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A PERCEPÇÃO DA TEIA DA VIDA COMO PRESSUPOSTO DE


TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Uma abordagem transdisciplinar

Camilo Machado Garcia1


Josemar Soares, Dr.2

Sumário

Resumo ....................................................................................................................... 1
Introdução ................................................................................................................... 2
1. Da Crise de Percepção e seus Impactos no Meio Ambiente ............................. 4
2. Das Percepções das Relações Interdependentes na Teia da Vida e Suas
Manifestações Contributivas .................................................................................... 9
2.1. Panorama da Democracia Participativa a Partir da Percepção das Relações
Interdependentes ..................................................................................................... 16
3. Considerações Finais ........................................................................................... 19
Referências ............................................................................................................... 20

RESUMO

O presente artigo tem por objeto de análise o desenvolvimento das percepções das relações
interdependentes da ecologia profunda, a Teia da Vida, como forma de superação das crises
políticas, econômicas e sociais, que são ramificações objetivas de uma só crise subjetiva: A
crise de percepção. Serão tratados os princípios ecológicos que indicam um complexo estado
de inter-relação e interdependência na diversidade de tudo que compõe a vida. A partir deste
ponto, serão expostos os aspectos contributivos e transformadores dessa visão de universo
unificada no mundo político e jurídico em prol da sustentabilidade, em vista de desconstruir a
privatização e a pessoalidade, transformando-as em sentimento de participação e co-relação
para com a coletividade e a natureza. Como demonstração de seus efeitos, analisar-se-á a
prática da Democracia Participativa como consequencia lógica da majoração dos indivíduos
que deixam desabrochar a individuação através das percepções ampliadas, conceito tratado no
artigo. Utilizou-se o método indutivo como forma ordenada do raciocínio, desenvolvendo-se a
pesquisa por intermédio da pesquisa bibliográfica transdisciplinar.

PALAVRAS-CHAVE: Crise de Percepção. Teia da Vida. Democracia


Participativa.

1
Acadêmico do 10º Período do curso de direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
camilo_garcia@univali.br. 9917 0938.
2
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professor
orientador.
2

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objeto de pesquisa a relação entre a


percepção das relações interdependentes na Teia da Vida e as transformações
sócio-políticas e econômicas.
O seu objetivo é, primeiramente, tornar claro que o ser humano
ordinário vive, no que o filósofo e cientista Fritjof Capra nomeou de crise de
percepção. Esta, caracterizada pelo pensamento estrito do materialismo-
científico cominado com a compreensão separatista entre o indivíduo e o meio
ambiente.
Neste raciocínio, objetiva trazer à luz de uma abordagem
transdisciplinar, que de fato, o humano, assim como tudo mais, coexiste em
uma complexa teia inter-relacionada de sistemas vivos auto-organizado.
Demonstrar-se-á como os desenvolvimentos destas percepções diluem o
egocentrismo em consciência de contribuição para com o Todo, a
individuação3.
Objetiva-se, alcançar a esfera das instituições públicas e privadas no
intuito de fazer cognoscível a necessidade de incorporar esta percepção
“purificada” na subjetividade individual em prol da superação das diversas
crises, do desenvolvimento sustentável, e mais especificamente, da
democracia de cunho participativo da população.
A transdisciplinaridade permeando o artigo em pauta envolve desde a
ideia da Teia da Vida, mesclando com as análises do professor Maffesoli sobre
a sociedade, a psicanálise de Jung, a filosofia heggeliana, a ecosofia de
Guatarri, dentre outros embasamentos que possuem o ponto em comum do
desenvolvimento de uma nova maneira de organização coletiva a partir de
transformações na subjetividade humana.
Assim, buscando esclarecer um pouco de seus efeitos práticos, a
chamada, democracia participativa, é analisada como uma possível

3
Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por "individualidade"
entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que
nos tornamos o nosso próprio si-mesmo. Podemos, pois traduzir "individuação" como "tornar-
se si-mesmo" ou "o realizar-se do si-mesmo".
JUNG, Carl. O Eu e o Inconsciente. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. P. 60.
3

consequência da conscientização coletiva da complexidade das relações


coexistentes, culminadas na individuação.
Preliminarmente, o Item um trata do conceito geral da crise de
percepção e suas características. Realizando um link desta situação com
algumas problemáticas emergentes da vida em sociedade, estes como efeitos
e ao mesmo tempo estimuladores da referida condição patológica.
O Item dois trata do conceito da Teia da Vida e a necessidade lógica
da sua percepção para desabrochar a individuação, com início na expansão
das percepções na busca pelas transformações sociológicas, políticas e
econômicas. Neste item, o Direito Penal do Risco ganha destaque, é
trabalhado de forma exemplificativa.
Demonstrar-se-á no subitem seguinte a forma pela qual, através da
individuação, se praticaria uma democracia com participação direta da
população, sem mais a representação vazia e interesseira do atual modelo
democrático representativo.
O presente artigo científico se encerra com as Considerações Finais,
nas quais são apresentados pontos conclusivos dos malefícios da crise de
percepção sobre o planeta, a remodelagem das maneiras de conceber e
perceber a vida, a reconstrução da maneira de fazermos democracia e a
sistemática econômica direcionada à sustentabilidade.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que esta foi pautada no
Método Indutivo4, valendo-se da técnica da Pesquisa Bibliográfica5 de cunho
transdisciplinar6.

4
“[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma
percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica:
teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium, 2008. P. 86.
5
“Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais.”.
PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. P. 209.
RODRIGUES, Maria Lúcia. Caminhos da Transdisciplinaridade: Fugindo a injunções
6

lineares. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, No.64, AnoXXI, Ed.Cortez, Nov/2000.
A transdisciplinaridade surge como possibilidade para o alargamento da compreensão do real,
como renascimento do espírito e de uma nova consciência, de uma nova cultura para enfrentar
os perigos e horrores desta época. Instiga a tomar consciência da gravidade do momento e a
colocar em conexão os conhecimentos e as capacidades de pensar para transformar a si
mesmo e o mundo em que vivemos, levando a termo uma nova praxis.
4

1 DA CRISE DE PERCEPÇÃO E SEUS IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE

O fracasso da modernidade, a sociedade de risco, a agressão ao meio


ambiente, o insustentável mito do progresso e desenvolvimento, a
competitividade abusiva, o consumismo desenfreado, as crises em geral, para
muitos autores possuem base em uma só crise, e esta seria a crise de
percepção.
A crise engloba o entendimento de “que há uma interligação entre
problemas vivenciados no seio das relações familiares, das relações de
trabalho, das relações entre gêneros e das relações com o meio ambiente, e
que estes problemas dizem respeito à subjetividade humana.”7 (Bahia, 2005)
Em Capra, o problema:
{...} deriva do fato de que a maioria de nós, e em especial
nossas grandes instituições sociais, concordam com os
conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da
realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo
superpovoado e globalmente interligado. Há soluções para os
principais problemas de nosso tempo, algumas delas até
mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em
nossas percepções, no nosso pensamento e nos nossos
valores. E, de fato, estamos agora no princípio dessa mudança
fundamental de visão do mundo na ciência e na sociedade. 8

O conceito de percepção, ganha aqui, amplitude para além dos sentidos


físicos ordinários, tornando-se maneira de sentir o mundo, a si mesmo e o
universo de todas as formas possíveis. Os sistemas de percepções geram
sistemas de comportamentos, de modo que a ação consciente interdepende do
que é percebido no meio9. Por esta razão, decorre da visão de mundo obsoleta
a inviabilização das ações em prol da sustentabilidade dos recursos naturais.
Em um contexto histórico, a atual condição de absorção perceptiva é
caracterizada pela vigência epistêmica mecanicista do século XIX nas ciências.
A compreensão linear e fragmentadora, conseqüência do pensamento

7
BAHIA, Mirleide Chaar; SAMPAIO, Tânia Mara Vieira. O turismo de aventura na região
amazônica: desafios e potencialidades. In: UVINHA, Ricardo Ricci (Org.). Turismo de
aventura: reflexões e tendências. São Paulo: Aleph, 2005. P. 4.
8
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 1996. P. 22.
PENTEADO, Claudio Luis de Camargo; FORTUNATO, Ivan. Crise Ambiental e Percepção:
9

Fragmentação ou complexidade? Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. Rio


Grande, 2010. P.4.
5

cartesiano, base do método cientifico10. O método embasado nas origens da


filosofia cartesiana quis atribuir à existência, às relações políticas, sociais e
econômicas um aspecto puramente mecânico, e a partir disto originou-se o
desenvolvimento da padronização do contexto de mundo, característico da
crise de percepção.
A chamada crise de percepção começa a ser fomentada à medida que a
ciência oficial, embasada na cosmovisão racional materialista, fraciona e
cataloga as manifestações da vida de maneira isolada. Da tal forma que acaba
“criando uma condição de fracionamento da Verdade, enclausurando-se em
áreas estanques do pensamento criador, desvinculado do panorama geral da
Vida”11.
Sedimentado como se encontra nossa visão de mundo:
Há inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave
entre os saberes separados, fragmentados,
compartimentados entre disciplinas, e, por outro lado,
realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares,
transversais, multidimensionais, transnacionais, globais,
planetários12.

Portanto, a maneira que se faz ciência, tanto quanto, a premissa do


estudo da natureza e construção do saber humano se funda no entendimento
de que tudo isto é estruturado através de sistemas isolados - fomentando um
desenvolvimento insustentável. Paradoxalmente, não se encontram exemplos
dessas manifestações isoladas na natureza, nem mesmo nas doutrinas
humanas, pois todas sempre acabam interligando-se.
É no ponto de conexão entre os diversos fenômenos da existência que o
reducionismo da crise ignora o emaranhado de ações e retroalimentações, a
qual, entendida e percebida, conduz ao desabrochar da sensibilidade
ecológica, e mais tarde, resulta na individuação13.
Sob o prisma da crise de percepção fundada no materialismo, é visível o
atributo da razão opor-se soberanamente sob quaisquer outras características
da natureza humana.

10
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São
Paulo: Cultrix, 1996. P. 40
11
NICANOR (Espírito). Evangelho, Psicologia, Ioga: Estudos espíritas. [Psicografado por]
América Paoliello Marques. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995. P. 221
12
MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita: repensar a reforma, reformar o pensamento.
Tradução de Eloá Jacobina. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. P. 13
13
MAFESSOLI, Michel. Saturação. São Paulo: Iluminuras, 2010. P. 89
6

Assim, a ciência fundada neste engano ontológico pende fortemente a


um racionalismo dogmático. O pensamento padronizado sob o comando
monopolista de um racionalismo mórbido14 uma das razões do modus vivendi
esquizofrênico para com o território15, seu entorno, o ambiente à serviço
exclusivo do despotismo do mundo globalizado. O Homem em dissonância
com o meio, fruto da majoração da razão e a repressão do sensível.
Esta edificação sistemática sublima a interação complexa com o entorno
e consigo mesmo. Decorrência do racionalismo materialista, agindo através
das dogmáticas burocráticas exclusivamente voltadas para a produção de
acumulo de riquezas privadas. “o racionalismo tende a dominar a vida, torná-la
abstrata, desligá-la do sensível. Paradoxo, o materialismo torna-se pura
ideologia”16.
Condicionamento a uma ilusão coletivizada, o mito do progresso,
potencializada pela contextualização abruptamente racional de qualquer
evento, um enquadramento pré-conceituado no processo perceptivo. Não há
mais tempo para a absorção sensível, somente para a racionalização veloz
globalizada, voltada para exaltação do lucro, competitividade ou ambição
pessoal:
O racionalismo fará, da representação, a realidade. Desse
modo, ele destrói toda conivência, toda participação, toda
correspondência poética com as coisas, naturais ou sociais. A
representação é causa e efeito da distância, da separação, da
solidão gregária que caracteriza a modernidade que termina.
Através de um paradoxo instrutivo, a representação inverte-se
em coisa esclerosada, enrijecida, sem vida {...} Não é mais o
povo, mas, sim, o Estado que é representado. Estado
desconectado que, então, não é autoridade. Quer dizer, não
sabe mais fazer crescer (autoritas) aqueles de quem se supõe
que ele é fiador17.

É importante, pois, estar atento a alguns aspectos massificadores da


crise de percepção. O mais visível é o contagio desta crise por meio dos
instrumentos midiáticos, a qual torna manifesto o discurso neoliberal, privativo

14
MAFESSOLI, Michel. Saturação. P. 22.
15
SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: Do pensamento único à consciência
universal. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001, P. 114.
16
MAFESSOLI, Michel. Saturação, P. 79.
17
MAFESSOLI, Michel. Saturação, P. 79.
7

e alienador18, dando ênfase sempre às diferenças estereotipadas da vida em


sociedade.
Assim, nota-se no consumismo a intenção de fortificar psicologicamente
a vacuidade subjetiva da população através da propaganda dos produtos e
serviços, para que a sensação de vazio seja suprida através do consumo19. Ou
seja, aqui é presenciado o estímulo à sensação de disparidade e isolamento,
quando esta força tenta condicionar o indivíduo a sentir a necessidade de
sentir-se conectado unicamente com a ideia do produto.
Mesmo a percepção sendo um atributo subjetivo está à mercê de
condicionamentos externos como explanado anteriormente. Este fator leva
diversos pesquisadores a afirmar que a antiga estratégia de guerra “dividir e
conquistar”20 é constantemente usada por corporações que possuem o
monopólio da informação exógena, injetando-a sobre o meio ambiente.
De primeira vista, logo a mente humana com sua visão de mundo
poluída, quando inserida em um contexto, ou em contato com outrem, reproduz
determinadas distinções dimensionais, colocando-as como base, excitando a
desarmonia e a discriminação21.
Conseguintemente, pelo constante apelo midiático ao que é
fragmentado, se reforça o isolamento e a passividade. De maneira que a mídia
massiva se torna a grande porta voz da doença perceptiva em que se emergiu
a população global.
O entendimento linear racional fracionado limita a visão do campo de
ação das diversas interconexões e torna o ser humano passivo perante aos
desafios da pós-modernidade. Como é exemplificado22

18
FRANCO, Juliana Oshima. O Papel do Estado em Tempos de Globalização: Uma Outra
Abordagem Midiática. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação. Disponível em:
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R0573-1.pdf>. Acesso em: 23 de
Maio de 2011.
19
CARNEIRO. A Antropologia Filosófica na Perspectiva de Jiddu Krishnamurti: a
educação como elemento fundante do homem. 2009, 226 páginas. Tese (Doutorado em
Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador. P. 28.
20
ZEITGEIST. Produção de Peter Joseph. 2007. Disponível em:
<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. Acesso em: 25 de Maio de 2011. (118 min.).
21
ZEITGEIST. Produção de Peter Joseph. 2007. Disponível em:
<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. Acesso em: 25 de Maio de 2011. (118 min.).
22
PENTEADO, Claudio Luis de Camargo e FORTUNATO, Ivan. Crise Ambiental e
Percepção: Fragmentação ou complexidade? P.2.
8

Essa linearidade transluz não apenas um entendimento


simplificado dos fenômenos, mas tal condição fracionada
secreta ausência de pensamento crítico e alienação. O modo
de consumir em excesso, por exemplo, demanda exploração
das matérias-prima em excesso. O movimento consumista,
entretanto, é motivado/influenciado por diversos fenômenos. A
compreensão complexa abrange esses diversos fenômenos,
como, por exemplo, entender o consumismo pela sedução dos
produtos e/ou status que eles garantem e/ou a compra que
gera inveja e/ou a compra que satisfaz algum capricho estético,
e assim por diante. A complexidade continua a desembaraçar
os fenômenos e encontra na sedução deliberada dos produtos
ramificações que interessam à psicologia, à psicanálise, ao
vendedor, ao profissional de publicidade e propaganda, e a há
um sem número de epistemologias, ciências e questões de
negócios envolvidas. E esse exercício se estende às diversas
inter-relações.

As conseqüências na psique desta situação são patológicas. Uma das


evidências da relação entre o modo de perceber a vida e a saúde pessoal
verifica-se na origem do contínuo stress vivenciado por quem se encontra em
situação de baixa renda. Joseph demonstrou em estudo de caso como a
pobreza em si é menos prejudicial ao indivíduo do que a percepção
estereotipada de miséria que este possui sobre si mesmo23. Ou seja, o stress
proveniente do perceber-se como “fracassado” causa mais distúrbios do que a
própria escassez resultante daquele que é considerado pobre.
Dada à fecundação viral e contagiosa da referida doença ontológica, e
em vista de ser o ponto de partida de ação das ciências, das instituições
públicas e privadas, e de todas as possibilidades de atuação humana no
território, contempla-se a razão do estado febril e decadente do cenário
mundial com relação à degradação ao meio ambiente, decorrente do
consumismo, ou dos valores em si. O que Ulrich Beck denominou de sociedade
de risco. Sociedade que, de acordo com Navarro e Cardoso24:
(...) reflete as insuficiências e antinomias do processo
histórico das revoluções industriais e suas estratégias de
acumulação de riqueza, tais como a realidade dos riscos
globais, compreendendo os ecológicos, ambientais, os
políticos econômicos e os sociais francamente associados.

23
ZEITGEIST: Moving Foward. Produção de Peter Joseph. 2011. Disponível em:
<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. Acesso em: 25 de Maio de 2011. (161 min.)
24
NAVARRO, Marli B.M. de Albuquerque; CARDOSO, Telma Abdalla de Oliveira. Percepção
de Risco e Cognição: reflexão sobre a sociedade de risco. Revista Ciências & Cognição,
Rio de Janeiro/RJ, vol. 06, Nov. 2005, p. 69.
9

Neste ponto que o prof. Maffesoli25 expõe alguns reflexos da crise:


Separaçao - dominação. São essas as duas características do
mito do Progresso. São essas as raízes do paradigma
moderno. A natureza torna-se um “ob-jeto” (o que é colocado a
nossa frente) dominada por um “sub-jeito” (substancial)
autossuficiente e, principalmente, que representa uma Razão
soberana, fundamento do desenvolvimento científico, depois
tecnológico. É por e graças a essa racionalização generalizada
da existência (Max Weber) que se rompeu a participação
mágica, a correspondência mística que o homem, nas
sociedades pré-modernas, mantinha com seu ambiente natural.

Seria, portanto, a sensibilização da percepção o diferencial para trazer


novamente à população esta condição de conectividade com o seu entorno.
Uma relação de reciprocidade, participação e solidariedade incondicional para
com o próximo, a fauna, a flora, a vida em toda sua totalidade.

2 DAS PERCEPÇÕES INTERDEPENDENTES NA TEIA DA VIDA E SUAS


MANIFESTAÇÕES CONTRIBUTIVAS

É notável que adventos como o da física quântica, a modernidade


reflexiva, a ecosofia26 e de diversas outras hipóteses, teses e teorias
científicas, vinculam-se, todos estes, a um novo paradigma emergente.
Recheado de questionamentos, novos pensamentos - até certo ponto indutivos
- proporcionados pela meditação profunda sobre os sentidos, no orbe da
sensibilidade ecológica, em direção àquilo de mais essencial na vida, aquilo
que por si só se auto-organiza, a Teia da Vida. Por consequencia,
gradativamente, os sistemas do pensamento científico clássico desmantelam-
se27.
A condição, na qual, todo o contexto do mundo material e imaterial, a
nível atômico, estadeia em um complexo novelo autoregulador e
autoconsciente de relações interdependentes desconstrói o dogma materialista
exclusivista. Como bem explica Capra28:

25
MAFESSOLI, Michel. Saturação. P. 71
A ecosofia, termo abordado por Guatarri, trata de uma articulação ético-política entre o meio
26

ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana, esclarecendo a questão problemática


da progressiva deterioração do modo de vida humano e os desequilíbrios ecológicos.
GUATARRI, Félix. As Três Ecologias. Campinas, São Paulo: Editora Papirus, 1990. P. 08
MAFESSOLI, Michel. Saturação. p. 98-100.
27

CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. P.40
28
10

Na teoria quântica, nunca acabamos chegando a alguma


"coisa"; sempre lidamos com interconexões. É dessa maneira
que a física quântica mostra que não podemos decompor o
mundo em unidades elementares que existem de maneira
independente. Quando desviamos nossa atenção dos objetos
macroscópicos para os átomos e as partículas subatômicas, a
natureza não nos mostra blocos de construção isolados, mas,
em vez disso, aparece como uma complexa teia de relações
entre as várias partes de um todo unificado.

Como conseqüência histórica e filosófica “As novas concepções da física


têm gerado uma profunda mudança em nossas visões de mundo; da visão de
mundo mecanicista de Descartes e de Newton para uma visão holística,
ecológica29” (CAPRA, 2006). Desde começo do século XX, com a evolução da
física moderna no processo desbravador das estruturas do mundo material,
descobriu que as partículas essenciais das coisas, os átomos, formam
dinâmicas de movimento de conexões que se estendem, e dão origens as
matérias, as formas.
Desta premissa, a quebra paradigmática provocada pelo entendimento
da Teia da Vida, neste momento, age através da consideração de sermos
todos uno com o planeta. Ou seja, por mais que a mente humana iludida crie
estigmas ou disparidades geradores de litígio, a concepção de estarmos
subterraneamente vinculados uns aos outros, com os ecossistemas e com
todas as partículas deste planeta se torna fundamento para o entendimento e
organização solidária em sociedade.

Entender a interdependência ecológica significa entender


relações. Isso determina as mudanças de percepção que são
características do pensamento sistêmico - das partes para o
todo, de objetos para relações, de conteúdo para padrão. Uma
comunidade humana sustentável está ciente das múltiplas
relações entre seus membros. Nutrir a comunidade significa
nutrir essas relações30.

Não há nenhuma verdadeira razão que leve qualquer indivíduo a se


sentir inferior, com medo, ou isolado devido à situação financeira ou qualquer
outra circunstância. Estas são ilusões frente à condição unificada dos sistemas
ecológicos, à qual não há desperdício. Todos fazem parte desta maravilhosa
sinfonia viva. Não existem restos na matemática do infinito. Cada partícula

29
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. P.23
30
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. P.231
11

contém o Todo. Como cita a antiga escritura budista, sabedoria milenar que
hoje a ciência começa a certificar: “Em cada átomo dos domínios do universo,
existem vastos oceanos de sistemas de mundo31”.
Todo aquele que assimila a percepção interdependente da realidade
pode extrair disto a verdadeira e inabalável auto-estima. O estímulo que o faz
erguer-se perante os estigmas do mundo moderno e de si mesmo, a auto-
superação.
Para os estudiosos que tratam dessa relação entre os sistemas de
percepções e a harmonia sustentável inerente à ecologia profunda, tal
fenômeno de ampliação da percepção resulta em transformações na própria
estrutura psíquica do ser, a qual, conseguintemente, manifesta-se nas ações
conscientes em forma de contribuição, as quais, atualmente, se notam em
estado embrionário, como que ideias e movimentos político-sociais em
gestação.
Num sentido jurisdicional, aos poucos se pode ver surgindo no âmbito
dos bens jurídicos coletivos, protegidos pelo o que a doutrina chama de Direito
Penal do risco, as relações de interdependência que antes não eram
compreendidas. Coletivos, pois, referidos bens não estão à mercê da luxúria
pessoalíssima tendenciosa do modelo capitalista. Estes bens difusos são
imateriais, intangíveis e intransferíveis e dizem respeito a um mundo
ecologicamente equilibrado.
A ideia do Direito Penal de Risco encontra fundamento na norma
constitucional do art. 225, §1º32. A tutela individualista preconizada pela

31
O grande ornamento floral – antiga escritura budista
32
Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico
das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a
serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora
de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se
dará publicidade;
12

ordenação Penal Clássica dá lugar a um novo direito criminal que põe de lado
a característica antropocêntrica estritamente punitiva. Relaciona, com objetivo
de prevenir o dano ecológico, a administração e tutela penal como, por
exemplo, intencionou a Lei. 9605/98.
Tendo esta nova roupagem, a diretriz penal na sociedade de risco é a
capacidade de unir diferenciando e distinguindo33 diversas faces do mundo
jurídico com as complexidades da natureza. Tal premissa torna claro o dever
constitucional de proteção ao meio ambiente, envolvendo, indiretamente, os
princípios das percepções interdependentes da ecologia profunda. De acordo
com o Dr. Leal Júnior34:
Como se vê, existe uma obrigação constitucional do Poder
Público de preservar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico dos ecossistemas. Um manejo
ecológico envolve a observância dos princípios da ecologia,
que asseguram o equilíbrio dos ecossistemas e que mitigam as
influências externas sobre os referidos sistemas locais. Um dos
mais importantes desses princípios é o “agir localmente, pensar
globalmente”, que deve pautar a conduta de todos aqueles que
procurem viver em harmonia com o meio ambiente e com seus
ecossistemas. Significa dizer que a natureza não pode ser
repartida em pedaços isolados e dissociados do restante de
seus elementos integrantes, porque tudo se relaciona com
tudo. O meio ambiente não conhece fronteiras e os respectivos
danos não ficam circunscritos às fronteiras que o homem traça.
O meio ambiente não respeita os limites do homem, é o
homem que deve respeitar as possibilidades do meio ambiente.
(grifo nosso).

Assim, é de importância difusa esclarecer que além das transformações


individuais, o desenvolvimento da percepção exposta no presente artigo
conduz automaticamente a uma reflexão sobre os danos aos bens jurídicos

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e


substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
Senado, 1998.
33
RIBEIRO, Ana Clara Torres. A Natureza do Poder: técnica e ação social. São Paulo, 2000.
P. 15. Disponível em: <http://www.interface.org.br/revista7/ensaio1.pdf>. Acesso em: 23 Maio
de 2011.
34
LEAL JÚNIOR, Cândido Alfredo Silva. O Princípio da Insignificância nos Crimes
Ambientais: a insignificância da insignificância atípica nos crimes contra o meio ambiente da
Lei 9.605/98. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 17, abr. 2007. Disponível
em: http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao017/Candido_Leal.htm Acesso em: 07
de maio de 2011.
13

coletivos e interligados, o que Ulrich Beck chamou de modernidade reflexiva,


esta que tem origem na percepção de risco dos paradigmas modernos.
Reconhece que “não se poderiam considerar isoladamente os danos causados
ao meio ambiente, porque o impacto final dos mesmos não é igual à mera
soma aritmética de cada um dos impactos individualmente considerados35”.
A partir das complexidades de nuances da supracitada percepção
ecológica, se toma consciência de alguns dos riscos emergentes. A tutela
penal do risco deriva desta modernidade reflexiva, por meio deste “processo
cognitivo que transforma o perigo difuso em risco definido, constrói igualmente
possibilidades para que os riscos possam ser discutidos como suportes de
mobilização para importantes conquistas sociais e legais” 36.
Torna-se, da mesma forma, clara, a relação das percepções
interdependentes com a percepção do risco, culminando no advento da
modernidade reflexiva.
Ainda sobre a tutela penal do meio ambiente cumpre destacar outro
ponto de superação da crise de percepção no quesito jurídico. O entendimento
majoritário da doutrina de mensurar o dano ambiental não mais sob uma
perspectiva econômica, e sim, a partir de sua co-relação a um sistema vivo, ou
ecossistema37. Ou seja, a primazia pelo o que é interdependente, não pela
abstração da valoração econômica.
Além deste conceito doutrinário, em diversas áreas do conhecimento se
vê pautada a transformação na subjetividade, da relação com o meio.
Ganhando as mais variadas intitulações.
Pode-se começar citando o professor Maffesoli com a ideia da
invaginação do sentido, na qual, é criticada a hegemonia dos estigmas do
mundo moderno sobre o sentido, que traduz, neste cenário da modernidade
ocidental, tanto a finalidade quanto a significação das coisas, dentro do
contexto dos impactos da crise de percepção.

35
LEAL JÚNIOR, Cândido Alfredo Silva. O Princípio da Insignificância nos Crimes
Ambientais: a insignificância da insignificância atípica nos crimes contra o meio ambiente da
Lei 9.605/98.
NAVARRO, Marli B.M. de Albuquerque e Cardoso, Telma Abdalla de Oliveira. Percepção de
36

Risco e Cognição: reflexão sobre a sociedade de risco. P. 71


37
ROCHA, Fernanda de Castro da. A aplicação do princípio da insignificância aos crimes
ambientais. Revista Âmbito Jurídico. Rio Grande, 83, 01/12/2010. Disponível em:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8802.
Acesso em: 07/05/2011.
14

Invaginar o sentido seria a necessidade do “retorno à essência natural


das coisas. {..} a natureza das coisas feita de interdependência e de
correspondência.38”.
A ideia de invaginar o sentido é focada em desconstruir a significação
ideológica, massificada, hierárquica sobre a finalidade das coisas. Ao passo
que na quebra de paradigma, o sentido não estaria abandonado em completa
relativização, em vista do deixar florescer o crescimento natural das coisas,
que, vale a pena salientar, um deixar ser desprovido de passividade, e sim,
imbuído de ação retroalimentada, ou da mesma forma, sustentável.
Em Jung, psicólogo suíço, a individuação ganha destaque como forma
de transformação pessoal, através do aprimoramento da consciência de si, que
resultaria em uma união indissolúvel entre o indivíduo e o mundo. Manifestada
a individuação em abertura de participações objetivas e universais. O homem
desapegado da sua condição egóica e mesquinha, fonte do desejo
particularista para com a vida39.
Em outras palavras40:
A individuação opõe-se frontalmente ao individualismo por suas
respectivas decorrências. É força centrífuga e espiritualmente
criadora. Conduz ao desabrochar do Amor pela quebra do
separativismo e pelo acesso a um nível superior de realizações
superiores que, certamente, desvalorizam, como
conseqüência, a idolatria dos valores fictícios da vida. Neste
ponto surge a vitória do espírito sobre os falsos valores do
materialismo, quando a vida no plano material passa a ser
encarada como um meio e não um fim.

Cumpre designar, baseado no fundamento da individuação, a percepção


ecológica como uma atividade intrínseca àquela. Assim, concomitantemente ao
aprimoramento da consciência de si, se desmantela o egocentrismo
separatista, que por sua vez sutilizou as percepções, resultando no sentimento
de real solidariedade.
Dentro da concepção Heggeliana, o processo da dialética da
consciência na superação de conceitos ultrapassados, a busca por novas
verdades, torna mais claro a ideia da consciência de si individuada.

38
MAFESSOLI, Michel. Saturação. P. 62
JUNG, Carl. O Eu e o Inconsciente, p. 64.
39
40
NICANOR (Espírito). Evangelho, Psicologia, Ioga: Estudos espíritas. [Psicografado por]
América Paoliello Marques. P. 216
15

A caracterização do que é separado se dá na falta da verdadeira


consciência de si. O processo de desenvolvimento da consciência de si,
através da exteriorização da consciência sobre os objetos, o seu retorno ao
sujeito e a auto-identificação, incuti uma percepção de unidade entre o sujeito e
o objeto. Como explica Soares: “A consciência de si, ao se identificar consigo
mesma, compreendeu que ambos, sujeito e objeto, coexistem no mesmo
plano, o plano da Vida41”.
Do resultado da consciência de si desenvolvida, advém a eticidade, um
trabalho de reconhecimento verdadeiro do beneficiar ao Todo.
A objetividade incisiva no bem comum brota desta consciência de si no
plano prático da ética e política. A consciência de si torna-se, na busca da
satisfação do bem universal, geradora de grandes transformações positivas no
social, político e econômico do Estado.
Soares42, em termos mais práticos:
A eticidade representa a união entre o particular e o universal,
cidadão e Estado, público e privado, não propicia o livre
pensamento liberal, porque situa a consciência de si como
elemento integrante do Todo, e por outro lado também não
defende o totalitarismo ou o despotismo, porque não
centralizam todo o poder político na figura do Estado, já que as
leis são criadas pelo trabalho comum de todos os cidadãos.

Em outra área da ciência, têm-se o caso dos conceitos ecosóficos


abordados por Guattari, o qual une componentes éticos e políticos no âmbito
das complexas inter-relações existentes entre meio ambiente, questões sócio-
políticas e a subjetividade humana. É demonstrado o entendimento da Teia da
Vida e seus efeitos no plano mental, da subjetividade, buscando re-conectar o
homem e a ecologia profunda43:
A ecosofia mental, por sua vez, será levada a reinventar a
relação do sujeito com o corpo, com o fantasma, com o tempo
que passa, com os "mistérios" da vida e da morte. Ela será
levada a procurar antídotos para a uniformização midiática e
telemática, o conformismo das modas, as manipulações da
opinião pela publicidade, pelas sondagens etc. Sua maneira de
operar aproximar-se-á mais daquela do artista do que a dos

41
SOARES, Josemar Sidnei. Consciência de Si e Reconhecimento na Fenomenologia do
Espírito e Suas Implicações a Filosofia do Direito. Tese (Doutorado em Filosofia) -
Faculdade de Filosofia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. P 54.
42
SOARES, Josemar Sidnei. Consciência de Si e Reconhecimento na Fenomenologia do
Espírito e Suas Implicações a Filosofia do Direito. P. 87.
43
GUATARRI, Félix. As Três Ecologias. Campinas, São Paulo: Editora Papirus, 1990. P. 16
16

profissionais "psi", sempre assombrados por um ideal caduco


de cientificidade

Consequentemente, a partir da difusão da experiência do sentir-se,


perceber-se conectado com o meio ambiente, começa a se tornar imanente
nos movimentos sociais o sentimento de participação integral. O que o Prof.
Maffesoli chama de romantismo da terra44:
Romantismo que se manifesta na vinculação com o
território, na importância do localismo, na atenção aos
produtos da terra local, nos alimentos orgânicos. Em suma,
pela sensibilidade ecológica. Romantismo da terra naquilo
que dá ênfase a um sentimento subterrâneo. Quer dizer, ao
menos confusamente, as pessoas se sentem autóctones,
fazendo parte, para o que der e vier, dessa mesma terra.

A mutação que o ser humano passa agora, já não é mais só de


consequências objetivas: “Essa revolução deverá concernir, portanto, não só
às relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios
moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo45”.
Partindo deste ponto que a almejada sustentabilidade pode começar a
articular-se nos meios políticos e econômicos. É intrínseca à própria visão de
mundo complexa e unificada, a transformação da subjetividade como abertura
para a ação sustentável46.
Da mesma forma, o auto perceber-se descentralizado gera solidariedade
para com o todo, remete o indivíduo individuado à busca de maior participação
política e social. Cumpre destacar para os fins do presente artigo, que a
quantificação coletiva proveniente dessa busca resulta em maior participação
contundente da comunidade no âmbito da democracia.

2.1 PANORAMA DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA A PARTIR DA


PERCEPÇÃO DAS RELAÇÕES INTERDEPENDENTES

A Democracia Representativa, em voga nas relações sociopolíticas do


Estado, exercida pela eleição de indivíduos para representar determinados

44
MAFESSOLI, Michel. Saturação. P. 23/24.
45
GUATARRi, Félix. As Três Ecologias. Campinas, São Paulo: Editora Papirus, 1990, P. 9
46
PENTEADO, Claudio Luis de Camargo; FORTUNATO, Ivan. Crise Ambiental e Percepção:
Fragmentação ou complexidade? P. 06
17

núcleos da sociedade, sucumbiu frente à perda da autonomia do Estado,


corrompido pelos interesses tendenciosos do mundo globalizado e
corporativo47.
A representação política é de aspecto teatral, imbuída de falsas
promessas, e é almejada como desejo pelo poder em si. Em dissonância com a
idealização do governo do Estado preceituado por Sócrates48 - o anseio pelo
poder político não visando uma posição privilegiada/superiora, mas sim de
submissão às aspirações verdadeiras da população, livre de políticas exógenas
manipuladas e centralizadoras.
Vive-se, portanto, o fracasso na democracia representativa, que deturpa
o sentido último democrático de Justiça e igualdade em nome do privilégio de
algumas minorias.
De acordo com Joseph49 no filme Zeitgeist Addendum, não existiriam
condições de dar solução a uma situação problema utilizando-se das mesmas
ferramentas e formas características do problema.
Seguindo esta premissa, exemplifica-se que isto se torna manifesto
como criar mais dinheiro não é solução para a crise da inflação50, como da
mesma forma, continuar no ciclo vicioso da representação política não é
solução para a problemática da mesma.
O método deve ser transformado, e o que se estuda, portanto, como
alternativa é a Democracia Participativa. Cheren, Cruz & Ramos51 argumentam:
Como a Democracia Representativa tornou-se vulnerável
demais aos interesses do mercado econômico e político, cada
vez mais juntos e promíscuos, a Democracia Participativa pode
trazer outros valores de cooperação e de solidariedade.

47
CHEREN, Luiz Eduardo Dado; CRUZ, Paulo Márcio; RAMOS, Flávio. Parlamento,
Democracia Representativa e Democracia Participativa. Revista Filosofia do Direito e
Intersubjetividade, Itajaí/SC, 2º Edição. P. 8.
48
PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret. 2006, p 34-35.
49
ZEITGEIST: Addendum. Produção de Peter Joseph. 2007. Disponível em:
<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. (117 min.). Acesso em: 25 de Maio de 2011
ZEITGEIST: Addendum. Produção de Peter Joseph. 2007. Disponível em:
50

<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. (117 min.). Acesso em: 25 de Maio de 2011
51
CHEREN, Luiz Eduardo Dado; CRUZ, Paulo Márcio; RAMOS, Flávio. Parlamento,
Democracia Representativa e Democracia Participativa. Revista Filosofia do Direito e
Intersubjetividade, Itajaí/SC, 2º Edição. P. 13.
18

Assim, a discussão envolta deste novo instituto democrático seria de


transcender as características decadentes do antigo modelo, tornando os
cidadãos ferramentas de função eficaz no âmbito do poder legislativo.
Este seria um dos desafios da Democracia Participativa, buscar o
vinculo destes aspectos no parlamento, de forma a abranger todos os desafios
da pós-modernidade com uma participação direta da população.
Transacionando a ideologia abstrata da representação para a Democracia
como valor concreto e verdadeiramente difuso52.
No concernente ao exercício “Um dos principais instrumentos neste
sentido trata da regulamentação das formas de manifestação da soberania
popular expressas na Constituição Federal: o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular” (Cheren, Cruz & Ramos). Sendo, por exemplo, as audiências
públicas um dos instrumentos viabilizador da participação geral.
Pois bem, não é pauta do presente artigo articular todas as
características da visada Democracia participativa. Põe-se em consideração
aqui a sua base, ou seja, a participação política direta da sociedade. Pois é de
seguimento ao raciocínio em tela de que a participação depende do interesse
genuíno dos indivíduos em estarem envoltos em questões políticas, e que este
interesse seja de cunho contributivo e solidário.
Neste aspecto os resultados da absorção perceptiva dos princípios
interdependentes da ecologia agem como força motriz para o ativismo nas
estruturas democráticas do Estado.
Saber, sentir e vislumbrar as conexões, o religio53, com o fundamento da
vida, que são as próprias infinitas relações do Todo, se torna de suma
importância para a reorganização da sociedade, o que torna claro o inevitável
sucesso da Democracia Participativa quando forem majoritárias as
manifestações das consciências individuadas. Assim Guattari esclarece
transparecendo através da ecosofia:
É concebível em compensação que a nova referência
ecosófica indique linhas de recomposição das práxis
humanas nos mais variados domínios. Em todas as escalas
individuais e coletivas, naquilo que concerne tanto à vida
cotidiana quanto à reinvenção da democracia.

52
CHEREN, Luiz Eduardo Dado; CRUZ, Paulo Márcio; RAMOS, Flávio. Parlamento,
Democracia Representativa e Democracia Participativa. P.18
53
Palavra em latim que indica re-conexão.
19

Para tanto, “Precisamos revitalizar nossas comunidades - inclusive


nossas comunidades educativas, comerciais e políticas - de modo que os
princípios da ecologia se manifestem nelas como princípios de educação, e
administração e de política”. Concluí-se, por conseqüência, neste teorema a
participação nas organizações democráticas.
Assim, Santos & Cruz54 expõem um dos fundamentos da Democracia
Participativa que casa aos ideais do sentir-se conectado como propulsor de
ações contributivas:
A Democracia Participativa tem como um de seus objetivos
fundamentais o de fomentar a máxima utilização das
capacidades individuais no interesse da comunidade. A
participação pressupõe um valor democrático em si mesmo
considerado, na medida que constitui uma expressão da
autonomia e, em definitivo, da liberdade do ser humano a
agir em prol do seu melhor e do desenvolvimento do lugar
onde vive.

A proposta, no momento, é demonstrar que a viabilização prática da


Democracia Participativa depende do sentimento de união e do desejo genuíno
do indivíduo de contribuir no âmbito do parlamento, e que tal pressuposto
depende estritamente das realizações das percepções na Teia da Vida.
Mentes com as percepções transformadas, imbuídas de consciência
crítica, buscando participar nas políticas públicas e privadas, paulatinamente
trazem aspectos sustentáveis àquelas.
Imagina-se colocando como alternativas, nas atribuições legislativas do
Estado - em harmonia com as retroalimentações da natureza - a organização
de uso de energias limpas, tais como solar ou eólica, ou então, a instituição
legalmente organizada da economia solidária55.
Ambos os exemplos possuem um crescente desejo nos meios sociais
que ainda não ganhou um incisivo amparo político, apenas discursos evasivos.
Salienta-se que nem mesmo uma atenção midiática sobre estes novos temas.

54
SANTOS, Thiago Mendonça & CRUZ, Paulo Márcio. O Modelo de Democracia
Participativa Como Solução à Crise do Sistema Democrático. Revista de Iniciação
Científica do CEJURPS - RICC, Itajaí/SC, Julho/Dezembro 2010. P. 10.
55
Projeto de Lei de iniciativa popular em andamento. Disponível em:
http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=5086&Itemid=262. Acesso
em: 05 de Maio de 2011.
20

Enquanto isso as ações políticas ainda se atêm em searas particularíssimas de


paradigmas em crise.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crise de percepção condiz, então, com a fragmentação da visão da


vida, do mundo, é um entendimento ultrapassado, pois, apesar das novas
descobertas científicas o ser humano continua ainda enraizado no pensamento
estrito de um racionalismo mórbido e materialista, manifestado nas contínuas
atrocidades ao planeta em nome da ideologia capitalista insustentável.
O modelo econômico traduz bem este erro ontológico: uma economia
com valor ideológico sem embasamento real nos recursos naturais,
problemática que desemboca em miséria e pobreza56.
No intuito da solução da essência em comum das crises modernas, que
sobrevêm a visão de mundo baseada na Teia da Vida - o novelo de relações
interdependentes contendo todas as ramificações de complexidade da
subjetividade humana e dos sistemas vivos que compõem a resolução
ecossistêmica.
O indivíduo realiza-se nas conexões ao se perceber parte que resume
em si o potencial de todas as interrelações. E cresce de si o sentimento de
solidariedade incondicional para com o mundo - surge a individuação.
No imaginário coletivo vai emergindo estas novas tendências e mais
imanente fica na sociedade a decadência dos velhos métodos e o despertar de
uma nova humanidade.
É neste contexto que a Democracia Participativa, contendo em si este
aspecto revolucionário, tende a substituir o modelo ineficaz da representação
política. Por meio da participação da população não só vinculada ao voto, mas
de forma direta nas estruturas do parlamento.
Através da revolução perceptiva se verá a contribuição nas formas de
participação democráticas, ensejando respeito e solidariedade ao entorno,

ZEITGEIST: Addendum. Produção de Peter Joseph. 2007. Disponível em:


56

<http://video.google.com/videoplay?docid=-1459932578939373300#docid=-
1437724226641382024>. (117 min.).
21

produzidas por aqueles que se despojando de uma percepção antiquada da


Vida anseiam um mundo justo e sustentável.

REFERÊNCIAS

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