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HISTÓRIA MODERNA: DO FEUDALISMO AS REFORMAS

RELIGIOSAS

Resumo da Aula 01 – A Invenção da Modernidade

Idade Antiga: Da invenção da escrita até a queda do Império Romano, no século V d.C.

Idade Média: Da queda do Império Romano do ocidente até a tomada de Constantinopla


em 1453.

Idade Moderna: Da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa, em 1789.

Idade Contemporânea: Da Revolução Francesa até os nossos dias.

Por incrível que pareça, as divisões históricas citadas acima foram levantadas por
historiadores europeus. Ou seja, tais divisões foram levantadas tendo como base os marcos
históricos, principalmente, ocorridos na Europa. Entretanto, durante décadas, foi esse o
modo de pensar que lançou as bases do pensamento histórico que, agora, questionamos.
Como todo processo histórico, a mudança foi lenta e, por causa disso, podemos dizer que
existe muito medieval no homem moderno.

A Idade Média é dividida em Alta Idade Média e Baixa Idade Média. Na Alta Idade Média
(séc. V até o ano 1000), o sistema feudal está em seu apogeu. Na Baixa Idade Média (séc.
XI), o feudalismo começa a mostrar seus sinais de desgaste, culminando com a sua
progressiva extinção. No século XIV, a Idade Média sofre com a peste negra, que dizimou
boa parte da população europeia. A peste trouxe a fome, a pobreza, a miséria na Europa,
levando a grandes motins e a uma enorme fuga do campo. Por um outro lado, a Igreja
culpava espirituais, e todo aquele que não era cristão foi duramente perseguido, como
ocorreu com os judeus.

Os burgos, na Idade Média, eram artesãos e pequenos comerciantes que, com o


crescimento urbano, das cidades e da riqueza medieval, eles acabaram que consolidando
suas próprias cidades. Seus habitantes foram chamados de burgueses e daí a denominação
de uma nova classe social, associada aos comerciantes. O comércio tornou-se mais
desenvolvido e o trabalho passou a ser organizado em corporações de ofícios ou guildas.
Algumas cidades se organizam em repúblicas ou comunas, fazendo com que os burgueses
ganhassem poderes políticos e administrativos, além de consolidar negócios.

Se na Idade Média, a terra era sinônimo de riqueza, na Idade Moderna o comércio e os


metais preciosos passam a substituir a terra. O significado de riqueza e prosperidade acaba
que mudando de sentido. Durante a vida na Idade Média, as cidades jamais desapareceram,
mas sim apenas perderam sua relevância político-social. Por isso que é falado muito sobre o
renascimento urbano no século XV. Com a crise agrícola, o feudo, principal unidade
produtiva na Idade Média, começou a ruir. Na França, por exemplo, houve levantes
camponeses contra a situação que se agravava cada vez mais (jacqueries). Tais revoltas
indicam o esgarçamento desta relação e o surgimento progressivo de uma nova ordem
social, na qual os senhores feudais veriam seus poderes diminuídos.

Durante a Idade Média, a terra gerava a riqueza, pois a economia era agrária e todas as
relações sociais se desenvolviam a partir desse princípio. Na Idade Moderna, a circulação
de moeda ganha importância e são necessários metais preciosos para cunhá-las, o que vai
ser um dos motores das grandes navegações. Por um outro lado, já existia moedas na Idade
Média, e aí? Cada feudo tinha sua própria unidade monetária e grande parte da economia
era por meio de troca do excedente agrícola. Agora, já que a moeda readquire sua
importância, levantemos aqui uma questão… qual moeda? Já que cada feudo tinha sua
moeda.

Para unificar a moeda, seria necessário um poder central que a determine. Como na Idade
Média o poder era fragmentado, a unidade monetária é mais uma das características que
distinguem uma era da outra. Todos os fatores políticos, sociais e econômicos estão
interligados neste momento de transição – uma transformação lenta e progressiva. Os
marcos históricos não devem servir para engessar o pensamento, e sim como ponto de
partida para novas interpretações da história. Nesse sentido, os Annales vão revolucionar a
historiografia à medida que consideram os indivíduos envolvidos no processo histórico.
Nasce aí a história das mentalidades.

Fernand Braudel, em sua obra O Mediterrâneo, divide o tempo histórico em três partes.

Curta Duração: Fenômenos transitórios, que mudam constantemente e podem ser


observados no decorrer do tempo de vida de uma pessoa;

Média Duração: Onde se “encaixam” as grandes periodizações. A Idade Média, por


exemplo, seria um “fenômeno” de média duração;
Longa Duração: Ligado a mudanças que levam milênios, como as mudanças geográficas;

Se estamos falando em Modernidade, então temos que considerar a mentalidade do


homem moderno. Se as estruturas políticas e econômicas podem levar séculos para mudar,
com as mentalidades não poderia ser diferente. É comum aos católicos fazerem o sinal da
cruz ao passarem diante de uma igreja, um costume medieval. Em diversas festas e
manifestações culturais, festas religiosas ou carnaval, são reproduzidos práticas ancestrais.
Mesmo que tenhamos perdido as referências originais, tais comemorações fazem parte da
nossa mentalidade.

A nova organização social das cidades teve papel fundamental na mudança das
mentalidades. A burguesia foi um de seus principais agentes. Mas antes, precisamos
entender que burguesia é um conceito. Na Idade Média, burguês é o habitante burgo. Na
Alta Idade Média, o burguês passa a ser não só habitante, mas também a classe mercantil.
E, ao longo da Idade Moderna, a burguesia se torna uma camada intermediária entre a
classe trabalhadora e a nobreza. Apesar de não terem sido nobres, os burgueses foram
detentores de vasta riqueza acumulada através do comércio. Na Baixa Idade Média, a
burguesia passa a ser visto como dono dos meios de produção por muitos historiadores,
devido a Revolução Francesa e o fim da Idade Moderna.

Na Idade Moderna, enquanto os burgueses são dedicados à atividade mercantil,


acumulando grande poder econômico. Na Idade Contemporânea, os burgueses passam a
ser donos dos meios de produção devido a Revolução Industrial. Na modernidade, do
ponto de vista político, é a aliança entre o rei e a burguesia que permite a formação e
consolidação dos estados nacionais. Do ponto de vista econômico, irão investir nas grandes
navegações e no projeto colonial, mudando definitivamente a Europa. No ponto de vista
social, os burgueses financiam o renascimento e apoiam a reforma, construindo uma nova
mentalidade.

Um outro conceito que precisamos entender é sobre o estado. O estado é um conceito


múltiplo e se altera não somente de acordo com o tempo histórico estudado, mas também
de acordo com os saberes da disciplina. Por exemplo, a sociologia tem uma acepção de
estado diferente da história, diferente da política, diferente da filosofia, e assim por diante.
Na Idade Média existia diversos estados governados por senhores feudais, só não eram
centralizados. Ou seja, havia um estado mas não havia uma nação. O estado é uma
instância política que regula a vida pública, que estabelece e faz cumprir as leis, que cobra
impostos e que detém a legitimidade do uso da violência. Já uma nação pressupõe uma
identidade nacional. Essa identidade é formada por vários elementos: uma língua única,
uma moeda única, fronteiras territoriais, a existência de um exército nacional. Portanto,
podemos ver que nação e estado não são sinônimos. Os hebreus, por exemplo, são uma
nação sem estado. Pois, apesar de muitos judeus terem vivido na América, na Europa, no
Oriente, em diferentes culturas, eles estavam ligados por vínculos religiosos e seguiam um
mesmo livro, a Tora. Os judeus compartilham uma identidade que está além das fronteiras
políticas mas se formou através dos princípios da fé. O Estado judeu foi formado no ano
de 1948, mas enquanto nação, os hebreus existem há séculos.

Resumo da Aula 02 – A Transição: Medievo à Modernidade

Como conhecemos, o fim da Idade Média foi a tomada de Constantinopla pelos turcos
otomanos no ano de 1453. Mas, podemos analisar também, a invenção da imprensa por
Guttemberg ou a descoberta da América, por Cristóvão Colombo. Enquanto os iluministas
irão se referir à Idade Média como Idade das Trevas, os críticos do absolutismo chamarão
o período moderno de antigo regime. Ambas visões são carregadas de significados e
ilustram a transição do pensamento de uma era para outra.

Duas características se destacam quando pensamos a sociedade medieval: o papel da igreja


na vida cotidiana e a quase inexistente mobilidade social. No regime feudal, os papéis
sociais são bastante definidos e estão demarcados desde o nascimento. Ou seja, o filho de
um camponês será um camponês, assim como o filho de um senhor feudal será um senhor
feudal. A fragmentação do poder medieval foi devido a invasão dos bárbaros no Império
Romano já a falência. Quando ocorre o fim do império, as diversas regiões pertencentes a
ele na Europa se fragmentam em outra estrutura. Nesse novo modelo, o centro de vida
sociopolítico é o feudo e não mais as cidades.

A sociedade feudal era baseada nos vínculos de dependência pessoal, chamados de


suserania e vassalagem. O vassalo recebia terras e bens do seu suserano, prometendo-lhe
fidelidade e proteção em troca. Devido a esses vínculos sociais, foi surgindo uma pirâmide
social típica da Idade Média: Clero, Nobreza e Camponeses, Servos e Burgueses. É
importante ressaltar que os reis jamais desapareceram, mas só retomam sua importância
política durante a Idade Moderna, no processo de centralização do poder.

O Antigo Regime herdará a mesma pirâmide social (Clero, Nobreza e


Camponeses/Servos/Burgueses), mas será acrescentado os burgueses – é a classe mercantil
se formando no renascimento urbano e comercial. Lembrando que os burgueses não
possuíam título de nobreza. Durante a Idade Moderna, embora a burguesia concentre
bastante poder econômico, ela não terá direitos políticos igualmente importantes. Essa
insatisfação levará às chamadas revoluções burguesas que ocorrerão na época
contemporânea, com a Revolução Francesa.

Cabe a nobreza ser o responsável pelas funções político-administrativas, já o clero tem o


monopólio do ensino, que vai bem além de questões espirituais. Nenhuma destas ordens
paga impostos, que recaem apenas sobre o terceiro estado, ou seja, a maior parte da
população. O terceiro estado tem obrigações políticas, mas não direitos. Por um outro lado,
quando dizemos que o clero tem o monopólio do ensino, queremos apontar que grande
parte do conhecimento que é reproduzido passa pelas mãos da igreja. Isso concede ao clero
um enorme poder de influenciar as mentalidades, além de ser o grande reformador de
opinião durante a Idade Moderna. Esta é outra herança do período medieval.

Durante séculos, cabia à Igreja Católica, através dos monges copistas, reproduzir os livros.
Isso era feito manualmente e os livros eram copiados e transmitidos. Havia aí uma clara
intervenção da Igreja. Como era ela quem copiava e distribuía os livros, podia escolher o
que produzir. Essa maneira de produzir também tornava o livro algo muito caro e portanto
um símbolo de riqueza. A invenção da imprensa muda radicalmente essa situação. Os livros
passam a ser reproduzidos em série, através de prensas, e tornam-se mais baratos e
acessíveis a camadas mais baixas da população. O primeiro livro impresso foi justamente a
Bíblia, que indica que, mesmo em um momento de ruptura, esta ainda está ligada ao
poderio católico.

Sobre a questão do Antigo Regime, este ocorreu na maior parte da Europa Ocidental.
Apesar das diferenças e especificidades que variam de uma região para outra, o estado do
Antigo Regime é centralizado e unitarista, onde a monarquia detém o poder soberano e não
existe a divisão de poderes que conhecemos hoje. A França é considerada o exemplo de
Antigo Regime por excelência. Foi nesse país em que os estamentos atingiram tal nível de
mobilidade que levou a uma revolução que derrubou o Antigo Regime, a Revolução
Francesa de 1789. Foi também na França que o absolutismo alcançou o seu auge e,
portanto, as contradições desse regime, também.

É importante ressaltar que a mobilidade social é largamente utilizada por analistas


contemporâneos. Os homens da época estavam inseridos em um contexto em que essa
mobilidade não era passível de ser observada. As classes são estabelecidas pelo lugar de
nascimento e não pelas posses, o que só iria mudar na idade contemporânea. Por um outro
lado, é através dos privilégios que as classes se mantém e funcionam. Um nobre pobre
ainda faz parte da corte, um burguês rico não. Com isso, podemos concluir que a riqueza
não significa ascensão ou mudança de status social.
Cabe lembrar que a unificação do estado só é possível a partir de uma aliança entre o rei e a
burguesia. Enquanto o rei fornecia a estrutura política necessária para a expansão mercantil,
os burgueses forneciam ao rei apoio e legitimidade, sem os quais a centralização de poder
jamais teria sido possível. Durante o século XVIII, a burguesia pôde dispensar o rei
absoluto devido a consolidação de um enorme poder financeiro por parte dos burgueses.

Resumo da Aula 03 – A Economia na Modernidade

A Idade Moderna se caracteriza pela era do mercantilismo, porém o mercantilismo não é


um sistema econômico. O sistema econômico é a maneira pela qual uma sociedade
organiza sua economia e, junto com ela, a sua política e a sua estrutura social, além do seu
modo de produção. Já o mercantilismo em si, não possui tais características. O
mercantilismo é um conjunto de práticas econômicas que marca a transição do sistema
feudal para o sistema capitalista.

Por falar em modo de produção, um dos primeiros teóricos a pensar e definir tal questão
foi Karl Marx, em sua obra O Capital. Max defendia que sempre que houve uma
contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, haveria um colapso do
sistema econômico. É o que acontece no feudalismo. O poder econômico deixa de ser o
senhor feudal para pertencer a burguesia. Entre os séculos IV a XI, ocorre a transição da
Antiguidade para o Feudalismo. Entre os séculos XI a XIV, ocorre o renascimento urbano
e a expansão da atividade mercantil. Entre os séculos XIV e XV, ocorre a transição do
feudalismo para o capitalismo.

A expansão mercantil que ocorre ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, permite a
ocorrência da acumulação primitiva do capital. Tal acumulação dará origem à Revolução
Industrial. O mercantilismo é composta pelo Metalismo, pelo Protecionismo, pelo Pacto
Colonial e pela Balança Comercial Favorável.

Metalismo: Enquanto na Idade Média a riqueza estava na terra, na Idade Moderna a riqueza
estava no acúmulo de metais preciosos. Neste período é retomado o sistema monetário, e
os metais eram necessários para cunhar as moedas. A busca destes metais será o motor da
expansão marítima.
Protecionismo: Os reis cobravam altas taxas de impostos de produtos estrangeiros para
proteger e incentivar o desenvolvimento econômico do Estado. Dessa forma, estimulavam
o consumo e a confecção de produtos nacionais, dinamizando a economia interna.

Pacto Colonial: Era a garantia da metrópole de que a colônia comercializaria estes produtos
somente com ela. Era o estabelecimento de um monopólio comercial que garantia a opção
da metrópole em comprar e vender produtos coloniais ao preço que ela bem entendesse.
Como a colônia era obrigada a vender para a metrópole, não podia determinar o preço que
quisesse. Se para a colônia o pacto era um entrave, para a metrópole era a garantia de
grandes lucros.

Balança Comercial Favorável: Consiste em exportar mais do que importar, ou seja, vender
mais do que se compra. Tal recurso mantém o capital que circula no país sempre em maior
número do que aquele que é gasto no exterior, permitindo a formação de uma reserva
financeira que pode ser utilizada em casos de crise econômica.

Podemos dividir a economia da Idade Moderna em três partes:

Século XV ao começo do século XVII: Expansão Econômica – artesanato e agricultura.


Com o fim do feudalismo, a economia irá superar as antigas estruturas feudais. Além do
aumento da produção artesanal, existe o início do investimento em manufaturas. Com o
fim da Idade Média, a agricultura não deixa de existir. Ela ganha impulso, mas não mais
como uma agricultura de subsistência, voltada apenas para o sustento. Os gêneros agrícolas
adquirem status de mercadoria e a agricultura será largamente praticada em toda a Europa.

Século XVII ao começo do século XVIII: Crise econômica. Alguns historiadores entendem
que a tal crise é um período de ajuste natural, no qual um recuo da expansão ocorrida no
século anterior seria vista como natural, e não como um sinal de desgaste do projeto
mercantil. Segundo o historiador Roland Mousnier, é um momento em que a modernidade
ainda traz muitos traços do medievo, provocando grandes contradições e que estão
presentes em diversas escalas. Tais contradições reforçam que a ideia do Capitalismo existe
a partir da Revolução Industrial no século XVIII o que vem entender a Idade Moderna.

Século XVIII: Expansão do modelo mercantil e consolidação das bases capitalistas. Neste
período, já temos estados consolidados e que adotam essa política econômica como uma
prática de Estado.

Podemos concluir que a economia moderna tem sua base no mercantilismo, que reunirá as
condições para a Revolução Industrial que consolidará o capitalismo como sistema
econômico.
Resumo da Aula 04 – O Estado

A crise do feudalismo e o renascimento comercial e urbano fez com que a organização


política medieval entrasse em crise, e uma nova estrutura de governo começa a se
organizar. Podemos dizer que a centralização do Estado Moderno foi baseada na aliança
entre o rei e a burguesia. Entretanto, tal processo não acontece no mesmo momento e da
mesma maneira em todos os países da Europa. Por razões específicas de cada região, cada
Estado se centraliza e se organiza de maneira diferente.

A passagem do poder fragmentado medieval para o poder centralizado moderno foi alvo
de grandes disputas, seja entre reinos ou entre classes. A burguesia foi contra a aristocracia
para garantir o desenvolvimento comercial, reinos cristãos lutaram contra reinos
muçulmanos para centralizar seu território, e assim por diante. Por essa razão, Portugal e
Espanha deram o primeiro passo na expansão marítima. Esse pioneirismo é uma das razões
porque a maioria dos territórios do continente americano foi colonizado por ibéricos. No
caso de Portugal, sua centralização nos remete ao século XI, quando é fundado o Condado
Portucalense devido as guerras de Reconquista.

Durante séculos, a Península Ibérica recebeu uma enorme quantidade de muçulmanos que
imigravam de diversos lugares. Eles estabeleceram suas próprias cidades e, no caso da
Península Ibérica, também um reino muçulmano, Granada. Então, durante séculos, houve
conflitos entre muçulmanos e católicos, e os católicos acabaram que reconquistando o
território. Portugal e Espanha só puderam realmente se unificar após a expulsão dos povos
não católicos (muçulmanos e judeus). Podemos dizer que a centralização não foi algo
somente político, mas também social devido ao conceito de identidade. Durante a Idade
Média, não havia uma identidade nacional, mas sim o compartilhamento de uma mesma
crença, a fé católica. Desta forma, podemos dizer que os reinos ibéricos foram unificados
tendo como base o catolicismo.

No século XVI, quando o império português alcança o seu apogeu, o rei Dom Sebastião
morre em batalha sem deixar herdeiros, e a dinastia de Avis cai por terra. O trono é
reivindicado por vários nobres, mas Espanha acaba tomando o poder. Portanto, entre 1580
e 1640, Portugal e Espanha são unificados tornando-se União Ibérica. Devemos tomar
cuidado para não confundirmos com o absolutismo. A unificação espanhola é firmada em
1469, através do casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela. Aragão e Castela
eram reinos mais prósperos dando origem a um processo de centralização de poder
ocasionando em um absolutismo espanhol.
Durante o século XVI, a Espanha foi o mais poderoso império da Europa, mas sua
estrutura interna era ainda frágil, e sua base fortemente católica constituiu um entrave ao
desenvolvimento do sistema absolutista. A Igreja, neste contexto, tem um papel político
muito forte e é quem intermedeia a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494,
dividindo entre Portugal e Espanha as terras descobertas e a se descobrir. A Igreja era tão
ligada ao Estado que Isabel e Fernando eram considerados reis católicos, e em nenhum
país católico a Inquisição fez tantas vítimas como na Espanha. Seu apogeu ocorre durante a
administração da dinastia Habsburgo, mas os reinos espanhóis unificados pelos reis
católicos eram instáveis. A corrupção, os gastos desmedidos e o endividamento externo
fazem com que a Espanha entre em ciclos de crise econômica. Em seguida, após a
formação dos Estados francês e inglês, a Espanha perde terreno político na Europa, sendo
sobrepujada pelos demais países.

Durante o século XIII, os reis ingleses assinaram a Magna Carta que concedia plenos
poderes aos senhores feudais, aumentando a autonomia regional e enfraquecendo o poder
central. Neste contexto, o rei Henrique III assinaria os Estatutos de Oxford, criando a mais
poderosa das instituições inglesas que permanece até os dias de hoje: o Parlamento. O
Parlamento é constituído pela Câmara dos Lordes e pela Câmara dos Comuns.

Parlamento: Ao longo de sua história, o Parlamento terá maior ou menor poder político,
sendo que, no período absolutista, era submetido à vontade real;

Câmara dos Lordes: Era composta pelo clero e pela nobreza. Seus membros tinham o
direito de hereditariedade, ou seja, o cargo passava de pai para filho;

Câmara dos Comuns: Era composta pelos burgueses e cavaleiros. Seus membros eram
eleitos por meio do voto;

Um dos maiores problemas enfrentados pela Inglaterra era a rivalidade secular com a
França. No século XIV, estoura a Guerra dos Cem Anos. Os motivos do conflito são
diversos, mas duas razões se destacam: disputas territoriais e dinásticas. Para a França, a
vitória na guerra significa o fortalecimento da monarquia e abre caminho para a unificação
do Estado francês. Já para a Inglaterra, sua derrota significa uma enorme perda de
prestígio, aumentando a crise que vivia a monarquia inglesa. A instabilidade política na
Inglaterra leva a uma disputa interna pelo trono entre duas casas nobres inglesas, os York e
os Lancaster. O conflito ficou conhecido como Guerra das Duas Rosas, pois os Lancaster
eram representados por uma rosa vermelha, e os York, uma rosa branca. O conflito
termina sem vitorioso, mas com casamento entre membros das duas casas. Com o
enfraquecimento das duas casas (York e Lancaster), uma terceira dinastia ascende ao poder,
os Tudor, que reinam do século XV ao XVII. Esta dinastia inicia o absolutismo inglês com
o reinado de Henrique VIII.
O rei Henrique VIII casa-se com a princesa espanhola Catarina de Aragão, católica
fervorosa. A escolha favoreceu a Inglaterra já que a Espanha era um poderoso império, e a
aliança era algo muito desejado pelos ingleses. Entretanto, Catarina não teve filhos homens
que pudessem continuar a linhagem real. Então, o rei Henrique VIII solicitou permissão à
Igreja Católica para divorcia-se da rainha e casar-se novamente. A Igreja recusou o pedido
pois, se aceitasse, entraria em choque com a Espanha, o que não era algo desejável,
considerando o poderio espanhol da época. Ao romper com o papado, Henrique VIII
concentra no trono todos os poderes que antes pertenciam à Igreja. O rei torna-se não só
um chefe político, mas o líder espiritual da Inglaterra. Mesmo no ponto de vista religioso,
há poucas diferenças entre católicos e anglicanos, exceto que os católicos são submetidos
ao papa e os anglicanos, ao rei.

Com a morte de Henrique VIII, herda o trono sua filha, Maria I, já que, mesmo tendo se
casado seis vezes, o rei teve um único filho homem, que morreu antes de poder assumir o
trono. Maria I era filha de Catarina de Aragão e, como a mãe, uma fervorosa católica. Em
seu governo, Maria I passa a perseguir os protestantes, dando início as sangrentas guerras
religiosas inglesas. Somente após sua morte assume o trono Elizabeth I, filha de Ana
Bolena, segunda esposa do rei, que restaura o Anglicanismo e consolida o absolutismo
monárquico. O reinado da Elizabeth I foi um dos mais prósperos da história inglesa. Ela
fortaleceu a burguesia e investiu na expansão marítima. A rainha teve na burguesia
protestante uma forte fonte de apoio, com a qual ela combateu ferozmente a nobreza
católica. A rainha nunca se casou e também não deixou herdeiros. Portanto, com a sua
morte, chega ao fim a dinastia Tudor e assume o trono Jaime I, então rei da Escócia. Com
a morte de Elizabeth I, chega ao fim o absolutismo inglês e, no século XVIII, a Inglaterra
seria o primeiro país a vivenciar uma revolta inglesa, a Revolução Puritana.

Como vimos, com a vitória na Guerra dos Cem Anos, a monarquia francesa se fortalece e,
progressivamente, consolida seu poder. Além das disputas com a Inglaterra, a França
enfrenta sangrentas guerras religiosas entre católicos e protestantes, conhecidos como
huguenotes. A doutrina protestante, em especial o calvinismo, faz muitos adeptos na Paris
do século XVI. Quando a burguesia e parte da nobreza aderem ao calvinismo, o Estado
francês se vê obrigado a conciliar interesses para evitar uma grande guerra. Então, a
Regente Catarina de Médici concede aos huguenotes alguns privilégios, como o direito de
celebrar cultos em alguns pontos específicos da França. Com a morte do último Valois, o
trono é entregue a um protestante, Henrique IV, que, para assumi-lo, tem que se converter
ao catolicismo. Então, Henrique IV inaugura a dinastia Bourbon sob forte influência da
Igreja Católica. Com a morte de Henrique IV, seu filho Luís XIII assume o trono, mas
quem exercia o poder era o seu ministro, o cardeal Richelieu. Após sua morte, assume o
cardeal Mazzarino. Então, somente após a morte do cardeal Mazzarino que Luís XIV fica
livre da influência da Igreja chegando ao auge de seu governo, tornando-se o principal rei
absolutista da França. Luís XIV é a melhor tradução do absolutismo, pois concentra todas
as decisões do Estado em sua figura, fazendo um governo personalista que ignora as
necessidades da população e satisfaz os nobres e a alta burguesia. Tal Regime só cai no
século XVIII com a Revolução Francesa, quando a situação de miséria da população chega
a níveis espantosos. Então, com a liderança dos burgueses, o rei é deposto e um novo
período se inaugura na França.

Resumo da Aula 05 – Renascimento

Quando falamos em universidade, nos vêm à mente instituições de ensino superior que
cursamos após o fim do ensino médio, como forma de adquirirmos uma profissão e nos
especializarmos em uma área de conhecimento. Não difere muito daquela época. Os
muçulmanos ocuparam durante séculos uma parte da Europa e, mesmo tendo sido
expulsos no processo de unificação dos estados nacionais, deixaram uma grande herança
cultural como legado. No século XIII, há uma enorme transformação do pensamento
Ocidental, pois as obras que haviam sido produzidas durante a antiguidade chegam, por
intermédio do oriente, aos pensadores do medievo.

Através do renascimento urbano e comercial e, também, das cruzadas, muito do


conhecimento muçulmano penetrou no medievo. Além disso, nas universidades,
coexistiam tanto o ensino religioso como o laico. Podemos citar a obra de Aristóteles que
chega ao Ocidente através de traduções feitas, inicialmente do árabe. Grande parte das
obras escritas em árabe e grego, vinha das regiões hispânicas dominadas pelos mouros.
Podemos perceber a noção da história não como uma estrutura linear, mas como fruto de
vários processos ligados um ao outro.

Entendendo a questão como um processo histórico, temos um conjunto de fatores que


permitiram a existência das unidades medievais. Como fruto do seu tempo, as
universidades servem também para suprir a mão de obra qualificada, já que tinha como um
de seus objetivos o ensino de ofícios. Mas ao lado desses ensinos, também havia uma forte
formação cultural com o estudo de filósofos e escritos da antiguidade. Entretanto, é certo
que as universidades existiram não só como uma necessidade de sua época, mas também
como uma disputa entre o ensino laico e religioso. Podemos ver que mesmo com uma
mentalidade dominada pela Igreja, há o florescimento e a expansão do ensino e da cultura,
além da recuperação do conhecimento da antiguidade. Portanto, o lance da “Idade das
Trevas” nem sempre foi “trevas”. Dizem que o autor desse termo foi o intelectual e poeta
italiano Francesco Petrarca em referência ao declínio da literatura latina, o que o fez
considerar o período como obscuro ou tenebroso.
Os iluministas também adotaram o termo “Idade das Trevas”, pois entendiam o medievo
como uma época de misticismo e superstição, no qual a ciência ficou relegada a segundo
plano e o mundo era regido das sagradas escrituras. A existência e o desenvolvimento das
universidades mostram o quanto esse termo é errôneo, mas essa revisão foi feita somente
no século XX. No século XV, as universidades difundiram o humanismo que é um
conjunto de valores e ideias que priorizam a visão de mundo do homem.

Durante séculos, a teoria teocêntrica predominou na Europa. Todos os fatos da vida


humana eram determinados por princípios divinos e baseados na fé. Se tudo é determinado
pela vontade divina, então faz parte do plano superior o homem ter nascido servo ou nobre
e a imobilidade social é vista como algo natural, inato e que não pode ser transformado.
Isso contribuiu para a manutenção da estrutura feudal enquanto esse pensamento vigorou.
Então, a expansão do conhecimento permite ao homem questionar o seu papel no mundo
e, é claro, o papel de Deus na ordem das coisas. Na Idade Moderna, o homem não é mais
um mero espectador, mas um agente transformador da realidade e do mundo que o cerca,
interferindo diretamente em seu meio. Esse é o principal sentido do humanismo, ou do
antropocentrismo, na qual as necessidades humanas passam a ser valorizadas.

Progressivamente, a Igreja Católica passa a ser questionada. Além disso, a Igreja condena o
lucro e a usura, que por sua vez não é a base do comércio que permitirá à burguesia
enriquecer. Não é a toa que a burguesia será um dos principais agentes que apoiarão as
reformas religiosas. A antiguidade trazia a filosofia e a arte dos traços humanistas como,
por exemplo, a filosofia de Platão e Aristóteles sobre a organização social, ou na medicina
de Hipócrates.

O Renascimento veio como um conjunto de valores que se manifesta não só na pintura e


escultura, mas na medicina, na física, na astronomia e em vários campos do saber. Isso
acontece porque são transformações no campo das ideias e por isso afetam o
conhecimento humano como um todo. Entre os séculos XV e XVI, Leonardo da Vinci é
considerado um homem do renascimento por excelência. Suas pinturas são conhecidas no
mundo todo, mas Da Vinci também foi inventor e engenheiro, acumulando diversos
saberes e atuando em diversas áreas. Isso mostra o espírito científico e artístico da época,
que busca no homem e na natureza a explicação para vários fenômenos da vida cotidiana.

Entretanto, a produção do conhecimento não estava totalmente livre da interferência da


Igreja. Cientistas como Galileu foram duramente perseguidos por defenderem suas ideias e
teorias. Temos também o Nicolau Copérnico que, no século XV, mudaria por completo a
astronomia através da teoria geocêntrica. Entretanto, tal teoria é condenada pela Igreja. Foi
no ano de 1542, quando o papa Paulo III restabelece o tribunal da inquisição que passa a
observar as descobertas científicas mais de perto. E, por fim, a invenção da imprensa por
Guttemberg revoluciona definitivamente o mundo moderno. As obras científicas puderam
chegar a um número muito maior de pessoas. Mesmo sendo proibidos pela Igreja Católica,
alguns livros são impressos e distribuídos clandestinamente. Isso não se restringe as
camadas mais altas da sociedade. Cada vez mais o homem comum buscará a educação
como uma maneira de transitar no mundo das ideias, de fazer parte dessa nova realidade.

Resumo da Aula 06 – Novas e Velhas Mentalidades

Na Igreja Católica existiam alguns pensadores que procuravam conciliar as novas


transformações e descobertas com a ideologia católica. Temos, como exemplo. S. Tomás
de Aquino que conseguiu alinhar duas instâncias aparentemente incompatíveis, a fé e a
razão. A escola de pensamento fundada por S. Tomás de Aquino se denominará tomismo e
seus princípios foram fundamentais para a manutenção do ideal eclesiástico durante a
Idade Moderna. Seus escritos serão uma das mais importantes bases do pensamento
moderno. De fato, para elaborar suas teses, S. Tomás recupera um filósofo da antiguidade,
Aristóteles.

Aristóteles dedicava-se à política, à poesia e à astronomia, tendo sido um dos primeiros a


defender o modelo geocêntrico de universo que foi refutado posteriormente por Copérnico
e Galileu. Podemos reconhecer aqui um exemplo de como o conhecimento é cumulativo.
Apesar da teoria geocêntrica não ser a correta, ela serviu como ponto de partida para a
elaboração de novas teorias. Ao retomar Aristóteles, S. Tomás destaca o método de
observação de mundo desse filósofo. Dessa forma, a partir do pensamento tomista, a igreja
adquire um fundamento teológico, baseado na Bíblia e um fundamento racional, baseado
na filosofia. A fé se mantém como o fundamento da obra tomista, mas ao dedicar sua vida
a racionalizar os princípios da fé, sendo reconhecido pela Igreja por sua contribuição
ideológica, o filósofo buscou demonstrar que todas as coisas que existem provinham de
Deus e não havia nenhuma contradição ou separação entre a fé e a ciência.

Por um outro lado, dogma não pode ser racionalizado. Dogma é um princípio irrefutável e
a partir do qual uma crença é fundada. Por exemplo, Maria, mãe de Jesus, concebeu
virgem. Esse é um princípio de fé: ou acreditamos ou não acreditamos. As ideias tomistas
fazem com que a Igreja seja um dos principais representantes da filosofia escolástica. A
escolástica é uma corrente filosófica muito disseminada na Idade Média, em especial a
partir do século XI e que teria servido como ponto de partida para a filosofia moderna.

Por um outro lado, as classes baixas foram, durante muito tempo, uma classe silenciosa.
Não haviam livros sobre ela, não narravam suas memórias, não eram imortalizadas na
literatura ou nas artes plásticas, mas sempre estiveram ali mostrando suas forças nas
grandes eclosões sociais como os motins de fome e as revoluções burguesas. Uma das mais
preciosas ferramentas para transmitir o conhecimento entre as classes baixas era a
oralidade. Assim, práticas cotidianas, artes de cura, senso comum, histórias, lendas
passavam de pai para filho através da oralidade. Sendo que cada geração ouvia e
transformava aquilo que escutava de acordo com suas próprias experiências e com o tempo
em que vivia. Como contribuição para tais estudos, o historiador italiano Carlo Ginzburg
analisou os arquivos inquisitoriais italianos e deparou-se com um processo de um moleiro
chamado Domenico Scandella, conhecido como Menocchio, e sobre ele traçou um dos
mais importantes estudos de caso para a compreensão da mentalidade popular da época.
Ginzburg defende a existência de uma influência recíproca entre as culturas das classes
abastadas e das classes subalterna.

Em seguida temos Mikhail Bakthtin que foi um russo que se dedicou a estudar a literatura e
a cultura popular na Idade Média. Bakthtin escreveu diversas obras, dentre elas, Cultura
popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Nesta obra,
Bakthtin estuda a obra de Rabelais a partir das trocas entre a cultura popular e a cultura
erudita de seu tempo. Ao se utilizar de um conceito gestado originalmente na linguística e
na filosofia da linguagem, Ginzburg faz o uso da interdisciplinaridade que propõe o uso de
conceitos produzidos por diversas ciências humanas, ou seja, um livre trânsito de
utilizações e usos dos conceitos.

Por mais que aparentemente exista uma cultura dominante e esta seja mais visível em
monumentos, documentos e fontes, esta cultura jamais será “pura”. Ela sempre estará em
contato e absorverá a característica da cultura popular e vice-versa. Temos como exemplo,
as criações de Shakespeare que não eram movidas pela vontade divina, mas faziam suas
escolhas, certas ou erradas, e sofriam as consequências de seus atos. Othelo mata sua
amada por ciúmes, Hamlet enlouquece, Romeu e Julieta preferem morrer juntos a viver
separados. Ou seja, o homem assume as rédeas de seu próprio destino, um dos princípios
do humanismo.

Nas palavras de Ginzburg, são homens como nós, mas ainda assim, muito diferentes de
nós. Devem, portanto, ser entendidos a partir da dimensão humana, como indivíduos
inseridos em sua própria época e que dispõem de seu próprio conjunto de ideias e
costumes, e não serem pensados como uma massa, uniforme e sem rosto, que atua como
coadjuvante nos processos históricos.

Resumo da Aula 07 – Uma Disputa Secular: Gládio Espiritual e Gládio


Temporal

Roma, a exemplo de outras civilizações da antiguidade, era politeísta, ou seja, acreditava em


vários deuses. A mitologia romana é uma herança da mitologia grega e os romanos
incorporam os deuses gregos, renomeando-os, mas mantendo as mesmas características.
Zeus para os gregos é Júpiter para os Romanos, a deusa Hera em Roma assume o nome de
Juno e assim por diante. Após a morte de Cristo, seus seguidores e os apóstolos são
perseguidos e mortos. Sua crença no Deus único é vista como uma ameaça ao império
romano. Entretanto, com a conversão do apóstolo Paulo, o Cristianismo passa a ser
pregado e expandido para o Ocidente. Então, no início do século IV, os cristãos obtém de
Roma a liberdade de culto e no fim desse mesmo século, o cristianismo se torna a religião
oficial do império através da conversão do imperador Constantino.

Não podemos garantir a vida espiritual do imperador Constantino. O cristianismo


expandia-se por todas as partes do império e a conversão de Constantino acabou por
garantir-lhe o apoio dos numerosos fieis que aumentavam a cada dia. Após a crise e o fim
do Império Romano, a Igreja Católica continua a existir e a aumentar seu poder,
confundindo-se cada vez mais com o próprio estado. Quando ocorrem as invasões
bárbaras que desagregam o império, os germanos adotam o Deus dos cristãos. Podemos
perceber mais uma vez que mesmo com o fim de uma era, não significa seu completo
desaparecimento e as culturas, sejam elas vencidas ou vencedoras, mantêm um diálogo e
influenciam-se mutuamente. A igreja constituiu muito mais que um apoio espiritual, mas
também a própria identidade política e cultural do continente.

Apesar dos feudos constituírem a estrutura medieval fragmentada, onde cada um tinha os
seus costumes, a igreja surge como uma instituição única. O mesmo livro sagrado, missas
em latim, a mesma hierarquia que são montadas em todos os lugares. Progressivamente, o
seu poder econômico será igualmente importante ao lugar que ela já ocupa na mentalidade
europeia. Através de compras e doações dos fieis, a igreja se torna a maior proprietária de
terras do continente. Essa prosperidade era obtida e ampliada através de diversos
mecanismos e estratégias. As famílias mais ricas pagavam pelo privilégio de serem
enterradas no interior dos templos. Quanto mais próximo do altar, mais rica e nobre era a
família.

Além disso, a ideologia católica condenava o lucro e a usura, ou seja, o acúmulo primitivo
de riqueza. Muitos senhores pagavam uma enorme quantia para que seu nome fosse
mencionado nas missas, mesmo após sua morte. Então, como propriedades de terras a
igreja também era uma senhora feudal e possuía os privilégios dessa posição. Suas terras
eram arfadas pelos servos e, da mesma maneira que ocorria com os demais senhores
feudais, recebia uma parte dessas colheitas. Por um outro lado, a igreja era isenta a pagar
impostos, podendo assim acumular riquezas e expandir sua influência.

Os templos católicos característicos da idade média possuem dois grandes estilos, o


romântico e o gótico. As catedrais góticas transmitem o que se espera ser o sentimento do
homem diante de Deus: humildade e adoração. Essas catedrais possuem um efeito
tridimensional, com suas naves em arco, que dão a ideia de que o homem é pequeno diante
de Deus. A mais famosa catedral europeia é a de Notre Dame, em Paris. Notre Dame foi
consagrada à Maria, mãe de Cristo, e sua construção remonta ao século XII.

No momento da colonização da América, o papel da Igreja foi fundamental e nele


podemos notar a disputa entre os poderes temporais e espirituais, colocando a igreja de um
lado e o estado, de outro. A exemplo de Portugal, a ordem jesuíta se fez presente nos
primeiros momentos de suas colônias. É certo que a igreja moderna não é a mesma igreja
que vivenciou o período medieval, mas sua presença na configuração dos estados nacionais
aponta para uma transformação e adaptação aos novos tempos. Não é possível estudar o
período de transição sem levar em conta o papel da doutrina religiosa nos assuntos de
estado. Se é aparentemente mais fácil perceber a religiosidade nos hábitos da população,
que mantém seus costumes e crenças, é na esfera do estado que a igreja consolida seu
poder.

Resumo da Aula 08 – As Grandes Navegações

Além do renascimento comercial e urbano, uma das maiores transformações na vida


econômica moderna foram as chamadas grandes navegações. Devemos entender esse
processo como fruto de um conjunto de fatores, em especial, o fortalecimento da burguesia
e a centralização do Estado. Se o século XIV a peste negra marcou a Europa gerando um
enorme período de fome e pelas rebeliões camponesas, o século XV foi um momento de
relativa prosperidade. O comércio e o lucro gerado pelo poder monetário, se tornam as
maiores fontes de riqueza do período permitindo que o chamemos de acumulação de
capital.

Conseguimos visualizar o aspecto cultural quando falamos da chegada do europeu na


América, do contato com os indígenas, da imposição cultural do branco, mas não temos
essa mesma percepção quando falamos da cultura presente no próprio processo da
expansão marítima. O mar era a própria definição de desconhecido para os europeus. E, é
claro, tememos o que é desconhecido. Portanto, aventurar-se no Oceano era uma
experiência repleta de muitos perigos. Pois durante a Idade Média, o comércio era quase
inexistente, a vida se restringia aos domínios feudais e o mar caiu no esquecimento. Sobre
ele se contavam várias lendas e esta visão era o lar de criaturas marinhas apavorantes.

Além da questão cultural, a sobrevivência de algumas estruturas econômicas feudais foi um


empecilho para o início da exploração marítima. Pois, no século XV, ainda predominava o
trabalho servil, mas este não se desenvolvia no mesmo ritmo que o comércio urbano. Isso
acarreta uma crise agrícola que, por sua vez, gerou crises de abastecimento generalizadas. A
produção agrícola não era suficiente para abastecer o campo e a cidade. A este problema,
soma-se o comércio de luxo europeu, que produzia lucros extraordinários baseado nas
especiarias vindas do Oriente. Primeiro, era necessário organizar uma caravana de
mercadores e isso exigia transporte e muito dinheiro. Tais caravanas percorriam um
caminho enorme até chegar ao Oriente. Algumas partes desse caminho estavam sob o
domínio dos árabes que cobravam altas taxas para permitir a passagem das mercadorias.
Quando chegava ao destino, o mercado europeu tinha preços exorbitantes para poder
compensar todos os gastos realizados e, além disso, gerar lucro. A nobreza era uma das
principais consumidoras de tais produtos, mas sua principal fonte de renda eram as terras
que, por sua vez, não produziam tanto quanto deviam para suprir estes gastos.

A situação se tornou mais grave em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos
otomanos. Constantinopla era a porta de entrada para o Oriente e o domínio muçulmano
encareceu ainda mais as especiarias como cravo, canela, gengibre, sedas e perfumes. E, para
agravar mais ainda a situação, parte dos metais preciosos eram utilizados para pagar as
mercadorias do Oriente, o que provocava uma enorme escassez de moedas. Então, já que
as caravanas eram um empreendimento muito caro, imaginem toda a estrutura necessária
para navegar pelo Oceano. Só o Estado centralizado tinha poder e estrutura econômica
suficiente para apoiar e organizar este empreendimento.

Cristóvão Colombo já havia proposto uma viagem marítima, muitos anos antes, aos reis
Isabel e Fernando. Entretanto, a Espanha lutava para se unificar, sendo necessária a
expulsão dos muçulmanos que ainda dominavam Granada. Os muçulmanos foram
expulsos em 1492 e, nesse mesmo ano, os reis católicos concederam permissão a Colombo
para realizar a viagem. Em outubro do mesmo ano, Colombo chegou às ilhas de caribe
acreditando ter chegado às Índias. Acabou que chamando seus habitantes de índios.
Colombo não acreditava que tinha chegado a um continente desconhecido. Coube a
Américo Vespúcio a chegada ao continente, que por isso ficou conhecido como América.

Diferente dos portugueses que se fixaram no litoral, os espanhóis se dedicaram a explorar


as novas terras, deparando-se com diversas sociedades indígenas, entre elas a asteca e a
inca. A exploração dos metais preciosos das minas, em especial a prata do Peru, elevou a
Espanha a um novo patamar e a tornou um dos grandes impérios europeus. Em 1494, foi
assinado o Tratado de Tordesilhas que estabelecia os limites das possessões espanholas e
portuguesas.

A dificuldade em administrar um território tão extenso logo se fez sentir. Impedir o desvio
de metais preciosos, assegurar a chegada dos navios em segurança na Europa e montar uma
rede administrativa eficiente foram alguns dos principais problemas que se apresentaram.
Dessa forma, o ouro e a prata que chegavam na península Ibérica logo escoava para os
bolsos da Inglaterra e Holanda. Vários tratados foram firmados beneficiando a Inglaterra,
mas prejudicando Portugal.

O Tratado de Methuen, por exemplo, ficou conhecido como tratado de panos e vinhos
entre Inglaterra e Portugal no século XVIII. Portugal teria privilégios para comprar os
tecidos ingleses e, em troca, Inglaterra teria os mesmos privilégios na compra de vinhos
portugueses. Como tinha um comprador garantido, muitos agricultores se dedicaram ao
plantio da uva, causando uma crise no abastecimento. Além disso, a demanda por tecidos
era muito maior que a demanda por vinhos, mantendo a balança comercial desfavorável.
Portugal sempre comprava mais do que vendia. A Inglaterra aplicou a chamada negligência
salutar, que permitia que os colonos se organizassem livremente minimizando os conflitos
entre colônia e metrópole. E os colonos tinham uma referência política a própria Inglaterra
e seu sistema parlamentar.

Podemos então entender que a expansão marítima foi um acontecimento global que
emergiu o conhecimento de novas culturas, e o estabelecimento de novas estruturas
sociopolíticas que se aperfeiçoaram durante toda a era moderna.
Resumo da Aula 09 – Ampliando o Olhar

Como de costume, grande parte dos estudos e pesquisas valorizam o olhar europeu. Mas a
modernidade não ocorre somente na Europa, ela atinge também outros países fora do eixo
Inglaterra-França e Península Ibérica. A dificuldade que temos em estudar a modernidade
em países como a China, por exemplo, é que a China se manteve fechada ao Ocidente
durante décadas, o que dificultou o acesso às fontes e, portanto, a elaboração de pesquisas.
Em 1949, na revolução comunista, China se isola do resto do mundo, em uma postura que
durou um longo tempo. Logo, só muito recentemente é que conseguimos nos dedicar com
mais profundidade a história deste país.

Vamos analisar a modernidade ocorrida em três casos: Sacro Império Romano Germânico,
Rússia e China.

O Império Romano, mesmo após a sua extinção, era o símbolo de civilização e traduzia a
própria ideia do mundo ocidental. A trajetória do Sacro Império Romano Germânico
começa com Carlos Magno e o Império Carolíngio. No século VIII, Carlos Magno,
governante do reino franco, anexou os territórios da península itálica e expandiu seu
território até tornar o Reino Franco um dos maiores e mais poderosos de sua época. As
conquistas de Carlos Magno chamaram atenção da Igreja Católica, pois o desejo do papa
era ampliar a fé e o poderio católico, amparado na expansão territorial dos francos. No
natal do ano 800, o papa coroou Carlos Magno como sagrado imperador em Roma. Tal ato
é simbólico e repleto de significado. O Natal é a festa máxima da cristandade e significa o
nascimento de Cristo. A coroação nesta data mostra um outro nascimento, o de um
imperador. Por ter sido em Roma, centro do Império Romano, remete ao apoio da Igreja e,
portanto, de Deus. Podemos perceber que o Império Romano permanece vivo como
herança imaterial das sociedades deste período.

Quando Carlos Magno morre, seu filho Luís, herda o trono. Como era filho único, não
houve disputas pelo poder, mas Luís tinha três filhos e após sua morte, o enorme império
construído nas gerações anteriores foi dividido em três reinos: França Oriental, França
Ocidental e França Central. No século X, os duques germânicos fundam o Reino
Germânico e elegem Henrique I, do reino da Saxônia, como seu rei. Mas foi Oto I, filho de
Henrique I, quem o transformou em um grande império. Oto foi coroado imperador pelo
papa João XII e, mais uma vez nascia um imperador e o império, o Sacro Império Romano
Germânico.
A história do império russo se confunde com a história religiosa. A Rússia, muito antes de
se organizar como uma estrutura imperial, foi invadida pelos povos bárbaros, os mongóis e,
mais tarde, os tártaros. A Rússia estava dividida em principados e os príncipes russos
pagavam tributos aos bárbaros. Esse período é conhecido como domínio tártaro-mongol.
Os bárbaros foram extremamente tolerantes no que se relacionava à prática religiosa, neste
caso, a Igreja Ortodoxa Cristã.

O principal centro da fé ortodoxa era Constantinopla, mas com sua queda e a tomada pelos
turcos otomanos, a fé russa tornou-se um fator agregador. Se com a tomada de
Constantinopla, a Europa Ocidental preponderou a questão econômica que levaria à
expansão marítima, na Rússia preponderou o aspecto espiritual, a partir do momento em
que esta se viu como guardiã da fé ortodoxa. Então, no século XIV, os russos se reúnem e
procuram expulsar os invasores bárbaros, após séculos de dominação. A religião neste caso
funciona como um motor, proporcionando uma identidade entre etnias muito diversas. A
presença dos bárbaros deixou uma forte herança que se fez sentir também do ponto de
vista administrativo. Os príncipes russos impunham o terror e praticavam uma extensa
cobrança de impostos que enriquecia e favorecia o estado em expansão.

Na China, o século III a.C foi marcado na divisão de reinos, mas já no século seguinte foi
unificada por Qin Shihuang. O imperador centralizou o poder e estabeleceu uma nova
administração, padronizando a escrita e a moeda. Estabeleceu também uma espécie de
censura, queimando todos os livros que não fossem considerados clássicos. Apesar da
cobrança de impostos, o primeiro império passou por crises econômicas, mas estas não
abalaram o desejo de grandeza e imortalidade do imperador. Na década de 70, foram
descobertas aproximadamente oito mil estátuas na cidade de Xian. O exército de Terracota
tinha como objetivo guardar o túmulo do imperador.

A chamada dinastia Qin iniciou a construção de um dos mais famosos monumentos do


mundo, a muralha da China. O objetivo da Muralha era repelir invasores, mas este objetivo
não foi plenamente alcançado. No século XIII, a China foi invadida pelos mongóis, sob o
comando de Genghis Khan. Ao contrário da aliança ocorrida na Rússia, na China os
mongóis ficaram conhecidos por sua violência e ferocidade, saqueando cidades e
dizimando parte da população local. Entretanto, foi o impulso conquistador e
expansionista de Genghis Khan que deu a China parte de sua dimensão continental, pois os
mongóis dominaram grande parte da Ásia e do Leste Europeu. Após sua expulsão, tais
territórios acabaram com os impérios russo e chinês, além de alguns outros estados
independentes.

A modernidade chinesa ocorre após a expulsão dos mongóis e durante a dinastia Ming, no
século XIV. Esta dinastia investiu na formação de um poderoso exército, contando com
milhares de soldados. Ampliou o comércio marítimo, terminou a construção da grande
muralha e iniciou a construção da Cidade Proibida, na capital, Pequim. Os governantes
Ming criaram um eficiente sistema de produção agrícola que gerava um enorme excedente
agrário. O comércio marítimo na Europa foi estimulado e uma enorme quantia de metal
precioso fluía para os cofres chineses. Então, no século XVI, a Companhia das Índias
Orientais passou a transportar da China para a Europa um novo tesouro: a porcelana.
Neste mesmo século, os japoneses tentaram conquistar a China, e não foram bem-
sucedidos. Porém os esforços da guerra consumiram fortunas, e a próspera dinastia secular
Ming começa a entrar em decadência.

Juntando com a crise monetária chinesa, há um outro fator que nenhum governo consegue
controlar: o clima. No século XVII, a China passa por longos períodos de frio, o que
prejudica nas colheitas e provoca uma epidemia de fome generalizada. Além disso, o
comércio com os ingleses e holandeses foi prejudicado devido o fortalecimento de
vigilância levantado pelo rei espanhol, em combate contra a pirataria. Desde então, a
entrada de metais preciosos na China também diminuiu. O conjunto desses fatores corroeu
a outrora brilhante trajetória da dinastia Ming. As rebeliões camponesas veio com tudo e,
no século XVII, os manchus (da Manchúria) invadem e tomam o poder inaugurando a
dinastia Qing, a última dinastia chinesa, que perdurou até o fim da monarquia, no século
XX.

Resumo da Aula 10 – As Reformas Religiosas

Durante os nossos estudos, podemos perceber que a Igreja não se mantém inerte ao
conjunto de transformações sociopolíticas no mundo que a cerca, mas se adapta e cria
novos mecanismos para sobreviver e manter seu poder. Então, se na Idade Média o
catolicismo constituía um instrumento de unidade em uma realidade fragmentada, na idade
moderna teria que dividi-lo frente a um novo processo que se ampliava e conquistava
novos adeptos, mesmo entre os reis, a Reforma Protestante. A Reforma Protestante parte
dos princípios católicos e, a partir deles, busca novas maneiras de aproximar o homem de
Deus. Isso acontece porque a fé não diz respeito somente ao campo espiritual, mas,
sobretudo, ao campo político.

No século XVI, a força da religião é inegável, seja ela cristã ou não. Países muçulmanos
ainda possuem líderes políticos que são também líderes religiosos. O Dalai Lama é o líder
espiritual do Tibet, mas desde que o país passou a ser dominada pela China, na década de
50, o Dalai Lama foi expulso, mas não perdeu, para os tibetanos, seu papel de líder político
do país. Os Estados pontifícios desapareceram, mas o Vaticano sobreviveu, tendo o papa
como líder de seu Estado. Cada vez mais a religião evangélica se expande, sobretudo na
América, estando presente em órgãos importantes como as câmaras e senados ao longo de
todo o continente.

As grandes transformações históricas são como correntes, com vários elos entre si. Para
falar de reforma, temos que, antes de tudo, falar das transformações políticas e econômicas
do Estado moderno. Com a ascensão da burguesia veio junto uma contradição: ao passo
que obtinham poder econômico, viam o lucro e a usura, fontes de sua riqueza, serem
veemente condenados pela religião que seguiam, o catolicismo. Lucro é o ganho oriundo
de uma relação comercial. É a diferença entre o valor de produção da mercadoria e seu
preço da venda. Já a usura é o lucro exagerado, no qual se paga mais do que o valor real do
bem.

Nesse panorama, podemos inferir que a reforma ocorre não só devido a um contexto
político econômico, mas também espiritual. É a ascensão da burguesia, o renascimento
comercial e a centralização dos Estados que criam condições para que ela ocorra e se
propague. No século XII, floresceu na França o movimento cátaro que acreditava na
dualidade, no bem e no mal, e reivindicava uma vida de pureza, pobreza e celibato dos
clérigos. A Igreja considerava o movimento herético, e no século XIII ocorreu as cruzadas
albigenses, com o objetivo de reconduzir a população aos princípios da fé católica. Deve-se
aos cátaros a criação da Inquisição. Então, é um equívoco dizer que a Inquisição passou a
existir na contrarreforma.

Um dos precursores da reforma foi Jan Huss que se inspirou em um teólogo inglês, John
Wyclif. Wyflcif traduziu a Bíblia para o inglês e fazia enormes críticas aos abusos do
papado, ao luxo da Igreja e ao estilo de vida do clero que vivia de forma opulenta com o
dinheiro dos pobres. Tais críticas chegaram na região da Boêmia onde Huss vivia. A
Boêmia era parte do Sacro Império Romano Germânico que por sua vez tinha relações
intrínsecas com a Igreja. Huss foi excomungado e queimado na fogueira.

Dois pontos chamam atenção em especial no comportamento da Igreja:

Primeiro, no caso de Wycliff, ao traduzir a bíblia para o inglês, ele permitia que mais
pessoas tivessem acesso a ela, já que grande parte da população não dominava o latim. Isso
tornava possível novas interpretações do documento sagrado e, portanto, novas ideias
sobre ela;
A punição de Huss. Se considerarmos a noção de contrato social, que os iluministas se
dedicaram a estudar com afinco, cabe ao Estado o uso da força e da violência. O que inclui
o direito de julgar e punir crimes e transgressões. Quando a Igreja assume o papel que, por
direito, pertence ao Estado, está demonstrando a fusão entre religião e política.

Interessante saber que os pensadores reformistas não eram pensadores laicos, e sim
membros da Igreja, teólogos, professores das universidades, pensadores que estavam
ligados ao catolicismo e conheciam seus dogmas. Martinho Lutero, por exemplo, vivia no
Sacro Império Romano Germânico e, como teólogo, vivendo em um país onde Igreja e
Estado se confundiam, passou a estudar profundamente a Bíblia. Além de perceber as
contradições no seio da Igreja, Lutero se concentrou nos ensinamentos bíblicos de Paulo,
no Novo Testamento e na obra de Santo Agostinho. Ele parte de um princípio que é parte
integral do ensinamento bíblico, a salvação pela fé.

Lutero passou a incentivar não só a consolidação da fé individual, mas tira a ideia de que a
Igreja é intermediária entre o homem e Deus. Em 1517, ele fixa na porta da catedral de
Wittenberg suas 95 teses, na qual defende um contato mais próximo entre homem e Deus,
o incentivo da fé e a leitura bíblica. O luteranismo então levantou um impasse. Quanto o
imperador o condenava, diversos príncipes o estimulavam e incentivavam abertamente.
Então, para solucionar o problema, em 1555, a Dieta de Augsburgo concedeu autonomia a
cada príncipe para adotar sua própria religião em seus domínios.

As ideias luteranas se espalharam como um incêndio pela Europa. Aproximadamente em


1534, o francês João Calvino, a partir da reforma luterana, estabeleceu sua própria doutrina,
o Calvinismo. Simplificando o culto e a arquitetura dos templos, Calvino criou uma
doutrina acessível, baseado na chamada doutrina da predestinação. Por um outro lado, os
burgueses estavam especialmente interessados nas novas doutrinas que se espalhavam pela
Europa porque não condenavam o lucro, nem o comércio lícito. E, também, estimulavam
o trabalho e a prosperidade de seus fiéis, o que vinha exatamente ao encontro dos anseios
burgueses.

Então, vendo seus templos esvaziarem e suas ideologias em risco, a Igreja Católica inicia a
contrarreforma. No século XVI é levantado o Concílio de Trento que estabelecia as
estratégias de reação católicas. Neste concílio, reafirma-se a importância da missa e do
celibato eclesiástico. Reafirma-se também a transubstanciação do pão e vinho no corpo e
sangue da missa, no sacramento da comunhão, além de reforçar a hierarquia da Igreja e o
culto aos santos. Também é fundada a Companhia de Jesus, conhecida também como
Ordem Jesuíta. Tal ordem foi levantada com princípios militares, e seus membros eram
chamados de Soldados de Cristo. Seu objetivo era levar a fé católica aos povos pagãos,
especialmente na América. Se na Europa a Igreja perdia terreno, com o apoio dos reinos
ibéricos, o mesmo não iria acontecer nas terras coloniais. A Igreja também levantou o
Index Proibithorum, uma lista de livros proibidos e cuja posse e leitura constituíram uma
heresia.

O que estamos presenciando é uma radicalização da Igreja. Entre escolher se adaptar e


rever sua ideologia, ela optou por fortalecê-los e torná-los ainda mais inquisidores. As
mudanças nas mentalidades costumam ser fenômenos de longa duração. Não foi este o
caso da reforma. As mudanças provocadas foram tão intensas e profundas que
ultrapassaram oceanos, chegaram à América e à Ásia e alteraram completamente o
panorama do mundo moderno.

Mas, como todo processo histórico, deve ser entendida em seu contexto de produção e no
conjunto de fatores que levaram não só ao movimento reformista, mas também a reação
católica. Restringi-lo ao campo de uma mudança ideológica ou no plano das ideias seria
simplificá-lo, assim como vê-lo como fruto da necessidade de uma nova classe social.
Todos os fatores atuaram para que a reforma fosse definitiva e a fé na modernidade
adquirisse novas práticas e novas representações.

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