UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL.
TEORIA GERAL DO PROCESSO.
(Prof. Eduardo Scarparo).
Pessoa: ___________________________________________________ Cartão: ____________ Avaliação 1 Data: 16/10/2015
Considere o caso para responder as questões 1 a 4.
JUCEMAR MANGUEBA, na saída de seu bar favorito –
MUQUIFÃO SERPENTE – percebeu que havia perdido a
comanda onde se anotavam os pedidos. Mesmo tendo
consumido somente três chopps e uma pizza doce no seu
sabor favorito (sagu), o estabelecimento exigiu-lhe a quantia
de R$ 500,00 a título de multa pela perda da comanda. Não
tendo efetuado pagamento, foi violentamente expulso do bar.
Ainda, os seguranças do MUQUIFÃO foram orientados a não
permitir o reingresso de JUCEMAR no estabelecimento até que
fosse saldada a dívida.
Relatando isso, JUCEMAR exerceu ação em juízo contra o
MUQUIFÃO, requerendo em sua petição inicial: (a) fosse
permitido o seu ingresso livremente no estabelecimento (b) o
reconhecimento de que não existe débito qualquer, (c) a
repetição em dobro do indébito; (d) indenização por danos
morais e materiais.
Na defesa (contestação), o réu MUQUIFÃO alegou carência
de ação quanto ao pedido “b”, por falta de interesse de agir,
afinal: “JUCEMAR não pagou nem mesmo o que alegou ter
consumido”. No mérito, disse que a multa estava prevista na
comanda e que por isso seria devida a quantia. Além do mais,
argumentou que não estaria obrigado a fornecer o serviço se
não for feito o pagamento devido (CC. Art. 476 1).
1. Considere o caso e assinale os tipos de tutela
jurisdicionais pretendidos por JUCEMAR, conforme os itens
dos pedidos indicados no relato, escrevendo nos parêntese a
respectiva espécie. Tenha por pressuposto a teoria quinaria.
(0,25 cada)
a. ( mandamental ) d) Algumas temáticas, mesmo não alegadas pelo réu em sua
b. ( declaratória ) contestação poderão ser conhecidas de ofício pelo juiz, como
c. ( condenatória ) processo.
d. (
condenatória )
2. A respeito do caso narrado e, considerando as
problemáticas inerentes à Teoria da Ação e tomando por
consideração a Teoria Eclética é incorreto afirmar que (1,0):
a) JUCEMAR exerceu diversas ações em um único processo,
já que a existência de diferentes pedidos mediatos diversos é
suficiente para identificar diferentes ações processuais.
b) Acaso seja acolhida a alegação de carência de ação
deduzida pelo MUQUIFÃO, não haverá a extinção de todo o
processo, uma vez que existem outras ações cumuladas não
sujeitas ao vício alegado.
c) A ação exercida por JUCEMAR é exclusivamente material,
dado que seu tema central envolve a aplicação do Código
Civil; diferentemente a defesa de MUQUIFÃO é processual e
material concomitantemente.
d) A alegação de carência de ação não poderia ser formulada
diante de uma teoria concreta da ação, nos moldes
trabalhados por Wach e Chiovenda.
1
CC/2002. Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes,
antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
3. Sobre as teorias da Jurisdição, considerando o caso
narrado, é correto afirmar que (1,0):
a) Para Carnelutti, a lide se forma processualmente, sendo
que no caso vai identificada com a petição inicial de
JUCEMAR, ao lado da resistência do MUQUIFÃO realizada na
contestação.
b) Para Chiovenda, a jurisdição servirá para substituir as
vontades privadas de JUCEMAR e MUQUIFÃO pela vontade
concreta da lei, que é previamente definida e regulada em um
plano ideal legislativo.
c) Allorio estabelece que a jurisdição somente é identificável
pela sua aptidão de tornar indiscutível a decisão final em
favor de JUCEMAR, não sendo jurisdicional a atividade se a
sentença for favorável ao MUQUIFÃO.
d) Tendo em vista que JUCEMAR por sua própria iniciativa
buscou proteção jurisdicional, Carnelutti classificaria a
demanda proposta como de jurisdição voluntária, que não
seria um tipo verdadeiro de jurisdição em sua concepção.
4. Sobre a defesa e as questões sujeitas à cognição do juiz,
considerando o caso proposto é incorreto afirmar que (1,0):
a) A alegação de carência de ação do MUQUIFÃO deve ser
compreendida como uma objeção de direito processual,
sendo lícito ao juiz a conhecer de ofício.
b) A alegação do MUQUIFÃO fundada no art. 476 do Código
Civil pode ser considerada uma exceção de direito material.
c) A existência ou não da dívida condiz com uma parte do
objeto litigioso do processo. Ainda, trata-se de questão
preliminar ao exame de pelo menos outro pedido também
integrante do objeto litigioso.
as objeções processuais, que são integrantes do objeto do
5. Sobre a Teoria Eclética da Ação, considerando aplicável a
Teoria da Asserção e sobre sua forma, limites e acolhida no
CPC/2015, pode-se afirmar que (1,0):
a) A existência da ação processual é condicionada ao
interesse processual, legitimidade das partes e possibilidade
jurídica do pedido, que devem ser aferidos conforme a
narrativa da petição inicial;
b) A existência da ação processual é condicionada no
CPC/2015 tão somente ao interesse processual e legitimidade
das partes, sendo irrelevante a possibilidade jurídica do
pedido;
c) A existência da ação processual é condicionada ao
interesse processual, legitimidade das partes e possibilidade
jurídica do pedido, que devem ser aferidos diante do material
probatório disponível ao tempo da prolação da sentença.
d) A existência da ação processual é dependente da
subsistência do direito material afirmado pelo autor na inicial.
6. A respeito do direito processual no Estado Liberal, é 7. Sobre a jurisdição, contemporaneamente considerada,
incorreto afirmar que (1,0) pode-se afirmar que (1,0)

a) No Estado Liberal a jurisdição tinha por premissa que o
poder do Estado deveria ser restringido a situações de certeza
da existência do direito subjetivo, o que inviabilizava
processualmente as tutelas fundadas em probabilidade.
b) As premissas individualistas do liberalismo tiveram
afetação nas compreensões de jurisdição centradas no
conceito de legalidade como se nota em Chiovenda, não
afetando, por consequência, as teses de Carnelutti e Allorio.
c) A liberdade individual com viés patrimonial como alto
valor de proteção do Estado Liberal significou a necessidade
de convolar toda a obrigação de fazer e não fazer em perdas e
danos, inviabilizando tutelas coercitivas da vontade
(mandamentais).
d) O Estado Liberal determinou que não haveria uma
pluralidade de fontes normativas aplicáveis, dado que o
princípio da legalidade remeteria ao império exclusivo da lei.
a) É atividade de criação normativa que pressupõe a
oportunidade de participação dos interessados, com vistas a
formar decisão em um âmbito argumentativo, mediante a
atribuição de um sentido normativo a textos legislativos e
precedentes, considerando-se as peculiaridades do caso
concreto.
b) É atividade de simples explicitação de decisões
previamente tomadas em caráter legislativo.
c) É atividade de criação normativa livre, a qual não
pressupõe vinculação com o texto legislativo, nem com
outras decisões judiciais previamente tomadas.
d) Somente será admissível a atividade jurisdicional se
diante de direitos indisponíveis, dado que as causas que
versam sobre questões patrimoniais são compulsoriamente
destinadas a meios alternativos de resolução de litígios como
a arbitragem, a mediação e a conciliação.

Questões dissertativas.

(responder duas perguntas dentro do espaço delimitado)

8. Tem razão o Muquifão em sua alegação de carência de ação? (0,5) Julgue-a acolhendo-a ou rejeitando-a de forma
fundamentada, como se você fosse o juiz da causa (1,0).
9. Em que etapa histórica do direito processual é situada a história narrada no filme Le Retour de Martin Guerre, assistido
em sala de aula? (0,5) Indique um elemento ou cena do filme que explique porque é representativa dessa etapa,
justificando a indicação. (1,0)
10. Dê um exemplo nas práticas processuais contemporâneas (ou nas discussões teóricas contemporâneas) que denunciem a
influência do idealismo na construção do direito processual civil. (1,5)

*****

Boa prova e um ótimo final de semana.