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VOLTAS
A verdura amena5,
gados, que paceis6,
sabei que a deveis
aos olhos d’ Helena.
Os ventos serena,
faz flores d’ abrolhos
o ar de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inhumana8;
de cada pestana
ũ’ alma lhe pende9.
Amor se lhe rende,
e, posto em giolhos10,
pasma nos seus olhos11.
Vocabulário e notas
1 mote; 2 da autoria do próprio Camões; 3 afastar, deixar de olhar; 4 plantas espinhosas; 5 agradável, bela; 6 pastais; 7 v. 9: o olhar de
Helena transforma a água turva das fontes em água límpida; 8 enorme; 9 está suspensa; 10 posto de joelhos, em adoração; 11 encanta-
se com os seus olhos, aos quais fica preso, sem poder deixar de os fitar
Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
2. Explicita o sentido da pergunta feita pelo sujeito lírico nos vv. 10-11, tendo em consideração a
relação entre Helena e a Natureza.
3. Identifica, justificando, o primeiro recurso expressivo que, na segunda estrofe, contribui para a
sugestão do poder transformador dos olhos de Helena.
4. Prova que o primeiro e o segundo versos da cantiga, «A verdura amena / gados, que pasceis»,
têm o mesmo número de sílabas métricas mas não têm o mesmo número de sílabas
gramaticais.
Apoiando-te na tua experiência de leitura, escreve um texto que tenha entre 120 e 150 palavras,
no qual apresentes as principais características físicas e psicológicas que Camões atribui às
mulheres que canta.
GRUPO II
O amor
O amor é, de facto, o principal tema de toda a lírica camoniana – como é, n’Os Lusíadas,
uma das grandes linhas que movem, organizam e dão sentido ao universo, elevando os heróis à
suprema dignidade de, através dele, atingirem a divinização.
Na Lírica de Camões, o amor é, contudo, fonte de contradições vivamente sentidas: ele é
sucessivamente «fogo que arde sem se ver», «ferida que dói e não se sente», «contentamento
descontente» – daí que ele dificilmente possa trazer consigo a alegria e a paz. É algo de
indefinível ou, nas próprias palavras do Poeta, «um não sei quê, que nasce não sei onde, vem
não sei como e dói não sei porquê.» (…)
O «desconcerto do mundo»
Experiência amorosa e experiência de vida colocam Camões perante uma constatação: a de
que no mundo a realidade é absurda e domínio do «desconcerto», em que se premeiam os maus
e se castigam os bons. Esta
constatação deixou marcas amargas n’Os Lusíadas – e deixou-as na Lírica, em poemas de
revolta, de queixa, desengano, perplexidade angustiada. (…)
A mudança, que é a condição de tudo, para ele fez-se sempre para pior. Por isso se sente
com o direito de se interrogar se o bem passado foi de facto bem ou se já era prenúncio do mal
presente.
Amélia Pinto Pais, Eu cantarei de amor – lírica de Luís de Camões, Porto, Areal Editores, 2007, pp. 27-29.
(Texto adaptado)
Nota
1 feiticeira, na mitologia grega; modelo de maldade
1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a opção que permite obter uma
afirmação correta.
1.2 De acordo com o segundo parágrafo, o sentimento amoroso expresso por Camões na poesia
lírica caracteriza-se por ser de natureza
(A) contraditória.
(B) problemática.
(C) pessimista.
(D) injusta.
1.5 De acordo com o último parágrafo do texto, o tema camoniano do desconcerto do mundo
tem na origem
(A) a constatação de que o mundo se caracteriza pela diversidade.
(B) a verificação de que o mundo se caracteriza pela contradição.
(C) a constatação de que o mundo é ilógico.
(D) a verificação de que o mundo se caracteriza pela mudança contínua.
2.1 Seleciona, no quarto parágrafo do texto, três nomes que possam integrar o campo lexical da
Natureza.
GRUPO III
O amor é um sentimento que todos atinge a partir da adolescência. Os mais velhos estão
também a ele sujeitos.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, expõe as
tuas ideias sobre a importância deste sentimento para o bem-estar desta camada populacional
idosa.
Soluções
Grupo I
A
1. As voltas retomam, desenvolvendo o tema do mote.
2. Se a força transformadora de Helena atinge a Natureza inerte, qual será a sua influência sobre os seres
vivos, sobre as pessoas? Este é o sentido da pergunta.
3. Trata-se da anáfora «Faz», «faz», vv. 8-9, através da qual se evidencia o poder transformador de
Helena; [Esta anáfora prolonga-se, de algum modo, nas palavras «faz», «fará», nos dois versos
seguintes; e, na primeira estrofe, já tinha ocorrido a palavra «faz», v. 6.]
4. O verso «A verdura amena» tem sete sílabas gramaticais e cinco sílabas métricas; o verso «gados, que
pasceis» tem cinco sílabas gramaticas e cinco sílabas métricas.
Grupo II
1. 1.1 (A); 1.2 (A); 1.3 (D); 1.4 (C); 1.5 (C)
2. 2.1 «campos», «águas», «flores»
2.2 Complemento direto
2.3 «que é condição de tudo» [A sua função sintática é de modificador do nome apositivo «mudança»,
o seu elemento subordinante.]