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ÉTICA, LEGISLAÇÃO E

EXERCÍCIO PROFISSIONAL
EM ENFERMAGEM

autoras
ILKA BARBOSA PEGORARO
JANE APARECIDA CRISTINA
MARIA ALICE DE FREITAS COLLI OLIVEIRA
REGILENE MOLINA ZACARELI CYRILLO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares

Autoras do original  ilka barbosa pegoraro, jane aparecida cristina, maria alice de
freitas colli oliveira e regilene molina zacareli cyrillo

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gladis linhares

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  amanda duarte aguiar

Revisão de conteúdo  michel shpielman

Imagem de capa  pleprakaymas | dreamstime.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

E84 ÉTICA, legislação e exercício profissional em enfermagem /


Ilka Barbosa Pegoraro; Jane Aparecida Cristina; Maria Alice de
Freitas Colli Oliveira; Regilene Molina Zacareli Cyrillo.
Rio de Janeiro: SESES, 2015.
176 p : il.

isbn: 978-85-5548-128-4

1. Ética. 2.Legislação. 3. Ética profissional SESES. Estácio.


cdd 170

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

1. Valores e Ética 7

1.1  Definição de valores e ética 9


1.2  Formação de valores 11
1.3  Valores pessoais e profissionais em enfermagem 12

2. Legislação em Enfermagem 17

2.1  Lei nº 5.905, De 12 de julho de 1973 18


2.2  Lei nº 5.905, de 12.07.73 22
2.3  Lei nº 7.498, de 25.06.86 27
2.4  Lei nº 8.967, De 28 de dezembro de 1994 33
2.5  Resolução COFEN – 311/2007 33
2.6  Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem 34
2.6.1 Preâmbulo 34
2.6.2  Princípios Fundamentais 35
2.6.3  Capítulo I 36
2.6.3.1 Direitos 36
2.6.3.2 Proibições 36
2.6.4  Seção I 37
2.6.4.1 Direitos 37
2.6.4.2 Proibições 38
2.6.5  Seção II 39
2.6.5.1 Direitos 39
2.6.5.2  Responsabilidade e deveres 39
2.6.5.3 Proibições 40
2.6.6  Seção III 40
2.6.6.1 Direitos 40
2.6.6.2  Responsabilidade e deveres 40
2.6.6.3 Proibições 41
2.6.7  Seção IV 41
2.6.7.1 Direitos 41
2.6.7.2  Responsabilidades e deveres 42
2.6.7.3 Proibições 42
2.6.8  Capítulo II 43
2.6.8.1  Do sigilo profissional 43
2.6.8.2  Responsabilidades e deveres 43
2.6.8.3 Proibições 44
2.6.9  Capítulo III 44
2.6.9.1 Direitos 44
2.6.9.2  Responsabilidades e deveres 45
2.6.9.3 Proibições 45
2.6.10  Capítulo IV 46
2.6.10.1 Direitos 46
2.6.10.2  Responsabilidades e deveres 46
2.6.10.3 Proibições 46
2.6.11  Capítulo V 46
2.6.12  Capítulo VI 49
2.6.13  Capítulo VII 49
2.7  Resolução COFEN Nº 370/2010 50
2.8  Código de processo ético disciplinar dos
conselhos de enfermagem 51
2.8.1  Título I 51
2.8.2  Capítulo I 51
2.8.3  Capítulo II 52
2.8.4  Capítulo III 53
2.8.5  Capítulo IV 54
2.8.6  Título II 55
2.8.7  Capítulo I 55
2.8.7.1  Da admissibilidade 55
2.8.8  Capítulo II 57
2.8.9  Capítulo III 58
2.8.10  Capítulo IV 59
2.8.10.1  Seção I 59
2.8.10.2  Seção II 60
2.8.10.3  Seção III 61
2.8.10.4  Seção IV 61
2.8.10.5  Capítulo V 62
2.8.10.6  Capítulo VI 63
2.8.10.7  Capítulo VII 65
2.8.11  Seção I 67
2.8.12  Seção II 69
2.8.13  Seção III 71
2.8.14  Seção IV 71
2.8.15  Seção V 71
2.8.16  Título III 72
2.8.16.1  Capítulo I 72
2.8.16.2  Capítulo II 73
2.8.17  Título IV 75
2.8.18  Título V 76
2.8.18.1  Capítulo I 76
2.8.18.2  Capítulo II 77
2.8.18.3  Capítulo III 77
2.8.19  Título VI 78
2.8.20  Título VII 79
2.8.21  Título VIII 80
2.8.22  Título IX 81
2.8.23  Título X 81

3. Instituições de Classe da Enfermagem 83

3.1  Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn 86


3.2  Marcos Históricos da ABEn 88
3.2.1 Estrutura 89
3.3  Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e
Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN) 90
3.3.1 Competências: 91
3.4  Conselho Regional de Enfermagem (COREN) -
órgão de execução, decisão e normatização suplementar: 92
3.4.1  Sindicato 92
4. Ética em Enfermagem e Comitê de Ética de
Enfermagem 97

4.1  Comissões de Ética de Enfermagem (CEE) 101

5. A Sistematização da Assistência de Enfermagem e


os Aspectos Éticos e Legais do Cuidar 117

5.1  Consulta de enfermagem e sua articulação


com o exercício profissional da enfermagem 126

6. Aspectos Éticos da Enfermagem na Gestão dos


Cuidados 131

Atividade 135

7. A Ética da Enfermagem no Home Care 137

7.1  Definição 139


7.2  Qualificações do profissional para o exercício do home care 141
7.3  Como lidar com situações que fogem aos serviços prestados 142
7.4  Normas essenciais para o profissional home-care 142
7.5  Atribuições do enfermeiro nesse cenário de atuação: 143

8. Fundamentação Ética para Pesquisa em


Enfermagem 145

8.1  Princípios básicos 150


8.2  Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. 152
1
Valores e Ética
OBJETIVOS
Neste capítulo os discentes serão habilitados a:

•  Debater os modos nos quais os valores são aprendidos.


•  Dizer como os valores influenciam as atitudes pessoais e os comportamentos.
•  Refletir sobre o processo de esclarecimento de valores
•  Refletir sobre sua ética e seus valores pessoais.
•  Reconhecer o papel da ética na prática diária de enfermagem.
•  Distinguir as questões éticas das morais e legais.
•  Esclarecer a relação entre responsabilidade ética.
•  Distinguir a natureza dos conflitos éticos confrontados pelos profissionais de enfermagem.
•  Esclarecer o processo usado para a solução de problemas éticos.

8• capítulo 1
No novo milênio, ao qual estamos vivendo, cercados por questões éticas em to-
das as situações relativas ao nosso cotidiano, observamos um elevado interesse
nos campos da ética na premissa de compreender melhor como estes nos in-
fluenciam. Especificamente, na assistência a saúde, o olhar sobre a ética tem se
ampliado na tentativa de responder as controvérsias do desenvolvimento nos
avanços tecnológicos com consequência nas contratações de recursos profis-
sionais qualificados de enfermagem.
E essa qualificação, com alicerce na graduação, necessita rever diversifica-
dos conceitos e valores, pessoais e profissionais, a fim de propiciar relações éti-
cas a serem desenvolvidas com os pacientes. Nessa perspectiva, o profissional
de enfermagem deve entender que os seus valores não devem conflitar com os
do paciente que estão sob seus cuidados, pois diante da sua função acadêmica
ou profissional, deve estar empenhado no desenvolvimento de uma autocons-
ciência para abranger atitudes, sentimentos e controlar o comportamento nas
relações interpessoais no trabalho, assim como no convívio com os pacientes.
Conflitos éticos são inevitáveis na prática diária da enfermagem, visto que
os valores do profissional de enfermagem, do paciente e da sociedade não dei-
xam de interagir. O profissional não pode se esquecer diariamente das ques-
tões éticas, que envolvem suas ações no lidar com pacientes e com a equipe
multidisciplinar que atua na saúde.
Uma vez que são trabalhados com os profissionais de enfermagem os valo-
res éticos que motivam o comportamento pessoal e profissional, é mais fácil
ajudar os pacientes a identificar seus próprios valores que podem influenciar
comportamentos e atitudes pessoais. Contemplando o ensino da ética no cui-
dado em enfermagem, compreende-se que é necessário aprofundar o conheci-
mento sobre valores para se poder encontrar valores e deveres que nos condu-
zam a uma maior responsabilidade em relação ao outro.

1.1  Definição de valores e ética


A palavra valor pode significar merecimento, talento, reputação, coragem e va-
lentia. Assim, podemos afirmar que os valores humanos são valores morais que
afetam a conduta das pessoas. Esses valores morais podem também ser consi-
derados valores sociais e éticos, e constituem um conjunto de regras estabele-
cidas para uma convivência saudável dentro de uma sociedade. Podemos dizer

capítulo 1 •9
que o valor é uma certeza pessoal sobre uma dada ideia ou comportamento. Os
valores de um indivíduo refletem necessidades pessoais, culturais, influências
sociais e relacionamentos interpessoais. Os valores variam entre todas as pes-
soas, transformam-se com o tempo. Um sistema de valores bem desenvolvido
faz com que a tomada de decisões seja uma tarefa relativamente sem conflitos.
Portanto, valores é o conjunto de características de uma determinada pes-
soa ou organização, que determinam a forma como a pessoa ou organização se
comportam e interagem com outros indivíduos e com o meio ambiente.
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A
palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. A
ética consiste nos princípios ou padrões que determinam a conduta correta. O
termo origina-se da palavra grega “ethos”, que significa costume. A ética refere-
se ao que é certo e errado, o que é dever ou obrigação. Sendo uma característica
de todas as profissões, a ética protege os direitos dos homens. A ética pode ser
confundida com lei, embora que, com certa frequência a lei tenha como base
princípios éticos. Porém, diferente da lei, nenhum indivíduo pode ser compeli-
do, pelo Estado ou por outros indivíduos a cumprir as normas éticas, nem sofrer
qualquer sanção pela desobediência a estas; mas a lei pode ser omissa quan-
to a questões abrangidas pela ética. A ética abrange uma vasta área, podendo
ser aplicada à vertente profissional. Existem códigos de ética profissional, que
indicam como um indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão.
Os valores influenciam como um indivíduo percebe os outros e como ele age.
Quando os valores entram em conflito, a ética frequentemente entra em cena
e o resultado é o dilema. Não há situação absolutamente certa ou errada, mas
uma pessoa não deve comprometer os valores de outra quando tentar resolver
um dilema ético. Por exemplo, um enfermeiro de uma comunidade, solicitado
por um colega de trabalho para entrar em greve, precisa decidir-se entre a leal-
dade a seus colegas e aos pacientes. No sentido prático, a finalidade da ética e
da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases
que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e
virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.
Valores éticos, morais e legais não estão necessariamente relacionados. Uma
crença moral é uma forte convicção de que alguma coisa é absolutamente certa
ou errada em todas as situações. Desta maneira, o que é uma questão moral
para uns é dilema ético para outros, tendo como exemplo as questões relativas
sobre sexualidade na adolescência assim como o aborto.

10 • capítulo 1
Valores e ética regem o modo de uma pessoa agir e dão sentido à vida, sendo
que a prática da enfermagem exige que o profissional de enfermagem trabalhe
com as regras legais e éticas e que, ao mesmo tempo, sem deixar o seu conceito
pessoal de valores internos. Com isso surgem possíveis conflitos de valores e,
provavelmente, o profissional precisa estar preparado para lidar com dilemas
éticos e solucionar os conflitos vivenciados de maneira adequada assegurando
a qualidade da assistência.
A ética determina a conduta apropriada e é tão importante quanto os direi-
tos legais.

1.2  Formação de valores


Nos valores da profissão estão embutidos o conhecimento atualizado e a auto-
nomia do profissional para que, com competência, atinja através da ação uma
assistência qualificada ao ser humano; em termos filosóficos práticos, este pro-
fissional deve procurar alcançar, por meio da ação, o bem do homem e nesse
sentido integrar questões éticas no seu agir. Valores são aprendidos pela obser-
vação e experiência. O valor requer sempre uma experiência ou uma vivência
posto que a reivindica para que seja possível, nesta interação, fazer emergir o
sujeito cognoscente, capaz de sentir, de visualizar de reconhecer e de apreen-
der estes valores. Deste modo não é possível uma definição do que sejam va-
lores, mas uma clarificação. Atrelar o valor a uma vivência humana remete à
compreensão de que o componente de valoração é intrínseco ao ser humano,
permeando sua existência, ressaltando que os valores não são captados pelo
intelecto, nem constituem, fins determinados pela vontade, mas são apreen-
didos pela pessoa por meio de emoções e sentimentos. Um indivíduo observa
não somente o comportamento, mas também o ambiente no qual ele ocorre e
a reação que ele provoca.
A existência de crenças e valores vivenciados na família, na formação e no
exercício profissional influenciam a convivência e a maneira de enxergar e atu-
ar no mundo cotidiano nas ocorrências éticas que envolvem os profissionais de
enfermagem. Sendo assim, os enfermeiros, ao se depararem com as ocorrên-
cias éticas na cotidianidade de suas vivências profissionais, utilizam o estoque
de conhecimentos que dispõem, a fim de nortear suas ações e tomar decisões
em relação aos encaminhamentos, orientações e providências em relação aos
profissionais envolvidos nas ocorrências éticas.

capítulo 1 • 11
Nesse sentido, o aperfeiçoamento moral da sociedade decorre da maneira
como as pessoas constroem sua concepção de mundo e sua forma de sentir e
valorar a realidade ao longo de sua história, expressando, em cada ação, sua in-
dividualidade, seu modo-de-ser e suas convicções. Os valores se articulam entre
o indivíduo e o social a partir de uma relação sentimental, afetiva.

1.3  Valores pessoais e profissionais em


enfermagem

Os valores são o resultado de uma escolha ou hábitos pessoais já descritos ante-


riormente. Uma pessoa que escolhe a carreira de enfermagem a princípio terá
uma capacidade superficial de identificar qual o real papel do profissional em
enfermagem. Mas, após relacionar-se com a profissão, ele logo verificará a inte-
ração de valores pessoais e profissionais.
Devemos considerar que todo ser humano tem seu valor próprio que é a
crença de uma pessoa em se considerar valiosa para as pessoas importantes de
sua vida. O valor próprio está relacionado à confiança, à expressão de emoções
e à capacidade de se relacionar com as outras pessoas.
Existem muitos outros valores, como a confiabilidade e a competência, que
o enfermeiro adquire durante sua formação e socialização. Se os valores pes-
soais são similares aos ideais para o trabalho, os profissionais assumem seu
papel com pouca dificuldade; se eles são incompatíveis, o profissional de enfer-
magem provavelmente se sentirá frustrado e insatisfeito.
Nesse sentido, uma reflexão filosófica consciente e coerente acerca dos va-
lores humanos
que norteiam o processo de humanização e do princípio da responsabilida-
de social poderá auxiliar na problematização das reais necessidades, isto é, das
vantagens e/ou desvantagens que o progresso impõe na prática dos profissio-
nais da saúde.
Convém lembrar, portanto, que todo o desenvolvimento técnico-científico
relacionado à vida, além de conduzir o ser humano para as novidades associa-
das às esperanças terapêuticas, poderá, também, originar temores e enormes
dilemas éticos que desafiam a prática dos profissionais da saúde.

12 • capítulo 1
RESUMO
Um conjunto pessoal de valores sobre ideias a comportamentos influencia decisões e ações
e, em parte, determina uma identidade. A consciência de valores de uma pessoa ajuda a
tomar decisões e evitar conflitos. Um paciente consciente dos valores relacionados à saúde
e aos comportamentos de saúde está apto a participar mais integralmente do tratamento
médico e um profissional de enfermagem, que seja consciente dos valores, está mais apto a
ajudar os pacientes a determinar seus valores e tomar decisões.
A ética consiste dos princípios que regem a conduta apropriada. O profissional de en-
fermagem deve assumir papéis que incluem diversas responsabilidades, nas quais dilemas
éticos complexos podem aflorar. Os princípios morais de uma pessoa são convicções sobre
o que é certo e errado. Do ponto de vista ético, pode nãohaver diretrizes claras do que é certo
ou errado.
As pessoas formam valores através da observação e experiência. Os profissionais de
enfermagem possuem valores pessoais e profissionais. Com a socialização da profissão de
enfermagem, esses dois conjuntos de valores podem tornar-se únicos. O processo de deter-
minação de valores pode ser valioso no aumento da consciência do profissional a respeito do
impacto dos valores pessoais no comportamento profissional e em evitar conflitos dentro do
sistema de valores do profissional, ou entre profissionais e os valores dos pacientes.
A determinação de valores é o uso de várias estratégias para explorar o sentido do signi-
ficado dos comportamentos e valores de uma pessoa. Por causa dos rápidos avanços sociais
e tecnológicos, o papel dos profissionais de enfermagem tornou-se mais diversificado e ele
tornou-se mais independente. Os princípios éticos que regem a prática da enfermagem se
modificaram, para se compatibilizar com o crescimento da profissão.
Os profissionais de enfermagem enfrentam uma variedade de problemas éticos. Um pro-
fissional precisa estar familiarizado com as questões envolvendo a prática diária.
Para resolver um problema ético, um profissional usa um processo sistemático para en-
tender a natureza do problema e planejar uma linha de conduta responsável. Nenhum dilema
ético é facilmente resolvido. O profissional deve dedicar tempo e desenvolver o compromisso
pessoal necessário para chegar às decisões éticas lógicas, justas e humanitárias.

REFLEXÃO
ESTUDO DE CASO 1: Nome: A.O., 6 anos, com diagnóstico de doença degenerativa crô-
nica. Está internado há 5 meses na UTI. Mantem em quadro de dependência total, sendo

capítulo 1 • 13
alimentado por sonda e respira com auxílio de aparelhos. Os pais, que possuem outros filhos,
inclusive um bebe de 10 meses, entraram com solicitação na Justiça para o desligamento
dos aparelhos que mantem a criança viva. Como você avalia esta conduta? Esta conduta tem
amparo ético? Explique com suas palavras
ESTUDO DE CASO 2: Nome: A Srª J.A., 80 anos, tem diagnóstico de câncer de pulmão
com metástase óssea em tratamento. Encontra-se internada em Hospital Público, no CTI
há 1 mês. • Está em coma desde o início de sua internação, mantida por aparelhos. A visita
de seus filhos estão tornando cada vez menos frequente devido ao trabalho. Devido sua
idade e quadro que se apresenta, seus familiares solicitam que todo o seu tratamento seja
suspenso. Como você avalia esta conduta? Esta conduta tem amparo ético? Explique com
suas palavras.

ATIVIDADES
01. Explique como os valores do profissional de enfermagem podem influenciar a interação
com o paciente que detém valores diferentes.

02. Descreva a importância dos valores durante o decorrer da vida profissional

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capítulo 1 • 15
16 • capítulo 1
2
Legislação em
Enfermagem
2.1  Lei nº 5.905, De 12 de julho de 1973
Dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem e dá
outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional de-
creta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - São criados o Conselho Federal de enfermagem (COFEN) e os
Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN), constituindo em seu conjunto
uma autarquia, vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Art. 2º - O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são órgãos disciplina-
dores do exercício da profissão de enfermeiro e das demais profissões compre-
endidas nos serviços de enfermagem.
Art. 3º - O Conselho Federal, ao qual ficam subordinados os Conselhos
Regionais, terá jurisdição em todo o território nacional e sede na Capital da
República.
Art. 4º - Haverá um Conselho Regional em cada Estado e Território, com
sede na respectiva capital, e no Distrito Federal.
Parágrafo único – O Conselho Federal poderá, quando o número de profis-
sionais habilitados na unidade da federação for inferior a cinquenta, determi-
nar a formação de regiões, compreendendo mais de uma unidade.
Art. 5º - O Conselho Federal terá nove membros efetivos e igual número de
suplentes, de nacionalidade brasileira, e portadores de diploma de curso de en-
fermagem de nível superior.
Art. 6º - Os membros do Conselho Federal e respectivos suplentes serão elei-
tos por maioria de votos, em escrutínio secreto, na Assembleia dos Delegados
Regionais.
Art. 7º - O Conselho Federal elegerá dentre seus membros, em sua primeira
reunião, o Presidente, o Vice-Presidente, o Primeiro e o Segundo Secretários e o
Primeiro e Segundo Tesoureiros.
Art. 8º - Compete ao Conselho Federal:
I. aprovar seu regimento interno e o dos Conselhos Regionais;
II. instalar os Conselhos Regionais;
III. elaborar o Código de Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando
necessário, ouvidos os Conselhos Regionais;
IV. baixar provimentos e expedir instruções, para uniformidade de proce-
dimento e bom funcionamento dos Conselhos Regionais;

18 • capítulo 2
V. dirimir as dúvidas suscitadas pelos Conselhos Regionais;
VI. apreciar, em grau de recursos as decisões dos Conselhos Regionais;
VII. instituir o modelo das carteiras profissionais de identidade e as insíg-
nias da profissão;
VIII. homologar, suprir ou anular atos dos Conselhos Regionais;
IX. aprovar anualmente as contas e a proposta orçamentária da autarquia,
remetendo-as aos órgãos competentes;
X. promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional;
XI. publicar relatórios anuais de seus trabalhos;
XII. convocar e realizar as eleições para sua diretoria;
XIII. exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei.
Art. 9º - O mandato dos membros do Conselho Federal será honorífico e
terá a duração de três anos, admitida uma reeleição.
Art. 10º - A receita do Conselho Federal de Enfermagem será constituída de:
I. um quarto da taxa de expedição das carteiras profissionais;
II. um quarto das multas aplicadas pelos Conselhos Regionais;
III. um quarto das anuidades recebidas pelos Conselhos Regionais;
IV. doações e legados;
V. subvenções oficiais;
VI. rendas eventuais.
Parágrafo único – Na organização dos quadros distintos para inscrição de
profissionais o Conselho Federal de Enfermagem adotará como critério, no
que couber, o disposto na Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955.
Art. 11 – Os Conselhos Regionais serão instalados em suas respectivas se-
des, com cinco a vinte e um membros e outros tantos suplentes, todos de nacio-
nalidade brasileira, na proporção de três quintos de enfermeiros e dois quintos
de profissionais das demais categorias de pessoal de enfermagem reguladas
em lei.
Parágrafo único – O número de membros dos Conselhos Regionais será
sempre ímpar, e a sua fixação será feita pelo Conselho Federal em proporção ao
número de profissionais inscritos.
Art. 12 – Os membros dos Conselhos Regionais e respectivos suplentes se-
rão eleitos por voto pessoal secreto e obrigatório em época determinada pelo
Conselho Federal em Assembleia Geral especialmente convocada para esse
fim.

capítulo 2 • 19
§ 1º - Para a eleição referida neste artigo serão organizadas chapas separa-
das, uma para enfermeiros e outra para os demais profissionais de enferma-
gem, podendo votar em cada chapa, respectivamente, os profissionais referi-
dos no artigo 11.
§ 2º - Ao eleitor que, sem causa justa, deixar de votar nas eleições referidas
neste artigo, será aplicada pelo Conselho Regional multa em importância cor-
respondente ao valor da anuidade.
Art. 13 – Cada Conselho Regional elegerá seu Presidente, Secretário e
Tesoureiro, admitida a criação de cargos de Vice-Presidente, Segundo Secretário
e Segundo Tesoureiro para os Conselhos com mais de doze membros.
Art. 14 – O mandato dos membros dos Conselhos Regionais será honorífico
e terá a duração de três anos admitida uma reeleição.
Art. 15 – Compete aos Conselhos Regionais:
I. deliberar sobre inscrição no Conselho e seu cancelamento;
II. disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observadas as diretrizes
gerais do Conselho Federal;
III. fazer executar as instruções e provimentos do Conselho Federal;
IV. manter o registro dos profissionais com exercício na respectiva
jurisdição;
V. conhecer e decidir os assuntos atinentes à ética profissional impondo
as penalidades cabíveis;
VI. elaborar a sua proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimen-
to interno e submetê-lo à aprovação do Conselho Federal;
VII. expedir a carteira profissional indispensável ao exercício da profissão,
a qual terá fé pública em todo o território nacional e servirá de documento de
identidade;
VIII. zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam;
IX. publicar relatórios anuais de seus trabalhos e a relação dos profissio-
nais registrados;
X. propor ao Conselho Federal medidas visando à melhoria do exercício
profissional;
XI. fixar o valor da anuidade;
XII. apresentar sua prestação de contas ao Conselho Federal, até o dia 28 de
fevereiro de cada ano;
XIII. eleger sua diretoria e seus delegados eleitores ao Conselho Federal;

20 • capítulo 2
XIV. exercer as demais atribuições que lhes forem conferidas por esta Lei ou
pelo Conselho Federal.
Art. 16 – A renda dos Conselhos Regionais será constituída de:
I. três quartos da taxa de expedição das carteiras profissionais;
II. três quartos das multas aplicadas;
III. três quartos das anuidades;
IV. doações e legados;
V. subvenções oficiais, de empresas ou entidades particulares;
VI. rendas eventuais.
Art. 17 – O Conselho Federal e os Conselhos Regionais deverão reunir-se,
pelo menor, uma vez mensalmente.
Parágrafo único – O Conselheiro que faltar, durante o ano, sem licença pré-
via do respectivo Conselho, a cinco reuniões perderá o mandato.
Art. 18 – Aos infratores do Código de Deontologia de Enfermagem poderão
ser aplicadas as seguintes penas:
I. advertência verbal;
II. multa;
III. censura;
IV. suspensão do exercício profissional;
V. cassação do direito ao exercício profissional.
§ 1º - As penas referidas nos incisos I, II, III e IV deste artigo são da alçada
dos Conselhos Regionais e a referida no inciso V, do Conselho Federal, ouvido
o Conselho Regional interessado.
§ 2º - O valor das multas, bem como as infrações que implicam nas diferen-
tes penalidades, serão disciplinadas no Regimento do Conselho Federal e dos
Conselhos Regionais.
Art. 19 – O Conselho Federal e os Conselhos Regionais terão tabela própria
de pessoal, cujo regime será o da Consolidação das Leis do Trabalho.
Art. 20 – A responsabilidade pela gestão Administrativa e financeira dos
Conselhos caberá aos respectivos diretores.
Art. 21 – A composição do primeiro Conselho Federal de Enfermagem, com
mandato de um ano, será feita por ato do Ministro do Trabalho e Previdência
Social, mediante indicação, em lista tríplice, da Associação Brasileira de
Enfermagem.
Parágrafo único – Ao Conselho Federal assim constituído caberá, além das
atribuições previstas nesta Lei:

capítulo 2 • 21
a) promover as primeiras eleições para composição dos Conselhos
Regionais e instalá-los;
b) promover as primeiras eleições para composição do Conselho Federal,
até noventa dias antes do término do seu mandato.
Art. 22 – Durante o período de organização do Conselho Federal de
Enfermagem, o Ministério do Trabalho e Previdência Social lhe facilitará a uti-
lização de seu próprio pessoal, material e local de trabalho.
Art.23 – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.
Brasília, 12 de julho de 1973;
152º da Independência e 85º da República.
EMÍLIO G. MÉDICI
Júlio Barata

2.2  Lei nº 5.905, de 12.07.73


Publicada no DOU de 13.07.73
Seção I fls. 6.825
LEI Nº 7.498, DE 25 DE JUNHO DE 1986
Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras
providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional de-
creta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - É livre o exercício da enfermagem em todos o território nacional,
observadas as disposições da lei.
Art. 2º - A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exer-
cidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de
Enfermagem com jurisdição na área onde ocorre o exercício.
Parágrafo único – A enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro,
pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, res-
peitados os respectivos graus de habilitação.
Art. 3º - O planejamento e a programação das instituições e serviços de saú-
de incluem planejamento e programação de enfermagem.
Art. 4º - A programação de enfermagem inclui a prescrição da assistência de
enfermagem.

22 • capítulo 2
Art. 5º - (VETADO).
§ 1º (VETADO).
§ 2º (VETADO).
Art. 6º - São enfermeiros:
I. o titular do diploma de Enfermeiro conferido por instituição de ensino,
nos termos da lei;
II. o titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de Enfermeira
Obstétrica, conferido nos termos da lei;
III. o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diplo-
ma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente,
conferido por escola estrangeira segundo as leis do país, registrado em virtude
de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de
Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;
IV. aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiverem título
de Enfermeiro conforme o disposto na alínea d do art. 3º do Decreto nº 50.387,
de 28 de março de 1961.
Art. 7º - São Técnicos de Enfermagem:
I. o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expe-
dido de acordo com a legislação e registrado pelo órgão competente;
II. o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola
ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural
ou revalidado no Brasil como diploma de Técnico de Enfermagem.
Art. 8º - São Auxiliares de Enfermagem:
I. o titular de certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por insti-
tuição de ensino, nos termos da lei e registrado no órgão competente;
II. o titular de diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de
1956;
III. o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso III do art. 2º
da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº
4.024, de 20 de dezembro de 1961;
IV. o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem,
expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e
Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de
Saúde nas Unidades da Federação, nos termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22
de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº
3.640, de 10 de outubro de 1959.

capítulo 2 • 23
V. o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do
Decreto-lei nº 299, de 28 de fevereiro de 1967;
VI. o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estran-
geiro, segundo as leis do país, registrado em, virtude de acordo de intercâmbio
cultural ou revalidado no Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem.
Art. 9º - São Parteiras:
I. a titular do certificado previsto no art. 1º do Decreto-lei nº 8.778, de 22
de janeiro de 1946, observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de
1959;
II. a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equivalente, conferi-
do por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em vir-
tude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a
publicação desta lei, como certificado de Parteira.
Art. 10 (VETADO).
Art. 11 – O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem,
cabendo-lhe:
I – privativamente:
a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica da
instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de
enfermagem;
b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades
técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;
c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos ser-
viços da assistência de enfermagem;
d) (VETADO);
e) (VETADO);
f) (VETADO);
g) (VETADO);
h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de
enfermagem;
i) consulta de enfermagem;
j) prescrição da assistência de enfermagem;
k) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
l) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam
conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas;
II – como integrante da equipe de saúde:

24 • capítulo 2
a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação
de saúde;
b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assisten-
ciais de saúde;
c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pú-
blica e em rotina aprovada pela instituição de saúde;
d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de
internação;
e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de doenças
transmissíveis em geral;
f) prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à
clientela durante a assistência de enfermagem;
g) assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;
h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
i) execução do parto sem distocia;
j) educação visando à melhoria de saúde da população.
Parágrafo único – Às profissionais referidas no inciso II do art. 6º desta lei
incumbe, ainda:
a) assistência à parturiente e ao parto normal;
b) identificação das distocias obstétricas e tomada de providências até a
chegada do médico;
c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local,
quando necessária.
Art. 12 – O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envol-
vendo orientação e acompanhamento do trabalho de enfermagem em grau au-
xiliar, e participação no planejamento da assistência de enfermagem, cabendo-
lhe especialmente:
a) participar da programação da assistência de enfermagem;
b) executar ações assistenciais de enfermagem, exceto as privativas do
Enfermeiro, observado o disposto no parágrafo único do art. 11 desta lei;
c) participar da orientação e supervisão do trabalho de enfermagem em
grau auxiliar;
d) participar da equipe de saúde.
Art. 13 – O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de na-
tureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de enfermagem sob supervi-
são, bem como a participação em nível de execução simples, em processos de

capítulo 2 • 25
tratamento, cabendo-lhe especialmente:
a) observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;
b) executar ações de tratamentos simples;
c) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente;
d) participar da equipe de saúde.
Art. 14 – (VETADO).
Art. 15 – As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta lei, quando exercidas
em instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, so-
mente podem ser desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro.
Art. 16 – (VETADO).
Art. 17 – (VETADO).
Art. 18 – (VETADO).
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 19 – (VETADO).
Art. 20 – Os órgãos de pessoal da administração pública direta e indireta,
federal, estadual, municipal, do Distrito Federal e dos Territórios observarão,
no provimento e cargos e funções e na contratação de pessoal de enfermagem,
de todos os graus, os preceitos desta lei.
Parágrafo único – Os órgãos a que se refere este artigo promoverão as medi-
das necessárias à harmonização das situações já existentes com as disposições
desta lei, respeitados os direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários.
Art. 21 – (VETADO)
Art. 22 – (VETADO)
Art. 23 – O pessoal que se encontra executando tarefas de enfermagem,
em virtude de carência de recursos humanos de nível médio nessa área, sem
possuir formação específica regulada em lei, será autorizado, pelo Conselho
Federal de Enfermagem, exercer atividades elementares de enfermagem, ob-
servado o disposto no art. 15 desta lei.
Parágrafo único – A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos
critérios baixados pelo Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser
concedida durante o prazo de 10 (dez) anos, a contar da promulgação desta lei.
Art. 24 – (VETADO).
Parágrafo único – (VETADO).
Art. 25 – O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 120 (cento e
vinte) dias a contar da data de sua publicação.
Art. 26 – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

26 • capítulo 2
Art. 27 – Revogam-se (VETADO) as demais disposições em contrário.
Brasília, 25 de junho de 1986;
165º da Independência e 98º da República.
JOSÉ SARNEY
Almir Pazzianotto Pinto

2.3  Lei nº 7.498, de 25.06.86


Publicada no DOU de 26.06.86
Seção I – fls. 9.273 a 9.275
DECRETO Nº 94.406, de 08 de junho de 1987
Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o
exercício da Enfermagem, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o
Art. 81, item III, da Constituição, e tendo em vista o disposto no Art. 25 da Lei nº
7.498, de 25 de junho de 1986, decreta:
Art. 1º - O exercício da atividade de Enfermagem, observadas as disposições
da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, e respeitados os graus de habilitação,
é privativo de Enfermeiro, Técnico de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e
Parteiro e só será permitido ao profissional inscrito no Conselho Regional de
Enfermagem da respectiva região.
Art. 2º - As instituições e serviços de saúde incluirão a atividade de
Enfermagem no seu planejamento e programação.
Art. 3º - A prescrição da assistência de Enfermagem é parte integrante do
programa de Enfermagem.
Art. 4º - São Enfermeiros:
I. o titular do diploma de Enfermeiro conferido por instituição de ensino,
nos termos da lei;
II. o titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de Enfermeira
Obstétrica, conferidos nos termos da lei;
III. o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma
ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, confe-
rido por escola estrangeira segundo as respectivas leis, registrado em virtude
de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de
Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;

capítulo 2 • 27
IV. aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiveram tí-
tulo de Enfermeira conforme o disposto na letra “d”do Art. 3º do Decreto-lei
Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961.
Art. 5º - São técnicos de Enfermagem:
I. o titular do diploma ou do certificado de técnico de Enfermagem, expe-
dido de acordo com a legislação e Registrado no órgão competente;
II. o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola
ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural
ou revalidado no Brasil como diploma de técnico de Enfermagem.
Art. 6º - São Auxiliares de Enfermagem:
I. o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por insti-
tuição de ensino, nos termos da Lei e registrado no órgão competente;
II. o titular do diploma a que se refere a Lei n° 2.822, de 14 de junho de
1956;
III. o titular do diploma ou certificado a que se refere o item III do Art. 2º
da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº
4.024, de 20 de dezembro de 1961;
IV. o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem,
expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e
Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de
Saúde nas Unidades da Federação, nos termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22
de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº
3.640, de 10 de outubro de 1959;
V. o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do
Decreto-lei nº 299, de 28 de fevereiro de 1967;
VI. o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estran-
geiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio
cultural ou revalidado no Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem.
Art. 7º - São Parteiros:
I. o titular de certificado previsto no Art. 1º do nº 8.778, de 22 de janeiro
de 1946, observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;
II. o titular do diploma ou certificado de Parteiro, ou equivalente, confe-
rido por escola ou curso estrangeiro, segundo as respectivas leis, registrado
em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil, até 26 de junho de
1988, com certificado de Parteiro.
Art. 8º - Ao enfermeiro incumbe:

28 • capítulo 2
I – privativamente:
a) direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da
instituição de saúde, pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de
Enfermagem;
b) organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades
técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;
c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos ser-
viços da assistência de Enfermagem;
d) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de
Enfermagem;
e) consulta de Enfermagem;
f) prescrição da assistência de Enfermagem;
g) cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;
h) cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exi-
jam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões
imediatas;
II – como integrante da equipe de saúde:
a) participação no planejamento, execução e avaliação da programação
de saúde;
b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assisten-
ciais de saúde;
c) prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas
de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;
d) participação em projetos de construção ou reforma de unidades de
internação;
e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar, inclusive
como membro das respectivas comissões;
f) participação na elaboração de medidas de prevenção e controle siste-
mático de danos que possam ser causados aos pacientes durante a assistência
de Enfermagem;
g) participação na prevenção e controle das doenças transmissíveis em
geral e nos programas de vigilância epidemiológica;
h) prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puépe-
ra e ao recém-nascido;
i) participação nos programas e nas atividades de assistência integral à
saúde individual e de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários
e de alto risco;

capítulo 2 • 29
j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
k) execução e assistência obstétrica em situação de emergência e execu-
ção do parto sem distocia;
l) participação em programas e atividades de educação sanitária, visando
à melhoria de saúde do indivíduo, da família e da população em geral;
m) participação nos programas de treinamento e aprimoramento de pes-
soal de saúde, particularmente nos programas de educação continuada;
n) participação nos programas de higiene e segurança do trabalho e de
prevenção de acidentes e de doenças profissionais e do trabalho;
o) participação na elaboração e na operacionalização do sistema de refe-
rência e contra-referência do paciente nos diferentes níveis de atenção à saúde;
p) participação no desenvolvimento de tecnologia apropriada à assistên-
cia de saúde;
q) participação em bancas examinadoras, em matérias específicas de
Enfermagem, nos concursos para provimento de cargo ou contratação de
Enfermeiro ou pessoal Técnico e Auxiliar de Enfermagem.
Art. 9º - Às profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou
de Enfermeira Obstétrica, além das atividades de que trata o artigo precedente,
incumbe:
I. prestação de assistência à parturiente e ao parto normal;
II. identificação das distocias obstétricas e tomada de providências até a
chegada do médico;
III. realização de episiotomia e episiorrafia com aplicação de anestesia lo-
cal, quando necessária.
Art. 10º - O Técnico de Enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível
médio técnico, atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe:
I – assistir o Enfermeiro:
a) no planejamento, programação, orientação e supervisão das atividades
de assistência de Enfermagem;
b) na prestação de cuidados diretos de Enfermagem a pacientes em esta-
do grave;
c) na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral em pro-
gramas de vigilância epidemiológica;
d) na prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar;
e) na prevenção e controle sistemático de danos físicos que possam ser
causados a pacientes durante a assistência de saúde;

30 • capítulo 2
f) na execução dos programas referidos nas letras “i” e “o” do item II do
Art. 8º.
II – executar atividades de assistência de Enfermagem, executadas as priva-
tivas do Enfermeiro e as referidas no Art. 9º deste Decreto:
III – integrar a equipe de saúde.
Art. 11 – O Auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível
médio atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe:
I. preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos;
II. observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, ao nível de sua
qualificação;
III. executar tratamentos especificamente prescritos, ou de rotina, além de
outras atividades de Enfermagem, tais como:
a) ministrar medicamentos por via oral e parenteral;
b) realizar controle hídrico;
c) fazer curativos;
d) aplicar oxigenoterapia, nebulização, enteroclisma, enema e calor ou
frio;
e) executar tarefas referentes à conservação e aplicação de vacinas;
f) efetuar o controle de pacientes e de comunicantes em doenças
transmissíveis;
g) realizar testes e proceder à sua leitura, para subsídio de diagnóstico;
h) colher material para exames laboratoriais;
i) prestar cuidados de Enfermagem pré e pós-operatórios;
j) circular em sala de cirurgia e, se necessário, instrumentar;
k) executar atividades de desinfecção e esterilização;
IV – prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar por sua segu-
rança, inclusive:
a) alimentá-lo ou auxiliá-lo a alimentar-se;
b) zelar pela limpeza e ordem do material, de equipamentos e de depen-
dência de unidades de saúde;
V – integrar a equipe de saúde;
VI – participar de atividades de educação em saúde, inclusive:
a) orientar os pacientes na pós-consulta, quanto ao cumprimento das
prescrições de Enfermagem e médicas;
b) auxiliar o Enfermeiro e o Técnico de Enfermagem na execução dos pro-
gramas de educação para a saúde;

capítulo 2 • 31
VII – executar os trabalhos de rotina vinculados à alta de pacientes;
VIII – participar dos procedimentos pós-morte.
Art. 12 – Ao Parteiro incumbe:
I. prestar cuidados à gestante e à parturiente;
II. assistir o parto normal, inclusive em domicílio; e
III. cuidar da puérpera e do recém-nascido.
Parágrafo único – As atividades de que trata este artigo são exercidas sob su-
pervisão de Enfermeiro Obstetra, quando realizadas em instituições de saúde,
e, sempre que possível, sob controle e supervisão de unidade de saúde, quando
realizadas em domicílio ou onde se fizerem necessárias.
Art. 13 – As atividades relacionadas nos arts. 10 e 11 somente poderão ser
exercidas sob supervisão, orientação e direção de Enfermeiro.
Art. 14 – Incumbe a todo o pessoal de Enfermagem:
I. cumprir e fazer cumprir o Código de Deontologia da Enfermagem;
II. quando for o caso, anotar no prontuário do paciente as atividades da
assistência de Enfermagem, para fins estatísticos;
Art. 15 – Na administração pública direta e indireta, federal, estadual, muni-
cipal, do Distrito Federal e dos Territórios será exigida como condição essencial
para provimento de cargos e funções e contratação de pessoal de Enfermagem,
de todos os graus, a prova de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem
da respectiva região.
Parágrafo único – Os órgãos e entidades compreendidos neste artigo pro-
moverão, em articulação com o Conselho Federal de Enfermagem, as medidas
necessárias à adaptação das situações já existentes com as disposições deste
Decreto, respeitados os direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários.
Art. 16 – Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 17 – Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 08 de junho de 1987;
166º da Independência e 99º da República.
JOSÉ SARNEY
Eros Antonio de Almeida
Dec. Nº 94.406, de 08.06.87
Publicado no DOU de 09.06.87
Seção I – fls. 8.853 a 8.855

32 • capítulo 2
2.4  Lei nº 8.967, De 28 de dezembro de
1994

Altera a redação do parágrafo único do art. 23 da Lei nº 7.498, de 25 de junho


de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá
outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional de-
creta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - O parágrafo único do art. 23 da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986,
passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 23 .........................................................................
Parágrafo único – É assegurado aos atendentes de enfermagem, admitidos
antes da vigência desta lei, o exercício das atividades elementares da enferma-
gem, observado o disposto em seu artigo 15.
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de dezembro de 1994;
173º da Independência e 106º da República.
ITAMAR FRANCO
Marcelo Pimentel

2.5  Resolução COFEN – 311/2007


Aprova a Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem.
O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso de sua competência
estabelecida pelo art. 2º, c.c. a Resolução COFEN-242/2000, em seu art. 13, in-
cisos IV, V, XV, XVII e XLIX;
CONSIDERANDO a Lei nº 5.905/73, em seu artigo 8º, inciso III;
CONSIDERANDO o resultado dos estudos originais de seminários realiza-
dos pelo COFEN com a participação dos diversos segmentos da profissão;
CONSIDERANDO o que consta dos PADs COFEN nos 83/91, 179/91, 45/92,
119/92 e 63/2002;
CONSIDERANDO a deliberação do Plenário em sua 346ª ROP, realizada em
30, 31 de janeiro de 2007.

capítulo 2 • 33
RESOLVE:
Art. 1º - Fica aprovado o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem
para aplicação na jurisdição de todos os Conselhos de Enfermagem.
Art. 2º - Todos os Profissionais de Enfermagem deverão conhecer o inteiro
teor do presente Código, acessando o site www.portalcofen.gov.br; www.por-
talenfermagem.gov.br e requerê-lo no Conselho Regional de Enfermagem do
Estado onde exercem suas atividades.
Art. 3º - Este Código aplica-se aos profissionais de Enfermagem e exercentes
das atividades elementares de enfermagem.
Art. 4º - Este ato resolucional entrará em vigor a partir de 12 de maio de
2007, correspondendo a 90 (noventa) dias após sua publicação, revogando a
Resolução COFEN nº 240/2000.
Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.
Dulce Dirclair Huf Bais
COREN-MS Nº 10.244
Presidente
Carmem de Almeida da Silva
COREN-SP Nº 2.254
Primeira-Secretária

2.6  Código de Ética dos Profissionais de


Enfermagem

2.6.1  Preâmbulo

A enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos


científicos e técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas
sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência.
Realiza-se na prestação de serviços à pessoa, família e coletividade, no seu con-
texto e circunstâncias de vida.
O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo pro-
cesso de construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromis-
so social e profissional configurado pela responsabilidade no plano das rela-
ções de trabalho com reflexos no campo científico e político.

34 • capítulo 2
A enfermagem brasileira, face às transformações socioculturais, científicas
e legais, entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem (CEPE).
A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de
Enfermagem com a participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, in-
cluiu discussões com a categoria de enfermagem.
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por
assunto e inclui princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições
pertinentes à conduta ética dos profissionais de enfermagem.
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem leva em consideração
a necessidade e o direito de assistência em enfermagem da população, os inte-
resses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoal, família e
coletividade e pressupõe que os trabalhadores de enfermagem estejam aliados
aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível toda
população.
O presente Código teve como referência os postulados da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas (1948) e adotada pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha
(1949), contidos no Código de Ética do Conselho de Ética do Conselho
Internacional de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação
Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como referência, ainda, o Código de
Deontologia de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (1976),
o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas
Internacionais e Nacionais sobre Pesquisa em Seres Humanos [Declaração
Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975), em Veneza (1983), em Hong Kong
(1989) e em Sommerset West (1996) e a Resolução 196 do Conselho Nacional de
Saúde, Ministério da Saúde (1996)].

2.6.2  Princípios Fundamentais

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de


vida da pessoa, família e coletividade.
O profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação
e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos
éticos e legais.
O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de
saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população

capítulo 2 • 35
e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que
garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da as-
sistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação
da comunidade, hierarquização e descentralização político-administrativa dos
serviços de saúde.
O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos hu-
manos, em todas as suas dimensões.
O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competência
para a promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princí-
pios da ética e da bioética.

2.6.3  Capítulo I

Das relações profissionais

2.6.3.1  Direitos

Art. 1º - Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado se-


gundo os ressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.
Art. 2º - Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que
dão sustentação a sua prática profissional.
Art. 3º - Apoiar as suas iniciativas que visem ao aprimoramento profissional
e à defesa dos direitos e interesses da categoria e da sociedade.
Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio
do Conselho Regional de Enfermagem.
Responsabilidade e deveres
Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutivi-
dade, dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.
Art. 6º - Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito,
na solidariedade e na diversidade de opinião e posição ideológica.
Art. 7º Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam
dispositivos legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

2.6.3.2  Proibições

Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de

36 • capítulo 2
membro da equipe de enfermagem, equipe de saúde e de trabalhadores de ou-
tras áreas, de organizações de categoria ou instituições.
Art. 9º - Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qual-
quer outro ato, que infrinja postulados éticos e legais.

2.6.4  Seção I

Das relações com a pessoa, família e coletividade.

2.6.4.1  Direitos

Art. 10 – Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência


técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional,
à pessoa, família e coletividade.
Art. 11 – Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coleti-
vidade, necessárias ao exercício profissional.
Responsabilidades e deveres
Art. 12 – Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enferma-
gem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.
Art. 13 – Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e
legal e somente aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho
seguro para si e para outrem.
Art. 14 – Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e cultu-
rais, em benefício da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da
profissão.
Art. 15 – Prestar assistência de enfermagem sem discriminação de qualquer
natureza.
Art. 16 – Garantir a continuidade da assistência de enfermagem em con-
dições que ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades
profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da categoria.
Art. 17 – Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a
respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência
de enfermagem.
Art. 18 – Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da
pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, trata-
mento, conforto e bem estar.

capítulo 2 • 37
Art. 19 – Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em
todo seu ciclo vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.
Art. 20 – Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento da pessoa, fa-
mília e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências
acerca de seu estado de saúde e tratamento.
Art. 21 – Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes
de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da
equipe de saúde.
Art. 22 – Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos
de emergência, epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.
Art. 23 – Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa
do cidadão, nos termos da lei.
Art. 24 – Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preserva-
ção do meio ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de polui-
ção e deterioração que comprometam a saúde e a vida.
Art. 25 – Registrar no prontuário do paciente as informações inerentes e in-
dispensáveis ao processo de cuidar.

2.6.4.2  Proibições

Art. 26 – Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se ca-


racterize como urgência ou emergência.
Art. 27 – Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento
da pessoa ou de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.
Art. 28 – Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper
a gestação.
Parágrafo único – Nos casos previstos em lei, o profissional deverá deci-
dir, de acordo coma sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato
abortivo.
Art. 29 – Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a anteci-
par a morte do cliente.
Art. 30 – Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem
certificar-se da possibilidade de riscos.
Art. 31 – Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos
previstos na legislação vigente e em situação de emergência.

38 • capítulo 2
Art. 32 – Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a
segurança da pessoa.
Art. 33 – Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissio-
nal, exceto em caso de emergência.
Art. 34 – Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma
de violência.
Art. 35 – Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência
prestada.

2.6.5  Seção II

Das relações com os trabalhadores de enfermagem, saúde e outros

2.6.5.1  Direitos

Art. 36 – Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com res-


ponsabilidade, autonomia e liberdade.
Art. 37 – Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica,
onde não conste a assinatura e o número de registro do profissional, exceto em
situações de urgência e emergência.
Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a execu-
tar prescrição medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro
ou elegibilidade.

2.6.5.2  Responsabilidade e deveres

Art. 38 – Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissio-


nais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.
Art. 39 – Participar da orientação sobre benefícios, riscos e consequências
decorrentes de exames e de outros procedimentos na condição de membro da
equipe de saúde.
Art. 40 – Posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissio-
nal seja por imperícia, imprudência ou negligência.
Art. 41 – Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas ne-
cessárias para assegurar a continuidade da assistência.

capítulo 2 • 39
2.6.5.3  Proibições

Art. 42 – Assinar as ações de enfermagem que não executou, bem como per-
mitir que suas ações sejam assinadas por outro profissional.
Art. 43 – Colaborar, direta ou indiretamente, com outros profissionais de
saúde, no descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos,
tecidos, esterilização humana, fecundação artificial e manipulação genética.

2.6.6  Seção III

Das relações com as organizações da categoria

2.6.6.1  Direitos

Art. 44 – Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido


de cumprir o presente Código, a legislação do exercício profissional e as resolu-
ções e decisões emanadas do Sistema COFEN/COREN.
Art. 45 – Associar-se, exercer cargos e participar de entidades de classe e ór-
gãos de fiscalização do exercício profissional.
Art. 46 – Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e
convocações.
Art. 47 – Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, medidas cabíveis
para obtenção de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exer-
cício profissional.

2.6.6.2  Responsabilidade e deveres

Art. 48 – Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão.


Art. 49 – Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que foram
preceitos do presente Código e da legislação do exercício profissional.
Art. 50 – Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fa-
tos que envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado
pela necessidade do profissional em cumprir o presente Código e a legislação
do exercício profissional.
Art. 51 – Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações
do Conselho Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

40 • capítulo 2
Art. 52 – Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.
Art. 53 – Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas
obrigações financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.
Art. 54 – Apor o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de
Enfermagem em assinatura, quando no exercício profissional.
Art. 55 – Facilitar e incentivar e participação dos profissionais de enferma-
gem no desempenho de atividades nas organizações da categoria.

2.6.6.3  Proibições

Art. 56 – Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de


Ética e às demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.
Art. 57 – Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que
envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela ne-
cessidade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do exer-
cício profissional.
Art. 58 – Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou
comprometam a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da
categoria.
Art. 59 – Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exer-
cício profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

2.6.7  Seção IV

Das relações com as organizações empregadoras

2.6.7.1  Direitos

Art. 60 – Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do


aprimoramento técnico-científico, do exercício da cidadania e das reivindica-
ções por melhoras condições de assistência, trabalho e remuneração.
Art. 61 – Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando
a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições
dignas para o exercício profissional que desrespeite a legislação do setor saúde,
ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo comunicar imedia-
tamente por escrito sua decisão ao Conselho Regional de Enfermagem.

capítulo 2 • 41
Art. 62 – Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de forma-
ção, a jornada de trabalho a complexidade das ações e a responsabilidade pelo
exercício profissional.
Art. 63 – Desenvolver suas atividades profissionais em condições de traba-
lho que promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob
seus cuidados, e dispor de material e equipamentos de proteção individual e
coletiva, segundo as normas vigentes.
Art. 64 – Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de mate-
rial ou equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação
específica.
Art. 65 – Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou
privada onde trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.
Art. 66 – Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu
exercício profissional e do setor saúde.
Art. 67 – Ser informado sobre as políticas da instituição e do serviço de en-
fermagem, bem como participar de sua elaboração.
Art. 68 – Registrar no prontuário, e em outros documentos próprios da en-
fermagem, informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

2.6.7.2  Responsabilidades e deveres

Art. 69 – Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento téc-


nico, científico e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação
e supervisão.
Art. 70 – Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades
de ensino, pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias delibe-
rativas da instituição.
Art. 71 – Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes
e indispensáveis ao processo de cuidar.
Art. 72 – Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de
cuidar de forma clara, objetiva e completa.

2.6.7.3  Proibições

Art. 73 – Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurí-


dicas que desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissio-
nal de enfermagem.

42 • capítulo 2
Art. 74 – Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-
se de concorrência desleal.
Art. 75 – Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital,
casa de saúde, unidade sanitária, clínica, ambulatória, escola, curso, empresa
ou estabelecimento congênere sem nele exercer as funções de enfermagem
pressupostas.
Art. 76 – Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e co-
letividade, além do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de
Enfermagem diferenciada ou benefícios de qualquer natureza para si ou para
outrem.
Art. 77 – Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas
físicas ou jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.
Art. 78 – Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou
cargo, para impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar sexual ou
moralmente, inferiorizar pessoas ou dificultar o exercício profissional.
Art. 79 – Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou
particular de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito pró-
prio ou de outrem.
Art. 80 – Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de
enfermagem ou de saúde, que não seja enfermeiro.

2.6.8  Capítulo II

2.6.8.1  Do sigilo profissional


Art. 81 – Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhe-
cimento em razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não
estejam obrigadas ao sigilo.

2.6.8.2  Responsabilidades e deveres

Art. 82 – Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em


razão de sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judi-
cial, ou com o consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu represen-
tante legal.
§ 1º - Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento públi-
co e em caso de falecimento da pessoa envolvida.

capítulo 2 • 43
§ 2º - Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado
quando necessário à prestação da assistência.
§ 3º - O profissional de enfermagem, intimado como testemunha, deverá
comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de
revelar o segredo.
§ 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser manti-
do, mesmo quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde
que o menor tenha capacidade de discernimento, exceto nos casos em que pos-
sa acarretar danos ou riscos ao mesmo.
Art. 83 – Orientar, na condição de enfermeiro, a equipe sob sua responsabi-
lidade, sobre o dever do sigilo profissional.

2.6.8.3  Proibições

Art. 84 – Franquear o acesso a informações e documentos para pessoas que


não estão diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos
previstos na legislação vigente ou por ordem judicial.
Art. 85 – Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma
que os envolvidos possam ser identificados.

2.6.9  Capítulo III

Do ensino, da pesquisa e da produção técnico-científica

2.6.9.1  Direitos

Art. 86 – Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeita-


das as normas ético-legais.
Art. 87 – Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desen-
volvidos com as pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local
de trabalho.
Art. 88 – Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção
técnico-científica.

44 • capítulo 2
2.6.9.2  Responsabilidades e deveres

Art. 89 – Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres hu-


manos, segundo a especificidade da investigação.
Art. 90 – Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à
integridade da pessoa.
Art. 91 – Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como
os direitos autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos
seus resultados.
Art. 92 – Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e
sociedade em geral.
Art. 93 – Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da pro-
fissão no ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas.

2.6.9.3  Proibições

Art. 94 – Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que


o direito inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou
ofereça qualquer tipo de risco ou dano aos envolvidos.
Art. 95 – Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos
ou estagiários, na condição de docente, enfermeiro responsável ou supervisor.
Art. 96 – Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa,
família ou coletividade.
Art. 97 – Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los
para fins diferentes dos pré-determinados.
Art. 98 – Publicar trabalhar com elementos que identifiquem o sujeito parti-
cipante do estudo sem sua autorização.
Art. 99 – Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou
instrumento de organização formal do qual não tenha participado ou omitir
nomes de coautores e colaboradores.
Art. 100 – Utilizar, sem referência ao autor ou sem a sua autorização expres-
sa, dados, informações ou opiniões ainda não publicados.
Art. 101 – Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais
tenha participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições
sem concordância ou concessão do autor.
Art. 102 – Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome
como autor ou coautor em obra técnico-científica.

capítulo 2 • 45
2.6.10  Capítulo IV

Da publicidade

2.6.10.1  Direitos

Art. 103 – Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas


ou divulgar eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e
de interesse social.
Art. 104 – Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

2.6.10.2  Responsabilidades e deveres

Art. 105 – Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedigni-


dade no conteúdo e na forma publicitária.
Art. 106 – Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes
formas de divulgação.

2.6.10.3  Proibições

Art. 107 – Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área


profissional.
Art. 108 – Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e
instituições sem sua prévia autorização.
Art. 109 – Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.
Art. 110 – Omitir em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.
Art. 111 – Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários
que caracterizem concorrência desleal.

2.6.11  Capítulo V

Das infrações e penalidades


Art. 112 – A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação
das respectivas penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das san-
ções previstas em outros dispositivos legais.
Art. 113 – Considera-se infração ética a ação, omissão ou conivência que

46 • capítulo 2
implique em desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de
Ética dos Profissionais de Enfermagem.
Art. 114 – Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos
Conselhos Federal e Regional de Enfermagem.
Art. 115 – Responde pela infração quem a cometer o concorrer para a sua
prática, ou dela obtiver benefício, quando cometida por outrem.
Art. 116 – A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos
fatos do dano e de suas consequências.
Art. 117 – A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos ter-
mos do Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem.
Art. 118 – As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e
Regional de Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei nº 5.905,
de 12 de julho de 1973, são as seguintes:
I. Advertência verbal;
II. Multa;
III. Censura;
IV. Suspensão do exercício profissional;
V. Cassação do direito ao exercício profissional.
§ A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reserva
que será registrada no prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.
§ 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (uma) a 10
(dez) vezes o valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence ao in-
frator, em vigor no ato do pagamento.
§ 3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações
oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de gran-
de circulação.
§ 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da enfer-
magem por um período não superior a 29 (vinte e nove) dias e será divulgada
nas publicações oficiais dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jor-
nais de grande circulação e comunicada aos órgãos empregadores.
§ 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da enferma-
gem e será divulgada nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de
Enfermagem e em jornais de grande circulação.
Art. 119 – As penalidades, referentes a advertência verbal, multa, censura
e suspensão do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de
Enfermagem, serão registradas no prontuário do profissional de enfermagem;

capítulo 2 • 47
a pena de cassação do direito ao exercício profissional é de competência do
Conselho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo
primeiro, da Lei nº 5.905/73.
Parágrafo único – Na situação em que o processo tiver origem no Conselho
Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembleia dos
Delegados Regionais.
Art. 120 – Para a graduação da penalidade e respectiva imposição
consideram-se:
I. A maior ou menor gravidade da infração;
II. As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;
III. O dano causado e suas consequências;
IV. Os antecedentes do infrator.
Art. 121 – As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, se-
gundo a natureza do ato e a circunstância de cada caso.
§ 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física,
mental ou moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que
venham a difamar as organizações da categoria ou instituições.
§ 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida,
debilidade temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou
as que causem danos patrimoniais ou financeiros.
§ 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, de-
formidade permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou
ainda, dano moral irremediável em qualquer pessoa.
Art. 122 – São consideradas circunstâncias atenuantes:
I. Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea von-
tade e com eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu ato;
II. Ter bons antecedentes profissionais;
III. Realizar atos sob coação e/ou intimidação;
IV. Realizar ato sob emprego real de força física;
V. Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.
Art. 123 – São consideradas circunstâncias agravantes:
I. Ser reincidente;
II. Causar danos irreparáveis;
III. Cometer infração dolosamente;
IV. Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;
V. Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a van-
tagem de outra infração;

48 • capítulo 2
VI. Aproveitar-se da fragilidade da vítima;
VII. Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever ine-
rente ao cargo ou função;
VIII. Ter maus antecedentes profissionais.

2.6.12  Capítulo VI

Da aplicação das penalidades


Art. 124 – As penalidades previstas neste Código somente poderão ser apli-
cadas, cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.
Art. 125 – A pena de advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao
que está estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38
a 40; 49 a 55; 57; 69 a 71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111
deste Código.
Art. 126 – A pena de multa é aplicável nos casos de infrações ao que está es-
tabelecido nos artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48
a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110 e 111
deste Código.
Art. 127 – A pena de censura é aplicável nos casos de infrações ao que está
estabelecido nos artigos: 8º; 12; 13; 15; 16; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59;
71 a 80; 82; 84; 85; 90. 91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código.
Art. 128 – A pena de suspensão do exercício profissional é aplicável nos ca-
sos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26;
28; 29; 31; 33 a 35; 41 a 43; 48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a
102; 105; 107 e 108 deste Código.
Art. 129 – A pena de cassação do direito ao exercício profissional é aplicável
nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º; 12; 26; 28; 29;
78 e 79 deste Código.

2.6.13  Capítulo VII

Das disposições gerais


Art. 130 – Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de
Enfermagem.
Art. 131 – Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de
Enfermagem, por iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos
Regionais.

capítulo 2 • 49
Parágrafo único – A alteração referida deve ser precedida de ampla discus-
são com a categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais.
Art. 132 – O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

2.7  Resolução COFEN Nº 370/2010


Resenha:
Altera o Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de
Enfermagem para aperfeiçoar as regras e procedimentos sobre o processo ético
-profissional que envolvem os profissionais de enfermagem e Aprova o Código
de Processo Ético.
O Conselho Federal de Enfermagem – COFEN, no uso das atribuições que
lhe são conferidas pela Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, e pelo Regimento
da Autarquia, aprovado pela Resolução COFEN nº 242, de 31 de agosto de 2000;
CONSIDERANDO a necessidade de se aperfeiçoar as regras procedimentais
e processuais dos processos éticos dos profissionais de enfermagem;
CONSIDERANDO os estudos realizados pela Comissão de Reformulação
do Código de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem, que
fora instituída do COFEN e as sugestões enviadas pelos Conselhos Regionais
de Enfermagem;
CONSIDERANDO o que mais consta do Processo Administrativo COFEN nº
196/2010.
Resolve:
Art. 1º - Aprovar o “CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO DOS CONSELHOS
DE ENFERMAGEM”, que estabelece as normas procedimentais para serem
aplicadas nos processos éticos em toda jurisdição de todos os Conselhos de
Enfermagem.
Art. 2º - Os Conselhos Regionais de Enfermagem deverão dar ampla publici-
dade ao Código de que trata a presente Resolução, devendo os Profissionais de
Enfermagem conhecer seu inteiro teor.
Art. 3º - O presente Código de Processo Ético entra em vigor no dia 1º
de Janeiro de 2011, revogando as disposições em contrário, em especial a
Resolução COFEN Nº 252/2001.

50 • capítulo 2
Brasília/DF, 03 de novembro de 2010.
Manoel Carlos Neri da Silva
COREN-RO nº 63.592
Presidente
Gelson Luiz de Albuquerque
COREN-SC nº 25.336
Primeiro-Secretário

2.8  Código de processo ético disciplinar dos


conselhos de enfermagem

2.8.1  Título I

Disposições gerais
Art. 1º - O presente Código de Processo Ético-Disciplinar contém, sistema-
tizado, o conjunto de normas que regem a aplicação em todo o território nacio-
nal pelos Conselhos de Enfermagem, do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem.

2.8.2  Capítulo I

Do sistema de apuração e decisão das infrações éticas


Art. 2º - Constituem o sistema de apuração e decisão das infrações
ético-disciplinares:
I. Como órgão de admissibilidade: o Plenário do respectivo Conselho, no
âmbito de sua competência;
II. Como órgão de instrução: as comissões criadas em cada Conselho para
este fim;
III. Como órgão de julgamento em primeira instância:
a) o Plenário dos Conselhos Regionais de Enfermagem;
b) o Plenário do Conselho Federal de Enfermagem, quando se tratar de
Conselheiro e Suplente, Federal ou Regional, na forma do art. 6º;
c) o Plenário do Conselho Federal, no impedimento e/ou suspeição da
maioria absoluta dos Conselheiros efetivos e suplentes do Conselho Regional;

capítulo 2 • 51
d) o Plenário do Conselho Federal, nos processos em que o Plenário do
Conselho Regional indicar a pena de cassação.
IV. Como órgão de julgamento em segunda e última instância:
a) o Plenário do Conselho Federal, referente aos recursos das decisões dos
Conselhos Regionais de Enfermagem;
b) A Assembleia Geral dos Delegados Regionais, referente aos recursos
das decisões do Plenário do Conselho Federal, nas hipóteses do inciso anterior,
alíneas “b”, “c” e “d”.

2.8.3  Capítulo II

Da Competência
Art. 3º - Determinará a competência:
I. o lugar de inscrição do profissional;
II. o lugar da infração; e
III. a prerrogativa de função.
Art. 4º - A competência, por regra, será determinada pelo lugar de inscrição
do profissional.
Parágrafo único – Nos casos de cancelamento ou transferência da inscri-
ção, permanecerá competente o Conselho Regional perante o qual se iniciou
o processo.
Art. 5º - A competência será determinada pelo lugar da infração, quando o
profissional for inscrito em mais de um Conselho.
Art. 6º - A competência pela prerrogativa de função é do Plenário do Conselho
Federal, quando se tratar de Conselheiro e Suplente, Federal ou Regional, en-
quanto durar o mandato.
§ 1º - Cessado o exercício do mandato, deixa o profissional de gozar da prer-
rogativa de função, devendo o processo ser remetido ao Conselho Regional
competente, que dará prosseguimento ao feito.
§ 2º - Em caso de intervenção do Conselho Federal no Conselho Regional,
permanecerá a competência pela prerrogativa de função pelo período inicial-
mente previsto para o término natural do mandato.

52 • capítulo 2
2.8.4  Capítulo III

Do impedimento e da suspeição
Art. 7º - Está impedido de atuar no processo o membro do Plenário ou da
Comissão de Instrução que:
I. ele próprio, seu cônjuge, parente consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral até o terceiro grau, seja parte ou interessado no feito, inclusive quan-
do litigante com qualquer das partes em processo judicial ou administrativo;
II. seja subordinado de qualquer das partes;
III. tenha atuado na primeira instância, pronunciando-se de fato ou de di-
reito sobre a matéria discutida no processo;
IV. seja cônjuge ou tenha relação de parentesco por vínculo de consangui-
nidade ou afinidade em linha reta ou colateral até o terceiro grau, de defensor,
de perito, de funcionário do Conselho que já tenha atuado no processos ou da-
queles que tiverem realizado a averiguação prévia; e
V. ele próprio tenha servido como testemunha ou desempenhado qual-
quer das funções acima, salvo o Conselheiro Relator da fase de admissibilida-
de, que não está impedido de elaborar o parecer de que tratam os artigos 20 e
26.
§ 1º - As hipóteses de impedimento previstas nos inciso I e II deste artigo se
aplicam aos profissionais de que trata o art. 30.
§ 2º - O Conselheiro que tiver realizado procedimento de averiguação prévia,
ou participado da Comissão de Instrução, não poderá ser designado o Relator
de que trata o art. 110, assim como não poderá votar, sendo-lhe, contudo, per-
mitido o uso da palavra na sessão de julgamento.
Art. 8º - Pode ser arguida a suspeição de profissional indicado para realizar
averiguação prévia, de membro do Plenário ou de Comissão de Instrução que:
I. seja amigo intimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
II. esteja ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente respondendo a pro-
cesso por fato análogo;
III. ele próprio, seu cônjuge, parente consanguíneo, ou afim até o tercei-
ro grau, seja litigante em processo que tenha de ser julgado por qualquer das
partes;
IV. tenha aconselhado qualquer das partes;
V. seja credor ou devedor, tutor ou curador de qualquer das partes; e
VI. seja sócio, acionista ou administrador de pessoa jurídica envolvida ou
interessada no processo.

capítulo 2 • 53
Art. 9º - O impedimento ou a suspeição decorrente de parentesco por casa-
mento ou união estável cessa com a dissolução do respectivo vínculo entre os
cônjuges ou companheiros, salvo sobrevindo descendente.
Parágrafo único – Ainda que dissolvido o casamento ou união estável sem
descendentes, não poderá atuar como membro do Plenário ou d Comissão de
Instrução o(a) sogro(a), padrasto/madrasta, o(a) cunhado(a), o genro, a nora ou
enteado(a) de quem for parte no processo.
Art. 10 – A suspeição não poderá ser declarada, nem reconhecida, quando a
parte injuriar membro do Plenário ou da Comissão de Instrução ou, proposita-
damente, oferecer motivo para cria-la.
Art. 11 – Os membros do Plenário ou da Comissão de Instrução, quando
houver impedimento ou suspeição, abster-se-ão de atuar no processo, o que de-
vem declarar nos autos, sob pena de responsabilidade.
Parágrafo único – Observar-se-á, neste caso, o disposto no §2º do art. 7º des-
te Código.
Art. 12 – O impedimento poderá ser arguido e reconhecido em qualquer
fase do processo.
Art. 13 – A suspeição deverá ser alegada na defesa prévia ou, se supervenien-
te na primeira oportunidade que a parte tiver para manifestar nos autos, sob
pena de preclusão.
Art. 14 – Arguido o impedimento ou a suspeição pela parte, o membro argui-
do, de forma justificada, deverá se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias sobre o
reconhecimento ou não da arguição.
§ 1º - Reconhecido pelo membro arguido o impedimento ou a suspei-
ção, o Presidente do Conselho, no prazo de 5 (cinco) dias, nomeará membro
substituto.
§ 2º - Não reconhecido pelo membro arguido o impedimento ou a suspei-
ção, o feito terá regular prosseguimento, devendo a questão ser apreciada pelo
Plenário do Conselho na ocasião do julgamento do processo.

2.8.5  Capítulo IV

Das partes
Art. 15 – São partes do processo:
I. as pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem por meio de denúncia; e
II. o profissional indicado como autor da infração.

54 • capítulo 2
Art. 16 – As partes poderão ser representadas por advogado constituído nos
autos por meio de procuração, em qualquer fase do processo.

2.8.6  Título II

Dos procedimentos e do processo ético.

2.8.7  Capítulo I

2.8.7.1  Da admissibilidade
Art. 17 – O procedimento ético-disciplinar inicia-se de ofício ou por
denúncia.
Art. 18 – Inicia-se de ofício quando o Presidente de Conselho vier a saber,
através de auto de infração, ou por qualquer meio, de fato que tenha caracterís-
tica de infração ética ou disciplinar.
Art. 19 – Nós casos previstos no artigo anterior, quando o fato não conti-
ver elementos suficientes para a instauração do processo ético-disciplinar, o
Presidente do Conselho determinará à fiscalização que proceda a apuração do
ocorrido e fixará prazo para emissão de relatório circunstanciado.
Art. 20 – Recebido o relatório circunstanciado, o Presidente do Conselho, no
prazo de 5 (cinco) dias, determinará a juntada de certidão de situação cadastral,
financeira e de antecedentes ético, designará Conselheiro Relator para emitir,
no prazo de 10 (dez) dias, parecer fundamentado, esclarecendo se o fato tem in-
dícios de infração ética ou disciplinar e indicando os artigos supostamente in-
fringidos do Código de Ética, ou de outras formas do Sistema Cofen/Conselhos
Regionais, bem como se preenche as condições de admissibilidade, após o que
o parecer será submetido à deliberação do Plenário.
Art. 21 – A denúncia é o ato pelo qual se atribui a alguém a prática de infra-
ção ética ou disciplinar.
Art. 22 – A denúncia será apresentada por escrito ou, quando verbal, reduzi-
da a termo por servidor ou Conselheiro contendo os seguintes requisitos:
I. Presidente do Conselho a quem é dirigida;
II. nome, qualificação e endereço do denunciante;
III. narração objetiva do fato ou do ato, se possível com indicação de locali-
dade, da hora, circunstâncias e nome do autor da infração;
IV. o nome e endereço de testemunhas, quando houver;

capítulo 2 • 55
V. documentos relacionados ao fato, quando houver; e
Art. 23 – A denúncia é irretratável, salvo nos casos em que houver conciliação.
§ 1º - Em se tratamento de denúncia em que o fato se circunscreva às pesso-
as do denunciante e do denunciado, e não resulte em óbito, poderá ser realiza-
da audiência prévia de conciliação pelo Conselheiro Relator, possibilitando o
arquivamento mediante retratação ou ajustamento de conduta.
§ 2º - O denunciado que tenha descumprido conciliação anteriormente re-
alizada, ainda que por fato e em processo diverso, não terá direito ao benefício.
Art. 24 – Apresentada a denúncia, o Presidente do Conselho, no prazo de 5
(cinco) dias, determinará a juntada de certidão de situação cadastral, financei-
ra e de antecedentes éticos e designará Conselheiro Relator.
Art. 25 – O Conselheiro Relator, preliminarmente, no caso previsto no § 1º
do art. 23, poderá designar, no prazo de 5 (cinco) dias, audiência de conciliação,
que deverá ser realizada em no máximo 30 (trintas) dias.
§ 1º - Ocorrendo a conciliação, o Conselheiro Relator lavrará o termo conci-
liatório e encaminhará os autos ao Presidente do Conselho que incluirá o pro-
cesso na pauta da primeira reunião do, Plenário para homologação e arquiva-
mento, ato contra o qual não caberá recurso.
§ 2º - Não ocorrendo, por qualquer motivo, a conciliação, o Conselheiro
Relator prosseguirá na forma do artigo seguinte.
§ 3º - A conciliação poderá ocorrer em qualquer fase do processo por mani-
festação expressa das partes.
Art. 26 – Quando não couber conciliação, o Conselheiro Relator deverá, no
prazo de 10 (dez) dias, emitir parecer fundamentado, esclarecendo se o fato
tem indícios de infração ética ou disciplinar e indicando os artigos suposta-
mente infringidos do Código de Ética, ou de outras normas do Sistema Cofen/
Conselhos Regionais, bem como se preenche as condições de admissibilidade,
após o que o parecer será submetido à deliberação do Plenário.
§ 1º - Em caso de necessidade, para subsidiar o parecer, o Conselheiro
Relator poderá realizar ou solicitar averiguação prévia, interrompendo-se o pra-
zo previsto no caput deste artigo.
§ 2º - A deliberação do Plenário terá início após a leitura do parecer do
Conselheiro Relator, que emitirá seu voto.
§ 3º - A seguir, será franqueada a palavra aos demais conselheiros, ocasião
em que poderão solicitar vista, desde que devidamente fundamentada, e, caso
seja concedida, a votação será suspensa até a próxima reunião de Plenário.

56 • capítulo 2
§ 4º - Apresentado voto divergente, será retomada a votação.
Art. 27 – São condições de admissibilidade:
I. ser o denunciado profissional de enfermagem ao tempo do fato que
deu origem ao processo;
II. a identificação do denunciado;
III. dos fatos relatados decorrem indícios de infração ética e/ou disciplinar
prevista no Código de Ética, ou de outras normas do Sistema Cofen/Conselhos
regionais;
IV. haver, após a averiguação prévia, elementos suficientes para a instaura-
ção do processo ético disciplinar; e
V. não estiver extinta a punibilidade pela prescrição.
Art. 28 – A deliberação do Plenário sobre a admissibilidade, como ato de
instauração ou de arquivamento, deverá ser redigida no prazo de 5 (cinco) dias,
pelo Conselheiro Relator, ou pelo Conselheiro condutor do voto vencedor, sob
forma de Decisão, que a assinará conjuntamente com a Presidência, contendo,
no mínimo:
I. a qualificação do denunciado;
II. o número do parecer aprovado pelo Plenário;
III. a data da reunião do Plenário que deliberou sobre o arquivamento ou
instauração do processo:
IV. a indicação dos dispositivos do Código de Ética, ou de outras normas
do sistema Cofen/Conselhos Regionais, supostamente infringidos pelo denun-
ciado; e
V. a assinatura do Conselheiro condutor do voto vencedor e do Presidente
do Conselho.
Art. 29 – Deliberando o Plenário pela instauração do processo ético-discipli-
nar, o Presidente do conselho designará Comissão de Instrução, por Portaria,
para apuração dos fatos, encerrando-se a fase de admissibilidade.

2.8.8  Capítulo II

Da averiguação prévia
Art. 30 – A averiguação prévia poderá ser realizada pelo Relator, por fiscal
do Conselho, por um profissional de enfermagem ou por Comissão composta
de até 3 (três) membros do quadro de inscritos, que estejam adimplentes com
suas obrigações relativas ao Conselho e não respondam a processo ético.

capítulo 2 • 57
Art. 31 – A averiguação prévia consiste em procedimento sumário, prelimi-
nar, sem contraditório e ampla defesa, com a finalidade específica de colher
elementos formadores da convicção, para determinar a instauração o processo
ético-disciplinar ou o arquivamento da denúncia.
Art. 32 – Na averiguação prévia poderão ser adotadas diligências, tais como:
I. requisição e juntada de documentos e provas materiais;
II. convocação dos envolvidos ou de testemunha para esclarecimento, que
poderá ser escrito ou verbal, reduzido a termo, sem prejuízo do direito à ampla
defesa, a ser exercido no momento oportuno; e
III. inspeção in loco.
Art. 33 – O prazo para apresentar o relatório de averiguação prévia é de 30
(trinta) dias a contar de sua solicitação.

2.8.9  Capítulo III

Dos atos processuais


Art. 34 – O Presidente do Conselho determinará a autuação da denúncia ou
outro ato inaugural do processo ou do procedimento ético-disciplinar, por fun-
cionário, que deverá mencionar a natureza do feito, o número do registro, os
nomes das partes e a data do seu início.
Art. 35 – O processo terá a forma de autos judiciais e os termos de juntada,
vista, conclusão e outros semelhantes constarão de notas datadas e rubricadas
pelo funcionário responsável pela autuação do procedimento ético-disciplinar
na fase de admissibilidade e, quando instaurado o processo ético-disciplinar,
pela Comissão de Instrução ou funcionário auxiliar da Comissão.
Art. 36 – As peças juntadas, os despachos, os pareceres, as decisões, as ci-
tações, as intimações e as notificações serão numerados em ordem cronológi-
ca e numérica pelo funcionário do Conselho ou por membro da Comissão de
Instrução, sendo facultado às partes, aos advogado, aos fiscais e às testemu-
nhas rubricar as folhas correspondentes aos atos no quais intervieram.
Art. 37 – O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos
é restrito às partes e a seus procuradores, sendo facultado a terceiros que de-
monstrem e justifiquem o interesse jurídico no feito em petição dirigida ao pre-
sidente da Comissão de Instrução.
Art. 38 – Os atos processuais realizar-se-ão, de ordinário, na sede do
Conselho, podendo ser realizados em outro lugar por necessidade da Comissão

58 • capítulo 2
de Instrução ou por solicitação fundamentada das partes, desde que acolhida
pela Comissão de Instrução.
Art. 39 – O processo tramitará em sigilo, até seu término quanto à identida-
de do profissional denunciado.
§ 1º - Estende-se o dever de sigilo à Comissão de Instrução, aos Conselheiros
e a todos aqueles que dele tomarem conhecimento em razão de ofício.
§ 2º - Os atos do processo serão realizados em caráter reservado.

2.8.10  Capítulo IV

Da comunicação dos atos.

2.8.10.1  Seção I

Da citação
Art. 40 – Citação é o ato pelo qual se chama o denunciado ao processo para
defender-se, indispensável para a validade do processo ético-disciplinar.
Art. 41 – A citação poderá ser feita:
I. por servidor do Conselho, por meio de mandado;
II. por carta registrada com aviso de recebimento pelos Correios; e
III. por edital, quando inacessível, incerto ou não sabido, e esgotados todos
os meios de localizar o endereço do denunciado.
Art. 42 – São requisitos formais da citação:
I. o nome do denunciante e do denunciado nos procedimentos ético-dis-
ciplinares iniciados por denúncia;
II. o nome do denunciado e do Conselho, nos procedimentos ético-disci-
plinares iniciados de ofício;
III. endereço residencial do denunciado, quando conhecido;
IV. endereço do local de trabalho do denunciado, quando não conhecido
o residencial;
V. o fim para que é feita a citação;
VI. a indicação do prazo em que se deverá apresentar defesa prévia, com
advertência dos efeitos da revelia;
VII. a assinatura do Presidente da Comissão de Instrução;
VIII. a fotocópia da denúncia, ou do documento que deu origem aos proce-
dimentos ético disciplinares iniciados de ofício; e

capítulo 2 • 59
IX. a fotocópia da Decisão do Plenário pela instauração do processo éti-
co disciplinar, acompanhada do Parecer do relator ou do condutor do voto
vencedor.
Art. 43 – Não sendo conhecido o endereço do denunciado, ou restando in-
frutífera a citação pessoal ou por carta registrada, e certificando-se esta condi-
ção nos autos, a citação será feita por edital.
§ 1º - A publicação do edital na imprensa oficial ou em jornal de grande cir-
culação e no sítio eletrônico do Conselho de Enfermagem respectivo deve ser
certificada nos autos, juntando-se cópia do meio impresso ou eletrônico, em
que foi divulgada.
§ 2º - Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa será de 15 (quinze) dias a
partir da data de juntada, nos autos, da publicação do edital.
Art. 44 – O processo ético-disciplinar seguirá sem a presença do denunciado
quando, regularmente citado ou intimado para qualquer ato, deixar de compa-
recer sem motivo justificado.
Art. 45 – O desatendimento da citação ou da intimação, ou a renúncia pela
parte ao direito de defesa e à prática dos atos processuais não importam em
reconhecimento da verdade dos fatos.
§ 1º - No prosseguimento do processo, será garantido às partes o direito de
ampla defesa e contraditório.
§ 2º - O comparecimento espontâneo do denunciado aos atos processuais
ou a prática do ato objeto da comunicação supre a sua falta ou a irregularidade.

2.8.10.2  Seção II

Da intimação
Art. 46 – Na intimação das partes, testemunhas e demais pessoas que devam
tomar conhecimento de qualquer ato, será observado, no que for aplicável, o
disposto para as citações, devendo conter, além dos requisitos previstos nos
incisos I, II, III e IV do art. 42, o seguinte:
I. data, hora e local em que o intimado deve comparecer;
II. se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar;
e
III. a informação da continuidade do processo, independentemente de seu
comparecimento.

60 • capítulo 2
Art. 47 – Devem ser objeto de intimação os atos do processo que resultem,
para as partes, em imposição de deveres, ônus, sanções ou restrições ao exercí-
cio de direitos e atividades e atos de outra natureza de seu interesse.
§ 1º - A intimação observará a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis,
quanto à data de comparecimento.
§ 2º - Nenhum ato da instrução poderá ser praticado sem a prévia intimação
das partes e de seus defensores.
§ 3º - É válida a intimação efetuada por ciência nos autos pela parte ou por
seu defensor constituído, e certificada por funcionário do Conselho ou pelo
Secretário da Comissão de Instrução.

2.8.10.3  Seção III

Das notificações
Art. 48 – Quando necessário, serão notificados ao chefe imediato, o dia e o
horário designado para as partes ou testemunhas comparecerem aos atos do
processo.
Art. 49 – As notificações serão utilizadas para comunicar as partes e seus de-
fensores, legalmente constituídos ou nomeados, Conselheiros relatores, mem-
bros da Comissão de Instrução e fiscais do Conselho, das nomeações, determi-
nações e despachos, para que possam praticar certos atos processuais.

2.8.10.4  Seção IV

Da carta precatória
Art. 50 – As comunicações entre os Conselhos serão feitas mediante ofícios
ou cartas precatórias.
Art. 51 – Os ofícios ou as cartas precatórias independem de remessa pela
Presidência do Conselho, podendo ser encaminhados pelo presidente da
Comissão de Instrução diretamente aos Presidentes dos Conselhos.
Art. 52 – A carta precatória será expedida mediante registro postal, ou ou-
tro meio eficaz, devendo ser instruída, quando houver, com os seguintes docu-
mentos e dados:
I. indicação do Conselho de origem e de cumprimento do ato;
II. a finalidade a que se refere;
III. cópia da denúncia ou do documento que a tiver instaurado de ofício;

capítulo 2 • 61
IV. cópia da decisão que ensejou a instauração do processo;
V. relatório de apuração; e
VI. questionário para as testemunhas, previamente elaborado pela
Comissão de Instrução.
Art. 53 – O Presidente da Comissão de Instrução mandará trasladar, na carta
precatória, quaisquer outras peças, bem como instruí-la com documentos dos
autos, sempre que estes devam ser examinados na diligência pelas partes, peri-
tos ou testemunhas, ou facilitar o cumprimento da precatória pelo deprecado.
Art. 54 – A expedição da carta precatória não suspenderá a instrução do pro-
cesso, mas impedirá a conclusão dos trabalhos da Comissão, devendo ser jun-
tada aos autos após a sua devolução.
Art. 55 – Recebida a carta precatória, o Presidente do Conselho deprecado
designará, no prazo de 5 (cinco) dias, Conselheiro ou Fiscal para executar as
ordens solicitadas no prazo de 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por
uma única vez, mediante requerimento justificado dirigido ao Presidente do
Conselho deprecado.
Parágrafo único – Poderá o Presidente do Conselho deprecado recusar a car-
ta precatória, se esta não estiver corretamente instruída.
Art. 56 – A carta precatória poderá ter caráter itinerante, antes ou depois
de lhe ser ordenado o cumprimento, e poderá ser apresentada ao Conselho
Regional de Enfermagem diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato
e facilitar seu cumprimento.
Art. 57 – Cumprida a carta precatória ou transcorrido o prazo máximo de
60 (sessenta) dias do recebimento da carta pelo Conselho deprecado, sem
o seu cumprimento, esta deverá ser devolvida ao Presidente da Comissão de
Instrução do Conselho deprecante, justificando os motivos da impossibilidade
de seu cumprimento, independentemente de traslado, no prazo de 5 (cinco)
dias.

2.8.10.5  Capítulo V

Dos prazos
Art. 58 – Todos os prazos serão contínuos e peremptórios, não se interrom-
pendo por férias, sábados, domingos ou feriados.
Art. 59 – Não se computará no prazo o dia do começo incluindo-se, porém,
o do vencimento.

62 • capítulo 2
Art. 60 – O término dos prazos será certificado nos autos pelo Secretário da
Comissão de Instrução ou funcionário auxiliar da Comissão, sendo considera-
do findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia
em que começou a correr.
Art. 61 – O prazo que terminar ou se iniciar em dias em que não houver expe-
diente no Conselho de Enfermagem, ou em que o expediente se encerrar antes
do horário normal, será considerado prorrogado até o dia útil imediato.
Art. 62 – Salvo os casos expressos, os prazos correrão a partir:
I. da juntada do comprovante ou da contrafé da citação, da intimação ou
da notificação nos autos;
II. da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver
presente a parte; e
III. do dia em que a parte manifestar, nos autos, ciência inequívoca do des-
pacho, ou da decisão.
Art. 63 – Não havendo prazo estipulado neste Código para o respectivo ato e
nem definido pelo Presidente do Conselho ou da Comissão de Instrução, este
será de 5 (cinco) dias para a sua prática.

2.8.10.6  Capítulo VI

Da comissão de instrução
Art. 64 – A Comissão de Instrução tem por finalidade organizar e instruir o
processo ético disciplinar, visando à apuração dos fatos descritos na decisão de
admissibilidade e instauração do processo, realizando todos os atos necessá-
rios à busca da verdade, com estrita observância aos princípios da ampla defesa
e do contraditório.
§ 1º - A Comissão de Instrução será composta de até 3 (três) membros, de
categoria igual ou superior à do denunciado, escolhidos dentre os inscritos no
Conselho de Enfermagem.
§ 2º - A Comissão de Instrução será obrigatoriamente composta de
Presidente e Secretário e, se formada por três membros, de um Vogal.
§ 3º - O membro designado para compor a Comissão de Instrução abster-
se-á de servir no processo, quando houver impedimento ou suspeição, o que
declarará nos autos ou poderá ser arguido pelas partes em qualquer fase do
processo.
§ 4º - Não poderá ser membro da Comissão de instrução o profissional que

capítulo 2 • 63
esteja respondendo a processo ético-disciplinar, ou que esteja inadimplente
com suas obrigações junto ao Conselho.
Art. 65 – Compete à Comissão de Instrução:
I. ouvir as partes e as testemunhas, em audiência previamente marcada;
II. determinar a oitiva das pessoas que estejam envolvidas ou tenham co-
nhecimento dos fatos, independentemente daquelas arroladas pelas partes;
III. colher todas as provas necessárias para o esclarecimento do fato e de
suas circunstâncias;
IV. proceder ao reconhecimento de pessoas e coisas, bem como à acarea-
ção, quando necessário;
V. solicitar perícias e demais procedimentos ou diligências considerando
necessários à perfeita instrução do processo e à busca da verdade real dos fatos;
VI. verificar os antecedentes profissionais do denunciado; e
VII. ultimar a instrução do processo ético disciplinar, elaborar relatório
conclusivo de seus trabalhos e encaminhá-lo ao Presidente do Conselho.
§ 1º - Os atos da Comissão de Instrução serão, de regra, realizados na sede
do Conselho em que tramita o processo.
§ 2º - A Comissão de Instrução poderá utilizar integrantes do quadro de fun-
cionários e a estrutura administrativa do Conselho para a prática de atos de sua
competência, tais como:
I. digitar os depoimentos tomados em audiência;
II. redigir os atos processuais determinados e encaminhá-los ao Secretário
da Comissão de Instrução para tomar as devidas assinaturas;
III. formalizar e expedir as correspondências legais, após determinação a
Comissão; e
IV. realizar e registrar os atos processuais de mera movimentação.
Art. 56 – Incumbe ao Presidente da Comissão de Instrução:
I. convocar e presidir as reuniões da Comissão;
II. determinar a citação do denunciado;
III. determinar a intimação das partes, seus procuradores e testemunhas;
IV. designar, previamente, as datas das audiências;
V. tomar depoimentos;
VI. solicitar perícias, provas ou diligências necessárias;
VII. estar presente aos atos da Comissão, assinar termos, relatórios e docu-
mentos por ela elaborados;
VIII. decidir sobre a juntada ou o desentranhamento de documentos do

64 • capítulo 2
processo;
IX. verificar a sanear irregularidades do processo;
X. designar defensor dativo, quando for o caso;
XI. decidir sobre a necessidade de arrolar maior número de testemunhas
pelas partes;
XII. indeferir pedidos considerados impertinentes, meramente proletató-
rios, ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos;
XIII. solicitar, por escrito, ao Presidente do Conselho, assessoramento téc-
nico e científico sempre que julgar necessário ao processo;
XIV. coordenar a elaboração do relatório final;
XV. solicitar, se for o caso, prorrogação de prazos para a realização de traba-
lhos e diligências; e
XVI. proceder ao encerramento dos trabalhos da Comissão.
Art. 67 – Ao Secretário da Comissão de Instrução incumbe:
I. secretariar as reuniões e substituir o Presidente em sua ausência;
II. supervisionar e acompanhar os trabalhos a Comissão ou de seus
auxiliares;
III. redigir atas de reuniões e os termos de depoimentos, inquirições acare-
ações, ou de qualquer outra atividade da Comissão;
IV. organizar o processo, colocando em ordem cronológica, de juntada, os
documentos que o constituem, numerando-os e rubricando-os; e
V. providenciar a elaboração e a expedição de intimações, notificações, re-
querimentos, ofícios e demais atos necessários à instrução do processo.
Art. 68 – Ao Vogal da Comissão de Instrução incumbe substituir o Secretário,
na ausência deste.
Art. 69 – A Comissão de Instrução concluirá seus trabalhos o prazo de 120
(cento e vinte) dias, contados do recebimento dos autos, prazo esse prorrogável
por igual período pelo Presidente do Conselho, mediante solicitação justifica-
da do Presidente da Comissão.

2.8.10.7  Capítulo VII

Da instrução
Art. 70 – O Presidente da Comissão de instrução, após notificado de sua no-
meação e da instauração do processo ético-disciplinar pelo Plenário, deverá de-
terminar, no prazo de 5 (cinco) dias, a citação do denunciado para apresentar
defesa prévia, no prazo de 15 (quinze) dias.

capítulo 2 • 65
Art. 71 – Na defesa prévia, o denunciado poderá arguir preliminares e ale-
gar tudo o que interesse à sua defesa, expondo as razões de fato e de direito;
oferecer documentos e justificações; especificar as provas pretendidas e arro-
lar até três testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando
necessário.
Art. 72 – Regulamente citado, e não apresentando defesa no prazo legal, o
denunciado será declarado revel nos autos e, caso não tenha constituído defen-
sor, o Presidente da Comissão de Instrução nomeará um defensor dativo para
apresentar a defesa no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da nomeação.
§ 1º - A nomeação de defensor dativo deverá recair em profissional de enfer-
magem de categoria igual ou superior ao denunciado, desde que não exerça a
função de Conselheiro do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem;
ou, facultativamente, em advogado que não seja Procurador do Sistema Cofen/
Conselheiros Regionais de Enfermagem.
§ 2º O denunciado revel poderá intervir em qualquer fase do processo, não
lhe sendo, contudo, devolvidos os prazos vencidos..
Art. 73 – Recebida a defesa prévia, o Presidente da Comissão de Instrução,
conforme o caso, determinará a realização das diligências que entender perti-
nentes e designará dia, hora e local para ouvir as partes, as testemunhas arro-
ladas e as determinadas pela Comissão, observados os prazos mínimos para
realização dos atos preparatórios de intimações e notificações.
Art. 74 – Na audiência de instrução, deverá proceder-se à tomada de declara-
ções do ofendido, a inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
defesa, nesta ordem; bem como aos esclarecimentos das diligências, às acare-
ações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o
denunciado.
Art. 75 – Às partes, será concedido o prazo de 3 (três) dias, após intimação,
para impugnação de documentos novos.
Art. 76 – Surgindo, em qualquer momento da fase de instrução, provas de
elementos ou circunstâncias da infração ético-disciplinar, não referidas pelo
Conselheiro Relator na fase de admissibilidade, deverá a Comissão de Instrução
intimar as partes para manifestação no prazo de 5 (cinco) dias, ocasião em que
poderão produzir provas.
Art. 77 – Encerrada a instrução processual o Presidente da Comissão deter-
minará a intimação das partes para apresentação das alegações finais, no prazo
de 10 (dez) dias.

66 • capítulo 2
Art. 78 – Concluído o procedimento, a Comissão de Instrução elaborará re-
latório dos trabalhos realizados, contendo a narrativa objetiva dos fatos apura-
dos, os apontamentos das provas testemunhais e materiais colhidas, emitindo
conclusão fundamentada sobre a caracterização da infração ético-disciplinar.
Parágrafo único – No relatório da Comissão não poderá conter indicação de
penalidade e a ser imposta.
Art. 79 – Entregue o relatório, o Presidente do Conselho determinará a ex-
tração de cópias, ou a remessa em arquivo digital para os membros do Plenário
das seguintes peças: parecer inicial, defesa prévia, laudos periciais, alegações
finais, relatório final.
Parágrafo único – O Presidente do Conselho distribuirá os autos, no prazo
de 5 (cinco) dias, a um Conselheiro, que emitirá parecer conclusivo para julga-
mento do Plenário.

2.8.11  Seção I

Das testemunhas
Art. 80 – Toda pessoa poderá ser testemunha.
Art. 81 – A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a
verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu nome, idade,
estado civil, residência, profissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente,
e em que grau, de alguma das partes, quais suas relações com qualquer delas; e
relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência, ou as circuns-
tâncias pelas quais a Comissão possa avaliar sua credibilidade.
Parágrafo único – Não se deferirá o compromisso a que alude o artigo aos
doentes e deficientes mentais e aos menores de 18 (dezoito) anos, nem às pes-
soas referidas no art. 83.
Art. 82 – O depoimento será prestado oralmente, não sendo, entretanto, ve-
dada à testemunha breve consulta a apontamentos.
Art. 83 – A testemunha, quando profissional de enfermagem, não poderá
eximir-se da obrigação de depor. Poderá, entretanto, recusar-se a fazê-lo se for
ascendente ou descendente, ou afim em linha reta; cônjuge, ainda que separa-
do; irmão, pai, mãe ou filho do denunciado, salvo quando não for possível, por
outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato de suas circunstâncias.
Art. 84 – O Presidente da Comissão de Instrução, quando julgar necessário,
poderá ouvir outras testemunhas além das indicadas pelas partes.

capítulo 2 • 67
Art. 85 – As testemunhas serão inquiridas, cada uma de per si, de modo que
uma não saiba nem ouça os depoimentos das outras, devendo o Presidente ad-
verti-las das penas contaminadas ao falso testemunho.
Art. 86 – Se o Presidente da Comissão de Instrução reconhecer que alguma
testemunha, quando profissional de enfermagem, fez afirmação falsa, calou
ou negou a verdade, remeterá cópia do depoimento à Presidência do Conselho
para as providências cabíveis.
Art. 87 – As perguntas poderão ser formuladas pelas partes diretamente às
testemunhas, podendo o Presidente da Comissão de Instrução indeferir aque-
las que possam induzir a resposta, não tenham relação com a causa ou impor-
tem na repetição de outra já respondida e, complementar a inquirição sobre os
pontos não esclarecidos.
§ 1º - Deverão constar na ata a audiência as perguntas que a testemunha
deixar de responder juntamente com as razões de sua abstenção.
§ 2º - O procurador das partes poderá assistir ao interrogatório bem como
à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e
respostas, mas facultado reinquiri-las, diretamente ou por intermédio dos
Presidente da Comissão.
Art. 88 – O Presidente da Comissão não permitirá que a testemunha mani-
feste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato.
Art. 89 – Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a
testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos que a tornem suspeita de par-
cialidade ou indigna de fé.
Parágrafo único – O Presidente da Comissão fará consignar a contradita ou
arguição e a resposta da testemunha, mas só não lhe deferirá compromisso le-
gal nos casos do art. 83.
Art. 90 – Na redação do depoimento, o Secretário da Comissão de Instrução
ou funcionário auxiliar designado deverá cingir-se, tanto quanto possível, às ex-
pressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo fielmente suas frases.
Parágrafo único – No caso de digitação por funcionário auxiliar, este se res-
tringira ao registro da versão, frases e expressões determinadas pela Comissão
de Instrução.
Art. 91 – O depoimento da testemunha será reduzido a termo e será assina-
do por ela, pelo Presidente da Comissão, demais membros presentes na audi-
ência, pelas partes e seus procuradores.
Art. 92 – O Presidente da Comissão de Instrução certificará a concorrên-
cia nos autos e extrairá cópias à Presidência do Conselho para a adoção das

68 • capítulo 2
medidas cabíveis quando a testemunha, regularmente intimada e sendo pro-
fissional de enfermagem, deixar de comparecer sem motivo justificado.
Art. 93 – As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de
comparecer para depor, poderão ser inquiridas onde estiverem. Se qualquer
testemunha houver de ausentar-se ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar
receio de que, ao tempo da instrução já não exista, o Presidente da Comissão
poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tornar-lhe anteci-
padamente o depoimento.
Art. 94 – Os Conselheiros Federais e Regionais, efetivos ou suplentes, tanto
quanto as autoridades do governo, quando arrolados como testemunhas, serão
inquiridos em local, dia e hora, previamente ajustados entre eles e o Presidente
da Comissão de Instrução, e poderão optar pela prestação de depoimento, por
escrito, caso em que as perguntas formuladas pelas partes lhes serão transmi-
tidas por ofício.
Art. 95 – A testemunha residente no interior do Estado poderá ser ouvida em
seu domicílio, ou outro local previamente indicado, devendo seu depoimen-
to ser tomado por pessoa designada pelo Presidente do Conselho, mediante
Portaria, acompanhada dos documentos necessários para o ato.
Art. 96 – A testemunha que morar fora da área de jurisdição do Conselho
será inquirida por meio de carta precatória, devendo ser intimadas as partes.

2.8.12  Seção II

Do interrogatório do denunciado
Art. 97 – O denunciado, regularmente intimado para audiência de inquiri-
ção, será qualificado e interrogado na presença de seu defensor, se houver cons-
tituído; cientificado do inteiro teor da acusação e informado pelo Presidente da
Comissão do seu direito de permanecer calado e não responder perguntas que
lhe forem formuladas.
Parágrafo único – O silêncio, que não importará em confissão, não poderá
ser interpretado em prejuízo da defesa, mas poderá constituir elemento para a
formação do convencimento da Comissão de Instrução.
Art. 98 – Havendo mais de um denunciado, estes serão interrogados
separadamente.
Art. 99 – O interrogatório será constituído de duas partes: sobre a pessoa do
denunciado e sobre os fatos.

capítulo 2 • 69
§ 1º - Na primeira parte, ao interrogado será perguntado:
I. sobre residência, profissão, lugar onde exerce sua atividade, informa-
ções familiares e sociais;
II. sobre vida pregressa, notadamente se responde a algum processo judi-
cial ligado ao caso e as imputações de infrações ético-disciplinar ora apurada; e
III. se já processado judicialmente sobre estas questões, qual o juízo do
processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual a pena impos-
ta e se a cumpriu.
§ 2º - Na segunda parte ser-lhe-á perguntado:
I. se verdadeira a acusação que lhe é feito;
II. não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que
atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem deva ser imputada a prática
da infração ético-disciplinar, e quais sejam, e se com elas esteve, antes ou de-
pois da prática da infração;
III. onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia
desta;
IV. se conhece as provas já apuradas;
V. se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, des-
de quando, e se tem algo alegar contras elas;
VI. se sabe como foi praticado o ato;
VII. todos os demais fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos
antecedentes e circunstâncias da infração; e
VIII. se tem algo mais a alegar em sua defesa.
Art. 100 – Após o interrogatório, o Presidente da Comissão indagará das par-
tes se restou algum fato a ser esclarecido, formulando as perguntas correspon-
dentes, se o entender pertinente e relevante.
Art. 101 – Se o interrogado negar a acusação, no todo ou em parte, poderá
prestar esclarecimento e indicar provas.
Art. 102 – Se confessar a autoria, será perguntado sobre os motivos e as cir-
cunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para a prática da infração,
indicando quais sejam.

70 • capítulo 2
2.8.13  Seção III

Da acareação
Art. 103 – A acareação será admitida sempre que os depoentes divergirem
em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Parágrafo único – Os acareados serão reperguntados para que expliquem os
pontos divergentes, reduzindo-se a termo o ato de acareação.

2.8.14  Seção IV

Da prova documental
Art. 104 – Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar do-
cumentos em qualquer fase do processo.
Art. 105 – Considerem-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou
papéis, públicos ou particulares.
Art. 106 – A Comissão de Instrução poderá providenciar a juntada de docu-
mentos relacionados ao objeto do processo, independentemente de requeri-
mento das partes.

2.8.15  Seção V

Da prova parcial
Art. 107 – A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.
Parágrafo único – A perícia não poderá ser realizada quando:
I. a prova do fato não depender de conhecimento especial;
II. for desnecessária, em vista de outras provas produzidas; e
III. a sua realização for impraticável.
Art. 108 – A perícia será realizada nos termos indicados pela Comissão
de Instrução, seguindo as normas subsidiárias, especialmente o Código de
Processo Penal.
Art. 109 – As despesas com a perícia correrão por conta da parte interessada
na prova, apresentando-se o recibo nos autos.

capítulo 2 • 71
2.8.16  Título III

Do julgamento em primeira instância

2.8.16.1  Capítulo I

Do julgamento
Art. 110 – Recebido o processo da Comissão de Instrução, o Presidente do
Conselho, no prazo de 5 (cinco) dias, designará um Conselheiro Relator para a
emissão de parecer conclusivo.
Parágrafo único – A designação de que trata este artigo deverá observar o
disposto no § 2º do art. 7º deste Código.
Art. 111 – O Relator emitirá o parecer conclusivo no prazo de 20 (vinte) dias,
entregando-o, com os autos do processo, ao Presidente do Conselho.
Art. 112 – O Relator poderá, no prazo de 5 (cinco) dias, a contar da data de
recebimento do processo, devolvê-lo à Comissão de Instrução, especificando as
diligências que julgar necessárias e fixando prazo para seu cumprimento.
§ 1º - Ocorrendo o previsto no caput deste artigo, o prazo para a emissão
de parecer conclusivo pelo Conselheiro Relator será interrompido, iniciando-
se nova contagem a partir da data do recebimento do processo da Comissão de
Instrução.
§ 2º - Cumpridas as diligências especificadas, o Presidente da Comissão
de Instrução concederá vista às partes, pelo prazo de 05 (cinco) dias, para se
manifestarem.
§ 3º - Transcorrido o prazo para manifestação das partes, o Presidente
da Comissão de Instrução devolverá o processo diretamente ao Conselheiro
Relator, que dará continuidade à sua tramitação.
§ 4º - O Presidente da Comissão de Instrução poderá, uma única vez, so-
licitar ao Conselheiro Relator a prorrogação do prazo para cumprimento das
diligência que lhe forem determinadas.
Art. 113 – O parecer conclusivo do Conselheiro Relator deverá conter:
I. parte expositiva, onde relatará sucintamente os fatos e a indicação su-
mária das provas colhidas;
II. parte conclusiva em que apreciará o valor da prova obtida, declarando
se há ou não transgressão ao Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,
ou de outras normas do Sistema Cofen/Conselhos Regionais, em quais artigos
está configurada, com indicação da penalidade cabível.

72 • capítulo 2
Art. 114 – Recebido o parecer do Conselheiro Relator, o Presidente do
Conselho determinará a inclusão do processo na pauta da primeira sessão ple-
nária subsequente, determinando a prévia notificação/intimação das partes e
de seus procuradores para o julgamento, com o mínimo de 15 (quinze) dias de
antecedência.
Art. 115 – Aberta a sessão e iniciado o julgamento Conselheiro Relator apre-
sentará o seu parecer, sem emitir voto, em seguida, cada parte o seu procurador
poderá produzir sustentação oral por 10 (dez) minutos.
Art. 116 – Cumpridas as disposições do artigo anterior, os Conselheiros po-
derão pedir a palavra para:
I. esclarecer dúvidas acerca dos fatos constantes do processo, podendo
ter acesso aos autos para verificação;
II. requerer e especificar diligências; e
III. ter vista dos autos até a próxima reunião Plenária, na secretaria do
Conselho.
Parágrafo único – O requerimento a que alude o inciso II deste artigo so-
mente será deferido com aprovação do Plenário.
Art. 117 – Deferida a diligência, o julgamento será suspenso, sendo fixado,
pelo Plenário, prazo não superior a 30 (trinta) dias para seu cumprimento.
Parágrafo único – As partes serão intimadas para, no prazo de 3 (três) dias,
manifestarem-se sore o cumprimento das diligências deferidas pelo Plenário.
Art. 118 – Cumprida a diligência, o Presidente do Conselho mandará incluir
o processo na pauta da primeira reunião Plenária subsequente.

2.8.16.2  Capítulo II

Da decisão
Art. 119 – A deliberação do Plenário terá início após a apresentação o pare-
cer pelo Conselheiro Relator, que emitirá seu voto.
Art. 120 – Em seguida, o Presidente do Conselho franqueará a palavra aos
demais Conselheiros que emitam seus votos.
Parágrafo único – Caberá ao Presidente do Conselho o voto de desempate.
Art. 121 – Em caso de condenação, o Plenário fixará a pena.
Art. 122 – A deliberação do Plenário deverá ser redigida, no prazo de 5 (cin-
co) dias, pelo Conselheiro Relator ou pelo Conselheiro condutor do voto ven-
cedor sob forma de decisão, que a assinará juntamente com o Presidente do
Conselho.

capítulo 2 • 73
Parágrafo único – A decisão conterá:
I. o número do processo;
II. o número do parecer aprovado pelo Plenário;
III. o nome das partes, a qualificação e o número de sua inscrição
profissional;
IV. a ementa do julgamento;
V. o relatório contendo a exposição sucinta dos fatos, os argumentos da
acusação e da defesa;
VI. a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundamenta a
decisão;
VII. a indicação do(s) artigo(s) do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem em que se ache incurso o denunciado.
VIII. a indicação das circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no
Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem;
IX. a absolvição ou a pena imposta; e
X. a data e as assinaturas do Presidente e do Conselheiro relator da
decisão.
Art. 123 – Indicada a pena de cassação, o julgamento será suspenso e os au-
tos remetidos ao Conselho Federal para julgamento.
§ 1º - Recebidos os autos, o Presidente do Conselho Federal designará
Conselheiro Relator.
§ 2º - O Conselheiro Relator disporá de 10 (dez) dias para elaborar o parecer,
contados do prazo de recebimento do processo.
Art. 124 – Na hipótese de o Conselho Federal discordar da pena máxima
proposta pelo Conselho Regional, serão os autos devolvidos ao Regional de ori-
gem, para aplicação de outra penalidade.
§ 1º - Concordando o Conselho Federal com a proposta de cassação, pro-
ferirá decisão, sob forma de acórdão, a ser redigido pelo Conselheiro Relator
ou Conselheiro condutor do voto vencedor, que o assinará juntamente com o
Presidente.
§ 2º - Na aplicação da pena de cassação, o Conselho Federal delimitará o
período de seu cumprimento, para fins da reabilitação.

74 • capítulo 2
2.8.17  Título IV

Das nulidades e anulabilidades


Art. 125 – Os atos praticados poderão ser considerados nulos ou anuláveis.
Os atos ulos são insanáveis e independem da arguição das partes.
Os atos anuláveis poderão ser sanados e deverão ser arguidos pelas partes.
Art. 126 – A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I. quando inexistir o ato de instauração do processo;
II. por falta de citação do denunciado;
III. por falta de designação de defensor dativo;
IV. por supressão de qualquer das fases de defesa;
V. por impedimento declarado de qualquer dos membros do Plenário ou
da Comissão de Instrução; e
VI. por inexistência de fundamentação da decisão.
Art. 127 – A anulabilidade ocorrerá nos seguintes casos:
I. por falta de intimação das testemunhas arroladas pelas partes;
II. por suspeição declarada de qualquer dos membros do Plenário ou da
Comissão de Instrução;
III. pela incompetência do Conselho; e
IV. por falta de cumprimento das formalidades legais prescritas no presen-
te Código.
Art. 128 – As anulabilidades deverão ser arguidas pelas partes em até 5 (cin-
co) dias da data da ciência do ato anulável.
Art. 129 – Nenhum ato será anulado se da anulabilidade não resultar prejuí-
zo para as partes ou não houver influído na apuração da verdade ou na decisão
da causa.
Parágrafo único – Ainda que da anulabilidade possa resultar em prejuízo,
ela somente será pronunciada pelo Presidente da Comissão de Instrução, pelo
Conselheiro Relator ou pelo Plenário quando não for possível suprir-se a falta
ou repetir-se o ato.
Art. 130 – Quando determinado ato for anulável, será considerado válido
nos seguintes casos:
I. se não forem arguidas em tempo oportuno;
II. se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido suas finalidades; e
III. se a parte, ainda que tacitamente, houver aceitado seus efeitos.

capítulo 2 • 75
Art. 131 – Os atos processuais, cuja nulidade tenha sido declarada, retorna-
rão às instâncias competentes para repetição ou retificação.
§ 1º - A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a nulidade dos atos
que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
§ 2º - O Presidente da Comissão de Instrução, o Conselheiro Relator ou
o Plenário, quando pronunciar a nulidade, declarará os atos aos quais ela se
estende.
Art. 132 – Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que tenha dado
causa, ou para qual tenha concorrido, nem poderá arguir nulidade de formali-
dades, cuja observância só à parte contrária interessa.

2.8.18  Título V

Do julgamento em segunda instância

2.8.18.1  Capítulo I

Dos recursos
Art. 133 – Da decisão proferida pelo Conselho Regional caberá recurso ao
Conselho Federal com efeito suspensivo, no prazo de 15 (quinze) dias, conta-
dos da ciência da decisão pelas partes.
§ 1º - Das decisões de arquivamento de denúncias caberá o recurso previsto
no caput deste artigo.
§ 2º - Os recursos serão interpostos perante o órgão prolator da decisão em
primeira instância.
Art. 134 – Recebido o recurso, o Presidente do Conselho determinará a in-
timação da parte contrária para, querendo, apresentar contrarrazões, no prazo
de 15 (quinze) dias, após o que será remetido ao órgão de segunda instância.
Art. 135 – Recebido o processo pela secretaria do Conselho Federal, os autos
serão encaminhados ao seu Presidente que, no prazo de 5 (cinco) dias, desig-
nará Conselheiro Relator, o qual terá o prazo de 10 (dez) dias para emitir seu
parecer.
Art. 136 – Com a entrega do parecer, o Presidente do Conselho designará dia
para o julgamento, intimando as partes e notificando seus procuradores, com
antecedência mínima de 20 (vinte) dias.

76 • capítulo 2
2.8.18.2  Capítulo II

Do recurso para a assembleia geral dos delegados regionais


Art. 137 – Das decisões do Plenário do Conselho Federal, nas hipóteses do
Art. 2º, inciso III, alíneas “b”, “c” e “d” , caberá recurso para a Assembleia Geral
dos Delegados Regionais, no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 138 – Recebido o recurso, o Presidente do Conselho Federal determina-
rá a intimação da parte contrária para, querendo, apresentar contra razões, no
prazo de 15 (quinze) dias.
§ 1º - A Assembleia dos Delegados Regionais será convocada pelo Presidente
do Conselho Federal na forma do que dispuser o seu Regimento Interno e de-
verá reunir-se para julgar o recurso em até 120 (cento e vinte) dias, a contar do
seu recebimento.
§ 2º - No ato de convocação da Assembleia dos Delegados Regionais, o pre-
sidente do Conselho Federal designará Delegado Relator e determinará o envio
de cópias da decisão recorrida, do recurso e das contrarrazões do recurso a cada
Delegado Regional.
§ 3º - O Delegado Relator terá o prazo de 20 (vinte) dias para emitir seu
parecer.
§ 4º - Recebido o parecer, o Presidente do Conselho Federal deverá designar
a data do julgamento e determinar a intimação das partes e de seus procurado-
res, com antecedência mínima de 20 (vinte) dias.

2.8.18.3  Capítulo III

Do julgamento na segunda instância


Art. 139 – Aberta a sessão do julgamento, o Conselheiro Relator apresentará
o parecer sem emissão de voto, sendo a seguir dada a palavra, sucessivamente,
por 10 (dez) minutos, ao recorrente e ao recorrido.
Parágrafo único – O primeiro Conselheiro a usar da palavra será o Relator,
que emitirá seu voto.
Art. 140 – Encerado o julgamento, o Presidente do Conselho anunciará a
decisão, a qual será lavrada na forma de acórdão.
§ 1º - O acórdão será redigido, no prazo de 5 (cinco) dias, pelo Conselheiro
Relator ou pelo condutor do voto vencedor, que o assinará juntamente com o
Presidente do Conselho.

capítulo 2 • 77
§ 2º - O acórdão, no que couber, conterá os mesmos elementos referidos no
parágrafo único do art. 122.
Ar. 141 – Lavrado e publicado o Acórdão, será o processo devolvido ao
Conselho de origem para execução da pena e respectiva divulgação da decisão,
se for o caso.
Parágrafo único – Quando a penalidade imposta for a cassação, o Conselho
Federal fará publicar o Acórdão, ressalvado ao Conselho Regional o direito de
dar publicidade ao mesmo.
Art. 142 – No julgamento do recurso, o órgão julgador, independentemente
do pedido das partes, poderá aplicar penalidade diversa daquela decidida pelo
órgão de julgamento em primeira instância, podendo alterar a classificação da
infração, aumentar, reduzir a pena ou absolver o denunciado.
§ 1º - Em observância aos princípios da ampla defesa e do contraditório,
caberá pedido de reconsideração no caso de aumento de pena decorrente de
recurso interposto penas pelo denunciado.
§ 2º - O pedido de reconsideração deverá ser apresentado ao Conselho
Federal no prazo de 10 (dez) dias, contatos da ciência da decisão mais gravosa
pelo denunciado e será encaminhado pelo Presidente ao Conselheiro condutor
do voto vencedor, o qual terá o prazo de 10 (dez) dias para emitir seu parecer.
§ 3º - Com a entrega do parecer, o Presidente do Conselho designará dia
para o julgamento a ser realizado na forma deste capítulo, intimado a parte e
notificando seu procurador, com antecedência mínima de 20 (vinte) dias.

2.8.19  Título VI

Da execução da pena
Art. 143 – Não cabendo mais recurso, serão os autos evolvidos à instância de
origem do processo, para a execução do decidido.
Art. 144 – A execução das penalidades impostas pelos Conselhos Regionais
ou pelo Conselho Federal se processará na forma estabelecida nas decisões ou
acórdãos, sendo registradas no prontuário do profissional infrator.
§ 1º - As penas aplicadas se estendem a todas as inscrições do profissional
junto ao Conselho de Enfermagem, independentemente da categoria em que o
profissional tenha cometido a infração.
§ 2º - O presidente do Conselho dará conhecimento, à instituição emprega-
dora do infrator, da decisão que impuser penalidade de suspensão do exercício
profissional.

78 • capítulo 2
§ 3º - No caso de cassação do exercício profissional, além da publicação dos
editais e das comunicações endereçadas às autoridades interessadas no assun-
to, será apreendida a carteira profissional do infrator, procedendo-se ao cance-
lamento do respectivo registro no Conselho.
Art. 145 – Impossibilitada a execução da penalidade, esta ficará suspensa
até seu efetivo cumprimento, sem prejuízo das anotações nos prontuários e pu-
blicações dos editais, quando for o caso.
Parágrafo único – O não pagamento da pena de multa importará na sua ins-
crição em dívida ativa para posterior execução judicial.
Art. 146 – Cumpridas toda as decisões de primeira ou segunda instância, o
Presidente do Conselho que tiver atuado como órgão de julgamento em primei-
ra instância determinará o arquivamento do processo.

2.8.20  Título VII

Da previsão da pena
Art. 147 – É facultado ao punido ou, em caso de seu falecimento, aos seus
herdeiros, apresentar pedido de revisão da pena, a qualquer tempo, após a
publicação do acordão, ou quando não couber mais recurso, nas seguintes
hipóteses:
I. forem apuradas provas idôneas da Inocência do punido ou de circuns-
tâncias que possam atenuar a pena, ou desclassificar o fato configurador da
infração, de modo a alterar a penalidade;
II. a decisão condenatória estiver fundada em prova testemunhal ou peri-
cial cuja falsidade ficar comprovada; e
III. ficar evidenciado que o processo se desenvolveu eivado de nulidade.
Parágrafo único – No julgamento da revisão serão aplicadas, no que couber,
as normas previstas neste Código.
Art. 148 – A revisão terá início por petição à Presidência do Conselho
Regional, com as provas documentais comprobatórias dos fatos arguidos.
§ 1º - A revisão será distribuída a um Conselheiro Relator, por designação
do Presidente do Conselho.
§ 2º - Não ser admitida a renovação do pedido de revisão, salvo se funda-
mentado em novas provas.
Art. 149 – A decisão no processo revisional poderá reduzir ou extinguir a
pena, sendo vedado ou seu agravamento.

capítulo 2 • 79
§ 1º - A absolvição implicará no restabelecimento de todos os direitos perdi-
dos em virtude de punição anteriormente aplicada.
§ 2º - A revisão da pena somente surtirá efeito após o seu trânsito em julgado.
Art. 150 – Qualquer recurso, na revisão, somente será recebido no efeito
devolutivo.
Art. 151 – A revisão será processada em apenso aos autos originais do pro-
cesso ou, ainda, acompanhada de fotocópias integrais dos autos originais.

2.8.21  Título VIII

Da reabilitação
Art. 152 – Após 2 (dois) anos do cumprimento da pena aplicada pelo
Conselho de Enfermagem, sem que tenha sofrido qualquer outra penalidade
ético-disciplinar, ou esteja respondendo a processo administrativo ou crimi-
nal, e mediante provas efetivas de bom comportamento, é permitido ao profis-
sional requerer a reabilitação profissional.
§ 1º - O requerimento de que trata o caput deste artigo deverá ser instruído
com as provas e certidões pertinentes.
§ 2º - Havendo necessidade, o Conselho poderá determinar a realização de
perícia para avaliar a efetiva recuperação do profissional.
§ 3º - Quando a infração ético-disciplinar constituir crime, a reabilitação
profissional dependerá da correspondente reabilitação criminal.
Art. 153 – A reabilitação, caso a cassação tenha ocorrido por fato imputado
como crime, seguirá os mesmos trâmites da reabilitação penal, com a repara-
ção na área cível ou demonstração de absoluta impossibilidade de fazê-lo, ou,
ainda, declaração de renúncia da vítima, com demonstração por parte do de-
nunciado de constante bom comportamento público e privado.
Art. 154 – Os efeitos da reabilitação consistem em retirar do prontuário do
profissional qualquer apontamento referente à condenação e, no caso de cas-
sação, a outorga de nova inscrição.
Art. 155 – O pedido de reabilitação deverá ser formulado diretamente ao
Conselho que executou a pena, cabendo recurso ao Conselho Federal.

80 • capítulo 2
2.8.22  Título IX

Da prescrição
Art. 156 – A pretensão à punibilidade das infrações ético-disciplinares pres-
creve em 5 (cinco) anos, contados da data de ocorrência do fato.
§ 1º - Aplica-se a prescrição a todo processo ético-disciplinar paralisado por
mais de 3 (três) anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo ser arqui-
vado, de ofício ou a requerimento da parte interessada, sem prejuízo de serem
apuradas as responsabilidades pela paralisação.
§ 2º A prescrição interrompe-se pela instauração de processo ético-disci-
plinar, ou pela notificação válida feita ao denunciado, inclusive por meio de
editais.
§ 3º - Interrompida a prescrição, todo o prazo começa a contar novamente
do dia dessa interrupção.

2.8.23  Título X

Das disposições finais


Art. 157 – É vedada vista dos autos fora da secretaria do Conselho, porém
as partes poderão, a qualquer tempo, acessá-los, inclusive obter cópia de pe-
ças, por meio de requerimento formulado ao Presidente do Conselho ou de
Comissão de Instrução, a expensas do requerente.
Art. 158 – Em qualquer fase do processo, poderá ser solicitada pela
Presidência a manifestação da Assessoria Jurídica do Conselho.
§ 1º - A manifestação da Assessoria Jurídica versará, exclusivamente, sobre
as questões processuais e de legalidade.
§ 2º - É defeso ao Assessor Jurídico manifestar-se sobre questões
ético-disciplinares.
Art. 159 – As disposições do presente Código aplicam-se aos que exercem
atividades de enfermagem, independentemente da regularidade de sua inscri-
ção no Conselho Regional.
Parágrafo único – Este Código não se aplica a quem não for inscrito ou auto-
rizado pelo Conselho Regional, aplicando-se, contudo, ao profissional inscrito
ou autorizado ao tempo da prática da conduta que deu origem ao processo.
Art. 160 – As questões omissas neste Código deverão ser supridas utilizan-
do-se subsidiariamente, os dispositivos previstos no Código de Processo Penal,
no que lhes for aplicável.

capítulo 2 • 81
Art. 161 – Este Código entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2011, sem
prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência do Código anterior.
Art. 162 – Revoga-se a Resolução nº 252/2001 e demais disposições em
contrário.

82 • capítulo 2
3
Instituições
de Classe da
Enfermagem
Instituições de Classe da Enfermagem: Associação Brasileira de Enfermagem
(ABEn), Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), Conselho Regional de En-
fermagem (COREn) e Sindicatos

OBJETIVOS
O aluno deverá ser capaz de:

•  Conhecer a história da formação das instituições de classe da Enfermagem


•  Identificar quais são a atribuições da ABEN, COFEN, Coren e Sindicato.

84 • capítulo 3
As práticas de saúde no mundo moderno analisam as ações de saúde e, em
especial, as de Enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da so-
ciedade capitalista. Ressaltam o surgimento da Enfermagem como atividade
profissional institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução Indus-
trial no século XVI e culmina com o surgimento da Enfermagem moderna na
Inglaterra, no século XIX.
O avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos hospitais. É na re-
organização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como
principal responsável por esta reordenação, que vamos encontrar as raízes do
processo de disciplinarização e seus reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da
fase sombria em que esteve submersa até então.
A evolução crescente dos hospitais não melhorou suas condições de salu-
bridade. Foi a época em que estiveram sob piores condições, devido princi-
palmente à predominância de doenças infectocontagiosas e à falta de pessoas
preparadas para cuidar dos doentes. Os ricos continuavam a ser tratados em
suas próprias casas, enquanto os pobres, além de não terem esta alternativa,
tornavam-se objeto de instrução e experiências que resultariam num maior co-
nhecimento sobre as doenças em benefício da classe abastada.
É neste cenário que a Enfermagem passa a atuar, quando Florence
Nightingale é convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar
junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Criméia.
No Brasil a organização da Enfermagem na Sociedade Brasileira - compre-
ende desde o período colonial até o final do século XIX e analisa a organiza-
ção da Enfermagem no contexto da sociedade brasileira em formação. Desde o
princípio da colonização foi incluída a abertura das Casas de Misericórdia, que
tiveram origem em Portugal.
A primeira Casa de Misericórdia foi fundada na Vila de Santos, em 1543.
Em seguida, ainda no século XVI, surgiram as do Rio de Janeiro, Vitória, Olinda
e Ilhéus. Mais tarde Porto Alegre e Curitiba, esta inaugurada em 1880, com a
presença de D. Pedro II e Dona Tereza Cristina. No que diz respeito à saúde do
nosso povo, merece destaque o Padre José de Anchieta. Ele não se limitou ao
ensino de ciências e catequeses; foi além: atendia aos necessitados do povo,
exercendo atividades de médico e enfermeiro. Em seus escritos encontramos
estudos de valor sobre o Brasil, seus primitivos habitantes, clima e as doenças
mais comuns.

capítulo 3 • 85
A primeira sala de partos funcionava na Casa dos Expostos em 1822. Em
1832 organizou-se o ensino médico e foi criada a Faculdade de Medicina do Rio
de Janeiro. A escola de parteiras da Faculdade de Medicina diplomou no ano
seguinte a célebre Madame Durocher, a primeira parteira formada no Brasil.
No começo do século XX, um grande número de teses médicas foi apresentado
sobre Higiene Infantil e Escolar, demonstrando os resultados obtidos e abrin-
do horizontes a novas realizações. Esse progresso da medicina, entretanto, não
teve influência imediata sobre a Enfermagem.
Assim sendo, na enfermagem brasileira do tempo do Império, raros nomes
destacaram e, entre eles, merece especial menção o de Ana Neri.
Para atender inicialmente aos hospitais civis e militares e posteriormen-
te, às atividades de saúde pública - principiou com a criação, pelo governo, da
Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, no Rio de Janeiro, junto ao
Hospital Nacional de Alienados do Ministério dos Negócios do Interior. Esta
escola, que é de fato a primeira escola de Enfermagem brasileira, foi criada pelo
Decreto Federal nº 791, de 27 de setembro de 1890, e denomina-se hoje Escola
de Enfermagem Alfredo Pinto, pertencendo à Universidade do Rio de Janeiro
- UNI-RIO.

3.1  Associação Brasileira de Enfermagem -


ABEn

Sociedade civil sem fins lucrativos, que congrega enfermeiros, técnicos e au-
xiliares em enfermagem, fundada em agosto de 1926, sob a denominação de
“Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras”. É uma entidade
de direito privado, de caráter científico e assistencial regida pelas disposições
do Estatuto, Regulamento Geral ou Regimento Especial. Em 1929, no Canadá,
na Cidade de Montreal, a Associação Brasileira de Enfermagem, foi admitida
no Conselho Internacional de Enfermeiras (I.C.N.). Por um espaço de tempo a
associação ficou inativa.
Em 1944, um grupo de enfermeiras resolveu reerguê-la com o nome
Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas. Seus estatutos foram
aprovados em 18 de setembro de 1945. Foram criadas Seções Estaduais e
Coordenadorias de Comissões.

86 • capítulo 3
Ficou estabelecido que em qualquer Estado onde houvesse sete enfermei-
ras diplomadas, poderia ser formada uma Seção. A qual possui como compro-
misso, propor e defender políticas e programas que visem a melhoria da qua-
lidade de vida da população e o acesso universal e equânime aos serviços de
saúde. Desde sua criação, a ABEn trabalha para o desenvolvimento da enfer-
magem brasileira. A partir de 1986 amplia a defesa da profissão como práti-
ca social, inserindo-se nos movimentos sociais comprometidos com a vida, a
democracia e a cidadania. Em 1955, esse número foi elevado a 10. Em 1952, a
Associação foi considerada de Utilidade Pública pelo Decreto nº 31.416/52. Em
21 de agosto de 1964, foi mudada a denominação para Associação Brasileira
de Enfermagem - ABEn. Atualmente a ABEn, com sede em Brasília, funciona
através de Seções formadas nos Estados, e no Distrito Federal, as quais, por sua
vez, poderão subdividir-se em Distritos formados nos Municípios das Unidades
Federativas da União.
Pautadas em princípios éticos, tem como eixo a defesa e a consolidação do
trabalho da enfermagem como prática social, essencial a assistência de saú-
de e a organização e funcionamento dos serviços de saúde, tem como compro-
misso, propor e defender políticas. Em 1929, a ABEn foi admitida no Conselho
Internacional de Enfermeiras (CIE), nele tendo permanecido até 1997, quando
foi substituída pelo COFEN. Também se destaca o enorme empenho das pio-
neiras da ABED que, em 1953, organizaram o 10º Congresso Quadrienal do CIE,
em Petrópolis (RJ). Dias antes de iniciar esse evento internacional, o CIE reali-
zou uma reunião na cidade de São Paulo, que hospedou todas as delegações
estrangeiras que compareceram para o Conselho de Representantes Nacionais
(CRN), quando foi aprovado o primeiro Código de Ética de Enfermagem de nível
internacional. Esse código, embora revisado em 1973, 1987 e 2000, constitui-se
praticamente no mesmo documento, pois é baseado em princípios universais
de respeito à vida. A ABEn trabalha para o desenvolvimento da Enfermagem
Brasileira, nos últimos dois anos ampliou sua atuação com implantação de um
programa de atualização em enfermagem (PROENF).
Em sua trajetória histórica, a ABEn tem contribuído efetivamente para a
consolidação do SUS e do controle social no país; Ela também tem investido
nas políticas nacionais de educação envolvendo nesse processo as escolas/
curso de enfermagem; Mantendo a publicação da revista Brasileira de en-
fermagem (REBEn) e a promoção de eventos de caráter científico, político
e social: congresso Brasileiro de enfermagem (CBEn); semana brasileira de

capítulo 3 • 87
enfermagem (SEBEn) e encontros regionais de enfermagem; seminário nacio-
nal de pesquisa em enfermagem (SENPE); simpósio nacional de diretrizes para
a educação em enfermagem (SENADEn); seminário nacional de diretrizes para
enfermagem na atenção básica em saúde (SENABS); seminário internacional
sobre o trabalho de enfermagem (SITEn) que este ano foi realizado na cidade
de Havana, em Cuba o XV congresso Internacional nos dias 17 a 21 de junho, no
evento foi apresentado oficinas interativas, simpósio e exposições de trabalhos
científicos. No programa cientifico estava inserido painéis, apresentações orais
e pôsteres, além de lançamento de livros.
Como parte da sua missão tem buscado construir e fortalecer parcerias com
organizações tais como: Federação Nacional de Enfermeiros – FNE, Executiva
nacional de estudantes de Enfermagem – ENEEnf, conselho nacional de saúde
– CNS, Associação Brasileira de saúde Coletiva – ABRASCO, Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), Fórum nacional de Educação das Profissões
na Área de Saúde – FNEPAS, Fórum das Entidades nacionais dos Trabalhadores
da Área da Saúde - CNTS, Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Seguridade Social – CNTSS; Confederação Nacional de secretarias Municipal
de Saúde – CONASEMS Rede Unida, Rede nacional Feminista de Saúde, Direito
Sexuais e Direitos Reprodutivos – Redes Saúde, Serviço de saúde, Escolas e
Cursos de Enfermagem e Sociedades de Especialista em Enfermagem. E ainda
vem mantendo uma agenda política com o conselho Federal de Enfermagem
para o interesse Enfermagem Brasileira.

3.2  Marcos Históricos da ABEn


A revista brasileira de enfermagem (REBEN), que foi criada no dia 20 de
maio de 1932, ela tem a finalidade de divulgar a produção de diferentes áre-
as do saber de interesse da enfermagem, visando o desenvolvimento técnico
científico e cultural da profissão. Caso haja interesse em receber exemplares da
REBEN mensalmente existe a opção de realizar assinatura, o valor da assinatu-
ra varia de acordo com o seu nível de associação perante a ABEn.
O dia nacional do enfermeiro, que foi instituído pelo presidente Getúlio
Vargas em 12 de maio, dia de nascimento de Florence Nightingale. A logomar-
ca da ABEn, criada em 1958, é o distintivo usado nos documentos oficiais da
ABEn.

88 • capítulo 3
A semana da enfermagem do dia 12 a 20 de maio, instituída em 1960 pelo
presidente Juscelino Kubitschek, o decreto estabelece que “no transcurso da
Semana deverá ser dada ampla divulgação às atividades da enfermagem e posta
em relevo a necessidade de congraçamento da classe em suas diferentes cate-
gorias profissionais, bem como estudados os problemas de cuja solução possa
resultar melhor prestação de serviço ao público”.
O boletim informativo da ABEn, criado em 1958, de publicação ágil com as
seções e os sócios, com circulação trimestral.
Finalidades da ABEn

•  Congregar os enfermeiros, técnicos e auxiliares em Enfermagem, incenti-


var o espírito de união e solidariedade entre as classes;
•  Promover o desenvolvimento técnico, científico e profissional dos inte-
grantes de Enfermagem do País.
•  Promover integração às demais entidades representativas da Enfermagem,
na defesa dos interesses da profissão.

3.2.1  Estrutura

A ABEn é constituída pelos seguintes órgãos, com jurisdição nacional:

•  Assembléia de delegados
•  Conselho Nacional da ABEn (CONABEn)
•  Diretoria Central
•  Conselho Fiscal

Realizações da ABEn

•  Congresso Brasileiro em Enfermagem.


•  Revista Brasileira de Enfermagem (publicado bimestralmente)

capítulo 3 • 89
3.3  Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN) e Conselhos Regionais de
Enfermagem (COREN)
A Enfermagem é uma profissão regulamentada. Isto significa que o exercício,
desde a formação profissional às competências e áreas de atuação, é regido por
lei. A fiscalização do exercício profissional é a função primordial dos Conselhos
de Enfermagem.
Se não houvesse essa fiscalização, a eficácia da lei 7.498/86, que regulamen-
ta a profissão, seria muito restrita. Quem impediria a contratação de profissio-
nais sem qualificação? A quem seriam denunciados desvios de função? E os
casos de má conduta profissional? Essas situações colocariam em risco a saúde
da população brasileira. Os profissionais também estariam mais vulneráveis a
abusos, a decisões arbitrárias, e a concorrência desleal no mercado de trabalho.
Assim, em 12 de julho de 1973, através da Lei 5.905, foram criados os
Conselhos Federal e Regionais de Enfermagem, constituindo em seu conjunto
Autarquias Federais, vinculadas ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.
O Conselho Federal e os Conselhos Regionais são órgãos disciplinadores do
exercício da profissão de enfermeiros, técnicos de Enfermagem e auxiliares de
Enfermagem. Em cada estado há um Conselho Regional os quais estão subor-
dinados ao Conselho Federal, que é sediado no Rio de Janeiro e com escritório
Federal em Brasília.
Os Conselhos Regionais de Enfermagem são dirigidos pelos próprios ins-
critos, que formam uma chapa e concorrem a eleições. O mandato dos mem-
bros do COFEN/CORENs é honorífico e tem duração de três anos, com direito
apenas a uma reeleição. A formação do plenário do COFEN é composta pelos
profissionais que são eleitos pelos Presidentes dos CORENs.
A manutenção dos Sistemas COFEN/CORENs é feita através da arrecadação
de taxas emolumentos por serviços prestados, anuidades, doações, legados e
outros, dos profissionais inscritos nos CORENs.
São entidades públicas de direito privado vinculadas ao Poder Executivo,
na esfera da fiscalização do exercício profissional. O objetivo primordial é ze-
lar pela qualidade dos profissionais de enfermagem, pelo respeito ao Código
de Ética dos Profissionais de Enfermagem e cumprimento da Lei do Exercício
Profissional.

90 • capítulo 3
O Sistema COFEN/CORENs encontra-se representado em 27 Estados
Brasileiros, sendo este filiado ao Conselho Internacional de Enfermeiros em
Genebra.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) é responsável pela instalação
dos Conselhos Regionais (Coren) e pela apreciação, em grau de recurso, das
decisões de cada Coren. Cabe ao Cofen elaborar o código de ética profissional
e, quando necessário, alterá-lo, ouvindo os Conselhos Regionais. O Cofen tem,
ainda, importantes funções administrativas, zelando pela uniformidade dos
procedimentos e bom funcionamento dos Conselhos Regionais e esclarecendo
suas dúvidas. As atribuições do Cofen são definidas na lei 5.905/1973.
Como órgão técnico, o Cofen tem um papel importante no dimensiona-
mento de pessoal de Enfermagem e nas demais normativas técnicas de funcio-
namento dos serviços de Enfermagem. A função do Cofen não é sindical. Cabe
aos sindicatos e associações representar os interesses corporativos de sua cate-
goria. O Cofen reconhece que a valorização dos profissionais de Enfermagem
tem reflexos na qualidade do atendimento prestado. Por isso, como órgão de
regulamentação, o Cofen apoia importantes reivindicações da categoria, como
o piso salarial e a jornada de trabalho de 30 horas.
Jornada e piso salarial - O Cofen defende a regulamentação da jornada de
trabalho em 30h semanais – já conquistada em alguns municípios – e o esta-
belecimento de um piso salarial que permita ao profissional viver dignamente.
Projetos de lei para a regulamentação da jornada e o piso salarial tramitam no
Congresso com apoio do Cofen. Os Conselhos, porém, não podem definir es-
sas questões. São necessárias leis que regulamentem essas questões. Por isso,
a mobilização dos profissionais e entidades representativas, como sindicatos,
também é fundamental.

3.3.1  Competências:

Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) órgão normativo e de decisão


superior:

•  normatizar e expedir instruções, para uniformidade de procedimento e


bom funcionamento dos Conselhos Regionais;
•  esclarecer dúvidas apresentadas pelos CORENs; e apreciar decisões dos
CORENs, homologando, suprindo ou anulando atos praticados por este;

capítulo 3 • 91
•  aprovar contas e propostas orçamentárias de autarquia, remetendo-as
aos órgãos competentes;
•  promover estudos e campanhas para aperfeiçoamento profissional;
•  exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas por lei.

3.4  Conselho Regional de Enfermagem


(COREN) - órgão de execução, decisão e
normatização suplementar:
•  deliberar sobre inscrições no Conselho e seu cancelamento;
•  disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observando as diretrizes
gerais do COFEN;
•  executar as instruções e resoluções do COFEN;
•  expedir carteira e cédula de identidade profissional, indispensável ao
exercício da profissão, a qual tem validade em todo território nacional;
•  fiscalizar e decidir os assuntos referentes à Ética Profissional impondo as
penalidades cabíveis;
•  elaborar a proposta orçamentária anual e o projeto de seu regimento in-
terno, submetendo-os a aprovação do COFEN;
•  zelar pelo conceito da profissão e dos que a exercem;
•  propor ao COFEN medidas visando à melhoria do Exercício Profissional;
•  eleger sua diretoria e seus delegados eleitores a nível central e regional;
•  exercer as demais atribuições que lhe forem conferidas pela Lei 5.905/73
e pelo COFEN.

3.4.1  Sindicato

Temos a historia do sindicalismo na enfermagem, em 1929 a associação dos


Enfermeiros da Marinha Mercante se transformou no Sindicato Nacional dos
Enfermeiros da Marinha Mercante, ao qual se filiava todas as pessoas que de-
senvolvem ações de enfermagem na Marinha Brasileira.
Em 1933 formou o sindicato dos Enfermeiros terrestre, ao qual esta-
va associado às praticas de enfermagem, os atendentes e até os Enfermeiros
diplomados.

92 • capítulo 3
A partir de 1952 associações brasileiras de enfermeiras diplomadas e o sin-
dicato dos enfermeiros em hospitais e casas de saúde assumem uma postura
de trabalho conjunto para defender os interesses da enfermagem. Destacam-se
as reivindicações da ABED na década de 1950, pelo reconhecimento do status
do enfermeiro e suas questões específicas, assim como de auxílio, no que diz
respeito a salários, pagamento de insalubridade, aposentadoria aos 25 anos de
serviço reintegração do enfermeiro ao quadro de profissionais liberais, acesso
do Enfermeiro ao plano de Classificação de Cargos do serviço federal e a ati-
vidade de nível superior, fiscalização e subvenção às escolas de enfermagem.
Com isso, pode-se concluir que a ABED desempenha tarefas sindicais, como as
reivindicações salariais.
Antes da efetiva criação do sindicato deve-se existir um pré-sindicalismo,
que é legalmente chamado de associação profissional. Essa entidade possui fi-
nalidades econômicas, de assistência e de defesa dos interesses profissionais,
além de atuar como órgão de representação da classe em negociações salariais.
Embora existisse sindicato dos enfermeiros, este não representava os ver-
dadeiros interesses da categoria, assim, em 2 de setembro de 1974, a porta-
ria Ministerial. 3.311/74 alterou a denominação sindicato dos enfermeiros e
Empregados de Hospitais e Casas de Saúde, para sindicato de Profissionais de
Enfermagem, técnicos, duchistas, massagistas e empregados em Hospitais e
Casas de Saúde, essa modificação representava mais um passo na trajetória
para a constituição de um sindicato de enfermeiros.
A organização sindical apresenta três níveis, o sindicato de forma geral em
âmbito municipal, a federação de amplitude estadual e a confederação em âm-
bito nacional.
Somente as entidades sindicais têm competência de celebrar contratos de
trabalhos coletivos, bem como instaurar e homologar dissídios coletivos da ca-
tegoria, impor contribuições a todos os integrantes da profissão que represen-
tam em conformidades com as regras estipuladas pela consolidação das leis de
trabalho (arts 511 e 512).
É facultativa a filiação do individuo a associação profissional ou sindical,
independente de serem associados, todos os assalariados profissionais devem
contribuir compulsoriamente com um dia de trabalho a cada ano, em geral
descontado pelo empregador e repassado diretamente aos cofres do respectivo
sindicato.

capítulo 3 • 93
O sindicato é uma entidade que possui finalidade econômica, de assistên-
cia e de defesa dos interesses profissionais, além de atuar como órgão de repre-
sentação de classe em negociações salariais, a associação profissional depende
de um grupo de pessoas com interesses comuns, que elabore um estatuto, pre-
encha determinados requisitos e registre a associação na delegacia regional do
trabalho.
O Sindicato é uma associação de defesa, um instrumento de luta dos traba-
lhadores com o objetivo de conquistar melhores salários, condições de traba-
lho, respeito e dignidade ao trabalhador e combater toda forma de opressão,
possibilitando ao empregado, voz ativa e ter seus direitos defendidos.
Todo trabalhador tem direito a se juntar com outros trabalhadores, para
unidos em sua categoria, ter a força para negociar com o patrão, filiado você
fortalece a categoria, aproveita os convênios que o sindicato faz, especialmente
para melhorar sua vida. Na hora de reivindicar seus direitos e de fazer a sua
defesa, você pode contar com o peso da categoria, lutando pelos direitos da ca-
tegoria profissional.
Os representantes dos Sindicatos dos Enfermeiros são escolhidos por vota-
ção dos seus associados. Todos os profissionais da área de enfermagem podem
ser filiados ao sindicato, tendo uma porcentagem do seu salário descontado
em benefício desse sindicato, resultando em um montante que é investido na
manutenção da entidade e na melhoria de instalações recreativas destinadas
aos seus filiados. As rescisões trabalhistas devem passar pelo Sindicato dos
Enfermeiros, onde é conferido se o montante pago pela empresa ao profissio-
nal de enfermagem está correto. Caso não esteja, o sindicato auxilia o profissio-
nal a recuperar o real valor da indenização ou rescisão.

ATIVIDADE
Diante de uma situação trabalhista, como por exemplo, demissão qual das instituições de
classe da enfermagem você deve procurar? Observe o quadro abaixo e reflita!

SEMELHANÇA OU
CONSELHO DE CLASSE SINDICATO ABEN
DIFERENÇA
Defesa trabalhista e Desenvolvimento cultu-
FINALIDADE Disciplina e controle
econômica ral e profissional
Ortorga da Carta Registro em cartório de
ORIGEM Lei 5905/73
sindical pessoas jurídicas
Sociedade civil de Sociedade civil de Sociedade civil de
TIPO DE ORGANIZAÇÃO direito público direito privado direito privado

94 • capítulo 3
SEMELHANÇA OU
CONSELHO DE CLASSE SINDICATO ABEN
DIFERENÇA
Enfermeiros, auxiliares, Enfermeiros, auxiliares,
MEMBROS OU INSCRITOS técnicos de enferma- Enfermeiros técnicos de enferma-
gem. gem
Disciplinar, normatizar e Defesa econômica e Promoção de atividades
COMPETÊNCIA fiscalizar a profissão. trabalhista científico culturais
FILIAÇÃO Compulsória Facultativa Facultativa
Cofen-delegados Sindicalizados em
ELEIÇÃO eleitores Assembléia Associados
Coren- pelos inscritos geral
MANDATO 3 anos 3 anos 3 anos

Tabela 3.1 – Atribuições das instituições de classe de Enfermagem, 2015.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Brasil. Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973. Dispõe sobre a criação dos Conselhos Federal e
Regionais de Enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União 13 de jul 1973; Seção
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São Paulo, CORN; 2001. p. 277-89.
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OGUISSO, T. Trajetória Histórica e Legal da Enfermagem. São Paulo. 2007.

96 • capítulo 3
4
Ética em
Enfermagem e
Comitê de Ética de
Enfermagem
OBJETIVOS
•  Conhecer o Código de Ética de Enfermagem
•  Conhecer a composição e as funções de uma Comissão de Ética de Enfermagem
•  Identificar a caracterização de culpa como imperícia, imprudência e negligência.
•  Conhecer as responsabilidades Éticas, Civis e Penais da equipe de enfermagem diante de
uma ação culposa.
•  Conhecer as legislações sobre este tema.

98 • capítulo 4
Na história da enfermagem brasileira, os temas abordados com mais frequ-
ência concentraram-se na análise de grandes tópicos como: a vida, a morte, o
aborto, a eutanásia, os métodos anticoncepcionais e, ultimamente, os trans-
plantes, a iatrogenia e a bioética. Nesse contexto, observamos a importância
de conhecer e ampliar o entendimento da Comissão de Ética de Enfermagem
(CEE) onde vemos contemplados os princípios fundamentais que definem o
“fazer enfermagem” e o “ser profissional de enfermagem”, e também nossos
direitos, responsabilidades e deveres até a aplicação das penalidades previstas
quando se fizerem necessárias.
Embasados em algumas publicações, encontramos autores que se referem
aos deveres dos profissionais como: respeitar o natural pudor, a privacidade e a
intimidade do cliente; outros que dispõem sobre direitos do profissional e que
garantem a ele recusar-se a executar atividades que não sejam de sua compe-
tência legal. Algumas dessas obras podem parecer menos importantes diante
de temas tão polêmicos como os anteriormente citados, mas na verdade, mui-
tos deles são de grande valia principalmente para o paciente e seus familiares.
Desta forma, no século atual podemos dizer que a “humanização da as-
sistência” passa a ser o foco para muitos profissionais da saúde, embasada na
ética das relações humanas, o que faz parte de um momento ímpar o qual
possibilita os profissionais compreenderem o sentido da profundidade do que
é “ser humano”.
A afirmação pode parecer um tanto forte, porém é preciso refletir sobre as
inúmeras situações que presenciamos, diariamente, envolvendo questiona-
mentos de valores éticos e que por vezes exigem dos profissionais de saúde
decisões “certas”.
Observamos então, que muitas vezes estes trabalhadores não estão prepara-
dos, seguros, e nem mesmo cientes das suas responsabilidades diante das suas
decisões e atitudes.
Os valores e crenças individuais, bem como a filosofia pessoal, desempe-
nham um papel importante na tomada de decisões morais e éticas e que essas
decisões fazem parte da nossa rotina. Alguns profissionais podem envolver-se
em processos éticos em decorrência de uma “distorção” na forma de perceber e
avaliar determinado fato ou situação, baseados em valores pessoais.
O respeito, a beneficência e a responsabilidade são valores humanos inse-
ridos no Código de Ética dos profissionais de enfermagem apoiado, por outros
valores como, a veracidade, a confidencialidade, a privacidade, a justiça, a auto-
nomia, a competência Assim, concordamos com a afirmativa que diz:

capítulo 4 • 99
“A ética profissional é uma parte da ciência moral, busca a humanização
do trabalho organizado, isto é, procura colocá-lo a serviço do homem, da sua
promoção, da sua finalidade social ” (SILVA ET AL.,2006).
As práticas sociais são atividades para atender às necessidades das pessoas,
vistas como seres sociais. Portam profundo sentido de humanidade, pois acon-
tecem no bojo das relações interpessoais e na busca da sobrevivência humana.
Por isso, diferem dos comportamentos naturais. Inserem-se no processo cultu-
ral e histórico das interações intencionais entre os seres humanos e desses com
o mundo natural e as coisas.
É uma atividade social coerente e complexa, cooperativa, socialmente esta-
belecida, que envolva padrões de excelência, obediência às regras e realização
de bens internos. Os bens internos são como joias próprias de cada prática, que
podem ser alcançadas somente na realização de seus padrões de excelência.
Por exemplo, o contentamento de poder contribuir para a melhoria da saúde de
alguém é um bem interno da enfermagem.
Compreender a enfermagem como prática social significa ultrapassar suas
dimensões técnico-operativas, decorrentes da aplicação direta do saber bio-
tecnológico, e vê-la como uma das muitas práticas da sociedade, com as quais
compartilha a responsabilidade pela saúde. A enfermagem, assim, é vista como
integrante do processo de produção de saúde, guardando correlação com a fi-
nalidade social do trabalho e das instituições sociais.
A prática é a ação do homem sobre as coisas, ou seja, é a aplicação do co-
nhecimento em situações concretas como uma atividade orientada para um
fim determinado. A prática da enfermagem tem um objeto, a saúde humana, e
busca transformá-lo, intencional e planejadamente, por intermédio de meios e
instrumentos. Seu produto final é o cuidado de enfermagem em relação à pes-
soa, nos diferentes momentos do processo de saúde/doença.
Como prática social, a enfermagem é profissão dinâmica, sujeita a constan-
tes transformações e à incorporação de reflexões e ações sobre novos temas e
problemas, mas sempre se guiando pelo princípio ético de manter ou restaurar
a dignidade em todos os âmbitos da vida. Para isso, os enfermeiros necessitam
desenvolver visão compreensiva e interativa das questões sociais e da saúde,
em consonância com a complexidade dessas áreas e as pluralidades da socie-
dade atual.
Para responder à finalidade social da prática e interligar os elementos téc-
nico e ético do cuidado de enfermagem, é preciso que o enfermeiro conjugue,

100 • capítulo 4
no cotidiano do trabalho, princípios e valores com competência técnica, em
uma atmosfera de corresponsabilização e acolhimento. Isso requer dos enfer-
meiros sensibilidade humana que se manifesta no interesse, respeito, atenção,
compreensão, consideração e afeto pelo outro e pela comunidade. Também
implica engajamento político na transformação do que é incompatível com a
dignidade do ser humano, a fim de eliminar as desigualdades desnecessárias,
evitáveis e fomentar o que faz viver bem e com qualidade.
O compromisso é o cerne das práticas sociais. Nele, estão os valores norte-
adores do fazer, ou seja, com o objetivo a ser concretizado, em maior ou menor
medida, nas atividades de cada prática. Na enfermagem, esse compromisso é
de cuidado e cria o apelo ético de responsabilização radical na promoção da
pessoa, respeitando e fomentando sua autonomia, cidadania, dignidade e
saúde.
A equipe de enfermagem, em relação a outras equipes, é a que permane-
ce mais tempo com o paciente durante o seu tratamento, no entanto, este fato
tanto pode transformar-se num diferencial para a qualidade da assistência
quanto num fator sem maior influência, um simples cumprimento de rotinas.
Algumas vezes a maior frequência de contatos passa a ser apenas uma aborda-
gem a mais junto ao paciente num dia “atarefado”.
Neste contexto, a classe dos profissionais de enfermagem, tem sido moti-
vada a conhecer o seu exercício profissional, as leis que o regulamentam e seu
código de ética e cabe a cada profissional buscar, a melhor forma de entendi-
mento, bem como, reivindicar as condições para que possa cumprir o que legal-
mente lhe compete. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem deve
ser conhecido e discutido por todos os profissionais a que ele se refere para que
pudesse servir de subsídio para as dúvidas que surgem no exercício diário das
nossas atividades.
Assim, as Comissões de Ética de Enfermagem (CEE) tornam-se as maiores
fomentadoras destas discussões.

4.1  Comissões de Ética de Enfermagem


(CEE)

Desta forma, descreveremos como se deu a criação das CEE no Estado de São
Paulo. No ano de 1993 a Resolução 160 do Conselho Federal de Enfermagem

capítulo 4 • 101
(COFEN) instituiu o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem na juris-
dição de todos os Conselhos Regionais de Enfermagem.
No estado de São Paulo, o COREN considerou as sugestões advindas de
três seminários realizados com a categoria de Enfermagem nos anos de 1994
e 1995, onde foi discutida a importância da formação das Comissões de Ética
de Enfermagem neste Estado. Outro ponto considerado foi a resolução COFEN
172/94 que normatiza a criação da Comissão de Ética de Enfermagem nas
Instituições de Saúde.
Assim, as CEE tornaram-se obrigatórias no, Estado de São Paulo, após a de-
liberação do plenário do COREN-SP em sua 389ª Reunião Ordinária ocorrida
no dia 09 de janeiro de 1996, que resolve:
Art. 1º) Tornar obrigatória a criação das Comissões de Ética de Enfermagem
em todas as instituições de Saúde que tenham seu quadro de pessoal formado
por no mínimo, 10 (dez) enfermeiros.
Art. 2º) As Comissões de Ética de Enfermagem serão órgãos representati-
vos do Conselho Regional de São Paulo, com funções educativas, consultivas
e fiscalizadoras do exercício profissional e ético dos profissionais de
Enfermagem
Art. 3º) A Comissão de Ética de Enfermagem tem como finalidade:

•  garantir a conduta ética dos profissionais de Enfermagem nas instituições,


•  zelar pelo exercício ético dos profissionais de Enfermagem nas institui-
ções, combatendo o exercício ilegal da profissão, educando, discutindo e divul-
gando o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem,
•  notificar o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo as irregulari-
dades, reivindicações, sugestões e infrações éticas.

Art. 4º) - A criação, formação e funcionamento das Comissões de Ética de


Enfermagem deverão se guiar pelo “Regimento para a criação, formação e fun-
cionamento das Comissões de Ética de Enfermagem”, que está em anexo à essa
decisão e faz parte integrante da mesma.
Art.5º) Os casos omissos no presente ato decisório serão resolvidos pelo
COREN-SP.
Art. 6º) A presente decisão entrará em vigor após homologação pelo
COFEN e for publicada no órgão de Imprensa Oficial da Autarquia.
São Paulo, 09 de janeiro de 1996.

102 • capítulo 4
Esta decisão foi homologada pelo Conselho Federal de Enfermagem, atra-
vés da Resolução COFEN 009/96. O Regimento para criação, formação e
funcionamento das Comissões de Ética de Enfermagem encontra-se à dis-
posição dos interessados na sede do COREN-SP.
Portanto, numa análise mais apurada dessa resolução, apreendemos que
a CEE tem a função de dar respaldo legal para a discussão das situações co-
tidianas de trabalho da enfermagem, protegendo de qualquer dano, tanto
profissionais quanto clientes e instituições.
Ao longo dos anos os profissionais de enfermagem têm enfrentado dilemas
do tipo: decidir entre realizarem atividades fora da sua competência legal
para não perderem o emprego ou negarem-se a fazê-lo e correr o risco de serem
demitidos com alegações injustificadas.
Para que possamos ter uma adequada compreensão de algumas situações
é preciso discutir, interpretar, comparar situações similares, buscar ajuda com
profissionais mais experientes e muitas vezes lançar mãos de pareceres dos
órgãos.
Assim, passaremos a descrever sobre os dilemas éticos e os âmbitos
jurídicos.
A despeito dos avanços tecnológicos e da evolução dos recursos humanos
na área da saúde, a possibilidade de cometer um erro no exercício profissional
continua bastante presente. Na atualidade, mostra-se cada vez mais evidente a
preocupação com as repercussões destes erros, principalmente no que tange
aos aspectos éticos legais que envolvem as situações geradas a partir de uma
falha técnica.
Assim, a necessidade dos enfermeiros também voltarem suas atenções à
temática do erro e suas consequentes implicações, no intuito de prevenir os
danos aos clientes e possíveis problemas judiciais.
Assim, à medida que os enfermeiros conquistam espaços e procuram assu-
mir com autonomia suas atribuições, acompanhando os avanços tecnológicos
e progressos das ciências da saúde, dúvidas são suscitadas a respeito da respon-
sabilidade profissional em seus aspectos legais.
A responsabilidade consiste no dever jurídico de responder pelos atos que
violem direitos e reparar os danos causados. Porém, o termo responsabilidade
pode ser observado pelo aspecto da consciência individual, referente à trans-
gressão de uma norma moral ou pela imposição legal, no caso da responsabili-
dade jurídica, presente somente quando houver prejuízos morais ou materiais.

capítulo 4 • 103
A ação ou omissão do profissional que resultar em dano ao cliente pode
ser intencional, ou seja, com desejo e previsão de resultado prejudicial, carac-
terizando o dolo ou sem intenção, nos casos culposos. De qualquer forma, o
profissional responde ético, civil e criminalmente pelos danos que sua conduta
acarretar, como atos lesivos contra a vida, lesões corporais, periclitação da vida
e da saúde, maus tratos e abandono de incapaz.
A caracterização da ação culposa se dá pela forma de atuação do profissio-
nal que provocar danos ao cliente, devendo estar presentes um dos elementos
da culpa, ou seja, a negligência, imperícia e imprudência.
A negligência é a omissão, indolência, inércia e inobservância dos deveres,
já a imprudência é a falta de cautela manifestada na conduta comissiva intem-
pestiva e insensata, enquanto que a imperícia é a falta de observação das nor-
mas técnicas por despreparo ou falta de conhecimentos.
Estes conceitos são observados pelo Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem, Lei nº7498/86, que regulamenta a atuação, estabelecendo di-
reitos e competências das diferentes categorias existentes na enfermagem,
além das penalidades a serem impostas aos infratores dos preceitos éticos
determinados.
Os deveres éticos do enfermeiro extrapolam o que estiver codificado, pois a
qualidade da assistência não depende apenas da visão normativa, mas da cons-
ciência profissional formada com base no respeito e comprometimento com os
direitos humanos.
As condutas de enfermagem podem marcar profundamente a vida dos
clientes, causando satisfação ou descontentamento. Visando evitar o resultado
negativo, o profissional deve estabelecer um diálogo que esclareça a finalidade
da assistência, oportunize a liberdade de opção e o faça conhecer as expecta-
tivas e dúvidas do cliente, em uma atitude que culminará na concordância e
benefícios mútuos.
A aplicação de medidas que obriguem o profissional a reparar os resul-
tados negativos, ou danos causados aos pacientes é a responsabilidade civil.
Atualmente, a responsabilidade civil do enfermeiro encontra-se regulada pelo
Código Civil, Constituição Federal e Código de Defesa do Consumidor (CDC)
que obrigam a reparação através de indenização, dos prejuízos causados pelo
erro na assistência profissional.
Além da responsabilização civil, o enfermeiro poderá ser responsabilizado
penalmente, diante de uma conduta prevista como contrária a lei penal vigente.

104 • capítulo 4
As condutas consideradas delitos constituem perigo de lesão a um bem jurídi-
co-penal individual ou coletivo e ainda, mais amplamente, um atentado a valor
estabelecido como fundamental para a perenidade humana e cultural de um
grupo.
Nota-se, portanto que o enfermeiro que cometer um erro profissional pode
ser responsabilizado na esfera civil e criminal, pela mesma situação. Porém,
uma não se confunde com a outra, na responsabilidade penal, a sanção é im-
posta em nome de toda a coletividade, devido à agressão a paz social, enquanto
que na responsabilidade civil, é observado o prejuízo causado diretamente ao
envolvido.
Observa-se que de maneira geral, a responsabilidade profissional remete ao
agir ético, sendo que as repercussões legais dos atos não são frequentemente
divulgadas e discutidas durante a formação acadêmica e consequentemente,
no cotidiano da prática assistencial.
A responsabilidade ética enfoca a conduta profissional do enfermeiro com-
patível com os deveres, princípios, direitos, responsabilidades e proibições
disciplinadas pelos órgãos competentes da Enfermagem. O agir do enfermeiro
deve ser pautado pelos princípios éticos e morais respeitando sempre a digni-
dade humana.
Cabe ao enfermeiro observar os direitos de seus assistidos, como condição
indispensável para a atuação profissional ética. Um dos direitos do cliente é o
de ser informado sobre as possibilidades de escolha e os riscos inerentes aos
procedimentos e condutas, consentindo com as intervenções de enfermagem
que venham a ser feitas. Da mesma forma, o enfermeiro obstetra, deve infor-
mar a parturiente as alternativas de assistência ao parto e práticas benéficas
recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, como forma de respeito
a seus valores e vontade, primando pela manutenção da integridade moral da
mulher.
Diferente dos riscos inevitáveis e implícitos a alguns procedimentos, os
riscos previsíveis devem obrigatoriamente ser evitados pelo enfermeiro, pois
a culpa profissional existirá quando, diante da possibilidade de antever e evi-
tar um resultado assistencial negativo, o enfermeiro não o faz , resultando em
dano .
Sendo assim, o enfermeiro, ao prestar assistência, deve assegurar que
os clientes estarão livres de danos decorrentes de imprudência, imperícia
e negligência, conforme preconiza o Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem.

capítulo 4 • 105
No contexto atual da assistência à saúde, no qual muitos hospitais e uni-
dades de saúde trabalham com demandas acima de suas possibilidades de
atendimento, é relevante discutir a delicada situação ética do enfermeiro.
Sobrecarregado de atividades, tanto assistenciais quanto administrativas, este
profissional encontra-se mais exposto ao risco de falhar em suas atribuições
legais e provocar danos ao cliente por inobservância do dever de zelar e empre-
ender todos os meios para o sucesso da assistência.
Entre os artigos selecionados, os que comentam os aspectos preventivos
das falhas éticas, destacam a necessidade de conhecer as causas e enfatizam
abordagem institucional educativa dos profissionais, incentivando o aprimo-
ramento técnico - científico como medidas adotadas diante de atitudes con-
trárias à ética da assistência em enfermagem. Porém, entende-se por salutar
que os trabalhos, ao abordarem falhas éticas, mencionem as consequências da
responsabilidade disciplinar do profissional.
O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem considera infração
ética a ação, omissão ou conivência que implique em desobediência e/ou ino-
bservância às disposições nele normatizadas. Determina as penalidades de
advertência verbal, multa, censura, suspensão e cassação do direito ao exer-
cício profissional a serem aplicadas pelos Conselhos Federal e Regional de
Enfermagem.
Um dos fatores que contribuem para a prestação da assistência de enferma-
gem ética e segura é o conhecimento do enfermeiro sobre os aspectos legais,
direitos e obrigações implícitas no próprio exercício profissional, uma vez que
este pode exercer influências na tomada de decisões.
Juridicamente, a responsabilidade civil do enfermeiro nasce do dano e con-
siste na obrigação de responder pelos atos lesivos praticados, suportando as
consequências deles advindas.
A obrigação de restaurar, ressarcir ou reparar o prejuízo, advinda da respon-
sabilidade civil, se dá de forma pecuniária, através do pagamento de indeniza-
ção seja o dano material ou moral, desde que constatado a conjunção da con-
duta comissiva ou omissiva, o dano e o nexo causal, que é a relação de causa e
efeito entre a conduta do agente (enfermeiro) e o resultado da assistência.
Dessa forma, tanto o enfermeiro pode ser obrigado, por determinação ju-
dicial, a indenizar o cliente que sofrer danos materiais, que são decorrentes da
perda de uma função física, ou morais, resultantes da dor ou sofrimento advin-
dos da falta de zelo na prática profissional.

106 • capítulo 4
A responsabilidade profissional do enfermeiro é estabelecida em contrato
entre este e o cliente que o procura, mesmo que tácito. Assim, é comum ao en-
fermeiro e a outros profissionais liberais, os princípios da obrigação de meio,
isto é, o compromisso de prestar um serviço com prudência e diligência para
atingir um resultado, sem se vincular a obtê-lo (OGUISSO, SCHMIDT, 1985).
Como outros profissionais da área da saúde, médicos e odontólogos, com-
pete aos enfermeiros prestarem a assistência, de forma autônoma ou institu-
cionalizada, criar uma relação contratual, mesmo que não tenha sido firmada
de forma escrita. No desempenho de suas atividades, o enfermeiro deve empre-
gar todos os meios possíveis para que a assistência prestada seja adequada às
necessidades do cliente, porém não pode garantir o resultado final da mesma.
Deve voltar constantemente sua atenção aos limites da competência, agin-
do estritamente dentro do que a legislação lhe autoriza fazer. Procedendo desta
forma, o profissional garante o que é de sua obrigação, ou seja, assistência livre
e resguardada de ações negligentes, imperitas ou imprudentes.
O enfermeiro é considerado um profissional liberal, porém, a sua atua-
ção é predominantemente, na condição de empregado de serviços de saúde,
com subordinação e reduzida autonomia, levando a responsabilização civil
à instituição de saúde que o mantém de forma assalariada, resguardada as
peculiaridades.
A instituição de saúde, empregadora do enfermeiro e como empresa presta-
dora de serviços, terá também obrigação na área civil de reparar o dano sofrido
pelo cliente. Contudo, terá a instituição direito de solicitar a descaracterização
da denúncia do cliente, demonstrando a inexistência do erro ou, posterior-
mente, alegar a culpa exclusiva do profissional, cobrando dele por regresso, a
indenização que tiver sido paga ao cliente. Cabe observar que a culpa da insti-
tuição de saúde é considerada objetiva, não precisando ser provada pelo cliente
lesado, necessitando apenas a demonstração do dano e da ligação deste com a
assistência. Desta forma, em caso de condenação, ela poderá demonstrar por
via judicial que proporcionou todos os recursos necessários e disponíveis a atu-
ação profissional e o enfermeiro não utilizou por vontade própria (FREITAS,
OGUISSO, 2007)
As relações que se estabelecem entre clientes e prestadores de serviços de
saúde querem sejam eles profissionais ou instituições, são reguladas também
pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Essa legislação considera consu-
midor aquele que utiliza serviços (cliente), sendo os profissionais e instituições

capítulo 4 • 107
de saúde os fornecedores de serviços. Portanto, todos estão submetidos a esse
ordenamento, inclusive no que tange a inversão do ônus da prova, facilitando a
defesa dos direitos do consumidor quando for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente.
Em regra, na obrigação de meio, o ônus de provar as alegações recai sobre
o cliente/consumidor que se considerar lesado. Porém, diante da dificuldade
probatória do cliente, poderá o juiz determinar a inversão do ônus da prova,
passando a ser do enfermeiro a incumbência de demonstrar sua não responsa-
bilidade, ou seja, que o dano alegado não resultou de impudência, negligência
ou imperícia na assistência prestada. É oportuno destacar que tal possibilidade
contraria o previsto no Código de Processo Civil de 1973 e o Código de Processo
Penal de 1941, ambos em vigor.
Da mesma forma com que a instituição de saúde responde conjuntamente
pelos danos causados pelo profissional que emprega,o enfermeiro poderá res-
ponder pelos danos causados pela equipe que estiver sob seu gerenciamento.
Várias atividades são delegadas a um dos membros da equipe de enferma-
gem (enfermeiro, técnicos e auxiliares de enfermagem) e isto ocorre da própria
forma com que o serviço de enfermagem é organizado. No entanto, o ato de
delegar não significa se eximir da responsabilidade, que é intransferível, pois
apenas delega-se a atribuição de realizar a atividade. Neste contexto, o enfer-
meiro mantém sua responsabilidade diante do dano, uma vez que é de sua obri-
gação a supervisão das atividades dos membros da equipe de enfermagem sob
sua liderança, e cria-se uma nova responsabilidade a quem foram delegadas as
ações de cuidado.
Estudos destacam os aspectos referentes à caracterização da culpa, mas não
enfocam com a devida clareza os casos em que pode ser elidida a responsabili-
dade do enfermeiro, eximindo-o do dever de indenizar. Merecem destaque as
situações previstas pelo art.393 do Código Civil, a força maior e o caso fortuito.
As situações de força maior relacionam-se a um evento da natureza e
incontrolável, como a evolução negativa de um agravo à saúde ainda não solu-
cionado pela ciência, já a hipótese de caso fortuito acontece geralmente vincu-
lada ação humana imprevisível ou inesperada.
Os enfermeiros, conhecedores da possibilidade de intercorrências repenti-
nas e imprevisíveis, atingindo seus clientes devem dedicar total atenção e cau-
tela para agir e decidir com rapidez e habilidade.

108 • capítulo 4
Constantemente, mesmo que movidos pela intenção de agir acertadamen-
te, os profissionais de todas as áreas do conhecimento cometem erros, posto
que, ninguém é infalível. Porém, erros em técnicas ou procedimentos que en-
volvem a saúde humana podem ter efeitos trágicos para os clientes e suas famí-
lias, além de potencialmente causarem resultados dramáticos para o enfermei-
ro que tiver prestado a assistência inesitosa. Desta forma, no desenvolvimento
das atividades inerentes ao próprio exercício profissional, o enfermeiro pode
cometer erros e estar envolvido em ilícitos penais, mesmo que a despeito de
sua vontade.
Referente aos aspectos penais pontua-se também que, a Constituição
Federal no artigo 5o, inciso XXXIX e o Código Penal artigo 1o determinam não
haver crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação le-
gal. São considerados ilícitos penais, ou seja, crimes e contravenções, aqueles
atos que estiverem previstos na legislação penal.
Normalmente, os crimes são cometidos na modalidade culposa decorren-
tes da imperícia, imprudência e negligência. A ação ou omissão que causar ao
cliente lesão corporal, tanto funcional quanto mental, será classificada confor-
me a quantidade de dano que proporcionar, podendo ser leve, grave, gravíssi-
ma e seguida de morte, determinando assim, a graduação da penalidade a ser
imposta.
Convém assinalar que na esfera criminal, o cliente não é o autor da ação
contra o profissional de saúde, mas sim a sociedade. A ação é movida através
do ministério público, diferente dos casos em que envolve a responsabilidade
civil, na qual o processo é impulsionado pelo cliente que se sentir lesado contra
o enfermeiro que praticar a ação ou omissão.
Nos casos de homicídio culposo, resultante de inobservância de regra téc-
nica de profissão ou se deixar de socorrer a vítima ou não procurar diminuir as
consequências de seu ato, a pena é aumentada, conforme disposto no Código
Penal.
No âmbito da responsabilidade penal, o enfermeiro poderá responder além
das situações que causem danos aos clientes e sociedade, por exercício ilegal da
profissão. Pelo ordenamento jurídico, constitui contravenção penal com pena
culminada em prisão simples ou multa, exercer profissão ou anunciar que a
exerce sem preencher as condições legais que a lei determina, ou seja, sem a de-
vida capacidade legal. Essa prerrogativa compreende que além da capacidade
técnica, os títulos devem estar devidamente registrados e a inscrição efetuada
no órgão disciplinador do exercício profissional.

capítulo 4 • 109
Na área da saúde, todos os processos assistenciais são passíveis de even-
tos adversos. Segundo Fakih et al (2009), estudos recentes têm demonstrado
que, dentre os eventos adversos, os relacionados ao processo de medicação são
os mais frequentes, destacando-se como um problema de saúde pública nos
Estados Unidos. Esses estudos são alarmantes quanto às consequências dos
erros de medicação, tanto pelos índices de morbimortalidade a eles relaciona-
dos, quanto pelos custos adicionais gerados, além das questões jurídicas envol-
vidas nesses casos .
O conhecimento do enfermeiro e dos demais profissionais de enferma-
gem, sobre os aspectos ético-legais que envolvem o descuido da qualidade na
prestação da assistência, no processo de medicação, e suas implicações, é de
suma importância, tanto como forma de conscientização, quanto para garantir
maior segurança na assistência e assegurar os direitos do paciente.
A administração de medicamento é uma das maiores responsabilidades da
equipe de enfermagem, para que essa prática seja exercida de modo adequado
e seguro aos pacientes, os erros devem ser prevenidos e evitados. Sabe-se que
há o amparo legal e formação curricular para a realização desta intervenção, po-
rém pode ocorrer o despreparo do profissional para fazê-lo, ou o faz de maneira
automática e desatenciosa, desconsiderando-se o impacto que um erro nesse
processo pode acarretar.
Assim, ainda que o medicamento seja seguro no sentido intrínseco, é dever
do profissional, prevenir eventos adversos e garantir a segurança no processo
de uso. Para garantir esses aspectos é essencial o conhecimento dos enfermei-
ros acerca do modo de ação, reações adversas e interações dos medicamentos.
Nesse sentido, o artigo 30 do Código de Ética do Profissional de Enfermagem,
proíbe ao profissional de enfermagem: “Administrar medicamentos sem co-
nhecer a ação da droga e sem certificar-se da possibilidade dos riscos”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, através da Resolução
RDC nº 45/2003 - Regulamento Técnico de Boas Práticas de Utilização das
Soluções Parenterais (SP) em Serviços de Saúde – fixa os requisitos mínimos exi-
gidos para utilização das SP, de pequeno e grande volume, incluindo o preparo
e a administração das mesmas, a fim de assegurar que tais produtos, quando
administrados, sejam seguros e eficazes.
Outra resolução da ANVISA, a RDC nº 102/2000, no artigo 13, estabelece:
“Qualquer propaganda, publicidade ou promoção de medicamentos de ven-
da sob prescrição, fica restrita aos meios de comunicação dirigida, destinadas

110 • capítulo 4
exclusivamente aos profissionais de saúde, habilitados a prescrever ou dispen-
sar tais produtos e devem incluir” e, no inciso I, indica as informações a que
se refere, tais como posologia, interações medicamentosas, reações adversas,
entre outras, e complementa, em seu artigo 18: “Os representantes dos labo-
ratórios devem transmitir informações precisas e completas sobre os medica-
mentos que representem no decorrer da ação de propaganda, promoção e pu-
blicidade junto aos profissionais de saúde habilitados a prescrever e dispensar.”
Nota-se que o conteúdo disposto no inciso I do artigo 13 dessa resolução,
além de contrariar a legislação vigente, quanto aos deveres e responsabilidades
dos profissionais de enfermagem na prestação da assistência, contradiz a reso-
lução RDC nº 45/2003 da própria ANVISA que, em suas condições específicas,
estabelece:

•  “A responsabilidade pelo preparo da solução parenteral (SP) pode ser


uma atividade individual ou conjunta do enfermeiro e do farmacêutico;
•  O enfermeiro é o responsável pela administração das SP e prescrição dos
cuidados de enfermagem em âmbito hospitalar, ambulatorial e domiciliar;
- O paciente, sua família ou responsável legal devem ser orientados quanto à
terapia que será implementada, objetivos, riscos, vias de administração e pos-
síveis intercorrências que possam advir;
•  É da responsabilidade do enfermeiro assegurar que todas as ocorrências e
dados referentes ao paciente e seu tratamento sejam registrados de forma cor-
reta, garantindo a disponibilidade de informações necessárias à avaliação do
paciente, eficácia do tratamento e rastreamento em caso de eventos adversos”,
dentre outros.

A interpretação errônea do artigo 13 da RDC nº 102/2000, particularmen-


te pela indústria farmacêutica, vem restringindo o acesso dos profissionais de
enfermagem às informações técnicas sobre medicamentos. Assim, o contexto
brasileiro, no qual é expressiva a atribuição do preparo e administração de SP
à equipe de enfermagem. Essa restrição pode comprometer a segurança do pa-
ciente, especialmente quanto ao uso de novos medicamentos.

capítulo 4 • 111
REFLEXÃO
Algumas ações de enfermagem, relacionadas à medicação, são determinadas pelo COFEN
como de competência exclusiva do enfermeiro, desde que, também, esteja capacitado e cien-
te dos riscos e das responsabilidades de seus atos.
A administração de antineoplásicos, devido aos riscos e à complexidade que envolve sua
execução, são privativos do enfermeiro, conforme a Resolução COFEN 210/98, cabendo
aos profissionais de nível técnico apenas o apoio operacional ao enfermeiro, sob a orientação
e supervisão deste. O preparo desses agentes compete ao farmacêutico, porém, segundo a
Resolução COFEN 257/01, é facultado ao enfermeiro o preparo, onde não haja a presença
do farmacêutico.
A administração de medicamentos, por meio de port-cath e do Cateter Central de Inser-
ção Periférica (PICC), ou por punção de veia jugular, são procedimentos de responsabilidade
exclusiva de enfermeiros capacitados, pois envolvem alto risco e complexidade, que exigem
conhecimento técnico e decisão imediata, conforme disposto no Decreto-Lei 94.406/84, no
artigo 8º, inciso I, alíneas g e h.
Ainda sobre a execução das prescrições médicas pela equipe de enfermagem, espe-
cialmente a medicamentosa, o artigo 38 do Código de Ética do Profissional de Enfermagem
atribui ao profissional o direito de recusar-se a executar prescrição em caso de identificação
de erro ou ilegibilidade, ou quando não constar a assinatura e o número de registro do pres-
critor, exceto em situações de urgência e emergência.
Observamos que, no caso da ocorrência de evento adverso, decorrente da execução de
uma prescrição duvidosa, ilegível, não identificada, ou verbal, o profissional de enfermagem
que a executou, bem como o enfermeiro e a instituição, responderão solidariamente pelos
danos causados.
O Código de Ética do Profissional de Enfermagem, por meio dos artigos 41 e 42, destaca
a responsabilidade dos profissionais quanto ao registro escrito das próprias ações, relativas
à assistência, que compreende a terapia medicamentosa, de modo completo e fidedigno,
necessários para assegurar a sua continuidade.

REFLEXÃO
O enfermeiro possui respaldo ético-legal para prescrever medicamentos, dentro dos limites
que a própria Lei do Exercício nº 7.498/86 impõe, mediante protocolos legalmente estabe-
lecidos pelo Ministério da Saúde (MS) e em consonância com a Portaria GM nº 1625, de

112 • capítulo 4
11/07/2007, que promoveu a alteração das atribuições dos profissionais das equipes de
Saúde da Família, dispostas na Política Nacional de Atenção Básica.
O COFEN tem buscado normatizar o direito do enfermeiro de prescrever certos medica-
mentos, dentro dos parâmetros instituídos na Lei do Exercício Profissional de Enfermagem
n.º 7.498 de 25 de Junho de 1986. Nesse sentido, a Resolução COFEN n.º 317, de 02 de
Agosto de 2007, regulamenta as ações do enfermeiro na consulta, prescrição de medica-
mentos e requisição de exames.
Segundo esse documento, o enfermeiro tem autonomia na escolha dos medicamentos e
respectiva posologia, respondendo integralmente pelos atos praticados. Assim, a prescrição
de medicamentos é uma ação de enfermagem, quando praticada pelo enfermeiro, como
integrante da equipe de saúde. No entanto, os limites legais para a prática desta ação são os
Programas de Saúde Pública e a aprovação dessas rotinas. Medicação: aspectos ético-legais
no âmbito da enfermagem nas instituições de saúde, pública ou privada.
A existência da Lei do Exercício Profissional da Enfermagem
n.º 7.498/86 e do seu Decreto regulamentador n.º 94.406/87, não bastam para que
seja assegurado o direito do enfermeiro prescrever medicamentos. Embora essa legislação
contemple as atividades privativas do enfermeiro, é imprescindível que ela inclua os limites e
a abrangência da atuação, no que tange à prescrição de medicamentos.
De acordo com entendimento do Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE), para o
enfermeiro exercer práticas avançadas de enfermagem, inclusive, prescrever medicamentos,
deveria possuir a formação mínima de mestre em enfermagem, mestrado profissionalizante
ou alguma forma de pós-graduação em práticas avançadas ou especializadas, a fim de habi-
litar-se para esta atividade.
A ampliação do papel e da responsabilidade do enfermeiro no processo de medicação,
que inclui a prescrição de medicamentos, tem relação com outras questões que envolvem as
políticas públicas de saúde e os limites de atuação e da autonomia entre diversas categorias
profissionais, fomentando discussões acerca dos atos profissionais considerados privativos
ou compartilhados, no cerne da integralidade e da multidisciplinaridade das ações propostas
pelo Sistema Único de Saúde.
Além do respaldo legal para prescrever medicamentos em determinadas circunstâncias,
é imprescindível que haja investimento dos profissionais de enfermagem, das entidades
de classe, dos estabelecimentos de saúde, no sentido de buscar capacitação profissional
e constante atualização, a fim de assegurar o exercício seguro e com isenção de riscos à
clientela assistida. No cotidiano, os profissionais de enfermagem poderão perceber as difi-
culdades e verificar se os limites impostos pela legislação correspondem ou não à prática do
exercício profissional.

capítulo 4 • 113
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114 • capítulo 4
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cujo objeto seja a divulgação, promoção ou comercialização de medicamentos de produção nacional
ou importados, quaisquer que sejam as formas e meios de sua veiculação, incluindo as transmitidas no
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capítulo 4 • 115
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116 • capítulo 4
5
A Sistematização
da Assistência de
Enfermagem e os
Aspectos Éticos e
Legais do Cuidar
OBJETIVOS
Neste capítulo os discentes serão habilitados a:

•  Descrever o significado da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no cui-


dado das pessoas.
•  Identificar as etapas para realização da SAE
•  Aspectos legais para realização da SAE
•  Identificar os valores que influenciam a realização da SAE.
•  Refletir sobre sua ética e seus valores pessoais na realização do processo de cuidar.
•  Identificar a consulta de enfermagem no processo de cuidar;
•  Reconhecer a responsabilidade do enfermeiro nos aspectos éticos e legais no desempe-
nho da consulta de enfermagem.

118 • capítulo 5
A enfermagem se defronta com o desafio de promover o desenvolvimento de
sua equipe, com assistência de qualidade e bem fundamentada. É representa-
da por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, atua como equipe e
possui como responsabilidade ética, legal e técnica o cuidar do ser humano,
tanto no atendimento primário como secundário e terciário, ou seja, na aten-
ção básica de saúde, hospitalar ou domiciliar, abrangendo o atendimento do
indivíduo, família e comunidade.
O papel exercido pelo enfermeiro é construído desde sua formação, apoiado
nas ações do cuidar e do saber - fazer - ser, conduzindo a enfermagem para o ca-
minho deste cuidar. Uma importante reflexão para a profissão está na questão
do valor que a sociedade ocidental ainda cultua no ter e no saber na dimensão
material e individualista comparada ao ser e o fazer pautados em valores éticos
básicos e no respeito aos direitos fundamentais do Homem a uma existência e
convivência digna nos meios privado e público.
Dessa forma, enquanto profissão tem o cuidar como instrumento para suas
ações, na realização de uma prática que possui o profundo compromisso com
o ser humano. Assim, a visão que representa esta ideia traz que a finalidade do
cuidar na enfermagem é prioritariamente aliviar o sofrimento humano, manter
a dignidade e facilitar meios para manejar as crises e as experiências do viver e
do morrer.
Para isso se utiliza de um modelo de processo de trabalho que sistematiza a
assistência e direciona o cuidado, permitindo segurança do usuário do sistema
de saúde e dos profissionais: a Sistematização da Assistência de Enfermagem
- SAE.
A SAE representa o instrumento de trabalho do enfermeiro com objetivo
de identificação das necessidades do paciente apresentando uma proposta ao
seu atendimento e cuidado, direcionando a Equipe de Enfermagem nas ações
a serem realizadas. Trata-se de um processo dinâmico e que requer na prática
conhecimento técnico-científico.
Para que se obtenha um cuidado de enfermagem adequado às exigências de
um cliente, é preciso uma estrutura organizacional específica, tanto em relação
aos cuidados humanos quanto aos recursos físicos e materiais. A assistência de
enfermagem sistematizada é fundamental para isto, pois facilitará o domínio
apurado da técnica, conciliando-o com o cuidado humanizado e holístico.
Dessa forma, para a prática de enfermagem, é necessária uma metodologia
que possibilite o acesso ao pensamento crítico para a descrição e caracterização

capítulo 5 • 119
de julgamentos clínicos que irão subsidiar o alcance dos resultados de enfer-
magem através da tomada de decisão clínica.
O Processo de Enfermagem (PE) é a dinâmica das ações sistematizadas e
inter-relacionadas, que viabiliza a organização da assistência de enfermagem.
Representa uma abordagem de enfermagem ética e humanizada, dirigida à re-
solução de problemas, atendendo às necessidades de cuidados de saúde e de
enfermagem de uma pessoa.
No Brasil é uma atividade regulamentada pela Lei do Exercício Profissional
da Enfermagem, constituindo, portanto, uma ferramenta de trabalho do en-
fermeiro. Na literatura, podemos encontrar outras denominações para o PE e,
dentre elas, a mais utilizada nos últimos anos é a Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE) ( DUARTE, 2007; COFEN, 2009; TANNURE, 2010). Com
base nessas e outras ideias, tornou-se cada vez mais incisivo o desejo de com-
preender a SAE, a partir de novos referenciais, capazes de ampliar o campo de
visão para além das fórmulas prescritivas e normativas e, sobretudo, para além
dos modelos formalmente instituídos como norteadores de uma assistência
centrada no ser humano. A SAE além de ser um instrumento que qualifica e
personaliza o cuidado, não pode ser interpretada como uma ferramenta estrita-
mente assistencial, pois é referida como objeto de planejamento, organização
e como norteadora para a tomada de decisão em diversas situações vivenciadas
pelo enfermeiro em seu cotidiano.
O Processo de Enfermagem foi descrito pela primeira vez no ano de 1929, e
se constituíam de estudos de casos, e que depois de 1945 estes estudos evoluí-
ram para planos de cuidados. Porém alguns anos depois foram abandonados
por só objetivar melhoria na comunicação entre a equipe de enfermagem, re-
ferente à assistência do cliente. Em 1961, o sentido real desse termo era pro-
porcionar melhorias à qualidade de cuidados prestados, durante a estadia do
paciente/cliente no hospital, sob responsabilidade do enfermeiro, o qual man-
teria um relacionamento dinâmico e especializado com ele (FULY, 2008). Para
consolidar a prática do processo de enfermagem é necessária uma teoria que
funcione como alicerce, ou seja, o modo como o enfermeiro deveria olhar para
o paciente e o que ele deveria priorizar nesta avaliação.
Existem inúmeras teorias que se aplicam em diferentes ambientes, socie-
dades e culturas. Estas teorias se adaptam à realidade em que o enfermeiro está
inserido e aos perfis dos profissionais que trabalham nessa realidade. E o mais
crucial às características da clientela atendida. O enfermeiro se conscientiza

120 • capítulo 5
que depois de elegida a teoria, é necessário estar empoderado e capacitado a
colocar em prática realizando as atividades priorizadas pela teoria escolhida
(KLETEMBERG, 2010).
No Brasil, Wanda Aguiar Horta preconiza a teoria de enfermagem no cam-
po profissional, embasa seu referencial na Teoria de Motivação Humana de
Abraham Maslow e nas Necessidades Humanas Básicas. É a precursora de uma
nova visão entre os enfermeiros, no entanto, somente em 1979 com seus estu-
dos, que a atenção dos enfermeiros brasileiros passam a ser direcionado para
a SAE. Com os trabalhos de Horta, enfatizou-se o planejamento da assistência,
na tentativa de tornar autônoma a profissão e de caracterizá-la como ciência,
por meio de implementação da SAE (TANNURE, 2010). A partir de 1986 o plane-
jamento da assistência de enfermagem é uma imposição legal.
De acordo com a Lei do Exercício Profissional nº 7.498, art. 11, alínea c,
“O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe: 1)
Privativamente:...” c) planejamento, organização, coordenação e avaliação dos
serviços de assistência de enfermagem”(COFEN, 2000).
O COFEN, através da resolução 272/2002 revogada pela 358/2009, define
que a SAE deve ser realizada em toda instituição de saúde, seja ela, pública ou
privada e que todas as etapas deste processo sejam registradas minuciosamen-
te no prontuário do cliente/paciente (COFEN, 2009).
A SAE é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, que viabi-
liza a organização da assistência de enfermagem e confere ao profissional um
aumento de suas ações, o respaldo legal e o aumento do vínculo entre o profis-
sional e o cliente (CASTILHO et al. 2009).
O número de fases em que se organiza o processo de enfermagem modifica-
se de acordo com diversos autores, variando de quatro a seis fases. Esta diver-
gência de opiniões consiste na questão de considerar a etapa de diagnóstico
como uma etapa distinta ou considerá-la incluída na primeira etapa, o históri-
co. Importante se faz ressaltar que essa divisão em etapas é útil para fins didáti-
cos, sendo que, na prática, o processo de enfermagem deve ser integrado, com
suas etapas inter-relacionadas. Porém com a resolução do COFEN 358/2009, a
sua operacionalização passou a ser em cinco etapas, sem dicotomia e em per-
feita união e sincronismo. São elas (COFEN, 2009; TANNURE, 2010):

•  1ª etapa: anamnese e exame físico constituem-se do levantamento de


informações sobre o estado de saúde do cliente, da família e da comunidade.

capítulo 5 • 121
Estes dados são classificados em diretos e indiretos. E tem como finalidade
identificar os problemas colaborativos.
•  2ª etapa: diagnóstico de enfermagem são julgamentos clínicos sobre as
respostas do indivíduo, da família ou da comunidade aos problemas de saúde
reais ou potenciais, e proporcionam as bases para as seleções de intervenções
de enfermagem para o alcance de resultados pelos quais os enfermeiros são
responsáveis.
•  3ª etapa: resultado esperado está relacionado ao planejamento da assis-
tência de enfermagem, embasada no diagnóstico de enfermagem, visando al-
cançar a reabilitação do cliente/paciente em um tempo programado. Essa fase
pode ser revista no decorrer da assistência e objetiva nortear o cuidado presta-
do pela equipe de enfermagem.
•  4ª etapa: implementação ou prescrição de enfermagem, é diferente da
prescrição médica, e está centralizada na elaboração de cuidados para minimi-
zar as reações ocorridas de complicações fisiopatológicas e medicamentosas,
monitorando o estado de saúde, solucionando e controlando o problema (diag-
nóstico de enfermagem), auxiliando nas necessidades fisiológicas e trazendo a
promoção da saúde.
•  5ª etapa: evolução ou avaliação, o enfermeiro de maneira crítica e refle-
xiva realiza a avaliação do progresso da sintomatologia da doença do cliente/
paciente, através dos registros de enfermagem e exame físico, observando se os
resultados esperados foram condizentes com as prescrições e se proporciona-
ram melhorias ao ser cuidado.

Nesse contexto, o processo de enfermagem emergiu para assegurar e garan-


tir a autonomia profissional através da sistematização das ações de enferma-
gem. A partir dessas concepções inicias, o processo cunhou-se de novos signifi-
cados e expressões, passando a ser denominado - Sistematização da Assistência
de Enfermagem (SAE) adaptado, na maioria das realidades, à classificação
NANDA Internacional (SANTOS, 2003; NANDA, 2009).
A SAE situa-se numa esfera institucional, onde a visão de organização das
atividades de enfermagem interfere diretamente na metodologia subsidiada
em uma teoria de enfermagem a ser utilizada na prática. A escolha de um mé-
todo é essencial, e há que se considerar que não existe um método que repre-
sente um padrão para as unidades de saúde e nem tampouco para a garantia da
qualidade da assistência. Sabe-se que existem diferentes métodos e realidades.

122 • capítulo 5
Porém, vale ressaltar que a SAE é um instrumento metodológico, seu uso pode
ou não ser adequado e que ele por si só não é capaz de garantir a qualidade da
assistência. Para isto é necessário a capacitação e treinamento contínuo do en-
fermeiro e equipe de enfermagem (GUEDES-SILVA, et. al. 2010).
É importante considerar que a implementação da SAE não se dá somente
através do processo de enfermagem, ela pode ocorrer por meio de outras ferra-
mentas tal como a consulta de enfermagem*. Ainda assim far-se-á necessário o
emprego de algum método para sistematizar a assistência, onde cada cenário
de aplicação utilize-se da metodologia mais adequada a sua realidade; baseada
na teoria de enfermagem que irá nortear a prática da enfermagem. Daí encon-
trar a metodologia ideal entre ambos, visando a qualidade da assistência, que
representa hoje um grande desafio ao gerenciamento da assistência de enfer-
magem (GUEDES-SILVA, et. al. 2010).
Quanto aos aspectos éticos legais da Sistematização da Assistência de
Enfermagem
A promulgação da lei do exercício profissional de 1986 foi decorrente da
ação conjunta entre a União, a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn),
o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e os Conselhos Regionais de
Enfermagem, os quais conseguiram a aprovação de Lei 7.498, de 25 de junho
de 1986, que atualizava o exercício profissional da enfermagem, e do Decreto
94.406, de 8 de junho de 1987, que regulamentava esta lei. Muitos de seus ar-
tigos foram vetados, outras emendas surgiram, entretanto, a categoria consi-
derou um grande avanço para o desenvolvimento profissional. Com a aprova-
ção da Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, que estabeleceu como
atribuição privativa do enfermeiro a prescrição de enfermagem, o processo de
assistência passou a ser alvo de preocupação para os profissionais brasileiros
(BRASIL, 1986).
As décadas de 1980 e 1990 caracterizaram-se por impulso na metodologia da
assistência de enfermagem, com a elaboração da taxonomia da North American
Nurses Diagnosis Association (NANDA) e a Classificação Internacional da
Prática de Enfermagem (CIPE), dentre outras. Ressalta-se também, os esfor-
ços da ABEn Nacional para o desenvolvimento e a validação da Classificação
Internacional da Prática de Enfermagem em saúde Coletiva (CIPESC) por tra-
tar-se de uma taxonomia com contribuição brasileira (KLETEMBERG, 2010).
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) considera que há mais or-
ganização e qualidade na prestação da assistência quando os cuidados são

capítulo 5 • 123
padronizados. A SAE é privativa e prioritária do enfermeiro, cabendo-lhe elabo-
rar, executar e avaliar os planos da assistência, de forma a individualizar o cui-
dado conforme as características de cada paciente, administrando e assumin-
do o papel de líder da equipe de enfermagem (COFEN, 2009). Porém existem
desafios para essa busca da assistência integral ao paciente, família e comu-
nidade, que é reestruturar a forma como os distintos estabelecimentos e orga-
nizações do setor saúde têm trabalhado até os dias de hoje. A mudança dessas
práticas de saúde deve ocorrer em dois níveis. O primeiro é institucional e trata
da organização e articulação dos serviços de saúde. O segundo, das práticas dos
profissionais de saúde. Uma forma de reorganizar as práticas de Enfermagem
vem sendo conduzida por meio da SAE. Nesse contexto, a SAE tem sido obje-
to de diversos estudos, tanto na formação como nos serviços de saúde, com a
finalidade de qualificar o conhecimento científico dos cuidados em enferma-
gem, assegurar assistência individualizada e garantir autonomia profissional
(BACKES, 2005).
Alguns outros desafios fazem parte da trajetória de construção da SAE nas
instituições: o conhecimento, o número de enfermeiros nos serviços, o envolvi-
mento deles com o processo, a valorização por parte da administração da insti-
tuição, bem como os indicadores de resultado da assistência. Ao mesmo tem-
po, realizar este processo requer do profissional base científica, conhecimento,
habilidades e atitudes pautadas no compromisso ético, na responsabilidade e
no assumir o cuidar do outro.
Para estas tomadas de decisão no processo de cuidar estão repletas [...] de
situações que exigem uma análise detalhada do contexto sócio-cultural [...],
visando o complexo processo de tomada de decisões técnicas ou éticas e ba-
seiam-se em habilidades, além de conhecimentos teóricos (com associação a
experiências anteriores), profissionalismo, autonomia, valores pessoais, pro-
cessamento das informações, confiança, auto-estima, dogmatismo e propen-
são para assumir riscos.
Os enfermeiros devem levar em consideração para sua tomada de decisão
valores como honestidade, auto-controle, responsabilidade, tolerância, com-
preensão, solidariedade e condescendência; o que denota a influência das raí-
zes históricas da profissão, a predominância de valores femininos e a necessi-
dade de reconhecimento social, pessoal e profissional.
Não só os enfermeiros, mas todos os profissionais têm a necessidade do co-
nhecimento dos elementos do processo de tomada de decisão, a sua discussão

124 • capítulo 5
com os envolvidos, a avaliação das circunstâncias, os valores, os riscos e resul-
tados prováveis, pois estão envolvidos diretamente nos cuidados prestados aos
pacientes e ligados a todos os dilemas gerados por estes fatores.
Quanto ao benefício, associada à prática da SAE para a profissão em rela-
ção à autonomia, destaca a valorização da implantação de uma metodologia
de assistência, permitindo ao enfermeiro o desenvolvimento de seu potencial
intelectual, expressando o momento em que ele se permite ampliar a atuação
para avaliar o paciente, tomar decisões sobre a assistência a ser prestada e esta-
belecer parâmetros de resultados de qualidade. Concomitantemente, ocorre o
comprometimento com a humanização da assistência e com uma prática que
trabalha as questões de saúde da população. A humanização da assistência está
nos princípios e valores que norteiam a prática de enfermagem como compai-
xão, ética, respeito, generosidade, comprometimento e dedicação.
A autonomia do enfermeiro ao praticar a SAE está no seu papel social, no
cuidado que realiza ao paciente, nas orientações que faz para a equipe de en-
fermagem ao realizar a assistência, no atendimento à integralidade e indivi-
dualidade do ser humano e nos resultados verificados pela instituição sobre o
seu trabalho. Para isso, o enfermeiro deve possuir conhecimento, habilidades e
atitudes, gerando como consequência competência para executar as atividades
que lhe são pertinentes e que, ao mesmo tempo, torne sua equipe apta para as
tarefas que devem realizar.
Diante dos conceitos de autonomia o enfermeiro na prática da
Sistematização da Assistência de Enfermagem está no seu agir de forma livre,
na tomada de decisão baseada no conhecimento técnico e científico, na res-
ponsabilidade profissional, nas relações interpessoais e institucionais estabe-
lecidas e na conquista do valor da sociedade em seu trabalho.

ATIVIDADES
01. Você é o enfermeiro que deverá iniciar a SAE em seu ambiente de trabalho. Assim, iden-
tifique os principais pontos a serem abordados junto a sua equipe de enfermagem.

02. Seu colega enfermeiro relata muita dificuldade em realizar a SAE referindo que há gran-
de demanda de serviço a ser realizado. Diante desta situação hipotética como você poderia
melhorar a possibilidade para realização da SAE dos pacientes?

capítulo 5 • 125
Consulta de enfermagem* a seguir faremos considerações sobre a consul-
ta de enfermagem devido sua importância nos protocolos de atuação dos en-
fermeiros nas suas atividades diárias, conforme as Diretrizes do Ministério da
Saúde.

5.1  Consulta de enfermagem e sua


articulação com o exercício profissional da
enfermagem
Dentre as inúmeras atividades desenvolvidas pelo enfermeiro, destacamos a
consulta de enfermagem, que tem o objetivo de propiciar condições para me-
lhoria da qualidade de vida por meio de uma abordagem contextualizada e
participativa. Segundo Galperin e Portela (1990), consulta de enfermagem “é
uma atividade utilizada por profissionais capacitados para fornecer parecer,
instrução ou examinar determinada situação, a fim de decidir sobre um plano
de ação sobre sua área de conhecimento em relação às necessidades apresen-
tadas pelo cliente”.
Para além da competência técnica, o profissional enfermeiro deve desenvol-
ver habilidades, como por exemplo, a comunicação, facilitadora do processo da
escuta qualificada e da ação dialógica. O momento da consulta de enfermagem
é também um processo de interação entre o enfermeiro e o assistido, na bus-
ca da promoção da saúde, da prevenção de doenças e no cuidado aos danos já
instalados. Para que este momento aconteça, o enfermeiro deve desenvolver
consciência reflexiva de suas relações com o indivíduo, família, comunidade e
equipe.
Através de uma análise histórica, constatamos que a preocupação em es-
tabelecer uma normatização de cuidados individualizados vem sendo percebi-
da há décadas, pela enfermagem. Desde 1929, nos Estados Unidos, e 1934 no
Brasil, a utilização de estudos de caso foi introduzida nas discussões de ensino
e práticas. Estes estudos eram compostos, basicamente, de historia da doença,
evolução da moléstia, tratamento médico e cuidados de enfermagem.
No Brasil, o emprego do processo de enfermagem foi incentivado por
Wanda de Aguiar Horta, na década de 1970, em São Paulo, que trouxe como
referencial teórico a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Maslow.

126 • capítulo 5
Assim, a assistência de enfermagem deveria se embasar em uma metodo-
logia científica, que privilegiasse cinco etapas: levantamento de dados (históri-
co), diagnóstico, planejamento, execução e avaliação.
A consulta de enfermagem tem como objetivo prestar assistência sistemati-
zada de enfermagem, de forma global e individualizada, identificando proble-
mas de saúde – doença, executando e avaliando cuidados que contribuam para
a promoção, proteção, recuperação e reabilitação de sua saúde.
Sua realização envolve uma sequência sistematizada de ações: histórico de
enfermagem e exame físico, diagnóstico de enfermagem, plano terapêutico ou
prescrição de enfermagem, e avaliação da consulta.
Esta prática assistencial foi legalizada pela Lei nº 7.498/86 que regulamen-
tou o Exercício da Enfermagem e estabeleceu essa atividade como privativa do
enfermeiro. A partir de então, tem sido alvo de diversas portarias e resoluções
de diferentes instâncias, inclusive do Conselho Federal de Enfermagem, como
a Resolução COFEN/159 que estabelece a obrigatoriedade da realização da con-
sulta de enfermagem em todos os níveis de assistência à saúde em instituição
pública e privada e regulamenta as ações do enfermeiro na consulta, prescrição
de medicamentos e requisição de exames.
Com a implementação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) houve o
avanço da implantação da consulta de enfermagem nas Unidades Básicas de
Saúde e esta atividade passou a ser realizada de forma contínua a seus usuários,
constituindo uma estratégia de atendimento de caráter generalista, centrada
no ciclo vital e na assistência à família.
O processo de enfermagem é “baseado em princípios e regras que são co-
nhecidos por promover cuidado de enfermagem eficiente”. Ele é definido
como “a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando a as-
sistência ao ser humano”. Pode ser denominada, ainda, como Sistematização
da Assistência de Enfermagem (SAE) ou por Metodologia da Assistência de
Enfermagem (MAE), seja qual for o termo utilizado, trata-se de uma organiza-
ção da assistência de enfermagem.
Para a consolidação de um modelo assistencial em um serviço hospitalar,
acredita-se ser necessária a realização de um diagnóstico do trabalho da equipe
de enfermagem, ressaltando seu preparo técnico-científico sobre o processo de
enfermagem, bem como a existência de problemas decorrentes de uma assis-
tência não sistematizada.
Entretanto, desde 1986 o planejamento da assistência de enfermagem está
amparado legalmente.

capítulo 5 • 127
Como descrito na Lei n.º 7.498 de 25 de julho de 1986, que dispõe sobre a
regulamentação do exercício de Enfermagem, cabe à enfermeira realizar con-
sulta de enfermagem e prescrição da assistência de enfermagem; como inte-
grante da equipe de saúde: prescrever medicamentos, desde que estabelecidos
em Programas de Saúde Pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde;
oferecer assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera e reali-
zar atividades de educação em saúde.
O enfermeiro ao planejar a assistência, garante sua responsabilidade jun-
to ao cliente assistido, uma vez que o planejamento “permite diagnosticar as
necessidades do cliente, garante a prescrição adequada dos cuidados, orienta
a supervisão do desempenho do pessoal, a avaliação dos resultados e da quali-
dade da assistência porque norteia as ações”.
A enfermagem, por se caracterizar como uma profissão dinâmica, necessita
de uma metodologia que seja capaz de refletir tal dinamismo. O processo de
enfermagem é considerado a metodologia de trabalho mais conhecida e aceita
no mundo, facilitando a troca de informações entre enfermeiros de várias ins-
tituições. A aplicação do processo de enfermagem proporciona ao enfermeiro a
possibilidade da prestação de cuidados individualizados, centrada nas necessi-
dades humanas básicas, e, além de ser aplicado à assistência, pode nortear to-
madas de decisão em diversas situações vivenciadas pelo enfermeiro enquanto
gerenciador da equipe de enfermagem.
Dentro desse enfoque estudos referem que “embora o processo tenha sido
projetado para a prática de enfermagem em relação ao cuidado do paciente e à
responsabilidade da enfermagem, ele pode ser facilmente adaptado como um
modelo teórico para resolver problemas administrativos e de liderança”.
Com a finalidade de prestar um serviço de melhor qualidade e que, na me-
dida do possível, promova justiça social somos levados a refletir sobre nossa
prática cotidiana e reavaliar os princípios éticos que a fundamentam.
Através da consulta de enfermagem, o enfermeiro realiza um atendimento
abrangente, humanizado e sistematizado, promovendo mudanças individu-
ais e coletivas. É uma importante estratégia de mudanças significativas para
o cuidado prestado às pessoas, orientando sobre hábitos de vida saudáveis e
com isso as mudanças ocorrem em todo contexto da comunidade, tanto no as-
pecto preventivo como no curativo, permitindo atender às metas previstas pelo
Ministério da Saúde (indicadores de saúde).

128 • capítulo 5
Ao conviver mais próximo com as pessoas, o enfermeiro compreende me-
lhor a influência das crenças, valores e condições sociais, vivenciando as difi-
culdades encontradas e construindo planos coletivos no intuito de superar ou
amenizar esses entraves da vida.
Através do desenvolvimento da consulta de enfermagem o enfermeiro sen-
te-se gratificado e fortalecido para o cumprimento de seu trabalho, pois atua na
assistência integral, física, psíquica e a social, considerando também a questão
educativa, prevenindo precocemente os agravos à saúde. Permite ainda ao en-
fermeiro visualizar o usuário em seu contexto social, acolhendo - o de forma a
estabelecer um vínculo de co-responsabilidade entre ambos, para torná-la re-
solutiva, contribuindo para a transformação gradativa da realidade sanitária na
qual está inserido, fomentando sua valorização profissional.

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capítulo 5 • 129
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NANDA: Definições e Classificação. 2005-2006. Porto Alegre (RS): Artmed, 2009-2011.

130 • capítulo 5
6
Aspectos Éticos
da Enfermagem
na Gestão dos
Cuidados
OBJETIVOS
•  Compreender as ações gerenciais pautadas nos aspectos éticos e legais;

132 • capítulo 6
O exercício da função gerencial pelo enfermeiro demonstra ainda que no Brasil
é uma questão permeada por desentendimentos e incompreensões. O fato de
incorporar funções gerenciais no trabalho tem sido a causa de muita polêmica
na profissão.
A análise sobre a ética convencional do gerenciamento do enfermeiro apon-
tou a preocupação, por parte da enfermagem, com o estabelecimento de uma
nova ética pautada na conduta gerencial desse profissional tornando-a mais di-
recionada aos valores profissionais e às necessidades do paciente.
Ao inserirem-se no processo de trabalho de uma instituição, os enfermeiros
deparam-se com um trabalho que os leva a uma conduta organizada segundo
rotinas preestabelecidas; deles é esperado que cumpram normas e regulamen-
tos burocráticos.
No nosso entender, a prática profissional do enfermeiro deve prender-se à
execução da função gerencial centrada na assistência ao paciente, a qual será
norteada pela compreensão e pelo conhecimento do paciente como pessoa,
e de suas necessidades específicas. Este conhecimento orientará as ações do
enfermeiro no sentido de implementar a assistência de enfermagem que os
pacientes necessitam. Assim compreendido, este exercício gerencial reside na
gerência da assistência de enfermagem, além de envolver a implementação das
ordens médicas e as expectativas da instituição.
Nesta ótica, estão implícitas algumas atitudes por parte do enfermeiro. Ele
deve, em princípio, deixar de ser simples executor de tarefas ditadas por outros,
ou por normas, assumir a autodeterminação de suas funções e ajustar princí-
pios e medidas administrativas à solução de problemas específicos de sua área.
Para tanto, ele utilizará sua criatividade ao planejar as ações de enfermagem, ao
tomar decisões e ao adequar os recursos humanos e materiais à implementa-
ção da assistência planejada e desejada.
É imprescindível, contudo, que não se perca de vista que a ação gerencial do
enfermeiro deverá ser fundamentada nos valores da profissão, no seu Código
de Ética e nos direitos do paciente hospitalizado.
Nos valores da profissão estão embutidos o conhecimento atualizado e a
autonomia do profissional para que, com competência, atinja através da ação
gerencial uma assistência qualificada ao ser humano; em termos filosóficos
práticos, este profissional deve procurar alcançar, por meio da ação, o bem do
homem e nesse sentido integrar questões éticas no seu agir.
Nas instituições onde o enfermeiro realiza suas atividades profissionais
atualmente, mais do que qualquer outro profissional da saúde, estes têm fre-

capítulo 6 • 133
quentes oportunidades de facilitar e manifestar o respeito pelos direitos dos
pacientes.
Os enfermeiros são os responsáveis pela implementação do cuidado a cada
paciente, individualmente, o que lhes confere oportunidade de orientá-lo e de
prestar-lhe informações completas, precisas e verdadeiras sobre os procedi-
mentos que os integrantes da equipe de enfermagem, ou outros profissionais
da saúde, desempenharão com ele e para ele.
O trabalho de enfermagem como instrumento do processo de trabalho em
saúde, subdivide-se ainda em vários processos de trabalho como cuidar/assis-
tir, administrar/gerenciar, pesquisar e ensinar. Dentre esses, o cuidar e o geren-
ciar são os processos mais evidenciados no trabalho do enfermeiro.
A liderança e a administração se sobrepõem, já que alguns aspectos da li-
derança poderiam ser descritos como gerenciamento. A liderança é tida como
uma das principais competências a serem adquiridas pelo profissional de saú-
de. “No trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deve-
rão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem
-estar da comunidade. “A liderança envolve compromisso, responsabilidade,
empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento
de forma efetiva e eficaz.”
Entre os conhecimentos gerenciais que subsidiam o desenvolvimento da
liderança são destacados: planejamento, estratégias gerenciais, estrutura orga-
nizacional, gerência de pessoas, processo decisório, administração do tempo,
gerenciamento de conflito, negociação, poder e comunicação.
Mantendo a lógica do gerenciamento entendemos que o envolvimento do
enfermeiro no processo de educação permanente acontece com a aquisição
contínua de habilidades e competências que estejam de acordo com o contexto
epidemiológico e com as necessidades dos cenários de saúde, para que resul-
tem em atitudes que gerem mudanças qualitativas no processo de trabalho da
enfermagem.
Os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na
sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de enferma-
gem devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a
sua educação e das futuras gerações de profissionais.
O enfermeiro ao exercer funções assistenciais e gerenciais fundamenta seu
fazer de acordo com sua formação e competência (habilidades, atitudes e co-
nhecimento), e nele está implícito sua formação moral e ética que dá suporte

134 • capítulo 6
no momento da tomada de decisão, uma vez que sua prática se dá em múltiplos
cenários.
Destaca – se que o enfermeiro desempenhe suas atividades gerenciais com
respeito à dignidade e salvaguardando os direitos das pessoas, é imprescindí-
vel que sua tomada de decisão na função gerencial seja norteada não apenas
nos valores éticos como “justiça, respeito às pessoas, honestidade, veracidade,
sigilo e beneficência, mas também nos valores da profissão.
É importante enfatizar que a gerência de enfermagem pode transformar a
realidade, porquanto tem poder de reorganizar o cuidado e o processo de tra-
balho.
O gerenciamento em Enfermagem é permeado por inúmeras variáveis: pes-
soais, da profissão, institucionais, econômicas, legais, políticas e éticas, que in-
fluenciam a prática do cuidado à saúde. Com o propósito de que este gerencia-
mento seja eficaz, é mister que o enfermeiro atue eticamente, porquanto a ética
enquanto modo de ser expressa valores não apenas sociais, mas pessoais que
são construídos, elaborados e introjetados ao longo da trajetória existencial,
reflita, discuta e avalie com seus pares as possíveis soluções para os problemas,
dilemas e situações conflituosas, de forma a cumprir com os objetivos da pro-
fissão e da instituição de saúde, e atender com qualidade às necessidades do
paciente e da sua equipe.
Deste modo, é imprescindível que a ação gerencial do enfermeiro e seu pro-
cesso decisório seja fundamentada em princípios éticos. Assim, ao definir me-
tas para sua prática gerencial, deve considerar os meios necessários para atingí
-las, a fim de que possa ir ao encontro dos seus anseios, da filosofia de trabalho,
da instituição onde trabalha, da essência da Enfermagem, e principalmente,
aos preceitos éticos universais referentes à preservação da dignidade humana,
beneficência, não maleficência e justiça.

ATIVIDADE
Será possível que as questões relacionadas à ética e gerenciamento de enfermagem podem
ser estudadas valendo-se da simples pergunta “Como devo agir?”

capítulo 6 • 135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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136 • capítulo 6
7
A Ética da
Enfermagem no
Home Care
OBJETIVOS
•  Conhecer as atividades do Home Care;
•  Conhecer as implicações éticas do Home Care;
•  Conhecer as principais atribuições do enfermeiro no Home Care

138 • capítulo 7
No Brasil , década de 1920, teve início o atendimento realizado pelas en-
fermeiras visitadoras. O objetivo era controlar a cadeia de transmissão das
doenças infecto-contagiosas sob coordenação do serviço público de saúde. O
Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo criou, em 1967, seu sistema
de assistência domiciliar, semelhante ao Home Care da Inglaterra atendendo
pacientes com doenças crônicas. Atualmente, mantém o serviço para idosos.
A partir do início da década de 90, no nosso país, o setor privado introduziu
o modelo de “internação domiciliar” como extensão do tratamento hospitalar,
principalmente na região do eixo Rio e São Paulo.

7.1  Definição
Denominado no Brasil de Assistência Domiciliar, o Home Care compre-
ende o atendimento do paciente em seu domicílio por profissionais da saúde
ou cuidadores, com finalidade de promover, manter e/ou restaurar a saúde do
cliente/paciente com o máximo de autonomia, privacidade e o mínimo de agra-
vos decorrentes da doença (SIERADZKI, SANTOS, 2014).
A atuação de enfermeiros home-care também é conhecida como assistência
domiciliar, ou seja, é uma modalidade alternativa de hospitalização que consiste
no auxílio, avaliação e assistência para com o paciente e até mesmo familiares.
É uma alternativa de hospitalização muito mais forte em países como os
Estados Unidos, mas que vem ganhando expansão no Brasil através de grandes
hospitais e também de empresas que vendem esse tipo de serviço.
Diferente da enfermagem hospitalar essa modalidade – o home care – as-
sume uma característica mais aberta a alternativas, não possuindo rotinas tão
pragmáticas, atendendo a diferentes normas técnicas e muito mais suscetível a
preceitos culturais, crenças e assim levando o profissional a uma adaptação de
acordo com o paciente que está cuidando.
A enfermagem domiciliar para ter sucesso e conseguir atingir seus objetivos
de melhora, eficácia de tratamento e outros deve ser expressada e tratada como
um regime de aprendizado, o enfermeiro começa a observar, compreender e
captar a necessidade de todos a sua volta para que assim possa ser inserido e
inserir na vida de seus contratantes o essencial para a vida de seu paciente.
Assim, abordaremos a seguir o código de ética do Home Care.
O Código de Ética do home care está fundamentado no Código de Ética de
Enfermagem, onde os valores e aspectos éticos devem ser respeitados. Estes
estão descritos a seguir:

capítulo 7 • 139
1. Agir de uma maneira que inspire segurança, confiança, honestidade e
respeito dos pacientes, dos empregados, dos colegas profissionais, das organi-
zações, do público em geral e do sistema de entrega de serviços de saúde.
2. Proteger e preservar os direitos humanos de cada paciente, acreditan-
do que os direitos do ser humano são edificados com uma base fundamen-
tal de princípios: Respeito pela vida: todas as vidas são preciosas e devem ser
respeitadas.
3. Autonomia: todas as pessoas têm o direito de determinação própria.
4. Beneficente: nós devemos tentar fazer o bem. Não-maleficiente: o dever
de não causar danos físicos, morais e ou espirituais.
5. Fidelidade e devoção: responsabilidades profissionais e lealdade
incondicional.
6. Justiça Distributiva: todas as pessoas devem ser tratadas com justiça;
pessoas não podem ser objeto de discriminação sem uma justa causa.
7. Interagir com o paciente de uma forma honesta dando valor é digni-
dade humana baseada no respeito, simpatia e compaixão, sempre procurando
suprir as necessidades físicas, psicológicas e espirituais do paciente.
8. Cumprir com todas as leis e regulamentos que governam esta modali-
dade de serviços, atividades profissionais e as leis da nação.
9. Tratar todos os funcionários com dignidade e respeito, e prover oportu-
nidades profissionais baseado em competências de trabalho, sem discrimina-
ção de raça, cor, religião, nacionalidade, sexo, idade ou deficiência física.
10. Manter empregados competentes e proficientes por intermédio da
promoção e desenvolvimento profissional, apoiado por um programa eficaz de
educação continuada.
11. Respeitar o sigilo profissional.
12. Manter o mais alto padrão de integridade pessoal e profissional, de
uma maneira que reflita positivamente a modalidade de serviços extra-hospi-
talares de saúde ou Home Care.
13. Ser honesto em todas as formas de informação pública e privada;
evitar informações falsas, enganosas, anti-éticas e grosseiras, ou que gerem
decepções.
14. Evitar a exploração de relacionamentos profissionais com fins de ga-
nho próprio ilícito.
15. Lutar para o engrandecimento do ser humano.
16. Agir com transparência e honestidade para com o próximo.

140 • capítulo 7
17. Respeitar e promover a dignidade de nossos pacientes e colegas de
trabalho.
18. Utilizar o que existe de melhor na prática profissional, aplicar princí-
pios baseados na melhor e mais forte evidência médica e científica para a me-
lhora da condição de vida de nossos pacientes.
Manter a honra e respeito que o Home Care adquiriu no decorrer de mais de
duas décadas de serviços ao seus pacientes e clientes corporativos.

7.2  Qualificações do profissional para o


exercício do home care

O profissional deve ter ou adquirir conhecimentos das regras básicas de Home


Care, na área clínica e administrativa.
1. Deve ter um conjunto de habilidades pessoais voltadas para a prestação
de serviços ao paciente.
2. A habilidade de prestar uma grande atenção aos detalhes.
3. Ter múltiplas habilidades técnicas acompanhadas por uma alta
flexibilidade.
4. Ter a habilidade de assumir a responsabilidade pelo seu paciente e seu
plano terapêutico.
5. Ter um meio de transporte viável, efetivo confiável e habilidade como
motorista.
6. Ter um bom conhecimento científico, técnico e prático, para poder atu-
ar como especialista e generalista ao mesmo tempo.
7. Ter a habilidade de trabalhar de forma autônoma em um ambiente não
estruturado.
8. Ter desejo de continuar a aprender, ser receptivo a novas Informações
e conhecimentos clínicos.
9. Ter a consciência e aceitar o fato de que em Home Care existe um balan-
ço constante a ser mantido entre demandas clínicas e administrativas.
10. Ter consciência de que mudanças podem ser difíceis, mas representam
oportunidades.
11. Ter todas as suas ações pautadas na ética e na obediência do exercício
profissional.

capítulo 7 • 141
RESOLUÇÃO COFEN-270/2002
Aprova a Regulamentação das empresas que prestam Serviços de Enferma-
gem Domiciliar – Home Care.:

7.3  Como lidar com situações que fogem aos


serviços prestados

No domicílio o enfermeiro pode se deparar com situações que lhe fogem do tra-
balho, assim para identificar quando pode intervir ou não é preciso ponderar
os assuntos, conflitos e situações relacionadas ao ato de cuidar. É nesse cenário
que podem surgir certas dúvidas, seguem algumas das mais populares:
Brigas, uso de drogas, álcool, higiene e outros fazem parte das obrigações
do enfermeiro home-care?
Nos casos citados é necessário a orientação e presença de profissionais
como Assistentes sociais, Psicólogos e terapeutas, isso junto ao profissional ho-
me-care uma vez que é esse quem vai ajudar o paciente a seguir as dicas, regras
e orientações dos outros profissionais de saúde e bem estar.
Então ao concluir que é necessário a intervenção de outros tipos de profis-
sionais cabe ao enfermeiro orientar a família do paciente, mas não forçá-la,
caso seja identificado que não há um consenso o profissional deve se dirigir
aos seus superiores.
Já referente à limpeza do domícilio, fica claro que os padrões de uma fa-
mília comum não serão os mesmos que o de um hospital, ainda assim cabe a
você profissional de enfermagem home-care orientar e estabelecer os padrões
necessários que proporcionem a segurança necessária para que o paciente não
seja exposto a riscos.

7.4  Normas essenciais para o profissional


home-care

Atividades e competências do profissional home-care conforme a Resolução


Cofen n° 267/2001 

142 • capítulo 7
Níveis de complexidade das atividades são caracterizados como:

•  Menor complexidade: investigação do processo saúde-doença realizando


procedimentos técnico-científicos de Enfermagem, visando à prevenção, pro-
moção e manutenção da vida saudável;
•  Média complexidade: não é considerada uma doença em curso e por isso
a realização de procedimentos técnico-científicos de Enfermagem que deter-
minarão a forma de assistência, com vistas a discutir o dano, a invalidez e a
reabilitação do paciente para retornar à sua vida normal;
•  Alta complexidade: O paciente apresenta uma doença em curso e a assis-
tência à sua saúde deve ser multiprofissional com internação domiciliar, garan-
tindo um atendimento especializado de Enfermagem em domicílio.

7.5  Atribuições do enfermeiro nesse cenário


de atuação:

•  Assistencial: decidir normas e execução de procedimentos de diagnósti-


co, terapêuticas e cuidados, aplicando a SAE; ressaltando que o registro com os
seus respectivos relatórios e anotações da enfermagem devem ficar na residên-
cia do paciente, identificar e classificar as condições que predispõem a riscos
de saúde; organizar, dirigir, planejar, coordenar e avaliar os serviços de saúde
prestados pela equipe de enfermagem em domicílio e outros;
•  Administrativa: usar métodos participativos; promover cuidado contínuo
e de suporte ao cliente em domicílio; conceber e organizar a assistência de en-
fermagem e outros;
•  Pesquisa: aplicar metodologia de investigação, à luz do código de ética
da enfermagem; implementar os resultados de investigação, submetendo-os à
sociedade brasileira de enfermagem em Home Care, além de contribuir e cola-
borar com os demais profissionais da área que estiverem dentro do campo, e
outros atributos;
•  Educativa: conceber e promover processos construtivos, com objetivo de
melhoria da qualidade de vida do paciente em domicílio; participar e desenvol-
ver com a equipe os processos educativos, aprimorando e desenvolvendo técni-
ca e cientificamente a enfermagem home care, entre outros.

capítulo 7 • 143
O Home Care então é compreendido como uma modalidade contínua de
serviços, dedicada principalmente a pacientes e familiares em um ambiente
extra-hospitalar. Com o propósito de restaurar e manter a saúde do paciente
dando a ele todo o auxílio para minimizar os efeitos de uma doença.
Com esse intuito de ser direcionado não só aos pacientes como também
seus familiares, cabe nesse cenário um profissional que consiga lidar com di-
ferentes conflitos e situações de maneira neutra, agindo como um consciente
de ações distintas.

ATIVIDADES
Durante seu atendimento na residência do paciente CVC, de 40 anos, sequelado de acidente
automobilístico. Você percebe que o familiar chega alcoolizado falando palavras de baixo
calão e dirigindo-se a você com muita intimidade e se aproximando de maneira inadequada

01. Como você lida com a situação?

02. O que você diz ao seu paciente?

03. E de que maneira você vai orientar esta família?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LORETTA, Sarah. A Importância da Assistência Domiciliar no Atual Cenário da Saúde In: Prata
da casa, 2: escritas do cotidiano de uma equipe que cuida/ São Paulo
Internações Domiciliares Grupo MAIS. 1ª ed. São Paulo: Oboré, 2009. Vários autores. Disponível
em:< http://www.spinternacoes.com.br/PRATADACASA2.pdf >. Acesso em: 08 de julho de 2015.
SIERADZKI,A.V; SANTOS, A.C.M. Z. Desenvolvimento de competências do profissional
envolvido em atendimento de homecare: um estudo de caso. DIÁLOGO, n. 25, p. 57-70, abr.
2014.

144 • capítulo 7
8
Fundamentação
Ética para Pesquisa
em Enfermagem
OBJETIVOS
Neste capítulo os discentes serão habilitados a:

•  Identificar quais os aspectos básicos da ética em pesquisa envolvendo seres humanos;


•  Conhecer a legislação vigente.

146 • capítulo 8
REFLEXÃO
“Vigie seus pensamentos, porque eles se tornarão palavras; vigie suas palavras,
porque elas se tornarão atos; vigie seus atos porque eles se tornarão seus há-
bitos; vigie seus hábitos, porque eles se tornarão seu caráter; vigie seu caráter
porque ele se tornará seu destino.” Poeta anônimo americano
Ao discorrermos sobre ética em pesquisa, cabe ressaltar que temos duas
vertentes: o filosófico e o legal.
Sobre o ponto de vista filosófico podemos destacar que de acordo com
Cenci (2000) a ética, desde as suas origens, busca estudar e fornecer princípios
orientadores para o agir humano. Ela nasce amparada no ideal grego de justa
medida, do equilíbrio nas ações. A justa medida é a busca do agenciamento do
agir humano de tal forma que o mesmo seja bom para todos, isto é, que todos
os indivíduos ou cada parte nele envolvido seja contemplada de forma equâni-
me. O espaço de cada indivíduo ou de cada parte que se envolve na ação necessi-
ta ser garantido de maneira autônoma e racional. Tais princípios indicam não
para a perfeição do agir, mas sim para que o mesmo ocorra da melhor forma
possível, ou seja, da maneira mais adequada possível.
Do ponto de vista legal, cita-se a Resolução 466/2012 (BRASIL, 2012) que de-
fine as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos. A Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades,
quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não-maleficência, benefi-
cência e justiça. Visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comu-
nidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Além disso, a Resolução
466/2012 descreve quais devem ser os aspectos contemplados pelo Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, mecanismo pelo qual os sujeitos, indiví-
duos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais, manifestarão a
sua anuência à participação na pesquisa. Por meio desse termo, o entrevistado
declara que foi informado - de forma clara, detalhada e por escrito - da justifi-
cativa, dos objetivos e dos procedimentos da pesquisa. Além disso, ele ainda é
informado sobre:

a) A liberdade de participar ou não da pesquisa, tendo assegurado essa


liberdade sem quaisquer prejuízos atuais ou futuros, podendo retirar o consen-
timento em qualquer etapa do estudo sem nenhum tipo de penalização.

capítulo 8 • 147
b) A segurança de que não será identificado e que se manterá o caráter
confidencial das informações relacionadas com a privacidade, a proteção da
imagem e a não-estigmatização.
c) A liberdade de acesso aos dados do estudo em qualquer etapa da
pesquisa.
d) A segurança de acesso aos resultados da pesquisa.

Nesses termos, o entrevistado deve-se considerar livre e esclarecido para


participar ou não da pesquisa proposta, resguardando aos autores do projeto
a propriedade intelectual das informações geradas e expressando a concordân-
cia com a divulgação pública dos resultados. O Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, em conformidade com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacio-
nal de Saúde, deve ser assinado em duas vias de igual teor, ficando uma via em
poder do participante e outra com os autores da pesquisa.
Problemas de ordem ética surgem nas pesquisas quando o pesquisador in-
siste em utilizar uma técnica errada, pois, nem todos os processos de pesquisa
e analise revelam algo novo ou significativo. Nesses casos, pode surgir um dile-
ma ético, se o pesquisador ainda assim procura tirar conclusões dessas análi-
ses conflitantes.
O pesquisador deverá sempre buscar a metodologia correta para o desen-
volvimento de sua pesquisa obedecendo aos valores e a ética.
A seguir abordaremos os aspectos da Bioética.
A Evolução da Definição de Bioética, segundo Profº Dr. José Roberto Goldim
Segundo Goldim, as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mun-
dial, especialmente pelos nazistas, fez com que fosse proposto, pelo Tribunal
de Nuremberg, a primeira recomendação de conduta adequadas à pesquisa em
seres humanos, de abrangência internacional. O assim denominado Código de
Nuremberg que serviu de base para inúmeros outros documentos internacio-
nais e legislações nacionais na área de pesquisa em seres humanos.
O Tribunal de Nuremberg (1947), prevê 10 artigos que compõe o Código de
Nuremberg:
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial.
Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser
legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o li-
vre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força, frau-
de, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem ter

148 • capítulo 8
conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomarem uma decisão.
Esse último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza, a dura-
ção e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais será conduzi-
do; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos sobre a saúde ou sobre
a pessoa do participante, que eventualmente possam ocorrer, devido à sua par-
ticipação no experimento. O dever e a responsabilidade de garantir a qualidade
do consentimento repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um expe-
rimento ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que
não podem ser delegados a outrem impunemente.
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos para a
sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos de estudo, mas
não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente.
3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação em
animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em
estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos justificam a condição do
experimento.
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo sofrimento
e danos desnecessários, quer físicos, quer materiais.
5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem ra-
zões para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; exceto,
talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao experimento.
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do proble-
ma que o pesquisador se propõe a resolver.
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante do
experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo
que remota.
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente
qualificadas.
9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no de-
correr do experimento.
10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos
experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acredi-
tar que a continuação do experimento provavelmente causará dano, invalidez
ou morte para os participantes.
Tambem temos que ressaltar a Declaração de Helsinque (1964) que define
os primeiros princípios básicos no campo da pesquisa clinica.

capítulo 8 • 149
8.1  Princípios básicos
1. A pesquisa clínica deve adaptar-se aos princípios morais e científicos
que justificam a pesquisa médica e deve ser baseada em experiências de labora-
tório e com animais ou em outros fatos cientificamente determinados.
2. A pesquisa clínica deve ser conduzida somente por pessoas cientifica-
mente qualificadas e sob a supervisão de alguém medicamente qualificado.
3. A pesquisa não pode ser legitimamente desenvolvida, a menos que a
importância do objetivo seja proporcional ao risco inerente à pessoa exposta.
4. Todo projeto de pesquisa clínica deve ser precedido de cuidadosa ava-
liação dos riscos inerentes, em comparação aos benefícios previsíveis para a
pessoa exposta ou para outros.
5. Precaução especial deve ser tomada pelo médico ao realizar a pesquisa
clínica na qual a personalidade da pessoa exposta é passível de ser alterada pe-
las drogas ou pelo procedimento experimental.
A palavra Bioética foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Van Rensselaer
Potter, Doutor em Bioquímica e pesquisador na área de oncologia da Universi-
dade de Wisconsin/EEUU, em 1970, em um artigo científico, que resumia um
capítulo de um livro seu que estava no prelo. A sua caracterização inicial era a
seguinte: “Nós temos uma grande necessidade de uma ética da terra, uma ética
para a vida selvagem, uma ética de populações, uma ética do consumo, uma
ética urbana, uma ética internacional, uma ética geriátrica e assim por diante...
Todas elas envolvem a bioética, (...)”.
Esta definição era extremamente abrangente, incluindo diferentes campos
de conhecimento e ação muito díspares. O Prof. Potter, posteriormente, apli-
cou esta mesma caracterização para a Ética Global ou Bioética Global.
Em 1978, o Prof. Warren Reich, do Instituto Kennedy de Ética, da Universi-
dade Georgetown/EEUU, organizou a primeira versão da Enciclopédia de Bio-
ética . A definição utilizada restringia o significado da Bioética ao “estudo sis-
temático da conduta humana na área das ciências da vida e a atenção à saúde,
enquanto que esta conduta é examinada a luz dos princípios e valores morais”.
O Prof. David Roy, do Canadá, em 1979, acrescenta uma nova característica
à Bioética, pois afirmava que ela é o “estudo interdisciplinar do conjunto das
condições exigidas para uma administração responsável da vida humana, ou
da pessoa humana, tendo em vista os progressos rápidos e complexos do saber
e das tecnologias biomédicas”. O reconhecimento da Bioética como um campo

150 • capítulo 8
interdisciplinar foi fundamental. O próprio Prof. Potter já havia afirmado que a
bioética era uma ética interdisciplinar, constituindo-se em uma ponte entre a
ciência e as humanidades.
O Prof. Tristan Engelhardt, médico e bioeticista de Houston/EEUU, acres-
centou, em 1986, uma outra característica, propondo que a Bioética “funciona
como uma lógica do pluralismo, como um instrumento para a negociação pací-
fica das instituições morais” .
O Prof. Guy Durant, eticista da Universidade de Montreal/Canadá, em 1995,
caracterizou a Bioética como sendo a “pesquisa de soluções para os conflitos de
valores no mundo da intervenção biomédica”.
Na segunda edição da Enciclopédia de Bioética, de 1995, o Prof. Reich al-
terou a sua definição anterior de Bioética, sintetizando as principais ideias
existentes. Caracterizou a Bioética como o “estudo sistemático das dimensões
morais - incluindo visão moral, decisões, conduta e políticas - das ciências da
vida e atenção à saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em
um cenário interdisciplinar”.
As novas práticas de atenção à saúde são cada vez mais exercidas por equipes
de profissionais, pressupondo a integração dos mesmos em um fazer comum.
A Bioética surge, neste contexto, com os dilemas oriundos do exercício destes
profissionais. A Bioética não se utiliza simplesmente dos conhecimentos de
outras ciências, mas cria um espaço de diálogo interdisciplinar, ou seja, de co-
laboração e interação de diferentes áreas de conhecimento. A Bioética, como
já foi enfatizado nas definições anteriores, tem uma abordagem interdiscipli-
nar. Edgar Morin, falando a respeito da sua postura interdisciplinar afirmava:
“Minhas viagens através dos territórios do conhecimento fizeram de mim um
contrabandista do saber, e é por isso que os sentinelas atiram em mim” .
A Bioética aborda os novos problemas de forma contemporânea. A simples
repetição das respostas tradicionais pode ser inadequada. Ela estimula novos
patamares de discussão e de reflexão, que podem vir a possibilitar soluções
adequadas. A não repetição de respostas não significa que o passado não te-
nha importância. A memória é um dos fundamentos da interdisciplinaridade.
A memória deve ser vista como um processo de contínua reconstrução. A me-
mória não garante a precisão da objetividade, mas garante a riqueza da subjeti-
vidade que lhe dá fidedignidade. O movimento dialético, inerente a interdisci-
plinaridade, permite rever o velho para torná-lo novo. Em todo conhecimento
novo sempre existe algo de antigo. Novo e velho são faces da mesma moeda. O
importante é resgatar e revisitar nossas experiências.

capítulo 8 • 151
A Bioética tem, igualmente, uma abordagem sistemática, não se limitando
a solucionar problemas isolados. Baseia-se para tal na análise rigorosa dos fa-
tos, mas coerente ao solucionar diversos dilemas morais, utilizando como refe-
renciais critérios e princípios básicos.
Isto tudo é Bioética, esta grande área interdisciplinar que busca auxiliar na
reflexão dos novos problemas que estão, constantemente, sendo apresentados
a todos nós, individual e coletivamente.

ATIVIDADE
01. O discente deverá conhecer a estrutura, composição e fluxo de envio de projetos para
Comitê de Ética em Pesquisa de sua instituição de ensino;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde,
Brasília, DF, 10 de out. de 1996. Disponível em: <https://conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc>.
Acesso em: 6 jan., 2004.
BRASIL. Resolução 466/2012 de 12 de dezembro de 2012. Dispõe sobre as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde,
Brasília,
CENCI, Ângelo Vitório. O que é ética? Elementos em torno de uma ética geral. Passo Fundo,
2000.
LOPES, Paulo Afonso. Probabilidade & Estatística. Rio de Janeiro: Reichman & Affonso Editores,
1999.
TRIOLA, Mário. F. Introdução à Estatística. 7ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

8.2  Resolução nº 466, de 12 de dezembro


de 2012.

O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua 240a Reunião Ordinária, re-


alizada nos dias 11 e 12 de dezembro de 2012, no uso de suas competências

152 • capítulo 8
regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, e
Considerando o respeito pela dignidade humana e pela especial proteção
devida aos participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos;
Considerando o desenvolvimento e o engajamento ético, que é inerente ao
desenvolvimento científico e tecnológico;
Considerando o progresso da ciência e da tecnologia, que desvendou outra
percepção da vida, dos modos de vida, com reflexos não apenas na concepção e
no prolongamento da vida humana, como nos hábitos, na cultura, no compor-
tamento do ser humano nos meios reais e virtuais disponíveis e que se alteram
e inovam em ritmo acelerado e contínuo;
Considerando o progresso da ciência e da tecnologia, que deve implicar em
benefícios, atuais e potenciais para o ser humano, para a comunidade na qual
está inserido e para a sociedade, nacional e universal, possibilitando a promo-
ção do bem-estar e da qualidade de vida e promovendo a defesa e preservação
do meio ambiente, para as presentes e futuras gerações;
Considerando as questões de ordem ética suscitadas pelo progresso e pelo
avanço da ciência e da tecnologia, enraizados em todas as áreas do conheci-
mento humano;
Considerando que todo o progresso e seu avanço devem, sempre, respeitar
a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano;
Considerando os documentos que constituem os pilares do reconhecimen-
to e da afirmação da dignidade, da liberdade e da autonomia do ser humano,
como o Código de Nuremberg, de 1947, e a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948;
Considerando os documentos internacionais recentes, reflexo das grandes
descobertas científicas e tecnológicas dos séculos XX e XXI, em especial a De-
claração de Helsinque, adotada em 1964 e suas versões de 1975, 1983, 1989,
1996 e 2000; o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, de 1966; o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, de
1966; a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos,
de 1997; a Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos, de
2003; e a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, de 2004;
Considerando a Constituição Federal da República Federativa do Brasil,
cujos objetivos e fundamentos da soberania, da cidadania, da dignidade da pes-
soa humana, dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e do pluralismo

capítulo 8 • 153
político e os objetivos de construir uma sociedade livre, justa e solidária, de ga-
rantir o desenvolvimento nacional, de erradicar a pobreza e a marginalização
e reduzir as desigualdades sociais e regionais e de promover o bem de todos,
sem qualquer tipo de preconceito, ou de discriminação coadunam-se com os
documentos internacionais sobre ética, direitos humanos e desenvolvimento;
Considerando a legislação brasileira correlata e pertinente; e
Considerando o disposto na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de
Saúde, do Ministério da Saúde, que impõe revisões periódicas a ela, conforme
necessidades nas áreas tecnocientífica e ética.
R E S O L V E:
Aprovar as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos:
I – DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
A presente Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletivida-
des, referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, benefi-
cência, justiça e equidade, dentre outros, e visa a assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao
Estado.
Projetos de pesquisa envolvendo seres humanos deverão atender a esta Re-
solução.
II - DOS TERMOS E DEFINIÇÕES
A presente Resolução adota as seguintes definições:
II.1 - achados da pesquisa - fatos ou informações encontrados pelo pesqui-
sador no decorrer da pesquisa e que sejam considerados de relevância para os
participantes ou comunidades participantes;
II.2 - assentimento livre e esclarecido - anuência do participante da pes-
quisa, criança, adolescente ou legalmente incapaz, livre de vícios (simulação,
fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação. Tais participantes
devem ser esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa lhes acar-
retar, na medida de sua compreensão e respeitados em suas singularidades;
II.3 - assistência ao participante da pesquisa:
II.3.1 - assistência imediata – é aquela emergencial e sem ônus de qualquer
espécie ao participante da pesquisa, em situações em que este dela necessite; e
II.3.2 - assistência integral – é aquela prestada para atender complicações e
danos decorrentes, direta ou indiretamente, da pesquisa;

154 • capítulo 8
II.4 - benefícios da pesquisa - proveito direto ou indireto, imediato ou pos-
terior, auferido pelo participante e/ou sua comunidade em decorrência de sua
participação na pesquisa;
II.5 - consentimento livre e esclarecido - anuência do participante da pes-
quisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou
erro), dependência, subordinação ou intimidação, após esclarecimento com-
pleto e pormenorizado sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar;
II.6 - dano associado ou decorrente da pesquisa - agravo imediato ou poste-
rior, direto ou indireto, ao indivíduo ou à coletividade, decorrente da pesquisa;
II.7 - indenização - cobertura material para reparação a dano, causado pela
pesquisa ao participante da pesquisa;
II.8 - instituição proponente de pesquisa - organização, pública ou privada,
legitimamente constituída e habilitada, à qual o pesquisador responsável está
vinculado;
II.9 - instituição coparticipante de pesquisa - organização, pública ou priva-
da, legitimamente constituída e habilitada, na qual alguma das fases ou etapas
da pesquisa se desenvolve;
II.10 - participante da pesquisa - indivíduo que, de forma esclarecida e vo-
luntária, ou sob o esclarecimento e autorização de seu(s) responsável(eis) le-
gal(is), aceita ser pesquisado. A participação deve se dar de forma gratuita, res-
salvadas as pesquisas clínicas de Fase I ou de bioequivalência;
II.11 - patrocinador - pessoa física ou jurídica, pública ou privada que apoia
a pesquisa, mediante ações de financiamento, infraestrutura, recursos huma-
nos ou apoio institucional;
II.12 - pesquisa - processo formal e sistemático que visa à produção, ao avan-
ço do conhecimento e/ou à obtenção de respostas para problemas mediante
emprego de método científico;
II.13 - pesquisa em reprodução humana - pesquisas que se ocupam com
o funcionamento do aparelho reprodutor, procriação e fatores que afetam a
saúde reprodutiva de humanos, sendo que nesses estudos serão considerados
“participantes da pesquisa” todos os que forem afetados pelos procedimentos
dela;
II.14 - pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, individual ou
coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou
partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus
dados, informações ou materiais biológicos;

capítulo 8 • 155
II.15 - pesquisador - membro da equipe de pesquisa, corresponsável pela
integridade e bem-estar dos participantes da pesquisa;
II.16 - pesquisador responsável - pessoa responsável pela coordenação da
pesquisa e corresponsável pela integridade e bem-estar dos participantes da
pesquisa;
II.17 - protocolo de pesquisa - conjunto de documentos contemplando a
descrição da pesquisa em seus aspectos fundamentais e as informações relati-
vas ao participante da pesquisa, à qualificação dos pesquisadores e a todas as
instâncias responsáveis;
II.18 - provimento material prévio - compensação material, exclusivamente
para despesas de transporte e alimentação do participante e seus acompanhan-
tes, quando necessário, anterior à participação deste na pesquisa;
II.19 - relatório final - é aquele apresentado após o encerramento da pesqui-
sa, totalizando seus resultados;
II.20 - relatório parcial - é aquele apresentado durante a pesquisa demons-
trando fatos relevantes e resultados parciais de seu desenvolvimento;
II.21 - ressarcimento - compensação material, exclusivamente de despesas
do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais como transpor-
te e alimentação;
II.22 - risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíqui-
ca, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qual-
quer pesquisa e dela decorrente;
II.23 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE - documento no
qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante e/ou de
seu responsável legal, de forma escrita, devendo conter todas as informações
necessárias, em linguagem clara e objetiva, de fácil entendimento, para o mais
completo esclarecimento sobre a pesquisa a qual se propõe participar;
II.24 - Termo de Assentimento - documento elaborado em linguagem aces-
sível para os menores ou para os legalmente incapazes, por meio do qual, após
os participantes da pesquisa serem devidamente esclarecidos, explicitarão sua
anuência em participar da pesquisa, sem prejuízo do consentimento de seus
responsáveis legais; e
II.25 - vulnerabilidade - estado de pessoas ou grupos que, por quaisquer ra-
zões ou motivos, tenham a sua capacidade de autodeterminação reduzida ou
impedida, ou de qualquer forma estejam impedidos de opor resistência, sobre-
tudo no que se refere ao consentimento livre e esclarecido.

156 • capítulo 8
III - DOS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMA-
NOS
As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos
éticos e científicos pertinentes.
III.1 - A eticidade da pesquisa implica em:
a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, re-
conhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e per-
manecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre
e esclarecida;
b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais,
individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o
mínimo de danos e riscos;
c) garantia de que danos previsíveis serão evitados; e
d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual consideração dos in-
teresses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio-humani-
tária.
III.2 - As pesquisas, em qualquer área do conhecimento envolvendo seres
humanos, deverão observar as seguintes exigências:
a) ser adequada aos princípios científicos que a justifiquem e com possibili-
dades concretas de responder a incertezas;
b) estar fundamentada em fatos científicos, experimentação prévia e/ou
pressupostos adequados à área específica da pesquisa;
c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não
possa ser obtido por outro meio;
d) buscar sempre que prevaleçam os benefícios esperados sobre os riscos e/
ou desconfortos previsíveis;
e) utilizar os métodos adequados para responder às questões estudadas, es-
pecificando-os, seja a pesquisa qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa;
f) se houver necessidade de distribuição aleatória dos participantes da pes-
quisa em grupos experimentais e de controle, assegurar que, a priori, não seja
possível estabelecer as vantagens de um procedimento sobre outro, mediante
revisão de literatura, métodos observacionais ou métodos que não envolvam
seres humanos;
g) obter consentimento livre e esclarecido do participante da pesquisa e/ou
seu representante legal, inclusive nos casos das pesquisas que, por sua nature-
za, impliquem justificadamente, em consentimento a posteriori;

capítulo 8 • 157
h) contar com os recursos humanos e materiais necessários que garantam
o bem-estar do participante da pesquisa, devendo o(s) pesquisador(es) pos-
suir(em) capacidade profissional adequada para desenvolver sua função no
projeto proposto;
i) prever procedimentos que assegurem a confidencialidade e a privacidade,
a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes da pesquisa,
garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas e/ou das
comunidades, inclusive em termos de autoestima, de prestígio e/ou de aspec-
tos econômico-financeiros;
j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia ple-
na. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser participantes de pesquisa
quando a informação desejada possa ser obtida por meio de participantes com
plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios aos indi-
víduos ou grupos vulneráveis;
k) respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos,
como também os hábitos e costumes, quando as pesquisas envolverem comu-
nidades;
l) garantir que as pesquisas em comunidades, sempre que possível, tradu-
zir-se-ão em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua con-
clusão. Quando, no interesse da comunidade, houver benefício real em incen-
tivar ou estimular mudanças de costumes ou comportamentos, o protocolo de
pesquisa deve incluir, sempre que possível, disposições para comunicar tal be-
nefício às pessoas e/ou comunidades;
m) comunicar às autoridades competentes, bem como aos órgãos legitima-
dos pelo Controle Social, os resultados e/ou achados da pesquisa, sempre que
estes puderem contribuir para a melhoria das condições de vida da coletivida-
de, preservando, porém, a imagem e assegurando que os participantes da pes-
quisa não sejam estigmatizados;
n) assegurar aos participantes da pesquisa os benefícios resultantes do pro-
jeto, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos, produtos ou
agentes da pesquisa;
o) assegurar aos participantes da pesquisa as condições de acompanha-
mento, tratamento, assistência integral e orientação, conforme o caso, enquan-
to necessário, inclusive nas pesquisas de rastreamento;
p) comprovar, nas pesquisas conduzidas no exterior ou com cooperação es-
trangeira, os compromissos e as vantagens, para os participantes das pesquisas

158 • capítulo 8
e para o Brasil, decorrentes de sua realização. Nestes casos deve ser identificado
o pesquisador e a instituição nacional, responsáveis pela pesquisa no Brasil. Os
estudos patrocinados no exterior também deverão responder às necessidades
de transferência de conhecimento e tecnologia para a equipe brasileira, quan-
do aplicável e, ainda, no caso do desenvolvimento de novas drogas, se compro-
vadas sua segurança e eficácia, é obrigatório seu registro no Brasil;
q) utilizar o material e os dados obtidos na pesquisa exclusivamente para a
finalidade prevista no seu protocolo, ou conforme o consentimento do partici-
pante;
r) levar em conta, nas pesquisas realizadas em mulheres em idade fértil ou
em mulheres grávidas, a avaliação de riscos e benefícios e as eventuais interfe-
rências sobre a fertilidade, a gravidez, o embrião ou o feto, o trabalho de parto,
o puerpério, a lactação e o recém-nascido;
s) considerar que as pesquisas em mulheres grávidas devem ser precedidas
de pesquisas em mulheres fora do período gestacional, exceto quando a gravi-
dez for o objeto fundamental da pesquisa;
t) garantir, para mulheres que se declarem expressamente isentas de risco
de gravidez, quer por não exercerem práticas sexuais ou por as exercerem de
forma não reprodutiva, o direito de participarem de pesquisas sem o uso obri-
gatório de contraceptivos;
u) ser descontinuada somente após análise e manifestação, por parte do Sis-
tema CEP/CONEP/CNS/MS que a aprovou, das razões dessa descontinuidade,
a não ser em casos de justificada urgência em benefício de seus participantes.
III.3 - As pesquisas que utilizam metodologias experimentais na área bio-
médica, envolvendo seres humanos, além do preconizado no item III.2, deve-
rão ainda:
a) estar fundamentadas na experimentação prévia, realizada em laborató-
rios, utilizando-se animais ou outros modelos experimentais e comprovação
científica, quando pertinente;
b) ter plenamente justificadas, quando for o caso, a utilização de placebo,
em termos de não maleficência e de necessidade metodológica, sendo que os
benefícios, riscos, dificuldades e efetividade de um novo método terapêutico
devem ser testados, comparando-o com os melhores métodos profiláticos,
diagnósticos e terapêuticos atuais. Isso não exclui o uso de placebo ou nenhum
tratamento em estudos nos quais não existam métodos provados de profilaxia,
diagnóstico ou tratamento;

capítulo 8 • 159
c) utilizar o material biológico e os dados obtidos na pesquisa exclusivamen-
te para a finalidade prevista no seu protocolo, ou conforme o consentimento
dado pelo participante da pesquisa; e
d) assegurar a todos os participantes ao final do estudo, por parte do pa-
trocinador, acesso gratuito e por tempo indeterminado, aos melhores métodos
profiláticos, diagnósticos e terapêuticos que se demonstraram eficazes:
d.1) o acesso também será garantido no intervalo entre o término da parti-
cipação individual e o final do estudo, podendo, nesse caso, esta garantia ser
dada por meio de estudo de extensão, de acordo com análise devidamente jus-
tificada do médico assistente do participante.
IV – DO PROCESSO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe
com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos
que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à
participação na pesquisa.
Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas as
etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado a participar
de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma, consciente, livre e
esclarecida.
IV.1 - A etapa inicial do Processo de Consentimento Livre e Esclarecido é
a do esclarecimento ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o
pesquisador, ou pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá:
a) buscar o momento, condição e local mais adequados para que o esclareci-
mento seja efetuado, considerando, para isso, as peculiaridades do convidado
a participar da pesquisa e sua privacidade;
b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando-se das es-
tratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e
autonomia dos convidados a participar da pesquisa; e
c) conceder o tempo adequado para que o convidado a participar da pesqui-
sa possa refletir, consultando, se necessário, seus familiares ou outras pessoas
que possam ajudá-los na tomada de decisão livre e esclarecida.
IV.2 - Superada a etapa inicial de esclarecimento, o pesquisador responsá-
vel, ou pessoa por ele delegada, deverá apresentar, ao convidado para participar
da pesquisa, ou a seu representante legal, o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para que seja lido e compreendido, antes da concessão do seu con-
sentimento livre e esclarecido.

160 • capítulo 8
IV.3 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá conter, obriga-
toriamente:
a) justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pes-
quisa, com o detalhamento dos métodos a serem utilizados, informando a pos-
sibilidade de inclusão em grupo controle ou experimental, quando aplicável;
b) explicitação dos possíveis desconfortos e riscos decorrentes da participa-
ção na pesquisa, além dos benefícios esperados dessa participação e apresen-
tação das providências e cautelas a serem empregadas para evitar e/ou reduzir
efeitos e condições adversas que possam causar dano, considerando caracterís-
ticas e contexto do participante da pesquisa;
c) esclarecimento sobre a forma de acompanhamento e assistência a que
terão direito os participantes da pesquisa, inclusive considerando benefícios
e acompanhamentos posteriores ao encerramento e/ ou a interrupção da pes-
quisa;
d) garantia de plena liberdade ao participante da pesquisa, de recusar-se a
participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem pe-
nalização alguma;
e) garantia de manutenção do sigilo e da privacidade dos participantes da
pesquisa durante todas as fases da pesquisa;
f) garantia de que o participante da pesquisa receberá uma via do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido;
g) explicitação da garantia de ressarcimento e como serão cobertas as des-
pesas tidas pelos participantes da pesquisa e dela decorrentes; e
h) explicitação da garantia de indenização diante de eventuais danos decor-
rentes da pesquisa.
IV.4 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido nas pesquisas que uti-
lizam metodologias experimentais na área biomédica, envolvendo seres huma-
nos, além do previsto no item IV.3 supra, deve observar, obrigatoriamente, o
seguinte:
a) explicitar, quando pertinente, os métodos terapêuticos alternativos exis-
tentes;
b) esclarecer, quando pertinente, sobre a possibilidade de inclusão do parti-
cipante em grupo controle ou placebo, explicitando, claramente, o significado
dessa possibilidade; e
c) não exigir do participante da pesquisa, sob qualquer argumento, renún-
cia ao direito à indenização por dano. O Termo de Consentimento Livre e Escla-

capítulo 8 • 161
recido não deve conter ressalva que afaste essa responsabilidade ou que impli-
que ao participante da pesquisa abrir mão de seus direitos, incluindo o direito
de procurar obter indenização por danos eventuais.
IV.5 - O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deverá, ainda:
a) conter declaração do pesquisador responsável que expresse o cumpri-
mento das exigências contidas nos itens IV. 3 e IV.4, este último se pertinente;
b) ser adaptado, pelo pesquisador responsável, nas pesquisas com coopera-
ção estrangeira concebidas em âmbito internacional, às normas éticas e à cul-
tura local, sempre com linguagem clara e acessível a todos e, em especial, aos
participantes da pesquisa, tomando o especial cuidado para que seja de fácil
leitura e compreensão;
c) ser aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado e pela CO-
NEP, quando pertinente; e
d) ser elaborado em duas vias, rubricadas em todas as suas páginas e assina-
das, ao seu término, pelo convidado a participar da pesquisa, ou por seu repre-
sentante legal, assim como pelo pesquisador responsável, ou pela (s) pessoa (s)
por ele delegada (s), devendo as páginas de assinaturas estar na mesma folha.
Em ambas as vias deverão constar o endereço e contato telefônico ou outro,
dos responsáveis pela pesquisa e do CEP local e da CONEP, quando pertinente.
IV.6 - Nos casos de restrição da liberdade ou do esclarecimento necessários
para o adequado consentimento, deve-se, também, observar:
a) em pesquisas cujos convidados sejam crianças, adolescentes, pessoas
com transtorno ou doença mental ou em situação de substancial diminuição
em sua capacidade de decisão, deverá haver justificativa clara de sua escolha,
especificada no protocolo e aprovada pelo CEP, e pela CONEP, quando perti-
nente. Nestes casos deverão ser cumpridas as etapas do esclarecimento e do
consentimento livre e esclarecido, por meio dos representantes legais dos con-
vidados a participar da pesquisa, preservado o direito de informação destes, no
limite de sua capacidade;
b) a liberdade do consentimento deverá ser particularmente garantida para
aqueles participantes de pesquisa que, embora plenamente capazes, estejam
expostos a condicionamentos específicos, ou à influência de autoridade, ca-
racterizando situações passíveis de limitação da autonomia, como estudantes,
militares, empregados, presidiários e internos em centros de readaptação, em
casas-abrigo, asilos, associações religiosas e semelhantes, assegurando-lhes
inteira liberdade de participar, ou não, da pesquisa, sem quaisquer represálias;

162 • capítulo 8
c) as pesquisas em pessoas com o diagnóstico de morte encefálica deverão
atender aos seguintes requisitos:
c.1) documento comprobatório da morte encefálica;
c.2) consentimento explícito, diretiva antecipada da vontade da pessoa, ou
consentimento dos familiares e/ou do representante legal;
c.3) respeito à dignidade do ser humano;
c.4) inexistência de ônus econômico-financeiro adicional à família; c.5)
inexistência de prejuízo para outros pacientes aguardando internação ou tra-
tamento; e
c.6) possibilidade de obter conhecimento científico relevante, ou novo, que
não possa ser obtido de outra maneira;
d) que haja um canal de comunicação oficial do governo, que esclareça as
dúvidas de forma acessível aos envolvidos nos projetos de pesquisa, igualmen-
te, para os casos de diagnóstico com morte encefálica; e
e) em comunidades cuja cultura grupal reconheça a autoridade do líder ou
do coletivo sobre o indivíduo, a obtenção da autorização para a pesquisa deve
respeitar tal particularidade, sem prejuízo do consentimento individual, quan-
do possível e desejável. Quando a legislação brasileira dispuser sobre compe-
tência de órgãos governamentais, a exemplo da Fundação Nacional do Índio
– FUNAI, no caso de comunidades indígenas, na tutela de tais comunidades,
tais instâncias devem autorizar a pesquisa antecipadamente.
IV.7 - Na pesquisa que dependa de restrição de informações aos seus partici-
pantes, tal fato deverá ser devidamente explicitado e justificado pelo pesquisa-
dor responsável ao Sistema CEP/CONEP. Os dados obtidos a partir dos partici-
pantes da pesquisa não poderão ser usados para outros fins além dos previstos
no protocolo e/ou no consentimento livre e esclarecido.
IV.8 - Nos casos em que seja inviável a obtenção do Termo de Consentimen-
to Livre e Esclarecido ou que esta obtenção signifique riscos substanciais à
privacidade e confidencialidade dos dados do participante ou aos vínculos de
confiança entre pesquisador e pesquisado, a dispensa do TCLE deve ser justi-
ficadamente solicitada pelo pesquisador responsável ao Sistema CEP/CONEP,
para apreciação, sem prejuízo do posterior processo de esclarecimento.
V – DOS RISCOS E BENEFÍCIOS
Toda pesquisa com seres humanos envolve risco em tipos e gradações varia-
dos. Quanto maiores e mais evidentes os riscos, maiores devem ser os cuidados
para minimizá-los e a proteção oferecida pelo Sistema CEP/CONEP aos partici-

capítulo 8 • 163
pantes. Devem ser analisadas possibilidades de danos imediatos ou posterio-
res, no plano individual ou coletivo. A análise de risco é componente impres-
cindível à análise ética, dela decorrendo o plano de monitoramento que deve
ser oferecido pelo Sistema CEP/CONEP em cada caso específico.
V.1 - As pesquisas envolvendo seres humanos serão admissíveis quando:
a) o risco se justifique pelo benefício esperado; e
b) no caso de pesquisas experimentais da área da saúde, o benefício seja
maior, ou, no mínimo, igual às alternativas já estabelecidas para a prevenção, o
diagnóstico e o tratamento.
V.2 - São admissíveis pesquisas cujos benefícios a seus participantes forem
exclusivamente indiretos, desde que consideradas as dimensões física, psíqui-
ca, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual desses.
V.3 - O pesquisador responsável, ao perceber qualquer risco ou dano signi-
ficativos ao participante da pesquisa, previstos, ou não, no Termo de Consenti-
mento Livre e Esclarecido, deve comunicar o fato, imediatamente, ao Sistema
CEP/CONEP, e avaliar, em caráter emergencial, a necessidade de adequar ou
suspender o estudo.
V.4 - Nas pesquisas na área da saúde, tão logo constatada a superioridade
significativa de uma intervenção sobre outra(s) comparativa(s), o pesquisador
deverá avaliar a necessidade de adequar ou suspender o estudo em curso, visan-
do oferecer a todos os benefícios do melhor regime.
V.5 - O Sistema CEP/CONEP deverá ser informado de todos os fatos relevan-
tes que alterem o curso normal dos estudos por ele aprovados e, especificamen-
te, nas pesquisas na área da saúde, dos efeitos adversos e da superioridade sig-
nificativa de uma intervenção sobre outra ou outras comparativas.
V.6 - O pesquisador, o patrocinador e as instituições e/ou organizações en-
volvidas nas diferentes fases da pesquisa devem proporcionar assistência ime-
diata, nos termos do item II.3, bem como responsabilizarem-se pela assistên-
cia integral aos participantes da pesquisa no que se refere às complicações e
danos decorrentes da pesquisa.
V.7 - Os participantes da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano
resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou não no Termo de Con-
sentimento Livre e Esclarecido, têm direito à indenização, por parte do pes-
quisador, do patrocinador e das instituições envolvidas nas diferentes fases da
pesquisa.

164 • capítulo 8
VI – DO PROTOCOLO DE PESQUISA
O protocolo a ser submetido à revisão ética somente será apreciado se for
apresentada toda documentação solicitada pelo Sistema CEP/CONEP, conside-
rada a natureza e as especificidades de cada pesquisa. A Plataforma BRASIL é o
sistema oficial de lançamento de pesquisas para análise e monitoramento do
Sistema CEP/CONEP.
VII – DO SISTEMA CEP/CONEP
É integrado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP/CNS/MS
do Conselho Nacional de Saúde e pelos Comitês de Ética em Pesquisa – CEP -
compondo um sistema que utiliza mecanismos, ferramentas e instrumentos
próprios de inter-relação, num trabalho cooperativo que visa, especialmente, à
proteção dos participantes de pesquisa do Brasil, de forma coordenada e des-
centralizada por meio de um processo de acreditação.
VII.1 - Pesquisas envolvendo seres humanos devem ser submetidas à apre-
ciação do Sistema CEP/CONEP, que, ao analisar e decidir, se torna correspon-
sável por garantir a proteção dos participantes.
VII.2 - Os CEP são colegiados interdisciplinares e independentes, de rele-
vância pública, de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para
defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dig-
nidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões
éticos:
VII.2.1 - as instituições e/ou organizações nas quais se realizem pesquisas
envolvendo seres humanos podem constituir um ou mais de um Comitê de Éti-
ca em Pesquisa – CEP, conforme suas necessidades e atendendo aos critérios
normativos; e
VII.2.2 - na inexistência de um CEP na instituição proponente ou em caso de
pesquisador sem vínculo institucional, caberá à CONEP a indicação de um CEP
para proceder à análise da pesquisa dentre aqueles que apresentem melhores
condições para monitorá-la.
VII.3 - A CONEP é uma instância colegiada, de natureza consultiva, delibe-
rativa, normativa, educativa e independente, vinculada ao Conselho Nacional
de Saúde/MS.
VII.4 - A revisão ética dos projetos de pesquisa envolvendo seres humanos
deverá ser associada à sua análise científica.
VII.5 - Os membros integrantes do Sistema CEP/CONEP deverão ter, no
exercício de suas funções, total independência na tomada das decisões, man-

capítulo 8 • 165
tendo em caráter estritamente confidencial, as informações conhecidas. Desse
modo, não podem sofrer qualquer tipo de pressão por parte de superiores hie-
rárquicos ou pelos interessados em determinada pesquisa. Devem isentar-se
da tomada de decisões quando envolvidos na pesquisa em análise.
VII.6 - Os membros dos CEP e da CONEP não poderão ser remunerados no
desempenho de sua tarefa, podendo, apenas, receber ressarcimento de despe-
sas efetuadas com transporte, hospedagem e alimentação, sendo imprescin-
dível que sejam dispensados, nos horários de seu trabalho nos CEP, ou na CO-
NEP, de outras obrigações nas instituições e/ou organizações às quais prestam
serviço, dado o caráter de relevância pública da função.
VIII – DOS COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP)
ATRIBUIÇÕES:
VIII.1 - avaliar protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, com prio-
ridade nos temas de relevância pública e de interesse estratégico da agenda de
prioridades do SUS, com base nos indicadores epidemiológicos, emitindo pa-
recer, devidamente justificado, sempre orientado, dentre outros, pelos prin-
cípios da impessoalidade, transparência, razoabilidade, proporcionalidade e
eficiência, dentro dos prazos estabelecidos em norma operacional, evitando
redundâncias que resultem em morosidade na análise;
VIII.2 - desempenhar papel consultivo e educativo em questões de ética; e
VIII.3 - elaborar seu Regimento Interno.
IX – DA COMISSÃO NACIONAL DE ÉTICA EM PESQUISA (CONEP)
ATRIBUIÇÕES:
IX.1 - examinar os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos,
como também a adequação e atualização das normas atinentes, podendo, para
tanto, consultar a sociedade, sempre que julgar necessário;
IX.2 - estimular a participação popular nas iniciativas de Controle Social
das Pesquisas com Seres Humanos, além da criação de CEP institucionais e de
outras instâncias, sempre que tal criação possa significar o fortalecimento da
proteção de participantes de pesquisa no Brasil;
IX.3 - registrar e supervisionar o funcionamento e cancelar o registro dos
CEP que compõem o Sistema CEP/CONEP;
IX.4 - analisar os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, emi-
tindo parecer, devidamente justificado, sempre orientado, dentre outros, pelos
princípios da impessoalidade, transparência, razoabilidade, proporcionalida-

166 • capítulo 8
de e eficiência, dentro dos prazos estabelecidos em norma operacional, evitan-
do redundâncias que resultem em morosidade na análise;
1. genética humana, quando o projeto envolver:
1.1. envio para o exterior de material genético ou qualquer material biológi-
co humano para obtenção de material genético, salvo nos casos em que houver
cooperação com o Governo Brasileiro;
1.2. armazenamento de material biológico ou dados genéticos humanos no
exterior e no País, quando de forma conveniada com instituições estrangeiras
ou em instituições comerciais;
1.3. alterações da estrutura genética de células humanas para utilização in
vivo;
1.4. pesquisas na área da genética da reprodução humana (reprogenética);
1.5. pesquisas em genética do comportamento; e
1.6. pesquisas nas quais esteja prevista a dissociação irreversível dos dados
dos participantes de pesquisa;
2. reprodução humana: pesquisas que se ocupam com o funcionamento do
aparelho reprodutor, procriação e fatores que afetam a saúde reprodutiva de
humanos, sendo que nessas pesquisas serão considerados “participantes da
pesquisa” todos os que forem afetados pelos procedimentos delas. Caberá aná-
lise da CONEP quando o projeto envolver:
2.1. reprodução assistida;
2.2. manipulação de gametas, pré-embriões, embriões e feto; e
2.3. medicina fetal, quando envolver procedimentos invasivos;
3. equipamentos e dispositivos terapêuticos, novos ou não registrados no
País;
4. novos procedimentos terapêuticos invasivos;
5. estudos com populações indígenas;
6. projetos de pesquisa que envolvam organismos geneticamente modifi-
cados (OGM), células-tronco embrionárias e organismos que representem alto
risco coletivo, incluindo organismos relacionados a eles, nos âmbitos de: expe-
rimentação, construção, cultivo, manipulação, transporte, transferência, im-
portação, exportação, armazenamento, liberação no meio ambiente e descarte;
7. protocolos de constituição e funcionamento de biobancos para fins de
pesquisa;
8. pesquisas com coordenação e/ou patrocínio originados fora do Brasil, ex-
cetuadas aquelas com copatrocínio do Governo Brasileiro; e

capítulo 8 • 167
9. projetos que, a critério do CEP e devidamente justificados, sejam julga-
dos merecedores de análise pela CONEP;
IX.5 - fortalecer a participação dos CEP por meio de um processo contínuo
de capacitação, qualificação e acreditação;
IX.6 - coordenar o processo de acreditação dos CEP, credenciando-os de
acordo com níveis de competência que lhes possibilitem ser delegadas respon-
sabilidades originárias da CONEP;
IX.7 - analisar e monitorar, direta ou indiretamente, no prazo estipulado em
normativa, os protocolos de pesquisa que envolvam necessidade de maior pro-
teção em relação aos seus participantes, em especial os riscos envolvidos. Deve,
nesse escopo, ser considerado sempre em primeiro plano o indivíduo e, de for-
ma associada, os interesses nacionais no desenvolvimento cientifico e tecnoló-
gico, como base para determinação da relevância e oportunidade na realização
dessas pesquisas;
IX.8 - analisar e monitorar, direta ou indiretamente, protocolos de pesqui-
sas com conflitos de interesse que dificultem ou inviabilizem a justa análise
local;
IX.9 - analisar, justificadamente, qualquer protocolo do Sistema CEP/CO-
NEP, sempre que considere pertinente; e
IX.10 - analisar, em caráter de urgência e com tramitação especial, proto-
colos de pesquisa que sejam de relevante interesse público, tais como os pro-
tocolos que contribuam para a saúde pública, a justiça e a redução das desi-
gualdades sociais e das dependências tecnológicas, mediante solicitação do
Ministério da Saúde, ou de outro órgão da Administração Pública, ou ainda a
critério da Plenária da CONEP/CNS.
X - DO PROCEDIMENTO DE ANÁLISE ÉTICA
X.1 - DA ANÁLISE ÉTICA DOS CEP
DAS COMPETÊNCIAS:
1. compete ao CEP, após análise, emitir parecer devidamente motivado, no
qual se apresente de forma clara, objetiva e detalhada, a decisão do colegiado,
em prazo estipulado em norma operacional;
2. encaminhar, após análise fundamentada, os protocolos de competência
da CONEP, observando de forma cuidadosa toda a documentação que deve
acompanhar esse encaminhamento, conforme norma operacional vigente, in-
cluindo a comprovação detalhada de custos e fontes de financiamento neces-
sários para a pesquisa;

168 • capítulo 8
3. incumbe, também, aos CEP:
a) manter a guarda confidencial de todos os dados obtidos na execução de
sua tarefa e arquivamento do protocolo completo;
b) acompanhar o desenvolvimento dos projetos, por meio de relatórios se-
mestrais dos pesquisadores e de outras estratégias de monitoramento, de acor-
do com o risco inerente à pesquisa;
c) o CEP deverá manter em arquivo o projeto, o protocolo e os relatórios cor-
respondentes, por um período de 5 anos após o encerramento do estudo, po-
dendo esse arquivamento processar-se em meio digital;
d) receber denúncias de abusos ou notificação sobre fatos adversos que pos-
sam alterar o curso normal do estudo, decidindo pela continuidade, modifica-
ção ou suspensão da pesquisa, devendo, se necessário, solicitar a adequação do
Termo de Consentimento;
e) requerer a instauração de apuração à direção da instituição e/ou organi-
zação, ou ao órgão público competente, em caso de conhecimento ou de de-
núncias de irregularidades nas pesquisas envolvendo seres humanos e, haven-
do comprovação, ou se pertinente, comunicar o fato à CONEP e, no que couber,
a outras instâncias; e
f) manter comunicação regular e permanente com a CONEP, por meio de
sua Secretaria Executiva.
X.2 - DO PROCEDIMENTO DE ANÁLISE ÉTICA DA CONEP:
1. compete à CONEP, dentro do prazo a ser estipulado em Norma Operacio-
nal, emitir parecer devidamente motivado, com análise clara, objetiva e deta-
lhada de todos os elementos e documentos do projeto;
2. compete, também, à CONEP, o monitoramento, direto ou indireto, dos
protocolos de pesquisa de sua competência; e
3. aplica-se à CONEP, nas hipóteses em que funciona como CEP, as disposi-
ções sobre Procedimentos de Análise Ética dos CEP.
X.3 - DAS DISPOSIÇÕES COMUNS AOS CEP E À CONEP:
1. os membros do CEP/CONEP deverão isentar-se da análise e discussão do
caso, assim como da tomada de decisão, quando envolvidos na pesquisa;
2. os CEP e a CONEP poderão contar com consultores ad hoc, pessoas per-
tencentes, ou não, à instituição/organização, com a finalidade de fornecer sub-
sídios técnicos;
3. pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protocolo não deve
ser analisada;

capítulo 8 • 169
4. considera-se antiética a pesquisa aprovada que for descontinuada pelo
pesquisador responsável, sem justificativa previamente aceita pelo CEP ou pela
CONEP;
5. a revisão do CEP culminará em seu enquadramento em uma das seguin-
tes categorias:
a) aprovado;
b) pendente: quando o CEP considera necessária a correção do protocolo
apresentado, e solicita revisão específica, modificação ou informação relevan-
te, que deverá ser atendida em prazo estipulado em norma operacional; e
c) não aprovado;
6. o CEP poderá, se entender oportuno e conveniente, no curso da revisão
ética, solicitar informações, documentos e outros, necessários ao perfeito es-
clarecimento das questões, ficando suspenso o procedimento até a vinda dos
elementos solicitados;
7. das decisões de não aprovação caberá recurso ao próprio CEP e/ou à CO-
NEP, no prazo de 30 dias, sempre que algum fato novo for apresentado para
fundamentar a necessidade de uma reanálise;
8. os CEP e a CONEP deverão determinar o arquivamento do protocolo de
pesquisa nos casos em que o pesquisador responsável não atender, no prazo
assinalado, às solicitações que lhe foram feitas. Poderão ainda considerar o
protocolo retirado, quando solicitado pelo pesquisador responsável;
9. uma vez aprovado o projeto, o CEP, ou a CONEP, nas hipóteses em que
atua como CEP ou no exercício de sua competência originária, passa a ser cor-
responsável no que se refere aos aspectos éticos da pesquisa; e
10. consideram-se autorizados para execução os projetos aprovados pelos
CEP, ou pela CONEP, nas hipóteses em que atua originariamente como CEP ou
no exercício de suas competências.
XI – DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL
XI.1 - A responsabilidade do pesquisador é indelegável e indeclinável e com-
preende os aspectos éticos e legais.
XI.2 - Cabe ao pesquisador:
a) apresentar o protocolo devidamente instruído ao CEP ou à CONEP, aguar-
dando a decisão de aprovação ética, antes de iniciar a pesquisa;
b) elaborar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
c) desenvolver o projeto conforme delineado;
d) elaborar e apresentar os relatórios parciais e final;

170 • capítulo 8
e) apresentar dados solicitados pelo CEP ou pela CONEP a qualquer mo-
mento;
f) manter os dados da pesquisa em arquivo, físico ou digital, sob sua guarda
e responsabilidade, por um período de 5 anos após o término da pesquisa;
g) encaminhar os resultados da pesquisa para publicação, com os devidos
créditos aos pesquisadores associados e ao pessoal técnico integrante do pro-
jeto; e
h) justificar fundamentadamente, perante o CEP ou a CONEP, interrupção
do projeto ou a não publicação dos resultados.
XII - OUTRAS DISPOSIÇÕES
XII.1 - Cada área temática de investigação e cada modalidade de pesquisa,
além de respeitar os dispositivos desta Resolução, deve cumprir as exigências
setoriais e regulamentações específicas.
XII.2 - As agências de fomento à pesquisa e o corpo editorial das revistas
científicas deverão exigir documentação comprobatória de aprovação do proje-
to pelo Sistema CEP/CONEP.
XII.3 - A presente Resolução, por sua própria natureza, demanda revisões
periódicas, conforme necessidades das áreas ética, científica e tecnológica.
XIII - DAS RESOLUÇÕES E DAS NORMAS ESPECÍFICAS
XIII.1 - O procedimento de avaliação dos protocolos de pesquisa, bem como
os aspectos específicos do registro, como concessão, renovação ou cancela-
mento e, também, da acreditação de Comitês de Ética em Pesquisa serão regu-
lamentados por Resolução do Conselho Nacional de Saúde.
XIII.2 - O processo de acreditação dos Comitês de Ética em Pesquisa que
compõem o Sistema CEP/CONEP será tratado em Resolução do CNS.
XIII.3 - As especificidades éticas das pesquisas nas ciências sociais e huma-
nas e de outras que se utilizam de metodologias próprias dessas áreas serão
contempladas em resolução complementar, dadas suas particularidades.
XIII.4 - As especificidades éticas das pesquisas de interesse estratégico para
o SUS serão contempladas em Resolução complementar específica.
XIII.5 - Os aspectos procedimentais e administrativos do Sistema CEP/CO-
NEP serão tratados em Norma Operacional do CNS.
XIII.6 - A tipificação e gradação do risco nas diferentes metodologias de pes-
quisa serão definidas em norma própria, pelo Conselho Nacional de Saúde.

capítulo 8 • 171
XIV – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Ficam revogadas as Resoluções CNS Nos 196/96, 303/2000 e 404/2008.
Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.
ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA
Presidente do Conselho Nacional de Saúde
Homologo a Resolução CNS No 466, de 12 de dezembro de 2012, nos termos
do Decreto de Delegação de Competência de 12 de novembro de 1991.
ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA
Ministro de Estado da Saúde
Publicada no DOU nº 12 – quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Seção 1 – Pá-
gina 59

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ANOTAÇÕES

capítulo 8 • 173
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174 • capítulo 8
ANOTAÇÕES

capítulo 8 • 175
ANOTAÇÕES

176 • capítulo 8

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