trem de ferro
os leões, os porcos, os cavalos...). Os sentimentos que nossa fala pode expressar Oô...
Café com pão Quando me prendero
dependem muito do modo como emitimos nossa voz: podemos falar baixinho Café com pão No canaviá
(sussurrar), podemos gritar (berrar) nossa alegria ou nossa raiva, podemos Café com pão Cada pé de cana
expressar nosso carinho, nosso desprezo ou nossa indiferença, nossa ironia, nosso Era um oficiá
respeito, nosso encantamento... O correto entendimento do que queremos dizer Virge Maria que foi isto maquinista? Oô...
depende da expressividade com que falamos, ou seja, da força expressiva dos Agora sim [...]
sons que emitimos oralmente. Podemos dizer ou ler uma mesma frase e, através Café com pão
do modo de dizer, expressar diferentes sentimentos. Vamos exercitar a fala Agora sim Vou depressa
expressiva? Voa, fumaça Vou correndo
Corre, cerca Vou na toda
ATIVIDADES DE ORALIDADE Ai seu foguista Que só levo
Bota fogo Pouca gente
1. Vamos ler, em voz alta, a mesma frase, expressando os diferentes sentimentos
Na fornalha Pouca gente
sugeridos. Pense, ainda, no sinal de pontuação que poderia encerrar as frases,
Que eu preciso Pouca gente...
dependendo da expressividade no momento da leitura.
Muita força
I. Pai, manda dinheiro Muita força BANDEIRA, Manuel. Antologia poética.
(a) Com respeito, um pedido feito com carinho. Muita força São Paulo: Global, 2013.
(b) Sem o respeito devido, como uma ordem, um imperativo.
(c) Com respeito, uma pergunta, algo condicional (se o pai puder...). Oô...
Foge, bicho
II. Você é mesmo uma flor de pessoa Foge, povo
(a) Com ternura. Passa ponte Maria Fumaça – Trem da Serra – Assista ao vÍdeo
(b) Com ironia. Passa poste
Passa pasto
III. Tem uma barata ali Passa boi
(a) Com tranquilidade; apenas uma informação dada a alguém. Passa boiada
(b) Com medo, um grito de quem tem pavor de barata. Passa galho
(c) Com medo, uma pergunta, uma dúvida. Da ingazeira
Debruçada
IV. Olha só que coisa mais linda No riacho
(a) Com delicadeza, falando baixo, sussurrando ao ouvido de alguém. Que vontade
(b) Com alegria, espantado com a beleza do que está sendo visto. De cantar! https://www.youtube.com/watch?v=c-KuD7StdLo
(c) Com ironia.
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Vamos ler, agora, um poema de outro dos nossos grandes poetas, Mario Quintana, que nos fala de algumas outras possibilidades de
expressão, além da linguagem verbal, oral ou escrita.
superpartituras.com.br
Bem-aventurados os pintores escorrendo luz VERSO
Que se expressam em verde ______
tarsiladoamaral.com.br
Azul
Ocre
Cinza
Zarcão!
Bem-aventurados os músicos...
E os bailarinos
E os mímicos
E os matemáticos...
Cada qual na sua expressão!
brasilescola.uol.com.br
VERSOS ________
QUINTANA, Mario. Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro,
Objetiva, 2012.
Fórmula de Bhaskara VERSO ____
estudioanaca.com.br
nosso prazer de ler. Eles fazem parte da nossa literatura ou
seja, parte do conjunto de trabalhos considerados literários,
onde temos a palavra trabalhada como uma função estética, a
palavra usada como arte. No poema acima, o eu poético nos
fala de outras formas de expressão, de outras linguagens
possíveis, além da nossa Língua – o código estabelecido para
uso social da linguagem de palavras faladas (oral) ou escritas VERSO ____
(verbal) e que usamos mais cotidianamente como meio de Marcel Marceau (1923-2007)
comunicação e expressão. VERSO ____
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1- Observe, a seguir, as mensagens estruturadas em linguagem não verbal e traduza para a linguagem verbal (em língua escrita), a
informação que cada uma nos transmite:
clker.com
seton.com.br
cefetes.br
towbar.com.br
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__________________ _______________
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pt.clipartlogo.com
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Atenção, pedestre!
Evite acidentes; não
portaldoprofessor.mec.gov.br
ablp.org.b
os espaços de circulação e de usos de sua escola
estão bem sinalizados. Trabalhando em equipe, você
e seus colegas podem registrar os aspectos
observados (boas sinalizações, as que poderiam ser
melhoradas, a falta de sinalizações...) e, a partir dos
registros, elaborarem criptogramas criativos que,
_____________________ afixados em locais estratégicos, facilitariam ainda
_________________ mais a circulação de toda a comunidade escolar no
espaço da escola, assim como a localização e a
identificação de espaços de uso (sala de aula, sala
de leitura, sala da direção, quadra de esportes,
5. Observe, ao lado, a mensagem na placa banheiros, refeitório etc.).
mensagens10.com.br
taxi457.com.br
________________________________________ Atravesse sempre na faixa de segurança e
olhe, antes, para os dois lados da rua.
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O vocábulo “snif” é uma onomatopeia, ou seja, uma palavra criada a partir do som,
do ruído emitido por uma pessoa, ao chorar. Grafada assim, com letras
maiúsculas grandes, seguidas de exclamação, “SNIF!” tem o efeito de sugerir a
intensidade do choro.
GLOBINHO – Sábado, 27 de agosto de 2011.
c) O que nos permite perceber que um dos meninos não entende o brinquedo e a brincadeira dos outros dois meninos?
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A todo conjunto de sinais (símbolos) que utilizamos para expressar ideias e para nos comunicar chamamos LINGUAGEM. Assim, além das palavras
da linguagem verbal, ou seja, da língua oral ou escrita, podemos fazer uso de gestos, de cores, de símbolos matemáticos, de desenhos, de pictogramas...,
ou seja, da linguagem não verbal. Quando uma mesma mensagem combina elementos das duas linguagens (verbal e não verbal), foi elaborada em
linguagem mista.
Disponível em http://www.juguetero.org/datos.html
A ONOMATOPEIA é uma figura de linguagem, um recurso expressivo utilizado na elaboração de mensagens orais ou escritas.
Trata-se de um processo de formação de palavras em que se busca reproduzir os sons (barulhos ou ruídos de máquinas, de
outros objetos, de animais, de seres humanos, de outros seres da natureza...), quando essas palavras são pronunciadas.
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Em todos os textos que lemos, é fundamental observar, com atenção, os elementos que se combinam para expressar da melhor forma
uma mensagem. Nos textos de linguagem verbal, por exemplo, precisamos observar como as palavras se combinam nas frases, como
se dá a coesão entre as orações, os períodos, os parágrafos... O mesmo ocorre com elementos que organizam a mensagem nos textos
de linguagem não verbal ou nos textos em linguagem mista.
3. Que elemento expressa a ideia de que a natureza local está sendo toda
devastada?
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Disponível em http://www.ziraldo.com.br/
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ILUSTRAÇÃO DE UM TEXTO
Como já observamos, a linguagem verbal e a linguagem não verbal se correspondem entre si: mantêm um diálogo.
Uma pode dizer a outra, uma pode ilustrar a outra.
Fotografia 5
– Trata-se de puxar.
– Tens aqui tudo. O século resumido. Uma síntese.
– Trata-se puxar uma coisa que está fora do seu
elemento normal. Puxar um barco em plena terra, em
plena aldeia.
– E há uma dificuldade acrescida: as paredes da rua
por onde tem de passar o barco estão demasiado
próximas. Repara.
– Deves continuar a puxar. Há mais algum conselho
que se possa dar a quem está vivo? Deves continuar a
puxar, eis tudo.
– Se tiveres sorte, puxas juntamente com a tua
família. Com uma outra pessoa. Senão, puxas sozinho.
– Mas a questão é que não há água nas Domingos Rebêlo. Pescadores varando um barco. 1924. Carvão e aquarela sobre papel.
proximidades. É o que parece pela fotografia. As Disponível em http://domingosrebelo.com/?p=562]
pessoas puxam um barco pelas ruas de uma aldeia,
mas sem objetivo. Não há água.
– Tiraram toda a água do século XX, mas aqui RIQUEZAS DA LÍNGUA PORTUGUESA... E DE SUAS LINGUAGENS
ninguém sabia. O texto “Fotografia 5” é de Gonçalo M. Tavares, professor e escritor,
– Continuaram a puxar o barco. angolano, nascido em Luanda, cidade da República de Angola, que foi
– Devemos fazer o mesmo. colônia de Portugal até 1975. A foto é de uma pintura feita em carvão e
– Sim, é a melhor opção. aquarela sobre papel pelo professor e artista plástico Domingos Rebêlo,
açoriano, nascido na cidade de Ponta Delgada, na Ilha de São Miguel, no
TAVARES. Gonçalo M. O Globo. Caderno Prosa e Verso, jun 2013. Arquipélago dos Açores, região autônoma de Portugal.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Observe, a seguir, a bela crônica de Cecília Meireles, quase toda feita da A DESCRIÇÃO
DESCRIÇÃO de um lugar. Quando desejamos apresentar algo a quem nos ouve ou nos lê e
acreditamos que esse “algo” seja desconhecido do nosso ouvinte ou
A ARTE DE SER FELIZ (Cecília Meireles) leitor, recorremos à DESCRIÇÃO.
A função da descrição é informar as características ou elementos do que está sendo
Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que apresentado. Na narração, contamos uma história. Na descrição, interrompemos a
parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma história para descrever um personagem, um objeto, um lugar, um ambiente...
época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as
manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com
a mão umas gotas de água sobre as plantas. [...] E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu
coração ficava completamente feliz. Também numa folha à parte, escreva os textos solicitados, referentes
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes a cada imagem. Depois, mostre a seu(sua) Professor(a).
encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que
pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. a) Em um breve texto descritivo, descreva a cena (ou situação) que
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. [...] Às você vê nesta CHARGE:
vezes, um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar,
Disponível em http://ogestor.eti.br/redes-sociais-aproximam-ou-
cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem
afastam-pessoas/
diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.
MEIRELES, Cecília. Escolha o seu sonho. Rio de Janeiro: Record, 2005.
SAUDOSO E-MAIL
Quando o e-mail surgiu, foi considerado um meio prático, porém frio de se corresponder. Mas agora que o e-mail foi reduzido a pó por
Face, WhatsApp & Cia, agora que ele sobrevive apenas para a troca de mensagens profissionais (e olhe lá), agora que ele respira por
aparelhos, já podemos lembrar, nostálgicos, de como ele era refinado.
O e-mail entrava discretamente na sua caixa de mensagens e ficava ali, quietinho, aguardando, pacientemente o momento em que o
destinatário pudesse lê-lo e respondê-lo. A resposta podia ser bem articulada, revisada e enviada sem nenhuma aflição. Claro que não
era agradável deixar alguém aguardando uma semana, mas, na maioria das vezes, não levava tanto tempo assim, o retorno geralmente
era dado no mesmo dia ou no dia seguinte...
Isso foi ontem. Anteontem. Um século atrás. Dá no mesmo.
Agora, você troca mensagens instantâneas, um toma-lá-dá-cá que faz todo mundo parecer meio esquizofrênico. A questão do corretor
de texto é uma insanidade. “Oi, Patricia!” se transforma em “Ouviu, patife!” e o que era para ser um gentil cumprimento vira um insulto.
Não preciso dar outros exemplos, você passa por isso todos os dias: corrigir as bananices que o corretor comete à revelia.
Mas o mais grave nem é isso.
É ter que responder de bate-pronto. Eu às vezes não sei exatamente como reagir a algo que me escreveram, gostaria de ter ao menos
cinco minutos para processar a informação e entender o que estou sentindo antes de mandar uma resposta, cinco minutos não é tanto
tempo assim, é? Ora, em cinco minutos o interlocutor já se atirou do oitavo andar, sentindo-se rejeitado pelo meu silêncio. Não, senhora,
você não pode pensar nem cinco, nem dois, nem meio segundo, precisa escrever feito um raio, num flash, sem pestanejar, porque o outro
está digitando ao mesmo tempo e isso configura um duelo, ganha quem disparar primeiro. [...]
Bom mesmo seria se a gente continuasse a se comunicar frente a frente, transmitindo nosso estado de espírito com o próprio rosto,
sem precisar do auxílio de algum emoji. Se a gente pudesse falar com calma e o outro responder com calma. Mas isso parece que
também é coisa muito antiga.
Nasci atrasada, estou sempre correndo atrás do tempo: aquele tempo que o e-mail me dava pra pensar.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Percebe-se que a cronista constrói seu texto (uma crônica em linguagem verbal) de forma coloquial, subjetiva, enfocando um assunto
banal, comum ao dia a dia da maioria das pessoas e utilizando uma linguagem informal, como se estivesse conversando com seu leitor.
1. Em relação ao tempo utilizado nos meios de comunicação à distância, que características a cronista aponta nos meios apresentados abaixo?
___________________________ ______________________________
___________________________ ______________________________
___________________________ ______________________________
___________________________ facebook, twiter, instagram, whatsapp & cia ______________________________
2. A cronista faz uso de algumas figuras de linguagem. Destacamos, a seguir, duas dessas figuras:
a) Transcreva, do primeiro parágrafo da crônica, o trecho em c) Transcreva, do segundo parágrafo da crônica, trechos em
que a cronista faz uso da HIPÉRBOLE: que a cronista faz uso da PERSONIFICAÇÃO:
___________________________________________________ ____________________________________________________
___________________________________________________ ____________________________________________________
__________________________________________________ ____________________________________________________
____________________________________________________
b) Que finalidade expressiva, ou seja, que efeito de sentido ____________________________________________________
tem, na crônica, o uso dessa hipérbole?
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
observalinguaportuguesa.org
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Estudando a CRÔNICA...
a) O termo em destaque relaciona duas considerações, duas opiniões adversas (uma favorável, outra desfavorável), mas que se
complementam em uma caracterização do e-mail à época em que surgiu. Pense no significado com que foram utilizadas as palavras “prático”
e “frio” e, com outras palavras, complete a seguinte caracterização de e-mail:
“Apesar de ser um meio mais ________________________, o e-mail foi considerado uma forma muito ___________________________ de
se corresponder.”
4. De acordo com o 2.º parágrafo, o que leva a cronista à opinião de que o e-mail era mais “refinado” (final do 1.º parágrafo)?
__________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________________________
6. As expressões “toma-lá-dá-cá” (.parágrafo) e “responder de bate-pronto” (6.º parágrafo), próprias da linguagem informal, reforçam, na
crônica, a ideia de ___________________________________________________
O corretor automático de texto é um mecanismo
presente em aplicativos instalados em computadores ou
aparelhos celulares para a troca de mensagens. O
7. O uso da gíria é comum quando se utiliza a linguagem informal em textos, em
corretor realiza automaticamente correções na
conversas entre amigos... Que sentido tem a gíria “bananices”, utilizada no ortografia do texto digitado, “à revelia”, ou seja,
4.º parágrafo? independentemente da vontade de quem digita uma
___________________________________________________________________ mensagem,... e, com isso, pode provocar algumas
___________________________________________________________________ confusões, como narra a cronista, no 4.º parágrafo.
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Antes de continuarmos a estudar a crônica, vamos saber um pouco mais sobre uma outra FIGURA DE LINGUAGEM:
A IRONIA
A ironia é um recurso de linguagem que consiste em se expressar, através de um jogo de palavras, com a intenção de ironizar, ou seja, de
zombar de alguém ou de ridicularizar, de censurar, de criticar, de denunciar uma atitude ou alguma situação.
Frequentemente, esse jogo é feito utilizando-se uma palavra que, em determinado contexto, produza um sentido contrário, oposto ao habitual.
Exemplo: “Que grande corretor ortográfico! Confunde tudo e acaba provocando bananices...”
Vale lembrar que nem só de oposições se constroem as ironias. Muitas vezes utiliza-se o jogo de palavras de forma que produza um sentido não
necessariamente oposto, mas diferente do que habitualmente aquelas palavras produziriam em uma outra situação. Na ironia, a crítica se dá de
forma sutil, às vezes com um toque de humor. Na ironia, a crítica por vezes fica IMPLÍCITA.
Outros exemplos:
“É melhor nada dizer e deixar uma dúvida sobre sua total falta de jeito na cozinha, que expressar uma opinião e acabar com a dúvida.”
“Sua atuação como goleiro, ontem, foi perfeita. Refletiu bem a reação de quem nunca viu uma bola antes.”
8. Agora, releia o 6.º parágrafo da crônica e transcreva o trecho em que a cronista faz uso do recurso da IRONIA, em que exagera uma situação
para ironizar, para criticar uma atitude.
____________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________
9. Releia o trecho “Agora, você troca mensagens instantâneas, um toma-lá-dá-cá que faz todo mundo parecer meio esquizofrênico.” O que
significa a expressão em destaque? (Caso desconheça, peça auxílio ao dicionário.)
____________________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________
10. Qual seria, na opinião da cronista, a melhor atitude numa situação de interação, de
comunicação entre as pessoas?
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b) Qual a queixa expressa por ela em relação à velocidade exigida pelos tempos atuais?
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Leia, a seguir, dois inícios de crônicas escritas por dois de nossos maiores cronistas e que o ajudarão a entender um pouco mais sobre o
que seja “o espírito da crônica”.
O NASCIMENTO DA CRÔNICA
Machado de Assis
MEU IDEAL SERIA ESCREVER...
Rubem Braga
Há um meio certo de começar a crônica por uma
trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela
isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou
moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha
simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor
história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e
aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas
dissesse – "ai meu Deus, que história mais engraçada!". [...]
acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, (...)
Está começada a crônica. [...] BRAGA, Rubem. A traição das elegantes. Sabiá: Rio de Janeiro, 1967.
1- Neste início de crônica, o autor fala sobre a arte de 2- Este início de crônica mostra um cronista idealizando escrever,
escrever crônicas a partir de trivialidades, ou seja, de de um modo leve, uma história engraçada, que cativasse o leitor.
assuntos comuns, banais, do conhecimento de todos. De que Que “fato da vida” ele toma como ponto de partida para escrever
fato cotidiano ele diz que uma crônica pode partir? sobre uma história que gostaria de contar?
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Vamos entender o que seja o espírito da crônica: sua função, sua linguagem, suas diferentes
formas de abordagem, onde as crônicas são publicadas, a periodicidade dessas publicações, sua estrutura textual.
BOA DICA:
A linguagem informal é, em geral, a linguagem utilizada no gênero CRÔNICA. Assista à série
A abordagem normalmente gira em torno de trivialidades, assuntos comuns, aspectos banais da vida
diária, fatos cotidianos da vida de uma cidade, de um bairro, de uma comunidade, sempre do
conhecimento e interesse de todos.
Tipologia das crônicas: é difícil estabelecer uma tipologia diante da grande variedade de crônicas,
tendo em vista sua diversidade de estrutura textual, linguagem utilizada, finalidade, assunto abordado,
meio em que aparece publicada, interesse, público-alvo... podemos dizer que há crônicas de diferentes
tipos, com diferentes finalidades, para diferentes interesses do público leitor.
Uma crônica pode ser narrativa (contar uma história real ou fictícia; pessoal ou acontecida com outros);
argumentativa (defender uma opinião, com argumentos); reflexiva (refletir sobre um dado aspecto da
sociedade em que vivemos ou da existência como um todo); descritiva (descrever determinado objeto,
uma pessoa, uma cena...)... EPISÓDIO: “Um vídeo sobre a nossa
vida: Crônica”
De acordo com a abordagem, a crônica pode ser, por exemplo, lírica ou poética, humorística, mais https://www.youtube.com/watch?v=xNhlV
objetiva... XCdE4U
De acordo com o assunto, a crônica pode ser esportiva, política, existencial, crônica de costumes...
A origem da palavra CRÔNICA está ligada a TEMPO (“crônica” Entre nossos mais renomados cronistas, destacamos: Machado de
vem de khrónos, vocábulo grego que significa tempo) justamente Assis, Lima Barreto, João do Rio, Nelson Rodrigues, Cecília Meireles,
por conta de seu caráter de abordagem oportuna, enfocando Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga,
sempre o tempo atual, os fatos do cotidiano, daí sua contínua Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Millor Fernandes, Armando
publicação em diferentes meios de comunicação. Vale lembrar, Nogueira, Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo, Martha Medeiros...
aqui, a palavra cronologia (khrónos).
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Você vai ler, a seguir, umas das inúmeras crônicas de Rubem Braga cujo início nos serviu de exemplo do que seria o espírito da crônica.
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha
história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse
para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem
alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua
vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – "mas
essa história é mesmo muito engraçada!“
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o
marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da
mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois
rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e
reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão
colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história,
mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – "por favor, se comportem, que
diabo! eu não gosto de prender ninguém!". E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes
em alegre e espontânea homenagem à minha história.
E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um
australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu
encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi
uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter
sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele
pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina“.
E quando todos me perguntassem – "mas de onde é que você tirou essa história?" – eu responderia que ela não é minha, que eu a
ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um
sujeito contar uma história...".
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza
daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
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BRAGA, Rubem. A traição das elegantes. Rio de Janeiro: Sabiá, 1967.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
1. Como vimos anteriormente, o cronista deve olhar à sua volta, buscar um “fato da vida cotidiana” que será o assunto de sua crônica. Na
crônica que você acabou de ler, por exemplo, o cronista toma como ponto de partida o desejo de escrever uma história engraçada que fizesse
bem a todos que a lessem ou que a ouvissem.
a) Que fato mais imediatamente à sua volta ele tomou como ponto de partida para falar de seu ideal de contar uma história bem engraçada?
___________________________________________________________________________________________________________________
b) Que palavra ele utiliza para caracterizar a casa onde vive a moça, reforçando, assim, a ideia de tristeza?
___________________________________________________________________________________________________________________
c) Transcreva, do 1.º parágrafo, o trecho em que ele usa palavras que se contrapõem a essa ideia:
___________________________________________________________________________________________________________________
2. Ao longo da crônica, observamos que o desejo do cronista é que sua história engraçada fosse se espalhando. A que outros locais o cronista
gostaria que sua história chegasse?
___________________________________________________________________________________________________________________
3. Na imaginação do cronista, que consequência sua história teria para as pessoas que dela tomassem conhecimento?
___________________________________________________________________________________________________________________
4. Observe, ao longo de toda a crônica, que as formas verbais indicam uma condição para que os fatos narrados aconteçam. Que condição é
essa, ou seja, o que deveria acontecer anteriormente para que os fatos posteriores acontecessem?
___________________________________________________________________________________________________________________
DESENVOLVENDO A ORALIDADE...
O ESPÍRITO DA CRÔNICA
O modo de o cronista comentar as trivialidades, os fatos banais do dia a dia (através de uma história que ele narra, de uma opinião ou de uma análise
objetiva; com um olhar mais humorístico, mais poético ou mais reflexivo) é que vai caracterizar a crônica como argumentativa (como a de Martha
Medeiros, em “Saudoso e-mail”, que você leu anteriormente neste caderno) ou narrativa (como a que você vai ler a seguir). Trata-se de uma narrativa
bem poética, bem lírica, como você poderá observar.
Você vai acompanhar a seguir uma cena bem carioca, através de uma crônica narrativa de Fernando Sabino, um mestre na arte de
escrever crônicas. Ao lado, algumas observações e questões que ajudam a perceber o passo a passo do cronista ao escrever sua crônica:
A ÚLTIMA CRÔNICA
Passo a passo da crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Releia o TÍTULO que o cronista deu à sua crônica. Leia a crônica. Depois,
responda: Você acha que o título foi bem escolhido? Justifique sua opinião.
Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na
________________________________________________________________
realidade, estou adiando o momento de escrever. ________________________________________________________________
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar ________________________________________________________________
inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta
busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada A FIGURA DO NARRADOR
um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo No 1.º parágrafo, parágrafo de introdução, percebe-se que o cronista fala dele
mesmo, ou seja, ele se coloca como narrador que participa da situação inicial.
de seu disperso conteúdo humano, fruto da
Que palavras, no 1.º parágrafo, nos permitem perceber isso?
convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava _____________________________________________________________
ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do
acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas ONDE? QUANDO?
palavras de uma criança ou num acidente doméstico, No 1.º parágrafo, também se antecipam o espaço e o tempo, ou seja, o local
e o momento da cena. Onde e quando se passa?
torno-me simples espectador e perco a noção do
_______________________________________________________________
essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça
e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete METALINGUAGEM
na lembrança: "assim eu quereria o meu último No 2.º parágrafo, observa-se que o narrador fala um pouco sobre a arte de
poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço escrever crônicas, sobre a busca dos assuntos que, na sua opinião, merecem
então um último olhar fora de mim, onde vivem os uma crônica.
assuntos que merecem uma crônica. Continua...
Quando, em um texto, fala-se sobre a própria arte de escrevê-lo, dizemos que
se fez uso da METALINGUAGEM.
Ao fundo do botequim, um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de
mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e O assunto
que,
palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, segundo o
cronista,
toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas merece uma
crônica.
curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em
torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam
para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso,
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aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a
redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a
aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-
lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A
Nosso cronista Desdobra-
observador:
meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do mentos do
Fernando Sabino. assunto.
bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia
triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o
garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha,
obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante,
retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também,
atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
Observe as palavras que usa para se referir aos pais como “um casal de pretos” e à filhinha deles como “negrinha”. São
palavras que, em determinadas contextos, podem revelar um olhar preconceituoso. Não é o que acontece no contexto
dessa crônica, em que o narrador dirige um olhar de respeito, de admiração e de carinho aos personagens e à cena que
protagonizam.
Transcreva, do 3.º parágrafo, trechos ou vocábulos que expressam admiração e respeito pelo casal e carinho pela menina.
___________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
A partir do 4.º parágrafo, o narrador passa a registrar a sequência de ações da cena que observou.
Numere os parênteses de acordo com a ordem em que as ações são apresentadas:
• O garçom, depois de ouvir o pedido, afasta-se para comandar o pedido junto ao homem atrás do
balcão. ( )
• A menina aguarda algo, antes de começar a comer. ( )
• O pai assegura-se de que tem como pagar o que vai encomendar ao garçom. ( )
O que será mesmo que a família se prepara para fazer naquele botequim?
Leia, na próxima página, a continuação e conclusão da crônica.
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O cronista vai descobrir e nos contar por que a menina não
começa a comer. Leia a conclusão da crônica.
Passo a passo da crônica
A ÚLTIMA CRÔNICA (final) 1. No parágrafo anterior, o narrador se pergunta,
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta observando a menina: “Por que não começa a
comer?” Neste parágrafo, ficamos sabendo o
caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai
porquê. O que ela aguardava?
risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha _________________________________________
repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. _________________________________________
_________________________________________
Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num _________________________________________
balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns
pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A 2. No 5.º parágrafo, começa-se a desenvolver o
CLÍMAX da cena. Releia:
negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a
comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no Após a comemoração, o pai, satisfeito, olha em
volta para saber se alguém observava a cena. O
cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os que causou no pai um constrangimento inicial?
olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do _________________________________________
sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se _________________________________________
encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, 3. Transcreva o trecho em que o pai se mostra,
mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. aos olhos do único observador, orgulhoso da
comemoração em família.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse
_________________________________________
sorriso. _________________________________________
SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Record, 1965. _________________________________________
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INTERTEXTUALIDADE
Ao recurso de um texto fazer referência a outro texto, chamamos de intertextualidade. Leia o poema a
cujo verso o cronista faz referência, no segundo parágrafo de “A ÚLTIMA CRÔNICA”.
revistaepoca.globo.com
O ÚLTIMO POEMA (Manuel Bandeira)
FIQUE LIGADO!!! Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. Manuel Bandeira
CONTEXTO é a relação entre o texto e a situação a partir da qual ele foi produzido. As
circunstâncias em que se produz a mensagem é que permitem sua correta compreensão.
FIQUE LIGADO!!!
INSERIDO NO CONTEXTO
A partir do momento em que a família chega ao botequim para comemorar o aniversário da filhinha, você percebe, em palavras utilizadas pelo
narrador, que ele observa a família com um olhar de admiração, de respeito, de carinho. São palavras que formam o contexto da crônica e que
devem ser entendidas dentro desse contexto. Como vimos, no 3º parágrafo, somente o contexto permite entender que alguns termos com que o
narrador se refere aos personagens (casal de pretos, negrinha) foram usados sem qualquer carga de preconceito, mas em tom de admiração,
respeito, ternura e carinho.
A crônica que você vai ler a seguir é também de base narrativa. O cronista narra uma história, mas uma história que cria, a partir de uma outra
história, de uma situação que leu como notícia em um jornal. Observe que um resumo da notícia (que é também uma narrativa) aparece como
uma introdução, antes da história criada pelo cronista. Trata-se de uma EPÍGRAFE. Leia a crônica, observando os elementos narrativos
indicados ao lado do texto.
EPÍGRAFE
Anterior ao início do
TÍTULO da crônica texto, nela se cita um
ESTRANHAS AFINIDADES outro texto. Aqui, cita-se
(Moacyr Scliar) a notícia sobre a qual
se baseia a crônica.
Casal se divorcia após descobrir que flertava pela internet. Um casal residente na cidade de Zenica, na Bósnia-Herzegóvina, estava com (Aparece desse modo
problemas no casamento. Por causa disto, os dois iniciaram contatos pela internet, e, sem saber de suas identidades, trocaram em alguns textos, mas
mensagens e acabaram se apaixonando. Quando a relação se tornou séria, decidiram se encontrar, e então descobriram quem eram. O não em todos).
casal decidiu se separar. (29/10/2007 – Folha online)
Quando descobriram que, sem saber, estavam se correspondendo pela internet, ficaram, marido e mulher,
SITUAÇÃO
surpresos e chocados. Aquilo era algo mais que uma simples coincidência. Era um sinal. Um sinal de que alguma INICIAL
coisa, em ambos, estava profundamente errada. E esta coisa os levara, durante um tempo que não havia sido
pequeno, a viver uma dupla existência. Daí as interrogações.
Quem sou eu, perguntava-se ele. Com razão. No dia a dia ele era uma pessoa nervosa, irascível, de gestos COMPLICAÇÃO
bruscos. Relacionava-se mal com os amigos e conhecidos e costumava descarregar suas frustrações na esposa. OU CONFLITO
GERADOR
Quem sou eu, perguntava-se ela. Com razão. No dia a dia ela era uma pessoa nervosa, irascível, de gestos e seus
desdobramentos
bruscos. Relacionava-se mal com os amigos e conhecidos e costumava descarregar suas frustrações no marido.
Quem sou eu, perguntava-se ele. Com razão. Nas mensagens que enviava pela internet revelava-se, para sua
própria surpresa, uma pessoa afetiva, dotada de rica imaginação e capaz de construir uma relação amorosa mesmo
a distância, mesmo sem ver aquela a quem se dirigia. Um milagre da internet? Talvez, mas ele suspeitava que a
internet nada mais fizera do que liberar o seu lado bom, o seu lado positivo, o lado que amava a vida e que buscava
compartilhar tais sentimentos com alguém.
Quem sou eu, perguntava-se ela. Com razão. Nas mensagens que enviava pela internet revelava-se, para sua
própria surpresa, uma pessoa afetiva, dotada de rica imaginação e capaz de construir uma relação amorosa mesmo
a distância, mesmo sem ver aquele a quem se dirigia. Um milagre da internet? Talvez, mas ela suspeitava que a
internet nada mais fizera do que liberar o seu lado bom, o seu lado positivo, o lado que amava a vida e que buscava
compartilhar tais sentimentos com alguém. Continua...
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Como é possível, indagava-se ele, inquieto, que eu tenha, por assim dizer, duas vidas? Como é possível que estas duas
partes de mim sejam tão diferentes, tão incompatíveis? O que eu poderia fazer para me tornar uma pessoa só? A quem deveria
recorrer para isso?
Como é possível, indagava-se ela, inquieta, que eu tenha, por assim dizer, duas vidas? Como é possível que estas duas
partes de mim sejam tão diferentes, tão incompatíveis? O que eu poderia fazer para me tornar uma pessoa só? A quem deveria
recorrer para isso? CLÍMAX ou
Estas eram as perguntas que se faziam. Claro, poderiam fazer as mesmas perguntas um para o outro. Poderiam descobrir- momento de
se mutuamente, poderiam, quem sabe, constatar que, ao fim e ao cabo, haviam sido feitos um para o outro. Mas um diálogo maior tensão
destes não é fácil. Preferem continuar na internet para ver se encontram o Príncipe Encantado, a Princesa Encantada.
SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro: Agir, 2009. DESFECHO
Leia, a seguir, como ficaria um QUADRO DOS ELEMENTOS DA NARRATIVA, tanto da crônica (1) como da notícia de jornal (2) que a
inspirou.
Um casal com problemas de Os dois começam a buscar Apaixonados, um pelo outro, através Após o encontro, ao
relacionamento. contatos com outras pessoas da internet, sem saber suas descobrirem quem são,
pela internet. identidades, decidem se encontrar. decidem se separar.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
O texto que você vai ler a seguir é também uma CRÔNICA de João do Rio, um de nossos cronistas mais apaixonados pela cidade do Rio
de Janeiro. Trata-se de uma crônica argumentativa, lírica, subjetiva, com João do Rio falando de seu amor pela rua e explicando as razões
desse amor.
Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar,
que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas
cidades, nas aldeias, nos povoados, [...] porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e
indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Os
séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o
amor da rua. [...]
A rua! Que é a rua?
A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem: "Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e
passeia". A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas por onde se anda nas povoações.
Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!
A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada
praça – a rua criou o garoto!
Oh! Sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, puras, infames, ruas sem
história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas...
Balzac* dizia que as ruas de Paris nos dão impressões humanas. São assim as ruas de todas as cidades, com vida e destinos iguais aos
do homem.
JOÃO DO RIO. A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
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*Balzac – Honoré de Balzac (1799-1850),
um dos maiores nomes da literatura
francesa. Em sua obra, destaca-se “A
comédia humana”, que consiste de
romances, novelas e contos que retratam a
sociedade francesa de sua época.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
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1. Que revelação o cronista faz para iniciar sua crônica?
___________________________________________________________________________________________
3. Como o cronista expressa para os leitores sua opinião de que se trata de um sentimento A rua e seu povo – O povo e sua rua
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4. Na opinião do cronista o que iguala, irmana e une todos os habitantes de um local?
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a) referir-se a seus leitores? ____________________________________________
b) irmanar-se aos leitores? _____________________________________________
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
7. “A rua! Que é a rua?” É desta forma que o cronista inicia a segunda parte do seu texto. Que intenção do cronista pode ser percebida, em
relação ao desenvolvimento da crônica?
________________________________________________________________________________________________________________
8. A que trocadilho o cronista se refere? Que relação de semelhança ele estabelece, a partir desse trocadilho?
________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
10. Em “A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas...”, a que se refere o vocábulo em destaque? _________________________
11. Observe os termos destacados e faça a correspondência com as circunstâncias apresentadas no retângulo. Leia os trechos
atentamente:
( 1 ) “Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia“ (3.º parágrafo). ( ) Comparativa
( 2 ) “Ora, a rua é mais do que isso ... (4.º parágrafo) ( ) Causa e consequência
( 3 ) “...ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira...” (6.º parágrafo) ( ) Aditiva
12. Observe que, a partir do trocadilho que faz, ele passa a usar o recurso da PERSONIFICAÇÃO: humaniza a rua. Transcreva o primeiro
trecho em que está presente a personificação:___________________________________________________________________________
13. Pode-se dizer que, na opinião do cronista, o homem faz a rua e a rua faz o homem? Justifique sua resposta com um trecho da crônica.
________________________________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________
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“Oh! sim, as ruas têm alma!”
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os estudantes lendo, alternadamente, em voz alta, versos do
poema e a turma toda lendo, em coro, o verso final.
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Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
INFÂNCIA
Carlos Drummond de Andrade
O olho do sol batia sobre as roupas do varal e mamãe sorria feliz. Gotículas de água aspergindo a minha vida-menina balançavam ao vento.
Pequenas lágrimas dos lençóis. Pedrinhas azuis, pedaços de anil, fiapos de nuvens solitárias caídas do céu eram encontradas ao redor das
bacias e tinas das lavagens de roupa. Tudo me causava uma comoção maior. A poesia me visitava e eu nem sabia…”
(Conceição Evaristo, epígrafe do livro “Poemas da recordação e outros movimentos”. Belo Horizonte: Nandyala, 2008.)
Crônica , HISTÓRIA e MEMÓRIA: A seguir, você vai ler mais um relato sobre lembranças do
passado e que vale como um registro histórico da nossa cidade e da nossa gente.
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(fragmento adaptado)
Ramon Mello
Bahia, ô África,
Vem cá vem nos ajudar
Ainda me lembro do seu cheiro e de sua voz um tanto rouca a cantarolar. Todo domingo, sentado num banco de madeira, na Barão
de Tefé, meu avó me colocava no colo e cantava. Olhávamos os navios atracados no porto, enquanto ele contava histórias de nossos
familiares. Muito novinha, não entendia o significado desse ritual, achava um pouco triste, embora todo aquele ritmo – as ondas, as
cantigas e o balançar de suas pernas – me trouxesse a leveza que carrego até hoje. A beleza desse movimento só descobri mesmo
com as cinzas de meu avó feiticeiro nas mãos.
Sem demonstrar cansaço, ele ainda arranjava forças pra me dizer: Filha, se você precisar, é só pensar no vovô que ele vem te
ajudar. Eu me pego pensando nele, diariamente, não só nos momentos de dificuldade. Quando volto ao cais e me sento em seu banco,
não mais de madeira, é impossível não lembrar dele.
Força baiana, força africana,
força divina vem cá, vem cá!
Vovô fazia questão de relembrar para quem quer que fosse os tempos do cativeiro. Filho de escravos alforriados, não tinha vergonha
nem ressentimento do passado. Liberdade, ainda que tardia, rezava em voz alta. Quase sempre narrava a mesma história, a saga dos
escravos africanos, que desembarcavam exatamente aqui onde estou, no Valongo, e logo eram marcados como gado e depositados
nos armazéns da, agora, rua Camerino, para serem vendidos – como seus pais, meus bisavós, que foram comercializados, ainda
jovens, para trabalharem na lavoura da cana-de-açúcar.
Já vi muita gente fazendo pouco caso de suas palavras, zombando de suas memórias: mentiras de preto. Ele não se revoltava.
Carregava a certeza de que, cedo ou tarde, haveria permissão para que a própria história se revelasse. Eu me emocionava com suas
lembranças, sentia o peso dos dramas encobertos pelo tempo.
Não foi preciso escavar as pedras para entender as ruínas da escravidão, o rosto de meu avô registrava os anos de tristeza e de
maldade com nossos antepassados. Mortos sem ritual, ossos quebrados antes do sepultamento. Por que tanta crueldade, meu Deus?
Era medo de feitiço, minha filha. Nos encontramos todos em Aruanda, todos, sem discriminação de cor, ele acreditava. Eu creio, vovô.
No dia em que ele partiu, me senti à deriva. Meu desejo era jogar o coração feito âncora, ao mar. Fui até o cais e joguei uma rosa
branca, sua preferida. Fiquei triste, óbvio, mas não chorei. Ele não iria gostar de me ver em lágrimas. Cantei, cantei muito. Cantei por
mais de uma hora, em frente ao mar. Senti sua companhia ao meu lado, até achei graça. Sei que ele vai ficar comigo sempre. Como
devo fazer esse ritual de despedida? Cantando, minha filha, cantando. Em silêncio, ouvi a voz do meu avô.
Força baiana, força africana,
mitologia.templodeapolo.net
força divina vem cá, vem cá!
MELLO, Ramon... [et al]. Porto do Rio do início ao fim. Rio de Janeiro: Rovelle, 2012.
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
unegroriodejaneiro
2. Quem são os personagens da narrativa?___________________________________________________
3. Que expressão, no início da narrativa, indica que a lembrança permanece com a narradora-personagem?
______________________________________________________________________________________
4. Diga que localidades do Rio são citadas na narrativa e, através delas, identifique a região da cidade que é objeto
de memória da narradora-personagem:
_________________________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________________
5. Em que parágrafo revela-se quem são os antepassados dos personagens? Transcreva o trecho que primeiro revela isso:
_________________________________________________________________________________________________________________
6. Transcreva, do 4.º parágrafo, uma opinião que revela o preconceito de algumas pessoas:
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8. Transcreva o trecho em que se explica, através de uma crença, as crueldades contra os africanos escravizados e suas famílias:
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9. Ao afirmar, no final, “Sei que ele vai ficar comigo sempre.”, a quem se refere a narradora e de que modo ele ficará sempre com ela?
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10. Que função tem os destaques em itálico que aparecem no texto? Qual a finalidade dos versos destacados?
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AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
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cienciahoje.uol.com.br
Século XXI, 2015 – Escavações e obras de drenagem na Avenida Barão de Tefé
deixaram à mostra as pedras do antigo Cais do Valongo, como um monumento à Século XIX, 1811 - O Cais do Valongo foi construído pela Intendência Geral
memória do triste período de escravidão no Brasil, à herança cultural que nos de Polícia da Corte do Rio de Janeiro, com o objetivo de concentrar o comércio
foi legada pelos africanos e ao vigor de sua presença no Rio de Janeiro de hoje. de escravos. (http://noticias.band.uol.com.br/cidades/rio/)
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portomaravilha.com.b
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O Cais do Valongo e o Cais da Imperatriz formam hoje, com a Pedra do Sal, o Jardim
Suspenso do Valongo, o Largo do Depósito, o Cemitério dos Pretos Novos e o Centro
Cultural José Bonifácio: Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança
Africana. www.eventtoall.com.br
AULAS DO PROFESSOR RUI CECCON/2018
Releia as crônicas aqui apresentadas, leia outras crônicas; releia as letras de canção, as tiras e
as charges; pense nos assuntos que foram objetos das Rodas de Conversa; busque nos jornais
Leia a entrevista da nossa escritora diários, busque nos ambientes a sua volta, busque na sua memória; reflita sobre o espírito da
Lygia Fagundes Teles. Ela fala um crônica; volte, se for preciso, aos quadros com os elementos característicos da crônica
pouco sobre o espírito da crônica. narrativa..., porque
AGORA, VOCÊ VAI SER O(A) CRONISTA!
Você pode, como fez Fernando Sabino em sua “Última crônica”, lançar um olhar para fora, olhar
ao seu redor, “onde vivem os assuntos que merecem uma crônica”.
Você pode, como disse Lygia Fagundes Telles, no trecho de entrevista ao lado, olhar para algo e
se inspirar.
Escolha seu objeto de inspiração no seu dia a dia, entre aquilo que o(a) rodeia.
Pode ser uma história engraçada, uma cena, uma situação que você tenha visto ou que lhe venha
à imaginação, à memória; pode ser uma foto ou uma notícia de jornal que tenha como tema o
lugar onde você mora.
SUGESTÃO DO TEMA – a sugestão é que sua crônica tenha como tema a sua rua ou um local
da cidade do Rio de Janeiro, uma homenagem sua à nossa cidade, uma cidade cheia de
História e de histórias, não é mesmo?
O GLOBO. Prosa e Verso. Sábado,15 de outubro de 2011.
Inspire-se, planeje, rascunhe, corrija, escreva e reescreva... até chegar à forma final.
Escreva sua crônica em uma folha à parte e combine com seu/sua Professor(a) para afixá-la no
mural da sua sala de aula.
Pode-se organizar uma RODA DE CRONISTAS e nela você pode ler sua crônica e ouvir as crônicas
produzidas por seus colegas.
Você pode, se desejar, combinar com seu(sua) Professor(a) e convidar um colega para escrever junto
com você.
Não se esqueça de dar título à sua crônica.
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