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A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS EM VERSOS

Autor: Roberto Dias Alvares

Na Casa onde Sheridan morreu,


era de Phileas Fogg a morada.
Em Londres quem o conheceu,
dele sabia-se quase nada.

Pertencia ao Clube Reformador,


este homem enigmático.
Honrado na Inglaterra como orador.
Agia de modo pragmático.

Era um homem irrepreensível,


bigodes e suíças possuía.
Mantinha-se sempre impassível.
Admirado por quem o via.

Phileas Fogg era inglês,


não era londrino com certeza.
De onde veio por sua vez,
não sabia e nem se era da nobreza.

Era rico incontestavelmente.


Possuía crédito na casa bancária.
Fazia contribuições anonimamente.
Discreto era uma figura extraordinária.

Pouco comunicativo e silencioso.


Fazia movimentos matemáticos.
Era um homem misterioso,
personagem dos mais enigmáticos.

Devia ser homem muito viajado,


conhecia a Terra em pormenores.
Lugar, por mais que fosse afastado,
demonstrava conhecimento dos melhores.

~1~
Sempre bem informado,
corrigia boatos de viajantes perdidos.
Seu conhecimento era invejado.
No uiste raramente era vencido.

Jogava apenas por jogar.


Dos ganhos fazia doação.
Em sua casa não se via ninguém entrar.
Vivendo só, era sua condição.

Em casa permanecia,
para a toalete e dormir.
Clube Reformador ficava o resto do dia,
Somente a meia noite iria de lá sair.

Exigia em tudo exatidão.


Por falta demitiu seu criado.
Aguardava outro que na ocasião,
por Phileas Fogg seria entrevistado.

A campainha tocou,
Jean Passepartout havia chegado.
Phileas Fogg o entrevistou.
O candidato acabou sendo contratado.

Passepartout era parisiense.


Muitas profissões em seu compêndio.
Cantor ambulante e ator circense.
Como bombeiro, apagando incêndio.

Levantou-se e o chapéu colocou.


Dirigiu-se para o Clube Reformador.
Em passos contados caminhou.
Praticar habilidades de jogador.

Passepartout fez reconhecimento,


verificando a casa também.
Pensou por um momento.
Disse a sí mesmo: “Isso me convém”.

Criado de um patrão sedentário,


Passepartout seria afinal.
Era pacífico, extraordinário.
A ninguém faria mal.

~2~
“É exatamente isso que quero”:
“Ser criado de um homem regular e caseiro”.
“Manter-me nesta rotina, espero,
servindo um autômato cavalheiro”.

No clube que Phileas Fogg almoçava.


Jogava uiste e lia todos os jornais.
A maior parte do tempo lá ficava.
Metódico, não permanecia um segundo a mais.

Phileas Fogg não tinha família.


Tudo era feito matematicamente.
Muito pouco dele se sabia.
Nem o que passava em sua mente.

Seus colegas, para o uiste diário,


em interessante conversação.
O roubo do estabelecimento bancário.
Não se falava noutra coisa na ocasião.

John Sullivan, Samuel Fallentin banqueiros,


Andrew Stuart engenheiro de valor.
Thomas Flanagan era cervejeiro.
Gaultier Ralph, do Banco Inglês, administrador.

Andrew Stuart falou primeiro,


tendo muita convicção:
O banco não verá a cor do dinheiro
e nem pegará este ladrão.

Gaultier Ralph falou sinceramente:


Não se trata de um ladrão.
Thomas Flanagan perguntou somente:
Trata-se de um industrial então?

“O Morning Chlonicle diz ser um cavalheiro”.


Foi Phileas Fogg quem respondeu.
Cumprimentou um a um cada companheiro.
Em meio ao mar de papel apareceu.

O fato que estava sendo comentado,


Vinte nove de setembro havia ocorrido.
Maço de cinquenta e cinco mil libras, roubado.
Do caixa principal havia desaparecido.

~3~
O roubo ocorreu com facilidade,
e o fato é facilmente explicável.
De seus clientes confia na honestidade,
o Banco da Inglaterra é admirável.

Quando o roubo foi confirmado,


o maço de notas desaparecido.
Detetives foram mandados,
a todos os portos prender o bandido.

Uma recompensa foi oferecida,


caso prendessem o ladrão.
A principio a quantia estava perdida,
esperavam fazer dela a recuperação.

No Morning Chlonicle, motivos para supor


que este roubo sorrateiro,
tinha como responsável e autor
homem bem vestido, um cavalheiro.

Gaultier Ralph com a recompensa contava,


para deixar os detetives animados.
Andrew Stuart assim não pensava.
Enquanto o uiste era por eles jogado.

Fallentin e Phileas Fogg frente a frente,


entre as mãos de uiste, a conversação.
Falavam um com outro, britanicamente.
A vantagem estava com o ladrão.

Gaultier Ralph respondeu: “Não há lugar


onde ele poderá se esconder”.
“Pois onde quer que vá se refugiar
alguém há de o reconhecer”.

Andrew Stuart achava a Terra atual


muito grande para se procurar.
Phileas Fogg, com sua fleuma habitual,
continuou então a falar:

“A Terra pode ser percorrida


dez vezes mais rápido que há cem anos”.
Gaultier Ralph disse em seguida:
“Pode-se ir rápido por terra e oceanos”.

~4~
“Em três meses pode ser circundada”.
“Em 80 dias”, Phileas Fogg completou.
Esta informação foi contestada,
por Andrew Stuart que falou:

“Não incluindo ventos contrários,


nem dos trens o descarrilamento,
também não preveem os naufrágios
e da natureza o mal tempo”.

Phileas Fogg, continuando a jogar,


disse que mesmo assim era possível.
Andrew Stuart continuou a discordar
dizendo que isso seria impossível.

Stuart disse que teoricamente;


Fogg disse: “na prática é possível fazer”.
Stuart replicou desafiadoramente:
“Isso eu realmente gostaria de ver”.

Phileas Fogg falou com convicção:


“Só depende do senhor”.
“Partamos juntos nesta incursão”.
“Deus me livre” respondeu com temor.

Stuart falou que apostaria.


Ver esta viagem incrível,
feita em 80 e nem mais um dia,
continuava achando impossível.

A discussão no ápice àquela altura.


O uiste seguia sendo jogado.
Andrew Stuart disse, achando uma loucura,
que quatro mil libras teria apostado.

Phileas Fogg fez sua proposta.


Todo seu dinheiro depositado
colocaria como aposta,
acreditando ter bom resultado.

Metade da fortuna apostada.


A outra metade na viagem gastaria.
Trunfo de ouro foi a ultima jogada.
Dali á pouco ele então partiria.

~5~
Perguntaram quanto tempo para se preparar?
Disse que estava sempre preparado.
Ficou no clube até seu jogo terminar.
Voltou pra casa andando compassado.

Ao chegar á sua morada,


Phileas Fogg chamou seu criado.
Este não esperava a sua chegada.
O patrão estava bastante adiantado.

“Passepartout”! Phileas Fogg chamou.


O criado respondeu com relógio na mão.
Iriam para Dover e Calais, Fogg informou.
O criado francês admirou-se então.

Olhos desmesuradamente abertos;


em verdadeiro estado de estupor.
Passepartout não sabia ao certo
para onde iria seu patrão e senhor.

“À volta ao mundo”! Murmurou.


“Em 80 dias, sem perder um só instante”.
Ele maquinalmente, a partida preparou,
achando aquilo tudo um desplante.

Levariam só o necessário,
para esta viagem iniciar.
Passepartout tal qual um espantalho,
não sabia por onde começar.

Passepartout ficou absorvido,


perdido em seus pensamentos.
O que será que tinha acontecido
para querer partir em alguns momentos?

Passepartout ainda perturbado


não acreditava ir longe seu patrão.
O básico na sacola foi colocado.
Phileas Fogg tinha vinte mil libras na mão.

Na sacola pôs o dinheiro


e avisou a seu criado.
Disse-lhe assim o cavalheiro:
“Tome com isso todo cuidado”.

~6~
Subiram em uma carruagem,
dirigindo-se á estação.
Assim iniciava-se a viagem,
Passepartout e seu patrão.

Ao desembarcarem, criado e cavalheiro,


aproximou-se naquele instante
enquanto Phileas Fogg pagava o cocheiro,
abordou lhe uma mendicante.

Na cabeça um chapéu estragado,


pendia uma pluma deplorável.
Andrajos e um xale esfarrapado
viviam em situação miserável.

Trazia uma menina ao seu lado.


Phileas Fogg deu-lhe uma doação.
Era o que no uiste tinha ganhado.
Gesto generoso do patrão.

Por Phileas Fogg foi falado:


“Tome boa senhora,
que bom tê-la encontrado”.
E seguiram sem demora.

Para aquela menina ao lado,


Passepartout olhou com emoção.
Ele tinha os olhos marejados.
Phileas Fogg ganhara seu coração.

Deu ordem a seu criado,


para dos bilhetes ser o comprador.
Na estação era esperado
por seus colegas do Clube Reformador.

Phileas Fogg falou aos cavalheiros:


“Passaporte nos vários lugares carimbado
permitirá controlar meu roteiro
confirmando que por ali terei passado”.

Gaultier Ralph falou polidamente:


Confiamos em sua palavra, sim.
Phileas Fogg falou educadamente:
“É melhor que seja assim”.

~7~
Na primeira classe estavam embarcados.
As oito e quarenta e cinco, o trem partia.
Passepartout ainda meio estonteado.
Lá fora uma chuva fina que caía.

Passepartout a sacola segurava.


Contra seu peito apertando.
Na viagem ainda não acreditava.
Seu patrão estava se deslocando.

De repente soltou um grito,


deixando Phileas Fogg admirado.
Por Passepartout foi dito:
“Deixei o bico de gás ligado”.

Não havia mais o que fazer.


Phileas Fogg então falou:
“Por sua conta a queima do gás vai correr”.
Passepartout por isso se conformou.

Phileas Fogg não imaginava a repercussão


que sua partida iria provocar.
Em primeiro momento causou comoção.
Os jornais, a noticia iriam publicar.

À volta ao mundo, eis a questão.


Foi debatida, dissecada.
Discutida com fervor e paixão.
Se poderia realmente ser realizada.

Dois grupos de posicionaram:


Uma maioria contra e uma minoria a favor.
Os principais jornais acharam
loucura do membro do Clube Reformador.

Isso ainda foi pouco.


Insensatos os membros do Clube Reformador.
Chamaram Phileas Fogg de louco.
Fraqueza das faculdades mentais de seu autor.

O interesse inglês pela Geografia


demonstrado pelo interesse dos jornais.
Tudo sobre Phileas Fogg se lia.
Por todas as classes sociais.

~8~
O Daily Telegraph, único jornal,
que decidiu a Phileas Fogg apoiar.
Com o passar do tempo, afinal,
também começou a fraquejar.

Um longo artigo foi publicado,


pela Sociedade Real de Geografia.
O projeto não podia ser realizado
e que Phileas Fogg não conseguiria.

Tudo contra o viajante estaria.


Obstáculos humanos e naturais.
Atrasos, descarrilamentos, o que mais seria
Foi desacreditado em todos os jornais.

Falavam naquele momento,


se a bordo de um paquete o cavalheiro
estaria à mercê de pés de vento,
além de tempestade e nevoeiro.

Um único atraso seria suficiente


para comprometer toda a empreitada.
Algumas horas de atraso somente
e a viagem estaria fracassada.

Em Phileas Fogg foi apostado.


Transformaram-no em uma ação.
Muitos negócios foram realizados.
Até ficar um único apostador então.

Era Lorde Albermale, o paralítico.


De Phileas Fogg o único que ficou ao lado.
Se puder ser feito, declarou em tom mítico,
que seja por um inglês realizado.

De Phileas Fogg diminuía os partidários,


Ninguém apostava nele achando-o insensato.
Mas foi acontecimento extraordinário,
que modificou toda a situação de fato.

Um despacho telegráfico recebido,


pelo Diretor da policia metropolitana.
Chegara á Londres, de Suez havia partido.
Sete dias após inicio desta viagem insana.

~9~
Trazia em detalhes a descrição
nos arquivos do Clube Reformador baseado,
afirmando ser Phileas Fogg um ladrão.
Estava pelo agente Fix assinado.

Teria este respeitável cavalheiro


usado pretexto da viagem para fugir?
Ele, considerado um homem ordeiro?
Com as cédulas roubadas partir?

O paquete Mongólia procedente


de Brindisi pararia em Suez afim,
de repor carvão para seguir em frente.
Seu destino, a cidade de Bombaim.

Em Suez, por dois homens era aguardado,


um deles bastante impaciente.
O Consul inglês e um detetive angustiado.
Que desejava chegada o mais rapidamente.

Homem magro e inteligente,


nervoso e bastante agitado.
Seu interesse era unicamente
prender quem tinha o banco roubado.

O Mongólia era muito rápido.


Chegava sempre adiantado.
Era um transporte prático
que trazia pessoas de todo lado.

No porto houve agitação,


o Mongólia não tardaria a chegar.
Marinheiros, corretores,
carregadores em ação.
Fix estava cansado de esperar.

Fix era agente da policia inglesa,


perspicaz em qualquer situação.
Que Phileas Fogg era o ladrão, certeza.
Esperava mandato para fazer a detenção.

Considerava o roubo espetacular,


e que conhecia este tipo de gente.
Apesar da aparência honesta enganar,
ele não seria enganado certamente.

~ 10 ~
Disse que seguramente sabia,
e que ele não seria enganado.
Seu faro apurado o ajudaria
e que o ladrão seria aprisionado.

O Mongólia e seu casco gigantesco


adentrou imponente o canal.
Movimento de pessoas era pitoresco.
O detetive começou seu trabalho afinal.

Olhando para todo lado,


o ladrão estaria em qualquer parte.
O agente não seria enganado.
Mais que profissão, aquilo era uma arte.

O vento frio via-se alguns minaretes.


Naquele momento ouviu-se um apito.
Anunciava a chegada do paquete.
Batéis em um tremendo agito.

Mantinha-se vigilante e aceso.


Olhava minuciosamente a multidão.
Tinha certeza que o bandido seria preso
e que ele pegaria seu ladrão.

O inspetor foi por um homem abordado,


desejando dele uma informação.
Queria saber onde era o consulado.
Vendo o passaporte, Fix tremeu a mão.

No passaporte a descrição
do homem que procurava.
Procurou disfarçar a emoção.
Perguntou se era ele que buscava.

Passepartout respondeu que não.


O detetive Fix então insistiu.
“Este passaporte é de meu patrão
que ficou a bordo do navio”.

Fix respondeu ao criado:


“Terá de apresentar-se pessoalmente”.
“Seu patrão terá de ir ao consulado”.
Afirmou de modo convincente.

~ 11 ~
Phileas Fogg da embarcação
cumprimentou o agente.
Com um aceno de mão
que foi retribuído gentilmente.

Fix correu ao consulado,


convencer o Consul a negar o visto.
Pelo cônsul isso foi negado.
Fix falou: “Por favor, eu insisto”.

Representante do consulado retrucou,


dizendo ser o visto desnecessário.
Mas o agente continuou,
dizendo ser um fato extraordinário.

Adentraram nesse instante,


dois homens estrangeiros.
Um era o francês falante.
O outro, elegante cavalheiro.

Fix em um canto, escondido.


Tudo dali ele observava.
Phileas Fogg queria o visto concedido.
O detetive com o olhar o devorava.

O Consul disse não ser mais preciso,


mas o cavalheiro insistiu.
O Consul foi conciso.
Apondo seu sinete consentiu.

Do visto fez o pagamento,


retornando em seguida ao navio.
Friamente fez um cumprimento
e para o cais se dirigiu.

Do Consul, queria a opinião.


Assim perguntou o inspetor:
“O que achou deste ladrão”?
Respondeu assim o interlocutor:

“Demonstra honestidade,
nele não vejo nada de errado”.
Falou com toda a sinceridade.
Por Fix não era compartilhado.

~ 12 ~
Em agenda que tinha por fim
anotar o trajeto por sua vez.
De Londres para Paris e depois Turim.
Daí a Brindisi e a chegada até Suez.

Phileas Fogg seguia o roteiro,


O tempo não foi ganho nem perdido.
Pediu o almoço costumeiro.
O criado em conhecer a cidade, envolvido.

Fix aproximou-se do criado francês,


mantendo uma conversa animada.
Procurou saber aonde iria desta vez?
Comprar camisas para seguir a jornada.

O inspetor de maneira gentil,


disse que o acompanharia.
Desta forma a conversa fluiu
até chegarem á camisaria.

O relógio de Passepartout, o criado,


O agente policial então verificou.
Pelo horário local, estava atrasado.
A acertar o relógio, o criado se recusou.

Passepartout fez confidências


a respeito de seu patrão.
Falava na maior das inocências,
dando a Fix toda a informação.

Passepartout falou da súbita partida.


Volta ao mundo em 80 dias, a proposta.
Esta história havia sido concebida
no Clube Reformador em uma aposta.

No mesmo dia que começou a trabalhar,


seu patrão resolveu partir rapidamente.
O criado não parava de tagarelar,
e isso deixou o detetive contente.

O inspetor Fix concluiu ao final


que o criado não conhecia bem seu patrão.
Quantidade enorme de cédulas levava afinal.
Para o agente, Phileas Fogg era o ladrão.

~ 13 ~
Depois deste encontro no navio,
os dois sempre estavam a conversar.
Fix naquele instante pressentiu,
que do criado deveria se aproximar.

No bar do paquete o inspetor


pagava bebidas ao criado.
Este aceitava e sentindo-se devedor,
também pagava ao amigo recém-chegado.

O paquete seguia adiante.


Chegaria adiantado? Quem sabe.
Em Moka as tamareiras verdejantes.
O estreito de Bab-al-Mandab
dia catorze transpôs confiante.

Steamer Point naquele momento


fez a parada por obrigação.
Teria de fazer o abastecimento,
pois consumia muito carvão.

Phileas Fogg não iria se importar,


pois chegara bem adiantado.
Saiu para o passaporte visar,
e voltou para o jogo recomeçado.

Índia, triângulo com ponta virada,


com imensa área territorial.
Grande parte por ingleses dominada.
Mas não em sua extensão total.

Alguns rajás selvagens,


mantem parte do território independente.
Na diversidade de paisagens
e também de sua exótica gente.

Na Índia antigamente cortada


por todo meio de transporte.
A pé, carroça, diligência, por gente puxada.
Hoje há barcos a vapor de toda sorte.

Há também uma ferrovia,


que vai de Bombaim a Calcutá.
Três dias para fazer esta travessia.
Seria esta a maneira de chegar lá.

~ 14 ~
Fogg despediu-se de seus parceiros.
Deu orientações a seu criado.
Às vinte horas embarcariam ligeiros.
Conhecer Bombaim, por ele descartado.

Vinte horas, o trem partiria.


Deu instruções a seu criado.
No horário combinado estaria.
Ele não precisaria ser esperado.

Phileas Fogg da cidade nada viu.


Poderia admirar construções tão bonitas
A biblioteca, o pagode Malebar Hill
Igrejas armênias, bazares e mesquitas.

Dirigiu- se para a estação


E foi para o restaurante.
Fez pedido para sua alimentação,
Enquanto Passepartout estava distante.

Phileas Fogg pediu um guisado


Fix pouco depois desembarcou.
Para delegacia dirigiu-se apressado.
perguntando se o mandato chegou?

Fix ficou desconcertado,


Pois a ordem de prisão não chegara.
O mandato devia ser dado.
Mas o delegado recusara.

Passepartout passeava,
Andando por toda cidade
Diante de uma celebração passava.
Uma festa despertou sua curiosidade.

Bailarinas dançavam com afã,


Com gazes de ouro e prata brocadas
Ao toque de violas e batidas de tantã.
Deixavam a plateia admirada.

~ 15 ~
Ao entrar no Pagode de Malebar Hill,
Sem saber cometeu uma transgressão.
Atacado por sacerdotes, no chão caiu.
Conseguiu safar-se com um empurrão.

Após dar este passo em falso,


Cometeu erro sem intenção.
Teria de no templo entrar descalço.
Além de ser proibido a um cristão.

Por isso fora atacado.


Fugiu, mas perdeu o sapato.
Chegou à estação, desgrenhado.
Relatou ao patrão todo o fato.

Fix ouviu o que contou o criado.


Decidiu ficar em Bombaim.
Este delito por Passepartout provocado
facilitaria a prisão de Fogg enfim.

O trem levava viajantes em geral.


Civis militares e negociantes.
Sir Francis Cromarty, general
estava entre os viajantes.

Parceiro de Fogg na jogatina.


Era praticamente um nativo.
Loiro, bravo, militar era sua sina.
Tinha um verdadeiro ar altivo.

Phileas Fogg contou durante a viagem


Que pretendia a volta ao mundo dar.
Um excêntrico de coragem.
É o que pensava o veterano militar.··.

Enquanto o trem corria.


Sir Francis Cromarty tentava conversar.
Mas a conversa logo morria,
E o general tentava de novo retomar.

~ 16 ~
O trem cortava os Gates Ocidentais.
Transpondo o território indiano.
Passando por cidades e regiões rurais,
Viajando por aquele local nada plano.

Contorcia-se no ar o vapor.
Não faltavam serpentes e tigres espantados
por aquele estridente apito de dor.
O trem cortava floresta dos dois lados.

O trem seguia altivo


espantando os tigres de nobre raça.
Elefantes com olhar pensativo.
Viam o comboio com cabeça de fumaça.

Maligaun, território dos terrores


ensanguentado por adoradores da deusa Kali.
Ferighea, rei dos estranguladores
Comandava uma associação secreta ali.

Daquela província a sorte,


os Ingleses intervieram nesta ação.
Diminuindo o numero de mortes.
Mas não acabou esta associação.

O trem chegou à estação,


babuchas Passepartout comprou.
Fizeram ali a refeição.
E a seguir a viagem continuou.

Vendo que a ideia de seu patrão


era realmente completar a jornada
Passepartout começou então
a se interessar pela empreitada.··.

Dos atrasos reclamava


e a calma do patrão o afligia.
E assim ele acreditava
completar a missão conseguiria.

~ 17 ~
Inúmeros pensamentos, o tomava,
Deixando Passepartout excitado.
Até Bombaim não acreditava.
Agora, mostrava-se o mais angustiado.

Contava e recontava os dias decorridos.


Acreditava nessa maluquice
Desesperava-se com horários perdidos
Se recriminava demonstrando sandice.

Recriminava o trem e sua lentidão.


Ficara irritado por nada.
Senhor Fogg poderia dar uma gratificação.
Mas a velocidade era regulamentada.

Mantendo seu relógio com a hora original.


Baseado em Grenwich o meridiano.
Mas iria mantém-lo assim afinal
era a ideia de um criado insano.

Quinze milhas da estação de Rothal.


O trem parou em uma clareira.
Os trilhos chegavam ao final
Teriam de seguir de outra maneira.

Sir Francis Cromarty, irascível.


Passepartout não podia acreditar.
Phileas Fogg manteve-se impassível.
“Veremos outro meio para continuar".

O relógio deveria ser adiantado.


Quatro minutos cada grau.
Para leste o dia seria encurtado
O horário não ficaria igual.··.

Passepartout não quis saber.


Conservaria o horário londrino.
Sir Francis Cromarty ainda tentou dizer,
que isso seria um verdadeiro desatino.

~ 18 ~
O trem parou em uma clareira,
Cercada de cabanas de operários.
Ali naquela floresta de tamareiras.
Descobriram fato extraordinário.

Passando de vagão em vagão.


Assim falou o condutor:
“Da estrada acabou a construção”.
“Desçam todos, por favor,”.

Todos ficaram admirados.


Jornais anunciaram a conclusão.
Mas o trecho não estava terminado.
Buscariam outro transporte então.

Phileas Fogg disse calmamente:


“De Calcutá sairá um vapor”.
“Chegaremos lá certamente,
o tempo está o meu favor”.

A maior parte dos viajantes


Pegaram na aldeia o transporte.
A maioria já sabia disso antes
Ficaram três homens ali sem sorte.

Após na aldeia procurar,


Phileas Fogg não encontrou nada.
Falou que para lá chegar,
Iria fazendo uma caminhada.

Passepartout chamou o patrão,


Falou-lhe um pouco vacilante.
Acredito ter encontrado locomoção.
Trata-se enfim de um elefante.··.

Uma choça e um cercado


Onde um indiano estava.
O elefante estava ali fechado.
Phileas fogg perguntou se alugava.

Os elefantes ficando raros.

~ 19 ~
Várias vezes recusou a oferta.
Sabia que estes animais eram caros.
Aumentariam o valor, na certa.

Phileas fogg comprou o animal.


Duas mil libras desembolsadas.
Em Islamabad tinham de chegar afinal.
E seria longa a jornada.

Um jovem parse de guia


Iria levá-los ao destino final.
O elefante ele prepararia.
A todos levaria o forte animal.

Sir. Francis Cromarty convidado.


Para acompanhá-los na jornada.
No elefante dois cestos de cada lado.
Para o animal isso não era nada.

Phileas Fogg foi colocado,


em um cesto e também o general.
Ficaram um de cada lado.
O criado e o parse no dorso do animal.

Compraram viveres no caminho.


Pois o destino estava distante.
O grupo prosseguia sozinho,
pela mata que se via adiante.

O mais curto caminho, o parse pegou.


Evitando as montanhas Vindias.
Todos confiaram no caminho que tomou.
Cortando aquela floresta das Índias.··.

Sacolejando dentro da cesta,


Phileas Fogg e o general.
Passepartout ia ao lombo da besta,
e o parse no pescoço do animal.

Bundelkund, nesta região,


estavam em território selvagem.

~ 20 ~
Haviam indianos ferozes em profusão.
Evitaram-nos e seguiram a viagem.

Passepartout tinha algo em mente


que o estava atormentando.
Quando chegassem, finalmente,
Que fazer com a besta que estavam levando.

Não poderia acompanhá-los na jornada.


O custo seria demais elevado.
Será que ao final da caminhada,
ao parse o elefante seria dado?

Pararam para descansar.


Vindias, vertente setentrional
Após a refeição terminar,
o grupo teve uma noite normal.

Ali, frequentado por feras,


ouviu-se alguns rugidos,
de leopardos e panteras
que deveriam ser temidos.

De manhã seguiram em frente.


Alaabad não estava distante.
Kiouni, seguia rapidamente.
Andando rápido para um elefante.

Pararam próximo a bananeiras.


Os frutos foram devorados.
Ali havia inúmeras touceiras
deste vegetal muito apreciado.··.

Seguiram por espessa floresta.


A viagem continuava sem incidente.
Pássaros e macacos faziam festa
Quando o elefante parou de repente.

Kiouni, o elefante, com inquietação,


percebera algo ainda anormal.

~ 21 ~
Eram quatro horas naquela região,
barulho de vozes e instrumentos de metal.

O parse fez a verificação.


Voltou após algum tempo passado.
Brâmanes vinham em procissão.
Dirigindo-se para aquele lado.

Esconderam-se e ficaram observando,


o grupo de religiosos que chegavam.
Pelo som percebiam que iam chegando.
Címbalos e tambores, tocavam.

Sacerdotes á frente da procissão


Carro que duas parelhas de zebus iam puxando.
Terrível figura levada em adoração.
Deusa Kali, amor e morte simbolizando.

Faquires contorciam-se enlouquecidos.


Uma mulher levada por homens violentos.
Homens com belos trajes vestidos.
Cadáver de um velho em trajes opulentos.

Fechando esta procissão


Grupo de músicos e fanáticos.
Gritavam e pronunciavam uma oração.
cortejo assustador e fantástico.

Um sati, sacrifício humano consentido.


O morto um rajá do território independente.
Segundo as leis, a esposa do falecido
seria queimada com o marido juntamente.

Phileas Fogg ficou revoltado.


Com tais costumes primitivos.
Por Sir Francis Cromarty foi falado:
“Tais rituais ainda não foram banidos”.

Sacudindo a cabeça, o guia,


falou que ela não queria.

~ 22 ~
Perguntaram como ele sabia.
A historia todo Bundelkund conhecia.

Tendo sido por ópio inebriada


Levada ao Pagode de Pilaji.
Ali a noite seria passada.
No amanhecer aconteceria o sati.··.

Quando se preparavam para partir,


Phileas Fogg propôs a salvação.
Não iriam mais prosseguir,
libertar a mulher era obrigação.

plano audacioso, exigindo valentia.


Todos concordaram com a Salvação.
Por debaixo daquela aparência fria
Em Phileas Fogg batia um coração.

Sr. Francis Cromarty e o guia


favoráveis a este resgate.
Agiriam à noite e não de dia.
Evitando assim um embate.

O guia contou aos viajantes


a historia daquela vitima inocente.
Filha de ricos comerciantes,
Órfã, foi casada com um regente.

Fora muito bem educada,


recebendo educação inglesa.
Por muitos homens desejada.
Viam nela inteligência e beleza.

Após três meses, tempo decorrido,


o velho rajá veio a falecer.
Tentou fugir, pois a morte do marido
condenava-a junto a ele perecer.

Aguardaram até a noite chegar.


O cortejo todo dormia entorpecido

~ 23 ~
Esperavam abertura no pagode encontrar,
Esgueiraram-se para não serem percebidos.

A fogueira em galhos fuliginosos


mostrou guardas bem armados.
Tiveram de ficar mais cautelosos,
armados de sabres de ambos os lados.··.

Recuaram para aguardar,


tentariam a outra entrada.
Lá os sacerdotes iriam estar.
A prisioneira estava bem vigiada.

Passepartout e o guia tentando,


na parede, um buraco ser cavado.
Contudo, gritos ficaram escutando.
Guardas apareceram daquele dado.

A todos causou decepção.


Nada mais poderia ser feito.
Não tinham como fazer a salvação.
Por Phileas Fogg isso não foi aceito.

Quem sabe a oportunidade


aparecesse no momento crucial.
Talvez durante o dia a claridade
os ajudasse no instante final.

Esconderam-se em uma clareira


onde viam sem ninguém os ver.
Passepartout ruminava uma maneira
e uma ideia que acabara de ter.

Ia diminuindo a escuridão.
Aos poucos foram acordando.
Levantou-se toda aquela multidão,
para o sacrifício irem acompanhando.

Sir Francis Cromarty apertou a mão


de Fogg que tinha uma navalha aberta.

~ 24 ~
Seguiram escondidos atrás da multidão.
Tentariam agir na hora certa.

Viram a jovem ser arrastada.


Parecia em estado de torpor.
Na pira, com o morto foi colocada.
O fogo ateado queimava com ardor.

Phileas Fogg em ato de loucura,


avançou sem ser contido.
Desnecessário este gesto de bravura,
pois o cenário havia se convertido.

Levantando-se da pira que ardia


o morto carregava a jovem nos braços.
Os indianos prostrados naquele já dia.
O ressuscitado falou: “Apertemos o passo”.

Era Passepartout que levava,


em seus braços a jovem indefesa
Em meio à floresta se refugiava.
Tentariam escapar com certeza.

Quando a farsa foi descoberta.


Tiros disparados e flechas lançadas.
Pela floresta a fuga foi coberta.
O elefante os levava em disparada.

Quando se encontravam seguros


Passepartout ria todo animado.
Ele que já escapara de tantos apuros
Se passara por um rajá embalsamado

Após passar quase uma hora,


a jovem continuava em prostração.
De qualquer perigo estavam fora.
Tentaram fazer sua reanimação.

Sir Francis Cromarty temia


que a jovem tivesse futuro incerto

~ 25 ~
Continuando na Índia, seria
apanhada e isso era certo.

Em Alaabad a chegada.
A estrada de ferro recomeçava ali.
Até Calcutá de trem seria continuada.
Separaram-se do guia aqui.

Alaabad, como cidade de Deus conhecida.


Da Índia uma das mais veneradas.
Na confluência do Ganges com o Jumna, erguida.
Por fieis a Brama, e sempre visitada.

Passepartout saiu pela cidade.


Comprar roupas que a jovem precisaria.
Encontrou, para sua felicidade,
tudo que a senhora Auda necessitaria.

Senhora Auda, encantadora e bela,


falava o inglês, tinha fina educação.
Nada se comparava a ela.
Parecia europeia na concepção.

Phileas Fogg pagou o guia.


Agradeceu o parse pela dedicação.
Com o elefante, o que faria?
Deu-o de presente como compensação.

Kiouni, um bom elefante,


para o parse era uma riqueza.
Passepartout de maneira elegante,
Agradeceu também sua presteza.

O trem a todo vapor,


corria em direção a Binares.
Senhora Auda saindo de seu torpor,
Assustou-se ao lado de seus pares.

Sir Francis Cromarty fez à narrativa,


de tudo que havia ocorrido.

~ 26 ~
Falou de Phileas Fogg, figura altiva,
Passepartout ficou enrubescido.

Phileas Fogg ofereceu-se assim


para até Hong Kong levá-la.
Havia um parente dela, enfim.
E segura poderia deixá-la.

Para Sir Francis, ponto final.


Agradeceu a todos a companhia.
O valoroso e valente general,
seu batalhão ali reencontraria.

O trem partiu em velocidade,


Cortando planícies e matas verdejantes.
No Vale do Ganges passava as cidades.
Desfilando bela paisagem aos viajantes.

Tigres, ursos e lobos a uivar,


fugiam da locomotiva.
O trem corria rápido, sem parar.
Andava tal qual figura altiva.

Em Calcutá no dia marcado,


o paquete sairia a algumas horas.
Os dias perdidos não foram lamentados,
em breve embarcariam e iriam embora.

Ao desembarcarem do vagão,
foram abordados por policial.
Em um veiculo levados então.
Não sabendo o motivo afinal.

Em carro, da cidade a travessia.


Feitos prisioneiros aguardando o juiz.
Senhora Auda chorando dizia:
“Sou a culpada desta situação infeliz".

Phileas Fogg nisso não queria acreditar.


Por isso procurou tranquilizá-la.
Ao meio dia no paquete iriam embarcar,

~ 27 ~
e em Hong Kong, segura iria deixá-la.

Levados à presença do magistrado.


Ouviram dele a acusação.
Contudo eles haviam pensado,
que o motivo fosse da jovem a salvação.

Os sacerdotes de Malebar Hill,


acusavam Passepartout de profanador.
Uma reviravolta se viu,
quando o acusado virou acusador.

Os sacerdotes em estupefação,
não entendiam do que eram acusados.
Phileas Fogg fez a revelação.
Por terem esta jovem aprisionado.

Fora o infeliz acontecimento


no Pagode de Bombaim,
que causara o aprisionamento.
E desta aventura seria o fim.

O juiz Obadiah deu o veredicto:


Reteria Passepartout e seu patrão.
Após o que foi confessado e dito,
Esta seria a condenação.

No canto da sala, sem ser visto,


o detetive Fix se regozijava.
prenderia seu homem pelo visto,
com isso ele já contava.

O agente Fix havia convencido


os sacerdotes a exigirem retratação.
Só assim seria conseguido
que chegasse o mandato de prisão.

Ficou desesperado
Quando em Calcutá chegou.
E viu que Fogg não havia chegado

~ 28 ~
Pensava: “Outro caminho tomou”.

Qual foi a sua alegria,


ao ver chegar o seu ladrão.
Assim ele acionou a policia.
E conseguiu deles a prisão.

Quando foi esclarecida


toda aquela confusão.
Por Phileas Fogg foi oferecida
fiança no lugar da prisão.

O juiz Obadiah aceitou


valor pago por homem de fibra.
A quantia, ele estipulou,
não seria menos de mil libras.

Da sacola foi tirada a quantia.


Duas mil libras para o pagamento.
O navio logo partiria,
Embarcaram os três no exato momento.

No porto a chegada.
O Ragoon partiria em breve.
Três pessoas estariam embarcadas
E uma sacola de dinheiro, mais leve.

O detetive Fix correndo os seguiu


até no porto os viu chegar.
Subiram em uma canoa, o trio,
Para no paquete Ragoon embarcar.

O detetive em desespero
via escapar seu ladrão.
Ele que o caçava com esmero,
ia diminuindo o dinheiro,
e aumentando a frustração.

Phileas Fogg, o dinheiro gastava.


Tinham sido cinco mil libras do assalto.

~ 29 ~
A ele, o agente Fix esperava
pela captura receber um valor alto.

O Ragoon era um potente navio.


Em doze dias faria a travessia.
Não era tão confortável, logo se viu,
mas a Hong Kong os levaria.

Senhora Auda demonstrava,


por Phileas Fogg gratidão.
Ele sempre a escutava,
sem demonstrar emoção.

Em suas conversas matinais,


Phileas Fogg a tranquilizava.
Sem se alongar demais,
o estritamente falava.

Senhora Auda para Phileas Fogg olhava.


Este se mantinha implacavelmente frio.
Enquanto ela com ele conversava.
Ele mostrava-se atencioso, mas arredio.

Na baia chamada Braço de Bengala,


o paquete navegava calmamente.
Senhor Fogg fazia questão de acompanhá-la,
e sempre a escutava atentamente.

Próximo de uma bela ilha,


coberta de verdejante vegetação.
Admirou-se de tais maravilhas,
Mar da China seguiu a navegação.

Fix também havia embarcado.


Procurou não chamar atenção.
Pois se o vissem, como seria explicado
sua presença naquela embarcação.

Se em Hong Kong não chegasse


o mandato que corria atrás,
Fix temia que ele escapasse

~ 30 ~
e não conseguiria pegá-lo mais.

Teria de tentar atrasá-lo.


Caso não chegasse o mandato de prisão.
Senão seria difícil apanhá-lo.
Da Inglaterra era a ultima possessão.

Em ultimo caso, pensava ele,


conto tudo a Passepartout, o criado.
Provavelmente não sabe do crime dele
e passará para o meu lado.

Para o convés, Fix subiu.


Vendo o criado demonstrou surpresa.
Logo que Passepartout o viu,
falou com muita presteza.

“O senhor aqui no Ragoon?”


Disse Fix demostrando admiração.
Passepartout da voz ouvindo o som,
Respondeu-lhe com outra indagação:

“Senhor Fix, a bordo está?”


“Deixei-o em Bombaim”.
“Para onde o senhor irá”?
Volta ao mundo dará, enfim?”

O agente Fix respondeu-lhe então:


“Em Hong Kong alguns dias passarei.”
Disse o criado: “Como não o vi até sua aparição”?
Respondeu: "Enjoado, de repouso eu fiquei".

Passepartout aproveitou para explicar


a presença de uma dama e suas desventuras.
Tudo que fizeram para a vida dela salvar,
e o desfecho destas aventuras.

O detetive queria saber,


o que fariam com a dama, enfim.
Depois, convidou o criado para beber

~ 31 ~
no bar do navio tomaram um copo de gim.

Phileas Fogg preferia ficar,


com senhora Auda, ou no salão.
Invariavelmente uiste a jogar,
Hábito que lhe dava satisfação.

Passepartout começou a pensar,


sobre Fix e sua presença no navio.
Seria capaz até de apostar,
ao seu patrão desde o inicio seguiu.

Passepartout não imaginava


que Fix seguia seu patrão.
E que um mandato esperava,
para prendê-lo como um ladrão.

Passepartout achou como explicação,


que Fix fora enviado como agente,
para ver se cumpria o roteiro, seu patrão.
Repetia: "É evidente, é evidente".

Os senhores respeitáveis,
do Clube Reformador, certamente,
eram os grandes responsáveis
por terem enviado este agente.

O paquete embicou,
Estreito de Malaca na direção.
Quando finalmente aportou,
para fazer sua reserva de carvão.

Fazendo rápida travessia,


O Ragoon conseguiu chegar.
Phileas Fogg ganhou meio dia.
Saiu com senhora Auda passear.

Passepartout também saiu.


Fazer compras pra prosseguir.
Percebeu quando Fix o seguiu.

~ 32 ~
Começou com isso a se divertir.

Pela Ilha de Cingapura, a passear.


Dois cavalos puxavam bela condução.
Podiam as belezas de o local admirar.
Belas arvores cobriam a região.

Macacos muito barulhentos,


Tigres carnívoros e vorazes.
Nesta ilha em pleno crescimento
de mangas e deliciosos ananases.

Senhora Auda e seu companheiro.


Passeavam pela cidade.
A bela dama e o fleumático cavalheiro
a seu modo demonstravam felicidade.

O paquete estava carregado.


Feito sua reserva de carvão.
Em seis dias o mar seria atravessado.
Chegariam a Hong Kong então.

O mar estava encapelado.


O navio cheio de passageiros.
Ainda assim o tempo que haviam gastado
não tirava a tranquilidade do cavalheiro.

O mau tempo obrigava a embarcação


a navegar bem mais devagar.
Phileas Fogg não tinha preocupação.
Passepartout não podia se controlar.

Talvez a lembrança do bico de gás,


que em Saville Row ardia.
Irritava mais o pobre rapaz,
e para isso muito concorria.

~ 33 ~
Conversando com o policial,
Passepartout disse na viagem acreditar.
Fix não acreditava nisso e afinal,
tinha motivos para se apegar.

O criado chamou-o de farsante,


deixando-o bastante intrigado.
Será que de Fogg o acompanhante,
dele estava ficando desconfiado?

O criado acabou deixando


o detetive embaraçado.
Mais forte que ele, continuou falando.
Fix se mostrou bem perturbado.

Fix tinha certeza absoluta


que o criado descobrira tudo.
Foi para cabine de maneira resoluta.
Ficou pensando naquilo, mudo.

Fix estava disposto a contar tudo então.


Para não perder sua recompensa.
Planava majestosamente sobre a situação,
Phileas Fogg em total indiferença.

Passepartout observava,
nos olhos de senhora Auda, gratidão.
Para Fogg isso nada significava.
Pelo heroísmo batia seu coração.

Olhando a máquina funcionar.


Passepartout praguejava.
“Este navio vai muito devagar”.
E a cólera o dominava.

Enfrentando tempestade,
que agitou o mar com veemência.
O navio navegava com dificuldade.
Mas Phileas Fogg não perdia a paciência.

O paquete chegaria atrasado.


Fix demonstrava satisfação.

~ 34 ~
Passava mal e ficava enjoado.
A tempestade ajudava-o nesta situação.

Passepartout com o atraso sofria.


O mau tempo por ele era lamentado.
Fix de contentamento não se cabia.
Mantendo seu sentimento disfarçado.

Passepartout a todo o momento,


Demonstrava agitação.
Estava sempre em movimento,
subia até na mastreação.

Ajudava no que podia.


Ria dele o capitão.
Não sabia mais o que fazia,
para do navio aumentar a progressão.

O tempo acalmou-se afinal.


E Passepartout ficou mais sossegado.
A viagem transcorreu normal,
mas chegaram um dia atrasado.

Phileas Fogg perguntou,


quando partiria o vapor,
O piloto assim falou:
“Ele não partiu no dia anterior”.

A caldeira teve de ser reparada.


E isso atrasou a partida.
A embarcação ainda estava ancorada,
para o dia seguinte seria a saída.

Phileas Fogg também sabia


Que paquete de Yokohama a São Francisco
com atraso deste, com certeza não partiria.
Sua viagem não estava em risco.

Carnatic assim era chamado


o paquete que faria a travessia.

~ 35 ~
Estavam vinte quatro horas atrasado,
Mas isso pouco importaria.

No hotel do Club se hospedaram.


De senhora Auda, buscar o parente.
Mas na Bolsa, quando chegaram,
da China ele estava ausente.

“Para a Europa mudou”.


“Para a Holanda provavelmente”.
Assim um corretor informou.
Para Phileas Fogg era suficiente.

Informou a jovem senhora,


que ficou desamparada.
Perguntou o que faria agora?
“Irá acompanhar-nos na jornada”.

Pediu a seu criado


para três cabines reservar.
Ela continuaria a seu lado,
até na Europa chegar.

Hong Kong, apenas uma ilha.


Pertencente á Inglaterra.
Sua beleza ali brilha.
Colonização inglesa ali se encerra.

Passepartout foi ao Porto Vitória.


Na embocadura do Rio Cantão.
Igual á Índia repetia-se a história,
Pessoas e navios em profusão.

Navios americanos e ingleses.


Navios de flores tão belos.
Juncos, sempas, navios franceses,
Viu idosos com vestuários amarelos.

Ficou sabendo pelo barbeiro,


que tinham mais de oitenta anos.

~ 36 ~
Por isso o privilegio derradeiro
de vestirem esta cor de panos.

Passepartout e Fix a conversar.


O agente em descontentamento.
O mandato que ele aguardava chegar.
Estava atrás deles no momento.

Hong Kong também era,


da Inglaterra a ultima possessão.
Fix do mandato na espera,
tinha que atrasar sua progressão.

Passepartout deu uma gargalhada.


Perguntou ao agente com ironia.
“Até a América também fará esta jornada”?
O que fazer? O agente Fix não sabia.

Reservaram as cabinas pra viajar.


Foi avisado pelo empregado.
O navio naquele mesmo dia iria zarpar,
pois já havia sido consertado.

Fix tomou uma decisão extrema.


Iria contar tudo ao criado.
Talvez fosse à solução do problema
E Passepartout ficasse o seu lado.

Entraram na taverna pra beber.


Fumantes de ópio deitados.
O criado sem perceber
acabaria sendo enganado.

Bebendo e conversando.
Fix começou a beber e refletir
Quando ia quase confessando.
Passepartout levantou-se para ir.

Avisaria ao seu patrão,


que seria antecipada a partida.

~ 37 ~
Fix deteve-o de supetão.
Serviu-lhe mais uma bebida.

O criado começou a falar,


deixando o agente atordoado.
Passepartout falava sem parar,
e Fix cada vez mais atrapalhado.

Os membros do Clube Reformador,


não podiam fazer isso a meu patrão.
“Trata-se de um homem de valor
e com ele está a razão”.

Fix perguntou ao criado.


Quem pensa que eu sou?
“Pelos membros do Clube foi mandado”.
Foi isso que Passepartout falou.

Fix agora tinha certeza concreta,


vendo em Passepartout sinceridade.
Ele não sabia do assalto na certa.
Só podia estar falando a verdade.

Precisava Phileas Fogg reter.


Não deixá-lo de Hong Kong sair.
Pensou no que iria fazer.
Para seu intento conseguir.

Fix contou do roubo.


Do suspeito a descrição.
Passepartout num arroubo
Assegurava não ser seu patrão.

O agente Fix insistia,


ofereceu-lhe uma gratificação.
Mas Passepartout não aceitaria.
Jamais trairia seu patrão.

O criado muito bebeu.


Fix aproveitou da situação.

~ 38 ~
Cachimbo de opio ofereceu.
Passepartout fumou e caiu ao chão.

Deixando o criado inconsciente,


Fix pagou a conta e saiu.
Ficou satisfeito o agente.
“Quando acordar o navio já partiu”.

Phileas Fogg junto á senhora,


Fizeram compras a passear.
Almoçaram em adiantada hora,
depois ela recolheu-se para descansar.

Na manhã do dia seguinte


Não apareceu o seu criado.
Phileas Fogg fez a Auda o convite,
Para no porto embarcar a seu lado.

Seguiram de palanquim,
levando junto à bagagem.
Chegaram ao porto enfim,
para poderem seguir viagem.

Ao saber que o navio,


partira no dia anterior,
No rosto de Phileas Fogg não se viu,
nenhum sinal de surpresa ou estupor.

Fix com ele foi conversar,


contou do navio a partida.
Senhora Auda do criado quis perguntar,
Fix demonstrou surpresa em seguida.

Demonstrando satisfação,
pelo navio já ter partido.
Oito dias até chegar outra embarcação.
Phileas Fogg não se mostrava aborrecido.

Já imaginava Fix, o agente;


seu homem ele prenderia.

~ 39 ~
Teve uma surpresa, de repente,
quando Fogg disse que antes partiria.

No porto há outros navios,


gelou de Fix o coração.
Deu o braço a Auda e partiu.
Após três horas, procurou em vão.

Surgiu então um marinheiro,


Oferecendo um barco de passeio.
Quando Phileas Fogg falou seu roteiro,
Causou no homem surpresa e receio.

Phileas Fogg ofereceu


uma grande soma de dinheiro.
Mas o homem não se convenceu,
E propôs a ele outro roteiro.

Até Yokohama não tinha coragem,


mas até Nagasaki ou Shangai.
Phileas Fogg insistiu na viagem,
“É pra Yokohama que meu paquete vai”.

O marinheiro explicou,
que em Yokohama escala fazia,
Mas era em Shangai, afirmou,
o porto de onde o navio partiria.

Após ter a confirmação,


para Shangai aceitou ir.
Fix, raivoso, com extrema tensão,
foi também convidado a partir.

Senhora Auda preocupada estava


com Passepartout e seu sumiço.
Phileas Fogg á jovem acalmava.
“Irei também providenciar isso”.

Foi até a delegacia de policia,


também ao agente consular,

~ 40 ~
para que se tivesse noticia,
deixou dinheiro para o criado repatriar.

Na Tankadere, bela embarcação,


Iria fazer esta perigosa travessia.
Muito bem cuidada estava então.
Mestre John Bransby a conduziria.

Dois mastros com velas latinas.


Linhas suaves e alongadas.
A proa delgada das mais finas.
Preparada para longas jornadas.

John Bransby, homem valoroso.


Inspirava confiança na tripulação.
Navegava em mar calmo ou perigoso.
Tinha a coragem estampada na feição.

A goleta levantou as velas latinas


Phileas Fogg e Fix se instalaram.
O cavalheiro e suas maneiras finas,
ao agente Fix embaraçaram.

“Apesar de ser educado,


trata-se de um tratante”.
Fix estava mesmo preocupado,
se o criado surgisse naquele instante.

Teria de dar muitas explicações.


Isso felizmente não aconteceu.
O criado perdido nas inebriações
do opio que fumou e do que bebeu.

Phileas Fogg fez a recomendação,


John Bransby prontamente entendeu.
Que tivesse todo cuidado na navegação
Dizendo: “É teu oficio e não o meu”.

Senhora Auda na popa sentada.


Contemplava o mar e sua imensidão.

~ 41 ~
Mostrava-se comovida e preocupada,
arrostando este mar em frágil embarcação.

Fix mantinha-se a distância.


Sabia que Phileas Fogg pouco falava.
No mais, sentia até repugnância,
pois os favores de um ladrão aceitava.

O agente meditava sozinho


Em Yokohama Fogg não pararia.
Certamente, seguindo seu caminho
para a América se dirigiria.

O que confortava o policial,


era não ter a presença do criado.
Mantê-los separados era afinal,
para seus planos o mais indicado.

A Tankadere, durante a noite,


manteve-se a todo o pano.
E uma brisa nas velas como açoite,
a fazia voar sobre o oceano.

Senhor Fogg e senhora Auda desceram,


o agente Fix os havia precedido.
Em suas cabinas adormeceram.
Assim longo caminho fora percorrido.

A goleta ia à velocidade.
Da costa não se afastava.
O tempo ajudava na verdade,
sobre as ondas o barco voava.

O agente Fix estava envergonhado.


Usufruía da cortesia de seu perseguido.
Se pudesse este caso já teria encerrado,
Poria a mão no ombro prendendo este bandido.

~ 42 ~
Ele insistiu para pagar
a gentileza do cavalheiro inglês.
Phileas Fogg iria recusar.
Fix não falou mais por sua vez.

A goleta entrou no estreito,


entre a costa chinesa e Formosa.
O tempo já não se mostrava perfeito.
A contra corrente tornava-se perigosa.

O Carnatic dia sete partiu.


De Hong Kong para o Japão.
Com rapidez para lá seguiu.
Duas cabines reservadas em vão.

Passepartout desmaiado,
Resistindo ao efeito inebriante.
Após na cama ser colocado,
acordou e saiu cambaleante.

Nas paredes se apoiando,


caminhava em desvario.
Chegou ao porto tropeçando.
Jogou-se sobre a amurada do navio.

No dia seguinte, o criado


Subia ao convés do navio.
Tonto, cabelo desgrenhado.
Pensamentos dispersos, reuniu.

Lembrou-se do acontecido,
do que Fix tinha lhe relatado.
Da inocência do patrão, convencido,
queria já ter senhor Fogg encontrado.

Procurou por todo o navio.


Perguntou a um marinheiro.
Este disse que a bordo não viu
uma jovem senhora nem cavalheiro.

~ 43 ~
Passepartout queria ter certeza,
se a bordo do Carnatic estava.
O marinheiro confirmou com surpresa,
que era neste navio que se encontrava.

Jogando uíste, imaginava


estaria certamente seu patrão.
Senhora Auda descansava.
Phileas Fogg estaria no salão.

Após confirmar que não,


a alma ficou atormentada.
Não avisara o seu patrão,
que a partida fora antecipada.

Era ele grande culpado.


Estava disso convencido.
Seu patrão arruinado,
talvez mesmo estivesse perdido.

Mas a culpa não era só sua.


O agente Fix o embriagara.
Por isso caminhou pela rua.
E apenas por milagre embarcara.

A bordo sem nenhum dinheiro,


a alimentação estava garantida.
Comeu e bebeu o dia inteiro.
Como se não fosse mais comer na vida.

No dia treze o Carnatic chegou.


Em Yokohama fez a parada.
Ao lado de outros navios, ancorou.
Passepartout desceu sem dizer nada.

Caminhou pela cidade.


Sentiu-se lá um estrangeiro.
O que buscava na verdade,
de seu patrão, o paradeiro.

~ 44 ~
Andando pela cidade japonesa,
belas construções por toda parte.
Os cedros, as cerejeiras de rara beleza,
Em cada local uma obra de arte.

Saindo da cidade, caminhou.


Vendo as vastas áreas rurais.
Belas macieiras e pereiras avistou
Além de imensos campos de arrozais.

Passepartout voltou à cidade.


Seu estômago reclamava o alimento.
No Japão a carne é rara na verdade.
Arroz, aves e peixes é do povo sustento.

Teve, contudo de se resignar.


O alimento ficaria para o dia seguinte.
Ficou pelas ruas a perambular.
Do barulho das ruas foi ouvinte.

Astrólogos e acrobatas em ação.


Em torno reunia-se muita gente.
Aos poucos diminuía a multidão.
Ficando deserto o ambiente.

Apenas oficiais bem vestidos,


circulavam em comitiva.
Como embaixadores parecidos.
Passeando em data festiva.

Trocou suas belas roupas,


por vestimenta japonesa.
Conseguiu moedas, poucas,
mas comeria com certeza.

Passepartout mais parecia,


um nativo, um japonês.
Jantar, mais tarde pensaria.
E daria um jeito por sua vez.

~ 45 ~
Após estar bem saciado,
Buscou solução naquele dia.
Pelo porto um paquete foi procurado.
De cozinheiro no navio trabalharia.

Mas quando lá chegou,


ficou um tanto desanimado.
Por um momento pensou
como conseguiria ser embarcado.

Precisava embarcar em navio,


Que para a América estivesse indo.
Quando de repente um cartaz viu.
Trupe para a América partindo.

Uma trupe japonesa acrobática


do respeitável Willian Batulcar.
Esta era uma oportunidade fantástica,
para até aos Estados Unidos viajar.

Seguiu o homem do cartaz, a pista.


Até uma barraca de bandeiras rodeada.
Ali se reunia um grupo de malabaristas,
era do senhor Batulcar a morada.

Passepartout se apresentou,
ofereceu-se para trabalhar.
Com o senhor Batulcar conversou,
queria com a trupe participar.

Passepartout estava contratado.


Teria de fazer numero de risco.
Cantar com sabre e pião no pé equilibrado.
Menos de oito dias estaria em San Francisco.

Na pirâmide humana, ajudar.


Seus fortes ombros, ele emprestaria.
Grande plateia começava a chegar.
Um belo espetáculo se apresentaria.

~ 46 ~
Grande plateia aguardando.
Ver a pirâmide dos Nari-Longos.
Uma banda ainda estava tocando,
castanholas, tantãs, flautas e gongos.

Os acrobatas fizeram execução.


Malabarismos de todas as maneiras.
Recebendo do publico a ovação,
Com saltos e acrobacias certeiras.

Ocorreria o grande número final.


Os Nari-longos fariam apresentação.
Comprido bambu no nariz o sinal,
destes artistas em plena ação.

Fizeram a pirâmide humana,


Passepartout e seu narigão.
Em atitude imprevista e insana,
o criado abandonou a formação.

Tendo saído em disparada,


a pirâmide humana foi ao chão.
sem preocupar-se com nada,
Gritava: “É o senhor, patrão”?

Senhor Fogg e Auda naquela hora,


foram avistados pelo criado.
“Para o paquete vamos agora,
para não chegarmos atrasado”.

Quando se preparavam para sair,


senhor Batulcar estava furioso.
Phileas Fogg pagou-lhe para ressarcir
o prejuízo do espetáculo desastroso.

Phileas Fogg e Auda chegaram


na mesma noite ao Japão.
Pela cidade ao criado buscaram,
ao saberem que chegara à embarcação.

~ 47 ~
O que na verdade aconteceu
durante do Pacifico a travessia,
da Tankadere os sinais percebeu,
Senhor Fogg embarcar conseguia.

John Bransby recebeu enfim


o valor que fora combinado.
E foi exatamente assim
que em Yokohama haviam chegado.

Ficou sabendo que Fix o inspetor,


também acompanhava seu patrão.
Conteve sua magoa e seu rancor,
contaria ao senhor Fogg em outra ocasião.

Aproveitou para pedir desculpa


pelo atraso causado a seu patrão.
Por embriagá-lo, no ópio pôs a culpa.
Não deu detalhes da confusão.

Passepartout trocou à indumentária.


Tirou as asas e o nariz de bambu.
Não parecia mais a figura hilária,
Seguidora do deus Tingou.

Com objetivo somente


de nos Estados Unidos chegar,
embarcaram no General Grant.
Cortavam o Pacifico a navegar.

Era paquete bem construído.


As rodas faziam a locomoção.
De três mastros constituído.
Acelerava sua navegação.

Phileas Fogg esperava chegar


a San Francisco, Nova York em seguida.
Precisavam rápido navegar.
Depois para Londres, o ponto de partida.

Pacifico o nome justificava.


Phileas Fogg apresentava calma.
Senhora Auda sentia, mas não falava,
sentimento que levava na sua alma.

~ 48 ~
Phileas Fogg indiferente
pelo que senhora Auda sentia.
Ela trazia no coração e na mente,
mas o lorde inglês não percebia.

Ela conversava com o criado,


que a tranquilizava com razão.
Passepartout já havia notado
o que se passava em seu coração.

Passepartout sentia pelo patrão,


fé cega elogiando sua honestidade,
Mostrando a ele dedicação,
admirando a sua generosidade.

Passepartout falava com convicção,


A parte mais difícil fora vencida.
Os países fantásticos China e Japão,
e terras civilizadas facilitariam a partida.

Nove dias após a partida,


Terem deixado Yokohama no Japão,
metade da viagem tinha sido vencida,
da distancia faltava muito chão.

Dos oitenta dias disponíveis,


Gastara cinquenta e dois na travessia.
Feitos todos os esforços possíveis,
vinte e oito dias e em Londres chegaria.

Passepartout teve motivo de alegria.


Seu relógio por Londres mantinha horário.
Mesma hora do navio aquele dia.
Ignorou este fato extraordinário.

Seu relógio na verdade,


Tinha doze horas de diferença.
Ignorou esta realidade.
Valia para ele sua crença.

~ 49 ~
Se encontrasse o policial,
iria mostrar a hora certa.
Mas onde estaria afinal,
Fix após sua descoberta.

Se o encontrasse novamente,
com ele se entenderia.
Agiria de modo diferente,
Mas onde o agente Fix estaria?

O detetive Fix estava no navio.


A bordo do General Grant.
Quando Passepartout ele viu,
procurou manter-se ausente.

Tinha visto o embarque,


Phileas Fogg, Auda e o criado.
Não queria ser visto até o desembarque,
mas acabou sendo encontrado.

Quando Passepartout o viu,


com ele já estava ás turras.
O criado nem pensou e o agrediu.
Passageiros gritavam: "URRA".
Fix, a força de seu punho sentiu,
tendo tomado uma grande surra.

Quando o criado terminou,


deixando Fix todo moído,
este calmamente falou:
“Agora quero fazer-lhe um pedido”.

Passepartout ficou impressionado


com a frieza do agente,
Chamou-o para conversar de lado.
Fix disse-lhe calmamente:

“Eu atrasei seu patrão,


para prendê-lo em território inglês,

~ 50 ~
mas agora precisaria de extradição,
irei ajuda-lo desta vez”.

“Ao atrasar seu patrão,


chegada do mandato, esperança”.
“Na América não farei a prisão”.
“Vou ajudá-lo, tenha confiança”.

“Meu objetivo agora,


que chegue logo á Inglaterra”.
“Lá quando chegar a hora,
prendo-o e a perseguição se encerra”.

Passepartout e o policial
Tornaram-se aliados.
Tinham o mesmo objetivo afinal.
De Phileas Fogg cercar de cuidados.

Onze dias passados.


San Francisco a chegada.
Senhor Fogg no percurso viajado,
de tempo não ganhara nem perdera nada.

Desembarque em cais flutuante.


Passepartout quis inovar.
Deu uma cambalhota esvoaçante.
Caído no chão acabou por ficar.

Passepartout soltou gritos


pelo modo como foi ao chão.
Comores e pelicanos aflitos,
fugiram dali em profusão.

Pegaram uma carruagem


Para o hotel Continental.
Hospedaram-se antes da viagem,
descansar e travessar o País no final.

Do hall do hotel, bela visão.


Sem duvida uma grande cidade.

~ 51 ~
Diferentes povos compunham uma multidão,
formando curiosa e diferente variedade.

Pessoas com chapéus e bem trajadas.


Lojas com produtos do mundo inteiro.
Altas torres também eram avistadas,
naquela cidade de um povo ordeiro.

Phileas Fogg e Auda no restaurante


instalaram-se e o almoço foi servido.
Abundantes pratos em um instante,
por negros muito bem vestidos.

Quando o almoço terminaram,


Phileas Fogg, de Auda acompanhado.
Pela rua se encaminharam,
visar o passaporte no consulado.

Mal tinham começado o passeio,


ao inspetor Fix encontraram.
Não perder Fogg de vista, seu anseio.
Na rua os três conversaram.

Dispensaram o transporte.
Puseram-se a caminhar.
O cavalheiro iria levar passaporte.
Para no consulado visar.

Fingiu estar surpreso o inspetor


Disse que se sentia honrado.
“Que prazer encontrar o senhor".
Caminhavam lado a lado.

Phileas Fogg disse com polidez


que a honra era toda sua.
Fix pediu a ele por sua vez,
para acompanhá-los pela rua.

Os três estavam caminhando.


Viram grande afluência popular.
De ambos os lados gritando,

~ 52 ~
Seria eleição a se realizar?

Fix vendo ajuntamento popular


com tamanha carga de emoções:
Pôs-se assim a comentar:
“Enfrentam-se dois campeões".

“Hurra para Kamerfield”, gritavam.


“Hurra para Mandiboy”, se ouvia.
Os dois grupos se confrontavam.
Cada qual com mais euforia.

Procuraram dali se afastar,


Subiram uma escada alguns degraus.
No alto de Montgomery Street chegar,
Afastarem-se de homens com cara maus.

Provavelmente uma nomeação


Alto funcionário civil ou militar.
Observavam com atenção,
punham-se ali a conjecturar.

De repente aquela multidão,


Avançou até onde estavam.
Transformando em punho a mão.
Para a luta se preparavam.

Objetos eram arremessados,


Fix demonstrou preocupação.
Sapatos e botas eram jogados,
não queria Fogg metido em confusão.

Fix procurava não se envolver.


Não queria Phileas Fogg no turbilhão.
Não iria seu homem perder.
Tentaram afastar-se da multidão.

Poderiam assim descobrir


que Fix era um cidadão inglês.
Phileas Fogg começou a repetir,
Não terminou a frase por sua vez.

~ 53 ~
Phileas Fogg, Fix, Auda, cercados,
Entre dois grupos rivais.
Hostilidades por todos os lados,
Não havia jeito de sair mais.

Phileas Fogg se defendia,


Mas um espertalhão covardemente
chefe do bando que agia,
tentou agredi-lo selvagemente.

Levantou o punho com veemência.


Mas no momento crucial,
Fix em ato de decência,
tentou impedir aquele homem mau.

O soco foi desferido,


Atingindo o agente policial.
Teve seu rosto ferido,
Mas Fogg não se feriu afinal.

"Ianque" Phileas Fogg falou no ensejo.


"Inglês”, o outro falou com irritação.
De Phileas Fogg era o desejo
reencontrá-lo, para tirar satisfação.

Phileas Fogg quis saber,


O nome daquele malfeitor.
Ao que lhe ouviu dizer:
“Sou o Coronel Proctor”.

A turba de gente passou,


Fix voltou a se levantar.
Seu paletó em duas partes rasgou.
Teria que isso reparar.

A uma loja se dirigiram,


Parecia que haviam lutado.
Novamente bem se vestiram
E o cabelo foi bem penteado.

Ao Internacional Hotel o regresso.


Passepartout de revólveres armado.
Garantiu que para a viagem ter sucesso,
aquelas armas havia comprado.

~ 54 ~
Quando viu Fix, o agente;
acompanhando seu patrão.
Mostrou-se descontente
Mas logo mudou sua opinião.

A senhora Auda fez relato


do acontecido cheio de perigo.
Fix estava a seu lado de fato,
não era mais um inimigo.

Ao terminarem o jantar,
Dirigiram-se á estação.
Phileas Fogg quis se informar
se havia visto o espertalhão.

Fix respondeu que não.


Phileas Fogg prometeu voltar.
Afinal da Inglaterra cidadão,
tinha que sua honra lavar.

No momento de embarcar
quis saber do tumulto à razão.
Era um comício para aclamar
de juiz-de-paz a eleição.

O trem seguiu a todo o vapor.


De oceano a oceano viajaria.
O território americano transpor.
Para Nova York seguiria.

Até Omaha região selvagem.


Por Mórmones colonizadas.
Sete dias duraria a viagem.
Não seria fácil a jornada.

A estrada de ferro construída


eficiência americana se via.
Milha após milha erigida.
Uma milha e meia por dia.

Nos trilhos do dia anterior,


A locomotiva, mais trilhos trazia.
Seguindo a todo o vapor,
Milha após milha seguia.

~ 55 ~
Iowa, Kansas e Colorado.
A Pacific Railroad imponente
Pelo Platte River corria ao lado.
Contorna o Lago Salgado mais a frente.

Salt Lake City e o deserto americano


Sierra Nevada e Sacramento.
No traçado de oceano a oceano,
Ia Phileas Fogg naquele momento.

Sete dias de travessia,


Para em Nova York chegar.
Isso é o que Phileas Fogg queria.
E lá paquete para Liverpool pegar.

Viajavam em um vagão-leito,
Tornando a viagem agradável.
Poderiam circular de modo perfeito,
por todo comboio de modo admirável.

Vagões terraços, vagões salões também.


Havia ainda vagões restaurantes.
Os passageiros podiam no vai-e-vem,
chegar até eles em instantes.

O comboio seguia constante.


Passepartout com Fix não falava.
A aproximação com ele fora frustrante.
E o criado a todo instante o vigiava.

O relacionamento, esfriado bastante.


Nada de intimidade ou simpatia.
Passepartout estava vigilante.
Á menor suspeita, a Fix estrangularia.

Ás oito horas, um comissário,


hora de dormir foi anunciado.
Em instantes, extraordinário,
vagão em carro leito transformado.

Os bancos foram dobrados,


camas foram desenroladas.
Em dormitórios transformados.
Ao lado das camas pequenas escadas.

~ 56 ~
Neste leito confortável,
Descansado iria se sentir.
Proporcionando sono admirável.
Só faltava deitar e dormir.

Indo de San Francisco á Sacramento,


a todo vapor o trem corria.
Passaram pela cidade naquele momento,
mas dela nada se via.

Passou estações de Sierra Nevada.


Sete horas, estação de Cisco atravessou.
Ás oito horas, o dormitório mudava.
Em vagão comum se transformou.

Aos caprichos da Sierra obedecia.


Flancos das montanhas, suspensa em precipícios.
Curvas audaciosas e estreitas gargantas, a ferrovia,
ter sido complexa obra, havia indícios.

Como caixa de relíquias, iluminada.


Luzes avermelhadas, do farol brilhos.
Sua bela sineta prateada,
como espora era seu limpa-trilhos.

Assim era a locomotiva.


Apito misturava-se às torrentes e cascatas.
Lançando sua fumaça negra, seguia altiva.
Passando de pinheiros grandes matas.

Poucos túneis ali havia.


Não violentando a natureza.
Contornando montanhas a ferrovia,
oferecia aos olhos tanta beleza.

No Estado de Nevada,
vinte minutos para almoçar.
Da cidade não viram nada.
Pois a viagem precisava continuar.

Após o almoço, voltaram para o vagão.


Paisagens encantavam suas visões.
Riachos espumantes parecendo em ebulição.
Por vezes, grandes rebanhos de bisões.

~ 57 ~
Estes exércitos de ruminantes,
para trens obstáculo intransponível.
Foi o que aconteceu em instantes.
Manada que por quilômetros era visível.

A locomotiva tentou transpor


toda aquela massa animal.
Com sua espora, moderando o vapor.
Não avançou e teve de parar afinal.

De búfalos chamados erroneamente.


Mugidos de longe se podem escutar.
Pernas e caudas curtas, garrote saliente
formando imensa bossa muscular.

Não se podia parar a migração.


Passepartout mostrava-se furioso.
Phileas Fogg não demonstrava preocupação.
Observava este espetáculo curioso.

Passepartout tinha em vista,


contra os bisões, ser um atirador.
Por sua vontade o maquinista,
lançaria o trem sobre o gado atravancador.

Após três horas, ao final do dia,


o trem pode seguir avante.
Em Utah, Lago Salgado se via.
País dos mórmons estava adiante.

Passepartout viu um cartaz,


sobre o mormonismo, conferência.
O criado queria saber mais,
sobre este povo e sua experiência.

William Hitch, o missionário,


iniciou assim sua pregação.
Falando de um mórmon extraordinário,
perseguido pelas leis da União.

Gesticulando e falando em alta voz,


sobre o mormonismo discorria.
Falando como em um tempo atroz,
fundou-se a Igreja dos Santos dos Últimos Dias.

~ 58 ~
Nessa altura, alguns presentes,
já haviam saído da reunião.
Mas o reverendo, persistente,
continuava com sua pregação.

Depois de algum tempo de pregação.


Passepartout era o único presente.
O missionário falava com empolgação,
para aquela plateia de um somente.

Ao ser questionado pelo pastor,


para seguir sua religião.
Perguntado pelo seu interlocutor,
Passepartout fugindo, disse não.

O trem passava veloz ao lado


de imenso lençol de água.
Tratava-se do Lago Salgado,
onde o Jordão da América deságua.

Ao redor desse imenso lago,


os mórmons cultivam vegetais.
Campos de trigo, milho e sorgo semeado.
De animais domésticos havia currais.

Em Ogden, desceram na estação.


Passearam por aquela cidade.
Construída como qualquer outra da união.
Era bem pequena na verdade.

Jardins de acácias rodeados.


Muros de argila e pedregulho.
Casas de tijolos azulados.
As pessoas, da cidade sentiam orgulho.

Passepartout, convicto celibatário,


via com receio, dos mórmons a opção.
Achava aquilo extraordinário.
Para isso não tinha vocação.

As mulheres queriam casamento.


Havia poucos homens a disposição.
Por isso a poligamia não era um tormento.
Sendo aceita naquela religião.

~ 59 ~
A viagem foi retomada.
O trem subiu cerca de uma hora.
Região montanhosa era cortada.
Maciço acidentado via-se lá fora.

No Lago Salgado, maior altitude,


até ali haviam atingido.
A ferrovia mostrava suas virtudes.
Após tanto terem subido.

A subida tinha continuação.


Pacífico e Atlântico, ali o divisor.
Fix querendo sair logo desta região.
Passepartout impaciente, era de supor.

Estação de Green River fez parada.


Muita neve havia caído.
A marcha do trem não era perturbada.
O mal tempo tinha persistido.

Senhora Auda mostrava preocupação.


Vira Stamp W. Proctor na plataforma.
Estava ele em outro vagão.
Ficou muito aflita desta forma.

Aquele americano grosseiro,


que com Phileas Fogg tinha discutido.
Seguia também aquele roteiro,
no mesmo trem havia partido.

A jovem vivamente impressionada.


Apegara-se á seu salvador.
Àquele homem não demonstrava.
Mas por ele sentia amor.

Ao ver o americano no trem,


sentiu por isso extrema aflição.
Afinal na plataforma no vai-e-vem,
encontrando-se, Fogg lhe pediria satisfação.

Enquanto Phileas Fogg cochilava,


o criado e Fix informados da situação.
Passepartout a tranquilizava
e o agente enfrentaria o valentão.

~ 60 ~
Tinham eles quatro dias,
não deixar Phileas Fogg sair do vagão.
Pois ao americano enfrentaria
e se atrasaria nesta confusão.

Para Phileas Fogg se distrair,


propuseram uiste com ele jogar.
Precisavam de baralhos conseguir
e o jogo logo poderiam iniciar.

Tinham três jogadores e um morto.


Também senhora Auda sabia jogar.
E assim Phileas Fogg, absorto,
se distraia sem em mais nada pensar.

Em Passe Brigder, ponto de separação,


entre os dois grandes oceanos.
Enquanto isso o uiste como distração.
Havia dado certo os seus planos.

Bacia Atlântica e sua vertente,


já brotavam os primeiros rios.
A alguns quilômetros somente,
chegariam ás planícies e seus baixios.

Porção Central das Montanhas Rochosas,


pelo Pico Laramie dominada.
Era nestas regiões formosas,
que o comboio tranquilamente trafegava.

Seguia com tranquilidade a viagem.


Não nevava, ar seco, aridez.
Nenhum lobo, urso ou animal selvagem.
Era o deserto em toda sua nudez.

Após almoço, jogo eles recomeçaram.


De repente ouviu-se apitos violentos.
Os passageiros se assustaram.
Houve apreensão por alguns momentos.

Senhora Auda temia,


que Phileas Fogg tomasse decisão,
de descer para a via.
Felizmente não teve essa intenção.

~ 61 ~
Pediu a Passepartout para ver
o que havia acontecido.
O criado foi para saber,
desta parada o ocorrido.

Quarenta passageiros já tinham descido.


Stamp W. Proctor também lá estava.
Passepartout olhava distraído,
enquanto tudo ali observava.

Diante de sinal vermelho na verdade


bloqueado, o trem parado na via.
Condutor e maquinista discutiam com vivacidade.
Sem saber direito o que ali acontecia.

De Medicine Bow o chefe da estação,


e guarda linhas até ao trem foram enviados.
Passageiros e Proctor participavam da discussão.
Passepartout pôs-se a ouvir o que era falado.

“Não, não há meios de passar!”


“A ponte de Medicine Bow está abalada”.
A ponte que todos se punham a falar
era ponte suspensa que não podia ser atravessada.

Suspensa sobre uma correnteza,


a ponte ameaçava desabar.
O guarda linha afirmava com toda certeza.
Dizendo que não seria possível passar.

Passepartout ouvia tudo preocupado.


Sem ousar contar ao seu patrão.
Alguém deveria ser responsabilizado,
por esta complicada e grave situação.

A proposta do condutor:
Irem á pé até a estação.
O primeiro a protestar foi Proctor.
Todos concordavam com a reclamação.

Andar á pé por doze milhas


seriam seis horas de caminhada.
Coberta de neve as trilhas,
seria transtorno esta longa jornada.

~ 62 ~
O coronel responsabilizou a companhia.
Lançou uma chuva de injurias e imprecações.
Revolta dos passageiros era o que se via,
e que também lançavam suas vociferações.

Cabeça baixa, o criado iria avisar o patrão,


quando ouviu o maquinista falar:
“Senhores, talvez haja uma solução
e esta ponte poderemos atravessar”.

O maquinista, Foster se chamava.


Tratava-se de um ianque de verdade.
O criado, ás palavras do maquinista devorava.
Agarrara-se a isso na realidade.

Disse o condutor: “A ponte ameaça desabar.”


Foster falou: “Pouco importa, na verdade”.
“Talvez consigamos passar,
Lançando o trem em máxima velocidade”.

Houve concordância da maioria,


inclusive de Proctor, o coronel.
Para alguns, era possível a travessia.
Mesmo que desabasse a via,
o trem cruzaria o céu.

Passepartout estava estupefato.


Faria qualquer coisa, mas isso era exagero.
Além disso, ninguém pensou de fato
em jeito mais simples sem esse destempero.

Quando tentou dar sua opinião,


foi por todos os passageiros ignorado.
Todos tinham como a melhor solução,
o trem ser a toda velocidade lançado.

Por mais que tentasse argumentar,


Passepartout era sempre interrompido.
Sua frase ninguém deixava terminar.
Viu que por nenhum deles seria ouvido.

Acusaram-no de ser medroso.


Para Passepartout isso era o fim.
Na verdade seria mais vantajoso,
atravessarem a ponte a pé, simples assim.

~ 63 ~
O trem então passaria.
E todos embarcariam novamente.
Sua sábia reflexão, ninguém ouvia,
sendo esta a solução mais prudente.

Todos voltaram a seus vagões.


Passepartout tomou o seu lugar.
Nada contou sobre tais decisões.
Os jogadores concentrados em jogar.

A locomotiva apitou com vigor.


De marcha-a-ré uma milha andou.
Fez isso invertendo o vapor.
Bem lentamente recuou.
Tal qual um saltador,
grande impulso tomou.

Novo apito, andando em frente.


Imprimiu velocidade assustadora.
Um único rincho ouvia-se somente.
A locomotiva corria avassaladora.

Vinte vezes por segundo batiam os pistões.


Nos eixos das rodas, a graxa fumegava.
Sobre os trilhos não pesava mais os vagões.
A velocidade com todo o peso acabava.

Como um raio, fizeram a travessia.


Nem viram a ponte, com certeza.
O comboio lançado na velocidade que ia,
causou em todos muita estranheza.
E a locomotiva voando sobre a via,
após passar, a ponte desabou na correnteza.

Por cinco milhas além da estação,


foi arrastada a locomotiva.
Todos estavam mudos de apreensão.
Cada pessoa chegara viva.

Na mesma noite o trem prosseguiu.


Passo Evans o ponto mais alto do percurso.

~ 64 ~
Á frente planícies o que se viu,
facilitando da viagem o curso.

Denver City, o entroncamento.


Principal cidade do Colorado.
Ali viviam naquele momento,
cinquenta mil pessoas, tinha-se contado.

Mil duzentas e oitenta milhas percorridas.


Foram três noites e três dias.
Para Nova York seriam decorridas,
quatro noites e dias através das ferrovias.

Seguiam a fronteira paralelamente,


Estados de Wyoming e do Colorado.
O Estado de Nebraska logo à frente.
Neste ponto, caminho de ferro foi inaugurado.

Lá pararam duas possantes locomotivas,


puxando nove vagões com convidados.
Comemorações e fogos aos convivas.
Com o trem o progresso havia chegado.

A via férrea em caprichosas sinuosidades


os contornos do Rio da Prata acompanhava.
North Platte uma das importantes cidades,
o comboio veloz por ali passava.

O forte Mcpherson para trás ficou


A ferrovia seguia do Rio da Prata ao lado.
Suas sinuosidades o trem contornou.
No vagão, uiste continuava sendo jogado.

Fix jogava entusiasmado.


Ganhando guinéus que estava para perder.
Phileas Fogg na mesa do outro lado,
uma jogada ousada queria conceber.

Preparando para jogar espadas.


Atrás dele, alguém falou:
“Se fosse o senhor nesta jogada,

~ 65 ~
jogaria ouros", afirmou.

Era Stamp W. Proctor que falava.


Phileas Fogg o reconheceu no ato.
Para espanto do grupo que jogava,
era o brigão americano de fato.

Phileas Fogg jogou dez de espadas.


O coronel com isso não concordou.
Quis levantar a carta jogada.
Com aspereza assim falou:

“Deste jogo não entende nada.”


Phileas Fogg assim respondeu:
“talvez seja mais hábil em outra jogada".
Com palavras o coronel o ofendeu.

Senhora Auda empalideceu.


No braço de Phileas Fogg segurou.
O cavalheiro percebeu,
e docemente a afastou.

Passepartout estava a ponto


de atirar-se sobre aquele personagem.
Sua raiva o deixava tonto.
Enquanto isso prosseguia a viagem.

Fix tentou intervir,


“esquece-se que é comigo a questão.”
Mas Phileas Fogg foi lhe advertir
afirmando que a ele devia satisfação.

O americano com rispidez,


Afirmou que como quisesse seria.
Phileas Fogg por sua vez,
Disse ao coronel o que queria.

Afirmou que negócios importantes


o obrigavam na Europa estar.
Não poderia resolver naquele instante.

~ 66 ~
Mas voltaria, o coronel poderia esperar.

Proctor disse que não.


Que o assunto tinha urgência
E que na próxima estação
resolveriam esta pendência.

Phileas Fogg concordou.


De seus amigos, preocupação.
Mas com calma falou.
“Resolverei rapidamente esta situação”.

O trem estava atrasado.


Não parou na próxima estação.
Cada um por seu lado,
da pendência queriam a solução.

Foram ao ultimo vagão


Abandonado pelos passageiros.
Os dois se enfrentariam então,
em um duelo de cavalheiros.

Pelas testemunhas, acompanhados,


revólveres de seis tiros munidos.
Ambos ali estavam preparados.
Em breve tudo seria resolvido.

Ao se prepararem para duelar,


Phileas Fogg e Proctor gritos ouviram.
Quando pela janela foram olhar,
um bando de Sioux atacando viram.

Saíram imediatamente do vagão


e viram estes índios audaciosos.
Montados em cavalos seguiam na direção,
e sobre o trem saltavam corajosos.

Os Sioux de fuzis estavam armados.


Tiros de revólver respondiam os viajantes.
Sobre a locomotiva já haviam saltado.
Estariam nos vagões em instantes.

~ 67 ~
O maquinista e o foguista derrubados.
O chefe Sioux queria o trem parar.
Moveu a válvula para um dos lados.
Abriu a mesma em vez de fechar.

O trem em grande velocidade corria.


Os Sioux invadiram o vagão de bagagem.
Os volumes arremessados na ferrovia.
Os viajantes defendiam-se com coragem.

Em alguns vagões, barricadas,


os passageiros levantaram.
Com estas barreiras improvisadas,
os viajantes com empenho lutaram.

Vinte Sioux mortalmente feridos,


sob as rodas dos vagões esmagados.
Alguns viajantes, atingidos,
jaziam nos assentos, recostados.

O trem deveria ser parado,


ou os Sioux sairiam vencedores.
Se da próxima estação tivesse passado,
não haveria chances para aqueles senhores.

Estação de Forte Kearney estava perto.


Havia ali um posto americano instalado.
Se não parassem ali, por certo,
o trem seria pelos Sioux dominado.

Ao lado de Phileas Fogg o condutor,


Por um Sioux fora baleado.
Passepartout disse: “Fique senhor”.
E saiu dali pela portinhola ao lado.

Passepartout, corajoso rapaz,


até o vagão de bagagens rastejou.
Esgueirando-se dos tiros de forma audaz,
naquele primeiro vagão chegou.

Desenganchou correntes de segurança.


Precisava soltar a barra de atrelagem.

~ 68 ~
Desatrelar a locomotiva tinha esperança,
sem os vagões ela seguiria viagem.

A locomotiva deu uma sacudida.


Conseguindo assim ser desatrelada.
Os vagões diminuíam sua corrida
e a locomotiva seguia em disparada.

O trem parou perto do forte.


Os soldados em sua direção tinham ido.
Foi dos passageiros a sorte,
o bando indígena havia fugido.

Os passageiros se contaram por sua vez.


Notaram que á chamada faltou
aquele rapaz, corajoso francês,
cuja dedicação a todos salvou.

Três passageiros desaparecidos.


Passepartout entre eles estavam.
Haviam também muitos feridos,
Senhora Auda e Fix ali se encontravam.

Proctor lutara com bravura.


Uma bala na virilha o derrubou.
A grande preocupação aquela altura
era Passepartout que ninguém encontrou.

Rodas do trem de sangue manchadas,


Farrapos de carne pendiam informes.
Manchas vermelhas na planície eram avistadas.
Os índios fugiam feridos, alguns disformes.

Phileas Fogg imóvel, braços cruzados,


Teria que tomar importante decisão.
Se seu criado pelos índios aprisionado,
era seu dever proceder à salvação.

“Vivo ou morto, eu o encontrarei”.


Palavras de Phileas Fogg causaram comoção.

~ 69 ~
Completou a frase: ‘Vivo eu sei”.
Partiram após tomar tal resolução.

Tal decisão certamente o arruinaria.


O atraso faria que perdesse a aposta.
O navio, em Nova York perderia,
mas prevalecia da salvação a proposta.

Conversou com o capitão-comandante.


Tinha cem soldados a sua disposição.
Estavam na defensiva naquele instante.
De ataque dos Sioux prevenção.

Phileas Fogg pediu ao capitão


soldados para acompanha-lo na jornada.
Buscar de três homens a salvação.
E ter a consciência sossegada.

Diante da coragem demonstrada,


O capitão pediu voluntários.
Todos aceitaram ir nesta empreitada.
Pois eram homens extraordinários.

Trinta soldados e um sargento,


Foram designados para a missão.
Fix ofereceu-se para acompanhamento.
Queria ajudar nesta salvação.

Phileas Fogg pediu com polidez,


que de senhora Auda, Fix cuidasse.
No agente invadiu uma palidez.
E se o seu homem escapasse?

Diante da calma do cavalheiro,


Respondeu: “eu ficarei aqui”.
Phileas Fogg despediu-se primeiro,
daquela dama que deixava ali.

Deixou com ela a sacola de dinheiro.


Aos soldados ofereceu recompensas.
“Se conseguirem salvar os prisioneiros,
Mil libras pagarei ás minhas expensas”.

~ 70 ~
Para o quarto da estação,
A senhora Auda se retirou.
Pensava na bondade de coração,
daquele cavalheiro que a salvou.

Phileas Fogg à fortuna sacrificou.


Jogava com sua vida sem hesitação.
Senhora Auda em seu coração o guardou.
Phileas Fogg era um herói por vocação.

Fix não pensava desta maneira.


Não podia conter sua agitação.
Achara que tinha feito besteira,
deixando Fogg ir sem sua proteção.

Achava-se um incompetente.
Que o criado contara a seu patrão.
“Um imbecil, sou realmente”.
Tendo no bolso seu mandato de prisão.

Enquanto o inspetor assim pensava,


As horas passavam lentamente.
Pensou, se tudo para senhora Auda contava.
Ou se iria atrás deles rapidamente.

Fix estava desesperado.


Sentiu vontade de sair desta aventura.
A chance de ir parecia ter chegado.
Abandonar viagem cheia de desventura.

A neve caia pesadamente,


Do leste ouviu-se apito estridente.
Sombra enorme, luz vermelha, lentamente.
Saia das brumas parando á sua frente.

Era a locomotiva do trem desengatada,


Levando o maquinista e o fogueiro desmaiados.
Seguiu em frente após ser desenganchada.

~ 71 ~
Por vinte milhas até os fogos terem baixado.

Quando o combustível faltou,


Enfraquecendo o vapor.
Após muitos quilômetros, parou.
Pôde assim ser trazida pelo condutor.

Quando o maquinista viu


a locomotiva sozinha no deserto.
Voltou para o trem foi o que decidiu.
Agindo do modo mais certo.

O fogo foi reanimado,


Colocou-se mais lenha e carvão.
Retornou a estação embalado.
Graças ao aumento da pressão.

Senhora Auda saiu da estação.


“O trem vai partir”? Perguntou ao condutor.
“Imediatamente”, respondeu á interrogação.
“Partiremos a todo o vapor”.

“Mas e os prisioneiros”?
A jovem senhora argumentou:
“Nossos infelizes companheiros”.
Para esperá-los implorou.

“Não posso interromper o serviço”


“estamos com três horas de atraso”.
“Terei de partir por causa disso”.
Esperá-los não seria o caso.

Para São Francisco outro trem,


Somente na noite do outro dia.
Respondeu: “Ao Senhor Fogg não convêm”.
E com eles ela não partiria.

Fix a partir estava decidido.


Não havia meios de locomoção.
Com o trem ali, poderia ter partido.

~ 72 ~
Só teria que voltar e entrar no vagão.

Força irresistível prendia-o ao chão.


Queimavam lhe os pés a plataforma.
Alguns feridos e outros em igual situação.
Decidiram seguir viagem dessa forma.

Coronel Proctor, ferido gravemente.


Ocupou seu lugar no vagão.
O trem soltou apito estridente.
E partiu em meio à neve em turbilhão.

Fix decidiu que iria ficar.


Senhora Auda fazia observação.
Através das brumas queria enxergar,
ver se chegava o batalhão.

Veio à tarde, a noite chegou.


O que teria acontecido?
Caia a neve, o frio aumentou.
Nenhum sinal deles era percebido.

Vagando pela pradaria.


Senhora Auda em aflição.
O seu coração angustiado sofria.
Sem demonstrar preocupava-se o capitão.

Fix não dormia e naquele lugar,


estava em pensamentos absorvido.
Veio um homem com ele conversar,
despachou-o com um sinal negativo.

O capitão pensava mandar,


para o local outro destacamento
para o primeiro grupo salvar,
mas afastou esse pensamento.

Quando um tiro ele ouviu.


Soldados correram em desordem.
Á meia milha, o grupo, vindo se viu.

~ 73 ~
Phileas Fogg à frente, a tropa em ordem.

Dois viajantes e o criado


Voltavam em segurança.
Passepartout havia lutado,
Pela vida já não tinha esperança.

Passepartout já derrubara três,


quando viu a chegada do patrão.
A tropa resgatou-os de uma vez,
conseguindo fazer a salvação.

Phileas Fogg distribuiu recompensa.


Fix olhava sem saber o que falar.
Senhora Auda com alegria imensa,
apertava a mão de Fogg sem parar.

Passepartout pelo trem perguntou.


Fix disse que havia partido.
Outro somente à tarde, informou.
O cavalheiro, impassível se mantido.

De vinte horas, o atraso.


Passepartout com indignação,
tinha-o tirado do prazo,
e arruinara o seu patrão.

A Phileas Fogg, Fix perguntou.


Se chegar a Nova York era urgente.
O Cavalheiro reafirmou:
Pegar navio pra Liverpool era premente.

Para isso, deveria estar,


Em Nova York, dia onze, de manhã.
“E se o senhor conseguir chegar
sua bravura não terá sido vã”.

Se não tivesse para trás ficado,


Chegaria com doze horas de antecedência.
Com isso estava oito horas atrasado.
Tinha de recuperar este tempo de carência.

~ 74 ~
Fix na recuperação do tempo tinha fé
E não deixaria Phileas Fogg só.
O cavalheiro perguntou se seria a pé?
O policial respondeu: “Não, de trenó”.

Uma proposta como aquela,


seria um golpe de sorte.
Poderiam ir de trenó a vela.
Propôs este meio de transporte.

O homem que falara com o inspetor


fez a proposta e ele não aceitou.
Propunha agora falar com o interlocutor.
Phileas Fogg com o homem conversou.

Mudge era um americano,


que se ofereceu para o grupo levar.
Sobre a neve iriam deslizando,
a bordo de um veículo singular.

Sem querer a Senhora Auda expor,


Phileas Fogg deixa-la ali queria.
Mas sem demonstrar nenhum temor,
ela disse que o acompanharia.

Sobre aquela planície gelada,


o veículo deslizava em velocidade.
Não havia obstáculos naquela estrada,
o trenó avançava com facilidade.

Fix tinha abalada sua convicção,


Pelo retorno do cavalheiro.
Mas estava disposto a cumprir sua missão,
E levá-lo de volta como prisioneiro.

Como descrever aquela travessia.


Viajantes espremidos expostos ao frio.
Quarenta milhas por hora o trenó ia,

~ 75 ~
cortando ambiente inóspito e vazio.

Mudge tinha interesse em chegar


e agia com extrema dedicação.
Phileas Fogg prometera lhe dar,
polpuda e vantajosa gratificação.

O trenó velozmente seguia,


Rio da Prata lado direito da margem.
O mesmo trajeto da ferrovia,
Deslizava rápido adiantando a viagem.

Passepartout tinha o rosto vermelho.


Aumentado o frio pelo deslocamento
Phileas Fogg poderia temer avaria do aparelho,
ou uma diminuição na força do vento.

A força e violência do vento,


ao mastro resistente, curvava.
Cabos metálicos, tal cordas de um instrumento.
“Está tocando a quinta e a oitava”.

Por Phileas Fogg feito este comentário.


Únicas palavras durante toda a travessia.
O trenó levado de modo extraordinário
Rumo à Nova York seguia.

Passepartout sentiu vontade de agradecer,


Pela ideia, ao inspetor policial.
Pressentimento do que poderia acontecer,
Permaneceu em sua reserva habitual.

Passepartout jamais esqueceria,


O que fizera a ele o seu patrão.
Graças ao heroísmo e valentia,
arriscara a vida por sua salvação.

Alguns lobos esfomeados,


Tentavam ao trenó alcançar.
Com revólveres preparados,

~ 76 ~
Para se necessário atirar.

O destino, Omaha, a estação,


estavam bem próximos dela.
O hábil guia subiu na mastreação
Para recolher todas as velas.

Levado pela grande velocidade,


Meia milha sem as velas andou.
Ao parar, Mudge mostrou uma cidade.
“Chegamos”, aos viajantes afirmou.

Passepartout e Fix haviam descido.


Sacudiram os membros entorpecidos.
Phileas Fogg cumprimentou Mudge, um amigo,
Pagando generosamente o guia, agradecido.

A Estrada de Ferro do Pacífico,


termina naquela cidade importante.
É daquele local específico,
vai de Omaha para Chicago em um instante.

Havia um trem prestes a partir.


Mal tiveram tempo de entrar no vagão.
Passando por Iowa e Illinois continuou a seguir,
Cortando velozmente essa região.

Dia dez, ás quatro da tarde,


Em Chicago, do lago Michigan na margem.
Passaram de um trem para outro sem alarde.
A locomotiva corria rápido seguindo viagem.

Indiana, Ohio, Pensilvânia, seguia o trem.


Dia onze, onze horas e quinze da noite, chegou.
Em meio ao píer dos paquetes em um vai-e-vem,
Quarenta e cinco minutos o China partiu para Liverpool.

Parecia que as últimas esperanças,


Haviam partido junto com o navio.
Teria sido inútil suas andanças,

~ 77 ~
foi o que Passepartout pressentiu.

O Pereira da Companhia Transatlântica Francesa,


somente daí dois dias partiria.
O navio City off Paris não era ideal com certeza.
Devido a sua lentidão, não serviria.

O cavalheiro consciente estava,


ao consultar suas anotações.
Passepartout não se conformava.
Não atrapalhar era uma de suas obrigações.

Phileas Fogg não o censurou


Limitou-se apenas a falar:
“Veremos amanhã, venham”, falou.
Foram ao Saint Nicholas Hotel se hospedar.

Phileas Fogg dormiu bem.


Senhora Auda não conseguia dormir.
Passepartout sofria também.
Sem descobrir meios de prosseguir.

Do dia doze ao dia vinte um havia


nove dias para a viagem completar.
Se houvesse partido, chegaria,
e de Liverpool a Londres pra terminar.

Phileas Fogg foi sozinho,


um navio de partida procurar.
Andava metodicamente pelo caminho.
Procurara mas não conseguia encontrar.

Em sua última tentativa,


Viu um navio a hélice ancorado.
Pelas chaminés flocos de fumaça bem viva.
Para zarpar estava preparado.

Chegou ao Henrietta, era a embarcação.


Casco de ferro, armação de madeira.
Pediu para falar com o capitão,

~ 78 ~
que se apresentou desta maneira.

Após fazerem a apresentação,


Andrew Speedy, era o capitão.
Fogg queria do barco fazer a locação,
mas o homem disse que não.

Para Bordeaux se dirigia.


E não modificava o itinerário.
Somente levava mercadoria.
Da partida, as nove era o horário.

Ir a Liverpool não queria.


Phileas Fogg com ele insistiu.
O capitão não cederia.
O cavalheiro isso pressentiu.

Perguntou ao capitão novamente,


se para Bordeaux os levaria.
Quatro passageiros estariam presentes,
Na exata hora em que partiria.

Dois mil dólares por passageiro,


Fez o capitão Andrew Speedy aceitar.
Que nove horas ele e seus companheiros,
estivessem lá, pois iria zarpar.

Phileas Fogg foi ao hotel buscar,


os três que ele havia hospedado.
Até Fix graciosamente iria levar,
com a calma que estava a seu lado.

O Henrietta logo partiria.


Os quatro conseguiram embarcar.
Quando soube da quantia,
para neste transporte viajar,
que seu patrão pagaria,
Passepartout ficou a pensar.

Soltou um longo “Oh” admirado.


Fix pensava no gasto feito pelo cavalheiro.

~ 79 ~
De notas, gastara mais um punhado.
Menos sete mil libras na sacola de dinheiro.

Transpôs Long Island, seguindo em mar aberto.


Ao meio dia, um homem á ponte subiu,
Seria o capitão Andrew Speedy ao certo
para acertar a rota correta do navio.

Era Phileas Fogg, na verdade.


O capitão Speedy, na cabine trancado.
Mas o que acontecera na realidade?
Aqui agora será contado.

Para Liverpool queria ir o cavalheiro,


mas o capitão não aceitava levá-lo.
Subornou a tripulação com dinheiro,
E na cabine ao capitão iria trancá-lo.

Em trinta horas de convivência,


com aquela suspeita tripulação.
Phileas Fogg com sua paciência,
viu que não gostavam do capitão.

Marinheiros e fogueiros de fato,


todos estavam do seu lado.
Fix ficou inicialmente estupefato.
Passepartout desta ação tinha gostado.

Se tudo transcorresse bem,


Em nove dias teriam chegado.
Precisariam de sorte também.
Passepartout estava encantado.

O último feito de seu patrão,


as consequências não queria enxergar.
Tratava como heróis a tripulação,
Chegando no tratamento a exagerar.

Passepartout tudo havia esquecido.


Os aborrecimentos que havia passado.

~ 80 ~
Pensava no objetivo a ser atingido.
Fix por ele era também vigiado.

O detetive Fix estava atordoado.


Conquista do barco e tripulação na travessia.
Fogg manobrava como marinheiro consumado.
O inspetor, daquilo nada entendia.

Se um banco havia roubado,


podia roubar uma embarcação.
Quem sabe o barco pirata, transformado,
dirigido por Phileas Fogg, o seu ladrão.

O Capitão Speedy urrava.


Passepartout levava-lhe alimentação.
Phileas Fogg nem se preocupava,
Se a bordo havia um capitão.

Pelo Banco da Terra Nova passando.


Durante a noite houve alteração.
A temperatura ia se modificando.
A brisa transformava-se em furacão.

Passepartout ficou preocupado.


Senhor Fogg mandou as velas recolher.
Aumentando, o vapor foi forçado.
Fizeram o que tinham de fazer.

Com extrema habilidade.


Senhor Fogg pelas ondas avançava.
Passava entre elas com docilidade.
Algumas vezes o barco balançava.

Às vezes o barco era levantado.


A hélice girando no ar loucamente.
Sempre em frente o navio era levado.
Phileas Fogg o conduzia sabiamente.

As velas não foram levantadas.


O mal tempo não permitia.

~ 81 ~
Com isso a viagem foi atrasada,
aumentando o tempo da travessia.

Setenta e cinco dias da partida.


O atraso do Henrietta não inquietava.
O maquinista veio á ponte em seguida
e por Phileas Fogg procurava.

Passepartout não ouviu o que foi falado.


Mas teve mal pressentimento
Faltaria carvão, tinha pensado.
Não sabia o que fazer naquele momento.

Se escapar desta, meu patrão,


decididamente é porque é demais.
Pensava também em uma solução,
mas não sabia o que fazer mais.

Contou a Fix, o agente,


Que se mostrou pouco gentil.
Acreditava no patrão veementemente.
Disse ao criado que ele era um Imbecil.

Conversou com o maquinista somente,


O fleumático cavalheiro decidiu enfim
caldeiras funcionando, vamos em frente,
até que o combustível chegue ao fim.

As caldeiras foram alimentadas.


Fazendo o navio rápido avançar.
Com isso as esperanças renovadas,
Para na Inglaterra logo chegar.

Dois dias depois de isso decidir,


maquinista disse que acabaria o carvão.
Não deixariam a pressão diminuir,
Phileas Fogg tomou esta decisão.

Pediu para que seu criado,


trouxesse até ele o capitão.
Gritos e palavrões pronunciados.

~ 82 ~
Speedy não continha sua irritação.

Após informar a localização.


O cavalheiro queria comprar o navio.
Isso foi negado pelo capitão.
Espantou-se ainda mais com o que ouviu.

Preciso queimar a mastreação,


Pois não temos mais combustível.
Isso aumentou em Speedy a irritação,
O marinheiro mantinha-se irascível.

“Navio de cinquenta mil dólares”? Perguntou.


Phileas Fogg ofereceu sessenta mil, no ato.
O capitão Andrew Speedy se transformou,
achando um bom negócio de fato.

Efeito indescritível no capitão.


Já tinha vinte anos aquele navio.
Esqueceu a raiva e a prisão.
Phileas Fogg arrancara da bomba o pavio.

Speedy ainda regateou,


pediu o casco e a maquinaria.
O cavalheiro concordou.
E assim pôde continuar a travessia.

Passepartout, lívido, olhava.


O policial Fix quase enfartou.
Vinte mil libras desperdiçava,
Phileas Fogg não se preocupou.

Vinte um de dezembro deveria estar


em Londres, ás oito e quarenta e cinco.
Pediu para o navio desmanchar.
Mantendo a velocidade com afinco.

As cabines, camarotes, bailéu do porão,


Também todo o tombadilho.
Queimou-se tudo para manter a pressão.

~ 83 ~
Interior da caldeira via-se intenso brilho.

Dezenove de dezembro, a mastreação,


por completo naquele dia queimava.
Tripulação tudo fazia com incrível devoção.
Passepartout por dez homens trabalhava.

No outro dia, dezembro dia vinte,


Paveses, obras mortas e até o parapeito.
Londres deveria estar no dia seguinte.
Henrietta simples balsa parecia, com efeito.

Mesmo a todo o vapor, não conseguiria.


Era o tempo de em Liverpool chegar.
Queestown naquele momento se via,
Esperariam a preamar para entrar.

Esta terrível sorte adversa,


prejudicava-o nesta demanda.
O cavalheiro enfrentava esta perversa.
Desembarcaria naquele porto da Irlanda.

Cartas dos Estados Unidos depositadas.


São enviadas rapidamente até Dublin.
Por expressos e paquetes são levadas
Adianta-se doze horas assim.

Phileas Fogg iria se aproveitar


Rapidez da correspondência levada.
Esperava em Londres poder chegar.
Antes da data que fora estipulada.

Andrew Speedy apertou-lhe a mão.


Phileas Fogg desembarcou rapidamente.
Deixava ali navio semidestruído e seu capitão.
Queria chegar ao trem o mais urgente.

Fix pensou em efetuar a prisão.


Porém muito confuso se sentia.
Adiou por mais tempo a decisão.

~ 84 ~
E permaneceu em sua companhia.

Rapidamente para Dublin


de Queestown o trem partiu.
Embarcaram no paquete e assim,
para Liverpool ele seguiu.

Estes paquetes voavam.


Fusos de aço cortando o mar.
As ondas eles transpassavam.
Conseguiram em tempo chegar.

Quando em Liverpool desembarcou,


Fix dirigiu-se ao cavalheiro sem pudor,
“O senhor é Phileas Fogg”, perguntou:
Ele respondeu: “Sim senhor”.

Ali, a confirmação ele tinha.


Fix deixou Passepartout surpreso.
Respondeu: “Em nome da rainha,
Phileas Fogg, o senhor está preso”.

Phileas Fogg estava na prisão.


Em Custom House trancafiado.
Passaria a noite, aguardando decisão
de ser para Londres enviado.

No momento da prisão, o criado.


sobre Fix queria se precipitar.
Detido por policiais a seu lado,
Senhora Auda não sabia o que pensar.

A senhora nada compreendia,


Porque seu salvador iria para prisão.
Passepartout que de tudo sabia,
explicou-lhe toda a situação.

Ela protestou com a alegação.


Indignou-se com lágrimas no olhar.
Aquilo maltratava seu coração.

~ 85 ~
Nada podia fazer para ajudar.

O detetive Fix fez o que devia.


Cumpria seu dever somente.
Á justiça decidir caberia,
Se era culpado ou inocente.

Passepartout culpava-se pela situação.


Não se perdoava pelo acontecido.
Deveria ter ido até o seu patrão,
E sobre o agente Fix tê-lo advertido.

Se o cavalheiro fosse prevenido,


Não teria transportado seu algoz.
Por remorsos era consumido.
Chorava e tinha embargada sua voz.

Senhora Auda e Passepartout, o criado


não queriam o cavalheiro abandonar.
Phileas Fogg estava bem, mas arruinado.
E isso quando o objetivo iria alcançar.

Com aquela prisão, estava perdido.


Teria em tempo chegado ao Clube Reformador.
Dispunha de nove horas e conseguido,
em seis horas com tempo a seu favor.

Sentado em um banco de madeira.


Phileas Fogg, imóvel e imperturbável.
Raiva secreta guardaria daquela maneira?
Parecia calmo aquele homem notável.

Phileas Fogg cuidadosamente,


dispôs o relógio diante de sua visão.
O olhar fixo singularmente,
era terrível sua situação.

Se Phileas Fogg fosse inocente,


estaria para sempre arruinado.
Ficaria preso, invariavelmente,

~ 86 ~
se fosse considerado culpado.

Aquele homem extraordinário,


Em torno da cela circulou,
Pegando a carteira do itinerário,
Olhando-a algo anotou:

Vinte um de dezembro, sábado, Liverpool.


Uma nota ele escreveu:
“80º dia, 11h40 min da manhã”, anotou.
Sentado ali permaneceu.

Uma e depois duas horas soaram.


Embarcando, tempo ainda teria.
Duas e trinta e cinco ecoaram,
Quando lá fora um barulho se ouvia.

Barulhos de portas que se abriam.


Escutou a voz de Fix e de seu criado.
Ambos para ele se dirigiam.
Afinal o que tinha se passado?

Dirigindo-se àquele cavalheiro honorável,


Fix sem fôlego, não conseguia dar explicação.
“Senhor, perdão, semelhança deplorável”.
“O senhor livre, há três dias prendeu-se o ladrão”.

Phileas Fogg para Fix se dirigiu,


estando com a razão a seu favor.
Punhos com rápido movimento o atingiu.
Dois violentos socos no infeliz inspetor.

“Belo soco”. Passepartout exclamou.


“Fez dos punhos bela aplicação”.
Fix caído ao chão, nenhuma palavra falou,
Recebera o que merecia o agente falastrão.

Phileas Fogg, Auda e o criado,


Pegaram um carro e foram á estação.
Lá chegando, por ele foi perguntado,

~ 87 ~
Se havia algum trem a disposição.

O expresso havia partido,


Quarenta e cinco minutos atrás.
Pelo cavalheiro foi pedido,
um trem especial, nada demais.

Locomotivas de alta velocidade,


Aquecidas estavam á disposição.
Exigências do serviço na cidade,
não saíram antes das três da estação.

Phileas Fogg, Auda e seu servidor.


De Liverpool para Londres com rapidez.
Cinco horas necessárias para transpor.
Mas ocorreram muitos atrasos por sua vez.

Quando em Londres desembarcaram,


Dez para as nove, os relógios marcavam.
Com atraso na cidade chegaram.
Apenas cinco minutos o prejudicavam.

Em Saville Row ninguém notou,


que o senhor Fogg tinha voltado.
Quem em frente à casa passou,
viu portas, janelas, tudo fechado.

Buscar provisões, ordenou ao criado.


Após terem deixado a estação.
Mantinha-se impassível, mesmo arruinado.
Por causa daquele detetive trapalhão.

Após tantos perigos a se enfrentar,


Algum bem ainda fez pelo caminho,
Sua fortuna teria de entregar.
Pensativo estava ali sozinho.

Da quantia que tinha sido levada


Quase todo gasto nas despesas.
Não sobrara quase nada

~ 88 ~
A ruina a maior das certezas.

A senhora Auda desesperada.


Temia que Fogg fizesse uma loucura.
Ele não a deixaria desamparada.
E nutria por ele imensa ternura.

Passepartout, este valente rapaz,


Vigiava o seu patrão a todo o momento.
Aproveitou para desligar o bico de gás
Que por oitenta dias brilhava no aposento.

Phileas Fogg foi se deitar.


Mas será que havia dormido?
Auda não conseguia repousar.
O criado á porta do quarto, prevenido.

Preocupava-se com seu patrão.


Naquela noite não dormiu
Vigiou como um fiel cão,
da porta do quarto não saiu.

No dia seguinte, da manhã a chegada.


Deu ordens ao seu criado.
Para ele xicara de chá e torrada.
Almoço para a jovem devia ser preparado.

Avisou que não desceria,


Passando o dia todo trancado.
Seus negócios em ordem poria,
Faria tudo bem pensado.

Pediu para com a jovem conversar.


Passepartout não se perdoava.
O quarto do patrão não queira deixar,
Remorso terrível o torturava.

O criado conversou com a senhora,


temendo o que ele pudesse fazer.
“Não podemos deixá-lo sozinho em nenhuma hora”.

~ 89 ~
“O pior nesse instante tenho a temer”.

Sem saber o que o cavalheiro faria,


senhora Auda estava infeliz.
Passepartout achava que ele iria
salvaguardar a situação dela no País.

Assim passou todo o domingo.


Phileas Fogg nao foi ao Clube Reformador.
Mas por que lá estaria indo?
Ninguém o esperava era de se supor.

Na véspera, sábado não apareceu.


Fora para casa, nao tinha saída.
Afinal, a aposta ele perdeu.
Toda sua fortuna estava perdida.

O cavalheiro do quarto não saiu.


Passepartout cometia indiscrição.
A escada varias vezes subiu,
Ouvia atrás da porta do quarto do patrão.

Se alguma catástrofe acontecesse,


Julgava-se o grande responsável.
Se alguma coisa ocorresse,
para ele seria imperdoável.

Quando muito infeliz se sentia,


com a senhora Auda conversava.
Sempre pensativa se via,
Passepartout a contemplava.

Às sete e meia da noite,


Phileas Fogg e Auda conversaram.
Após pausa dolorosa como açoite.
De tudo o que aconteceu falaram.

Ele pediu a ela desculpa


Por tê-la trazido com ele.
Assumia que era sua culpa,
mas nao estava pensando nele.

~ 90 ~
Queria tira-la dos malfeitores
E ali deixa-la em segurança.
Alivia-la de suas dores,
Tinha nisso muita esperança.

Agora estando arruinado,


nada mais podia oferecer.
Ela disse por seu lado,
que culpava-se pelo que podia fazer.

Também ela se desculpou


dizendo que o tinha atrasado.
E falando acrescentou:
“Sem mim, o senhor teria chegado”.
“Sou a responsável por tê-lo prejudicado”.

Phileas Fogg então falou:


“Do pouco que está a meu dispor”,
“peço licença”, completou,
“quero colocar a seu favor”.

Do cavalheiro, o que seria?


Perguntou a jovem, preocupada.
Respondeu de maneira fria,
que não precisava de nada.

Não tinha amigos e nem parente.


Ela estendeu a sua mão,
Falou a ele docemente:
Que o tinha em seu coração.

"Se uma parenta e amiga quiser


estarei sempre ao seu lado".
“Me aceite como sua mulher”.
A estas palavras Fogg tinha se levantado.

Vendo dela o caráter e a retidão.


Espantaram-no e o comoveu.
Olhando-a com ternura emoção,
seu coração finalmente estremeceu.

~ 91 ~
Disse a ela simplesmente:
“Eu a amo e por tudo de mais sagrado
sou todo seu inteiramente”,
“e quero ficar para sempre ao seu lado”.

Passepartout foi chamado.


Seu rosto iluminou-se de contentamento.
Que o reverendo fosse avisado
na segunda feira faria o casamento.

Oito e cinco, os relógios marcavam.


O criado saiu correndo
E já que todos concordavam,
foi a paróquia falar com o reverendo.

Quem roubara o banco havia sido


tal de James Strand, um bandido.
Reviravolta havia acontecido,
na Inglaterra e em todo Reino Unido.

Três dias antes do ocorrido,


Phileas Fogg era um criminoso.
Agora havia se convertido
em homem honrado e valoroso.

As apostas voltavam a ser legais.


Os apostadores voltaram à cena.
Contudo, ninguém sabia mais
onde estaria aquela figura serena.

Não havia nenhuma informação


de Phileas Fogg e seu paradeiro.
Em todos os locais procurou-se em vão.
Onde se encontrava o cavalheiro.

Phileas Fogg como cavalo de corrida.


Chegava á ultima rodada.
Será que a distancia seria vencida,
e ele chegaria na hora marcada?

~ 92 ~
Não o contavam mais a cem.
Mas a vinte, a dez, a cinco talvez.
O paralitico Lorde Albermale também,
contava-o ao par por sua vez.

Era sábado a noite em Paul Mall.


Havia uma verdadeira multidão.
Todos esperavam afinal.
Por isso toda essa aglomeração.

Havia ali corretores que apregoavam


Phileas Fogg como titulo bancário.
Ansiosamente todos aguardavam
a chegada deste homem extraordinário.

Aproximava-se a hora da chegada.


Emoção tomava proporção inacreditável.
Aquele cavalheiro faria sua entrada
e cumpriria essa façanha notável?

Ali presentes, cinco colegas do cavalheiro.


Com enorme ansiedade aguardavam:
Thomas Flanagan o cervejeiro
Andrew Stuart e Gaultier Ralph ali estavam.
John Sullivan e Samuel Fallentin, banqueiros,
também ali se encontravam.

Oito e vinte cinco, no grande salão soou.


Andrew Stuart lembrou o prazo combinado.
Solenemente aos colegas falou:
"Em vinte minutos o prazo terá expirado".

Thomas Flanagan perguntou


de Liverpool que horas o trem chegara.
Sete e vinte três, Gaultier Ralph falou.
“Outro só meia noite e dez”, complementara.

Andrew Stuart retomou:


"Se Phileas Fogg tivesse chegado
já estaria aqui e, portanto", completou,
"Não chegara no tempo estipulado".

~ 93 ~
Samuel Fallentin saiu em defesa:
O cavalheiro era excêntrico á exaustão.
"Temos de esperar para ter certeza,
Pois é bem conhecida sua exatidão.
Não me espanto se chegar de surpresa,
no ultimo minuto adentrar o salão".

Andrew Stuart só acreditaria, vendo.


Thomas Flanagan achou o projeto insensato.
Os colegas do clube continuavam dizendo
que Phileas Fogg perdera e isso era fato.

O navio China que fazia travessia


Nova York a Liverpool navegava.
O nome de Fogg na lista não se via.
Certamente na América ainda estava.

Já contavam o cheque descontar.


Oito e quarenta o relógio marcou.
Cinco minutos para o tempo acabar,
Phileas Fogg ainda não chegou.

Aqueles cinco apostadores


demonstravam ansiedade.
Sentados á mesa estes senhores,
queriam vencer por vaidade.

Os jogadores tinham cartas pegado.


Os olhares no relógio a todo instante.
Oito e quarenta e dois e o carteado,
não conseguira seguir adiante.

Thomas Flanagan, o jogo cortou.


Disse a todos, por sua vez:
“O tempo quase acabou,
já são oito e quarenta e três".

Houve silencio por um momento.


Estava tranquilo o salão.
Mas lá fora grande movimento.
Dominado por gritos da multidão.

~ 94 ~
John Sullivan falou: “Oito e quarenta e quatro”.
Em sua voz, emoção involuntária se percebia.
Apenas mais um minuto e de fato
o tempo de Phileas Fogg terminaria.

Mais um minuto, a aposta ganha.


Os segundos eram contados.
Phileas Fogg fracassara na façanha?
As cartas, eles tinham abandonado.

Quadragésimo segundo, nada se viu.


Quinquagésimo segundo, nada acontecia.
Quinquagésimo quinto, lá fora se ouviu
Aplausos, hurras, imprecações e gritaria.

Os jogadores levantaram-se em silêncio profundo.


Quinquagésimo sétimo, a porta do salão se abriu.
O pêndulo não batera o sexagésimo segundo.
Seguido pela multidão, que ao salão invadiu,
Phileas Fogg com a maior calma do mundo,
desta forma falando, surgiu.

"Aqui estou senhores".


Fez solene, esta afirmação.
Vencera os colegas apostadores.
Provara a eles que tinha razão.

Era Phileas Fogg em pessoa sim.


Este desfecho eu vou contar.
Para isso retorno, a fim
de poder isso melhor explicar.

Vinte cinco horas após a chegada


em Londres daqueles viajantes.
A Passepartout missão foi dada.
Ir avisar o reverendo em instantes.

A celebração do casamento
para o dia seguinte seria marcada.
Passepartout rápido como o vento
para casa do reverendo foi em disparada.

~ 95 ~
Oito e trinta e cinco saiu da casa do reverendo.
Cabelos em desalinho, derrubando os passantes.
Em três minutos chegou a casa, correndo.
Tinha pra contar coisas importantes.

Sem folego, chegara irreconhecível.


Senhor Fogg perguntou o que acontecera?
Balbuciou: “Casamento impossível”.
“Amanhã, domingo e não segunda feira”.

“É segunda feira”, Phileas Fogg reafirmou.


“Não, amanhã é domingo”, o criado rebateu.
O cavalheiro não acreditou.
Insistência de Passepartout não o convenceu.

O senhor se enganou em um dia.


Chegamos vinte quatro horas adiantado.
Faltava só dez minutos, em meio à correria,
por Passepartout o patrão era arrastado.

Phileas Fogg saltou em taxi e prometeu


cem libras de gratificação ao cocheiro.
Após esmagar dois cachorros, em cinco carros bateu,
chegou ao Clube Reformador o cavalheiro.

Oito e quarenta e cinco, o relógio marcava.


Phileas Fogg chegar ao salão conseguia.
Aos colegas, que era possível, provava.
Dar A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS.

Como Phileas Fogg pôde se enganar?


Homem tão exato e meticuloso.
Como pode em um dia se equivocar,
cavalheiro tão matematicamente cuidadoso?

Acreditava ter no sábado chegado.


Na verdade era sexta feira.
Em vez de estar atrasado,
um dia adiantado, desta maneira.

~ 96 ~
O erro tinha uma simples razão.
Phileas Fogg para leste se dirigia.
Ia a frente do sol nesta direção,
acabou, pois por ganhar um dia.

Se fosse para oeste,


Um dia teria perdido.
Mas como foi pelo leste
um dia foi lhe diminuído.

Quatro minutos a cada grau.


Trezentos e sessenta graus volta completa.
Trezentos e sessenta vezes quatro, afinal.
Dá um dia, esta é a conta correta.

Oitenta vezes viu o sol nascer.


Setenta e nove no clube tinham avistado.
Por isso que a distância conseguiu vencer,
e chegar um dia adiantado.

Phileas Fogg ganhou em libras, vinte mil.


Mas foi pequeno o lucro pecuniário.
Dezenove mil libras a viagem consumiu.
Sendo todo gasto no itinerário.

As mil libras que lucrou,


não ficou com o dinheiro para sí.
À Passepartout e a Fix doou.
Foi o que fez ali.

Ao detetive Fix não queria mal.


Descontou do criado consumo do gás.
Por tudo que havia passado, afinal,
conformou-se o pobre rapaz.

Phileas Fogg perguntou á senhora


Se o casamento a ela ainda conviria.
Ela devolveu a pergunta na mesma hora,
ele respondeu que sua fortuna lhe pertencia.

~ 97 ~
Quarenta e oito horas após,
realizava-se casamento emblemático.
Ela com a doçura em sua voz
Ele mantinha-se fleumático.

Ao lado dos noivos, sozinho,


Passepartout resplandecente.
Dela, ele era o padrinho.
A salvara de modo comovente.

No dia seguinte, o criado


bateu á porta de seu patrão.
Falou todo animado
que tivera uma revelação.

A volta ao mundo poderia


em setenta e oito dias ser realizada.
Phileas Fogg disse que disso sabia,
Bastava a Índia não ser atravessada.

"Se pela Índia não passasse,


enfrentando tanto perigo,
e se Auda eu não encontrasse,
ela não teria vindo comigo,
e assim como lhe convier,
eu não seria seu marido,
e ela nao seria minha mulher".

Após ter dito isto,


Fechou a porta em seguida.
Naquele dia não foi mais visto.
Passepartout foi cuidar da vida.

Phileas Fogg mostrou-se um forte.


Fez a volta ao mundo em oitenta dias.
Para isso usou todo meio de transporte
Viajando por todas as vias.

Paquetes e navios mercantes.


Trens, iates, trenós e carruagem.
Também utilizou Elefantes
Tudo fez para seguir viagem.

~ 98 ~
O excêntrico cavalheiro com coragem,
Demonstrou suas qualidades a todo momento.
Sangue frio e exatidão nesta viagem.
Mas o que ganhou com este deslocamento?

Nada? Talvez nada, no fundo,


além de uma mulher sedutora e perfeita.
Que fez dele o homem mais feliz do mundo.
Como saberemos, que por muito menos,
Esta volta por nós não seria feita?

~ 99 ~
FIM

~ 100 ~

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