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“Do lado de dentro das celas só há violência. Nelas a ética, a moral, a bondade, a conduta
reta são asfixiadas. Não há espaço para o homem superar os seus erros.”
Por conseguinte, o aprisionamento, que outrora fora apanágio para a solução das condutas
delituosas, ascende hoje como um nefasto Monstro Jurídico, no seio da sociedade pós-
moderna, democrática e globalizada.
O quadro em que estão pintadas as cenas das prisões é Surrealista. O que há por trás das
grades do sistema penitenciário é um celeiro, onde se parteja a cada dia novos e enfurecidos
indivíduos, que se voltam – com toda a ira – contra nós outros que estamos do lado de fora.
Do lado de dentro das celas só há violência. Nelas a ética, a moral, a bondade, a conduta
reta são asfixiadas. Não há espaço para o homem superar os seus erros. O cárcere é o
tapete social onde se joga por baixo o lixo indesejável daqueles selecionados para sofrerem o
peso da mão dura da lei e da ordem. Nas prisões, um cidadão entra como batedor de
carteiras e sai graduado como latrocinista. Como no dizer do Sociólogo Sérgio França Adorno
de Abreu, “as prisões configuram (...) locus privilegiado da profissionalização de novos
delinqüentes e da construção de carreiras e de identidades delinquenciais” [2].
Com efeito, o que deve prevalecer é a aplicação de penas alternativas à pena de prisão.
“Sanções com teor pedagógico”. Esta é a tendência da doutrina moderna e da legislação
mais afinada com os anseios sociais de uma vida em comunidade mais pacífica e mais
harmônica, onde a violência do cidadão seja contida e a arbitrariedade do Estado seja
arredada.
A Lei 9099/95, a Lei dos Juizados Especiais é com certeza um dos maiores passos do
legislador pátrio na seara do direito penal e processual penal – em que pese os seus
dispositivos, não menos importantes, no campo civil. Tal diploma normativo confere um
tratamento mais racional, menos bárbaro, mais inteligente e menos tosco do cidadão que em
determinado momento da sua existência – muitas vezes subsistência – comete uma infração
penal. Não obstante a sua magnificência, os ditames de tal diploma normativo - pelo menos
por enquanto - somente têm incidência em relação às infrações penais ditas de menor
potencial ofensivo.
Institutos como a composição civil (art. 74, parágrafo único), a transação penal (art. 76) e a
suspensão condicional do processo (art. 89), demostram à sociedade que é possível tratar a
questão penal com racionalidade. Tais institutos proporcionam o tratamento do crime sem
prisão, na esteira do escólio do preclaro Mestre Herkenhoff.
O que se conclui mediante uma perquirição mais profícua sobre o sistema penal pátrio é que
o ignóbil instituto da pena privativa de liberdade precisa estar “com seus dias contados“. Não
há mais cabimento para se tratar a delicada questão do crime e do criminoso através de
grades, tortura e preconceito. É necessário que se encare o problema de frente. Chega de
paliativos. Chega de engodo. Ou se enfrenta tal problemática com profundidade, ciência e
perquirição... ou seremos todos reféns daqueles que negligenciamos ao cárcere.
Notas:
[1] Herkenhoff, João Batista. Crime tratamento sem prisão. 3. Ed. Porto Alegre : Livraria do
Advogado, 1998.
[2] Abreu, Sérgio França Adorno de. Revista Ciência, órgão oficial da SBPC, vol. 40, n.º 2,
fev. 88, pp. 194 a 196