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1.

Contexto e Problema: Arthur Danto inicia o artigo “O mundo da arte” apresentando


algumas apreensões sobre arte através do personagem Hamlet de Shakespeare e o
filósofo Sócrates, pois ambos percebem a arte como o espelho da natureza. Sócrates
entende que os espelhos refletem aquilo que de antemão pode ser visto por nós. Nesse
sentido, para Sócrates, a arte funciona como um espelho: proporciona repetições daquilo
que previamente podemos perceber. Em contrapartida, o astucioso Hamlet acredita que
os espelhos são necessários para olhar aquilo que previamente não pode ser percebido,
isto é, o espelho seria um objeto que obriga o sujeito a olhar para si próprio. Para Danto,
ambas as apreensões estão erradas, pois seguindo essa linha de raciocínio, se a imagem
refletida de 0 é a imitação de 0 e disso se segue a afirmação que “arte é imitação”, então
meras imagens refletidas são obras de arte. Porém, imagens representadas são meras
imitações e não necessariamente podem ser consideradas arte, dito de outra forma, a
imitação não é uma condição suficiente para chamar algo de arte. Assim, ao longo do
artigo, o esforço de Danto consiste em argumentar que a teoria imitativa da arte (TI) não é
suficiente para refletir sobre arte após o surgimento de obras artísticas idênticas a objetos
comuns, pois “hoje em dia alguém pode não estar cônscio de estar num terreno artístico
sem uma teoria artística para lhe dar conta disso” (DANTO, 2006, p. 14). Todavia,
discernir obras de arte e meros objetos não é uma tarefa simples, cabendo a seguinte
questão: é necessário uma teoria artística para saber que estamos inseridos em um
terreno artístico? E o terreno artístico, construído mediante teorias artísticas, é necessário
para distinguir o que é arte e o que não é arte?

Para elucidar esse problema, Danto discute duas teorias: a teoria imitativa da arte (TI) e a
teoria da realidade (TR). A TI é “uma teoria excessivamente poderosa explicando grande
quantidade de fenômenos ligados à causação e à avaliação de obras de arte, trazendo
uma surpreendente unidade a um domínio complexo” (DANTO, 2006, p. 14), entretanto,
essa teoria sofreu um abalo com o advento do movimento pós-impressionista (dadaísmo,
cubismo, entre outros movimentos artísticos) no século XX, que trouxe novas categorias
de objetos artísticos e modificações nas pinturas. Para que esses novos objetos artísticos
fossem aceitos como arte foram necessárias revisões teóricas dentro da TI, o que
possibilitou um novo entendimento para a história da arte. Na perspectiva de Danto, essa
possibilidade de uma nova teoria para compreender a história da arte é vista como uma
“transfiguração”, uma nova teoria, que precisaria dar conta de explicar o que a teoria
anterior (antiga) explicava e desse modo fosse aceita. Também era necessário que essa
nova teoria esclarecesse as peculiaridades dos novos objetos artísticos que surgiram conforme Danto diz:
“Requereu-se não tanto uma revolução no gosto quanto uma revisão teórica de
proporções muito consideráveis, envolvendo não apenas a adoção artística desses
objetos, mas também uma ênfase sobre características recentemente significantes de
obras de arte aceitas, de modo que abordagens muito diferentes de seu status como
obras de arte teriam agora que ser feitas”. (DANTO, 2006, p. 15)

Para a TI, a obra de arte só seria considerada “arte” se aquilo que estava sendo retratado
fosse uma imitação do real. Para essa teoria, as pinturas de artistas como Cézanne ou
Van Gogh eram consideradas como tentativas fracassadas de imitar as formas reais. Em
contrapartida, para a teoria da realidade (TR) as obras de arte do movimento pós-
impressionista não deveriam ser consideradas como imitações malsucedidas, pois as
características dessas obras são entendidas como “não-imitações”, ou seja, os artistas
pós-impressionistas não estavam tentando iludir o observador, mas criando novas formas
na arte, “tão reais quanto as que a arte mais antiga pensava” (DANTO, 2006, p. 15). A
criatividade desses artistas não estava relacionada com o efeito provocado pela imitação
(a ilusão), mas tinha como objetivo a não-cópia da realidade. Para explicar as novas
maneiras de se fazer arte, duas interpretações são possíveis: objetos reais e fac-símiles
reais de objetos reais (não-fac-símile). Para ilustrar essas duas vias de interpretações,
Danto cita o quadro “Comedores de batatas” de Van Gogh como exemplo de um não-fac-
símile, isto é, um objeto distinto da realidade, mas que não é nem menos ou mais real do
que um objeto real, o que para Danto (2006) caracteriza uma conquista feita pelo pós-
impressionismo e é sob essa perspectiva que o autor defende que as obras de arte feitas
hoje devem ser entendidas: “não imitações especialmente concebidas para não-iludir”
(DANTO, 2006, p. 15). Em outras palavras, o filósofo considera essa teoria como uma
contribuição efetiva para o mundo da arte, a fim de explicar as novas formas de arte que
vinham surgindo. Para essa teoria, as obras criadas no pós-impressionismo não são feitas
a partir de uma imitação, mas representam novas entidades, do contrário, se fossem
imitações seriam confundidas, criando um embaralhamento entre a noção de obras de
arte e meros objetos cotidianos. Então, como é possível identificar uma obra de arte?
Sobre esse problema, Danto diz:

“Os objetos criados por Lichtenstein não são imitações, mas novas entidades, como
pústulas gigantes o seriam. Jaspers Johns, por outro lado, pinta objetos em relação aos
quais as questões de escala são irrelevantes. Assim mesmo, seus objetos não podem ser
imitações, porque eles têm a considerável propriedade de que qualquer cópia pretendida
de um membro dessa classe de objetos é automaticamente, ele próprio, um membro da
classe, de modo que esses objetos são logicamente inimitáveis. Desse modo, uma cópia
de um numeral é exatamente esse numeral: uma pintura de 3 é um 3 feito de tinta.”
(Danto, 2006, p. 16)

Ou seja, a imitação de um objeto pertence a classe dos objetos que foram copiados, pois
ao imitar uma coisa, imita-se também todas as características desse objeto e por isso a
transfiguração de um objeto não pode ser uma cópia. Não é possível criar a cópia de um
objeto: um é o objeto artístico, o outro não. Entretanto, o surgimento de novos objetos no
mundo da arte idênticos a objetos vistos no cotidiano e tão reais quanto meros objetos
comuns suscitam uma confusão com a realidade, uma vez que estes objetos artísticos
não pretendem mais ser vistos como imitações e sim “comuns”, “reais”, conforme a TR
pretendia explicar. Para Danto, esse é um dilema que o observador encontra ao se
deparar com esses objetos de arte: “Confundir uma obra de arte com um objeto real não é
uma proeza tão grande quando uma obra de arte é o objeto real com o qual alguém se
confunde. O problema é como evitar esses erros, ou removê-los uma vez que já foram
cometidos” (DANTO, 2006, p. 17)

Diante desse contexto, cria-se uma necessidade de identificar esses novos objetos
concebidos como obras de arte, pois conforme o exemplo de Danto diz, “a obra de arte é
uma cama e não a ilusão de uma cama” (Danto, 2006, p. 17). Assim, o autor utiliza o
exemplo de uma cama (vista como obra de arte) para explicar a confusão criada entre
obras de arte e meras coisas. Traços de tinta espalhadas sobre a cama não é um critério
suficiente para conceber esse objeto como uma obra de arte, ou seja, o fato de uma cama
ser pintada não faz disso uma arte e nem faz com que a cama deixe de ser uma cama, já
que não é possível uma cama não ser uma cama, devido a classe de adjetivos
(predicados) a ela. Desse modo, a cama é um objeto distinto do objeto real e que compõe
a obra de arte, assim como a tinta que está sobre ela é uma parte que constitui a obra. A
obra “cama” possui o objeto real “cama” como parte integrante, assim como a tinta
espalhada sobre o objeto, de modo que se obtém uma “cama-tinta”. O erro está em
confundir a obra de arte com uma parte dela, isto é, o objeto real, mesmo que não seja
incorreto a afirmação “a obra de arte é uma cama” (Danto, 2006, p. 17). Todavia, o objeto
artístico é algo ainda mais complexo que essas características que o compõem e o “é” da
frase “a obra de arte é uma cama” precisa ser esclarecido.
Para esclarecer este “é” da obra de arte, Danto inicia sua argumentação em termos
semânticos. Frequentemente, as afirmações sobre o que é arte não derivam de uma
identidade ou predicação mas utilizam o “é” no mesmo sentido do uso comum,
“prontamente dominado pelas crianças”. (Danto, 2006, p. 18). Se apresentarmos figuras
geométricas como triângulo ou círculo para uma criança e em seguida questionar qual
das duas figuras é ela e qual é a sua irmã, ela é capaz de apontar para o triângulo e
responder “essa sou eu”. Também é possível que alguém por perto responda essa
pergunta apontando para um homem vestido de vermelho e o apresente como seu irmão,
da mesma forma que eu posso afirmar “essa mancha é Ícaro”, ao entrar numa galeria e
avistar uma mancha na pintura. Em termos semânticos, uma mancha na pintura (A) é
Ícaro (B), derivando a sentença “esse A é B”. Desse modo, a frase “A mancha na pintura é
Ícaro” é compatível com a proposição “A mancha na pintura não é Ícaro”, ou, “esse A não
é B”. Essa analogia explica que o “é” da frase “A mancha na pintura é Ícaro” representa o
“é” da identificação artística, enquanto a outra frase “A mancha na pintura não é Ícaro” faz
uso do é como predicação, de modo que a “verdade da primeira requer a verdade da
segunda” (DANTO, 2006, p. 18). Então, o que se reconhece é que a mancha na pintura
não representa Ícaro conforme o próprio sentido da palavra, pois o “é” da identificação
artística pode atribuir um significado diferente do significado conferido nas características
que são imediatamente percebidas no objeto real. Em outras palavras, ao nos deparamos
com objetos comuns, é possível interpretar os atributos materiais destes objetos como
representações distintas de interpretações que comumente se derivam da percepção
imediata de meros objetos. Para Danto, portanto, a fim de conceber o objeto como obra
de arte é necessário que essa identificação artística ocorra. Essa identificação advém,
então, do reconhecimento do “ser” e do “é”, do contrário, se isto não for possível, o
observador “protesta que tudo que ele vê é tinta: um retângulo pintado de branco com
uma linha preta pintada através dele” (Danto, 2006, p. 20). Se não há uma identificação
instantânea do objeto como arte, é necessário que o sujeito domine o “é” da identificação
artística e compreenda o objeto como obra de arte. Em outras palavras, para Danto, a
arte não pode ser vista como tautologia, pois obras de arte, por mais abstratas que sejam
estão inseridas em um contexto artístico, que é construído mediante teorias, “ver algo
como arte requer algo que o olho não pode repudiar – uma atmosfera de teoria artística,
um conhecimento da história da arte: um mundo da arte” (Danto, 2006, p.20).
Esta reflexão acerca do mundo da arte, isto é, a necessidade de um conhecimento
histórico da arte para que ocorra uma identificação artística, pode ser vista na caixa de
Brillo do artista Andy Warhol, o exemplo favorito de Danto. Para o filósofo, as caixas de
Brillo refletem a necessidade de se pensar sobre a obra:

“O sr. Andy Warhol, o artista pop, exibe fac-símiles de caixas de Brillo, em pilhas altas, em
limpas prateleiras como no estoque do supermercado. Elas são, casualmente, de
madeira, pintadas de modo a parecer cartonado; e por que não? Parafraseando a crítica
do Times, se alguém pode fazer o fac-símile de um ser humano a partir do bronze, por
que não o fac-símile da caixa de Brillo a partir do compensado?” (Danto, 2006, p. 21)

Ou seja, as caixas de Brillo que Warhol colocou no museu são não-cópias de Caixas de
Brillo do supermercado, o que levanta a seguinte questão: por que os criadores da caixa
de Brillo não são considerados artistas e todavia Warhol é considerado um artista ao
colocar as caixas de Brillo em exposição? Sabe-se que as caixas de Warhol são feitas
mediante um trabalho manual, enquanto as caixas de Brillo do supermercado não são
feitas a mão, bem como outros objetos reproduzidos pelos artistas da pop art. A diferença,
então, não está na maneira como o objeto é feito e ainda assim, de alguma maneira o
trabalho de Warhol é arte. Assim, o que transfigura as caixas de Brillo de Andy Warhol em
arte? E por qual razão o artista, em vez de realizar um trabalho manual, simplesmente
não utilizou a coisa real, a caixa de Brillo do supermercado, e qualificou seu trabalho
como arte? Danto chega a ironizar o problema ao dizer “Esse homem é uma espécie de
Midas, transformando tudo em que ele toca no ouro da pura arte?” (Danto, 2006, p. 21).
Todavia, de algum modo o trabalho de Warhol é um trabalho artístico, autônomo e
discernível das caixas de Brillo do supermercado, isto é, distinto da realidade. O que
diferencia arte e realidade, então, é a teoria da arte e é essa teoria que não permite que o
objeto artístico seja circunstanciado como objeto real, mas seja visto como um objeto de
arte, que subsistem pelo “é” da identificação artística, sem recair na confusão entre arte e
realidade, pois é a teoria da arte que torna um objeto comum em arte.

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