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entrevista  Alberto dines

Lições de jornalismo
Mariluce Moura e Carlos Eduardo Lins da Silva

A
lberto Dines, um dos mais respeitados do jornalismo ou sua capacidade de investigação
e polêmicos jornalistas brasileiros, fez jornalística na recriação de trajetos obscuros de
80 anos no domingo de Carnaval, 19 grandes personagens, foram objeto de palestras
de fevereiro. Comemorou a data num no seminário organizado pela FAPESP (ver www.
almoço íntimo com a mulher, a tam- agencia.fapesp.br). E o próprio Dines fala um pou-
bém jornalista Norma Couri. Mas comemoração co de tudo isso na entrevista a seguir, concedida a
tão discreta para um mestre de várias gerações de Pesquisa FAPESP. Uma versão mais completa está
profissionais da mídia, em atividade desde o co- no site da revista (www.revistapesquisa.fapesp.
meço da década de 1950, era mesmo resultado só br), que, a propósito, também disponibiliza uma
da dispersão que varre o país inteiro no Carnaval. entrevista inédita concedida a Mariluce Moura
Passado o período, modorrento ou feérico, a de- em 2005, para uma tese de doutorado.
pender do ponto de visão, as homenagens a Dines
se multiplicaram, das festas aos densos debates, Nosso propósito aqui é explorar sua contribui-
incluindo o seminário realizado pela FAPESP em ção para o conhecimento teórico e a experimen-
22 de março, “Conhecimento científico do jorna- tação prática do jornalismo. Comecemos pelos
lismo no Brasil: a contribuição de Alberto Dines”. Cadernos de Jornalismo que você organizou
Considerável contribuição, diga-se logo. Dos na época do Jornal do Brasil.
Cadernos de Jornalismo e Comunicação editados Sim, em 1965. Àquela altura eu já tinha 10 anos
pelo Jornal do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, de profissão e dois anos de experiência acadêmi-
ao clássico O papel do jornal, livro de 1974, do ca, porque começara a lecionar na PUC em 1963.
exame acurado a que submeteu os veículos de Tinha um certo enfoque, não digo teórico, mas
comunicação brasileiros na coluna Jornal dos de reflexão. Quando a PUC me convidou, cons-
jornais da Folha de S. Paulo, na segunda metade tatei que tinha experiência em várias atividades
dos anos 1970, ao contemporâneo Observatório da jornalísticas e aceitei – trabalhara em matutino
Imprensa, iniciado no final dos anos 1990, Dines e vespertino, que eram dois jornalismos diferen-
tem feito e ao mesmo tempo pensado com rigor tes naquela época, trabalhara em rádio, cinema,
o jornalismo brasileiro, quase ininterruptamen- que era o sonho, tinha feito uma experiência em
te, há seis décadas. Isso em paralelo a toda a sua televisão, enfim, eu tinha experiência em várias
experiência em organizar redações, de par com plataformas, como se diria hoje, e achava que de-
a capacidade de inventar veículos. E, claro, nos via tentar sistematizar tudo isso. Intuitivamente
breves intervalos, escrever livros soberbos como saquei ali que a disciplina que gostaria de lecio-
Morte no paraíso, de 1981, e Vínculos do fogo, de nar era jornalismo comparado.
1992, biografias de Stefan Zweig e de Antônio José
da Silva, o Judeu, respectivamente. Você então inventou a disciplina de jornalismo
Todas essas realizações que revelam o espí- comparado no Brasil, em 1963.
leo ramos

rito pioneiro de Dines, seu pendor para criar Que eu saiba, não existia. A ideia vinha do direito
conhecimento novo capaz de iluminar a prática comparado. A partir da comparação você consegue

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estabelecer diferenças e paradigmas. O fato Herald Tribune, inclusive por seu modus redação em editorias, o que não era usual.
é que a experiência do Jornal dos jornais faciendi, o de jornal feito durante uma Em inglês, eu seria o managing editor. E
é, de certa forma, consequente desse pri- reunião inteira, ao longo do dia, por uma se tenho algum mérito no JB, foi o da or-
meiro curso. Mas entre a PUC e o lança- equipe de grandes jornalistas de texto, de ganização da redação do jornal. Acho que
mento do primeiro caderno de jornalismo, fotografia e de design também. herdei de meu pai certo pendor para a or-
houve uma experiência que considero um ganização. Na Rússia ainda, ele tinha feito
corte epistemológico em minha vida pro- E você voltou dos Estados Unidos para um curso de secretariado antes da Primei-
fissional, em todos os sentidos: fui fazer o Jornal do Brasil inspirado tanto pelo ra Guerra, que, no fundo, era de pequena
um curso de extensão de três meses na New York Times quanto pelo Herald. administração. Então, vendo-o trabalhar,
Universidade Columbia, em Nova York. em No New York Times, um jornal clássico, fui aprendendo. Ele desde cedo se ligara
setembro de 1964. Associada a um organis- eu chamaria mesmo de ortodoxo, vi uma às grandes organizações judaicas inter-
mo que já não existe mais, o World Press coisa que me marcou: na redação anti- nacionais de amparo à imigração. Havia
Institute, a Columbia convidava editores ga, ainda ali perto da Broadway, rua 43, grandes filantropos judeus e o século XX
de jornais de um continente e montava o havia um jornal mural enorme feito pela foi marcado por grandes movimentos de
programa de um curso especial. O meu era redação que se chamava Winners and massa por causa das guerras, dos pogroms,
para editores de jornais latino-americanos. Sinners. Vencedores e pecadores. Trazia da inflação depois, nos anos 20... E essas
comentários sobre uma matéria, broncas, organizações precisavam de gente que fa-
Coisa ótima! piadas e gozação, tudo. Eu queria fazer lasse várias línguas e tivesse capacidade
Maravilhosa! Foi meu primei- organizacional. Havia que ti-
ro curso numa universida- rar o judeu da cidadezinha on-
de. Com professores ótimos, de vivia de esmola e dar a ele
grandes profissionais. Tenho uma profissão manual que lhe
até hoje todas as apostilas e permitisse se transformar. Eu
mais as anotações que fazia já não entendia bem qual era a
pensando no Jornal do Brasil. finalidade do trabalho de meu
Além do curso em si e da ca- pai. Mas sempre havia pastas
maradagem decorrente, uma em sua mesa muito organiza-

“Se tenho algum


coisa interessante era que po- da, e isso eu absorvi.
díamos escolher, em grupos
de três, jornais para fazer Você fala de seu pai já no
uma visita prolongada. Então,
me juntei com um argentino
mérito no Jornal Brasil.
Sim. Teve um intervalo em

do Brasil, foi o
de Córdoba, Jorge Remon- que ele trabalhou no comér-
da, cuja família era proprie- cio em Curitiba, logo depois
tária de um jornal muito bom foi para o Rio, contratado, e
de lá, La Voz del Interior, e
Uribe, cujo primeiro nome
da organização da ficou 25 anos numa grande
organização que seria pre-

redação do jornal”
já não recordo, membro de cursora do hospital Albert
uma das famílias importan- Einstein. O fato é que acho
tes da Colômbia, e ligado ao que fui um bom organizador
jornal hoje mais importante de redações, com a preocu-
de Bogotá. Fizemos uma patota – havia um negócio assim. Não podia ser mural, pação de criar editorias definidas.
recursos para se deslocar – e escolhemos de que gosto muito. Inclusive, quando fui
ir para a costa do Pacífico. Estivemos no militante no movimento sionista socia- Que editorias você tinha naquele primei-
Los Angeles Times. Depois seguimos de lista fiz um cursinho de jornais murais. ro momento? Política, editoria de geral...
carro até Seattle. Aí fomos de avião até Mas no JB antigo não dava, a redação era Política àquela altura estava pratica-
Nova York e lá nos separamos. Eu queria dividida em salas, então pensei em algo mente confinada em Brasília. Tínhamos
ver o New York Times, claro, e um jornal parecido, mas em outro formato. no Rio um colaborador, Heráclito Sales,
para mim importantíssimo, então, o New que era colunista, e os repórteres de ci-
York Herald Tribune. Naquela época era Você tinha entrado no JB, em 1962. De- dade que cobriam a Assembleia. Criamos
independente e fascinante. Um jornal- pois da PUC e dos Estados Unidos, vol- uma editoria de economia, que até então
-revista. Eu perseguia muito isso, porque tava ao jornal com novos poderes e uma não existia. Os jornais reproduziam o
a minha formação inicial foi em revista. A visão bastante aberta. que recebiam das bolsas de Nova York,
Visão, depois Manchete, Fatos & Fotos... Eu tinha entrado em 8 de janeiro de 1962. Chicago e Rio, o que chegava das bol-
Enquanto em jornal passara pela Última Não tinha cargo definido. O nome no ex- sas de mercadorias. Quando havia uma
Hora, Diário da Noite etc. E estava pen- pediente só começou a aparecer depois de decisão do governo, ia para a página de
sando numa forma simbiótica juntando 1964. Disseram que precisava fazer um ex- Brasília. Começamos também a ter uma
jornal e revista. Ou seja, um jornal bem pediente, concordei e sugeri que eu fosse preocupação com comentários, em suma,
escrito, bem acabado, daí o fascínio pelo editor-chefe, porque tinha organizado a começamos a planejar o jornal.

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Essa primeira reunião era pela manhã? sora, pioneira, ela era aquela bagunça dos circulação interna, distribuição para as
Não, de tarde. Os jornais começavam a Associados. Quando a Globo entrou no ar, agências de propaganda e para os ami-
funcionar muito tarde porque todo mun- com parceria da Time-Life, pensei, “ago- gos. Mais tarde fizemos um acordo com
do tinha dois empregos, eu inclusive. De ra realmente vamos ter um concorrente”. uma rede de livrarias, a Entrelivros, que
manhã, trabalhava na Manchete, naquela Botei televisão na redação e começamos começou também a vender. Tudo isso um
ocasião na Fatos & Fotos, depois almoça- a trabalhar de olho no inimigo. tanto à revelia da direção. Enfim, colou e
va e ia para o Jornal do Brasil. Durante fizemos não sei quantas edições, na ba-
muitos anos trabalhei em dois empregos, Voltemos aos cadernos de jornalismo? se de quatro ou cinco por ano. Deveria
como todos os jornalistas. Depois é que Ao voltar dos Estados Unidos, uma ques- ser bimestral, mas nunca conseguimos
se criou, e nós estimulamos muito isso, o tão era como fazer algo parecido com o cumprir essa periodicidade. Eu estimu-
tempo integral, o repórter de sete horas, mural. A direção do JB não estava mui- lava muito um editor de esportes, pessoa
não de cinco. Depois de criadas as edito- to interessada em meu sonho. Não ve- simples e jornalista de primeira, Olde-
rias, uma nova metodologia de trabalho, tou, mas disse, “Dines, invente alguma mário Touguinhó [1934-2003], a escre-
passamos a ter duas reuniões por dia. coisa e faça”. Comecei a perturbar vá- ver para o caderno. Ele era tão jornalista
Aliás, uma das primeiras editorias que rias pessoas com isso, e Gabeira, que di- que fechava sua página, ia jantar, tomar
criei também foi a de pesquisa. O jornal rigia o departamento de pesquisa, um uma cerveja, e não conseguia ir dormir
não arquivava sequer suas fotografias. think tank, digamos, foi a primeira. Ele sem passar no jornal para vê-lo rodar.
Não tinha nem dicionários. Propus que e o Murilo Felisberto, mineiros ambos, E, muitas vezes, descobria um erro. Era
criássemos uma biblioteca uma figura de uma grande-
básica, com livros de referên- za incrível, que morreu pre-
cia e que arquivássemos os maturamente. Ele ia cobrir
negativos. Fomos comprando a Copa e se tivesse alguma
livros, formando uma base de coisa diferente, como acon-
dados – não tinha internet –, teceu no México, em 1970,
tudo em pastas e criamos o com a revolta dos estudantes,
departamento de pesquisa. mandava matéria. E depois
Com isso, o repórter, antes escreveu sobre isso nos ca-

“Em 1965 tomei a


de ir fazer a matéria, consul- dernos. Era o que queríamos.
tava dados no departamento
de pesquisa.Isso se tornou Enquanto você liderava esse
uma praxe. Em 1965 tomei a
decisão de fazer do departa-
decisão de fazer do processo, na verdade o jor-
nal se transformava numa
referência, num modelo, pa-
departamento de
mento um produtor de con-
teúdos, como diríamos hoje. ra o país inteiro.
O título, Jornal do Brasil, aju-
E isso foi de fato uma inova-
ção no jornalismo brasileiro.
pesquisa um produtor dou muito nesse sentido. E o
Rio de Janeiro, como capital

de conteúdos”
Sim, até porque contratamos que fora, era uma cidade com
um time extraordinário de vocação nacional. O caráter
jornalistas: Fernando Gabei- do carioca transbordava para
ra, Murilo Felisberto, Moacyr o Brasil. Se assimilava bem
Japiassu, mais tarde o Raul Ryff, que ti- adoravam conversar sobre jornalismo. com São Paulo, mais sisuda, com o minei-
nha sido secretário do [presidente] Jânio Aliás, no livro de discursos de Gabriel ro, mais calado, com o nordestino, enfim,
[Quadros], em suma, grandes jornalistas, García Márquez, uma obra-prima que já o jornal conseguia essa síntese. E uma
jovens e mais velhos, para redigirem ma- saiu em português [Eu não vim fazer um outra coisa muito importante foi o de-
térias redondas, usadas para dar reforço discurso, Record, 2011], ele conta como senvolvimento de uma fabulosa rede de
aos fatos do dia. E assinamos serviços – em sua geração as pessoas trabalhavam correspondentes e de sucursais grandes.
naquela época já existiam agências que loucamente numa redação e, de madru- A rede de sucursais do JB era um inves-
preparavam e forneciam material de back- gada, saíam para falar de jornal no bo- timento com retorno. Trazia muita in-
ground para jornais. O JB autorizava essa tequim ou no restaurante. Aqui também fluência política para o jornal e retorno
despesa porque era para melhorar o con- tínhamos nossos especialistas nisso. Em financeiro, porque o time de publicidade
teúdo do jornal, estávamos muito preo­ suma, falei para Gabeira que, como edi- de cada sucursal era muito bom.
cupados com a qualidade da informação. tor de pesquisa, ele ficaria encarregado
E quando a TV Globo começou, em 1965, dos cadernos. A empresa JB tinha uma Mas, além disso, Dines, eu diria que a
fiz um memorando de umas 10 laudas pa- gráfica pequena para fazer formulários influência do modelo JB se dava tam-
ra todas as editorias e chefias informando e laudas e eu consegui com o gerente da bém pelos estágios de profissionais de
o que tínhamos que fazer a partir desse gráfica a impressão dos cadernos, com outras praças no Rio.
momento em que passávamos a ter um tiragem pequena, papel um pouquinho De fato, incentivávamos muito isso e o
concorrente. Porque a TV Tupi, precur- melhor, capa de cartão colorida. Era para fazíamos isso porque eu tinha percebi-

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do como era visitar o New York Times, A nossa impressão era de que você re- de críticos fantástica e fazíamos uma
por exemplo. Tínhamos que funcionar servava um carinho especial para o B famosa tabela, com todos eles votando.
como uma escola. Algo dessa época que em seu trabalho de editor-chefe. Isso abria o jornal para debates. Tínha-
acho muito importante e de que pouco E era verdade. O B foi criado na reforma mos críticos de teatro, de artes plás-
se tem falado é que criamos uma agência do Odylo e sua intenção era aproveitar as ticas. O jornal cobria a cultura e com
distribuidora de material jornalístico, a sobras do dia seguinte. Porque o jornal isso brilhava.
AJB [Agência Jornal do Brasil]. O único fotografava muito, tinha muitas fotos bo-
antecessor nacional desse serviço era a as que não dava pra aproveitar na edição Você ficou no JB até 1973. Enfrentou
Agência Meridional, do [jornalista Assis] quente, normal. Por exemplo, aquela fa- problemas dramáticos após o AI-5. E
Chateaubriand. Como eu tinha preocu- mosa foto do Jânio Quadros com os pés aí, Dines, em termos da sua produção
pações, vamos chamar, sociais, a receita enviesados feita por Erno Schneider, um intelectual no jornalismo, você ficou
relativa a cada matéria publicada por grande fotógrafo gaúcho. um tempo entre 1974 e 1975 esperando
outro jornal era dividida por três: o re- que algo acontecesse. Então viriam a
pórter, a agência e o jornal. Que Pesquisa FAPESP, aliás, republicou Folha de S. Paulo e o Jornal dos jornais.
exatamente há um ano, na edição 182. Quando fui demitido do JB, fecharam-se
Você estava estabelecendo um modelo A foto saiu no B dois dias depois do acon­­ as portas mesmo. Pessoas que haviam
de copyright. tecimento [encontro dos presidentes Jâ­ me convidado seis meses antes me dis-
Era um modelo de cooperativa que re- nio Quadros e Arturo Frondizi, da Ar- seram, “não posso mais, o governo não
montava a meu passado de quer você”. Armando No-
militante do movimento sio- gueira, grande amigo pessoal,
nista socialista. E com esses me disse, “não posso lhe con-
jornais colaborávamos de to- tratar agora. Se você viajar,
das as formas. Sempre que depois quando voltar vamos
podia, eu fazia uma palestra ver”. A Editora Abril me con-
para a redação. Ou seja, se o vidara para um alto cargo de
jornal em si já era um mode- chefia em São Paulo, mas não
lo, porque a revolução gráfica manteve o convite. Roberto

“Os Cadernos eram


do JB foi a mais influente que Civita era meu amigo e vinha
já houve no país, desenvolve- me dizendo, “passe um perí-
mos um excelente sistema de odo fora numa universidade,
irradiação. A reforma, sob a
liderança de Odylo Costa,
para circulação pensando. Escreva um livro”.
Eu lhe disse que já estava es-

interna, para os
Filho, foi em 1956. O Brito crevendo o livro, O papel do
queria neutralizá-la e no dia jornal, e ir para fora não seria
em que assumi ele me disse, má ideia. Logo em seguida,
“eu quero um outro jornal”.
Respondi que não ia fazer is-
amigos e agências veio o convite da Columbia.
Tenho certeza de que foi ele

de propaganda”
so, ao contrário, que bastava quem articulou isso, ainda
consertar algumas coisas. que o negasse, porque veio
o convite do Tinker Institute
Brito é o... e eu, evidentemente, aceitei.
Manuel Francisco do Nascimento Bri- gentina, na ponte de Uruguaiana, em 21 Fiquei lá entre 1974 e 1975.
to, genro da condessa Pereira Carnei- de abril de 1961. Houve um barulho atrás
ro. A condessa tinha uma única filha do do presidente brasileiro, enquanto ele E nesse período saiu O papel do jornal?
primeiro casamento, Leda. Como casou caminhava para o encontro, o que o fez Não, ele saiu em março ou abril de 1974.
tarde com o conde Pereira Carneiro, não voltar-se para trás, segundo Schneider]. Eu comecei a escrevê-lo duas semanas
tiveram filhos. E a Leda casou-se com Em geral era isso, reaproveitamento da depois de ser demitido. No último nú-
um rapaz jovem, bonitão, carioca, cujo notícia quente. E o B saía quatro dias mero dos cadernos, que não saiu, o artigo
sonho de ser diplomata não conseguiu por semana, enquanto o jornal só não grande era meu, com o título “A crise do
realizar, mas ele fez coisas importantes. circulava nas segundas, o que se dava papel e o papel do jornal”. Infelizmente
Como empresário, bancou a reforma da com todo matutino então. Estendi a cir- não o guardei. E foi em função dele que
rádio JB, por exemplo, e para isso con- culação do B para aos outros dias, sendo escrevi o livro. Porque a crise do papel era
vocou excelentes pessoas, em especial que sábado era o B literário, com mais uma realidade, os jornais queriam cortar
Reynaldo Jardim, uma figura extraor- material de literatura e resenhas. Fui aos páginas, queriam cortar serviços, estavam
dinária. Infelizmente morreu no ano pouquinhos retirando-o da condição de com o mesmo instinto suicida que mani-
passado [1º de fevereiro de 2011]. Poeta depósito de reciclados e levando-o a ter festam hoje. Já vi essa história de a mídia
ótimo, um idealista mesmo, era um cria- produção própria, grandes entrevistas impressa querer se suicidar quando des-
dor permanente. Foi ele quem inventou etc. E isso marcou o JB como um jornal cobre que tem um concorrente. Naquele
o Caderno B. de ideias. Nós tínhamos uma coleção momento o concorrente era a televisão.

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E hoje o impulso suicida resulta da pre- Em que você trabalhou neste período? conteúdo e gostaria que prometesse que
sença da internet? Eu morava na rua 119, num hotel que a a Folha seria o primeiro veículo que iria
É claro. Se você pegar o livro, cujo texto Columbia tinha para professores perti- procurar ao voltar ao Brasil. Fiz isso.
é praticamente o mesmo do artigo, o que nho do campus. E eu tinha tarefas, se- Frias fez a proposta de que eu dirigisse a
estou dizendo lá é, “nós precisamos de minários, mas sempre entendia que não sucursal e escrevesse um artigo político.
jornais melhores, não piores. De jornais tinha nada a ensinar lá, e sim a apren- Eu escrevera muito pouco em meu perío-
até mais caros”, o leitor inteligente vai der. Para alunos que tivessem interesse, do no Jornal do Brasil. Quando tinha uma
querer até pagar um pouco mais pelo podia contar como era a imprensa na ideia, eu passava pra redação. Acho que
papel, que era caro por causa da crise do América Latina, sobretudo as relações essa é a função de um maestro. Mas Frias
petróleo, para ter um bom jornal. entre governo e imprensa. Tanto que o acendeu em mim a vontade de escrever
tema das duas conferências que devia e aproveitamos isso para fazer da dois a
O livro foi um sucesso no meio do silên- fazer, uma em cada semestre letivo, foi página de opinião que o jornal não tinha.
cio da sociedade brasileira de então... a relação entre governo e imprensa no Ruy Lopes, de Brasília, no alto da página,
Foi. Não havia muitos livros sobre jorna- Brasil. E foi aí que eu mergulhei na his- eu no meio e, embaixo, os colunistas se
lismo, o Danton Jobim tinha publicado tória da imprensa. Eu não tinha levado o revezavam. Cláudio Abramo, que era cra-
Espírito do jornalismo, em 1960, mas não Werneck e a biblioteca de Columbia não que para desenhar, fez isso, dei uns pal-
havia muitos livros mais. tinha o livro, então pedi ao Otto Lara e pites e a coisa funcionou. Também falei
ele me mandou um exemplar. Os alunos para Frias que, sem que ele me pagasse
Nosso clássico de estudos nada além do que acabára-
ainda era a História da im- mos de acertar, eu queria es-
prensa no Brasil, de Nelson crever no segundo caderno,
Werneck Sodré, de 1966. às segundas, quando se tinha
Só. E alguns livros traduzi- o pior jornal da semana. Ele
dos, com publicação finan- perguntou o quê e eu lhe ex-
ciada pela embaixada ame- pliquei que queria comentar
ricana, sobre jornalismo em o trabalho dos jornais e dos
geral. Então, quando vi que outros meios. Ele disse que
eu só iria arranjar inimigos.
“Eu comecei a escrever
havia um cerco contra minha
permanência na profissão,
pensei em deixar ao menos E tinha razão!
um relato das minhas ideias,
das minhas experiências e do
O papel do jornal Claro! Os arranjei inclusive na
Folha. Frias e Cláudio traba-
lhavam muito juntos e foram
duas semanas depois
que o Jornal do Brasil fez em
vários momentos. Foi com eles que decidiram publicar a
esse espírito que elaborei O primeira coluna que mandei
papel do jornal.
de ser demitido do na página seis do primeiro ca-
derno, e no domingo. Hoje é o
Como sua segunda estada lugar do ombudsman.
em Nova York se refletiu no Jornal do Brasil”
que você fez depois? Daí você pegou o tempo da
Foi extraordinária a influên- distensão lenta, gradual e se-
cia do momento que vivi lá. Porque era eram jornalistas e estudantes da escola gura, palavra de ordem do governo Geisel.
1974, pós Watergate, e a imprensa estava de jornalismo. O curso era em nível de O meu primeiro artigo no Jornal dos jor-
se discutindo intensamente. Todo o con- pós-graduação e bem intensivo. Na reu- nais foi “A distensão é para todos”. E re-
ceito de media watching, media criticism, nião de professores eu anotava tudo, foi almente arrumei grandes inimigos. Elio
estava nas discussões do dia a dia. Teve um aprendizado extraordinário. Gaspari e Veja e, depois, na própria Folha,
o exemplo de um procurador de Justiça onde fiquei até 1980 e fui demitido por
que acompanhou o caso Watergate, fez E lá começa a surgir de novo sua vonta- telefone pelo diretor de redação, Boris
parte das investigações e depois, findo de de fazer um mural. Os Estados Uni- Casoy. Eu tinha escrito um artigo acu-
o trabalho, o vendeu numa série de ar- dos parecem lhe provocar isso. sando formalmente Paulo Maluf de ser
tigos para jornal. Daí começou a ser dis- Foi mais ou menos isso. Em março de o responsável pela repressão da greve
cutido o que veio a ser conhecido como 1975, acho, Cláudio Abramo foi a Nova do ABC. O artigo não foi publicado. No
checkbook journalism, no qual se paga York para almoçar comigo. Ele estava já dia seguinte, escrevi outro, com a mesma
pelo depoimento de alguém, ainda que com autorização do [Octavio] Frias para embocadura. Ele também não publicou.
tenha sido público o seu trabalho. Isso fazer uma reforma. Disse-me, “acho que Aí publiquei um desses artigos em O Pas-
virou um debate ético e, para mim, foi você nunca leu a Folha” – e era verda- quim, que eu estava ajudando naquela
um choque positivo essa discussão [ver de. Ninguém lia a Folha. Era um jornal fase difícil. Tinha proposto a Jaguar e a
www.cjr.org/essay/checkbook_journa- tremendamente ruim. Ele me disse que Ziraldo fazer uma página chamada Jor-
lism_revisited.php, por exemplo]. queriam fazer um jornal com um bom nal da cesta. Essa página tinha uma fra-

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sezinha que atribui a Shakespeare, em que faria para a segunda edição. O fato não aceitava nenhuma relação com a dire-
português, dizendo, “o mais importante é que Adolpho me pediu para dar um ção da editora, escolhia quem ia contratar
da história do jornalismo não é o que sai jeito pelo menos no número dois e ten- e tal. Quando fui contratado pela Abril, a
nos jornais, mas o que vai para a cesta”. tei fazer o tal jornal-revista, em preto Veja decidiu que eu poderia fazer o que
E publiquei um dos artigos rejeitados, e branco, de uma rodada só. Não tinha quisesse no resto da Abril, mas não lá. De-
com a paginação que eu tinha na Folha. capa, ou melhor, a capa era já no próprio senvolvi um trabalho interessante sob o
O Boris disse que se sentiu agredido e me papel da revista. Preto e branco, lindo! ponto de vista institucional e até de forma-
demitiu. Há pouco tempo fiz uma con- Rotogravura preta com todos os macetes ção. Criamos os cursos de jornalismo que
ferência para Cremilda Medina listando gráficos que eu não podia fazer no Diário hoje todas as empresas jornalísticas têm.
todas as demissões e censuras que sofri. da Noite porque não tinha possibilidade Estabelecemos o aproveitamento dos me-
Fiz até uma estatística. técnica. Levei o pessoal que trabalhava lhores alunos e, depois, o aproveitamento
comigo e fizemos uma revista muito bo- dos outros numa função que se chamava
E quantas foram? nita, por onde passou muita gente: Paulo de carteiro, o sujeito que ia ler as cartas
Até 2008 ou 2009 dava uma grande de- Henrique Amorim, Itamar de Freitas, da redação. A Editora Abril recebia cen-
missão ou violência por ano, se não me uma garotada muito boa. tenas de cartas por dia e ninguém lia, só a
engano. A primeira foi obra de Chateau­ Veja às vezes pegava as suas. Trabalhei de
briand. Ele me demitiu em plena demo- Ao sair da Folha, o que você fez? 1982 até 1988. Nesse meio tempo, Morte no
cracia brasileira, em 1960, quando eu Peguei o dinheiro e apliquei, era um bom paraíso já tinha sido lançado e eu pensei
dirigia o Diário da Noite. Es- que gostaria de escrever outra
tava muito contente com a biografia. Tinha na manga ou-
minha atuação, tanto que me tra personagem, Antônio José
mandou a Londres para eu da Silva. Já pesquisara alguma
passar alguns dias na reda- coisa, mas concluíra que tinha
ção do Daily Mirror, jornal que ir para Portugal para fazer
de cujo jeitão gostava mui- algo à altura do que pretendia.
to. Ainda assim me demi- Me candidatei a uma bolsa de
tiu. Por quê? Em um dia de estudos da Fundação Vitae e

“Os jornais estavam


janeiro de 1961, tinha sido fui aprovado. Eu e a Norma
sequestrado o Santa Maria, tivemos até que nos casar pa-
um famoso navio português ra deixar todos os trastes aqui
de passageiros, num ato de
protesto contra a ditadura
com o mesmo instinto num apartamento comprado.
Precisávamos da soma de nos-

suicida que hoje


salazarista. Chateubriand sas rendas para isso. Foi um
determinara que os Diários casamento muito divertido,
Associados não dessem uma com meus filhos presentes.
linha a respeito disso. Ele era
muito ligado a Salazar. E eu
manifestam em Ela estava no JB, que a tor-
nou correspondente do jor-

relação à internet”
desobedeci. Falei, “não pos- nal em Lisboa. Então fomos,
so”. Eu estava com fotogra- alugamos um apartamenti-
fias de dentro do Santa Maria nho ótimo e foram, talvez, os
e um tabloide vive de foto- melhores anos da minha vida,
grafias, de coisas assim. Então demos e momento do mercado de ações. Deci- com a consciência de que o eram. Primei-
eu fui demitido no dia seguinte. Não por di que ia realizar um sonho no qual já ro, porque Lisboa é encantadora. É o Rio
ele diretamente, que já estava tetraplé- estava envolvido: a biografia do Stefan de Janeiro antigo. Foi o primeiro ano em
gico. Quem me demitiu, muito elegante Zweig. Estávamos em 1980 e o livro ti- que fiquei, rigorosamente, sem pensar em
e carinhosamente até, foi João Calmon, nha que sair em 1981, centenário do nas- jornal. Apenas lia jornal. Quando ia termi-
seu braço direito, que depois seria se- cimento dele. Mergulhei nisso, a única nar o período da bolsa, vi que não podia
nador. Ele me disse, “oh, Dines, o velho exceção que eu abri foi para O Pasquim. ir embora. O material era de uma riqueza
não gostou, você foi fundo”. E conti- impressionante e eu chegava em casa vi-
nuou, “mas estou sabendo que você já Gostaria que você falasse um pouco de brando. Naquele momento exato, a Editora
fez alguma coisa para o Bloch e vai fa- sua ida para Portugal e, por último, da Abril perguntou se eu não gostaria de ficar
cilmente arranjar outro emprego”. Era construção de novos instrumentos pa- em Portugal mais tempo, porque, agora
verdade. Uma semana antes, por causa ra refletir sobre o jornalismo, ou seja, sim, eles queriam lançar revistas adul-
de um parentesco de casamento, Adol- o Labjor e o Observatório da Imprensa. tas. Passei a ganhar um salário razoável,
pho Bloch me pedira socorro. Ele tinha Fui para a Abril, como vice-diretor edi- tinha carro e foi ótimo. Duro porque de
lançado o número um de Fatos & Fotos, torial, e tive um período muito bom e, ao manhã até depois do almoço eu ficava na
uma edição toda dedicada a Juscelino mesmo tempo, muito ruim. Por quê? Por Torre do Tombo trabalhando, debruçado,
Kubitschek, que passara a faixa presi- causa do espírito mafioso que sempre es- lendo, anotando. À tarde ia para a editora
dencial ao Jânio Quadros, e não sabia o teve na redação da Veja. Ela se fechava, e e, à noite, escrevia ou lia em casa. Lancei

30 | abril DE 2012
o primeiro volume do livro em 1992, co- nome. Naquela época, tinha sido criado e o Observatório em São Paulo. Ficamos
mecei a coletar material para o segundo em Paris o Observatoire de la Presse. Eles com o Observatório ligado no Instituto
volume e, em 1995, quis voltar. Fernando vieram com a ideia de nomearmos assim o Uniemp, que era presidido por Vogt. Gra-
Henrique Cardoso tinha sido eleito, o Bra- centro português. Achei excelente. Então, ças a ele, inclusive, o comitê gestor da in-
sil estava vibrando e eu não queria ser um o nome Observatório da Imprensa surgiu ternet examinou nosso projeto, informou
imigrante como fora o meu pai. Em 1992, nessa entidade portuguesa da qual eu sou que queria mesmo que a internet do Brasil
numa viagem para me tratar aqui de um fundador. tivesse função social e daí veio nosso pri-
problema de saúde, comecei a ver o esta- meiro financiamento, uma quantia míni-
do em que estava a imprensa brasileira: E como chama a entidade portuguesa? ma. Era quinzenal, até que Caio Túlio pro-
um horror, o triunfalismo pela derrubada Observatório da Imprensa. Eles criaram. pôs que nos hospedássemos no Uol. Ele
de Fernando Collor de Mello, aquela ma- Num determinado momento, falei ao Vogt não pagava nada, mas ficamos aninhados
nia dos brindes... Pensei que seria muito que tínhamos criado o Labjor para falar num portal grande e isso nos colocou logo
bom fazer um centro de estudos e Luiz com a sociedade, que não adiantaria fi- num outro patamar. O trabalho cresceu,
Schwarcz sugeriu que eu falasse com o carmos só na academia discutindo. A so- venceu fronteiras, já fomos estudados em
reitor da Unicamp, Carlos Vogt. Já sabia ciedade precisaria dizer se esse jorna- outros países da América Latina, porque
que a Unicamp, em determinado momen- lismo que lhe está sendo oferecido é o eles têm modelos acadêmicos matemá­
to, quisera ter um curso de pós-graduação que ela precisa. Ele achou o raciocínio ticos de avaliação da mídia, enquanto o
de jornalismo, porque o então reitor, Paulo perfeito e começamos a pensar no que que nós estamos fazendo é jornalismo
Renato de Souza, pedira uma sobre jornalismo.
proposta nesse sentido a Cláu-
dio Abramo e ele me propu- Qual é sua avaliação geral do
sera trabalharmos juntos no jornalismo brasileiro hoje?
projeto. Mas Cláudio morreu e O jornalismo brasileiro tem
a coisa não prosseguiu. Escre- uma vitalidade extraordiná-
vi a Vogt dizendo que talvez ria e seduz justamente por
pudéssemos fazer uma coisa essa vitalidade. Mas está ca-
precursora. Ele respondeu que da vez mais perdendo qua-
lidade, se degradando por
“No jornalismo têm
estava indo a Paris e poderia
passar em Lisboa. Eu o hospe- dentro, o que não impede
dei num hotel maravilhoso na de gerar, de repente, coisas
Rua das Janelas Verdes, come-
mos muito bem, passamos, en-
que surgir coisas extraordinárias. Eu me co-
movi por conta da matéria
que Mírian Leitão fez do Ru-
novas porque o
fim, um grande fim de semana.
E aí surgiu a ideia do Labjor, bens Paiva. É uma profissio-
Laboratório de Estudos Avan- nal consagrada, trabalha das
çados em Jornalismo.
Brasil culturalmente 5 da manhã até umas 11 da
noite, fazendo mil coisas, e
Vocês então foram parceiros ainda encontrou tempo de
na criação do laboratório. merece e precisa” fazer aquilo que a consciên-
Vogt já ia deixar a reitoria e cia dela exige. Porque, grá-
disse que ia entrar no projeto vida, foi torturada também.
porque gostava muito e achava que po- fazer. Revista custa caro, tentamos ciclos Disse que ia fazer e fez. Uma coisa boni-
dia dar uma boa contribuição. Deu muita de palestras, mas não deu certo. Aí um dos ta, boa, impactante e arrasadora. Então,
força, a mim e ao José Marques de Melo, companheiros mais novos, Mauro Malin, o jornalismo brasileiro é capaz de fazer
que no princípio estava no projeto, de- propôs fazermos alguma coisa com inter- essas coisas.
pois nos separamos por razões que nada net. Vogt pensou que talvez se pudesse
têm a ver com Labjor. De qualquer forma, fazer no Instituto Uniemp, que dispunha No encontro entre reflexão da academia
começamos a elaborar as bases acadê- de equipamentos, e eu propus que então e do jornalismo em seu próprio hábitat,
micas do centro. Por coincidência, nessa lançássemos a ideia do Observatório. Pe- você vê a possibilidade de criação de
época em que eu estava muito entre São di autorização aos colegas portugueses. novos veículos?
Paulo e Lisboa jovens amigos meus, bons Depois é que lembramos da doutrina de Aí entra o que os americanos chamam de
jornalistas portugueses, me procuraram Werner Heisenberg, na física quântica, wisdom thinking. Tenho esperanças de que
para discutir a criação de um centro de que ao observar um fenômeno você inter- isso ocorra. Eu acho que nós precisamos
estudos de jornalismo em Lisboa. Falei- fere no fenômeno. Pensei, “aqui tem um de um big bang, assim paft! Têm que sur-
-lhes do projeto brasileiro, eles gostaram, negócio! Vamos observar a imprensa e, ao gir coisas novas porque o Brasil merece
pensamos em fazer dois centros irmãos, fazê-lo, o observado se sentirá observado culturalmente e o Brasil precisa. O Brasil
com intercâmbio. Mas apareceu aquele e mudará seu comportamento”. A coisa não vai dar o passo adiante para o mundo
orgulho português de não copiar os bra- começou a se desenvolver e vi que não se dentro dele ele não estiver bem comuni-
sileiros e eles resolveram inventar um dava para eu fazer o Labjor em Campinas cado, com profundidade. E diariamente. n

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